sexta-feira, 18 de fevereiro de 2005

Elvis Presley - Flaming Star (1960)

Muita gente se decepcionou com a trilha sonora desse filme. Os fãs queriam uma trilha sonora completa, aos moldes de "Saudades de um Pracinha", um álbum completo, com dez ou doze faixas para colecionar. Só que ao invés disso a RCA apresentou um minguado compacto duplo com poucas canções. Foi decepcionante. Esse tipo de coisa iria levantar a atenção do Coronel Tom Parker que a partir daí iria sempre pressionar a RCA Victor a lançar discos inteiros de trilhas de seus filmes. Acontece que a trilha sonora de "Estrela de Fogo" só contava com apenas 5 músicas, sendo que uma delas nada mais era uma versão diferente, com outra letra, pouco modificada da música tema. Assim, se formos pensar bem, só havia mesmo 4 canções gravadas em estúdio para esse filme. Não havia material nem mesmo para completar um dos lados do LP, caso ele fosse programado realmente.

Depois de "G.I. Blues" Elvis colocou na cabeça que queria ser um grande ator de cinema, ao estilo Marlon Brando e James Dean, seus grandes ídolos. E músicas não faziam parte desse menu. Elvis só esqueceu que seu grande talento pessoal era para a música e não para a arte de atuar, algo que exigia dele outros talentos, completamente diferentes de ter uma bela voz e saber cantar bem. Como o tempo iria provar ele estava errado nesse tipo de pensamento. "Estrela de Fogo" certamente foi um dos bons filmes de sua carreira, mas não fez muito sucesso. Nada comparado com o hit de "Saudades de um Pracinha", esse sim um projeto que valorizava seu lado superstar, de cantor de sucesso. De qualquer maneira uma coisa era certa, essa trilha sonora de "Flaming Star" era apenas uma trilha sonora incidental, praticamente. O que foi uma tremenda decepção para quem queria comprar os discos de Elvis naquela época.

Uma enorme bagunça. Assim poderia definir tudo o que fizeram com a trilha sonora do filme “Flaming Star”. Para inicio de conversa mais da metade das canções do filme não foi lançada na época. Apenas “Flaming Star” e “Summer Kisses, Winter Tears” saíram regularmente em um compacto duplo chamado “Elvis by Request”, o resto das músicas foram esquecidas, arquivadas e ficaram inéditas por anos a fio. E afinal qual teria sido a melhor decisão? Ora, não é preciso ir muito longe para perceber que a RCA deveria ter lançado um EP (compacto duplo) com as cinco canções – algo que faria depois em trilhas sonoras com “Kid Galahad” e “Follow That Dream”. Isso seria em um mundo perfeito mas nada disso aconteceu. Elvis gravou as canções do filme (ele não queria pois em seu entender precisava apenas atuar bem no filme) e a RCA praticamente nada fez com elas no mercado. Provavelmente “Flaming Star” tenha sido a trilha sonora de Elvis Presley mais negligenciada de sua carreira. As músicas que chegaram ao mercado não fizeram sucesso e as que foram arquivadas ficaram no limbo por anos, esquecidas completamente.
   
Fazendo uma rápida retrospectiva: “Britches” só chegou ao mercado fonográfico muitos anos depois no álbum “A Legendary Performer, Volume 3”. “A Cane and a High Starched Collar”não teve melhor sorte. Apesar de aparecer no filme e ter um bom embalo também nunca foi lançada na época, só sendo colocada timidamente no disco “A Legendary Performer, Volume 2”. Por fim a estranha e desnecessária "Black Star" arranjou um espaço no LP “Collectors Gold”. Pra falar a verdade a trilha sonora só foi reunida de fato pela RCA na série Double Features, que nos anos 90 conseguiu trazer alguma organização para a extremamente bagunçada discografia de Elvis nos anos 60. Nessa edição além da trilha completa de “Flaming Star”, o fã de Elvis ainda teria acesso às trilhas de “Wild In The Country” e “Follow That Dream”. Gosto muito dos CDs Double Features, pois além do bom gosto (com excelentes encartes e direção de arte bonita), o fã ainda tinha acesso a todas as informações como datas de gravação, autores, etc. Já para quem esteja a fim de realmente radicalizar em termos de “Flaming Star” eu recomendo o bootleg “Master and session - Flaming Star” que traz as canções oficiais e muito mais como takes e versões alternativas. Demorou décadas mas “Flaming Star” finalmente chegou ao fã de Elvis como era esperado.

