quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 28

Certamente Tom Parker nunca pensou em Elvis como um artista inovador, que iria ser estudado nos anos que viriam após sua morte. Visão histórica era um conceito até mesmo muito complicado para que ele entendesse seu significado. Por essa razão Parker não fez nenhuma questão de vender o show de Elvis para os locais mais despreparados, toscos e obsoletos da América. Pagando, Elvis estaria lá, cantando para a caipirada! Conceitos como prestígio, classe e publicidade negativa pouco, ou nada, serviam na cabeça de Parker. Ele certamente não estava nem aí para o fato de que apresentações nesses locais remotos iriam abalar o prestigio de Elvis como artista, fatalmente o levando a ganhar uma boa dose de publicidade negativa, principalmente de todos os jornalistas que acusavam o cantor de estar perdendo a classe ao se apresentar nos cafundós dos Judas! Esse fato, de se apresentar em localidades sem importância, aliado ao seu aumento de peso, sempre eram os primeiros argumentos levantados por todos aqueles que sempre o tachavam de decadente nos anos 70! Afinal, qual é a designação certa para um cantor gordo e velho que vai se apresentar nas menores cidades, dos menores Estados? Ora, decadente é claro!

O que mais impressiona diante desse quadro lamentável é perceber que ao invés de reagir a toda essa situação ruim Tom Parker tomava atitudes que afundavam ainda mais a imagem de Elvis! Como afirmei antes, em um primeiro momento realmente Tom Parker errou por suas próprias limitações pessoais, por puro e simples despreparo, ou para simplificar ainda mais, por pura ignorância. É bem conhecida toda a coleção de piadas que os executivos da RCA tinham sobre Tom Parker. No meio ele era visto como uma figura folclórica, totalmente ultrapassado, uma espécie de Vicente Matheus do mundo musical norte-americano, com todas aquelas gafes e histórias engraçadas que sempre o cercaram. Embora várias de suas decisões acabassem virando piada entre os membros da indústria fonográfica, aos poucos seus atos começaram a chamar a atenção pela esquisitice e irracionalidade. Já em 1957 todos se perguntavam quando Elvis iria fazer sua turnê na Inglaterra e na Europa. Depois disso sempre os jornais europeus de grande circulação traziam periodicamente notícias envolvendo promotores do velho mundo oferecendo vultuosas somas a Parker para que Elvis fizesse finalmente a tão esperada turnê mundial. Mas isso nunca se concretizava pois Parker sempre se saía com uma desculpa esfarrapada qualquer.

Essa situação acabou fazendo com que muitos desconfiassem dos verdadeiros motivos por trás dessa sempre presente recusa por parte de Parker em levar Elvis para os palcos do mundo! Ninguém conseguia entender por que Elvis não saía dos EUA de jeito nenhum! Astros de magnitudes muito inferiores a incrível fama de Elvis se davam muito bem em turnês mundiais. Bill Halley, por exemplo, foi recebido como uma espécie de Deus musical em sua chegada à Londres, ainda no surgimento dos primeiros passos do Rock'n'Roll! Mas quem era ele perto da incrível fama do Rei do Rock? A despeito disso nada parecia convencer o velho Coronel de promover uma excursão épica de um dos maiores astros musicais que o mundo já conheceu! Afinal, quais eram as razões e os motivos que levavam Parker a tomar tantas decisões equivocadas? É fato que Parker deixou muito a desejar como empresário de Elvis, principalmente por não estar devidamente preparado para exercer tal função, mas isso certamente não justificava totalmente os diversos erros que eram sistematicamente cometidos durante a carreira de Elvis. Havia muito mais por trás dos notórios erros de estratégia no comando dos rumos da carreira do afamado Rei do Rock. Essas razões, bem mais sinistras e obscuras, foram sendo descobertas ao longo dos anos que viriam e fariam todos entenderem exatamente as verdadeiras causas que moveram Tom Parker e o fizeram tomar decisões, que em um primeiro momento, eram totalmente irracionais e sem nenhuma lógica comercial!

Com o passar do tempo as respostas foram surgindo para os pesquisadores. O fato dele ser um imigrante ilegal nos Estados Unidos já era bem conhecido de todos os fãs, desde que o fato foi descoberto por Albert Goldman no começo da década de 80 [Leia o artigo "Elvis e o Coronel" em nosso site]. Até aí nenhuma novidade havia surgido. Certamente Elvis nunca fez shows fora dos EUA por causa desse detalhe ilegal na vida do Coronel Tom Parker (que diga-se, não era coronel e nem muito menos se chamava Tom Parker na verdade!). De qualquer forma, para quem acompanha a literatura envolvendo Elvis, acabaram surgindo, nos últimos anos, fatos novos e recém descobertos! Em vista disso muita gente vem sendo surpreendida por novas revelações e descobertas promovidas por uma nova geração de autores que cavaram fundo nessa história envolvendo Parker, Elvis e sua vida artística enclausurada dentro das fronteiras de Tio Sam. Muita coisa que foi descoberta demonstra ainda mais o que existia por trás de toda essa suposta "incompetência" envolvendo os rumos da carreira do cantor.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 27

