segunda-feira, 6 de junho de 2011

Paulo e Tecla

Paulo e Tecla
Uma das figuras mais interessantes do cristianismo primitivo foi Tecla (ou Thecla). Hoje em dia praticamente tudo o que sabemos sobre ela veio de textos apócrifos. Embora muitos historiadores a considerem uma figura histórica que realmente existiu e andou ao lado de Paulo, o fato é que ela foi completamente ignorada pelos evangelhos oficiais. Mas afinal, quem foi Tecla? Antigos historiadores afirmam que no começo do cristianismo a presença de Tecla foi tão importante que ela chegou a ser venerada como uma verdadeira santa da Igreja que nascia naquele momento. Os textos mais antigos sobre sua vida ao lado do apóstolo Paulo datam do ano de 170. Eles foram escritos para comunidades cristãs que a cultuavam nesse mesmo período, em vastas regiões que iam da Grécia até o Egito, onde era extremamente popular. Até mesmo em algumas Igrejas medievais espanholas existem representações de Tecla, mostrando que seu culto chegou também em distantes regiões da Europa.

Por que Tecla foi literalmente banida então dos atos dos apóstolos se ela foi tão importante no começo da evangelização dos povos do Oriente próximo e Europa? Para alguns teólogos a presença de Tecla se tornou incômoda para a Igreja porque ele foi a mais forte representante de um tipo de filosofia religiosa conhecida como Ascetismo. O termo vem do grego original que serviu de fonte para a palavra latina ascese. Essa foi uma linha de pensamento que pregava a renúncia ao prazer carnal ou a outras formas de satisfação pessoal como base para o crescimento espiritual do cristão. O próprio Paulo pregou em suas cartas o celibato como forma de se enriquecer da graça de Deus. O próprio Jesus era visto como um exemplo de vida celibatário. Essa doutrina e linha de pensamento daria origem ao celibato entre o clero católico, onde padres e demais membros da Igreja não poderiam se casar ou ter esposas. E o que isso tinha a ver com Tecla? Muito simples, basta saber mais sobre a vida dessa mulher para entender bem a ligação.

Tecla começou a se interessar pelas pregações de Paulo porque esse afirmava que as pessoas castas e virgens, que não praticavam o sexo, seriam levadas ao céu por suas virtudes terrenas de renúncia ao prazer e à luxúria. Nos atos de Paulo e Tecla (um evangelho apócrifo), o apóstolo Paulo não coloca o celibato apenas como uma escolha (tal como conhecemos no novo testamento), mas como uma condição especial para se conseguir a ressurreição em Cristo. Em suas pregações Paulo coloca muita ênfase no celibato, a ponto de converter completamente Tecla. Ela era uma jovem virgem que havia sido prometida em casamento a um rico homem chamado Thamires. Ao ouvir o que Paulo pregava Tecla então resolveu se dedicar a um celibato absoluto em sua vida, o que obviamente enfureceu seu futuro marido. Ele a denunciou a um tribunal de costumes e assim Tecla foi condenada à morte por quebrar uma lei extremamente importante para aquela comunidade (que afirmava que mulheres prometidas em casamento não poderiam quebrar o juramento de se casarem após firmarem compromisso).

No dia de sua execução Tecla foi amarrada para ser queimada viva em praça pública, mas começou a chover torrencialmente, apagando as chamas. Isso foi então encarado como o primeiro milagre da vida de Tecla que sobreviveu pela intervenção direta de Deus. Ela então conseguiu fugir e se uniu novamente a Paulo em suas jornadas missionárias. Foram então para a Síria. Lá outro homem se apaixonou por ela. Novamente foi recusado e ele a fez pagar caro pela rejeição. Tecla foi presa e enviada para a arena onde deveriam ser morta, devorada por leões. Quando todos esperavam por sua morte certa, devorada por aquelas feras africanas, algo surpreendente aconteceu. As fêmeas a protegeram da morte. Mais do que isso as leoas se curvaram em sua direção, como se a estivesse louvando. Isso causou grande comoção entre o público presente e ela sobreviveu novamente à morte certa.