As sessões de gravação da trilha sonora do filme "Estrela de Fogo" (Flaming Star, em seu título original) se deram nos estúdios Radio Recorders, em Hollywood, na Califórnia. A sessão foi coordenada e produzida pelo produtor Urban Thielmann, acompanhado do engenheiro de som Thorne Nogar. Tudo foi praticamente gravado em poucas horas em agosto de 1960. Elvis já entrava no estúdio com as músicas decoradas, uma vez que a RCA enviava para ele fitas demos com as canções gravadas por cantores da própria gravadora. Curiosamente a primeira música gravada foi "Black Star". Aliás o filme de faroeste iria ter esse título, mas depois os executivos e produtores da 20th Century Fox pensaram melhor e entenderam que o uso do termo "Black" poderia causar alguma polêmica. Não podemos nos esquecer que a questão racial estava na ordem no dia naqueles tempos. A luta pelos direitos civis da população negra dos Estados Unidos ocupavam todas as manchetes de jornais. E para potencializar ainda mais algum tipo de problema nessa questão o personagem de Elvis no filme era um mestiço. Então para não criar problemas a Fox resolveu mudar o nome do filme para "Flaming Star".

E com essa decisão Elvis precisou voltar ao estúdio para gravar outra faixa título "Flaming Star" que tinha praticamente o mesmo arranjo, a mesma letra, só mudando os termos. Saiu o "Black" e entrou o "Flaming". A versão "Black Star" ficou anos arquivada pela RCA e todo o trabalho que Elvis teve para gravá-la (foram providenciadas até três versões dela) ficaram perdidos. Outra música que foi gravada para fazer parte dos trabalhos desse filme foi "Summer Kisses, Winter Tears". A grande maioria dos fãs de Elvis, principalmente aqui no Brasil, só veio a conhecer essa gravação quando ela foi lançada no álbum "Elvis for Everyone" de 1965. Sou da opinião de que a RCA Victor deveria ter produzido um álbum desse filme. Uma trilha sonora em LP. Bastava gravar mais cinco músicas para o lado B, o que não seria nada complicado para Elvis na época e pronto, havia um disco de verdade para acomodar todas as faixas desse filme. Infelizmente não foi isso que decidiram e a maioria das músicas de "Flaming Star" simplesmente se perderam e foram desperdiçadas dentro de sua discografia.

Apesar dos esforços de Elvis, que não queria aparecer cantando de jeito nenhum nesse filme "Estrela de Fogo", o estúdio Fox conseguiu convencer ele a cantar pelo menos uma canção. A escolhida foi a baladinha country "A Cane and a High Starched Collar". Eu gosto dessa música, apesar de ser das mais simples. Basicamente apenas um arranjo acústico, para que soasse verdadeira na cena do filme, pois era um faroeste, onde o personagem contava apenas com um violão. "Britches" era igualmente simples. Também foi cogitada para ser usada no filme, em outra cena, mas Elvis se recusou com firmeza. Ele queria que esse filme fosse apenas de atuação, não de cantoria. O resultado foi outra faixa gravada e completamente desperdiçada. Ficou anos e anos arquivada, se tornando muito rara. Se nos Estados Unidos passou em brancas nuvens, imagine no Brasil. Os fãs brasileiros nem sabiam que essa canção existia.

"Flaming Star" contou com um grupo musical bem diferente do que Elvis estava acostumado a trabalhar em estúdio. Nada de Scotty Moore e seus músicos da banda usual e tradicional que Elvis usava regularmente em seus discos e singles. Como era um western da Fox, o próprio estúdio cinematográfico escolheu a banda que iria tocar com Elvis na trilha sonora. Só músico contratado da própria companhia. E a banda era formada pelos seguintes músicos: Howard Roberts no violão, Hilmer J. "Tiny" Timbrell na guitarra (esse iria trabalhar em outras ocasiões com Elvis), Michael "Meyer" Rubin no baixo, Bernie Mattinson na bateria e no acordeão James Haskell pois eram músicas de faroeste. Da turma de Elvis mesmo só compareceu na sessão o pianista Dudley Brooks e o grupo vocal The Jordanaires, contando com os vocalistas Gordon Stoker, Hoyt Hawkins, Neal Matthews e Ray Walker. A formação clássica dos Jordanaires, como se pode perceber.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Discografia Americana - 1960