Numa noite qualquer de 1977 lá estava Elvis, já devidamente vestido, apenas esperando sua deixa para ir fazer mais uma apresentação. Ao seu lado o onipresente Rick Stanley. Elvis estava agora sentado em uma cadeira de seu camarim, com as pernas em cima de uma pequena mesinha à sua frente. Ao seu lado um típico espelho desse tipo de local, com todas aquelas lâmpadas ao redor do reflexo do cantor. Elvis não se arriscava mais a se olhar no espelho com tanta freqüência como fazia antes, ele não se olhava mais tanto como costumava fazer antigamente. Seu famoso narcisismo andava muito em baixa depois de seus constantes aumentos de peso. O cantor conferia seus diversos anéis em seus dedos quando perguntou a Rick: "O que você achou dessa cidade?" Elvis estava prestes a fazer mais um show naquelas cidadezinhas perdidas das Carolinas. Nossa, como ele detestava esse tipo de situação! Rick respondeu: "Bem Elvis, é uma cidade pequena, mas hospitaleira! Acho que o show vai ser um sucesso!" Elvis não se empolgou com a resposta. Ele vinha cada vez mais se irritando com os locais que Tom Parker lhe arranjava para se apresentar. Cidades pequenas demais para ele, segunda sua própria forma de ver as coisas. "Vou falar com o Coronel. Não quero mais me apresentar em locais tão pequenos como esse!". No final de sua vida essa rotina iria cada vez mais se repetir para Elvis: a realização de concertos em pequeninas cidades do interior dos Estados Unidos. Muitas pessoas se perguntam como Elvis Presley, um dos maiores ícones da fama do século XX, acabou indo parar numa situação dessas?

Dono de uma das carreiras mais brilhantes e vitoriosas do show business norte-americano, conhecido nos quatro cantos do mundo, Elvis, após vinte anos de trajetória, estava no mesmo ponto em que começou muitos anos antes, ou seja, se apresentando nas mesmas cidades interioranas de seu país, cantando suas velhas canções, para o mesmo tipo de público que uma vez lhe acolheu em um passado distante! Como isso foi possível? Por que Elvis estava estacionado no mesmo ponto inicial de sua vida artística? Por que não avançou e não abriu novos e gloriosos caminhos? Ao invés de realizar mega concertos pelo mundo afora, ao invés de lotar ginásios e estádios ao redor do mundo, lá estava Elvis novamente...fazendo shows para um público de interior que já o tinha visto anos antes quando ele era apenas um cantor desconhecido! Ao invés de estar em Londres, Paris ou Berlim, fazendo turnês históricas, Elvis estava em um rincão perdido que nem mesmo os americanos conheciam direito. Até mesmo as grandes cidades dos Estados Unidos estavam fora do roteiro. Para Tom Parker a imprensa desses lugares pegava pesado demais com Elvis e por isso ele preferia levar o astro para cidadezinhas, onde nem mesmo existiam jornais diários. Os Beatles tinham demonstrado que não havia fronteiras para grandes nomes do rock mundial, se apresentando em praticamente todos os grandes países do mundo mas para Tom Parker isso não era relevante. Em vista disso Elvis Presley, que era tão popular quanto os Beatles, jamais se apresentaria profissionalmente na Europa, com seu enorme centro cultural de massa. O Coronel também rejeitou todas as propostas de levar Elvis para os grandes festivais de rock da época. Assim ele ficou isolado e... escondido.

Incrível, mas Elvis entrou em uma situação tão calamitosa que para ele, naquela altura de sua vida, só havia sobrado mesmo a opção de realizar um show atrás do outro, em qualquer lugar, mesmo em localidades que um astro de seu porte jamais deveria colocar os pés! Ao contrário de outras estrelas de sua época, que se apresentavam em poucas e selecionadas cidades (geralmente as maiores, os grandes centros populacionais), que cumpriam turnês com poucas e super produzidas apresentações, tudo aliado a vasta publicidade pela mídia, Elvis, sob as ordens de seu nada genial empresário, fazia o extremo oposto do que se esperava de um cantor na posição em que ele ocupava: centenas e centenas de apresentações, muitas vezes sem propaganda nenhuma, em pequenas cidades e nenhum grande impacto significativo no conjunto de sua carreira. Os palcos eram ridículos, sem estrutura, e não havia qualquer capricho em seus concertos. Afinal, quais foram as razões e quem foram os culpados que levaram Elvis a ter que cumprir uma agenda insana de concertos, sob condições de saúde adversas, em apresentações nada memoráveis e nada espetaculares durante os anos 70, sendo que em alguns casos sua exposição perante o público nada mais causava do que um arranhão em sua imagem? Por que ele nunca foi poupado dessas situações constrangedoras?