Tecla ainda sobreviveria a uma nova tentativa de execução. Ela foi colocada em um tanque com tubarões na Ásia Menor. Mas uma nova tempestade chegou e os animais foram mortos misteriosamente. Nesse mesmo dia Tecla resolveu se batizar. Paulo havia recusado lhe dar o batismo dizendo que ela ainda não estaria pronta, mas Tecla recusou seu ponto de vista. Assim, mais tarde naquele mesmo dia, ela resolveu se auto batizar. Para muitos historiadores esse trecho valeu a Tecla a retirada de sua história da bíblia pois os antigos teólogos, entre eles Terturiano, não admitiam que uma mulher pudesse se auto batizar daquela forma. Outro fato que levou a retirada dos atos de Paulo e Tecla da bíblia oficial foi a desconfiança de que os textos eram meras falsificações. Os organizadores da Bíblia oficial até entendiam que ela poderia ter sido uma figura histórica real, mas as estórias pareciam fantasiosas demais para serem levadas à sério. Hoje em dia a figura histórica de Tecla é bem polêmica. Alguns especialistas dizem que ela teria sido a primeira feminista do cristianismo. Para outros tudo não passaria de mera ficção. Uma mulher que pregava a palavra de Deus, que batizava e protagonizava inúmeros milagres definitivamente não era algo comum. Era sim algo muito revolucionário para aqueles tempos antigos.

Pablo Aluísio.

Papa Sisto V

Em abril de 1585 o cardeal Felice Peretti se tornou o Papa Sisto V. Ele ficou conhecido por algumas questões internas e externas que teve que enfrentar. Nos tempos de Sisto V o Papa exercia funções religiosas e de administração pública dos territórios da Igreja. Um dos desafios que Felice teve que enfrentar foi a criminalidade. A cidade eterna Roma estava infestada de marginais, bandidos e assaltantes. O povo romano não aguentava mais aquela situação.

Sisto V então resolveu combater o mal pela raiz. Muitos criminosos se refugiavam nas ruínas do coliseum. Reza a lenda que Sisto mandou distribuir bebidas para eles, fingindo ser o presente um ato de misericórdia. As bebidas estavam misturadas com substâncias soníferas. Os criminosos beberam e caíram em sono profundo.

Quando isso aconteceu os homens do Papa entraram no coliseum e prenderam a todos. Depois, usando de sua experiência como inquisidor quando ainda era bispo e cardeal, Felice implementou uma política de tolerância zero contra os criminosos. Em pouco tempo a cidade respirava ares mais tranquilos e a criminalidade foi praticamente zerada. Por sua política de combate contra os bandidos o Papa acabou sendo chamado pelo povo romano de "Sisto, o duro".

No plano externo continuou a tratar da questão inglesa. Desde os tempos de Henrique VIII, o poder real inglês estava rompido com o poder do Papa em Roma. Sua filha, a rainha Elizabeth I, não facilitava em nada as relações diplomáticas com a Igreja. Havia sido Felice Peretti, ainda nos seus tempos de cardeal, que havia redigido a bula de excomunhão do rei inglês e ele não voltou atrás em uma linha daquele documento agora que era Papa. Sisto V até tentou obter apoio de outras nações para combater a heresia da coroa inglesa, mas não encontrou boa recepção dos reis da época. A Inglaterra havia se tornado uma potência econômica e militar e nenhuma grande nação da Europa queria ter problemas com a coroa britânica. E depois de cinco anos no trono de Pedro, o Papa morreu em agosto de 1590. Sua morte foi decorrência de problemas do coração.

Pablo Aluísio. 

domingo, 5 de junho de 2011

João Paulo II e Anna Teresa Tymieniecka

A imprensa mundial vem divulgando com até certo exagero sobre a longa e produtiva amizade envolvendo o Papa João Paulo II e a escritora e filósofa americana Anna Teresa Tymieniecka. Tudo porque supostas cartas "secretas" teriam sido encontradas em uma biblioteca pública na Polônia. Pois bem, para os que conhecem mais a fundo a biografia de Karol Wojtyla isso não é nenhuma novidade. A amizade deles jamais foi secreta ou escondida, muito pelo contrário, o Papa e Anna trabalharam juntos e ela muitas vezes revisou textos de base filosófica que foram escritos por Wojtyla.

