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segunda-feira, 18 de julho de 2011

Elvis Presley - Jailhouse Rock

A imagem de um jovem Elvis Presley vestido com roupa de prisioneiro, dançando e cantando dentro de uma cadeia, foi considerada pelos conservadores americanos, na década de 1950, como uma das coisas mais ultrajantes que a cultura pop poderia produzir. Pastores evangélicos disseram em cultos que Elvis iria levar toda a juventude para a perdição eterna. Alguns foram ainda mais longe, afirmando que Elvis era um enviado de Satã para corroer os valores mais tradicionais da sociedade. Foi mesmo algo chocante para os padrões da época. Afinal, o que ele queria passar com aquilo tudo? Que se tornar um marginal, um preso, era algo positivo para as jovens que o seguiam?

Tudo bobagem. "Jailhouse Rock", que no Brasil recebeu o título de "O Prisioneiro do Rock", nada mais era do que mais um musical da Metro, o estúdio de Hollywood que mais produziu filmes musicais clássicos na história do cinema americano. Com tanto Know-how de seus técnicos e membros na equipe de filmagem não é de se admirar que esse tenha sido mesmo um dos melhores filmes da carreira de Elvis Presley. Uma simbiose perfeita entre a velha Hollywood, dos tempos de Fred Astaire, com essa nova geração de jovens roqueiros que surgia. Se o Rock era a nova moda entre a juventude, então a Metro iria se adaptar para essa nova realidade.

Para Elvis o filme surgia como uma chance dele realizar seu grande sonho, que era se tornar um ator ao estilo de James Dean e Marlon Brando, seus grandes ídolos no cinema. Só que Elvis era ainda muito jovem e inexperiente para atuar nesse sentido. A Metro também não queria produzir um drama, mas sim um musical mesmo, com boas cenas de coreografia, com muita dança, ritmo e música. Embora o filme anterior de Elvis, "Loving You", tivesse sido filmado em cores, a Metro decidiu que esse novo musical seria todo realizado em fotografia preto e branco. E para realçar ainda mais isso mandou que Elvis pintasse seu cabelo na cor mais escura que pudesse encontrar. O preto forte iria agradar tanto Elvis a partir daí que ele decidiu adotar essa cor do cabelo para sempre.

Um dos pontos altos do filme surgiu exatamente na cena em que ele dançava com os demais prisioneiros. Para muitos essa sequencia acabou se tornando o primeiro clip da história da música, uma vez que a cena funcionava perfeitamente bem fora do contexto do filme. Claro, na época, a cena se tornou antológica, caindo no gosto dos jovens de uma maneira que ninguém poderia esperar. Fruto de muito empenho, ensaio e trabalho da equipe de coreografia do estúdio. Não é de se admirar que esse momento acabou se tornando um dos mais lembrados da carreira de Elvis no cinema, a tal ponto que entrou para sempre na história da cultura pop.

"Treat Me Nice" pode ser considerada a melhor canção dessa trilha sonora, logo após "Jailhouse Rock". O tema foi composto pela dupla Leiber e Stoller, grandes nomes do surgimento do rock. Curiosamente uma série de versões foram gravadas. Uma mais aprimorada foi gravada em estúdio para ser lançado no compacto duplo que traria as músicas do filme. Essa mesma versão também foi aproveitada no single. Já outra, bem mais simples, foi gravada para ser usada na cena do filme, quando Elvis a interpreta á beira da piscina.

Particularmente prefiro a versão do filme. Aliás ela só estaria à disposição dos fãs em disco muitos anos depois, em vinil, No meu caso tive acesso através do LP "The Great Performances". Infelizmente, como bem se sabe, Jerry Leiber e Mike Stoller seriam afastados da carreira de Elvis pelo Coronel Tom Parker. Eles escreveram inúmeros sucessos comerciais para o cantor, mas nem isso convenceu Tom Parker. Ele achava que a dupla cobrava alto demais pelas músicas. Veja que visão medíocre do empresário. É óbvio que cobravam acima da média, já que eram ótimos compositores. O velho Coronel Parker porém pensava como puro comércio, sem se importar com o aspecto artístico da situação. Lamentável.

E como grande parte da trilha sonora de "Jailhouse Rock" foi mesmo composta por Leiber e Stoller, outra faixa gravada feita por eles foi "I Want To Be Free". Essa nunca chegou a fazer sucesso. Como o próprio Leiber explicaria anos depois essa música era "um tema de prisão", ou seja, imaginemos o sujeito ali preso vendo a janela onde avista um pássaro, com toda a sua liberdade para voar para onde quiser. É o próprio conceito de ser livre. Para alguém que estava preso não poderia haver alegoria melhor.

