sexta-feira, 14 de setembro de 2007

85 Anos de Audrey Hepburn

Segue texto escrito em maio de 2014. Se estivesse viva a belga Audrey Kathleen Ruston ou como ficou internacionalmente conhecida, Audrey Hepburn, estaria completando nesse dia 4 de maio seu aniversário de 85 anos de idade. Audrey foi durante décadas símbolo de elegância e finesse feminina em (poucos) 31 filmes de que participou. É até de se admirar que ela tenha virado um mito da sétima arte com uma filmografia tão pequena, isso em uma época em que era comum atrizes e atores atingirem a marca das cem produções. Qual afinal foi seu diferencial? Audrey Hepburn era de certa forma a antítese das estrelas de cinema que se destacavam por uma sensualidade mais latente, quase vulgar. O símbolo máximo era Marilyn Monroe com toda a sua sexualidade à flor da pele. Audrey não era loira, nem alta, não tinha seios fartos e nem bumbum arrebitado. Na verdade seu estilo era bem outro, mais contido, sem roupas extravagantes, mas extremamente finas e elegantes. Não tardou e virou um símbolo também do mundo da alta costura.

Assim sua imagem ficou associada a outro padrão de beleza. Não a da loira sensual mas sim da mulher que primava pela sofisticação no estilo de se vestir e se comportar. Como havia nascida na Europa ela herdou todo o requinte do velho continente. Sua estreia nas telas se deu no distante ano de 1951 quando interpretou uma simples recepcionista em "One Wild Oat". Era apenas uma jovenzinha tentando chamar a atenção, aceitando o que aparecia pela frente, inclusive personagens inexpressivos que nem nomes possuíam. Sua sorte porém mudaria completamente dois anos depois quando estrelou ao lado de Gregory Peck o clássico romântico "A Princesa e o Plebeu". Depois desse filme sua persona nas telas ficou definida para sempre. Audrey interpretaria uma série de mulheres elegantes, simples mas sofisticadas, com um bom gosto para o mundo da moda à toda prova.

Um ano depois arrasou em "Sabrina", romance sofisticado dirigido pelo grande Billy Wilder. O cineasta que havia perdido a cabeça com as manias de Marilyn Monroe em "Quanto Mais Quente Melhor" viu em  Audrey Hepburn o tipo de atriz que tanto procurava. Ótima profissional, sempre com o texto na ponta da língua, além de muito educada, fina e requintada. Ao longo da carreira Hepburn sempre tivera a sorte grande de contracenar com grandes ídolos da história de Hollywood. Já tinha tido a sorte de dividir a tela com Gregory Peck e em "Sabrina" novamente atuou ao lado de dois grandes nomes do cinema americano,  Humphrey Bogart e William Holden. O filme fez grande sucesso de bilheteria e até hoje é visto como um modelo para os filmes românticos.

Parecia que Audrey havia chegado ao topo da carreira após esses excelentes filmes mas para sua surpresa o melhor ainda estaria por vir. O clássico "Guerra e Paz", a simpática "Cinderela em Paris" e o drama "Uma Cruz à Beira do Abismo" consolidaram sua carreira de uma vez por todas. Por suas atuações ela deixou de ser simplesmente considerada uma atriz bonita que interpretava personagens gracinhas para ser levada à sério também como profissional séria e respeitada. A Academia já tinha reconhecido isso. Ela foi indicada cinco vezes ao Oscar, tendo vencido justamente por "A Princesa e o Plebeu".

Em 1961 Audrey Hepburn realizou aquele que é considerado o maior clássico de sua carreira, "Bonequinha de Luxo". O roteiro era do grande escritor Truman Capote e a direção de Blake Edwards combinou perfeitamente com o texto, ora irônico, ora mordaz, mas sempre por demais intrigante e inteligente. A atuação como Holly Golightly entrou definitivamente no inconsciente coletivo da sétima arte e sua imagem com aquele figurino se tornaria definitiva para Hepburn em sua carreira. Ela recebeu mais uma indicação ao Oscar e mais uma aclamação popular pois o filme foi mais um grande sucesso de bilheteria.