Essa é uma questão que coloca em xeque a péssima administração das organizações Presley! Certamente o primeiro grande culpado dessa total estagnação da carreira musical de Elvis tem um nome e todos já devem estar pensando nele nesse exato momento: Tom Parker. Um pensamento correto e justo, mas será que apenas ele deve ser culpado de tudo o que de ruim aconteceu com Elvis Presley em seus anos finais? Vamos analisar. Se formos puxar o fio da meada mesmo e ir a fundo na questão chegaremos facilmente à conclusão que Tom Parker pecou mesmo por pura e simples ignorância em um primeiro momento. Longe de ter uma formação adequada para administrar a carreira de um artista do porte de Elvis Presley, Parker era um sujeito limitado à sua vivência circense, aos seus dogmas, aprendidos na velha escola da vida de circo. Exigir uma visão histórica e contextual de uma figura dessas seria pedir demais, vamos convir. Parker certamente pensava que não havia diferença nenhuma na venda de ingressos para o show das atrações de circo itinerante onde ele cresceu das vendas de um concerto de Elvis Presley. Para ele o que importava era o momento, o aqui agora, o importante era embolsar a grana da bilheteria e dar no pé, esperando o público da próxima cidade. Para Parker o que importava era Elvis fazer o concerto, seja lá como fosse feito, embolsar o dinheiro e partir para a próxima, ou seja, a velha mentalidade mambembe de alguns dos mais ridículos circos que ele trabalhou durante sua vida! Ele também não deixou velhos hábitos, como o de vender balões com o nome de Elvis no meio do público, mesmo após Presley ter se tornado um astro de fama internacional. Era cômico, se não fosse patético. Ao invés de faturar milhões de dólares com Elvis pelo mundo afora, Parker ficava vendendo bugigangas que custavam centavos antes do cantor entrar no palco! Mais obtuso do que isso, impossível.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 13 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 26

Elvis ficou sem saber o que fazer. Saber aspectos da vida de Priscilla com Mike Stone lhe deixou destruído por dentro. Sua auto-estima e amor próprio desabaram. Elvis não conseguia mais sair do quarto, sempre se martirizando e imaginando em sua mente confusa a cena de Lisa deitada no chão, presenciando talvez cenas íntimas de Priscilla e seu amante. Nem com alta medicação o cantor conseguia mais dormir, ele não estava só se sentindo o mais traído dos homens, mas também o mais infeliz e humilhado. O pior era que ele estava no meio de uma agenda apertada de shows.

Como iria encarar o público estando totalmente destruído por dentro? A verdade é que Elvis nunca se recuperou da traição de sua esposa Priscilla. Ele poderia imaginar muitas coisas, mas não que sua mulher fosse lhe trair com o instrutor de caratê! Isso realmente o machucou, de verdade e depois desse acontecimento Elvis não mais se recuperou. Todos os autores concordam em uma coisa: depois da traição de Priscilla, Elvis entrou em um processo acelerado de auto destruição! Em pouco tempo ele aumentou consideravelmente seu consumo de drogas, perdeu o interesse por aspectos pessoais e finalmente perdeu interesse pela vida. Sua angústia e desgosto eram tamanhos que Elvis não se importava mais, simplesmente isso, ele não se importava mais.

Red West que testemunhou a longa queda do cantor em seus anos finais relembra: "Elvis estava destruído por dentro. As mudanças que sofreu em sua personalidade, por causa da traição de Priscilla, eram visíveis por todos ao seu lado. Quer um exemplo? Elvis foi uma das pessoas mais vaidosas que conheci na minha vida. Isso não era um defeito mas sim uma qualidade dele. Estava sempre impecável, muito bem arrumado, com o cabelo impecavelmente cuidado, procurava sempre se manter em forma, conferir as últimas novidades na moda masculina e tal. Ele sempre procurava passar uma grande imagem para seu público!"

Para Red havia uma explicação para sua queda: "Depois que Priscilla o traiu Elvis perdeu o interesse. Ele deixou de se cuidar, deixou de ligar para seu aumento de peso, começou a repetir roupas em suas aparições em público (coisa que nunca faria nos anos 60, por exemplo), nem ligava mais para seu estimado cabelo. Até seus discos não lhe chamavam mais atenção. Em seus dois últimos anos cheguei a presenciar Elvis nem mais ouvindo seus novos lançamentos que eram enviados pelo Coronel Parker. Elvis nem tinha mais interesse em ouvir seu próprio trabalho! Os discos novos dele chegavam em Graceland e ficavam lá, jogados em um canto qualquer! Elvis havia perdido não apenas o interesse pelo seu trabalho, mas também o interesse pela vida! Cansei de encontrá-lo totalmente deprimido em cima da cama, sem energia para nada, totalmente apático, essa situação era de uma tristeza profunda!"

Rick Stanley, que também conviveu lado a lado com Elvis em seus últimos anos, completa: "As pessoas devem entender que Elvis estava sofrendo muito no final de sua vida. Havia o problema com Priscilla, que o deixou despedaçado, havia outras pessoas que o traíram, havia problemas em sua carreira. E havia também as drogas para acabar com a sua saúde e sua vida. Muitas vezes eu era o encarregado de levar a pequena maleta de Elvis com seus remédios. Penso que tinha Demerol comigo suficiente para dopar um bairro inteiro de Memphis! Quando Elvis morreu não foi uma grande surpresa para as pessoas que viviam ao seu lado. Penso que Elvis já estava morto por dentro há muito tempo! Uma noite ele me chamou ao seu quarto e confidenciou que estava sentindo-se muito só e que tinha a premonição de que algo muito importante iria acontecer com ele em pouco tempo. Pude perceber as lágrimas descendo em seu rosto nessa noite. Elvis estava querendo me falar algo, mas na época não consegui compreender o que era. Eu era jovem e estúpido e não captei a verdadeira mensagem que Elvis estava me passando naquele momento. Hoje tenho a convicção de que se tratou de uma despedida por parte dele. Às vezes a vida se torna um fardo pesado demais para se carregar sozinho".