Esse tema inclusive me lembra um filme clássico chamado "O Homem de Alcatraz". Nesse excelente filme um prisioneiro de Alcatraz ajudava um passarinho ferido que havia caído na janela de sua cela. Isso acabaria despertando nele o desejo de aprender a ciência que estudava esses animais. Depois de longos anos lendo e estudando em sua prisão ele acabaria se tornando um dos maiores especialistas do tema nos Estados Unidos. História real, que realmente aconteceu. O nome dele era Robert Franklin Stroud e foi interpretado no cinema pelo grande Burt Lancaster. Claro que "O Prisioneiro do Rock" não tinha toda essa densidade dramática, mas de qualquer forma vale a analogia cinematográfica. Afinal ambos os filmes, cada um ao seu modo, tinha como protagonista um prisioneiro.

Essa trilha sonora de Elvis contou com poucas canções. A RCA Victor optou pelo lançamento de um compacto duplo (EP) ao invés de um álbum completo (LP). É um desses erros que ficam para a história. Curiosamente, apesar de haver poucas faixas para gravar, Elvis levou três sessões de gravação para finalizar toda a trilha. Em termos de Elvis, que era conhecido por gravar um álbum inteiro em apenas uma ou duas sessões, foi realmente muito. A primeira sessão foi realizada no dia 30 de abril de 1957, em West Hollywood. O produtor dessa famosa sessão foi Jeffrey Alexander, acompanhado do engenheiro de som Thorne Nogar.

Nesse dia Elvis gravou diferentes versões de "Jailhouse Rock" para ser usada no filme e no vinil, no disco oficial. Nessa mesma ocasião ele ainda trabalhou nas primeiras versões de "Treat Me Nice". A intenção era gravar logo as duas músicas que iriam fazer parte do primeiro single do filme. Obviamente foi um dos discos mais vendidos de toda a carreira de Elvis. Um marco de sucesso na indústria fonográfica da época. Nunca se vira tantos pedidos antecipados de um artista na história. A RCA colocou suas fábricas empenhadas em produzir as cópias em ritmo acelerado.E quando chegou no mercado, em poucos dias, ultrapassou a marca de um milhão de cópias vendidas. Um sucesso absoluto.

Para finalizar esse dia Elvis se empenhou em terminar as diferentes versões de uma bela balada chamada "Young and Beautiful". É interessante salientar que esse tipo de coisa, de gravar versões diferentes para uma mesma música, sendo algumas usadas no filme e outras nos discos, iria ser abandonada por Elvis e banda. Dava muito trabaho. Era melhor gravar apenas uma versão definitiva e isso já estava de bom tamanho. Nas cenas dos filmes Elvis iria apenas fazer playback. De qualquer modo a versão oficial, a que foi lançada em vinil, era uma das mais bonitas músicas românticas dessa fase da carreira de Elvis.

E as diferentes versões também foram renomeadas pelo produtor da sessão. Por exemplo,  "Young and Beautiful" foi chamada de "versão oficial", "solo version" e "Florita Club version". O mesmo aconteceu com as demais. O produtor Jeffrey Alexander era considerado um sujeito bem obcecado por organização. Por fim uma dúvida interessante: quem tocou guitarra em "Young and Beautiful"? O próprio Scotty Moore anos depois iria dizer que não havia sido ele, que ele não tinha tocado nessa faixa. Seria a única que ele não tocaria nessa trilha sonora. O único outro músico creditado nas sessões tocando guitarra e violão nessa sessão de gravação foi Elvis. Teria sido ele o guitarrista dessa gravação? Em minha opinião, sim. Tanto que anos depois Elvis voltaria a tocar guitarra numa versão improvisada (e bonita) dessa mesma música nas sessões de ensaio de 1972 para o filme "Elvis On Tour".

Raramente Elvis Presley gravava duas vezes uma mesma música em estúdio. Isso aconteceu poucas vezes em sua longa discografia. Posso me lembrar imediatamente de "Blue Suede Shoes", que foi gravada em 1956 para seu primeiro álbum na RCA Victor e em 1960 numa versão mais acústica para o filme "G.I.Blues". Outro caso que me vem na mente agora foi a da canção "Love Letters", gravada inicialmente na segunda metade da década de 1960 e depois regravada na década seguinte, dando origem inclusive ao título de um de seus álbuns oficiais. "You Don't Know Me" também ganhou duas versões de estúdio. Uma para o filme "Clambake" e outra para ser lançada em single. Nesse caso Elvis justificou dizendo que gostava bastante da música e que não havia ficado satisfeito com sua versão para o filme de Hollywood.