Elvis Presley - Discografia Americana - 1960

Segue a relação completa de todos os álbuns (LPs) e Singles (compactos) lançados pela RCA Victor no ano de 1960. No total Elvis lançou três álbuns e três singles. Os álbuns dariam origem a outros singles, descritos na relação, mas lançados em anos posteriores. Elvis recebeu três discos de ouro por seus LPs e três discos de ouro e platina pelas vendas de seus singles. Segue abaixo a relação completa desse ano do retorno de Elvis em sua carreira artística.

Elvis Is Back! (1960)
MAKE ME KNOW IT / FEVER / THE GIRL OF MY BEST FRIEND / I WILL BE HOME AGAIN / DIRTY, DIRTY FEELING / TRHILL OF YOUR LOVE / SOLDIER BOY / SUCH A NIGHT / THE GIRL NEXT DOOR WALKING / LIKE A BABY / RECONSIDER BABY

Singles extraídos deste disco:
Such A Night / Never Ending (1964)
Easy Question / It Feels So Right (1965)

G.I.Blues (1960)
TONIGHT IS SO RIGHT FOR LOVE / WHAT'S SHE REALLY LIKE / FRANKFORT SPECIAL / WOODEN HEART / G.I.BLUES / POCKETFUL OF RAINBOWS / SHOPPIN' AROUND / BIG BOOTS / DIDJA' EVER / BLUE SUEDE SHOES / DOIN' THE BEST I CAN

Singles extraídos deste disco:
Blue Christmas / Wooden Heart (1964)
Puppet on the String / Wooden Heart (1965)

His Hand in Mine (1960)
HIS HAND IN MINE / I'M GONNA WALK DEM GOLDEN STAIRS / IN MY FATHER'S HOUSE (ARE MANY MANSIONS) / MILKY WHITE WAY / KNOWN ONLY TO HIM / I BELIEVE IN THE MAN IN THE SKY / JOSHUA FIT THE BATTLE / HE KNOWS JUST WHAT I NEED(JESUS KNOWS WHAT I NEED) / SWING DOWN, SWEET CHARIOT / MANSION OVER THE HILLTOP / IF WE NEVER MEET AGAIN / WORKING ON THE BUILDING

Singles extraídos deste disco:
Crying In The Chapel / I Believe in The Man In the Sky (1965)
Joshua Fit The Battle / Known Only To Him (1966)
Milky White Way / Swing Down Sweet Chariot (1966)
His Hand In Mine / How Great Thou Art (1969)

Relação de Singles 1960:
Stuck on You / Fame and Fortune
It's Now or Never / A Mess of Blues
Are You Lonesome Tonight? / I Gotta Know

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2005

Elvis Presley - Are You Lonesome Tonight? / I Gotta Know

Esse foi o terceiro e ultimo single de Elvis Presley a ser lançado em 1960. É bem curioso o fato da canção escolhida ter sido justamente “Are You Lonesome Tonight?”, uma versão de uma música muito antiga que trazia inclusive uma parte declamada, como era bem comum no início do século XX. Elvis que já vinha sendo criticado em certos jornais e revistas por ter deixado o bravo rock ´n´ roll de lado em suas gravações não teve qualquer receio de lançar um single que aprofundava ainda mais essa distância. Elvis e o Coronel Parker pareciam cada vez mais inclinados a assumirem o fato de que Elvis era agora um cantor romântico, de repertório suave, com canções e baladas sentimentais ganhando cada vez maior destaque em seus lançamentos. A aproximação com Hollywood acentuava ainda mais esses novos rumos uma vez que Elvis estava se parecendo cada vez mais com os galãs românticos da era de ouro da capital do cinema.
   