Não existe qualquer problema na colaboração intelectual entre um clérigo e uma estudiosa. Claro que após trinta anos de amizade e convívio o Papa tenha criado uma certo sentimento de proximidade maior com Anna, porém afirmar que disso surgiu algo que seja nem ao menos parecido com um relacionamento amoroso é uma bobagem sem tamanho. Uma bobagem sem qualquer fundamento histórico é bom frisar e deixar bem claro. O Papa e a escritora cultivaram uma amizade de bases intelectuais e não existe qualquer problema nisso.

As correspondências duraram de junho de 1973 até abril de 2005. Como Karol Wojtyla tinha uma personalidade cativante e carismática é possível que em algum momento de sua amizade com Anna Teresa Tymieniecka ela tenha confundido um pouco os sentimentos que tinham por ele, porém isso jamais abriu margem para que o Papa tenha de alguma forma rompido seus votos de celibatário. Tanto isso é verdade que mesmo os que leram atentamente todas as cartas jamais encontraram qualquer vestígio de que João Paulo II e Anna tenham tido algum tipo de envolvimento de natureza amorosa.

No final a situação toda foi bem resumida pelo sacerdote polonês Adam Boniecki, que era bem próximo ao Papa na época em que ele mantinha amizade com Anna. Ele disse: "Algumas mulheres acabam se apaixonando pelos sacerdotes. Isso sempre cria um problema! Tymieniecka traduziu para o inglês um dos livros de Karol Wojtyla e o tornou conhecido nos meios universitários americanos. Mas essa tradução gerou tensões entre eles." - E para superar os erros eles começaram a se corresponder com mais frequência e com a constante troca de cartas o relacionamento se tornou mais pessoal e próximo, porém nunca ultrapassando certos limites. Com sua peculiar ironia Adam terminou a questão dizendo: " Se estava apaixonada pelo cardeal Wojtyla, não era a única!".

Pablo Aluísio 

Bento XVI - Últimas Conversas

Desde que renunciou o Papa emérito Bento XVI tem levado uma vida discreta, procurando se afastar dos holofotes. De personalidade discreta, esse tipo de comportamento sempre foi muito fiel ao próprio perfil do Papa. Nas próximas semanas porém Bento XVI voltará a ser notícia nos grandes meios de imprensa. Será publicado um livro de memórias do Papa chamado "Últimas Conversas", escrito através de várias entrevistas dadas ao jornalista Peter Seewald.

Durante muito tempo houve uma certa controvérsia sobre a principal razão da renúncia do Papa. Teria sido ele pressionado para renunciar ao papado? Bento XVI deixa claro em suas entrevistas que isso jamais aconteceu. Embora ele tenha lutado contra certos setores da cúria (ele admite isso explicitamente) o fato é que Joseph Ratzinger chegou na conclusão de que não tinha mais saúde e nem idade para levar em frente as reformas que a Igreja Católica precisava naquele momento histórico. Tomado por um bom senso racional ele resolveu então renunciar, um ato inédito em seis séculos na história do catolicismo.

Outro ponto interessante do livro vem das revelações íntimas de Bento XVI sobre a eleição do Papa Francisco. Ratzinger admite que ficou surpreso com sua eleição, já que o argentino não era em absoluto um dos favoritos. Bento XVI acreditava que o próximo Papa sairia de dois a três nomes bem conhecidos, isso partindo-se da premissa do que ele próprio conhecia da política interna da cúria romana. Para sua surpresa foi eleito o cardeal de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, que na opinião pessoal de Ratzinger tem realizado um excelente pontificado.

Outro fato que chamou a atenção da mídia internacional veio da revelação de Bento XVI de que teria lutado contra um lobby gay dentro da cúria romana. O que exatamente seria esse lobby gay? Muito provavelmente um pequeno grupo de cardeais que lutavam dentro da alta cúpula da Igreja para que certas atitudes fossem mudadas, principalmente na forma como a igreja trataria o assunto da homossexualidade sob um ponto de vista religioso cristão católico.