Então chegamos no estranho caso de "Don't Leave Me Now". Essa canção surgiu pela segunda vez na discografia de Elvis no EP que trazia as músicas do filme "Jailhouse Rock". Os fãs da época estranharam já que essa mesma balada também havia sido lançada no álbum "Loving You", nesse mesmo ano. O que aconteceu? Composta pela dupla Aaron Schroeder e Ben Weisman, essa música ganhou duas versões de estúdio em um curto período de tempo. Falha da RCA Victor, esquecimento por parte de Elvis ou uma escolha do próprio cantor que preferiu melhorar a música? As cartas ficam na mesa, sem uma resposta definitiva.

Outra música composta pelos ótimos Jerry Leiber e Mike Stoller para esse filme da MGM foi a conhecida "(You're So Square) Baby I Don't Care". A versão final foi completada no dia 3 de maio de 1957. Durante as filmagens aconteceu um fato engraçado. O guitarrista Scotty Moore se esqueceu que o filme tinha que seguir uma continuidade. Assim ele tirou e colocou os óculos entre as tomadas de cena. Dois takes básicos de filmagens foram produzidos. Um mais de perto, mostrando Elvis e banda em primeiro plano. Outro mais distante, do outro lado da piscina. No primeiro Scotty surge sem óculos escuros. No segundo ele está com eles. Na montagem final as duas cenas foram editadas em conjunto, o que criou um estranho efeito em quem assistia ao filme. Era o guitarrista que fazia seus óculos desaparecerem em um estalar de dedos! No fundo um erro de continuidade mesmo.

No final de tudo a RCA Victor decidiu que "Jailhouse Rock" não ganharia um álbum completo em LP, como havia acontecido com "Loving You". Ao invés de gravar mais cinco faixas para o lado B, algo que nem iria dar muito trabalho para Elvis e banda, a gravadora decidiu que iria colocar no mercado um mero EP, mais conhecido no Brasil como compacto duplo. Assim havia feito com "Love Me Tender" e assim fariam com "Jailhouse Rock". Olhando para o passado esse foi outro erro cruacial na discografia de Elvis. Trilhas sonoras tão importantes, com músicas tão marcantes, precisavam de álbuns completos, com toda a riqueza de detalhes. Lançar em um formato de vinil considerado menor, de segundo escalão, era uma decisão completamente equivocada.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 2 de novembro de 2005

Elvis Presley - FTD The Something For Everybody Sessions

Sou suspeito para escrever sobre esse CD pois sempre adorei esse álbum. Aliás essa fase como um todo é muito boa, com Elvis Presley caprichando em interpretações suaves e ternas de lindas canções românticas. "Something For Everybody" em edição especial já havia sido lançado antes, mas isso não tira o interesse nesse título. Os fãs do velho e bom vinil também não terão do que reclamar uma vez que no mercado americano, europeu e japonês também já foi anunciado o lançamento do disco no formato LP - para matar as saudades dos colecionadores saudosistas. A se lamentar apenas o fato que no Brasil não há nada programado nesse sentido. A nota que diferencia esse CD / LP duplo do anterior é que aqui não teremos as versões oficiais do disco de 1961, mas apenas os takes alternativos. Não deixa de ser uma experiência muito gratificante acompanhar Elvis em estúdio tentando chegar no take ideal, pena que muitas das versões já são velhas conhecidas dos colecionadores. Mesmo assim, pela bonita direção de arte, vale a pena ter mais esse item em sua coleção. Data de lançamento: Novembro de 2014.

FTD The Something For Everybody Sessions (2014) - 1.There's Always Me (take 2) 2.Give Me The Right (takes 3, 2) 3.It's A Sin (takes 1, 2) 4.Sentimental Me (take 1) 5.Starting Today (take 1) 6.Anything That's Part Of You (take 2) 7.Gently (takes 1, 2) Side B 1.I'm Coming Home (take 2) 2.In Your Arms (take 1) 3.Judy (take 4) 4.I Want You With Me (take 1) 5.I Slipped, I Stumbled, I Fell (low key) 6.Little Sister (takes 7, 8, 9) 7.His Latest Flame (takes 3, 4) 8.I Slipped, I Stumbled, I Fell (take 11) Side C 1.I Feel So Bad (take 1) 2.I'm Coming Home (takes 1, 3) 3.Gently (take 3) 4.There's Always Me (take 4) 5.Judy (takes 2, 3) 6.Good Luck Charm (take 1) 7.Put The Blame On Me (master) Side D 1.Little Sister (take 6) 2.His Latest Flame (takes 10, 11, 12) 3.Anything That's Part Of You (takes 4, 5) 4.There's Always Me (takes 5, 6, 7, 8, 9) 5.Judy (takes 5, 6, 7) 6.I'm Coming Home (takes 5, 4).