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 25

Era muito melhor para Elvis assim. Ele se sentia totalmente aliviado quando estava sob efeitos de drogas. Ele certamente sabia que estava se auto destruindo com tantas drogas consumidas de uma só vez, mas não se importava com isso! O que era importante mesmo era aliviar a extrema agonia do ser. Era melhor "estar inconsciente do que desgraçado" como ele próprio já dissera antes. Essa auto destruição de Elvis até poderia ser tolerada se apenas ele estivesse em perigo nessa jornada insana em que havia entrado. Mas outras pessoas também ficavam em risco na sua presença. Red West afirmou que, após testemunhar um tiro quase fatal que Elvis deu na parede que separava a sala onde estava e o banheiro em que Linda se encontrava (a bala atravessou a parede e quase acertou a cabeça de Linda!), ele determinou a todos os membros da máfia de Memphis que sempre checassem a primeira câmara de balas das armas de Elvis. Sempre deveriam estar vazias pois caso contrário Elvis, sob efeitos de drogas, poderia atirar em alguém por acidente. Sem bala na agulha, os caras da Máfia de Memphis tinham um certo lapso de tempo necessário para reagir no sentido de desarmá-lo e evitar assim acidentes fatais.

Com a palavra Red West: "Se não tivéssemos tomado essa atitude, Elvis poderia ter matado algumas pessoas durante sua vida. Uma arma na mão de uma pessoa já é perigosa, imagine na mão de uma pessoa drogada! Quando Elvis começou a explodir suas TVs com tiros todos riram no começo, mas logo a brincadeira perdeu a graça quando tínhamos que nos abaixar quando ele saía atirando para todos os lados, contra abajures, interruptores de luz, lustres, era uma insanidade, uma completa falta de responsabilidade por parte dele, imagine a situação, um tiro desses a esmo poderia matar facilmente uma pessoa por acidente. Era uma insanidade, não havia graça nenhuma nessas situações!" David Stanley relembra: "Não sei porque Elvis agia assim de forma tão tola e infantil! Uma vez ele procurou por seu revólver e não o encontrando pegou um cinzeiro, daqueles enormes de metal pesado, muito pesado, e o jogou na tela da TV, espatifando tudo! Eu fiquei chocado e olhei em sua direção. Ele tinha aquele olhar típico de uma pessoa totalmente entorpecida, olhos semifechados, desfocados, quase apagando sozinho. De repente quando o olhei novamente levei um susto, ele simplesmente tinha apagado por causa das drogas! No dia seguinte eu lhe disse: "Elvis, ontem você jogou um cinzeiro na TV! O que aconteceu?!" Elvis olhou para mim com o olhar vidrado e respondeu: "Do que diabos você está falando David?!" Ele nem tinha mais consciência do que fazia ou deixava de fazer!".

O Coronel então resolveu enfrentar Elvis nessa situação toda. Depois de mais um show ruim o Coronel resolveu confrontar o cantor de uma vez, subiu e foi falar com ele em seu quarto. Tom Parker mandou esvaziar a suíte do artista e decidiu que era hora de ter uma conversa franca com Elvis. Deixou claro para o chapado astro que ele tinha que “endireitar sua vida ou então toda sua carreira iria por água abaixo”! A palavra “drogas” não foi mencionada, o Coronel apenas sugeriu e não afirmou ou partiu para um confronto totalmente direto, pois caso fizesse isso poderia sobrar para ele no final das contas. Apenas disse uma verdade sabida por todos, pelos caras da Máfia, pelos membros da banda, por seus familiares, por todo mundo. Não havia mais como continuar daquele jeito! Elvis não mostrou reação, ele estava letárgico demais para reagir. Não se sabe se por estar em um estado depressivo ou entorpecido, o fato é que Elvis mal ouviu o que o Coronel tinha a lhe dizer naquele momento. Ele já vinha muito deprimido por algumas coisas que lhe foram ditas da vida íntima de Priscilla e de seu amante Mike Stone e agora sua depressão o impedia até mesmo de raciocinar com equilíbrio.

Dias atrás uma empregada de Priscilla, que namorava um dos caras da Máfia de Memphis, contou a ele que Priscilla colocava Lisa para dormir aos pés de sua cama com Mike. Quando Elvis soube desse fato ele implodiu! Em um primeiro momento ele não quis matar ninguém nem nada, ele simplesmente afundou, implodiu... sabe quando sofremos um duro golpe, tão grande que nem conseguimos mais mostrar forças ou sair para a luta? Quando pensamos que até a esperança está morta e enterrada... foi isso. Elvis se encolheu e teria caído em prantos se não estivesse na frente de sua entourage. Ouviu tudo atentamente e quando seu interlocutor terminou, Elvis simplesmente se levantou e rumou em direção ao seu quarto, silenciosamente. Como tudo foi lhe contado na frente de seus capangas, Elvis sentiu-se completamente humilhado, rebaixado e em um misto de vergonha e sentimento de inferioridade retirou-se. Ele nem soube direito como reagir na verdade. Sentiu-se o mais miserável dos mortais. Sua filha dormindo aos pés da cama do leito de traição de sua ex-esposa e seu amante maldito fez Elvis mergulhar em uma depressão profunda. Era nisso que a vida pessoal do outrora glorioso Rei do Rock havia se transformado?

