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quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Frank Sinatra - In the Wee Small Hours

Frank Sinatra - In the Wee Small Hours
Desde que havia assinado com a Capitol Records, Sinatra vinha com a intenção de investir cada vez mais em discos conceituais. Eram álbuns com uma temática em comum ligando todas as canções. Havia sido em parte assim com os dois primeiros discos do cantor nessa nova gravadora e seguiu ainda mais firme nesse sentido com esse terceiro disco no selo. O tema central aqui é a desilusão amorosa. Todas as letras de todas as faixas possuem esse elo em comum, falando de relacionamentos fracassados, amores dolorosos, solidão, depressão e amargura. Por essa razão é um disco bem melancólico, onde Sinatra no fundo estava falando de si mesmo. Ele havia se separado da esposa Nancy, tinha embargado em um relacionamento conturbado com Ava Gardner, que o traía constantemente, e tudo parecia desmoronar em sua vida amorosa. 

Eu sempre entendi perfeitamente a importância desse álbum na discografia de Sinatra. Sempre foi um dos mais conceituados e elogiados de sua discografia, mas ao mesmo tempo nunca consegui gostar. Acho que é necessário estar em uma certa vibe para curtir esse LP. E esse é o sentimento da dor de cotovelo, não tem como escapar desse aspecto. O ouvinte tem que estar sintonizado com o próprio estado de espírito do cantor na época para criar uma conexão com o sentimento geral que esse trabalho musical passa. Bom, esse tipo de coisa para baixo, caindo no choro por causa do fim de um relacionamento, nunca foi a minha praia. É o disco da fossa do Sinatra. Por isso nunca gostei mesmo. Prefiro outros discos do cantor, mas de qualquer forma fica a dica. É um disco importante na carreira de Sinatra. 

Frank Sinatra - In the Wee Small Hours (1955)
In the Wee Small Hours of the Morning
Mood Indigo
Glad to Be Unhappy
I Get Along Without You Very Well
Deep in a Dream
I See Your Face Before Me
Can't We Be Friends?
When Your Lover Has Gone
What Is This Thing Called Love?
Last Night When We Were Young
I'll Be Around
Ill Wind
1It Never Entered My Mind
Dancing on the Ceiling
I'll Never Be the Same
This Love of Mine

Pablo Aluísio. 

Dean Martin - Dream with Dean: The Intimate Dean Martin

Dean Martin - Dream with Dean: The Intimate Dean Martin
Dean Martin tinha uma voz maravilhosa. Aqui o cantor resolveu apostar em algo bem intimista. Ele gravou o álbum com apenas quatro  músicos ao seu lado, Ken Lane ao piano, Irv Cottler na bateria, Red Mitchell no baixo e Barney Kessel na guitarra (Kessel chegou a trabalhar com outros grandes nomes como Elvis Presley na década de 1960). Nada de orquestras e nada de arranjos mais sofisticados como era praxe em seus discos anteriores, já que Martin sempre seguiu os passos de Sinatra nesse aspecto. A ideia era mesmo mudar um pouco, produzindo algo bem intimista (o que fica bem claro na própria capa do álbum, com Martin ao lado da lareira com um cigarro em mãos, fazendo todo o charme possível, bem de acordo com sua imagem de Mr. Cool). Para produzir o disco na Capitol, Martin trouxe o produtor Jimmy Bowen, praticamente uma lenda do meio musical americano, tendo trabalhado com dezenas de cantores ao longo da carreira, entre eles o próprio Frank Sinatra, além de produzir grandes sucessos para Sammy Davis, Jr., Kenny Rogers, Hank Williams, Jr., The Oak Ridge Boys, Reba McEntire e George Strait. Era tão competente que Frank Sinatra o escalou para produzir os primeiros discos de sua filha, Nancy.