Hoje em dia Bento XVI segue fazendo aquilo que mais gosta - ler e escrever. Seu dia é de calma, paz e reflexão. Conhecido por ter uma personalidade tímida e reservada, o Papa Emérito segue seus estudos, ao mesmo tempo em que dedica um pouco de seu tempo para tocar piano, especialmente Mozart, que sempre adorou. Recentemente um de seus assessores mais próximos confidenciou que Ratzinger sabe que sua hora final está chegando. Usando de uma linguagem metafórica ele afirmou que o Papa seria como uma luz, uma vela, que estaria se apagando lentamente.

Pablo Aluísio.

sábado, 4 de junho de 2011

10 Razões Para Amar a Igreja Católica

1. Foi fundada por Pedro, o primeiro Papa da história!

2. O Papa Francisco, nosso atual líder espiritual, é um símbolo de dignidade e humildade! Um exemplo para o mundo!

3. A Igreja Católica é a maior instituição de caridade do mundo, presente em praticamente todos os países ao redor do globo!

4. A Igreja Católica mantém milhares de hospitais, asilos, creches e missões de ajuda aos mais pobres em lugares de extrema privação como a África!

5. São dois mil anos de história - sendo a instituição mais antiga da humanidade ainda em atividade!

6. Maria, nossa mãe, está na Igreja Católica, santa e imaculada!

7. Foi a Igreja Católica que organizou a Bíblia, dando ordem e a dividindo em capítulos e versículos!

8. Durante 15 séculos foi a única Igreja a levar a palavra de Cristo aos quatro cantos do mundo!

9. Sua história está repleta de homens e mulheres que dedicaram sua vida ao cristianismo!

10. Jesus Cristo vive em nossa querida Igreja Católica, ontem, hoje e sempre!

Pablo Aluísio.

As Bruxas

Até o século X a Igreja não levou muito à sério a figura das bruxas. Elas já existiam como personagens de ficção na literatura há muito tempo, geralmente surgindo como antagonistas em contos e fábulas bem comuns na Europa medieval. Só a partir de alguns séculos depois foi que a Igreja começou a entender e associar os atos de bruxaria com heresias. Antes disso porém alguns estudiosos do tema afirmavam que o que era chamado de bruxaria nada mais era do que antigos rituais das religiões pagãs que tinham sobrevivido em cidades e vilas mais afastadas do continente europeu. O culto às forças da natureza provavam bem isso. Era uma espécie de revitalização de antigas deusas como Diana, por exemplo. Assim as autoridades da Igreja católica afirmavam que o ato de bruxaria certamente era um pecado, mas como pura mágica ou crentice não tinha como influenciar o mundo real e nem fazer o mal a quem quer que seja.

Curiosamente em países com influência nórdica começou a surgir a crença teológica que as mulheres que cometiam atos de paganismo estavam na verdade cultuando ao anjo caído, Satanás. Essa nova visão pregava que a bruxaria não era apenas um resquício pagão, mas sim um novo culto, de devoção ao diabo. A partir do século XIII essa visão foi se acentuando.  Em 1258 o Papa Alexandre IV condenou toda prática mística que envolvesse atos de mágica, adivinhação e tentativa de contato com pessoas mortas. Em 1320 o Papa João XXII ficou extremamente preocupado ao ser informado de que atos de bruxaria estavam se espalhando em regiões da França, em especial Toulouse. Ele assim ordenou que autoridades religiosas do Vaticano fossem enviadas até lá para investigar tudo mais a fundo. Mesmo com o combate da Igreja contra esse tipo de prática ela não parecia surtir muito efeito. O Papa Nicolau V ficou extremamente irritado ao descobrir que a adivinhação por cartas ainda era muito comum em feiras mercantis por todo o continente.

Entre os séculos XIV e XV chegaram ao seio da Igreja diversos estudos e tratados sobre a bruxaria na Europa. Eles contavam que as mulheres que se dedicavam a esse tipo de coisa se diziam possuídas pelo próprio demônio, não apenas mentalmente, mas fisicamente também. Algumas iam além dizendo que tinham tido relações sexuais com seres das trevas. Havia também a descrição de inúmeros rituais de magia e feitiços, algo que alarmou a cúpula da igreja. Não era mais apenas uma questão de teologia, de paganismo ou algo semelhante. Era algo mais grave. Muitas mulheres confessaram que faziam parte de comunidades de adoração ao diabo que se reuniam para blasfemar contra Deus, a trindade e Maria, mãe de Jesus. De fato os velhos rituais pagãos tinham se tornado algo mais grave e severo, abraçando o satanismo em seus cultos. Era algo assustador.