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 24

Antes de tomar sua segunda rodada de remédios Elvis pedia aos seus assistentes que o ajudassem a ir ao banheiro. Mal conseguindo falar por causa de seu estado, Elvis puxava a camisa de Red West duas vezes para que ele o levantasse da cama junto a, geralmente, Rick Stanley. Os dois então seguravam Elvis em ambos os lados e o levavam até o banheiro luxuoso de sua suíte. Elvis mal podia andar em suas próprias pernas por estar tão turbinado por drogas pesadas. Poucos minutos depois eles o traziam de volta à cama. Rick Stanley relembra esses momentos difíceis: “Era muito triste presenciar Elvis nessas situações. Aqui estava essa pessoa, totalmente dependente de todos à sua volta, sendo tratado como uma criança pequena. Quando o colocava em sua cama perguntava a ele: ‘Está tudo bem Elvis? Tem certeza que não precisa de mais nada?’ Elvis mal conseguia mostrar reação nessas horas, ele simplesmente se virava para o lado e ia a nocaute novamente. O olhar estava vidrado, ele não conseguia manter a menor atenção ao que acontecia ao seu redor. Era muito deprimente testemunhar tudo isso”. Após se deitar Elvis novamente ia perdendo a consciência rapidamente, mergulhado totalmente em seu torpor químico, se afundando até o dia seguinte quando então tudo recomeçava novamente com as mesmas drogas, as mesmas situações aflitivas e... o mesmo fio da navalha...

Quando o relógio marcava dez da manhã era chegado o momento do terceiro ataque. Esse teria uma função complementar para as duas primeiras rodadas de drogas a que Elvis já tinha sido submetido nessa mesma noite. A intenção agora era completar o serviço iniciado com os ataques anteriores. De todos os procedimentos perigosos pelo qual Elvis passava esse era certamente o mais delicado. O menor erro poderia levá-lo facilmente à morte e por essa razão sempre era preciso a presença de um médico para evitar qualquer eventual problema, como por exemplo uma super dosagem de drogas que o levasse a uma overdose fatal. Tudo era feito com extremo cuidado e cautela. Nesse momento o cantor precisava de uma substância diferenciada. O médico mandava então seus assistentes virarem Elvis e com duas mechas de algodão introduzia drogas líquidas em suas narinas e finalizava o procedimento com uma dose de dexedrinas para dar partida em seu coração semi moribundo e evitar uma parada cardíaca causada por tantas substâncias circulando em seu corpo ao mesmo tempo. Elvis babava e revirava os olhos. Uma cena grotesca que deixaria o mais fanático fã de sua música em choque! Depois do terceiro ataque Elvis afundava e desabava, só conseguindo recobrar sua consciência no final da tarde. Como justificar tamanha agressão ao próprio organismo?! Com o tempo Elvis foi ficando totalmente à vontade na posição de usuário de drogas perigosas. Por mais incrível que isso possa parecer, Elvis estava sempre procurando os mais novos remédios do mercado. Mal recuperava sua consciência e ia folhear seu guia de drogas, que geralmente ficava à mão em seu quarto.

Assim que saía uma pílula nova, lá estava Elvis tentando dar um jeito de experimentar seus efeitos! Queria conferir as novidades, experimentá-las! Assim como um sujeito normal que deseja um bem de consumo novo qualquer todos os anos, Elvis desejava sempre experimentar a mais nova droga que a indústria farmacêutica colocava à venda! Segundo seu biógrafo Jerry Hopkins, Elvis era um "experimentador"! Do mesmo modo que ele queria o mais novo modelo extravagante de carro, ele queria adquirir a mais recente droga no mercado! Valium. Ethinamate. Dilaudid. Demerol. Percodan. Placidyl. Dexedrine. Biphetamine. Amytal. Quaalude. Carbrital. Ritalin. Não importa, assim que chegavam aos consumidores Elvis colocava sua tropa de médicos em ação para que as receitas chegassem logo nas suas mãos e ele mandasse seus capangas o mais rapidamente possível à farmácia local para comprar a nova química! Aos poucos Elvis foi ficando cada vez mais confortável com o uso desses remédios, afinal não eram drogas de rua, mas no final das contas também o deixavam chapado, dando um barato do qual Elvis não conseguia mais se livrar. Sob esse ponto de vista ele estava tão viciado em drogas como qualquer usuário de cocaína ou heroína na esquina. A única diferença era que as substâncias psicotrópicas eram vendidas em drogarias legais e não por traficantes perigosos. A comodidade era o grande diferencial para Elvis, embora ele no final de tudo pagasse caro por suas escolhas equivocadas.