Esse álbum traz aquele que talvez seja o maior sucesso de toda a carreira de Dean Martin, a faixa "Everybody Loves Somebody". A história dessa canção é bem interessante pois quebrou a supremacia que os Beatles tinham nas paradas de sucesso da época. Foi uma das poucas canções americanas a tirarem do número 1 da Billboard gravações do grupo inglês que naquela época vivia a febre da Beatlemania. Reza a lenda que o próprio Dean Martin teria ligado para Elvis e dito em tom de piada que aquele era o jeito certo de enfrentar a invasão britânica nas rádios e paradas de sucesso. Tirando esses aspectos comerciais de lado, o que podemos dizer é que esse é certamente um disco maravilhoso, sob qualquer ângulo que se analise. A sonoridade em geral é de uma beleza ímpar, muito suave e delicada. O que sempre se sobressai é a excelente vocalização de Martin, com intervenções sutis da guitarra de Kessel, acompanhada da melodia do piano de Ken Lane, tudo intercalado por um baixo quase inaudível do talentoso Mitchell (que vinha do jazz). Nos Estados Unidos o álbum ganhou uma recente edição de luxo, simplesmente excepcional.

Dean Martin - Dream with Dean: The Intimate Dean Martin
1. I'm Confessin' (That I Love You) 
2. Fools Rush In 
3. I'll Buy That Dream 
4. If You Were The Only Girl 
5. Blue Moon 
6. Everybody Love Somebody 
7. I Don't Know Why (I Just Do) 
8. "Gimmie" A Little Kiss 
9. Hands Across The Table 
10. Smile 
11. My Melancholy Baby 
12. Baby Won't You Please Come Home.

Pablo Aluísio. 

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Elvis Presley - Elvis Presley (1956)

Elvis Presley entrou no RCA Studios da cidade de Nashville no dia 10 de janeiro de 1956 para iniciar as gravações de suas primeiras músicas pela RCA Victor. Atrás de si deixava a pequena gravadora da Sun Records em Memphis e cinco singles que alcançaram um relativo sucesso no Sul dos Estados Unidos. Ninguém havia ouvido falar de Elvis Presley fora de sua região natal. Sua música e seu estilo ainda eram um mistério total para todos os envolvidos em sua contratação. Apesar da boa quantia paga pela RCA para a Sun pelo passe de Elvis, tudo naquele momento apontava apenas para uma aposta arriscada por parte dos executivos da grande gravadora americana. Elvis poderia fazer sucesso, mas também poderia fracassar totalmente caso não fosse aceito no norte e no oeste do país.

Acompanhado de seus músicos, considerados todos uns caipiras em Nova Iorque, Elvis iniciou naqueles dias uma nova era para a música jovem internacional. Um revolução musical sem precedentes na história, uma explosão que não deixou mais de se expandir e que causa repercussões até nos dias de hoje. Sem sombra de dúvida foi a partir deste ponto que começou a surgir o mito Elvis Presley. Foi a partir dessas músicas que o Rock'n'Roll começou sua escalada como o mais popular gênero musical de todos os tempos. Todas as vertentes, todas as tendências, todos os estilos musicais populares do século XX vieram de um só ponto, beberam de uma só fonte: O LP "Elvis Presley" de 1956. O disco ainda hoje é reverenciado por todos os grandes críticos de arte. Todos concordam que se trata de uma verdadeira obra prima, uma obra de arte. Mas na época, nem Elvis, nem seus músicos e nem o Coronel Parker tinham consciência disso. Tudo o que lhes importava era que o LP vendesse bem e pagasse os custos de sua produção. Se o disco fosse bem sucedido, já seria um alívio.

Ninguém sabia que estava mudando o mundo. Felizmente o disco foi um enorme sucesso de vendas atingindo rapidamente o topo da parada da revista Billboard. Além do sucesso do disco Elvis sabia que tinha que ter também um sucesso nacional, uma música que alavancasse sua recém nascida carreira. E o grande Hit de Elvis surgiu. "Heartbreak Hotel / I Was the One" foi a peça que faltava para consolidar o novo artista. Apesar de "Heartbreak Hotel" ter sido gravada nas mesmas sessões desse disco, ela não foi incluída entre as faixas por motivos comerciais, pois pela visão do Coronel Parker era melhor que quem comprasse o LP também adquirisse o single, que seria no final das contas uma ponta de lança para promover Elvis nas paradas.