A partir daí sua carreira foi recheada de bons filmes que ela foi realizando com certa regularidade até 1967. Nesse ano, após realizar o ótimo "Um Clarão nas Trevas", Audrey Hepburn decidiu que era hora de dar uma parada. Retirou-se do cinema e ficou por longos nove anos fora das telas. Queria repensar sua carreira e retomar aspectos de sua vida pessoal que para ela tinham sido deixados de lado. Só voltaria mesmo em 1976 com o subestimado "Robin e Marian". Foi uma experiência válida mas não muito prazerosa para a atriz que tinha focado sua vida em outros interesses, inclusive assuntos humanitários, causa que ela defenderia até o fim de seus dias.

Audrey Hepburn deu adeus definitivamente à sétima arte em 1989 no lírico "Além da Eternidade" de Steven Spielberg. O diretor utilizou de toda a sua influência para que o mito voltasse para uma última aparição. Ela interpretava um anjo, algo muito adequado aliás. Embora não tenha sido um grande filme a produção cumpriu bem seus objetivos. Sem dúvida uma despedida digna do cinema para um de seus maiores mitos. Hepburn morreria alguns anos depois, com apenas 63 anos, em sua propriedade particular na Suíça, na cidade de Tolochenaz.

O Melhor de Audrey Hepburn
A Princesa e o Plebeu (1953)
Sabrina (1954)
Cinderela em Paris (1957)
Uma Cruz à Beira do Abismo (1959)
Bonequinha de Luxo (1961)
Infâmia (1961)
Charada (1963)
Minha Bela Dama (1964)
Um Clarão nas Trevas (1967)
Robin e Mariah (1976)

Pablo Aluísio.

Paul Newman - O Doce Pássaro da Juventude

Interpretar uma espécie de gigolô de luxo e ainda se sair bem em cena, criando um vínculo com o espectador não era para qualquer um. Pois Paul Newman conseguiu esse feito no filme "O Doce Pássaro da Juventude" em 1962; O roteiro era baseado em texto de Tennessee Williams, um autor especializado em mostrar o lado mais sórdido do ser humano. Geralmente em suas peças teatrais havia uma enorme galeria de personagens que fugiam completamente do convencional.

Aqui Newman faz uma excelente parceria com a atriz Geraldine Page. Eles formam um casal que retorna para uma cidadezinha lazarenta dos rincões, onde ela pretende ajustar contas com seu passado. Atriz de cinema decadente, completamente dominada pela bebida, ele vê uma última chance de passar seu suposto sucesso na cara de todas aquelas pessoas que a deseprezaram.

O roteiro foi adaptado para o cinema para ser estrelado por Marlon Brando, mas ele na última hora resolveu pular fora do projeto. Brando passava por uma época estranha e complicada de sua vida pessoal e profissional. Ao se envolver com mulheres erradas acabou se envolvendo em inúmeros problemas jurídicos, processos e até tentativas de assassinato. Com isso meio que jogou sua carreira no cinema na lata de lixo. Desprezou bons filmes e excelentes roteiros para atuar em filmes menores - alguns bem ruins - apenas por ser amigo de seus diretores.

Coube então a Newman pegar a vaga. Foi ótimo para ele que já vinha se destacando cada vez mais. Ao contrário de Brando, sempre rebelde e avesso às regras da sociedade, Paul Newman levava muito à sério seu trabalho como ator. Por isso sempre que aparecia uma boa oportunidade como essa, de estrelar um filme baseado em Tennessee Williams, ele corria atrás. Considerado pelos estúdios como bom profissional, correto e sério nas filmagens, acabou herdando muitos papéis que eram inicialmente destinados a Brando, sempre tão complicado de se lidar durante uma filmagem.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

E Assim Nasceu Marilyn Monroe...

Norma Jean era apenas uma modelo sempre em busca de um novo trabalho quando um de seus ensaios numa revista foi parar nas mãos do milionário excêntrico Howard Hughes. Conhecido por suas várias conquistas amorosas, sempre cercado de starlets ele viu algo mais naquela garota. Imediatamente telefonou para o diretor de elenco da Fox e sugeriu que ela fosse contratada. Esse fato deu nascimento a um boato que circulou muitos anos em Hollywood, a de que Marilyn tinha sido mais uma das garotas que circulavam ao redor do Hughes, sempre com uma beldade a tiracolo.