Pablo Aluísio.

terça-feira, 21 de junho de 2005

Elvis Presley - Temporada em Las Vegas - Fevereiro de 1970

A segunda temporada de Elvis Presley em Las Vegas foi realizada logo no começo do ano de 1970. A primeira foi um furacão dentro da mídia, também pudera, Elvis estava há anos sem pisar em um palco para um show profissional. Durante anos ele se concentrou em seus filmes e suas respectivas trilhas sonoras. Nenhuma novidade, nada relevante. Em 1969 ele retornou e isso causou uma grande comoção na imprensa mundial.

Já nessa segunda temporada as coisas foram mais amenas. A novidade havia passado e por essa razão a cobertura da imprensa não foi tão presente. Algumas revistas especializadas em entretenimento como Variety publicaram notas discretas. Na Billboard foi publicada uma matéria muito boa, bem respeitosa sobre os shows de Elvis que estavam sendo realizados em Las Vegas. Seus macacões brancos, de peça única, chamaram bem a atenção. Era algo diferente. Fora isso nada mais foi muito explorado pela mídia da época.

Com um single novos nas lojas, "The Wonder Of You", Elvis procurou trazer várias canções de sucessos de outros artistas para seu repertório, embora mantivesse de certo modo a espinha dorsal dos concertos que tinha usado no ano anterior. Quem foi ao International hotel porém foi presenteado com as primeiras performances de Elvis em canções como "Proud Mary", "Walk a Mile In My Shoes", "Sweet Caroline", "Let It Be Me" e "Polk Salad Annie" que era tão sulista que precisava ser explicada pelo próprio Elvis em sua introdução, caso contrário ninguém entenderia nada de sua letra.

Embora morna a repercussão na imprensa, comercialmente a temporada foi um grande sucesso. Estima-se que toda a temporada teve um público estimado em 100 mil pessoas, com renda de um milhão e meio de dólares. Para os padrões atuais isso pode até parecer pouco, mas temos que entender que as instalações do hotel não eram tão amplas a ponto de receber multidões, como se Elvis estivesse se apresentando em um estádio de futebol ou algo parecido.

O L.A. Times chamou a atenção em artigo para a faixa etária do público que assistiu Elvis em Las Vegas naquela temporada. Embora existissem jovens na plateia o fato é que a maioria do público presente tinha mais de 40 anos de idade, já que Las Vegas não era um point jovem naquele tempo, pelo contrário, era mais um lugar para casais de meia idade celebrarem seus aniversários de casamento. Nessa mesma reportagem o jornalista do Times chamou a atenção para o fato de que a presença de Elvis no palco criava uma grande comoção, por causa do status inigualável de sua estrela como artista e ídolo. Em algumas apresentações, salientou o texto, Elvis tinha que esperar por minutos para que as palmas cessassem e ele pudesse finalmente cantar.

Pablo Aluísio.

sábado, 19 de fevereiro de 2005

Elvis Presley - Surrender / Lonely Man

O primeiro single de Elvis Presley em 1961 surgiu nas lojas com as músicas "Surrender" (uma versão do clássico italiano "Torna A Surriento") e "Lonely Man". Era simples de entender que na verdade "Surrender" era uma tentativa de reviver o sucesso de "It´s Now or Never" que havia vendido milhões de cópias ao redor do mundo no ano anterior. Essa era uma regra não escrita dentro da carreira de Elvis. Se algo deu certo, a mesma fórmula seria repetida em futuros lançamentos. Algumas vezes dava certo (como aqui), mas em outras levavam à saturação (como aconteceu com suas trilhas sonoras de filmes nos anos 60).

De qualquer forma o single vendeu bem e vendeu bastante. Não repetiu o sucesso comercial de "It´s Now or Never", mas foi sem dúvida um compacto simples de sucesso. Os imigrantes (e filhos de imigrantes) italianos nos Estados Unidos bateram palmas para a versão de Elvis. Todos gostaram e a música começou a tocar nas cantinas italianas por todo o país, ao lado dos discos de Dean Martin e Mario Lanza. No lado B a RCA Victor encaixou uma bela balada, "Lonely Man", uma canção romântica vinda de Hollywood que sempre achei bastante subestimada. Bonita, acima de tudo.