Como o último single de Elvis, “It´s Now Or Never”, tinha sido um sucesso espetacular de vendas o mercado esperou ansiosamente pela chegada do novo compacto nas lojas. E ele de fato não decepcionou, correspondeu bem às expectativas vendendo algo em torno de 10 milhões de cópias, um número robusto, forte, que posicionava Elvis Presley ainda mais no trono de rei da música naquele momento. Certamente não era mais o roqueiro desafiador dos anos 50 mas mantinha seu status inalterado. E para o Coronel Parker todo esse sucesso de vendas só significava que os novos rumos que Elvis trilhava em sua nova musicalidade era de fato o caminho certo a seguir. Por fim uma curiosidade: “Ate You Lonesome Tonight?” foi certamente um sucesso no mundo todo mas alguns anos depois voltou às paradas numa versão divertida gravada por Elvis Presley em 1969 onde ele não conseguia conter sua risada, rindo bastante durante toda a execução da música. Na Inglaterra a “versão dos risos” de Elvis voltou a ser um novo sucesso nas rádios locais.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - FTD G.I. Blues

Lançamento do selo Follow That Dream, em CD duplo, trazendo o álbum original da trilha sonora de G.I. Blues acrescentado de muitas versões e takes alternativos, com ênfase especial na sessão de abril. Como se sabe a trilha sonora do filme foi gravada em basicamente duas rodadas de sessões. A primeira se deu em abril nos estúdios da RCA em Los Angeles. A segunda ocorreu em maio, dessa vez no Radio Recorders em West Hollywood, o estúdio preferido de Elvis na costa oeste. A segunda sessão foi interessante pois Elvis melhorou algumas faixas e tentou novos arranjos, geralmente mudando o tempo das canções. Como havia muitas melodias lembrando marchas militares nessa trilha ela acabou se tornando das mais complicadas de se gravar. Não apenas Elvis estava desacostumado com esse tipo de material como também seu grupo, por isso a RCA preferiu lapidar melhor algumas versões. E basta ouvir alguns desses registros para compreender bem isso. Ora Elvis parece descompassado, ora seu grupo vai perdendo a linha.

As faixas oficiais porém são realmente impecáveis. Isso porém não tira o prazer do ouvinte de ir percebendo bem como as coisas foram se desenvolvendo dentro dos estúdios. Um dos fatos curiosos é que Elvis preferiu gravar a maioria das canções de pé, em frente ao microfone. Mais tarde ele explicaria que assim conseguia marcar melhor o ritmo das canções, pois com as pernas livres poderia fazer sua própria marcação rítmica. Gostaria de destacar a excelente versão mais rápida de “Big Boots” que apesar de ser perfeita ficou fora do álbum oficial. Os produtores preferiram a versão em ritmo de canção de ninar o que sempre achei um equivoco, pois a “Big Boots” rápida tinha até mesmo potencial de virar um single se a RCA assim quisesse. Em termos de direção de arte não gostei da capa que foi remodelada, com um terrível coração brega ao lado de Elvis. Fiquei particularmente chateado pois a capa original de “G.I. Blues” sempre foi considerada das mais bonitas de Elvis em sua fase Hollywood. Apesar de tudo esse é certamente o CD indicado para os que gostam dessa trilha sonora. Para os amantes do vinil outra boa notícia: o título também foi lançado nesse formato. Quer algo melhor? Então é isso. Ouvir Elvis no estúdio tentando chegar no take certo é sempre um prazer renovado.

CD-1: Original album and outtakes: Tonight's Is So Right For Love / What's She Really Like / Frankfort Special / Wooden Heart / G. I. Blues / Pocketful Of Rainbows / Shoppin' Around / Big Boots / Didja' Ever / Blue Suede Shoes / Doin' The Best I Can / Tonight's All Right For Love  / Shoppin' Around  (11)  / Frankfort Special  (13)  / Big Boots (7)  / Pocketful Of Rainbows (12) / Big Boots (2)  / Tonight Is So Right For Love (4) / Tonight Is So Right For Love (1, 2)  / What's She Really Like (1, 2, 3, 4, 5) / Frankfort Special (1, 2)  / Wooden Heart (1)  / G. I. Blues (1)  / Pocketful Of Rainbows (1, 2)  / Shoppin' Around (1)  / Big Boots (1, 2) / Big Boots  (1) / Didja' Ever (1)  / Tonight's All Right For Love (1) / Doin' The Best I Can (1, 2, 3) /