O empresário do cantor já dava os primeiros sinais de sua forma de administrar a carreira de Elvis. O importante era extrair o máximo de lucro com o menor gasto possível. Isso se tornou bem claro quando o Coronel resolveu lançar as músicas do LP em diversos Extendeds Plays e Singles que também alcançaram sucesso, dando razão ao lema do velho empresário que sempre foi o de vender o mesmo produto duas vezes. "Elvis Presley" é na realidade uma mistura de antigas músicas de Elvis pela Sun como "Blue Moon" e "Just Because" com novas canções registradas nas três primeiras sessões de Elvis pela RCA Victor, uma realizada nos dias 10 e 11 de janeiro de 56 em Nashville, outra no final desse mesmo mês em Nova Iorque e finalmente uma terceira realizada em fevereiro de 56, só que dessa vez de volta em Nashville. Muitos anos depois Elvis confidenciou a um amigo que no momento que recebeu o disco pronto em suas mãos teve a certeza que havia conseguido atingir um de seus objetivos na vida, mal sabia ele o que estava por vir... O Disco "Elvis Presley" (LPM 1254) é composto pelas seguintes músicas:

Blue Suede Shoes (Carl Perkins) - Clássico absoluto do rock americano escrito por Carl Perkins, cantor e compositor da Sun Records, que iria se tornar um dos maiores nomes da 1º geração de roqueiros americanos dos anos 50. Mesmo tendo alcançado grande sucesso na voz de seu autor, esta foi sem dúvida uma das músicas que se tornaram marca registrada de Elvis Presley. O Rei do Rock ao longo de sua carreira sempre foi apresentando novas versões para "Blue Suede Shoes" e quase sempre ela era incorporada aos seus shows ao vivo, aparecendo em vários discos de sucesso como "Aloha from Hawaii", e "From Memphis to Vegas / From Vegas to Memphis". Ele ainda a utilizaria em Hollywood, na trilha sonora de um de seus maiores sucessos no cinema: G.I. Blues (saudades de um pracinha, no Brasil). Essa nova versão era bem mais arranjada que a original, mas não tinha seu pique! Nos anos 70 e em seus shows na cidade de Las Vegas, "Blue Suede Shoes" entraria rotineiramente nos repertórios fixos do cantor em suas apresentações. A primeira versão de "Blue Suede Shoes", que está presente nesse álbum, foi gravada nos estúdios da RCA Victor em Nova Iorque no dia 30 de janeiro de 1956, poucos dias depois de Elvis completar 21 anos de idade. Apesar de possuir um arranjo bem mais simples que as versões posteriores, esta é a que melhor sintetiza o momento do surgimento do Rock'n'Roll nos Estados Unidos. A letra é clara: "Faça de tudo mas não pise nos meus sapatos de camurça azul". Em resumo: um verdadeiro hino da nação Rockabilly.

I´m Counting On You (Don Robertson) - Gravada em 11 de janeiro de 1956 nos estúdios da RCA de Nashville contando com a participação de Chet Atkins na guitarra e Floyd Cramer no piano, além do apoio vocal de Gordon Stocker, Ben Speer e Brock Speer. Pode ser considerada uma música menor dentro do vasto repertório de Elvis Presley, porém como faz parte da clássica primeira sessão do Rei do Rock na RCA, tem seu valor histórico incontestável.

I Got a Woman (Ray Charles) - Outra música que entrou em definitivo no repertório do Rei nos anos cinqüenta e setenta, sendo muitas vezes usada de introdução de seus shows logo após "Also Spratch Zarathustra" de Richard Strauss. Deve-se sua criação a Ray Charles que colocou uma letra pop sobre o ritmo de uma música religiosa chamada "My Jesus is all the world to me". Esta música trouxe problemas para Elvis pois seu título (Eu consegui uma Mulher) foi considerado ofensivo pela rígida sociedade americana da época. Elvis era considerado um incentivador da delinqüência juvenil pelos moralistas por sua dança e sua música e é claro que eles não iriam deixar passar esta oportunidade para mais uma vez atacá-lo. Foi gravada em 10 de janeiro de 1956 e é a primeira música gravada por Elvis nos estúdios da RCA Victor. Foi lançado num single junto com "I'm Counting on you" em agosto de 1956.