Elvis Presley - Surrender
(Estados Unidos, 1961, 7", 45 RPM, Single)
Lado A:  
Surrender (Doc Pomus, De Curtis, Mort Shuman)
Lado B:
Lonely Man (Bennie Benjamin, Sol Marcus)

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2005

Elvis Presley - Flaming Star (1960)

Muita gente se decepcionou com a trilha sonora desse filme. Os fãs queriam uma trilha sonora completa, aos moldes de "Saudades de um Pracinha", um álbum completo, com dez ou doze faixas para colecionar. Só que ao invés disso a RCA apresentou um minguado compacto duplo com poucas canções. Foi decepcionante. Esse tipo de coisa iria levantar a atenção do Coronel Tom Parker que a partir daí iria sempre pressionar a RCA Victor a lançar discos inteiros de trilhas de seus filmes. Acontece que a trilha sonora de "Estrela de Fogo" só contava com apenas 5 músicas, sendo que uma delas nada mais era uma versão diferente, com outra letra, pouco modificada da música tema. Assim, se formos pensar bem, só havia mesmo 4 canções gravadas em estúdio para esse filme. Não havia material nem mesmo para completar um dos lados do LP, caso ele fosse programado realmente.

Depois de "G.I. Blues" Elvis colocou na cabeça que queria ser um grande ator de cinema, ao estilo Marlon Brando e James Dean, seus grandes ídolos. E músicas não faziam parte desse menu. Elvis só esqueceu que seu grande talento pessoal era para a música e não para a arte de atuar, algo que exigia dele outros talentos, completamente diferentes de ter uma bela voz e saber cantar bem. Como o tempo iria provar ele estava errado nesse tipo de pensamento. "Estrela de Fogo" certamente foi um dos bons filmes de sua carreira, mas não fez muito sucesso. Nada comparado com o hit de "Saudades de um Pracinha", esse sim um projeto que valorizava seu lado superstar, de cantor de sucesso. De qualquer maneira uma coisa era certa, essa trilha sonora de "Flaming Star" era apenas uma trilha sonora incidental, praticamente. O que foi uma tremenda decepção para quem queria comprar os discos de Elvis naquela época.

Uma enorme bagunça. Assim poderia definir tudo o que fizeram com a trilha sonora do filme “Flaming Star”. Para inicio de conversa mais da metade das canções do filme não foi lançada na época. Apenas “Flaming Star” e “Summer Kisses, Winter Tears” saíram regularmente em um compacto duplo chamado “Elvis by Request”, o resto das músicas foram esquecidas, arquivadas e ficaram inéditas por anos a fio. E afinal qual teria sido a melhor decisão? Ora, não é preciso ir muito longe para perceber que a RCA deveria ter lançado um EP (compacto duplo) com as cinco canções – algo que faria depois em trilhas sonoras com “Kid Galahad” e “Follow That Dream”. Isso seria em um mundo perfeito mas nada disso aconteceu. Elvis gravou as canções do filme (ele não queria pois em seu entender precisava apenas atuar bem no filme) e a RCA praticamente nada fez com elas no mercado. Provavelmente “Flaming Star” tenha sido a trilha sonora de Elvis Presley mais negligenciada de sua carreira. As músicas que chegaram ao mercado não fizeram sucesso e as que foram arquivadas ficaram no limbo por anos, esquecidas completamente.
   
Fazendo uma rápida retrospectiva: “Britches” só chegou ao mercado fonográfico muitos anos depois no álbum “A Legendary Performer, Volume 3”. “A Cane and a High Starched Collar”não teve melhor sorte. Apesar de aparecer no filme e ter um bom embalo também nunca foi lançada na época, só sendo colocada timidamente no disco “A Legendary Performer, Volume 2”. Por fim a estranha e desnecessária "Black Star" arranjou um espaço no LP “Collectors Gold”. Pra falar a verdade a trilha sonora só foi reunida de fato pela RCA na série Double Features, que nos anos 90 conseguiu trazer alguma organização para a extremamente bagunçada discografia de Elvis nos anos 60. Nessa edição além da trilha completa de “Flaming Star”, o fã de Elvis ainda teria acesso às trilhas de “Wild In The Country” e “Follow That Dream”. Gosto muito dos CDs Double Features, pois além do bom gosto (com excelentes encartes e direção de arte bonita), o fã ainda tinha acesso a todas as informações como datas de gravação, autores, etc. Já para quem esteja a fim de realmente radicalizar em termos de “Flaming Star” eu recomendo o bootleg “Master and session - Flaming Star” que traz as canções oficiais e muito mais como takes e versões alternativas. Demorou décadas mas “Flaming Star” finalmente chegou ao fã de Elvis como era esperado.