CD-2: Outtakes - April Sessions: Pocketful Of Rainbows (3) / Shoppin' Around (4) / Shoppin' Around  (2, 3, 4) / Shoppin' Around (5) /  Doin' The Best I Can (4, 5, 6, 7) / Doin' The Best I Can (8, 9) /  G. I. Blues (2, 3, 4) / G. I. Blues (5) / Tonight Is So Right For Love (3) / Tonight Is So Right For Love (4) / Tonight Is So Right For Love (5, 6, 7) / Frankfort Special (3, 4, 5, 6, 7) / Frankfort Special (8) / Big Boots (3) / Big Boots (4) / Big Boots (2, 3) / What's She Really Like (6, 7) / What's She Really Like (8, 9, 10, 11) / What's She Really Like (12, 13) / Pocketful Of Rainbows (4, 5, 6, 7) / Pocketful Of Rainbows (8) / Pocketful Of Rainbows  (9) / Pocketful Of Rainbows (10) / Wooden Heart (2, 3, 4)

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2005

Elvis Presley - Discografia Americana - G.I. Blues

Esse álbum, esse LP, foi o mais vendido de Elvis no ano de 1960. Nesse mesmo ano, como todos sabemos, Elvis gravaria três álbuns. O primeiro foi "Elvis is Back!", excelente trabalho de ecletismo musical por parte de Elvis e banda que o acompanhou no estúdio. O segundo foi justamente essa trilha sonora do filme "Saudades de um Pracinha" e o terceiro e último álbum do ano foi o trabalho gospel, composto apenas de músicas religiosas, intitulado "His Hand in Mine". Ele ainda estava arrasado pela morte da mãe e decidiu gravar esse disco em sua homenagem.

Temos que reconhecer que "G.I. Blues" vendeu muito por causa da força promocional de Hollywood. Ao longo das décadas que viriam esse disco da RCA Victor iria ser relançado inúmeras vezes, cada edição trazendo um pequeno detalhe de capa ou selo que o diferenciava das demais. Por anos e anos o LP de vinil ficou em catálogo nos Estados Unidos e na Europa onde ficou conhecido como "Cafe Europa" por causa do título que o filme recebeu em algumas nações do velho continente.

Um desses pequenos detalhes que valorizam bastante um disco como esse no mundo dos colecionadores é um pequeno adesivo que saiu em algumas cópias promovendo a música "Wooden Heart". Esse adesivo foi colado nas capas das cópias para chamar a atenção dos consumidores. Esse adesivo vermelho, em forma de coração, se for autêntico, aumenta e muito o valor de cada disco, porém é bom ter cuidado com falsificações, que rodam a dezenas e dezenas pela internet.

Outro aspecto digno de nota desse álbum é que em seu lançamento original não houve singles extraídos de seu repertório. Ao longo dos anos a RCA Victor sempre procurava lançar compactos das trilhas sonoras, tanto para divulgar o álbum em si, como também para promover os filmes. Com essa trilha sonora isso não aconteceu. Só após alguns anos é que a música "Wooden Heart", considerada o grande hit do disco, foi lançada em dois singles diferentes: Blue Christmas / Wooden Heart (1964) e Puppet on the String / Wooden Heart (1965). Como se pode perceber ela virou lado B em ambos os casos. Tudo para promover os compactos na Europa, onde essa faixa acabaria se tornando um dos grandes sucessos comerciais da carreira de Elvis Presley.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Elvis is Back! - Discografia Americana

Elvis Is Back! (1960)
Esse bom disco, como todos sabemos, foi o primeiro LP lançado por Elvis depois que ele deixou o serviço militar na Alemanha. O título "Elvis is Back! (Elvis está de volta!, em português) era bem auto explicativo. A versão original americana do disco de 1960 tinha capa dupla e foto invertida na contracapa. Um furinho na capa principal indicava que o fã de Elvis poderia usar a capa do álbum como poster para colocar na parede do quarto. E é de se imaginar quem iria fazer uma coisa dessas!

Dentro da capa dupla do vinil havia uma bem cuidada galeria de fotos de Elvis tiradas na Alemanha, com uniforme militar e tudo mais. O exército dos Estados Unidos certamente adorou essa publicidade praticamente grátis nesse material. O Coronel Parker também estava investindo pesado na nova imagem de Elvis Presley, que agora surgia como bom cidadão americano, cumpridor de seus deveres.

