Trilha sonora do quarto filme da carreira de Elvis Presley. No Brasil foi intitulado como "Balada Sangrenta" e está disponível nas locadoras de vídeo. Este é considerado seu melhor momento no cinema como ator e se tornou o filme preferido do próprio Elvis. De certa forma Presley iria passar o resto de sua carreira cinematográfica lamentando não participar de um filme tão bem elaborado como este. O roteiro foi originalmente escrito para ser estrelado pelo astro James Dean, porém com sua morte o projeto foi cancelado. Pouco depois o produtor Hal Wallis resolveu levá-lo à tela com Elvis no papel principal e Michael Curtiz na Direção. Curtiz foi uma lenda do cinema norte americano tendo dirigido um dos maiores clássicos de todos os tempos: o filme "Casablanca" com Humphrey Bogart e Ingrid Bergman. Para tanto foram feitas algumas alterações no roteiro, como a mudança da estória de Danny Fischer que passou de boxeador para cantor nas horas vagas em um club de New Orleans, visando claro, adaptar a inclusão de Elvis no projeto.
"King Creole" (balada sangrenta, 1958) foi um grande sucesso de público e crítica pois vários nomes influentes da imprensa teceram elogios à atuação de Elvis, sendo que este foi um dos pouquíssimos filmes do cantor em que ele não foi criticado severamente. Infelizmente Presley iria deixar seus dias de Marlon Brando para trás e a partir de 1960 iria estrelar várias comédias musicais que não iriam fazer jus ao seu talento, salvando-se neste período poucos momentos realmente memoráveis como "Viva Las Vegas" (amor a toda velocidade, 1964), "Blue Hawaii" (feitiço havaiano, 1961) ou "G.I.Blues" (saudades de um pracinha, 1960). "Balada Sangrenta" é o último filme de Elvis antes do cantor seguir rumo à Alemanha, onde iria cumprir seu serviço militar. Estas são as músicas do LP "King Creole" (LPM 1884):
KING CREOLE (Jerry Leiber / Mike Stoller) - Música Título do filme escrita pela dupla Leiber e Stoller. Como este filme é ambientado em New Orleans, os produtores providenciaram um conjunto de metais que caracterizasse o ritmo da Louisiana, o que faz este disco possuir um som único e singular dentro da discografia de Elvis. King Creole sem dúvida é uma de suas melhores trilhas pois a qualidade de suas músicas acompanhou o alto nível artístico do filme. Foram gravadas duas versões diferentes desta canção: uma no dia 15 de janeiro de 1958 e outra no dia 23 do mesmo mês. A versão presente no disco é a segunda. Foi lançada também num Extended Play intitulado "King Creole vol.1" em Setembro de 1958.
AS LONG AS I HAVE YOU (Fred Wise / Ben Weisman) - Música escrita pela dupla que iria compor a grande maioria das canções dos filmes de Elvis nos anos sessenta. Esta foi também lançada no EP "King Creole Vol.1" em Setembro de 1958 atingindo o primeiro lugar na parada norte-americana! Foram gravadas duas versões diferentes: Uma para o filme e outra que iria fazer parte da trilha sonora. Ambas foram produzidas no dia 16 de janeiro de 1958 nos estúdios Radio Recorders.
HARD HEADED WOMAN (Claude DeMetrius) - Esta foi lançada em single junto com "Dont Ask me Why" em Junho de 1958 atingindo o segundo lugar na parada da revista Billboard e primeiro na Inglaterra. Trata-se de um Rock'n'Roll rápido com um acompanhamento de metais que se sobressaem no conjunto. Foi gravada no dia 15 de janeiro de 1958. Aqui está um caso raro no mundo da música, um exemplo perfeito de "Jazz-Rock".
TROUBLE (Jerry Leiber / Mike Stoller) - A melhor música da trilha e também a mais conhecida. Trouble é uma preciosidade composta por Leiber e Stoller em que o ritmo e o conteúdo de sua letra caiu como uma luva para a história do personagem Danny Fisher, um garoto correto que tenta sobreviver numa New Orleans infestada de Gangsters. Esta também foi utilizada no memorável "Comeback Special" de 1968 fazendo parte de sua trilha. Porém sem sombra de dúvida "Trouble" vai ficar imortalizada nesta versão gravada por Elvis no dia 15 de Janeiro de 1958. "Se você procura por encrenca, veio ao lugar certo!"
DIXIELAND ROCK (A Schroder / R Frank) - Deixe-se levar pelo balanço de Dixieland e aproveite esta linda canção que nos leva a um belíssimo arranjo de metais. Todos os momentos deste disco tem por finalidade nos levar a respirar o espírito jazzístico da Louisiana e esta música cumpre seu papel. A canção "Dixieland Rock" foi lançado num single britânico com "King Creole" no lado A atingindo o segundo lugar na parada de Vossa majestade.
DON'T ASK ME WHY (Fred Wise / Ben Weisman) - Abrindo o lado B do disco temos esta canção que foi lançado no único single norte-americano extraído do disco. "Não me pergunte o porquê" de ela ter sido escolhida para compor o compacto junto com "Hard Headed Woman" pois é fato notório que há músicas muito melhores na trilha. Digno de nota no filme é a atuação magistral do ator Walter Matthau, aqui interpretando um vilão, bem distante dos papéis de comediante que o imortalizaram para sempre. Na foto acima: Elvis e Matthau se enfrentam em "King Creole".
LOVER DOLL (S.Wayne / A.Silver) - Deliciosa música que sem dúvida é uma das melhores da carreira cinematográfica do Rei do Rock'n'Roll. Elvis a canta no filme com a finalidade de distrair os clientes e funcionários de uma loja enquanto membros de um grupo de delinquentes furtam alguns objetos! De quebra o Rei encontra o grande amor de sua vida. Fez parte também do bem sucedido compacto duplo "King Creole vol.1". Canção composta para todas as bonequinhas do mundo.
CRAWFISH (Fred Wise / Ben Weisman) - Música que abre o filme e que Elvis divide os vocais com a maravilhosa cantora negra Kitty White. A letra trata de forma singela dos costumes culinários típicos de New Orleans. É o primeiro dueto da carreira de Elvis a aparecer em um disco oficial, posteriormente ele iria dividir os microfones com a estupenda Ann Margret em "Viva Las Vegas" (amor a toda velocidade, 1964) , com Juliet Prowse em "G.I.Blues" (saudades de um pracinha, 1960), com Nancy Sinatra em "Speedway" (o bacana do volante, 1968) e com Donna Douglas em "Frankie e Johnnie" (entre a loira e a ruiva, 1966).
YOUNG DREAMS (M.Kalmanoff / A.Schroder} - Mais um grande momento do disco que faz jus ao maravilhoso filme que é "Balada Sangrenta". Elvis, ou melhor Danny Fischer, a apresenta no night club num momento especialmente difícil para o personagem. Foi gravada no dia 23 de janeiro de 1958 em Hollywood. Um segundo EP extraído da trilha foi lançado em setembro de 1958 atingindo também o primeiro lugar com esta música incluída nele.
STEADFAST, LOYAL AND TRUE (Jerry Leiber / Mike Stoller) - Todo colégio norte-americano possui uma "alma mater" que é uma espécie de hino escolar. Pois bem, no filme Danny é desafiado a cantar por Walter Matthau para provar que ele realmente sabia cantar! A lamentar apenas o fato de a trilha só contar com três músicas dos geniais Leiber/Stoller. É um momento muito interessante do disco pois Elvis a canta praticamente sozinho o que faz sua voz se sobressair de forma brilhante.
NEW ORLEANS (S.Tepper / S.Wayne) -"Não há lugar como New Orleans" canta Elvis! Esta é uma ótima despedida para o disco fechando esta trilha com chave de ouro. Esta dupla de compositores iriam escrever praticamente todas as canções da próxima trilha do cantor "G.I.Blues" (saudades de um pracinha, 1960). Este também um dos maiores sucessos de Elvis no Cinema. Foi gravada no dia 15 de janeiro de 1958 em Hollywood.
Elvis Presley - King Creole (1958): Elvis Presley (vocal) / Scotty Moore (guitarra) / Ray Siegel (baixo e tuba) / Bill Black (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Neal Matthews (baixo) / Bernie Matthinson (bateria) / Gordon Stocker (bongôs) / Dudley Brooks (piano) / Mahlon Clark (clarinete) / John Ed Buckner (trumpete) / Justin Gordon (sax) / Elmer Schneider (trombone) / Warren D. Smith (trombone) / Kitty White (vocal) / The Jordanaires (acompanhamento vocal) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Steve Sholes / Gravado estúdios Radio Recorders, Hollywood / Data de Gravação: 15, 16 e 23 de janeiro de 1958 / Data de Lançamento: agosto de 1958 / Melhor posição nas charts: #2 (EUA) e #4 (UK)
Pablo Aluísio - Agosto de 1999 / revisado e atualizado em novembro de 2001.
terça-feira, 6 de janeiro de 2009
Elvis Presley - O Elvis Desconhecido
O Elvis Desconhecido
I’ll Never Stand in Your Way - Não é o marco zero na carreira de Elvis Presley, mas é quase isso. Para quem pensa que a pré-história de Elvis se resume ao acetato de "My Happiness / That’s The When Your Heartaches Begin", essa faixa, lançada na coleção Elvis Platinum - A Life In Music, serviu para lembrar a todos que a trajetória de Elvis em seus anos iniciais foi muito mais complexa (e interessante) do que a simples lenda do disco gravado para dar de presente à sua mãe, da milagrosa descoberta “instantânea” por parte de Sam Phillips em relação ao talento musical dele e de seu sucesso relâmpago, “da noite para o dia”. Não foi bem assim, isso é uma simplificação que pode até ficar bonita em um texto com o claro objetivo de impressionar o leitor menos atento, mas que não condiz inteiramente com a verdade dos fatos. Não foi tão fácil assim para Elvis em seu primeiríssimo momento, no nascimento de sua carreira.
As lendas costumam ser simples, mas os fatos históricos são mais complexos. Depois de My Happiness Elvis ainda gravaria um segundo acetato, também de forma amadora, que foi registrado na Sun Records numa clara tentativa dele em chamar a atenção de Sam Phillips para seu talento, para deixar claro a sua existência, para que o famoso produtor da Sun não o esquecesse (se bem que na gravação de seu primeiro acetato, Phillips na realidade nem sequer estava presente!). My Happiness é o marco zero de Elvis Presley em um estúdio, aquela mesma canção da lenda do disquinho dado a Gladys por Elvis em seu aniversário (pura lenda, diga-se de passagem!).
A música, que sobreviveu ao tempo, mesmo com inúmeros problemas de áudio e defeitos resultantes da deterioração natural da única matriz existente, registra um jovem Elvis, quase vacilante, tentando vencer sua timidez e tornando realidade seu velho sonho de ser cantor. É uma faixa que conta apenas com Elvis e sua violão, sem acompanhamento nenhum, sem banda e sem truques de estúdio. Just Elvis. Ela é simples do ponto de vista musical, mas não do ponto de vista histórico. Muito longe de registrar o surgimento do Rock’n’Roll como muitos pensam, My Happiness apenas deixou para a história o momento inicial do nascimento daquele que se tornaria o grande nome dessa revolução musical que iria tomar conta da América e do mundo nos anos seguintes. Naquele momento tudo se resumia no jovem caminhoneiro de Memphis, tentando fazer uma boa gravação e não fazer feio na frente de estranhos, nada mais do que isso. Muito longe do mega astro, do fenômeno mundial, do mito que todos conhecemos hoje.
I’ll Never Stand in Your Way é uma canção irmã de My Happiness. Gravada para completar o segundo acetato de Elvis na Sun (com Casual Love Affair no outro lado) a música ficou muitos anos desaparecida e esquecida. Muitos autores, dentre eles muitos escritores renomados, esqueceram ou ignoraram completamente sua existência e em inúmeros artigos escritos ao longo dos anos, chegaram a fazer uma ponte imediata entre My Happiness e That’s All Right, esquecendo-se completamente desse acetato que, se muito, no final das contas, apenas causou aborrecimentos e desilusões a Elvis quando o gravou na época. Como escrevi antes, a intenção de Elvis ao voltar à Sun e gravar duas novas músicas era muito simples: ele queria ser descoberto por Sam Phillips de uma vez por todas, queria chamar a atenção do dono da Sun, queria causar impacto. Mas, talvez pelo excesso de ansiedade e nervosismo, talvez pela inibição de fazer tudo certo e não errar, de ser perfeito demais, tudo o que Elvis conseguiu naquele dia foi ser ignorado pelo dono da gravadora, que acabou lhe dizendo (como sempre falava a todos os que gravavam em seu estúdio, em uma resposta padrão dada aos músicos que por lá passavam), que deixasse seu telefone com sua secretária.