As sessões de gravação da trilha sonora do filme "Estrela de Fogo" (Flaming Star, em seu título original) se deram nos estúdios Radio Recorders, em Hollywood, na Califórnia. A sessão foi coordenada e produzida pelo produtor Urban Thielmann, acompanhado do engenheiro de som Thorne Nogar. Tudo foi praticamente gravado em poucas horas em agosto de 1960. Elvis já entrava no estúdio com as músicas decoradas, uma vez que a RCA enviava para ele fitas demos com as canções gravadas por cantores da própria gravadora. Curiosamente a primeira música gravada foi "Black Star". Aliás o filme de faroeste iria ter esse título, mas depois os executivos e produtores da 20th Century Fox pensaram melhor e entenderam que o uso do termo "Black" poderia causar alguma polêmica. Não podemos nos esquecer que a questão racial estava na ordem no dia naqueles tempos. A luta pelos direitos civis da população negra dos Estados Unidos ocupavam todas as manchetes de jornais. E para potencializar ainda mais algum tipo de problema nessa questão o personagem de Elvis no filme era um mestiço. Então para não criar problemas a Fox resolveu mudar o nome do filme para "Flaming Star".

E com essa decisão Elvis precisou voltar ao estúdio para gravar outra faixa título "Flaming Star" que tinha praticamente o mesmo arranjo, a mesma letra, só mudando os termos. Saiu o "Black" e entrou o "Flaming". A versão "Black Star" ficou anos arquivada pela RCA e todo o trabalho que Elvis teve para gravá-la (foram providenciadas até três versões dela) ficaram perdidos. Outra música que foi gravada para fazer parte dos trabalhos desse filme foi "Summer Kisses, Winter Tears". A grande maioria dos fãs de Elvis, principalmente aqui no Brasil, só veio a conhecer essa gravação quando ela foi lançada no álbum "Elvis for Everyone" de 1965. Sou da opinião de que a RCA Victor deveria ter produzido um álbum desse filme. Uma trilha sonora em LP. Bastava gravar mais cinco músicas para o lado B, o que não seria nada complicado para Elvis na época e pronto, havia um disco de verdade para acomodar todas as faixas desse filme. Infelizmente não foi isso que decidiram e a maioria das músicas de "Flaming Star" simplesmente se perderam e foram desperdiçadas dentro de sua discografia.

Apesar dos esforços de Elvis, que não queria aparecer cantando de jeito nenhum nesse filme "Estrela de Fogo", o estúdio Fox conseguiu convencer ele a cantar pelo menos uma canção. A escolhida foi a baladinha country "A Cane and a High Starched Collar". Eu gosto dessa música, apesar de ser das mais simples. Basicamente apenas um arranjo acústico, para que soasse verdadeira na cena do filme, pois era um faroeste, onde o personagem contava apenas com um violão. "Britches" era igualmente simples. Também foi cogitada para ser usada no filme, em outra cena, mas Elvis se recusou com firmeza. Ele queria que esse filme fosse apenas de atuação, não de cantoria. O resultado foi outra faixa gravada e completamente desperdiçada. Ficou anos e anos arquivada, se tornando muito rara. Se nos Estados Unidos passou em brancas nuvens, imagine no Brasil. Os fãs brasileiros nem sabiam que essa canção existia.

"Flaming Star" contou com um grupo musical bem diferente do que Elvis estava acostumado a trabalhar em estúdio. Nada de Scotty Moore e seus músicos da banda usual e tradicional que Elvis usava regularmente em seus discos e singles. Como era um western da Fox, o próprio estúdio cinematográfico escolheu a banda que iria tocar com Elvis na trilha sonora. Só músico contratado da própria companhia. E a banda era formada pelos seguintes músicos: Howard Roberts no violão, Hilmer J. "Tiny" Timbrell na guitarra (esse iria trabalhar em outras ocasiões com Elvis), Michael "Meyer" Rubin no baixo, Bernie Mattinson na bateria e no acordeão James Haskell pois eram músicas de faroeste. Da turma de Elvis mesmo só compareceu na sessão o pianista Dudley Brooks e o grupo vocal The Jordanaires, contando com os vocalistas Gordon Stoker, Hoyt Hawkins, Neal Matthews e Ray Walker. A formação clássica dos Jordanaires, como se pode perceber.

Pablo Aluísio.

domingo, 23 de janeiro de 2005

Elvis Presley - Welcome to My World (1976)

Esse álbum foi uma coletânea lançada pela RCA Victor em março de 1977. Assim quando Elvis faleceu esse era um dos discos disponíveis nas lojas o que fez com que se tornasse um sucesso de vendas, sendo premiado com o disco de ouro e platina pelo número de cópias vendidas. Uma questão de estar no momento certo, na hora em que os fãs correram às lojas para comprar tudo o que havia de Elvis em catálogo.

Dito isso é preciso saber que de maneira em geral é um disco sem maiores novidades, composto praticamente todo de reprises, com ênfase em um repertório mais country e romântico. Uma das coisas que gosto muito desse disco é sua capa. Para isso aconselho os fãs a irem atrás do vinil original pois a capa de um disco de vinil é muito mais interessante nesse ponto do vista artístico que aquelas pequenas capas de CDs. No LP original temos a oportunidade de apreciar bem o trabalho desse talentoso artista que captou Elvis muito bem em sua ilustração. Certamente é uma das capas mais bonitas da discografia de Elvis.