Curiosamente Elvis odiava traficantes e usuários de drogas em geral. Em relação às drogas de rua Elvis acreditava que apenas a violência iria limpar a sociedade. Para ele deveria haver um choque de repressão violenta dentro da sociedade, com os traficantes e drogados sendo eliminados sem qualquer compaixão. Pena de morte para essa gente imunda. Chegou a dizer várias vezes: "Se os tiras quiserem minha ajuda, com meu arsenal pessoal, podem me chamar. Vou para as ruas e passo chumbo quente nessa escória". Ironicamente ele própria fazia a mesma coisa em sua vida privada. Era uma contradição impossível de contornar. Como vivia cercado de puxa sacos profissionais ninguém porém ousava contrariar seu pensamento fatalista. Elvis empunhava seus rifles de última geração, falava essas abobrinhas e todos concordavam em coro dizendo: "Sim Elvis, os drogados devem ser mortos!". Tão à vontade Elvis ficava nessa posição que nem mais se importava em comentar isso na presença de pessoas próximas a ele. Uma vez, durante uma conversa com a esposa de Red West, disse tranqüilamente: "Pat, eu já usei todas as drogas do mercado, e querida, acredite no que lhe digo, Dilaudid é a melhor!" Dilaudid era uma droga extremamente agressiva que causava forte dependência, sendo receitada geralmente para pacientes em estado terminal de câncer! Embora tivesse muitos problemas de saúde, a verdade era que Elvis usava muitas das drogas que tomava apenas para se sentir bem, no "alto", como se diz na gíria dos viciados em drogas. Nada mais do que isso! Se começava a sentir-se deprimido, Elvis logo tomava uma dose extra para desabar. Do mesmo modo, se algo o aborrecia ou o deixava triste, Elvis preferia simplesmente fugir da realidade à sua volta. Ele estava sempre se escondendo dos problemas, desabando sob efeitos de drogas pesadas. Elvis não queria enfrentar problemas, ele queria apenas se refugiar no torpor e prazer químico que estas drogas lhe proporcionavam. O preço a pagar seria muito alto, sua vida, no final desse caminho sem volta.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 23

Elvis também utilizava uma grande quantidade de remédios para emagrecer, mas em seus últimos anos eles não faziam mais efeito fazendo com que ele muitas vezes passasse uma péssima imagem durante os concertos. Um colunista de San Diego chegou ao ponto de chamá-lo de "glutão ao vivo" em sua coluna diária. Mas isso não o impediu de comer cada vez mais. Outro problema surgia por causa da comilança sem limites de Elvis. Com a palavra Rick Stanley: "Tínhamos de vigiar Elvis 24 horas por dia no final de sua vida! O simples ato de se alimentar agora significava risco. Ele simplesmente poderia apagar no meio das refeições e então era preciso socorrê-lo imediatamente pois caso contrário ele poderia morrer sufocado com a comida obstruindo sua garganta! Algumas vezes Elvis ficava tão fora de si durante uma refeição que sentava e parecia apalermado e era preciso vigiá-lo porque ele podia deixar um pedaço de hambúrguer preso na garganta. Em mais de uma ocasião eu o encontrei em choque em cima da cama, e tive de enfiar a mão em sua garganta e puxar coisas para fora! Pressionar seu peito. E era muito triste, você sabe. Quero dizer, este cara é apenas alguns anos mais velho do que eu, e eu o estou suspendendo e colocando meu braço em volta dele, perguntando: 'Patrão, você está bem? Tem certeza? Beba alguma água! Essa era uma situação muito triste sabe! De repente estávamos segurando Elvis nos braços perguntando: 'Chefe, tudo bem? Está respirando normalmente agora?' Era como uma criança bem pequena! Era uma situação muito triste mesmo!".

Em razão disso Elvis passou a se alimentar em seu próprio quarto onde poderia ser mais facilmente vigiado por seus capangas. Tudo era devorado na cama mesmo, pois uma pequena mesinha era colocada por sua companheira (que poderia ser sua namorada oficial ou qualquer outra garota de estoque que estivesse à disposição naquele momento). Enquanto ia se alimentando Elvis mandava ligar a enorme TV que ficava à sua frente. Brincando com o prato, se distraindo com algo que passava na tela, a comida acabava esfriando e Elvis pedia que outra quente lhe fosse servida. Isso era o pior de tudo, pois Elvis acabava comendo três a quatro vezes mais do que uma pessoa normal. Barriga cheia, Elvis se preparava para finalmente ir repousar seu espírito.

Em pouco tempo ele começava a sentir os efeitos do primeiro ataque e pedia que a comida fosse retirada de sua cama, pois caso contrário ele poderia apagar e desmaiar em cima da refeição. Isso já acontecera antes. Uma vez Linda o deixou por alguns minutos e quando voltou o encontrou com a cara enfiada dentro de um prato de sopa. Alarmada ela levantou rapidamente o rosto de Elvis e o salvou de literalmente morrer afogado em um prato de sopa! Para evitar que isso novamente acontecesse Elvis imediatamente mandava retirar a comida de sua frente quando ele percebia que iria apagar a qualquer momento. Então seus assistentes levavam a mesinha e o resto da comida embora e Elvis se aconchegava em seu leito para finalmente apagar.