O fato porém é que tudo não passou de um boato pois Marilyn sequer conhecia Hughes e coisas que aconteceram depois parecem confirmar isso. De qualquer maneira Marilyn vibrou ao receber o telefonema do estúdio pois ela vinha em uma situação muito precária, sempre sendo despejada dos pequenos apartamentos em que morava por falta de pagamento do aluguel. Norma Jean nem sempre tinha trabalho e passou por situações de extrema pobreza, por isso aquele contato poderia significar a sua salvação.

Depois de um teste de câmera ela finalmente foi contratada a 75 dólares por semana. A quantia hoje pode parecer irrisória mas na época foi o que salvou literalmente o pescoço da jovem modelo. Antes de colocar Norma em algum filme era necessário escolher um nome artístico para ela. Norma Jean estava fora de cogitação pois soava como algo caipira, lá das brenhas do sul. Assim o diretor de elenco da Fox saiu atrás de algum nome mais sugestivo. Inicialmente escolheu Carolyn Lind, a junção do nome de duas outras atrizes, uma delas falecida, a saudosa Carolyn Lombard. Norma não gostou muito daquilo, além disso logo todos concordaram que não estava soando muito bem.

Assim se procurou por algo melhor e alguém sugeriu Marilyn (um nome sonoro que se parecia até com Carolyn). E o sobrenome? Esse foi escolhido pela própria Norma que lembrou-se do sobrenome de sua avó, Monroe! Parecia perfeito já que os dois Ms poderiam lhe trazer sorte. Assim Norma Jean virou Marilyn Monroe, um dos maiores mitos sexuais da história de Hollywood. No departamento de maquiagem e figurino o visual de Marilyn não causou nenhum impacto. Seus cabelos castanhos encaracolados foram considerados pouco sofisticados. Foi assim que ela também virou uma loira de arrasar. O mito Marilyn Monroe estava nascendo...

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

10 Curiosidades Sobre "Espíritos Indômitos"

1. Por esse primeiro papel no cinema Marlon Brando recebeu um cachê de 50 mil dólares, um bom valor para 1949 quando ele foi contratado. Por essa época Brando também fechou contrato com o agente Jay Kantor que iria se tornar não apenas seu empresário mas também um grande amigo. Ficaram juntos por mais de 40 anos.

2. Apesar de ter adiado muito tempo para entrar no cinema, Brando levou seu papel bem a sério. Um mês antes das filmagens começarem resolveu conhecer veteranos de verdade no hospital das forças armadas em Nova Iorque. O contato lhe fez abrir os olhos. Brando decidiu que não iria interpretar seu personagem como se ele fosse um "coitado" mas sim como um homem de imensa bravura pessoal.

3. Para as cenas de esportes envolvendo cadeirantes, Brando sugeriu ao diretor Fred Zinnemann que ele trouxesse os veteranos que tinha conhecido em Nova Iorque. A sugestão foi aceita. Todos que participam do jogo de basquete são ex-soldados feridos na guerra, alguns que se tornaram amigos de Brando quando ele foi até o hospital de veteranos estudar seu papel. 

4. Para acostumar ao seu papel como um paraplégico, Brando permaneceu em uma cadeira de rodas dentro e fora do set durante todo o período das filmagens. Ele relutantemente abriu uma exceção para este "método", a fim de participar de uma festa de Hollywood, onde ele queria conhecer Charlie Chaplin. Sua companheira Shelley Winters o convenceu de que não daria para ele ir de cadeira de rodas para uma festividade como aquela.

5. Durante as filmagens Brando se hospedou no apartamento do ator Richard Erdman, que também estava no filme em um papel coadjuvante. Brando não se deu muito bem com Erdman pois era desorganizado, bagunceiro e comia toda a comida da geladeira, sem depois ajudar nas despesas. Assim que o filme acabou Erdman decidiu colocar Brando para fora de lá!