O disco se chamou "Welcome to My World". Essa música nunca foi gravada em estúdio por Elvis. Ela já tinha aparecido antes, como faixa inédita dentro da discografia do cantor, no disco "Aloha From Hawaii". Muitos consideraram a performance de Elvis nessa canção um dos pontos altos daquele especial de TV. Concordo com essa visão. Realmente é uma bela música, muito adequada para o momento em que Elvis vivia. Com boa letra e excelente arranjo, marcou a carreira do cantor, a ponto inclusive de ter se tornado um sucesso nas rádios. O que teria a criticar aqui é que a RCA apenas reprisou a mesma versão do "Aloha". Teria sido uma boa ideia na época sugerir que Elvis gravasse a música em estúdio. Seria assim uma novidade para os colecionadores. E isso certamente impulsionaria ainda mais as vendas.

Do cantor e compositor Kris Kristofferson temos aqui sua bela criação chamada "Help Me Make It Through the Night". É interessante saber que segundo seu próprio autor ela foi composta para ser gravada por Frank Sinatra. E tudo se baseando em uma entrevista dele, onde afirmava que atravessar a noite era o mais duro para ele naquele momento de sua vida. Usando isso de tema, Kris Kristofferson criou sua música. É bem provável que Elvis também tenha se identificado com essa letra. É sabido de todos que o cantor sofria de insônia e muitas vezes passava as noites acordado. É curioso saber que o compositor original mirou em Sinatra, mas acabou acertando mesmo em Elvis Presley.

Dando continuidade na análise do álbum "Welcome To My World" vamos tecer mais comentários sobre algumas de suas músicas. "I'm So Lonesome I Could Cry" é um clássico da música country dos Estados Unidos. Ela foi composta e gravada pela primeira vez por Hank Williams. No Brasil ele não é muito conhecido, mas em seu país natal ele é considerado um verdadeiro ícone do estilo musical. Chega a ser reverenciado até hoje pelos cantores que seguem sua linha. Elvis não ignorava a importância de Hank. Afinal ele foi um garoto ouvindo rádio em Memphis e obviamente os discos desse astro country eram os mais tocados.

Hank Williams teve uma morte trágica, morrendo no banco traseiro de seu carro. Ele estava no auge de sua glória como artista quando isso aconteceu. Até hoje sua morte segue sendo um mistério. Para muitos morreu de tanto beber. Para outros ele tinha uma doença não diagnosticada, o que o levou à morte de forma repentina. De uma maneira ou outra Elvis não deixaria esse nome passar em branco na sua discografia. A versão que temos aqui nesse álbum foi a mesma que foi lançada no disco duplo "Aloha From Hawaii", o que não deixou de ser um desapontamento para os colecionadores da época que esperavam por alguma versão inédita. Na época porém essa não era a política da RCA em suas coletâneas. Era uma outra mentalidade.

Para quem estava em busca de algo inédito a única consolação vinha no final do disco com uma gravação ao vivo e inédita de "I Can't Stop Loving You". Foi a única novidade de um álbum que não primava pelas gravações inéditas. Eu penso que Elvis Presley cantou demais essa faixa em seus concertos nos anos 1970. E quando isso acontecia ele criava uma certa preguiça em cantar corretamente as músicas. Geralmente, quando já estava de saco cheio mesmo, ele combinava a música com algumas piadinhas, mudando sua letra para arrancar alguns sorrisos do público. Essa aqui felizmente escapou, mas podemos ainda perceber um certo cansaço de Elvis em ter que repeti-la mais uma vez. Ele deveria ter adotado algumas mudanças em seu repertório para que isso não viesse a acontecer.

Kris Kristofferson também surgia presente nesse disco com sua bonita "For the Good Times". Era uma boa versão de Elvis da música, gravada ao vivo, no dia 10 de junho de 1972. Como Elvis havia optado mesmo pelo country em sua fase final de carreira, ele tinha basicamente dois caminhos a seguir. Revisitar o antigo country, a música clássica do interior dos Estados Unidos, gravando gente como Hank Williams e também trazer versões de artistas contemporâneos, como acontece aqui. A letra tinha um certo tom de nostalgia. No final de tudo combinava bem com o tipo de trabalho que Elvis vinha desenvolvendo. Era uma canção country e em sua letra trazia um sentimento de saudade do passado. Isso era puro Elvis naquele período, não há como negar.

As sessões de Elvis no American Studios foi uma consequência natural de sua apresentação no NBC TV Special, o "Comeback Special" que trouxe Elvis de volta aos seus melhores momentos. Não mais a gravação em série de trilhas sonoras para filmes em Hollywood, mas sim a busca por material musical de maior qualidade. A música "Gentle on My Mind" fez parte desse pacote de renovação.