Tudo estaria muito bom se Elvis já não tivesse deixado seu número antes, quando gravou My Happiness, tempos atrás. Imagine o desapontamento por parte dele! Para quem queria ser notado, descoberto, tudo o que acabou sentindo naquele dia foi uma involuntária demonstração de desânimo e desinteresse por parte de Sam, que nada viu demais nele e na sua música, naquele momento. Sam tinha razão? Elvis, nesse dia em particular, nada demonstrou para impressionar o dono da Sun? Em parte sim, Phillips teve razão em não achar nada demais na performance de Elvis.
Ao ouvir essa faixa hoje, mais de 50 anos depois de Elvis tê-la gravado, notamos certas coisas fascinantes para um admirador do Rei do Rock. Antes de tudo é bom salientar que a qualidade sonora não é boa, todos os problemas de My Happiness se repetem aqui. O ouvinte deve ignorar toda a precariedade de sua qualidade técnica para se deliciar e se sentir ao lado de Elvis na Sun, naquele tarde quente de Memphis. No final das contas isso não tem importância mesmo, principalmente para quem quer conhecer a história de Elvis com profundidade. Todas as relíquias históricas são assim, todas trazem a marca do tempo encravadas em sua essência material. I’ll Never Stand in Your Way é uma baladinha popular daqueles tempos. Elvis está contido, mas transmite bem seu estado emocional, que acaba sendo uma mistura curiosa de timidez excessiva e sensibilidade à flor da pele. O violão é tocado de forma tímida, quase inaudível, porém dentro das possibilidades dele na época.
Curioso notar que a voz de Elvis apresenta variações de volume típicas de quem, em certos momentos, abaixa a cabeça (e consequentemente se afasta um pouco do microfone) para verificar se a posição de sua mão está correta no braço do violão. A letra é simples, mas Elvis a canta com convicção e honestidade. Fico maravilhado a ouvir esse tipo de registro porque podemos notar com muita clareza a clara evolução vocal de Elvis ao longo de sua vida, da voz fininha e acanhada dos primeiros anos ao vozeirão apoteótico de seus momentos finais. A canção em si, emociona ao fã verdadeiro de Elvis Presley, mas não tiro a razão de Sam em não ter notado nada demais naquele dia.
Temos que ter em mente que uma pessoa como ele recebia diariamente muitos cantores à procura de um lugar ao sol. Certamente Elvis foi visto como apenas mais um dentre eles no meio da multidão. Um garoto com um visual estranho, mas que não causou grande impacto naquele dia. Não seria uma simples balada country romântica como essa que iria despertar a atenção de um homem rodado no mundo musical como Sam Phillips. Se Elvis tinha algo especial, não foi naquele dia que ele o mostrou a Sam. Na intenção de não errar, tudo o que Elvis conseguiu foi ser ordinário, comum. Como todos sabemos Elvis só seria notado quando trouxesse algo extraordinário, que fugisse dos padrões musicais de seu tempo. Isso só iria acontecer mesmo na próxima vez em que Elvis colocaria os pés na Sun. Nesse dia Elvis sentiu que para ser notado era melhor ser diferente, se transformar em algo novo, revolucionário. Foi na sessão seguinte que Elvis finalmente fez história e mudou o rumo da cultura popular do século XX. Mas essa é uma outra história...
Pablo Aluísio - abril de 2006
I’ll Never Stand in Your Way - Não é o marco zero na carreira de Elvis Presley, mas é quase isso. Para quem pensa que a pré-história de Elvis se resume ao acetato de "My Happiness / That’s The When Your Heartaches Begin", essa faixa, lançada na coleção Elvis Platinum - A Life In Music, serviu para lembrar a todos que a trajetória de Elvis em seus anos iniciais foi muito mais complexa (e interessante) do que a simples lenda do disco gravado para dar de presente à sua mãe, da milagrosa descoberta “instantânea” por parte de Sam Phillips em relação ao talento musical dele e de seu sucesso relâmpago, “da noite para o dia”. Não foi bem assim, isso é uma simplificação que pode até ficar bonita em um texto com o claro objetivo de impressionar o leitor menos atento, mas que não condiz inteiramente com a verdade dos fatos. Não foi tão fácil assim para Elvis em seu primeiríssimo momento, no nascimento de sua carreira.
As lendas costumam ser simples, mas os fatos históricos são mais complexos. Depois de My Happiness Elvis ainda gravaria um segundo acetato, também de forma amadora, que foi registrado na Sun Records numa clara tentativa dele em chamar a atenção de Sam Phillips para seu talento, para deixar claro a sua existência, para que o famoso produtor da Sun não o esquecesse (se bem que na gravação de seu primeiro acetato, Phillips na realidade nem sequer estava presente!). My Happiness é o marco zero de Elvis Presley em um estúdio, aquela mesma canção da lenda do disquinho dado a Gladys por Elvis em seu aniversário (pura lenda, diga-se de passagem!).
A música, que sobreviveu ao tempo, mesmo com inúmeros problemas de áudio e defeitos resultantes da deterioração natural da única matriz existente, registra um jovem Elvis, quase vacilante, tentando vencer sua timidez e tornando realidade seu velho sonho de ser cantor. É uma faixa que conta apenas com Elvis e sua violão, sem acompanhamento nenhum, sem banda e sem truques de estúdio. Just Elvis. Ela é simples do ponto de vista musical, mas não do ponto de vista histórico. Muito longe de registrar o surgimento do Rock’n’Roll como muitos pensam, My Happiness apenas deixou para a história o momento inicial do nascimento daquele que se tornaria o grande nome dessa revolução musical que iria tomar conta da América e do mundo nos anos seguintes. Naquele momento tudo se resumia no jovem caminhoneiro de Memphis, tentando fazer uma boa gravação e não fazer feio na frente de estranhos, nada mais do que isso. Muito longe do mega astro, do fenômeno mundial, do mito que todos conhecemos hoje.
I’ll Never Stand in Your Way é uma canção irmã de My Happiness. Gravada para completar o segundo acetato de Elvis na Sun (com Casual Love Affair no outro lado) a música ficou muitos anos desaparecida e esquecida. Muitos autores, dentre eles muitos escritores renomados, esqueceram ou ignoraram completamente sua existência e em inúmeros artigos escritos ao longo dos anos, chegaram a fazer uma ponte imediata entre My Happiness e That’s All Right, esquecendo-se completamente desse acetato que, se muito, no final das contas, apenas causou aborrecimentos e desilusões a Elvis quando o gravou na época. Como escrevi antes, a intenção de Elvis ao voltar à Sun e gravar duas novas músicas era muito simples: ele queria ser descoberto por Sam Phillips de uma vez por todas, queria chamar a atenção do dono da Sun, queria causar impacto. Mas, talvez pelo excesso de ansiedade e nervosismo, talvez pela inibição de fazer tudo certo e não errar, de ser perfeito demais, tudo o que Elvis conseguiu naquele dia foi ser ignorado pelo dono da gravadora, que acabou lhe dizendo (como sempre falava a todos os que gravavam em seu estúdio, em uma resposta padrão dada aos músicos que por lá passavam), que deixasse seu telefone com sua secretária.
Tudo estaria muito bom se Elvis já não tivesse deixado seu número antes, quando gravou My Happiness, tempos atrás. Imagine o desapontamento por parte dele! Para quem queria ser notado, descoberto, tudo o que acabou sentindo naquele dia foi uma involuntária demonstração de desânimo e desinteresse por parte de Sam, que nada viu demais nele e na sua música, naquele momento. Sam tinha razão? Elvis, nesse dia em particular, nada demonstrou para impressionar o dono da Sun? Em parte sim, Phillips teve razão em não achar nada demais na performance de Elvis.
Ao ouvir essa faixa hoje, mais de 50 anos depois de Elvis tê-la gravado, notamos certas coisas fascinantes para um admirador do Rei do Rock. Antes de tudo é bom salientar que a qualidade sonora não é boa, todos os problemas de My Happiness se repetem aqui. O ouvinte deve ignorar toda a precariedade de sua qualidade técnica para se deliciar e se sentir ao lado de Elvis na Sun, naquele tarde quente de Memphis. No final das contas isso não tem importância mesmo, principalmente para quem quer conhecer a história de Elvis com profundidade. Todas as relíquias históricas são assim, todas trazem a marca do tempo encravadas em sua essência material. I’ll Never Stand in Your Way é uma baladinha popular daqueles tempos. Elvis está contido, mas transmite bem seu estado emocional, que acaba sendo uma mistura curiosa de timidez excessiva e sensibilidade à flor da pele. O violão é tocado de forma tímida, quase inaudível, porém dentro das possibilidades dele na época.
Curioso notar que a voz de Elvis apresenta variações de volume típicas de quem, em certos momentos, abaixa a cabeça (e consequentemente se afasta um pouco do microfone) para verificar se a posição de sua mão está correta no braço do violão. A letra é simples, mas Elvis a canta com convicção e honestidade. Fico maravilhado a ouvir esse tipo de registro porque podemos notar com muita clareza a clara evolução vocal de Elvis ao longo de sua vida, da voz fininha e acanhada dos primeiros anos ao vozeirão apoteótico de seus momentos finais. A canção em si, emociona ao fã verdadeiro de Elvis Presley, mas não tiro a razão de Sam em não ter notado nada demais naquele dia.
Temos que ter em mente que uma pessoa como ele recebia diariamente muitos cantores à procura de um lugar ao sol. Certamente Elvis foi visto como apenas mais um dentre eles no meio da multidão. Um garoto com um visual estranho, mas que não causou grande impacto naquele dia. Não seria uma simples balada country romântica como essa que iria despertar a atenção de um homem rodado no mundo musical como Sam Phillips. Se Elvis tinha algo especial, não foi naquele dia que ele o mostrou a Sam. Na intenção de não errar, tudo o que Elvis conseguiu foi ser ordinário, comum. Como todos sabemos Elvis só seria notado quando trouxesse algo extraordinário, que fugisse dos padrões musicais de seu tempo. Isso só iria acontecer mesmo na próxima vez em que Elvis colocaria os pés na Sun. Nesse dia Elvis sentiu que para ser notado era melhor ser diferente, se transformar em algo novo, revolucionário. Foi na sessão seguinte que Elvis finalmente fez história e mudou o rumo da cultura popular do século XX. Mas essa é uma outra história...
Pablo Aluísio - abril de 2006
segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
Elvis Presley - Elvis Christmas Album (1957)
Elvis Christmas Album - Em 1957 Elvis já havia se tornado uma celebridade internacional e um sucesso incontestável. Havia estrelado três filmes de enorme êxito comercial, "Love Me Tender" (ama-me com ternura, 1956), "Loving You" (a mulher que eu amo, 1957) e "Jailhouse Rock" (o prisioneiro do rock, 1957) e estava liderando a parada dos Estados Unidos com três singles que se revezavam no primeiro lugar: "All Shook Up / That's When Your Heartaches Begin", "Teddy Bear / Loving You" e "Jailhouse Rock / Treat Me Nice". Além disso estava em primeiro lugar também com o Extended Play (compacto especial com cinco músicas) contendo toda a trilha sonora do filme "Jailhouse Rock". Como se tudo isso não bastasse havia ainda atingido a segunda colocação da Top 100 da Billboard com o single "Too Much / Playing For Keeps".
Realmente ele estava na crista da onda e num dos mais férteis períodos de sua carreira. Porém nem tudo eram flores pois Elvis estava sendo atingido de modo implacável pela imprensa norte americana, que o criticava em diversos artigos. A questão era que Elvis era chocante demais para a época e a revolução causada em razão de seu estilo musical não havia sido ainda compreendida pelos jornalistas dos anos 50. Vendo toda esta situação o empresário de Elvis, o Coronel Tom Parker, pensou num modo de melhorar a imagem de seu pupilo perante o setor mais reacionário da sociedade americana. E foi visando este objetivo que o Coronel e os executivos da RCA bolaram este disco natalino que procurava antes de tudo melhorar a situação de Elvis perante o público conservador. Como o final do ano se aproximava, nada melhor do que colocar um produto "familiar" com o nome do cantor no mercado. Elvis torceu o nariz! Músicas de natal!? Afinal qual era a do Coronel?! De qualquer forma Elvis acabou aceitando, até mesmo porque até aquele momento tudo o que tinha feito sob a orientação de Tom Parker tinha dado certo. Como não se deve mexer em time que está ganhando...