One-Sided Love Affair (Campbell) - Brilhante interpretação de Elvis em que seu estilo peculiar de pronunciar as palavras foi levado ao mais alto grau. Destaque também na preciosa colaboração de Short Long que leva a harmonia da música em seu piano. Típica música embalante dos primeiros discos de Elvis com letra igualmente saborosa. Sem dúvida um dos pontos altos do disco. Foi gravada no dia 30 de janeiro de 1956 nos estúdios de Nova Iorque.

I Love You Because (Leon Payne) - Música gravada por Elvis nos estúdios da Sun Records em 5 de agosto de 1954 naquela que foi a primeira sessão de gravação de sua vida. Nesta oportunidade Elvis gravaria ainda "That's All Right (Mamma)" e "Blue Moon of Kentucky", que seriam as primeiras músicas do cantor lançadas comercialmente. É uma balada romântica com uma letra simples porém significativa, em que participam somente os Blue Moon Boys (como Elvis, Bill Black e Scotty Moore se auto denominavam). Os solos de guitarra são de Scotty e o assobio no começo da música foi feito pelo próprio Elvis. Para especialistas como Peter Guralnick são músicas como esta que colocaram Elvis na história.

Just Because (BJ Snelton / S.Robin) - Também gravada na Sun Records em setembro de 1954. Traz novamente o pequeno trio de caipiras do sul dos Estados Unidos mandando ver numa espécie de mistura de country e skiffle. Elvis parece bem a vontade pois sem dúvida este tipo de música era o som que rolava em Memphis quando ele era apenas um adolescente. Possui todas as características das músicas de Elvis gravadas na minúscula gravadora de Sam Phillips, ou seja, poucos recursos técnicos mas muita imaginação.

Tutti Frutti (Joe Lubin / Richard Penniman / Dorothy LaBostrie) - Quem não conhece o refrão que caracteriza esta canção? Uma das mais conhecidas e famosas de toda a história do Rock'n'Roll. É aquele tipo de som que fica tão cristalizado na mente do público que se torna símbolo de toda uma era. Originalmente gravada por Little Richard, logo se tornou um sucesso instantâneo invadindo as paradas dos Estados Unidos de forma absoluta. A versão com Elvis foi gravada no dia 31 de janeiro de 1956 nos estúdios da RCA em Nova Iorque. Elvis poderia Ter caído na mesma armadilha de todos aqueles que interpretaram as músicas de Richard, que possuía um timbre de voz único, inimitável, porém o cantor optou por imprimir seu próprio estilo na música, tornando sua versão bem diferente da de Penniman. Elvis apresentou esta música em um programa na TV americana nos anos 50. Como curiosidade a filha de Elvis, Lisa Marie, declarou numa entrevista ser esta a sua música preferida dentre todas as outras que o rei do rock gravou.

Trying To Get To You (Charles Singleton / Rose Marie McCoy) - Gravada em 11 de julho de 1955 nos estúdios Sun em Memphis, Tennessee. Aqui Elvis exercita seu poderio vocal numa balada romântica característica do Sul dos Estados Unidos. Esta sem dúvida era uma de suas prediletas pois mesmo sendo ele o Rei do Rock'n'Roll não dispensava uma balada melódica como essa. Pode-se encontrá-la em discos ao vivo gravados durante os anos 70, porém a melhor versão sem dúvida é essa: simples e direta passando o sentimento dominante da época.

I'm Gonna Sit Right Down and Cry (Over You) (Joe Thomas/Howard Biggs) - Ritmo perfeito e interpretação brilhante de Elvis caracterizam esta música, sendo considerada uma das mais alegres e alto astral do disco. Os Beatles fizeram um cover muito bem arranjado desta canção no período em que mantinham um programa radiofônico na BBC, a versão em questão está presente no CD "The Beatles Live in BBC". Sem dúvida Elvis atinge uma perfeita sintonia com seus músicos nesta canção gravada no dia 31 de janeiro de 1956. Posteriormente foi lançada como lado B de um single com "I'll Never let go (Little Darling)".