Diante de tais relatos o Papa Inocêncio VIII editou a bula papal Summis desiderante affectibus que tinha como objetivo deter a proliferação de cultos satânicos por toda a Europa. Foram criados cargos de inquisitores para procurar, localizar, identificar e prender pessoas acusadas de bruxaria e satanismo pelas nações cristãs. A bula foi imediatamente apoiada por nobres e reis por toda a Europa. O imperador Maximiliano da Áustria, por exemplo, deu total apoio às novas medidas. Nesse mesmo ano foi publicado o livro Malleus Maleficarum, que passou a ser conhecido como "O Martelo das Bruxas" onde se procurava tratar a questão da bruxaria de forma codificada, estudada em cima de casos reais que aconteceram em cidades da Alemanha e Áustria. Esse livro escrito pela dupla de teólogos Krämer e Spengler afirmava que as bruxas existiam, faziam parte de grandes comunidades e que tinham como inspiração maior em suas vidas o próprio Satanás.

Com o livro em mãos qualquer inquisidor poderia identificar uma bruxa real ou um feiticeiro ou mago. Havia métodos de identificação, as principais características desses cultuadores do mal e elementos que provavam sua presença. Ignorar a existência de bruxas, de magia negra e de satanismo era por si só também um ato de heresia. Esse tipo de visão deu origem a uma série de perseguições por todo o continente, atingindo não apenas os católicos, mas também os protestantes que para muitos historiadores foram mais violentos e repressivos do que os próprios membros do catolicismo. Em países onde o protestantismo se disseminou a caça às bruxas deu origem à infame inquisição protestante que levou para a fogueira milhares de pessoas. A Europa passaria assim nas décadas seguintes  por um novo e tenebroso período histórico de consequências imprevisíveis.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

O Comércio da Fé

Eu fico muito entristecido quando vejo pessoas - algumas até queridas, de meu círculo social - usando a fé como fonte de comércio. É o infame comércio da fé. Não preciso apontar o dedo para a Igreja A ou B pois acredito que todos saibam muito bem do que estou dizendo. Exemplos não faltam. É algo que no Brasil perdeu o controle. Mal fecha um mercadinho, um cinema ou uma bodega qualquer e de repente lá temos mais uma Igreja de ocasião, geralmente visando única e exclusivamente o dinheiro dos potenciais fiéis que venham a aparecer. Na revista Veja vi até mesmo o caso de um profissional que atua em Rio e São Paulo que é contratado exclusivamente para dar nomes a Igrejas - geralmente fundadas por ex-comerciantes que viram seu comércio ir a falência. Assim ao invés de abrir um mercadinho ou uma padaria essas pessoas resolvem abrir Igrejas, afinal o custo é baixo - vai se gastar apenas com cadeiras e alguns outros equipamentos - e não haverá qualquer custo com matéria prima uma vez que só se está vendendo fé e essa não tem fornecedor. Além disso não se paga impostos. Por outro lado se terá um dízimo muito atraente todos os meses.

E Jesus onde está? Jesus nesses lugares é apenas uma marca, um chamariz para se atrair mais clientes, digo, fiéis. É uma triste realidade desse país onde vivemos. Desde muito jovem sempre dissociei fé de bens materiais. A fé em Jesus deve ser separada da vida material de cada um. Jesus foi o mais pobre dos homens, e deixou claro que não se pode viver para dois deuses, o verdadeiro Deus e o dinheiro. É triste ver que o Cristianismo em nosso país está virando puro comércio. A tal teologia - ou teoria - da prosperidade prega sucesso material, dinheiro, carro, casa nova. Espiritualidade? Bem pouco, quase nada. Deus nessa visão vira um gerente de banco - você paga a Ele seu dízimo e supostamente Ele lhe retorna sucesso material na vida. Só que no final quem ficam realmente ricos são os tais donos dessas Igrejas. Compram carros de luxo, apartamentos milionários e até aviões. E a mensagem do Cristo? É praticamente ignorada.