Para Elvis sentir-se bem em sua cama king size era necessária uma dose extra de travesseiros e almofadas. O cantor gostava de dormir de lado, com uma almofada entre as pernas, posição que aliviava suas dores nas costas, problema que tinha se agravado nos últimos anos em intensidade após seu aumento de peso. Enquanto ele não perdia sua consciência, sua companhia feminina lia para ele algum trecho da bíblia ou alguma coleção de pensamentos de seus livros espirituais e esotéricos. Em pouco tempo os remédios agiam sobre seu sistema nervoso e Elvis logo adormecia. Adormecer é um eufemismo, na realidade Elvis apagava totalmente, de forma imediata. Em poucos segundos ele entrava em um sono profundo por causa das potentes drogas que havia ingerido momentos antes. Mas estava longe de ser um sono normal, como o das pessoas comuns. Era um sono artificial, induzido por remédios poderosos. Os efeitos só duravam quatro horas e quando Elvis começava a despertar era hora do segundo ataque. O principal objetivo dessa segunda rodada de coquetel químico era completar o serviço do primeiro ataque, ou seja, colocar Elvis em nocaute até a manhã do dia seguinte, pois caso contrário ele acordaria antes do tempo necessário para se recuperar totalmente.

Pablo Aluísio.

domingo, 11 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 22

A mistura de tantas drogas de uma só vez era um enorme risco e Elvis certamente arriscava sua vida todos os dias ao fazer uso de tantos medicamentos ao mesmo tempo. Elvis tinha plena consciência dos riscos que corria todos os dias, mas não se importava mais. O que realmente tinha importância para ele nessa fase final de sua vida era realmente ir a nocaute todas as manhãs e só acordar no final da tarde para fazer mais uma apresentação. Sua vida realmente se resumia nisso: fazer shows, ir para o hotel e desabar sob efeitos de drogas. Rick Stanley relembra: "Quando saía da cama havia uma grande quantidade de drogas excitantes. De um estado de torpor Elvis saltava rapidamente para um quadro de extrema agitação, após tomar as drogas! Ele ficava totalmente fora de ordem, ficava totalmente elétrico, matraqueando e falando sem parar, então seu médico tinha que novamente lhe aplicar algo para que ele voltasse ao normal."

O médico sempre ficava observando Elvis para ver como ele reagiria as doses que tomava pela manhã, se ele ficasse muito agitado não demorava muito e eles lhe aplicavam logo Valium ou qualquer coisa parecida e nesse vai e vem ele ficava 24 horas por dia medicado e muitas vezes perdia a noção das coisas, perdia a noção de tempo e espaço". Essa rotina, muitas vezes, fazia com que Elvis ficasse sem saber nem onde estava e nem onde se apresentava. Houve ocasiões em que ele entrou no palco sem nem ao menos saber em que cidade ou Estado estava! Não raras vezes se virava para Rick Stanley após o concerto e perguntava: "Onde estou?"

Depois de sofrer o primeiro ataque, seu médico particular se retirava do quarto. Então um terceiro assistente vindo diretamente da cozinha do hotel trazia sua última refeição antes de ir dormir: Três enormes chessburguers, dois ou três dos famosos sanduíches de banana, quatro a cinco bananas Splits, muita fritura e bacon, três a quatro refrigerantes, muitos doces e sorvetes... enfim, uma dieta nada saudável, um verdadeiro desastre nutricional para a saúde de qualquer pessoa. Não era por outro motivo que ele estava muitos quilos à frente de seu peso normal. Tudo era fruto da gulodice desenfreada do cantor, que nem mais se importava com sua aparência anormal e pesada no palco. Em relação à sua imagem pessoal, Elvis parecia não mais se importar. Ele estava gordo?! E daí?! Para o antigo símbolo de beleza masculina isso parecia não mais incomodar. Como muitos americanos de sua idade que nunca se cuidaram, Elvis era uma paródia triste da antiga imagem impecável que tanto impacto causou no passado. Considerado nos anos 50 um dos homens mais bonitos do mundo, Elvis agora só podia se lamentar e se entristecer ao se deparar consigo mesmo em frente ao espelho: pálido, gordo e envelhecido

Os anos de símbolo sexual há muito ficaram para trás. O que importava agora era se empapuçar de comida, até como uma forma de aliviar sua angústia e sua depressão cada vez mais crescente. A obesidade descontrolada de Elvis se tornava cada vez mais um sério problema para as organizações Presley, como bem relembra Rick Stanley: "A saúde de Elvis estava praticamente arruinada por seu estilo de vida. Elvis tinha hábitos alimentares realmente ruins. Todo mundo estava sempre tentando fazê-lo perder peso, mas era preciso ter cuidado ao fazer esse tipo de sugestão ou ele ficava furioso. Então sugeriram indiretamente, como, por exemplo, assegurando-se de que ele estava ao alcance do ouvido quando diziam a alguém coisas do tipo como: 'Eu tenho um amigo que perdeu um monte de peso comendo iogurte'. Então podia ser que mais tarde Elvis começasse a tomar iogurte. Ele arranjou aquelas pequenas vasilhas de iogurte com frutas, mas não adiantou porque ele comia 20 de uma vez e continuava comendo tanto quanto antes! A mesma coisa aconteceu com pêssegos. Red West lhe disse que pêssegos ajudava as pessoas a perderem peso rapidamente. A partir desse dia Elvis teve uma loucura passageira por pêssegos e comia esse tipo de fruta dia e noite. Mas não adiantou nada por causa de sua fome descontrolada. Ele comia uma dúzia de pêssegos de uma só vez e cuspia os caroços por toda parte, em todos os lugares. Algumas vezes ele os jogava no assoalho. Passou dos 113 quilos. Houve ocasiões em que tivemos que conseguir cintas de Saran Wrap, gigantescas mesmo, e apertar seu estômago! Aquilo tornava quase impossível a respiração. Na última parte de sua vida ele não estava realmente acertando muitas notas. Apenas as tartamudeava, indo através dos movimentos!".