I'll Never Let You Go (Little Darlin') (Jimmy Wakely) - 10 de setembro de 1954 foi a data em que esta "Love Song" foi gravada nos estúdios da Sun Records. O fato engraçado da inclusão das músicas da Sun neste LP foi que a RCA não informou aos consumidores onde e quando elas haviam sido gravadas levando muitos a pensar que Elvis estava voltando ás origens. Nessa música atuaram apenas Elvis, Scotty (que sola durante toda a faixa) e fazendo uma sutil linha de baixo, Bill Black. Nessa época Elvis ainda não contava com um baterista fixo em sua banda. Na sala de edição apenas Sam Phillips

Blue Moon (Richards Rodgers / Lorenz Hart) - Outro clássico do repertório do cantor em que sua interpretação acrescenta algo de novo na música. Acontece que bem no meio da gravação desta linda balada Elvis esqueceu completamente a letra e no seu lugar colocou sua voz em harmonia, como se estivesse lamentando a perda da mulher amada. Sam Phillips achou genial e resolveu seguir em frente, resultando numa versão belíssima. Somente muitos anos depois Elvis explicou porque havia mudado "Blue Moon" de forma tão radical. Este tipo de comportamento acabou se tornando padrão nos seus anos de Sun Records, pois ele pegava uma música original e a mudava completamente de acordo com sua vontade, por isso ao se ouvir algumas versões originais de músicas gravadas por Elvis, tem-se a sensação de se estar ouvindo outra canção diferente. "Blue Moon" fez parte também de um single como lado B da música "Just Because", lançado em agosto de 1956.

Money Honey (Jesse Stone) - Elvis Presley fecha seu primeiro LP com este Rock'n'Roll. Com estrutura rítmica bem característica e uma perfeita combinação de guitarra e bateria Elvis nos proporciona seu último grande momento do disco. Esta é sem dúvida uma boa apoteose para o LP pois todos os elementos mais significativos do início do ritmo estão presentes aqui. Letra maliciosa e ritmo cortante fecham a cortina deste grande marco da história da música pop mundial.

Elvis Presley - Elvis Presley (1956): Músicas da Sun Records - Elvis Presley (vocal e violão) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / Produzido Por Sam Phillips / Arranjado por Elvis Presley, Scotty Moore, Bill Black e Sam Phillips / Gravado no Sun Studios, Memphis / Data de gravação: 5 de julho de 1954, 19 de agosto de 1954, 10 de setembro de 1954 e 11 de julho de 1955. Músicas da RCA Victor - Elvis Presley (vocal, violão e piano) / Scotty Moore (guitarra) / Chet Atkins (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Floyd Cramer (piano) / Short Long (piano) / Gordon Stocker, Ben e Brock Speer (acompanhamento vocal) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Elvis Presley e Steve Sholes / Gravado nos RCA Studios - Nova Iorque e Nashville / Data de Gravação: 10,11,30 e 31 de janeiro e 3 de fevereiro de 1956 / Data de Lançamento: março de 1956 / Melhor posição nas charts: #1 (EUA) e #1 (UK).

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - RCA Victor Studios

Em novembro de 1955 Elvis Presley foi contratado pela RCA Victor. Por essa época Elvis também assinou uma parceria com o empresário Coronel Tom Parker. Elvis fechou com a RCA por 35 mil dólares, a maior quantia paga a um artista solo até então. Com o dinheiro da venda, Sam Phillips, dono da Sun Records, conseguiu reformar sua pequena gravadora e investir em outros talentos. Então, em uma manhã ensolarada de segunda feira, 10 de janeiro de 1956, Elvis entrou em seu Cadillac roxo novinho, juntou-se aos rapazes de sua banda e viajaram até Nashville nos estúdios pertencentes à RCA.