Isso muitas vezes me lembra a passagem na Bíblia em que Jesus é tentado por Satã. Esse lhe oferece tesouros, riquezas sem limites, reinos inteiros e Jesus recusa. Será que ainda hoje não conseguiram entender a essência desse trecho? A mensagem de Jesus não é de promessa de vida material desfrutada em riqueza mas sim de vida espiritual plena. Francisco de Assis, o pobrezinho, certamente entendeu a mensagem de Jesus Cristo. Renunciou a todas as riquezas e foi viver na pobreza, ajudando ao próximo. O próprio Jesus afirmou que será mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus! Então porque tanta gente insiste em usar a fé como fonte de riqueza material? Será que nunca compreenderam a verdadeira intenção de Jesus em todos esses trechos em que Ele expôs seu pensamento?

Nesse jogo de comércio da fé os dois lados estão completamente equivocados. O fiel está errado pois entra em um jogo imaginário de barganha com Deus! Ele paga o dízimo e Deus lhe voltará sucesso, riqueza e poder. Já o líder religioso se coloca numa posição muito mais delicada e equivocada ao insistir nessa "troca de favores" e quando fica rico com isso acaba condenando sua própria alma. Não transformem algo tão lindo como a fé em Deus numa bodega comercial. Deus não é comércio, Deus não é dinheiro. É triste ver massas de brasileiros entrando nesse jogo insano. Quem acredita verdadeiramente em Deus sabe que a verdadeira riqueza é a espiritual e não bens e objetos materiais que mais cedo ou mais tarde serão corroídos pelas areias do tempo.

Pablo Aluísio.

Os 10 Erros da Teologia da Prosperidade

Nossos irmãos protestantes infelizmente estão se afundando nessa famigerada falsa teologia que está se disseminando em certas denominações evangélicas. Graças ao bom Deus esse tipo de "barganha" com Deus jamais adentrou os portões da Igreja Católica, que segue firme no caminho do verdadeiro evangelho. O fiel católico pode até mesmo ficar em dúvida sobre do que tudo isso se trata. Afinal o que é a tal falada teologia da prosperidade? Em uma maneira muito simples de explicar podemos dar exemplos do que vem acontecendo. Basta você ligar qualquer canal de TV em horários comprados por certos setores e você facilmente entenderá. Lá estará um religioso prometendo prosperidade e riqueza material em troca de doações para sua Igreja. É grotesco, mas funciona dessa forma mesmo: o fiel paga o dízimo e Deus em troca abençoa a vida dessa pessoa de maneira material, com dinheiro e riquezas. Depois o espectador é bombardeado com depoimentos de pessoas dizendo que eram pobres e ficaram ricas da noite para o dia depois de pagarem fielmente o tal dízimo. Ora, qualquer pessoa minimamente versada na Bíblia sabe que se trata de um erro teológico! Não existe nenhuma passagem no novo testamento que corrobore tal "teologia" (entre aspas, pois não se trata de uma verdadeira teologia). Duvida disso? Vamos dar dez razões bíblicas para demonstrar a falsidade desse tipo de pensamento nada cristão.

1. Jesus nunca prometeu riqueza material
A palavra de Jesus prega a riqueza espiritual, não material. Ele nunca prometeu riqueza na Terra para seus seguidores, pelo contrário, em várias passagens afirmou que não se deve gananciosamente buscar riquezas na Terra pois a verdadeira riqueza está ao lado do Senhor. Sua frase "É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus" (Mateus 19:24) é mais do que clara! Seu próprio exemplo de vida já diz tudo. Jesus veio ao mundo como um homem rico e cheio de dinheiro? Não, claro que não, ele veio como o mais pobre e humilde dos homens. Nasceu de forma humilde e viveu de forma humilde, dando exemplo pela palavra e não pelo dinheiro.