A imprensa não tardou a descobrir os planos do próximo disco do Rei do "Rock" e logo começou a satirizar Elvis pelo fato dele estar em estúdio gravando "cafonices" de natal! Essa onda de notas ruins até mesmo chegou a balançar o cantor, afinal será que o Coronel havia pisado na bola com a idéia desse disco? "Elvis Christmas Album"?! Tudo parecia um pouco forçado e fora de propósito mesmo! E o pior: não tinha nada a ver com a imagem de roqueiro rebelde construída por Elvis em seus primeiros anos. Parker rapidamente acalmou seu cliente com a seguinte frase: "Filho, eles vão se arrepender de terem escrito isso quando estivermos no primeiro lugar nas paradas! Pode confiar em mim garoto!" De qualquer forma as músicas já estavam gravadas e tudo o que restava a Elvis e aos caras da banda era esperar para ver o resultado em vendas quando o final do ano chegasse. Não havia mais como voltar atrás! Ou o disco se tornava um sucesso ou então fracassaria e humilharia completamente Elvis e sua bem consolidada imagem de rebelde sem causa. Obviamente Tom Parker estava pensando na parcela da população americana que detestava Elvis Presley e o que ele representava. Em poucas palavras: Parker queria inverter e limpar a imagem de Elvis. Já que as adolescentes e jovens já estavam conquistadas, havia chegado o momento de ganhar também a confiança das mães de suas fãs, dos pais desconfiados e dos reacionários de plantão. Parker não iria se contentar apenas com o jubilo juvenil, ele queria mais... queria a outra fatia do bolo, a outra parte da sociedade americana, essa parcela influente e principalmente rica, que iria ampliar os horizontes musicais de Elvis e trazer muitos dólares para ele e para as organizações Presley. E se para conquistar os coroas e quadradões fosse preciso bolar idéias como um disco de natal para Elvis, então que assim fosse. Tretas de Marketing?! Para Parker não, era apenas uma "ampliação de mercado", por assim dizer.
O disco foi lançado em novembro de 1957 e Parker novamente estava certo: o álbum explodiu em vendas e rapidamente chegou ao primeiro posto das principais paradas como a da revista Billboard. Para não perder o pique o Coronel ainda reservou em várias rádios importantes espaço exclusivo no horário nobre apenas para tocar o disco. Alguns fãs ficaram tenebrosos com o possível resultado. Porém essa desconfiança não durou muito, pois quando o disco chegou em suas mãos eles puderam perceber que Elvis não havia renegado seu passado e nem jogado fora o seu legado rocker. Elvis impôs seu estilo nas músicas e conseguiu gravar os primeiros "rocks de natal" da história. Apesar de toda a pressão e desconfiança assim que o disco chegou nas lojas vários articulistas que o haviam atacado anteriormente reconheceram que o LP possuía inegável valor artístico. Deram a mão à palmatória! As músicas eram bem gravadas, arranjadas e produzidas e apesar do tom nitidamente conceitual o disco poderia ser ouvido como uma boa obra pop, ideal para os jovens e pessoas mais velhas, e cujo rótulo de "cafona" não se enquadrava. Foi uma jogada de risco e sem dúvida surtiu algum efeito positivo. Tom Parker era um jogador nato e de vez em quando gostava de correr riscos. Pelo menos dessa vez ele havia conseguido vencer na roleta e ficar dentro do jogo. O álbum de natal de Elvis Presley é sem dúvida um dos grandes discos do Rei do Rock nos anos 50. Estas são as músicas do LP "Elvis Christmas Album" (LOC 1035):
SANTA CLAUS IS BACK IN TOWN (Jerry Leiber / Mike Stoller) — Blues composto pela dupla de compositores mais importante da carreira de Elvis: Leiber e Stoller. Essa canção foi escrita especialmente para Elvis sob encomenda de Tom Parker. Com destacado acompanhamento dos Jordanaires esta canção tem bom ritmo e desenvolvimento. Ela foi escrita praticamente às pressas depois que o Coronel divulgou seu projeto de colocar o Rei do Rock para cantar músicas de natal. A correria não prejudicou os resultados, apesar do baixista Bill Black ter sido criticado abertamente dentro dos estúdios por errar durante as sessões. Blackbird, como era apelidado, não era considerado um grande músico, chegando Sam Phillips a dizer que: "Bill Black era o pior baixista do mundo, tecnicamente falando, mas sabia fazer um slap como ninguém"! Quando esses atritos surgiam dentro dos estúdios Elvis procurava descontrair e melhorar o ambiente. Não era essa a primeira vez que Black falhava nas gravações e certamente nem seria a última, pois isso já tinha acontecido antes na gravação de "Baby I Don't Care" da trilha sonora de "Jailhouse Rock". Não dava para fazer boa música em um clima de tensão segundo a visão de Presley. Assim ele soltou mais uma de suas piadas e o clima geral dentro dos estúdio melhorou rapidamente. Pegando o embalo na animação promovida por ele, Elvis fez uma pequena brincadeira em cima da letra e não dispensou a inclusão de uma de suas paixões na música ao criar o seguinte verso: "You're gonna see me comin' in a big black cadillac". Apesar da sutil diversão a inovação de Elvis foi incorporada na versão oficial que saiu no disco, fazendo com que a letra original de Leiber e Stoller fosse modificada. Esse fato já havia acontecido antes quando o próprio Elvis mudou a letra de outra música de Leiber e Stoller: "Hound Dog". Apesar de adorar as canções da dupla, Elvis também não perdia a chance de dar seu toque pessoal nelas.
WHITE CRISTMAS (Irving Berlin) — Composição clássica do grande compositor norte americano Irving Berlin, considerado por muitos especialistas como um dos maiores escritores musicais daquele país. A canção, composta durante a década de 1940, foi sendo gravada diversas vezes por vários interpretes diferentes ao longo dos anos (sendo que a primeira versão foi lançada em 1942 por Bing Crosby). Cada um deles procurou imprimir seu toque pessoal e assim a música se incorporou definitivamente na cultura musical dos EUA, tanto que ainda hoje faz parte do repertório obrigatório de Natal que embala os norte americanos durante esta época do ano. Uma rara interpretação de Presley sobre uma música de Berlin, pois esse era um compositor muito mais gravado pela velha guarda, como Sinatra por exemplo e não se encaixava muito bem nos discos de um cantor como Elvis, que era um ídolo jovem nos anos 50. Tanto isso era uma verdade que a canção ainda seria lançada no disco natalino de Frank Sinatra, "A Jolly Christmas".
HERE COMES SANTA CLAUS (Gene Autry / Haldeman / Melka) — Ponto alto do disco e talvez a melhor música deste trabalho. Divertida, leve e ótima, a canção é um grande prazer sem culpas. Originalmente gravado pelo cowboy cantor Gene Autry nos anos 40, a melodia foi sugerida a Elvis pelos próprios executivos da RCA Victor, que já tinham os direitos sobre a música. Novamente Elvis teria que se superar e recriar uma antiga canção para os novos tempos. Mais uma da velha guarda, Elvis aqui procura antes de tudo modernizá-la e adaptá-la para melhor ser digerida por seu público jovem. Assim Elvis acrescenta um sabor novo e moderno a uma antiga música de natal. Foi lançada também em um compacto duplo denominado "Christmas With Elvis" juntamente com outras músicas deste LP em dezembro de 1957.
I'LL BE HOME FOR CHRISTMAS (Kent / Gannon / Ram) — Segue a mesma linha das outras canções deste disco. Como destaque pode-se citar a melodia e vocalização agradáveis. Foi lançada em um segundo compacto duplo extraído desse LP juntamente com outras músicas natalinas denominado "Elvis Sings Christmas Songs" em dezembro de 1957. A grande surpresa referente a esse EP foi que o mesmo acabou, sem pretensão nenhuma, atingindo o primeiro lugar nas paradas, coroando ainda mais o projeto de Parker e da RCA em colocar Elvis para cantar canções de natal! Aliás essa foi a última música gravada por Elvis para o disco no dia 7 setembro de 1957 no Radio Recorders
BLUE CHRISTMAS (Billy Hayes / Jay Jonhson) — Outro sucesso dos anos 40 cantada por Elvis neste disco. O Rei ainda apresentaria uma nova versão dessa mesma música no histórico "NBC TV Special" (Comeback Special) em 1968. A versão em questão pode ser conferida na respectiva trilha do especial de TV que trouxe o Rei de volta as apresentações ao vivo depois de uma longa ausência proporcionada pela série de filmes protagonizados por ele nos anos sessenta. Aliás os planos do Coronel Parker para esse especial visavam colocar não apenas uma música de natal na apresentação, mas todas elas! O plano inicial de Parker era fazer um programa inteiramente com canções natalinas. Inclusive chegou a sugerir a péssima idéia de vestir Elvis de Papai Noel! Imaginem o ridículo da cena! Dessa vez Elvis o ignorou pois suas sugestões não tinham mesmo o menor cabimento e nada estava mais longe do que ele e o produtor Steve Binder tinham em mente. Elvis sabia que o especial era essencial para ele, pois era a sua grande chance dar a volta por cima e não poderia ser desperdiçada de jeito nenhum. De qualquer forma "Blue Christmas" acabou entrando na edição final do programa apenas para acalmar os ânimos do velho empresário.
SANTA, BRING MY BABY BACK (Aaron Schroder / Claude DeMetrius) — Fechando o Lado A temos esta música em que o Rei pede a Papai Noel (Santa Claus) que ele traga sua pequena de volta aos seus braços. As músicas deste LP possuem um lugar próprio dentro da vasta discografia do cantor porque de certa forma expressam a inocência da sociedade americana dos anos cinqüenta, sentimento este que não iria sobreviver nos loucos anos sessenta. Se bem que nos bastidores dos estúdios havia de tudo, menos inocência. Novamente durante as gravações estourou uma nova crise entre o Coronel Parker e os compositores Leiber e Stoller. Tudo por causa de um evento sem maior importância. Elvis interrompeu as gravações das músicas natalinas para gravar uma música da dupla que ele havia encomendado durante as filmagens de "Jailhouse Rock". A canção se chamava "Don't" e foi gravada sem o conhecimento prévio de Parker. O Coronel quando soube da existência da gravação explodiu: "Pode dizer a esses caras que da próxima vez que eles levarem alguma música a Elvis sem falar comigo antes, estarão fora da carreira do garoto!" Esse fato demonstra duas coisas: a primeira era o medo que Parker tinha de perder o controle sobre a carreira de Elvis e a segunda era a forma como ele comandava a vida profissional (e diga-se de passagem também pessoal) de Elvis com mãos de ferro.
O LITLE TOWN OF BETHELEM (Redner / Brooks) — Canção em que o vocal de Presley se sobressai, expressando em notas musicais todo o sentimento e significado presentes no conteúdo da letra. Elvis tinha um sentimento religioso muito forte que se exteriorizava em músicas como essa. O acompanhamento de seus músicos é bem sutil, só o necessário para o cantor se expressar através de sua arte. De todas as músicas natalinas do LP essa sem dúvida é a mais intimista e introspectiva. O arranjo por sinal segue completamente o gênero Gospel, com o uso de órgãos e vocais em coral. Elvis por sua vez está em um bom momento, contido e concentrado, tudo resultando em uma agradável vocalização em quase capela. Merece ser redescoberta pelos novos fãs. Antes tarde do que nunca: o arranjo foi inteiramente creditado a Elvis.
SILENT NIGHT (Franz Gruber / Joseph Mor) — A última faixa natalina do disco. Esta é a famosa canção alemã de natal "Noite Feliz", conhecida mundialmente. Para criar o clima adequado durante as gravações o produtor Steve Sholes resolveu trazer para dentro do estúdio uma enorme árvore de natal! Elvis até mesmo brincou com o fato pois as gravações foram realizadas em setembro e não durante o período natalino. De qualquer forma valeu pela intenção, mesmo que inocente, de Sholes. Sem dúvida "Silent Night" é um dos momentos mais belos de toda a carreira de Elvis, sua versão é belíssima e faz jus a este clássico natalino. É uma pérola de natal, sendo um dos pontos mais emocionantes de todo o disco. Sem dúvida um grande momento do Rei.
PEACE IN THE VALLEY (Thomas A Dorsey) — Em Abril de 1957 Elvis lançou um compacto duplo contendo apenas músicas Gospel intitulado "Peace In The Valley". Era a primeira vez na carreira de Elvis em que ele dedicava todo um disco apenas para músicas religiosas. Assim Elvis se posicionava como um artista que não negaria suas origens, as suas raízes. O Gospel é parte fundamental na sua formação musical, o gênero musical por excelência na gênesis de sua própria musicalidade. O compacto foi bem sucedido em seu lançamento e de certa forma abriu portas para Elvis, pois desde essa época ele almejava o sonho de gravar um álbum inteiro apenas com suas canções religiosas preferidas, coisa que faria em 1960 com "His Hand In Mine". Como "Elvis Christmas Album" só possuía oito canções, o Coronel Parker resolveu incluir todas as músicas do projeto "Peace In The Valley" para completar cronologicamente o LP. E assim foi feito. Esta é a canção que deu título ao compacto e foi lançada originalmente em 1937 por Mahalia Jackson. Outra famosa versão surgiria ainda em 1951 com o cantor Red Foley. Foi essa versão aliás, uma das preferidas de Elvis, que o fez gravá-la novamente em estúdio. O cantor inclusive fez questão de apresentá-la ao vivo na televisão americana durante os anos 50 no programa de Ed Sullivan.