Quando chegaram tiveram uma grande surpresa. Na realidade os estúdios eram de propriedade da Igreja Metodista do Tennessee, localizado nos fundos de uma antiga igreja protestante. Eles até ficaram em dúvida se aquele era o endereço correto. Mas eles não erraram de lugar, o estúdio ficava ali mesmo. A RCA havia alugado o local porque ele era muito apreciado por causa de sua acústica impecável. Elvis sentiu-se um pouco deslocado, ao contrário do pequenino local de gravação da Sun, ele agora se deparava com um grande espaço aberto, em um local que na realidade não se parecia com um estúdio de gravação, mas sim com uma sacristia! Imagine gravar Rock'n'Roll em um lugar desses, em solo sagrado!

Elvis resolveu então juntar o pessoal da banda, ao invés de espalhá-los pelo recinto. Assim todos ficaram agrupados em um canto do estúdio com Elvis cantando de frente para a banda e com o pessoal de apoio vocal ao seu lado. Para essa sessão foram recrutados outros músicos importantes como o pianista Floyd Cramer, que já tinha topado com Elvis pelas estradas e Gordon Stocker, que depois iria trazer seu próprio grupo (os Jordanaires) para acompanhar Elvis em gravações futuras. Para completar o grupo a RCA trouxe dois vocalistas Gospel, os irmãos Ben e Brock Speer. Elvis trouxe consigo sua turma: Scotty Moore e Bill Black. O baterista D.J. Fontana foi o último a chegar, sendo contratado em cima da hora pela direção da gravadora. Assim Elvis viu-se cercado por uma equipe de quase dez músicos. Para quem era acostumado a tocar com dois, foi um avanço grande. Depois Elvis foi apresentado ao seu novo produtor, Steve Sholes. Ao contrário de Sam, que sempre trazia contribuições para os takes, Sholes não era de dar opiniões no som da banda. Simplesmente ficava na sala de controle providenciando os aspectos técnicos da mesa de gravação.

Logo Elvis percebeu que iria ter que se virar sozinho com seu grupo. Presley também ficou surpreso ao saber que havia três violões e uma guitarra exclusivamente à sua disposição. Sem saber disso o futuro Rei do Rock tinha até trazido seu baleado instrumento para as gravações. Resolveu usar ele mesmo, pois o velho camarada de estrada já estava afinado em sua afinação preferida. Depois de se acomodar o grupo se preparou para as gravações. Sholes, da cabine de controle, perguntou a Elvis qual seria a primeira música a ser gravada. Elvis então deu uma olhada na lista das músicas e começou a riscar no papel as que ele pretendia iniciar nesse sessão de estreia. Uma logo lhe chamou atenção: "I Got a Woman". Seria melhor começar com ela pois eles já a estavam tocando nos shows e a banda estava entrosada.

Assim Elvis e os caras da banda chegaram a conclusão que era melhor começar por ela mesmo. Instrumentos ligados, todo mundo preparado começou as gravações, mas... A verdade era que as primeiras sessões não foram lá essas coisas. Os músicos ainda eram inexperientes. Era a primeira gravação deles fora da Sun Records e a primeira vez que tocavam com os outros músicos contratados pela RCA. Steve Sholes também não começou bem seu relacionamento com Elvis, não soube lidar muito bem com o estilo de trabalho de Presley. Elvis, por sua vez, não gostava muito da seriedade que estava reinando no estúdio naquele momento. Ele gostava de gravar em ambientes mais descontraídos e não sentindo toda a pressão dos caras da RCA. O som não foi dos melhores. Apesar das dificuldades, pouco após às duas horas da tarde daquele dia, Elvis foi ao microfone mais uma vez para tentar o take certo de "I Got a Woman".