Essa canção foi gravada na madrugada do dia 14 de janeiro de 1969, no American Studios em Memphis, Tennessee. Elvis estava particularmente inspirado nessa noite, chegando nas versões definitivas de outras músicas como "You'll Think of Me", "I'm Movin' On" e "A Little Bit of Green". A música foi composta por John Hartford, cantor e compositor de Nova Iorque, muito conhecido por suas criações musicais nos gêneros de bluegrass, country e folk.

"Make the World Go Away" foi gravada em junho de 1970. Fez parte das sessões de gravações conhecidas posteriormente como a maratona de Nashville, porque naquela ocasião Elvis iria gravar uma grande quantidade de músicas que seriam lançadas em discos ao longo dos próximos anos. Nessa mesma noite ele também chegaria nas versões finais de "Funny How Time Slips Away", "I Washed My Hand in Muddy Water" e "Love Letters". Elvis, como se pode perceber, estava mais afiado do que nunca.

Esse country foi composto por Hank Cochran. Ele foi um cantor e compositor muito popular no circuito musical de Nashville, a capital mundial da country music. Escreveu músicas para inúmeros artistas como Patsy Cline, Ray Price e Eddy Arnold. Nomes que hoje em dia são pouco lembrados, mas que dentro da cultura country daquela época eram verdadeiros astros e estrelas do cenário musical. Curiosamente o auge da popularidade de Hank aconteceu durante a década de 1960, só que nesse período Elvis se concentrou em suas filmes de Hollywood e esse compositor não fazia esse tipo de material. Só depois, quando Elvis procurou redirecionar sua carreira foi que finalmente o caminho deles se cruzaram. A versão de Elvis ficou excelente e um tanto grandiosa, algo que de certa forma ia contra o próprio estilo country, que se baseava mais na simplicidade da vida do interior.

"Release Me (And Let Me Love Again)" foi lançada originalmente no álbum "On Stage - February 1970". A música foi gravada em Las Vegas naquela que seria a segunda temporada do cantor na cidade, ainda nos tempos do International Hotel, que depois seria vendido e se tornaria o Las Vegas Hilton. Essa temporada em particular é um pouco subestimada, porque ficou entre a estreia de Elvis em Las Vegas (sua primeira temporada) e aquela que seria registrada no filme "That´s The Way It Is" (Elvis é Assim). Penso que foi uma série de shows em que Elvis estava muito bem, em ótimas performances.

A versão que ouvimos aqui é a mesma do "On Stage". Nessa época a RCA Victor em suas coletâneas, como no caso dessa "Welcome to My World" não inovava muito. Raramente versões inéditas chegavam nos álbuns oficiais de Elvis. O advento das faixas raras, takes alternativos, etc, só iria acontecer muitos anos depois.

Do famoso Hank Williams, o disco traz uma de suas músicas mais conhecidas, "Your Cheatin' Heart", Essa é a mesma versão que Elvis gravou antes de seguir para a Alemanha, onde iria cumprir seu serviço militar. A clássica música country foi gravada por Elvis Presley no dia primeiro de fevereiro de 1958. Curiosamente a RCA Victor iria arquivá-la por anos e anos, só chegando pela primeira vez no mercado em meados dos anos 1960, no disco "Elvis For Everyone". Por que isso aconteceu? Provavelmente porque os executivos da gravadora não acharam um espaço para a música dentro da discografia de Elvis. Ele era na época um rockstar e essa música era um country tradicional da velha escola. Acredito que os produtores achavam ela fora do caminho do que Elvis vinha produzindo em estúdio. Por isso foi para o arquivo.

Do ótimo compositor e pianista Don Robertson temos "I Really Don't Want to Know". Essa música destoa um pouco do trabalho usual desse compositor. Ao longo da carreira de Elvis, Don Robertson escreveu lindas canções românticas para o cantor. Só que essas faixas eram canções ao piano numa escala mais moderna, mas de acordo com as grandes cidades e sua sofisticada seleção musical. Algumas até iam para o lado de um jazz mais sofisticado. E então depois de escrever tantas canções de amor é algo surpreendente que ele tenha cirado esse country mais ao estilo raiz. Provavelmente Don Robertson nunca viveu em uma cidade do interior rural dos Estados Unidos, mas o fato é que era talentoso o suficiente para compor um tema como esse, que fugia do universo em que vivia. De uma maneira ou outra essa faixa acabou entrando no álbum "Elvis Country (I'm 10,000 Years Old)", onde foi originalmente lançada dentro da discografia de Elvis Presley.

Pablo Aluísio.