I BELIEVE (Drake / Graham / Shirl / Stillman) — A segunda música presente no disco que fez parte de "Peace In The Valley" (EPA 4054). Extremamente emocional para Elvis, a música ganha em grandiosidade e emoção, principalmente porque notamos nitidamente como ele se entregava completamente, de corpo e espírito, a esse sentimento religioso. Música Gospel sempre teve um significado muito grande para Elvis, provavelmente foi o primeiro tipo de canção que ele ouviu, nos cultos da assembléia de Deus, do qual fazia parte. Tinha um carinho especial por elas tendo gravado três discos exclusivamente com este gênero musical no decorrer de sua carreira: "His Hand in Mine" em 1960, "How Great Thou Art" em 1967 e "He Touched Me" em 1972. Curiosamente todos os prêmios Grammy da carreira de Elvis Presley lhes foram dados por trabalhos religiosos!
TAKE MY HAND PRECIOUS LORD (Thomas A Dorsey) — Outra que faz parte de "Peace In The Valley". "Take My Hand Precious Lord" foi particularmente complicada de finalizar. Depois de várias tentativas Elvis se deu por satisfeito e após ouvir todos os takes da sessão escolheu a que melhor lhe agradava. Mas intimamente, como confidenciou a Scotty Moore, não ficou muito certo sobre a escolha. Isso demonstra como Elvis trabalhava fixamente sobre uma canção até achar a versão definitiva. Estas quatro canções incluídas em "Peace In The Valley" foram a materialização de um dos sonhos de infância de Elvis, pois desde de criança ele almejava ser cantor de músicas religiosas. Mas de sua infância Elvis também trouxe outra ambição, essa bem menos, digamos, sacra. Na infância, ao mesmo tempo em que sonhava brilhar no mundo gospel americano, Elvis guardava também outra ambição: ser patrulheiro rodoviário! Aliás ao longo dos anos ele alimentou esses dois sonhos, o primeiro ao cantar várias canções religiosas em seus discos e o segundo colecionando uma quantidade incrível de insígnias policiais.
IT IS NO SECRET (Stuart Hamblem) — A última canção do LP é outra que também foi retirada de "Peace In The valley". A versão original foi lançada em 1950 pelo grupo Bill Kenney of the Ink Spots & The Song Spinners. A versão de Elvis Presley foi gravada no dia 19 de janeiro de 1957 em Hollywood. Estas músicas, apesar de serem resultado de um trabalho diferente de Elvis se encaixaram bem dentro do disco principalmente pelo conteúdo de suas letras. Um ótimo desfecho para o disco que se transformou em um dos mais reeditados da carreira de Elvis. Só nos EUA estima-se que "Elvis Christmas Album" foi relançado mais de 30 vezes ao longo dos anos, um recorde até mesmo para Elvis Presley, um dos artistas mais relançados da história da música mundial! Não é por menos que esse também é um dos discos mais vendidos de sua carreira.
Ficha Técnica: "Elvis Christmas Album" - Elvis Presley (voz e violão) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J.Fontana (bateria) / Dudley Brooks (piano) / Millie Kirkham (vocais) / Jordanaires (acompanhamento vocal) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Elvis Presley e Steve Sholes / Gravado nos estúdios Radio Recorders - Hollywood / Data de Gravação: 05 a 07 de setembro de 1957 / Data de Lançamento: novembro de 1957 / Melhor posição nas charts: #1 (EUA) # - (UK). "Peace In The Valley" - Elvis Presley (voz e violão) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J.Fontana (bateria) / Gordon Stoker (piano) / Dudley Brooks (piano) / Hoyt Hawkins (órgão) / Jordanaires (acompanhamento vocal) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Elvis Presley e Steve Sholes / Gravado nos estúdios Radio Recorders - Hollywood / Data de Gravação: 12 a 13 de janeiro de 1957 e 19 de janeiro de 1957 / Data de Lançamento: abril de 1957 / Melhor posição nas charts: #39 (EUA) # - (UK).
Texto escrito por PABLO ALUÍSIO - Setembro de 1999 / revisado e atualizado em novembro de 2001
Realmente ele estava na crista da onda e num dos mais férteis períodos de sua carreira. Porém nem tudo eram flores pois Elvis estava sendo atingido de modo implacável pela imprensa norte americana, que o criticava em diversos artigos. A questão era que Elvis era chocante demais para a época e a revolução causada em razão de seu estilo musical não havia sido ainda compreendida pelos jornalistas dos anos 50. Vendo toda esta situação o empresário de Elvis, o Coronel Tom Parker, pensou num modo de melhorar a imagem de seu pupilo perante o setor mais reacionário da sociedade americana. E foi visando este objetivo que o Coronel e os executivos da RCA bolaram este disco natalino que procurava antes de tudo melhorar a situação de Elvis perante o público conservador. Como o final do ano se aproximava, nada melhor do que colocar um produto "familiar" com o nome do cantor no mercado. Elvis torceu o nariz! Músicas de natal!? Afinal qual era a do Coronel?! De qualquer forma Elvis acabou aceitando, até mesmo porque até aquele momento tudo o que tinha feito sob a orientação de Tom Parker tinha dado certo. Como não se deve mexer em time que está ganhando...
A imprensa não tardou a descobrir os planos do próximo disco do Rei do "Rock" e logo começou a satirizar Elvis pelo fato dele estar em estúdio gravando "cafonices" de natal! Essa onda de notas ruins até mesmo chegou a balançar o cantor, afinal será que o Coronel havia pisado na bola com a idéia desse disco? "Elvis Christmas Album"?! Tudo parecia um pouco forçado e fora de propósito mesmo! E o pior: não tinha nada a ver com a imagem de roqueiro rebelde construída por Elvis em seus primeiros anos. Parker rapidamente acalmou seu cliente com a seguinte frase: "Filho, eles vão se arrepender de terem escrito isso quando estivermos no primeiro lugar nas paradas! Pode confiar em mim garoto!" De qualquer forma as músicas já estavam gravadas e tudo o que restava a Elvis e aos caras da banda era esperar para ver o resultado em vendas quando o final do ano chegasse. Não havia mais como voltar atrás! Ou o disco se tornava um sucesso ou então fracassaria e humilharia completamente Elvis e sua bem consolidada imagem de rebelde sem causa. Obviamente Tom Parker estava pensando na parcela da população americana que detestava Elvis Presley e o que ele representava. Em poucas palavras: Parker queria inverter e limpar a imagem de Elvis. Já que as adolescentes e jovens já estavam conquistadas, havia chegado o momento de ganhar também a confiança das mães de suas fãs, dos pais desconfiados e dos reacionários de plantão. Parker não iria se contentar apenas com o jubilo juvenil, ele queria mais... queria a outra fatia do bolo, a outra parte da sociedade americana, essa parcela influente e principalmente rica, que iria ampliar os horizontes musicais de Elvis e trazer muitos dólares para ele e para as organizações Presley. E se para conquistar os coroas e quadradões fosse preciso bolar idéias como um disco de natal para Elvis, então que assim fosse. Tretas de Marketing?! Para Parker não, era apenas uma "ampliação de mercado", por assim dizer.
O disco foi lançado em novembro de 1957 e Parker novamente estava certo: o álbum explodiu em vendas e rapidamente chegou ao primeiro posto das principais paradas como a da revista Billboard. Para não perder o pique o Coronel ainda reservou em várias rádios importantes espaço exclusivo no horário nobre apenas para tocar o disco. Alguns fãs ficaram tenebrosos com o possível resultado. Porém essa desconfiança não durou muito, pois quando o disco chegou em suas mãos eles puderam perceber que Elvis não havia renegado seu passado e nem jogado fora o seu legado rocker. Elvis impôs seu estilo nas músicas e conseguiu gravar os primeiros "rocks de natal" da história. Apesar de toda a pressão e desconfiança assim que o disco chegou nas lojas vários articulistas que o haviam atacado anteriormente reconheceram que o LP possuía inegável valor artístico. Deram a mão à palmatória! As músicas eram bem gravadas, arranjadas e produzidas e apesar do tom nitidamente conceitual o disco poderia ser ouvido como uma boa obra pop, ideal para os jovens e pessoas mais velhas, e cujo rótulo de "cafona" não se enquadrava. Foi uma jogada de risco e sem dúvida surtiu algum efeito positivo. Tom Parker era um jogador nato e de vez em quando gostava de correr riscos. Pelo menos dessa vez ele havia conseguido vencer na roleta e ficar dentro do jogo. O álbum de natal de Elvis Presley é sem dúvida um dos grandes discos do Rei do Rock nos anos 50. Estas são as músicas do LP "Elvis Christmas Album" (LOC 1035):
SANTA CLAUS IS BACK IN TOWN (Jerry Leiber / Mike Stoller) — Blues composto pela dupla de compositores mais importante da carreira de Elvis: Leiber e Stoller. Essa canção foi escrita especialmente para Elvis sob encomenda de Tom Parker. Com destacado acompanhamento dos Jordanaires esta canção tem bom ritmo e desenvolvimento. Ela foi escrita praticamente às pressas depois que o Coronel divulgou seu projeto de colocar o Rei do Rock para cantar músicas de natal. A correria não prejudicou os resultados, apesar do baixista Bill Black ter sido criticado abertamente dentro dos estúdios por errar durante as sessões. Blackbird, como era apelidado, não era considerado um grande músico, chegando Sam Phillips a dizer que: "Bill Black era o pior baixista do mundo, tecnicamente falando, mas sabia fazer um slap como ninguém"! Quando esses atritos surgiam dentro dos estúdios Elvis procurava descontrair e melhorar o ambiente. Não era essa a primeira vez que Black falhava nas gravações e certamente nem seria a última, pois isso já tinha acontecido antes na gravação de "Baby I Don't Care" da trilha sonora de "Jailhouse Rock". Não dava para fazer boa música em um clima de tensão segundo a visão de Presley. Assim ele soltou mais uma de suas piadas e o clima geral dentro dos estúdio melhorou rapidamente. Pegando o embalo na animação promovida por ele, Elvis fez uma pequena brincadeira em cima da letra e não dispensou a inclusão de uma de suas paixões na música ao criar o seguinte verso: "You're gonna see me comin' in a big black cadillac". Apesar da sutil diversão a inovação de Elvis foi incorporada na versão oficial que saiu no disco, fazendo com que a letra original de Leiber e Stoller fosse modificada. Esse fato já havia acontecido antes quando o próprio Elvis mudou a letra de outra música de Leiber e Stoller: "Hound Dog". Apesar de adorar as canções da dupla, Elvis também não perdia a chance de dar seu toque pessoal nelas.
WHITE CRISTMAS (Irving Berlin) — Composição clássica do grande compositor norte americano Irving Berlin, considerado por muitos especialistas como um dos maiores escritores musicais daquele país. A canção, composta durante a década de 1940, foi sendo gravada diversas vezes por vários interpretes diferentes ao longo dos anos (sendo que a primeira versão foi lançada em 1942 por Bing Crosby). Cada um deles procurou imprimir seu toque pessoal e assim a música se incorporou definitivamente na cultura musical dos EUA, tanto que ainda hoje faz parte do repertório obrigatório de Natal que embala os norte americanos durante esta época do ano. Uma rara interpretação de Presley sobre uma música de Berlin, pois esse era um compositor muito mais gravado pela velha guarda, como Sinatra por exemplo e não se encaixava muito bem nos discos de um cantor como Elvis, que era um ídolo jovem nos anos 50. Tanto isso era uma verdade que a canção ainda seria lançada no disco natalino de Frank Sinatra, "A Jolly Christmas".
HERE COMES SANTA CLAUS (Gene Autry / Haldeman / Melka) — Ponto alto do disco e talvez a melhor música deste trabalho. Divertida, leve e ótima, a canção é um grande prazer sem culpas. Originalmente gravado pelo cowboy cantor Gene Autry nos anos 40, a melodia foi sugerida a Elvis pelos próprios executivos da RCA Victor, que já tinham os direitos sobre a música. Novamente Elvis teria que se superar e recriar uma antiga canção para os novos tempos. Mais uma da velha guarda, Elvis aqui procura antes de tudo modernizá-la e adaptá-la para melhor ser digerida por seu público jovem. Assim Elvis acrescenta um sabor novo e moderno a uma antiga música de natal. Foi lançada também em um compacto duplo denominado "Christmas With Elvis" juntamente com outras músicas deste LP em dezembro de 1957.