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 21

Las Vegas. Anos 1970. Suíte privativa do cantor Elvis Presley no Hilton. 15:45 hs da tarde. Temperatura interna do ambiente: 9º C (ar condicionado funcionando à toda). Escuridão completa, nenhuma luz. Silenciosamente a porta do frio e escuro quarto é aberta lentamente, com o máximo de cuidado para não provocar nenhum ruído mais forte. Após essa excessiva cautela, para não interromper de forma abrupta o sono do Rei do Rock, duas pessoas adentram o ambiente. O primeiro é um dos muitos assistentes pessoais de Elvis, Red West, que imediatamente se dirige à janela e abre uma pequena aresta para deixar entrar um mínimo de raio de sol natural no ambiente altamente artificial em que Elvis passa seus dias. O cantor abre lentamente um dos olhos e nota a presença de seus valetes reais. Ele está péssimo, olhos vermelhos, cabelo despenteado, totalmente desnorteado, sem a menor disposição de se levantar de seu leito e encarar mais uma noite de trabalho. O astro levará pelo menos de 30 a 45 minutos para conseguir acordar totalmente. Um procedimento longo, penoso e nada agradável para ele. A segunda pessoa a entrar no quarto, seu médico particular, senta-se ao lado da cama de Elvis e logo abre sua pequena maleta, dando início ao longo processo de verdadeiro renascimento do artista. Elvis não consegue mais viver sem o total acompanhamento e assistência de seus homens.

O simples ato de ir dormir ou acordar acaba virando uma operação de guerra, um verdadeiro esforço coletivo envolvendo várias pessoas de sua entourage privada, cada uma com uma função determinada e precisa. Elvis havia ido dormir na noite anterior às quatro horas da manhã. Assim como seu despertar, o simples ato de ir dormir denotava uma verdadeira organização de assistentes e médicos cujo único objetivo era proporcionar uma noite tranqüila de sono ao cantor. E tudo se repetia depois para acordá-lo na tarde do dia seguinte e retirá-lo do coquetel químico a que havia sido exposto na noite anterior. O processo de fazer Elvis dormir e se levantar se constituía de três etapas básicas, que ele próprio acabou apelidando de “ataques”. Era uma ironia, mas tinha sua dose de verdade, pois era nisso mesmo que se constituía, um verdadeiro “ataque” ao seu deteriorado organismo, pois ele era literalmente “nocauteado” para finalmente conseguir pregar os olhos e chegar ao próximo dia descansado e com uma boa noite de sono. Os ataques eram feitos por cinco a oito de seus assistentes e um médico. Uma verdadeira equipe que ficava de plantão ao lado de seu quarto, para em horas pré-determinadas entrar em ação.

Antes do primeiro ataque, Elvis vestia seu pijama preferido, de náilon azul com suas iniciais escritas na parte da frente, logo acima de seu bolso frontal. Então ele se virava para seu assistente e dizia: “Me dá o primeiro ataque!”. Sentado na beira da cama, seu assistente lhe entregava um envelope amarelo com onze, isso mesmo, onze pílulas e um copo de água que Elvis logo colocava ao seu lado, acima do criado mudo. Elvis então enchia a mão com todas essas pílulas coloridas e tentava engolir todas de uma só vez, coisa que lhe divertia bastante, e que achava o maior barato. Então seu assistente pessoal lhe dava a água e assim Elvis finalmente se deitava. Nesse momento a função desse primeiro cara da Máfia de Memphis (geralmente Red ou Sonny West) estava concluída e ele se retirava do quarto. Agora era a vez de seu médico particular entrar em serviço para lhe aplicar três injeções de Demerol, em ambos os lados de sua espinha, logo abaixo das omoplatas. Lentamente as injeções eram aplicadas, com Elvis deitado de costas em sua cama e com o pijama levantado.

Geralmente o Dr Nick fazia esse trabalho, mas também poderia ser qualquer outro médico da longa lista de doutores assalariados de Elvis. O Médico então conferia se as dosagens de pílulas para Elvis estavam corretas e começava a preparar um novo envelope amarelo para o segundo “ataque”. Nesse cardápio químico que Elvis tomava diariamente havia muitos barbitúricos: Amytal, Carbital e Seconal. Todos causadores de forte dependência e cujos efeitos são facilmente tolerados pelo organismo, o que os leva a perderem o efeito, sendo necessário então o aumento de dose para garantir a mesma eficácia. No segundo envelope ainda havia duas drogas extremamente perigosas: Placidyl e Quaalude. Para finalizar o ataque, Valium e Valmid. Em ocasiões mais aflitivas o Dr Nick ainda acrescentava doses extras de Demerol, usada muitas vezes como substituta da morfina e causadora de forte dependência.

Pablo Aluísio.