6. Depois do sucesso do filme, empresários do setor de rádios de Nova Iorque tentaram contratar Brando para atuar numa versão radiofônica do filme. Brando então pediu um cachê de 100 mil dólares, que obviamente foi recusado. Já a atriz Teresa Wright topou participar do programa que foi ao ar em 17 de dezembro de 1951 numa versão de apenas 60 minutos para a sessão denominada "Lux Radio Theater".

7. Por insistência de Marlon Brando o estúdio contratou mais veteranos do que era necessário para filmar as cenas do filme. No total 49 pacientes do Birmingham Veterans Hospital foram contratados como figurantes para "Espíritos Indômitos". 

8. Após concluir o filme Brando declarou que jamais faria outro filme pois o cinema americano era muito estúpido para criar algo realmente relevante do ponto de vista artístico.

9. Já para os amigos Brando dizia outra coisa, afirmava que trabalhar no cinema era bem mais fácil e lucrativo do que encarar os palcos de teatro de Nova Iorque.

10. Coincidência ou não, logo após as filmagens, Marlon Brando foi convocado pelo exército americano para exames médicos. Caso fosse aprovado ele seria convocado (na época o serviço militar ainda era obrigatório nos Estados Unidos). Felizmente para o ator ele acabou sendo dispensado por causa de um antigo problema no joelho que ele havia contundido em um jogo de futebol americano na escola. Com os problemas ele entrou na categoria F4 e se livrou de ir para a Guerra da Coréia que estava começando justamente naquele mesmo ano.

Pablo Aluísio.

James Dean e Paul Newman

No começo de sua carreira, quando era apenas um jovem ator tentando descolar algum trabalho, Paul Newman conheceu James Dean, o ator rebelde que estava virando um mito em Hollywood. Ambos se encontraram por acaso no Actors Studio em Nova York. Dean nunca fora conhecido por ser um sujeito simpático fora das telas mas na ocasião pareceu ser educado com o novo colega. Em plena aula eles tinham que improvisar uma cena de amor ou ódio. James Dean brincou dizendo que deveriam fazer uma cena de duas pessoas que se amavam muito, o que era estranho para Paul Newman naquela ocasião. Dean então virou-se para ele e sugeriu que fizessem algo que colocasse a sala "em chamas"! Newman se assustou com aquele tipo de proposta e brincou rebatendo: "Hey amigo, vamos com calma! De onde eu venho nós gostamos de trabalhar melhor as coisas...".

Anos mais tarde Newman admitiu que aquele primeiro encontro com James Dean o havia deixado preocupado. Dean tinha deixado meio claramente que se relacionava tanto com homens como com mulheres, e que era um sujeito aberto a todos os tipos de relacionamentos. Na época Paul Newman era casado, tinha filhos e não tinha entendido ainda muito bem como a comunidade gay dava as cartas no mundo do teatro e do cinema americanos. Ele era um hétero convicto e ficou com um pé atrás sobre o que ouvia de seus colegas de Actors Studio. Numa conversa trivial entre as aulas, Jimmy Dean confidenciou para Newman que estava tendo um caso amoroso com um grã-fino chamado Rogers Brackett que o estava bancando em Nova Iorque. Aquilo certamente foi meio chocante para Newman. Ali Dean havia admitido não apenas que era gay, mas que também era sustentado por um homem rico. Duas revelações bombásticas para Newman.

Ao que tudo indica James Dean acabou desenvolvendo alguma queda por Paul Newman. Tempos depois durante um teste de câmera para um filme - um trecho que sobreviveu ao tempo - Newman e Dean surgem juntos na tela. Newman parece pouco à vontade, dando risinhos nervosos. Já Dean é todo presunção. Após trocarem olhares suspeitos, Dean não se contém mais e diz para Paul: "Vamos lá, me beije!". Newman cai na gargalhada logo em seguida. Dean sabia que Newman era um sujeito quadrado, que tinha filhos, obrigações de pai de família e tudo mais e por isso não levou adiante seus ataques! O máximo que conseguiu de Paul Newman foi levá-lo ao apartamento onde morava, onde passaram à tarde de bobeira. Dean deu a Paul um boné de presente, todo vermelho, que ele depois usaria em um jogo de beisebol.