Um fato curioso sobre esse álbum é que em 1960, ano de lançamento original do disco, nenhum single foi extraído de seu repertório. Porém nos anos seguintes a RCA Victor começou a pincelar faixas desse disco para o lançamento de singles tardios, em um tipo de marketing complicado de entender. Por exemplo, o single "Such A Night / Never Ending" foi lançado em 1964. Esse compacto simples lançado em julho de 1964 conseguiu alcançar a décima sexta posição entre os mais vendidos da Billboard. Foi promovido pela RCA como um "lançamento especial das férias de verão". "Never Ending" era uma faixa inédita dentro da discografia de Elvis até aquele momento.
 
E pensou que iria parar por aí? Que nada, um ano depois a mesma RCA Victor repetiu a dose com o single "Easy Question / It Feels So Right", outro single que conseguiu se sair muito bem nas paradas, apesar de só trazer reprises. Chegou ao décimo primeiro lugar entre os mais vendidos da Billboard, uma ótima colocação para material que já havia sido lançado antes no mercado. "Easy Question" era do disco "Pot Luck" de 1962.

Por fim, a RCA ainda utilizaria duas faixas do "Elvis is Back!" na trilha sonora do filme "Tickle Me". As músicas "Dirty, Dirty Feeling" e  "It Feels So Right" foram usadas nesse filme que não contava com uma trilha sonora própria. Ao invés de Elvis entrar em estúdio para gravar novas músicas, como aconteceu em todos os seus filmes, o Coronel Parker achou que isso não tinha importância, reaproveitando uma série de músicas de Elvis de outros discos para colocar como trilha sonora dessa produção. Ainda bem que isso só aconteceu nesse filme, porque imagine uma década lançando trilhas sonoras com reprises. Seria mesmo o fim da picada.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2005

Elvis Presley - Elvis in a Private Moment

Durante os anos em que Elvis Presley passou na Alemanha, prestando o serviço militar, ele nada gravou de forma oficial, profissional, para sua gravadora RCA Victor. Mas será que ele não gravou nada de maneira amadora, caseira? Esse CD lançado pelo selo Follow That Dream é interessante porque traz uma série de registros amadores de Elvis, cantando e tocando enquanto estava na Alemanha. Quando esse CD foi lançado muitos reclamaram de sua qualidade sonora sofrível, porém essa é uma crítica injusta e isso por causa do contexto histórico em que essas faixas foram gravadas.

A pobre qualidade técnica das gravações – algumas realmente praticamente inaudíveis - é fruto de suas origens. Isso era de se esperar desse tipo de gravação, pois elas foram feitas pelo próprio Elvis em um pequeno gravador de mão, na presença de amigos em ocasiões festivas em sua casa, onde obviamente ele não estava muito interessado em qualidade sonora ou qualquer coisa semelhante. 

São três as origens dessas gravações. A primeira leva traz várias canções gravadas informalmente por Elvis na Alemanha enquanto estava servindo o exército. Essas são as piores faixas em termos de qualidade sonora. Porém é de se destacar sua importância histórica uma vez que no período em que esteve na Alemanha Elvis nada gravou de forma profissional. Assim ele surge em casa, cantando de forma bem relaxada, sem compromisso. Curiosamente algumas das músicas iriam aparecer em seus discos oficiais em gravações na RCA, algumas muito tempo depois, já na década de 1970.

O CD é completado com mais gravações caseiras, dessa vez registradas já na década de 1960. Algumas das músicas foram gravadas por Elvis na sua casa em Malibu, famosa estação de verão para astros de Hollywood. Aqui a melhora de qualidade sonora já é sensível, embora nada memorável. Finalizando o repertório temos o último lote de canções gravadas em 1966 quando Elvis já estava em uma situação particularmente complicada da sua carreira, se limitando a gravar músicas para suas trilhas sonoras, algumas bem fracas.

É fato conhecido que seus discos tiveram uma queda acentuada de qualidade principalmente após 1965. Fico até sensibilizado ouvindo esses últimos registros pois o que parece acontecer é quase um desabafo por parte do cantor. Já que ele não conseguia mais gravar músicas de qualidade nos estúdios, terminava por fazer gravações com excelentes canções em sua casa. Era seu gosto pessoal, ele gostava daquelas músicas, só não encontrava espaço para gravá-las em seus discos na época. Em suma é isso. Certamente você não encontrará nesse CD do selo FTD nada de bom em termos de qualidade sonora, porém em se tratando de história o título está simplesmente recheado de boas surpresas.