I'LL BE HOME FOR CHRISTMAS (Kent / Gannon / Ram) — Segue a mesma linha das outras canções deste disco. Como destaque pode-se citar a melodia e vocalização agradáveis. Foi lançada em um segundo compacto duplo extraído desse LP juntamente com outras músicas natalinas denominado "Elvis Sings Christmas Songs" em dezembro de 1957. A grande surpresa referente a esse EP foi que o mesmo acabou, sem pretensão nenhuma, atingindo o primeiro lugar nas paradas, coroando ainda mais o projeto de Parker e da RCA em colocar Elvis para cantar canções de natal! Aliás essa foi a última música gravada por Elvis para o disco no dia 7 setembro de 1957 no Radio Recorders
BLUE CHRISTMAS (Billy Hayes / Jay Jonhson) — Outro sucesso dos anos 40 cantada por Elvis neste disco. O Rei ainda apresentaria uma nova versão dessa mesma música no histórico "NBC TV Special" (Comeback Special) em 1968. A versão em questão pode ser conferida na respectiva trilha do especial de TV que trouxe o Rei de volta as apresentações ao vivo depois de uma longa ausência proporcionada pela série de filmes protagonizados por ele nos anos sessenta. Aliás os planos do Coronel Parker para esse especial visavam colocar não apenas uma música de natal na apresentação, mas todas elas! O plano inicial de Parker era fazer um programa inteiramente com canções natalinas. Inclusive chegou a sugerir a péssima idéia de vestir Elvis de Papai Noel! Imaginem o ridículo da cena! Dessa vez Elvis o ignorou pois suas sugestões não tinham mesmo o menor cabimento e nada estava mais longe do que ele e o produtor Steve Binder tinham em mente. Elvis sabia que o especial era essencial para ele, pois era a sua grande chance dar a volta por cima e não poderia ser desperdiçada de jeito nenhum. De qualquer forma "Blue Christmas" acabou entrando na edição final do programa apenas para acalmar os ânimos do velho empresário.
SANTA, BRING MY BABY BACK (Aaron Schroder / Claude DeMetrius) — Fechando o Lado A temos esta música em que o Rei pede a Papai Noel (Santa Claus) que ele traga sua pequena de volta aos seus braços. As músicas deste LP possuem um lugar próprio dentro da vasta discografia do cantor porque de certa forma expressam a inocência da sociedade americana dos anos cinqüenta, sentimento este que não iria sobreviver nos loucos anos sessenta. Se bem que nos bastidores dos estúdios havia de tudo, menos inocência. Novamente durante as gravações estourou uma nova crise entre o Coronel Parker e os compositores Leiber e Stoller. Tudo por causa de um evento sem maior importância. Elvis interrompeu as gravações das músicas natalinas para gravar uma música da dupla que ele havia encomendado durante as filmagens de "Jailhouse Rock". A canção se chamava "Don't" e foi gravada sem o conhecimento prévio de Parker. O Coronel quando soube da existência da gravação explodiu: "Pode dizer a esses caras que da próxima vez que eles levarem alguma música a Elvis sem falar comigo antes, estarão fora da carreira do garoto!" Esse fato demonstra duas coisas: a primeira era o medo que Parker tinha de perder o controle sobre a carreira de Elvis e a segunda era a forma como ele comandava a vida profissional (e diga-se de passagem também pessoal) de Elvis com mãos de ferro.
O LITLE TOWN OF BETHELEM (Redner / Brooks) — Canção em que o vocal de Presley se sobressai, expressando em notas musicais todo o sentimento e significado presentes no conteúdo da letra. Elvis tinha um sentimento religioso muito forte que se exteriorizava em músicas como essa. O acompanhamento de seus músicos é bem sutil, só o necessário para o cantor se expressar através de sua arte. De todas as músicas natalinas do LP essa sem dúvida é a mais intimista e introspectiva. O arranjo por sinal segue completamente o gênero Gospel, com o uso de órgãos e vocais em coral. Elvis por sua vez está em um bom momento, contido e concentrado, tudo resultando em uma agradável vocalização em quase capela. Merece ser redescoberta pelos novos fãs. Antes tarde do que nunca: o arranjo foi inteiramente creditado a Elvis.
SILENT NIGHT (Franz Gruber / Joseph Mor) — A última faixa natalina do disco. Esta é a famosa canção alemã de natal "Noite Feliz", conhecida mundialmente. Para criar o clima adequado durante as gravações o produtor Steve Sholes resolveu trazer para dentro do estúdio uma enorme árvore de natal! Elvis até mesmo brincou com o fato pois as gravações foram realizadas em setembro e não durante o período natalino. De qualquer forma valeu pela intenção, mesmo que inocente, de Sholes. Sem dúvida "Silent Night" é um dos momentos mais belos de toda a carreira de Elvis, sua versão é belíssima e faz jus a este clássico natalino. É uma pérola de natal, sendo um dos pontos mais emocionantes de todo o disco. Sem dúvida um grande momento do Rei.
PEACE IN THE VALLEY (Thomas A Dorsey) — Em Abril de 1957 Elvis lançou um compacto duplo contendo apenas músicas Gospel intitulado "Peace In The Valley". Era a primeira vez na carreira de Elvis em que ele dedicava todo um disco apenas para músicas religiosas. Assim Elvis se posicionava como um artista que não negaria suas origens, as suas raízes. O Gospel é parte fundamental na sua formação musical, o gênero musical por excelência na gênesis de sua própria musicalidade. O compacto foi bem sucedido em seu lançamento e de certa forma abriu portas para Elvis, pois desde essa época ele almejava o sonho de gravar um álbum inteiro apenas com suas canções religiosas preferidas, coisa que faria em 1960 com "His Hand In Mine". Como "Elvis Christmas Album" só possuía oito canções, o Coronel Parker resolveu incluir todas as músicas do projeto "Peace In The Valley" para completar cronologicamente o LP. E assim foi feito. Esta é a canção que deu título ao compacto e foi lançada originalmente em 1937 por Mahalia Jackson. Outra famosa versão surgiria ainda em 1951 com o cantor Red Foley. Foi essa versão aliás, uma das preferidas de Elvis, que o fez gravá-la novamente em estúdio. O cantor inclusive fez questão de apresentá-la ao vivo na televisão americana durante os anos 50 no programa de Ed Sullivan.
I BELIEVE (Drake / Graham / Shirl / Stillman) — A segunda música presente no disco que fez parte de "Peace In The Valley" (EPA 4054). Extremamente emocional para Elvis, a música ganha em grandiosidade e emoção, principalmente porque notamos nitidamente como ele se entregava completamente, de corpo e espírito, a esse sentimento religioso. Música Gospel sempre teve um significado muito grande para Elvis, provavelmente foi o primeiro tipo de canção que ele ouviu, nos cultos da assembléia de Deus, do qual fazia parte. Tinha um carinho especial por elas tendo gravado três discos exclusivamente com este gênero musical no decorrer de sua carreira: "His Hand in Mine" em 1960, "How Great Thou Art" em 1967 e "He Touched Me" em 1972. Curiosamente todos os prêmios Grammy da carreira de Elvis Presley lhes foram dados por trabalhos religiosos!
TAKE MY HAND PRECIOUS LORD (Thomas A Dorsey) — Outra que faz parte de "Peace In The Valley". "Take My Hand Precious Lord" foi particularmente complicada de finalizar. Depois de várias tentativas Elvis se deu por satisfeito e após ouvir todos os takes da sessão escolheu a que melhor lhe agradava. Mas intimamente, como confidenciou a Scotty Moore, não ficou muito certo sobre a escolha. Isso demonstra como Elvis trabalhava fixamente sobre uma canção até achar a versão definitiva. Estas quatro canções incluídas em "Peace In The Valley" foram a materialização de um dos sonhos de infância de Elvis, pois desde de criança ele almejava ser cantor de músicas religiosas. Mas de sua infância Elvis também trouxe outra ambição, essa bem menos, digamos, sacra. Na infância, ao mesmo tempo em que sonhava brilhar no mundo gospel americano, Elvis guardava também outra ambição: ser patrulheiro rodoviário! Aliás ao longo dos anos ele alimentou esses dois sonhos, o primeiro ao cantar várias canções religiosas em seus discos e o segundo colecionando uma quantidade incrível de insígnias policiais.
IT IS NO SECRET (Stuart Hamblem) — A última canção do LP é outra que também foi retirada de "Peace In The valley". A versão original foi lançada em 1950 pelo grupo Bill Kenney of the Ink Spots & The Song Spinners. A versão de Elvis Presley foi gravada no dia 19 de janeiro de 1957 em Hollywood. Estas músicas, apesar de serem resultado de um trabalho diferente de Elvis se encaixaram bem dentro do disco principalmente pelo conteúdo de suas letras. Um ótimo desfecho para o disco que se transformou em um dos mais reeditados da carreira de Elvis. Só nos EUA estima-se que "Elvis Christmas Album" foi relançado mais de 30 vezes ao longo dos anos, um recorde até mesmo para Elvis Presley, um dos artistas mais relançados da história da música mundial! Não é por menos que esse também é um dos discos mais vendidos de sua carreira.
Ficha Técnica: "Elvis Christmas Album" - Elvis Presley (voz e violão) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J.Fontana (bateria) / Dudley Brooks (piano) / Millie Kirkham (vocais) / Jordanaires (acompanhamento vocal) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Elvis Presley e Steve Sholes / Gravado nos estúdios Radio Recorders - Hollywood / Data de Gravação: 05 a 07 de setembro de 1957 / Data de Lançamento: novembro de 1957 / Melhor posição nas charts: #1 (EUA) # - (UK). "Peace In The Valley" - Elvis Presley (voz e violão) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J.Fontana (bateria) / Gordon Stoker (piano) / Dudley Brooks (piano) / Hoyt Hawkins (órgão) / Jordanaires (acompanhamento vocal) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Elvis Presley e Steve Sholes / Gravado nos estúdios Radio Recorders - Hollywood / Data de Gravação: 12 a 13 de janeiro de 1957 e 19 de janeiro de 1957 / Data de Lançamento: abril de 1957 / Melhor posição nas charts: #39 (EUA) # - (UK).
Texto escrito por PABLO ALUÍSIO - Setembro de 1999 / revisado e atualizado em novembro de 2001
Elvis Presley - O Prisioneiro do Rock
Esse foi o grande sucesso de Elvis nos anos 50. Foi seu terceiro filme e o primeiro totalmente escrito e produzido para ele estrelar. Nos anteriores Elvis ainda era uma dúvida. Mesmo sendo o cantor mais popular do mundo na época não se sabia ainda se ele daria certo no cinema. Não tinha muita experiência como ator e não sabia atuar direito mas seus filmes eram estouros de bilheteria. Para muitos Jailhouse Rock é o melhor filme de Elvis, talvez só perdendo para Balada Sangrenta, de Michael Curtiz, o mesmo diretor de Casablanca. Tem bom roteiro e músicas famosas. O cantor vestido de prisioneiro acabou marcando tanto a cultura pop que até hoje a imagem é explorada em produtos como action figures, posters e brinquedos. O filme tem a famosa cena da dança dos prisioneiros que alguns consideram o primeiro videoclip da história e uma canção tema que vendeu milhões de cópias ao redor do mundo. Pena que em poucos meses Elvis seria convocado pelo exército americano o que iria interromper sua carreira por dois longos anos enquanto servia na Alemanha ocupada. Quando voltou aos EUA Elvis estrelou vários musicais água com açúcar que não chegavam nem perto da qualidade de seus primeiros filmes. Os roteiros fracos acabaram decepcionando o cantor que abandonou Hollywood definitivamente em 1969 para se dedicar novamente apenas à sua carreira de cantor de sucesso em Las Vegas e em turnês pelos EUA.
Realmente a questão chave sobre Elvis no cinema era que ele não era um ator, era um cantor que usava o cinema para vender discos. Cada um nasce com seu talento, Elvis Presley jamais poderia ser comparado a James Dean ou Marlon Brando, do mesmo modo que nenhum deles poderiam sequer tentar cantar igual a Elvis. No fundo Tom Parker, o empresário de Elvis, usava o cinema como um tremendo meio promocional para a música de Elvis e nesse aspecto o objetivo foi alcançado pois Elvis alcançou uma popularidade que nenhum outro cantor de sua época conseguiu chegar. Pois é, os filmes de Elvis mostraram que era possível arrecadar boas bilheterias com um astro do mundo da música estrelando filmes. Depois de Elvis vários astros foram para o cinema como os Beatles, Rolling Stones e até Michael Jackson (inclusive postumamente). No Brasil Roberto Carlos estrelou diversos filmes nos anos 60 só para citar um exemplo mais próximo de nós. Nenhum desses filmes eram "obras de arte" do cinema, longe disso, eram meios promocionais para os artistas e como tais devem ser encarados.
O Prisioneiro do Rock (Jailhouse Rock, EUA, 1957) Direção: Richard Thorpe / Roteiro: Guy Trosper / Elenco: Elvis Presley, Judy Tyler e Mickey Shaugnessey / Sinopse: Vince Everett (Elvis Presley é um jovem que acaba cometendo um crime sem intenção. Preso e condenado é enviado para a penitenciária do Estado. Lá conhece Hunk Houghton (Mickey Shaugnessy) que o apresenta ao mundo da música. Após ser libertado Vince decide tentar uma carreira artística. Com a ajuda da bela Peggy Van Aldern (Judy Tyler) ele tenta subir os degraus da fama e do sucesso.