Alguns escritores acreditam que Dean e Newman acabaram tendo um caso passageiro, nada importante ou marcante. A professora de dança de James Dean na época, Eartha Kitt, disse que que eles tiveram sim uma ligação debaixo dos lençóis. Aliás ela chegou inclusive a ir além em suas confidências, dizendo que havia transado com os dois no apartamento de James Dean. Ela afirmou que aquilo havia sido "uma das experiências mais celestiais da minha vida. Essas duas beldades me transportando para o céu. Eu nunca soube que o ato sexual podia ser tão bonito." Verdade ou apenas fantasia de alguém que procurava notoriedade com a imprensa?

Amigos ou amantes, o fato é que as coisas ficariam ruins entre eles pouco tempo depois. James Dean venceu a disputa por um papel importante e Paul Newman foi até ele pedir que Dean falasse com o diretor para que lhe arranjasse um personagem coadjuvante para trabalhar. Dean disse que não o ajudaria.

Newman ficaria ainda mais chateado depois quando perderia mais um papel, só que dessa vez para o atlético Tab Hunter, um ator que nunca fora conhecido por ser um grande talento. Anos depois ele confessaria sua frustração ao afirmar: ""Perder para James Dean era uma coisa, mas como eu poderia viver após perder um papel para Tab Hunter?" Nesse meio tempo James Dean se espatifou em um terrível acidente na estrada de Salinas. Paul Newman ficou bem triste, não apenas por sua morte, mas também por nunca ter tido a oportunidade de reatar sua amizade com Dean. Ele jamais confirmou que tinha tido um namoro com Dean, dizia apenas que tinham sido colegas de estudos em Nova Iorque. "Era um bom sujeito", finalizou ao resumir James Dean.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Marilyn Monroe e Charles Chaplin Jr

Na foto ao lado temos um dos primeiros ensaios de Norma Jean já contratada pela Fox e com o nome de Marilyn Monroe. Entre as mudanças Marilyn exibe seus cabelos loiros, recentemente pintados por ordem do diretor de elenco do estúdio. Na verdade era uma época dura para ela, já que apesar de estar contratada por um ano, com salário de 75 dólares semanais, essa quantia ainda era muito pouco para se viver de forma digna em Los Angeles. Assim ao lado de seu trabalho como atriz ela continuou a fazer ensaios fotográficos como modelo. O interessante é que Marilyn logo percebeu por essa época a importância de se fazer amigos na imprensa e no meio social de Hollywood. Ela conheceu Charles Chaplin Jr, filho do grande ator e diretor, e pensou que ele de alguma forma lhe ajudaria em sua carreira mas com o tempo descobriria que isso seria em vão. Chaplin Jr era uma triste figura. Ele também tinha o sonho de ser um grande ator mas a sombra de seu famoso pai o massacrava.

O trágico para Marilyn era que ao contrário do que poderia se supor Charles Chaplin Jr era tão pobre e sem perspectivas quanto ela. Seu pai não lhe dava uma ajuda consistente e nem procurava lhe ajudar a ser um ator de sucesso. Pelo contrário, Charles Chaplin, o eterno Carlitos, lhe dava o mínimo para que ele não morresse de fome e pagasse o aluguel de um quarto barato na periferia. Charles Chaplin Jr contou a Marilyn que seu pai era um sujeito ignorante, imbecil e violento com a família. Certa vez esmurrou um de seus filhos em plena noite de natal. Na outra o expulsou de um almoço o chamando de vagabundo imprestável. Também preferia ajudar as inúmeras amantes (algumas menores de idade) do que dar a mão a seus filhos em dificuldades. Como era muito influente em Hollywood todos os grandes estúdios evitavam contratar seu filho e isso o jogou numa vida de muitas dificuldades, alcoolismo, desemprego e depressão.