FTD Elvis in a Private Moment
Loving You / Danny Boy /I'm Beginning To Forget You / Beyond The Reef / Sweet Leilani / If I Loved You / Lawdy Miss Clawdy / I Wonder, I Wonder, I Wonder / He / When The Swallows Come Back To Capistrano / She Wears My Ring / Sweet Lealani / Moonlight Sonata / Blue Hawaii / Hide Thou Me / Oh How I Love Jesus / Fools Rush In / Its A Sin To Tell A Lie / What Now My Love / Blowin' In The Wind / 500 Miles / I, John / I'll Take You Home Again, Kathleen I Will Be True / Apron Strings / It's Been So Long Darling / I'll Take You Home Again, Kathleen There's No Tomorrow / The Titles Will Tell.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - A Big Hunk O' Love / My Wish Came True

Finalmente, depois de três tentativas frustradas, Elvis Presley finalmente conseguiu chegar ao primeiro lugar da Billboard com seu novo single trazendo as músicas "A Big Hunk O' Love" no lado A e "My Wish Came True" no lado B. A canção principal havia sido gravada um ano antes em Nashville, só chegando ao mercado em junho de 1959. O sucesso de “A Big Hunk O´Love” vinha para fortalecer ainda mais o nome de Elvis dentro do mercado. Ele estava há pouco menos de um ano de dar baixa no exército e sua volta era considerada uma última esperança para os roqueiros dos anos 50.

Uma série incrível de eventos havia se abatido sobre os pioneiros do rock e agora Elvis parecia ser a última tábua de salvação do gênero. A verdade porém é que a própria música americana havia mudado. O que predominava nas paradas agora eram canções juvenis, falando de amores adolescentes, cantadas por ídolos que não tinham mais a postura de rebeldes como os roqueiros de meados da década de 1950. De certa forma Elvis iria embarcar nessa onda após seu retorno das forças armadas, porém esse single, gravado antes dele ir para a Alemanha, mantinha a chama acessa do verdadeiro Rock americano.

Enquanto Elvis estava no exército uma leva de ídolos adolescentes foi surgindo e dominando as paradas. Cantores e compositores como Neil Sedaka, Paul Anka, Frankie Avalon, Fabian, Pat Boone e Ricky Nelson eram os novos ídolos da juventude enquanto os roqueiros pioneiros iam sumindo do mapa. Eu gosto de chamar essa geração de "movimento algodão doce", porque de certa maneira eles se encaixavam bem nessa descrição. Os novos cantores juvenis eram bem diferentes de Elvis e dos roqueiros pioneiros. Todos surgiam impecavelmente bem vestidos, cabelos penteados, a imagem do genro que toda mãe de boa família da América queria ter. Não havia um pingo de rebeldia nesses novos artistas da música.

Enquanto eles subiam nas paradas, o pioneiros do rock afundavam cada vez mais. Jerry Lee Lewis escandalizou a sociedade ao se casar com uma prima de apenas 13 anos, que para piorar parecia ainda mais jovem! Chuck Berry foi preso por supostamente ter enviado uma prostituta branca além da fronteira do estado (o que configuraria tráfico de pessoas), Buddy Holly, Ritchie Valens e Big Booper tinham morrido em um acidente de avião sendo seus corpos encontrados em um milharal nevado, Johnny Cash abraçara a country music de forma definitiva e finalmente Little Richard havia decidido abandonar tudo para se tornar apenas um pastor evangélico.

Para ser bem sincero esse rock“A Big Hunk O' Love” só chegou ao topo da parada por causa da força do nome de Elvis. Essa era uma canção completamente diferente do que estava fazendo sucesso na época. Foi de fato o último rock genuíno a liderar a Billboard até a chegada de uma nova leva de roqueiros nos anos 60. O Pop romântico havia ocupado o espaço do rock pioneiro. O curioso é que Elvis ao sair do exército também seguiria de certa forma também por essa tendência. Mas essa é uma outra história que contaremos depois...

Pablo Aluísio.