Pablo Aluísio.
Realmente a questão chave sobre Elvis no cinema era que ele não era um ator, era um cantor que usava o cinema para vender discos. Cada um nasce com seu talento, Elvis Presley jamais poderia ser comparado a James Dean ou Marlon Brando, do mesmo modo que nenhum deles poderiam sequer tentar cantar igual a Elvis. No fundo Tom Parker, o empresário de Elvis, usava o cinema como um tremendo meio promocional para a música de Elvis e nesse aspecto o objetivo foi alcançado pois Elvis alcançou uma popularidade que nenhum outro cantor de sua época conseguiu chegar. Pois é, os filmes de Elvis mostraram que era possível arrecadar boas bilheterias com um astro do mundo da música estrelando filmes. Depois de Elvis vários astros foram para o cinema como os Beatles, Rolling Stones e até Michael Jackson (inclusive postumamente). No Brasil Roberto Carlos estrelou diversos filmes nos anos 60 só para citar um exemplo mais próximo de nós. Nenhum desses filmes eram "obras de arte" do cinema, longe disso, eram meios promocionais para os artistas e como tais devem ser encarados.
O Prisioneiro do Rock (Jailhouse Rock, EUA, 1957) Direção: Richard Thorpe / Roteiro: Guy Trosper / Elenco: Elvis Presley, Judy Tyler e Mickey Shaugnessey / Sinopse: Vince Everett (Elvis Presley é um jovem que acaba cometendo um crime sem intenção. Preso e condenado é enviado para a penitenciária do Estado. Lá conhece Hunk Houghton (Mickey Shaugnessy) que o apresenta ao mundo da música. Após ser libertado Vince decide tentar uma carreira artística. Com a ajuda da bela Peggy Van Aldern (Judy Tyler) ele tenta subir os degraus da fama e do sucesso.
Pablo Aluísio.
domingo, 4 de janeiro de 2009
Elvis Presley - Jailhouse Rock (1957)
JAILHOUSE ROCK (1957) - Se "Love Me Tender" foi um teste e "Loving You" a primeira tentativa de Elvis em se firmar como um astro em Hollywood, "Jailhouse Rock" é a consolidação desse objetivo. Com ótimo roteiro e um papel feito sob encomenda para Elvis, "Jailhouse Rock" foi o grande filme do cantor nos anos 50. A imagem do cantor vestido com roupas de presidiário entrou definitivamente na história da cultura pop e se tornou um dos ícones mais conhecidos do cantor em Hollywood. "Jailhouse Rock" foi o primeiro filme de Elvis pela MGM, estúdio conhecido por ter feito os maiores musicais da história do cinema. Com tanto know how o produto final não poderia sair diferente. Inclusive Elvis era visto como uma tábua de salvação para o estúdio, pois além de proporcionar ótimas bilheterias iria inevitavelmente levar o gênero musical para as platéias mais jovens. Em 1957 a era dos grandes musicais de Hollywood já ficara para trás, os grandes nomes do período de ouro desse estilo de filme estavam aposentados ou amargando um injusto ostracismo. O Rock'n'Roll de certa forma representava a linguagem dos jovens da época, que não estavam mais interessados nos passos de Gene Kelly e Fred Astaire.
Os grandes filmes da Metro como "Cantando na Chuva" ou "O Picolino" eram vistos pelos jovens roqueiros como passatempos bobos da juventude de seus pais. Sem conseguir encontrar uma via de comunicação com as novas gerações a MGM procurou se adaptar. E qual era a melhor forma de atrair essa moçada de volta aos cinemas para assistir seus grandes musicais? Ora, usando o maior ídolo dessa juventude: Elvis Presley. Imagine o choque de gerações dentro do set de filmagem. Uma equipe da velha escola tentando compreender e traduzir em película os anseios de uma juventude que eles mal conheciam. Isso se revelou perfeitamente em um fato ocorrido durante as filmagens. O coreógrafo e o diretor Richard Thorpe se encontraram com Elvis no dia em que iriam filmar a famosa cena em que ele cantaria o tema principal. Quando os dançarinos começaram a desenvolver sua coreografia Elvis se viu diante de um número completamente baseado no estilo de Fred Astaire e Gene Kelly, com aqueles passinhos de dança milimetricamente ensaiados. Além de fora de contexto o número era completamente ultrapassado segundo a visão de Elvis. Caso se apresentasse daquele jeito em um filme ele seria ridicularizado por seu público. Elvis viu que teria salvar o dia mais uma vez. Mudar tudo e começar do zero. O cantor esperou pacientemente tudo aquilo terminar e com educação sugeriu a Thorpe que iria, ele mesmo, desenvolver um número junto dos dançarinos. O que Elvis fez naquela tarde entrou para a história do cinema.
Em pouco mais de um dia de ensaios Elvis mostrou a todos como a cena deveria ser feita. Procurou determinar o local onde cada dançarino deveria estar e a forma que deveria se apresentar. Pela primeira em sua vida Elvis estava desenvolvendo um de seus mais notórios talentos, o de dançarino. Embora nunca tenha desenvolvido totalmente esse aspecto de sua personalidade artística, Elvis naquele dia se superou e conseguiu com aquele número entrar para a galeria dos grandes momentos musicais da história da MGM, lado a lado com os mestres do passado. E fez isso sem precisar adotar o estilo de ninguém, apenas confiou em sua intuição e realizou uma das cenas mais lembradas do cinema dos anos 50. O resultado final foi dos mais felizes: o filme foi elogiado pela crítica e o público lotou os cinemas mais uma vez. Fora isso o single "Jailhouse Rock / Treat Me Nice" se transformou em um dos discos mais vendidos da década. A trilha completa foi lançada em um compacto duplo com as seis canções do filme (sem nenhuma bonus song). Enfim, "Jailhouse Rock" é um dos mais vitoriosos projetos da carreira de Elvis, um momento único que captou para a posteridade toda a glória do Rei do Rock no auge de seu sucesso.
JAILHOUSE ROCK (Leiber / Stoller) - "Jailhouse Rock" é um dos maiores clássicos da história do Rock mundial. Poucas músicas conseguiram traduzir e representar toda uma época e uma geração como essa. Perfeitamente executada, com ótimo arranjo a canção é uma das mais conhecidas da carreira de Elvis Presley. Nesse dia Elvis resolveu dispensar a participação dos Jordanaires após ter gravado alguns takes com os vocalistas. Elvis acertou, a canção ganhou em ritmo e fluência. Além disso o vocal de Elvis está simplesmente visceral, tanto que ele mesmo confidenciou depois ter sido essa uma das mais difíceis de acertar. Reconhecido pelos especialistas como o melhor rock gravado por Elvis em toda a sua carreira, a canção até hoje empolga e não envelheceu nem um minuto. Tão preciso e atual é o seu arranjo que até parece que foi gravada ontem. Música título do terceiro filme estrelado por Elvis que no Brasil recebeu o nome de "O Prisioneiro do Rock", sendo que sua trilha foi lançada em um EP (compacto duplo) em outubro de 1957. Foi ainda lançada como single em setembro de 1957 com "Treat Me Nice" no lado B. O sucesso foi imediato e o single chegou ao primeiro lugar na parada americana. A cena do filme em que Elvis apresenta esta canção é considerado o melhor momento do cantor no cinema. Leiber e Stoller afirmaram posteriormente que sua intenção era "...imitar o som de pedras quebrando" o que de certa forma foi conseguido. Foi gravado em 30 de abril de 1957 nos estúdios Radio Recorders em Hollywood. Assim Elvis ignorou a intenção satírica dos autores (Jerry Leiber e Mike Stoller) e interpretou a canção com fúria. Jailhouse Rock foi o primeiro single da história a ir direto para o topo das paradas no Reino Unido em 1957. Porém a trajetória de sucesso dessa canção imortal continuou. No 70º aniversário de Elvis a música foi mais uma vez relançada em single para comemorar a data. Não deu outra, a música novamente liderou as paradas, 48 anos depois de ter sido gravada! Imortal é isso aí!
TREAT ME NICE (Leiber / Stoller) - Outra canção deliciosa de Leiber e Stoller sendo lançada como lado B de "Jailhouse Rock". Para essa canção Elvis resolveu gravar duas versões: uma no dia 30 de abril durante as gravações do filme e outra no dia 5 de setembro que acabou se tornando a definitiva e oficial. A primeira foi utilizada durante o filme e curiosamente é considerada por muitos como a melhor. Isso se deve principalmente porque o arranjo da primeira versão é bem mais soft e leve do que a da versão original, mais excessivamente produzida. De qualquer forma as duas são ótimas e podem ser conferidas sem nenhum receio. No filme Elvis fez questão de chamar um dos compositores para participar da cena em que ele a apresenta. Lá está Mike Stoller, atrás de Elvis, fazendo figuração como um dos membros da banda do cantor. Aliás é bom frisar que ele também participou das gravações da trilha sonora em estúdio. Outro grande momento da trilha sonora que é reconhecida, de forma merecida aliás, como uma das melhores de Elvis.
YOUNG AND BEAUTIFULL (A. Silver / A. Schroder) - Canção romântica que foi escrita especialmente para Elvis quebrar os corações de suas fãs adolescentes. Primeiro cantor a possuir um vasto conjunto de fãs clubes organizados nos anos 50, Elvis era considerado pelas jovens dos chamados anos dourados como o "namorado ideal", pelos fãs masculinos como um "modelo rebelde a se seguir" e pelas mães dessa moçada como "uma ameaça aos bons costumes". Embora fosse visto durante os anos 50 como um rebelde e delinquente essa imagem seria alterada profundamente em 1958 quando Elvis foi para o exército. A partir desse momento a imagem de Elvis sofreu uma profunda modificação passando a ser considerado um bom moço para até mesmo para as mães. Essa imagem de um Elvis rebelde e transgressor realmente não condizia com a verdade. Talvez por ser polêmico e considerado um sucessor legitimo de James Dean nos anos 50, o cantor era apontado de forma equivocada como o grande incentivador do aumento da delinquência juvenil dos EUA. Um mau elemento, à margem da sociedade. Nada mais longe da verdade. Elvis era apenas um garoto do sul, extremamente ligado em sua família, profundamente religioso e que procurava levar uma vida decente. Obviamente não estava aí para contestar os valores da classe média americana. Era antes de tudo uma pessoa que procurava subir na vida com seu talento.
Claro que papéis como o de Vince Everett do filme "Jailhouse Rock" contribuíram e muito para essa visão, mas tudo não passava de marketing dos estúdios. Elvis se dava bem com todos no set e principalmente com suas estrelas. Para contracenar com Elvis em "Jailhouse Rock" foi contratada a starlet em ascensão Judy Tyler. Logo nasceu uma amizade entre Elvis e ela. Ambos era novatos no cinema e procuravam antes de tudo se consolidar no meio. Mas antes mesmo de se tornar uma estrela de cinema Judy Tyler foi vítima de um destino trágico. Ela morreu logo após as filmagens em um acidente automobilístico. O fato chocou a todos, e em particular Elvis, que lamentou profundamente o passamento de sua colega de trabalho, ainda tão jovem, talentosa e com um futuro tão promissor pela frente. Não tardou muito para que "Jailhouse Rock" entrasse na lista negra de Elvis. Para evitar ficar deprimido Elvis baniu o filme de sua vida e nunca mais o assistiu. Isso inclusive iria acontecer um ano depois com "Loving You". Nesse filme Gladys Presley, mãe do Rei, aparecia em cena batendo palmas em uma das cenas. Depois que sua mãe faleceu Elvis riscou do mapa também seu segundo filme. Não queria recordar Gladys ali ao seu lado, viva e feliz. Freud Explica!
(You're So Square) BABY I DON'T CARE (Leiber / Stoller) - É outra verdadeira pérola da dupla Leiber e Stoller que foram os responsáveis por quase toda a parte musical deste fantástico filme. Um fato curioso ocorreu na sessão de gravação desta música: o baixista Bill Black não conseguiu executar de forma satisfatória a Introdução da música, então Elvis pegou o contrabaixo de Black e tocou a introdução de forma impecável, sendo esta a definitiva e a que aparece no disco. Curiosamente na cena do filme aconteceu uma coisa engraçada: sem se dar conta Scotty Moore acabou comprometendo a continuidade do filme. Nas cenas em que se mostrava Elvis em close, Scotty aparece sem óculos e nas cenas abertas com o cantor focalizado a uma certa distância, Scotty se apresenta com seus óculos pretos! Obviamente as tomadas de perto e de longe foram filmadas em ocasiões diferentes, porém na montagem final em que as duas cenas são unidas surge o erro de continuidade bem nítido. Apesar desse pequeno pecado técnico a cena em si é ótima, com Elvis animado e dançando em seu peculiar estilo.