Talvez a vida trágica de Charles Chaplin Jr tenha despertado o lado mais maternal e amigo de Marilyn e ela ficou ao seu lado, mesmo sabendo que nada viria dali em termos de ajuda profissional. Eles chegaram a ter um breve romance mas logo ficou claro que eram melhores como amigos do que como amantes, além disso Marilyn não conseguia se decidir entre Charles Chaplin Jr ou seu irmão Sidney, outro filho renegado de Chaplin que vivia de forma miserável em Los Angeles. Após namorar por algumas semanas com Chaplin Jr ele a flagrou na cama do próprio irmão. Não houve brigas e nem atritos, apenas o convencimento mútuo de que um romance entre eles não tinha qualquer futuro.

Embora Marilyn tenha se esforçado para ajudar os amigos Chaplins, o fato é que essa aproximação acabou causando mais danos a ela do que benefícios. Charles Chaplin Jr estava entrando no mundo das pílulas e acabou passando esse vício para Marilyn que passou a acreditar que uma bolinha era o segredo e solução para tudo - para ajudar a levantar o astral, emagrecer e conter os acessos de fome. O estado sempre melancólico e depressivo de Charles Chaplin Jr também acabou contagiando a amiga. Em determinado ponto de sua vida ele não conseguiu mais lidar com o fracasso e começou a alimentar ideias de se suicidar. Mais de uma vez Marilyn o salvou de literalmente pular pela janela de seu apartamento barato onde morava. Em pouco tempo esse tipo de pensamento mórbido, de acabar com a própria vida, acabaria sendo absorvido pela própria Marilyn, algo que com o tempo se tornaria um verdadeiro desastre emocional para sua vida pessoal.

Pablo Aluísio.

A Deusa - As Vidas Secretas de Marilyn Monroe

A ótima biografia "A Deusa - As Vidas Secretas de Marilyn Monroe" de autoria de Anthony Summers é uma excelente dica para quem estiver interessado na história pessoal de Marilyn Monroe. Temos aqui, em pouco mais de 500 páginas, um ótimo retrato de um dos maiores ícones da história do cinema americano. Marilyn aparece nas páginas desse livro sem retoques, com sua real faceta, mostrando como era uma pessoa atormentada, carente, complexa e confusa. Nascida sem uma estrutura familiar sólida (sua mãe enlouqueceu e foi internada em um asilo e seu pai sumiu) a pequena Norma Jean abriu caminho na vida de uma forma surpreendente, se tornando até hoje no maior símbolo sexual feminino que se tem notícia. Ao longo de capítulos curtos o autor vai revelando os detalhes da vida de Marilyn, fatos esses que foram coletados por inúmeras entrevistas que realizou ao longo de uma extenso período de pesquisa. Ele entrevistou atores, diretores, empregados e ex namorados da atriz para formar um mosaico de sua personalidade.

A Marilyn que emerge de suas páginas é uma mulher cheia de problemas pessoais, afetivos, psicológicos mas ao mesmo tempo dona de um raro talento para surpreender em cena. Embora fosse uma atriz extremamente problemática nos sets de filmagens, Marilyn sempre conseguia se superar em seus filmes, mostrando muita presença e glamour. As histórias de bastidores de seus filmes já valem por si só o valor da compra da biografia. A atriz era a antítese do profissionalismo. Sempre causava algum tipo de confusão durante as produções: nunca chegava no horário certo, brigava com outros atores e atrizes, infernizava a vida dos diretores e levava sempre uma professora de interpretação a tiracolo. Também tinha um pavor patológico de gravar suas cenas, causando atrasos e mais atrasos por causa de sua insegurança fora do normal. Não raro abandonava os estúdios e sumia por dias, sem ninguém saber ao certo seu paradeiro. Apesar disso, como bem recorda o grande ator Lawrence Olivier, quando o filme era finalmente exibido a grande presença na tela sempre era dela, de Marilyn, que roubava as cenas dos demais atores.