2. Jesus nunca pregou uma "barganha com Deus"!
A teologia da prosperidade é baseada numa verdadeira "barganha com Deus". O fiel dá dinheiro pensando estar dando a Deus e em troca esse seria obrigado a lhe dar riqueza material! Um absurdo completo! Deus não quer seu dinheiro, coloque isso na sua cabeça e nem tampouco você comprará a vontade divina. O dinheiro que você dá em sua igreja vai para pastores que ficam ricos prometendo algo que eles não podem prometer em troca. São vendilhões do templo, os mesmos que Jesus Cristo combateu em vida. Certas seitas deixaram de ser casas de orações para se tornarem covis de ladrões - e isso ficou bem claro no que disse Jesus. Só não entende sua palavra quem realmente não quer! ("Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; vós, porém, a fazeis covil de salteadores." Mateus 21:12-13)

3. Jesus recusou riquezas na Terra
Em uma das passagens mais importantes do novo testamento o próprio Satã vem tentar Jesus no deserto. O que esse lhe oferece? Todas as riquezas do mundo, reinos e palácios sem fim. Ele promete a Jesus prosperidade e riqueza no mundo (o mesmo que oferece a tal teologia da prosperidade). O que Jesus faz após receber essa proposta? Recusa e deixa claro que a verdadeira riqueza vem de Deus apenas, ou seja, ele recusa completamente a tentação de aceitar riquezas no mundo, pois o que ele busca mesmo é a riqueza da alma. Por que então tantos evangélicos se empenham tanto em obter algo que o próprio Jesus, com seu exemplo, recusou de forma veemente? A verdadeira riqueza é a espiritual, da plena comunhão com Jesus e sua palavra e nada mais. (Depois, o Diabo o levou a um monte muito alto e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e o seu esplendor. E disse-lhe: "Tudo isto te darei se te prostrares e me adorares". Jesus lhe disse: "Retire-se, Satanás! Pois está escrito: 'Adore o Senhor, o seu Deus, e só a ele preste culto'". Mateus 4)

4. A teologia da Prosperidade é uma corrupção religiosa
 O fiel que se coloca na posição de barganhar com Deus riquezas materiais está ofendendo a divindade frontalmente. Ele está tentando corromper com dinheiro a própria vontade de Deus! É uma forma de corrupção religiosa vil e perigosa que certamente custará a alma de muitos. Deus não é um banco ou um gerente de financiamentos para lhe dar sucesso financeiro na vida. Ele não serão corrompido por seu dinheiro! O próprio Jesus deixou claro que não se pode servir a dois senhores, a Deus e ao dinheiro ao mesmo tempo! Então faça sua escolha de uma vez, seu deus será o dinheiro ou o verdadeiro Deus, cujas riquezas não se encontram nesse mundo e definitivamente não podem ser comprados ou corrompidos? Você quer mesmo continuar a tentar subornar a Deus? Pense muito bem sobre isso! ("Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro." Mateus 6:24)

5. Templos de ostentação não são obras de Deus
Templos de rica ostentação não fazem parte do verdadeiro cristianismo. É um boa peça de marketing para a teologia da prosperidade mas apenas isso! Em sua época o próprio Cristo condenou tal ostentação e deixou claro que Deus não habita em templos feitos pelos homens, mas em seus próprios corações. A riqueza na Terra, a ostentação e o luxo não fazem parte da obra de Deus, mas de homens gananciosos que usam o nome de Jesus para ganhar cada vez mais dinheiro em cima da fé dos cristãos. Depois da vinda de Jesus os antigos templos, seus rituais e simbolismos perderam a razão de ser. Jesus com a cruz revogou todos esses símbolos e isso ele deixou claro. A cortina do templo foi rasgada de alto a baixo! Quem cultua templos ao invés da verdadeira palavra do Cristo está na realidade cuspindo na cruz, na obra de Jesus. O salvador deixou claro mais de uma vez que o verdadeiro templo de Deus é o corpo de cada cristão verdadeiro. Quem cultua templos está cheio de idolatrias e heresias. E depois procure saber onde Jesus pregou... Foi em templos? Não, foi no meio das pessoas, nas montanhas, nas praias da Galiléia, ao ar livre! Jesus jamais precisou de qualquer tipo de ostentação para passar sua palavra divina em frente! O verdadeiro templo é o Deus que habita em seu coração! (Atos dos Apóstolos 17:24: "O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens") ( Coríntios 3:16 "Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?")