I WANT TO BE FREE (Leiber / Stoller) - Outra canção composta por Leiber e Stoller. Dessa vez o resultado final fica um pouco abaixo da média. Nada que deponha contra o talento dos autores, mas se formos comparar com o restante da trilha sonora fica claro que o resultado fica abaixo do esperado. Novamente Elvis registrou duas versões na madrugada do dia 30 de abril (aliás, toda a trilha sonora foi praticamente gravada na mesma noite). Uma das versões foi utilizada exclusivamente no filme e a outra, oficial, lançada no EP (compacto duplo). Como sempre o Coronel Parker não deixaria a música ficar restrita à trilha do filme. Obviamente ele iria procurar uma forma de lançá-la novamente para ganhar alguns níqueis extras. E foi assim que "I Want To Be Free" foi relançada no disco "A Date With Elvis". Também no mesmo LP o Coronel ainda encaixaria "Baby I Don't Care" e "Young and Beautifull". Parker mais uma vez dava continuidade ao seu lema de vender a mesma coisa duas vezes!
DON'T LEAVE ME NOW (Schroeder / Weisman) - Novamente?! Essa canção fez parte como "bonus song" da trilha de outro filme de Elvis, "Loving You" (a mulher que eu amo, 1957). Difícil explicar o porquê desta canção ter sido incluída aqui. Inclusive, esta não é a mesma versão do filme anterior. Particularmente prefiro a versão de "Loving You", apesar da ótima introdução de piano desta. Mas enfim, de qualquer forma ela vem para enriquecer ainda mais a ótima trilha deste filme. Um belo final para um inesquecível trabalho de Elvis Presley.
Elvis Presley - Jailhouse Rock (1957): Elvis Presley (vocal, violão e baixo) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Dudley Brooks (piano) / Mike Stoller (piano) / The Jordanaires (vocais) / Arranjado por Steve Sholes e Elvis Presley / Produzido por Steve Sholes / Data de gravação: 30 de abril de 1957, exceto "Treat Me Nice" gravada em 5 de setembro de 1957 / Local de gravação: Radio Recorders, Hollywood / Data de lançamento: setembro de 1957 (single) e outubro de 1957 (Extended Play) / Melhor posição alcançada nas charts: EUA #1 e UK #1 (single) e EUA #1 e UK #18 - (Extended Play).
Texto escrito por PABLO ALUÍSIO - setembro de 2005.
Os grandes filmes da Metro como "Cantando na Chuva" ou "O Picolino" eram vistos pelos jovens roqueiros como passatempos bobos da juventude de seus pais. Sem conseguir encontrar uma via de comunicação com as novas gerações a MGM procurou se adaptar. E qual era a melhor forma de atrair essa moçada de volta aos cinemas para assistir seus grandes musicais? Ora, usando o maior ídolo dessa juventude: Elvis Presley. Imagine o choque de gerações dentro do set de filmagem. Uma equipe da velha escola tentando compreender e traduzir em película os anseios de uma juventude que eles mal conheciam. Isso se revelou perfeitamente em um fato ocorrido durante as filmagens. O coreógrafo e o diretor Richard Thorpe se encontraram com Elvis no dia em que iriam filmar a famosa cena em que ele cantaria o tema principal. Quando os dançarinos começaram a desenvolver sua coreografia Elvis se viu diante de um número completamente baseado no estilo de Fred Astaire e Gene Kelly, com aqueles passinhos de dança milimetricamente ensaiados. Além de fora de contexto o número era completamente ultrapassado segundo a visão de Elvis. Caso se apresentasse daquele jeito em um filme ele seria ridicularizado por seu público. Elvis viu que teria salvar o dia mais uma vez. Mudar tudo e começar do zero. O cantor esperou pacientemente tudo aquilo terminar e com educação sugeriu a Thorpe que iria, ele mesmo, desenvolver um número junto dos dançarinos. O que Elvis fez naquela tarde entrou para a história do cinema.
Em pouco mais de um dia de ensaios Elvis mostrou a todos como a cena deveria ser feita. Procurou determinar o local onde cada dançarino deveria estar e a forma que deveria se apresentar. Pela primeira em sua vida Elvis estava desenvolvendo um de seus mais notórios talentos, o de dançarino. Embora nunca tenha desenvolvido totalmente esse aspecto de sua personalidade artística, Elvis naquele dia se superou e conseguiu com aquele número entrar para a galeria dos grandes momentos musicais da história da MGM, lado a lado com os mestres do passado. E fez isso sem precisar adotar o estilo de ninguém, apenas confiou em sua intuição e realizou uma das cenas mais lembradas do cinema dos anos 50. O resultado final foi dos mais felizes: o filme foi elogiado pela crítica e o público lotou os cinemas mais uma vez. Fora isso o single "Jailhouse Rock / Treat Me Nice" se transformou em um dos discos mais vendidos da década. A trilha completa foi lançada em um compacto duplo com as seis canções do filme (sem nenhuma bonus song). Enfim, "Jailhouse Rock" é um dos mais vitoriosos projetos da carreira de Elvis, um momento único que captou para a posteridade toda a glória do Rei do Rock no auge de seu sucesso.
JAILHOUSE ROCK (Leiber / Stoller) - "Jailhouse Rock" é um dos maiores clássicos da história do Rock mundial. Poucas músicas conseguiram traduzir e representar toda uma época e uma geração como essa. Perfeitamente executada, com ótimo arranjo a canção é uma das mais conhecidas da carreira de Elvis Presley. Nesse dia Elvis resolveu dispensar a participação dos Jordanaires após ter gravado alguns takes com os vocalistas. Elvis acertou, a canção ganhou em ritmo e fluência. Além disso o vocal de Elvis está simplesmente visceral, tanto que ele mesmo confidenciou depois ter sido essa uma das mais difíceis de acertar. Reconhecido pelos especialistas como o melhor rock gravado por Elvis em toda a sua carreira, a canção até hoje empolga e não envelheceu nem um minuto. Tão preciso e atual é o seu arranjo que até parece que foi gravada ontem. Música título do terceiro filme estrelado por Elvis que no Brasil recebeu o nome de "O Prisioneiro do Rock", sendo que sua trilha foi lançada em um EP (compacto duplo) em outubro de 1957. Foi ainda lançada como single em setembro de 1957 com "Treat Me Nice" no lado B. O sucesso foi imediato e o single chegou ao primeiro lugar na parada americana. A cena do filme em que Elvis apresenta esta canção é considerado o melhor momento do cantor no cinema. Leiber e Stoller afirmaram posteriormente que sua intenção era "...imitar o som de pedras quebrando" o que de certa forma foi conseguido. Foi gravado em 30 de abril de 1957 nos estúdios Radio Recorders em Hollywood. Assim Elvis ignorou a intenção satírica dos autores (Jerry Leiber e Mike Stoller) e interpretou a canção com fúria. Jailhouse Rock foi o primeiro single da história a ir direto para o topo das paradas no Reino Unido em 1957. Porém a trajetória de sucesso dessa canção imortal continuou. No 70º aniversário de Elvis a música foi mais uma vez relançada em single para comemorar a data. Não deu outra, a música novamente liderou as paradas, 48 anos depois de ter sido gravada! Imortal é isso aí!
TREAT ME NICE (Leiber / Stoller) - Outra canção deliciosa de Leiber e Stoller sendo lançada como lado B de "Jailhouse Rock". Para essa canção Elvis resolveu gravar duas versões: uma no dia 30 de abril durante as gravações do filme e outra no dia 5 de setembro que acabou se tornando a definitiva e oficial. A primeira foi utilizada durante o filme e curiosamente é considerada por muitos como a melhor. Isso se deve principalmente porque o arranjo da primeira versão é bem mais soft e leve do que a da versão original, mais excessivamente produzida. De qualquer forma as duas são ótimas e podem ser conferidas sem nenhum receio. No filme Elvis fez questão de chamar um dos compositores para participar da cena em que ele a apresenta. Lá está Mike Stoller, atrás de Elvis, fazendo figuração como um dos membros da banda do cantor. Aliás é bom frisar que ele também participou das gravações da trilha sonora em estúdio. Outro grande momento da trilha sonora que é reconhecida, de forma merecida aliás, como uma das melhores de Elvis.
YOUNG AND BEAUTIFULL (A. Silver / A. Schroder) - Canção romântica que foi escrita especialmente para Elvis quebrar os corações de suas fãs adolescentes. Primeiro cantor a possuir um vasto conjunto de fãs clubes organizados nos anos 50, Elvis era considerado pelas jovens dos chamados anos dourados como o "namorado ideal", pelos fãs masculinos como um "modelo rebelde a se seguir" e pelas mães dessa moçada como "uma ameaça aos bons costumes". Embora fosse visto durante os anos 50 como um rebelde e delinquente essa imagem seria alterada profundamente em 1958 quando Elvis foi para o exército. A partir desse momento a imagem de Elvis sofreu uma profunda modificação passando a ser considerado um bom moço para até mesmo para as mães. Essa imagem de um Elvis rebelde e transgressor realmente não condizia com a verdade. Talvez por ser polêmico e considerado um sucessor legitimo de James Dean nos anos 50, o cantor era apontado de forma equivocada como o grande incentivador do aumento da delinquência juvenil dos EUA. Um mau elemento, à margem da sociedade. Nada mais longe da verdade. Elvis era apenas um garoto do sul, extremamente ligado em sua família, profundamente religioso e que procurava levar uma vida decente. Obviamente não estava aí para contestar os valores da classe média americana. Era antes de tudo uma pessoa que procurava subir na vida com seu talento.
Claro que papéis como o de Vince Everett do filme "Jailhouse Rock" contribuíram e muito para essa visão, mas tudo não passava de marketing dos estúdios. Elvis se dava bem com todos no set e principalmente com suas estrelas. Para contracenar com Elvis em "Jailhouse Rock" foi contratada a starlet em ascensão Judy Tyler. Logo nasceu uma amizade entre Elvis e ela. Ambos era novatos no cinema e procuravam antes de tudo se consolidar no meio. Mas antes mesmo de se tornar uma estrela de cinema Judy Tyler foi vítima de um destino trágico. Ela morreu logo após as filmagens em um acidente automobilístico. O fato chocou a todos, e em particular Elvis, que lamentou profundamente o passamento de sua colega de trabalho, ainda tão jovem, talentosa e com um futuro tão promissor pela frente. Não tardou muito para que "Jailhouse Rock" entrasse na lista negra de Elvis. Para evitar ficar deprimido Elvis baniu o filme de sua vida e nunca mais o assistiu. Isso inclusive iria acontecer um ano depois com "Loving You". Nesse filme Gladys Presley, mãe do Rei, aparecia em cena batendo palmas em uma das cenas. Depois que sua mãe faleceu Elvis riscou do mapa também seu segundo filme. Não queria recordar Gladys ali ao seu lado, viva e feliz. Freud Explica!
(You're So Square) BABY I DON'T CARE (Leiber / Stoller) - É outra verdadeira pérola da dupla Leiber e Stoller que foram os responsáveis por quase toda a parte musical deste fantástico filme. Um fato curioso ocorreu na sessão de gravação desta música: o baixista Bill Black não conseguiu executar de forma satisfatória a Introdução da música, então Elvis pegou o contrabaixo de Black e tocou a introdução de forma impecável, sendo esta a definitiva e a que aparece no disco. Curiosamente na cena do filme aconteceu uma coisa engraçada: sem se dar conta Scotty Moore acabou comprometendo a continuidade do filme. Nas cenas em que se mostrava Elvis em close, Scotty aparece sem óculos e nas cenas abertas com o cantor focalizado a uma certa distância, Scotty se apresenta com seus óculos pretos! Obviamente as tomadas de perto e de longe foram filmadas em ocasiões diferentes, porém na montagem final em que as duas cenas são unidas surge o erro de continuidade bem nítido. Apesar desse pequeno pecado técnico a cena em si é ótima, com Elvis animado e dançando em seu peculiar estilo.
I WANT TO BE FREE (Leiber / Stoller) - Outra canção composta por Leiber e Stoller. Dessa vez o resultado final fica um pouco abaixo da média. Nada que deponha contra o talento dos autores, mas se formos comparar com o restante da trilha sonora fica claro que o resultado fica abaixo do esperado. Novamente Elvis registrou duas versões na madrugada do dia 30 de abril (aliás, toda a trilha sonora foi praticamente gravada na mesma noite). Uma das versões foi utilizada exclusivamente no filme e a outra, oficial, lançada no EP (compacto duplo). Como sempre o Coronel Parker não deixaria a música ficar restrita à trilha do filme. Obviamente ele iria procurar uma forma de lançá-la novamente para ganhar alguns níqueis extras. E foi assim que "I Want To Be Free" foi relançada no disco "A Date With Elvis". Também no mesmo LP o Coronel ainda encaixaria "Baby I Don't Care" e "Young and Beautifull". Parker mais uma vez dava continuidade ao seu lema de vender a mesma coisa duas vezes!