Sob pressão e sob um calor infernal que fazia dentro dos estúdios, Elvis simplesmente arrasou! Fez uma performance inacreditável. Logo Sholes viu que aquele era o take definitivo, o ideal. Assim naquela tarde, depois de algumas tentativas, Elvis conseguiu gravar sua primeira canção na RCA Victor. Usava calças negras com uma faixa azul nas laterais e dançava como se estivesse fazendo um show para uma enorme plateia. Todos os caras da RCA ficaram impressionados. Sholes, já naquela época um senhor de mais de 50 anos, achou estranho, mas resolveu não falar nada. Ele nunca tinha ouvido ou visto aquele estilo musical em todos os seus anos de profissão. Nem podia, Elvis estava inventando naquele estúdio um novo idioma musical.

Então Elvis se preparou para a hora da verdade. Ele queria gravar "Heartbreak Hotel", de sua autoria junto com Mae Axton e Tommy Durden. Sholes achou a canção muito "estranha" pois a letra foi inspirada em um recorte de jornal que falava do suicídio de um homem, que teria escrito em seu bilhete de despedida a frase "Eu caminho em um rua solitária". Steve disse a Elvis que a achava muito mórbida, Elvis sorriu e respondeu que gostava dela e que a achava "legal". - "Então ok!" - respondeu o cansado produtor, naquela altura louco para voltar para casa. Ele havia achado Elvis "um garoto meio estranho com roupas esquisitas que canta umas músicas estridentes" como diria mais tarde a esposa de Sholes a um jornal de Nova Iorque. Só faltava essa: o primeiro produtor de Elvis na RCA era um velhusco ultrapassado. Mas sabia fazer seu trabalho.

Para conseguir o feito do eco, que Sholes considerava um ingrediente essencial da Sun Records, ele colocou um alto falante embaixo da escada , no hall, criando um som um tanto cavernoso, que se tornaria a marca registrada dessa música. Para encerrar o dia Elvis e banda detonaram em um rock clássico, "Money Honey". Exausto, depois de tocar o dia inteiro, Elvis deitou-se em cima de uma mesa que ficava no hall do estúdio. Nesse momento a filha do pastor local tirou uma das fotos mais raras da carreira de Elvis Presley. Quando a sessão estava concluída, Steve Sholes levou o material a seus superiores, que ficaram desnorteados. - "Eles me disseram que as músicas não soavam parecidas com nada que a gravadora já havia feito antes. Não soava como os outros discos e que era melhor não lança-lo daquele jeito. Me mandaram voltar e gravar tudo de novo". Era só o que faltava para Steve, nas portas da aposentadoria ele teria agora de cuidar de um "garoto maluco e sua bandinha!" O clima começou a ficar pesado entre Elvis e a RCA.

Steve então tomou uma decisão polêmica: resolveu aproveitar algumas músicas de Elvis na Sun e colocar no disco como "Blue Moon" e "Just Because", assim se o disco fosse um fracasso total o prejuízo seria menor. Nos dias que se seguiram Elvis gravou novas músicas ao lado de seu grupo (só clássicos absolutos: "Blue Suede Shoes", "Tutti Frutti" etc). Havia a sensação de se estar a frente - ou pelo menos se solidificando - uma nova revolução musical. Mas essa sensação era apenas de Elvis e dos demais músicos, Steve Sholes ainda duvidava do talento do cantor. Ele não sabia o quanto poderia durar aquele "fenômeno". No fundo Sholes temia mesmo era por seu emprego. Mas tudo se acalmou quando o disco chegou nas lojas poucos meses depois.

Elvis estava certo e o pessoal da RCA errado. O disco vendeu tanto e de forma tão rápida que ele logo chegaria ao primeiro lugar em todas as paradas: country, pop, rock e R&B. Esse disco, chamado simplesmente de "Elvis Presley" foi o primeiro disco da RCA Victor a vender mais de um milhão de cópias em menos de um mês. Tão importante ele se tornou para a história da música americana e mundial que ele é considerado um dos dez discos mais importantes da história da indústria fonográfica. Quem diria. Para citar apenas uma pessoa, John Lennon diria anos mais tarde: - "Este disco mudou minha vida!". Ao longo dos anos o disco ficou conhecido como "Rock'n'Roll 1", o primeiro e mais importante LP de Rock'n'Roll da história!

Pablo Aluísio - novembro de 2003.