6. Jesus não conhecerá dos verdadeiros mercadores da fé
Esses mercadores da fé que ludibriam milhares terão que prestar contas a Deus por suas heresias e iniquidades. Deus não os conhecerá quando os encontrar e eles pagarão por suas mentiras e golpes. Você quer mesmo ficar ao lado dessa gente? Sobre os que usam a fé para enriquecer Jesus disse: “Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!” (Lucas 18:24).

7. A teologia da Prosperidade é uma terrível união de ganâncias
Onde está na Bíblia que o homem tem que buscar a ganância acima de tudo? Em lugar nenhum. Pelo contrário. Mesmo assim a teologia da Prosperidade é um grande encontro de ganâncias humanas. A primeira do próprio pastor e seu líder, que quer acima de tudo o dinheiro dado pelos dizimistas. Campanhas são feitas e membros da igreja são incentivados a dar dízimos de todas as maneiras possíveis. Por outro lado a ganância também está nas atitudes dos membros dessas igrejas que doam esperando receber de volta o mesmo valor duplicado ou triplicado! Maior prova de ganância vinda de todas as partes não existe! Os dois lados - pastores e fiéis - estão afundados completamente na lama da ganância humana! E onde está Deus no meio de todo esse lamaçal? Em lugar nenhum, ambos os lados só estão se enganando mutuamente! ("Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis” (Mt 7. 15,16 a).

8. Deus é amor, não dinheiro
Parem de tentar encontrar Deus em notas de dinheiro. Isso é uma forma grotesca de encarar um ser tão grandioso como Deus. Jesus e sua palavra não estão em notas de valor econômico. Deus está no amor, na palavra redentora de Cristo. Quem oferece prosperidade material e riquezas na Bíblia não é Deus, mas o próprio Satã. Pare de procurar por isso pois no final de contas tudo o que encontrará pela frente são os portões do inferno à sua espera!  ("Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo” Cl 2.8).

9. A teologia da Prosperidade simplesmente não funciona
Mesmo que você não queira acreditar na essência da palavra de Jesus Cristo e nem queira saber de ter uma verdadeira prosperidade espiritual em sua vida, saiba que a teologia da prosperidade simplesmente não funciona. De cada 100 pessoas envolvidas nessa barganha com Deus, nenhuma consegue realmente prosperidade por causa dessa falsa teologia. As pessoas progridem por seus próprios méritos, trabalho e esforço pessoal em crescer na vida. A imensa maioria dos que acreditam nessa "barganha" com Deus acabam mesmo ficando cada vez mais pobres, ao doarem seus bens para pastores espertos. Deus não quer que você doe sua casa para esses sujeitos, Deus quer que você conserve sua casinha, por mais humilde que seja. Entenda de uma vez por todas: Deus não quer seu dinheiro! Ele é o centro do universo, Senhor de tudo, e não precisa de seus bens e nem dinheiro. Quem deseja isso são os falsos profetas que querem enriquecer a custa dos outros, usando do nome de Jesus para ficarem ricos, imensamente ricos! Com a teologia da prosperidade você ficará mesmo é cada vez mais pobre materialmente, além de espiritualmente comprometido a cada dia. (Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; Mateus 6:19).

10. Faça caridade em prol dos mais humildes, não para pastores milionários
A caridade que Jesus pregou em sua passagem terrena foi para com os mais pobres e humildes, não para vendilhões milionários do templo. Ajude aos carentes, aos que não possuem nada. Faça a caridade e não transforme esse ato em qualquer tipo de atitude de auto promoção. Ajude ao próximo que realmente necessite de ajuda e não a pastores milionários, donos de jatinhos, helicópteros e mansões! Esse dinheiro não se reverterá a quem realmente precisa. Sua relação com Deus não precisa passar por esse intermediários danosos, verdadeiros mercadores da fé alheia. Você só precisa de Jesus ao seu lado e de mais ninguém. A verdadeira riqueza de Deus vem do coração, é espiritual, nada de riquezas materiais que serão corroídas pelo tempo. ("Se você quer ser perfeito, vá, venda os seus bens e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro nos céus. Depois, venha e siga-me". Mateus 19:21)

Pablo Aluísio.