A vida pessoal também era bastante conturbada. Marilyn casou oficialmente três vezes, embora haja até hoje a suspeita de que tenha casado uma quarta vez no México, em uma noite de loucuras. Casou-se pela primeira vez aos 16 anos em um casamento arranjado por sua tutora que queria se livrar dela. Depois que o marido foi para a marinha, Marilyn tratou de correr atrás de seu sonho de virar atriz em Hollywood. Ao mesmo tempo em que começava a despontar como modelo e atriz seu casamento ia por água abaixo. O segundo casamento foi com o mito do beisebol americano Joe DiMaggio, um descendente de italianos, casca grossa, ciumento e truculento que chegou a bater nela, causando o inevitável divórcio. Por fim se uniu ao intelectual Arthur Miller em sua última tentativa de ser feliz no matrimônio. Foi um casamento marcado pela indiferença e frieza por parte dele e de infidelidade por parte dela.

Outro ponto interessante do livro é aquele que trata sobre o envolvimento de Marilyn com os irmãos Kennedy (John, o presidente e Bobby, o procurador geral). O autor analisa as diversas teorias de que Marilyn teria sido morta em uma conspiração envolvendo o alto escalão do governo americano no começo da década de 60. Embora não se possa chegar na verdade absoluta dessa questão o escritor faz uma análise bastante interessante dos eventos e mistérios que cercam a morte da atriz. O uso abusivo de drogas e os problemas mentais dela também são enfocados de uma maneira lúcida e coerente. A única conclusão que podemos tirar após ler essa biografia é que apesar de ter alcançado os picos da fama, ter conquistado dinheiro e poder dentro da indústria cinematográfica, Marilyn Monroe morreu solitária e infeliz. Como todo mito que se preze, Marilyn também foi sepultada em sua incrível fama.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Love, Marilyn

Esse ótimo documentário "Love, Marilyn" está sendo exibido pela TV a cabo brasileira, no canal HBO. Eu indico por várias razões. Uma delas, a principal, é que toda a linha de diálogos foi escrita em cima de textos esparsos que Marilyn deixou em vida. Quem dá voz aos pensamentos mais íntimos da atriz são atores de ponta em Hollywood tais como Elizabeth Banks, Glenn Close, Ellen Burstyn e até Lindsay Lohan! Isso porém não é tudo. As opiniões de escritores, diretores e demais pessoas que conviveram com a atriz também surge em cena, interpretados por atores do naipe de um F. Murray Abraham, Ben Foster e Adrien Brody. Tudo de muito bom gosto e sofisticação.

A Marilyn Monroe que surge desses escritos revela uma personalidade complexa e dúbia. Ora escreve como uma garotinha inocente e assustada, ora como uma garota esperta, inteligente e astuta. Não me admira que seja assim. Pessoas que conviveram com Marilyn pessoalmente afirmam que isso era um traço muito claro de seu modo de ser. Ela poderia ir do choro ao ódio, da inocência completa à simulação, em questão de segundos. Além disso era capaz de passar a perna em sujeitos que eram ditos e considerados verdadeiros intelectuais, enquanto que ela, com sua imagem de "loira burra" se mostrava sagaz!

O que poucas pessoas sabem é que Marilyn na verdade não era apenas uma leitora voraz mas uma escritora também. Ela tinha sempre ao lado um caderninho ou uma agenda onde escrevia coisas que achava importantes, seja um lembrete sobre algo do dia a dia, seja uma frase inteligente que ouvira. Depois começou a criar o hábito de também escrever seus próprios pensamentos e é justamente em cima deles que o filme foi construído. Também temos que elogiar e louvar o trabalho desses grandes nomes do teatro e cinema americanos que participaram desse documentário. Estão em grande forma. Até a celebridade Lindsay Lohan está bem, vejam só!  Enfim, tudo do melhor bom gosto embalado com ótimo conteúdo. Não vá perder!

Love, Marilyn (Idem, EUA, 2012) Direção: Liz Garbus /  Roteiro: Liz Garbus / Elenco: F. Murray Abraham, Elizabeth Banks, Adrien Brody, Glenn Close, Ellen Burstyn, Lindsay Lohan, Ben Foster / Sinopse: Documentário em que atores e atrizes famosos de Hollywood da atualidade contam e dão voz a pensamentos e escritos de Marilyn Monroe.

Pablo Aluísio.