DON'T LEAVE ME NOW (Schroeder / Weisman) - Novamente?! Essa canção fez parte como "bonus song" da trilha de outro filme de Elvis, "Loving You" (a mulher que eu amo, 1957). Difícil explicar o porquê desta canção ter sido incluída aqui. Inclusive, esta não é a mesma versão do filme anterior. Particularmente prefiro a versão de "Loving You", apesar da ótima introdução de piano desta. Mas enfim, de qualquer forma ela vem para enriquecer ainda mais a ótima trilha deste filme. Um belo final para um inesquecível trabalho de Elvis Presley.
Elvis Presley - Jailhouse Rock (1957): Elvis Presley (vocal, violão e baixo) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Dudley Brooks (piano) / Mike Stoller (piano) / The Jordanaires (vocais) / Arranjado por Steve Sholes e Elvis Presley / Produzido por Steve Sholes / Data de gravação: 30 de abril de 1957, exceto "Treat Me Nice" gravada em 5 de setembro de 1957 / Local de gravação: Radio Recorders, Hollywood / Data de lançamento: setembro de 1957 (single) e outubro de 1957 (Extended Play) / Melhor posição alcançada nas charts: EUA #1 e UK #1 (single) e EUA #1 e UK #18 - (Extended Play).
Texto escrito por PABLO ALUÍSIO - setembro de 2005.
Elvis Presley - Loving You (1957)
LOVING YOU (1957) - Primeira trilha sonora de Elvis Presley em formato de Long Playing (LP) contendo as músicas do filme "Loving You" da Paramount Pictures. A trilha sonora do filme anterior de Elvis, "Love Me Tender", só havia sido lançada em um compacto duplo. Como Tom Parker não dava ponto sem nó, ele logo viu que seria muito mais lucrativo colocar todas as canções em um disco inteiro. Como a duração da trilha sonora do filme não era suficiente para preencher todo o espaço de um LP, Parker colocou canções inéditas gravadas em estúdio no lado B. Essas seriam as primeiras "Bônus Songs" da carreira de Elvis. No Brasil o filme recebeu o título de "A mulher que eu amo" nos cinemas e posteriormente quando passou na TV recebeu o título de "Perdidos na Cidade". Ao contrário de "Love Me Tender" em que Elvis era apenas um dos atores que chegaram após o projeto do filme estar pronto, "Loving You" foi totalmente planejado para o cantor estrelar. Os produtores elaboraram então a fórmula "Elvis" de fazer filmes: muita música, roteiro escapista e de acordo com o gosto médio do público jovem da época. Essa forma de fazer filmes iria se desgastar ao longo do tempo, mas em 1957 ainda era uma grande novidade. O Público adorou e lotou os cinemas. Todos queriam ver a nova sensação da música mundial.
Em "Love Me Tender" as músicas foram colocadas no último minuto, o filme, um western convencional, nem tinha canções em seu roteiro original, mas como Elvis era um nome quente em 1956, os diretores musicais da 20th Century Fox se apressaram em colocar 4 músicas para Elvis cantar em cima da hora! Mas com "Loving You" as coisas fluíram de forma diferente. O roteiro já nasceu pronto para Elvis, toda a trilha foi composta especialmente para ele. Elvis estava no auge e as coisas não poderiam sair de outra forma. "Loving You" hoje é considerado um dos clássicos do Rei, um símbolo do cinema jovem feito nos anos 50, cujo roteiro foi levemente inspirado na própria história do cantor. Nada muito dramático, ao contrário, muito leve e soft. Até mesmo porque ninguém queria ver Elvis estrelar um dramalhão! Com "Loving You" Hollywood abriu definitivamente as portas para Elvis Presley. A parceria iria durar 16 anos e Elvis só iria se despedir do cinema em 1972 com o documentário "Elvis On Tour".
Durante todo esse tempo muitos filmes seriam produzidos, com tudo o que de bom e ruim que os estúdios tinham a oferecer para o cantor. "Loving You" é um grande sucesso de Elvis nos cinemas, um filme que abriu caminho para todas as produções posteriores dele. Para fazer par principal com o Rei do Rock a Paramount escalou uma starlet em ascensão: Dolores Hart. A atriz que contracenou com Elvis tinha uma promissora carreira em Hollywood. Era uma das mais prestigiadas atrizes jovens e poderia ter se tornado um nome famoso com essas produções. Mas, para surpresa de todos, abandonou a vida do cinema para se dedicar totalmente à religião, se tornado freira em uma ordem católica. De qualquer forma Dolores levou seu prêmio por "Loving You", pois ela foi a primeira atriz a beijar Elvis em cena. Estas são as canções do Long Playing "Loving You" (LPM 1515):
MEAN WOMAN BLUES (Claude DeMetrius) - Um dia depois de registrar um de seus maiores sucessos de sua carreira, "All Shook Up", Elvis entrava no Radio Recorders para gravar "Mean Woman Blues". Na verdade a canção nem foi feita especialmente para o filme, mas foi aproveitada por seu potencial cênico, aonde Elvis poderia desenvolver com desenvoltura seus requebros. Esse é um blues visceral cantado por Elvis em um determinado momento da película, passado numa lanchonete típica dos anos 50. em que ele é desafiado a provar seu talento para os jovens presentes à mesa por um caricato vilão de filmes adolescentes. Termina com a inevitável briga entre o Rei e seu oponente. A dança apresentada se tornou um dos momentos antológicos da carreira cinematográfica de Elvis, mesmo que depois tenha sido criticada por causa do posicionamento da câmera principal, que focalizou Elvis de forma errada, pois pendurado na parede atrás do cantor havia um grande par de chifres de alce. Para alguns observadores, algumas tomadas de cena colocaram Elvis em uma posição no mínimo inusitada. Pois em alguns momentos os chifres se encaixam perfeitamente com sua cabeça, dando a impressão de que o diretor quis de forma deliberada colocar "chifres" em Elvis! Cada coisa que esse pessoal percebe, convenhamos... Apesar de todas as lendas urbanas envolvendo a cena, o veredito é um só: grande cena, grande música.
(Let Me Be Your) TEDDY BEAR (Kall Mann / Bernie Lowe) - No auge do sucesso de Elvis correu um boato que ele adorava ursinhos de pelúcia. Apesar de não ser verdade o boato ganhou força e de um momento para o outro o cantor se viu num mar de bichinhos dados pelos seus fãs. Em uma entrevista Elvis afirmou que tinha guardado todos em sua casa! Para aproveitar esta história foi composto este grande sucesso, que alcançou o primeiro lugar da parada de singles da revista Billboard com "Loving You" no lado B. O single foi um campeão absoluto de vendas quando foi lançado em junho de 1957. Assim como "Mean Woman Blues", "Teddy Bear" também não fez parte das sessões de gravação da trilha sonorda do filme "Loving You". Ela foi registrada dias depois em uma sessão que só foi realizada para Elvis gravá-la. Nesse mesmo dia Presley ainda gravou uma versão "envenenada e maldita" de "One Night" chamada "One Night Of Sin". Esse take alternativo acabou se tornando bem badalado após a morte do cantor. Curiosidade: o "Teddy", nome dado ao ursinho é uma homenagem ao presidente americano Theodore Roosevelt, conhecido por suas caçadas e espírito aventureiro.
LOVING YOU (Jerry Leiber / Mike Stoller) - Música título do filme que foi gravada em três arranjos diferentes: uma versão acústica para uma determinada cena do filme, em balanço blues e a versão clássica, conhecido por todos, lenta e romântica, que está presente neste LP. A razão para tantas versões é a determinação dos diretores musicais da Paramount para que fosse gravada variações diferentes para a aprovação final do estúdio. Além disso deveria haver takes de "Loving You" suficientes para utilizar em material promocional, como trailers, divulgação em rádios, etc. Aliás "Loving You" acabou se tornando um problema para Elvis. Muitos dos takes produzidos nas sessões de janeiro de 57 foram rejeitados pela Paramount. Então Elvis deve que voltar várias vezes aos estúdios para regravar grande parte do material, tanto que a versão definitiva de "Loving You" só saiu mesmo dia 24 de fevereiro. Mesmo assim Elvis não estava completamente seguro de que aquela seria a versão ideal. Mas sem mais tempo a RCA Victor resolveu lançá-la mesmo no single junto com "Teddy Bear". O single, como já foi escrito aqui, fez grande sucesso e novamente mostrou que seus compositores, Leiber e Stoller, se firmavam cada vez mais como os principais escritores de Elvis. A música em si possui melodia e letra simples, ideal para os corações juvenis dos anos cinqüenta.
GOT A LOT O'LIVIN TO DO (Aaron Schroder / Bernie Weisman) - Ponto alto tanto no filme em que Elvis a apresenta em uma de suas melhores performances, como no disco, pois a canção é um Rock'n'Roll vibrante e empolgante. Para a cena do filme Elvis chamou seus pais para participarem como figurantes na plateia. Visualiza-se facilmente Gladys Presley, sua mãe, de roupa azul, sentada entre o público, batendo palmas ao lado do filho. Elvis fez questão que sua mãe estivesse com ele em Hollywood. Queria lhe dar o melhor, hospedá-la em hotéis de luxo e dar todo o tratamento vip que ela nunca teve na vida. Elvis queria acima de tudo cercá-la do bom e do melhor. Gladys era a força moral e espiritual que Elvis sempre podia contar. Com a morte de sua mãe, meses depois, "Loving You" se tornou um filme muito doloroso de assistir para Elvis, pois a lembrança de sua mãe ali ao seu lado seria mais presente do que nunca. Para evitar a depressão de ver novamente Gladys em cena ao seu lado, Elvis tomou uma atitude drástica: baniu de uma vez por todas o filme de sua vida. Se recusou sempre a assisti-lo novamente e nunca mais nem ao menos voltou a ouvir a trilha sonora, segundo seus amigos da máfia de Memphis. Ele se sentiu profundamente deprimido pela morte da mãe e segundo seus amigos mais íntimos nunca mais se recuperou desta perda.
LONESOME COWBOY (Sid Tepper / Roy Bennet) - Esta canção foi composta inicialmente para ser o tema título da trilha sonora do segundo filme de Elvis pois ele iria se chamar "Lonesome Cowboy". Mas esse projeto inicial foi mudado pelos executivos da Paramount. Primeiro porque outro western poderia levar alguns a confundir o novo filme com "Love Me Tender" e segundo porque era mais importante colocar Elvis em um tema mais atual e urbano, que falasse mais diretamente com o público alvo de Elvis: os jovens. A música ficou e foi encaixada em uma cena com Elvis devidamente vestido à caráter. Apesar de apresentar um bom ritmo e certa fluência, percebe-se claramente que seu arranjo ficou um pouco confuso, no meio termo entre a pretensão e a simplicidade. O resultado final acabou não indo para nenhum lado, transformando tudo numa grande confusão rítmica. "Lonesome Cowboy" foi uma das únicas músicas aproveitadas das sessões de janeiro para a Paramount. Todas as outras, ou foram descartadas ou então regravadas por Elvis depois. Esta dupla de compositores seria responsável por uma das melhores trilhas sonoras da carreira de Elvis nos anos sessenta: "G.I.Blues" (saudades de um pracinha, 1960).
HOT DOG (Jerry Leiber / Mike Stoller) - Pequena pérola composta pelos sempre ótimos Leiber e Stoller. Não confundir com "Hound Dog" dos mesmos compositores. Esta dupla foi importantíssima para a carreira do Rei do Rock, mas nunca se deram bem com o Coronel Parker. Além de cobrarem bem mais do que os demais escritores possuíam opiniões próprias que se chocavam com o próprio ponto de vista de Parker. Uma das ideias sugeridas por Leiber e Stoller a Elvis foi a realização de um musical na Broadway estrelada pelo próprio cantor. Elvis gostou muito da ideia pois teria oportunidade de atuar e o mais importante, de dançar e desenvolver novas coreografias. Apesar da ideia ter sido recebida com entusiasmo por Elvis logo foi abandonada, pois o Coronel convenceu o cantor que tal projeto "poderia ser prejudicial à sua carreira"! Esse e outros incidentes entre Parker e os autores acabaram causando o afastamento definitivo deles da carreira de Elvis em meados dos anos 60. Sem dúvida uma grande perda para o cantor.
PARTY (Jesse Mac Robinson) - Fechando o antigo lado A do LP e a parte referente aos trabalhos relativos ao filme temos esta música que cumpre seu papel de forma eficiente, parecendo até mesmo uma continuação de "Hot Dog". Ambas foram gravadas nas mesmas sessões realizadas em janeiro de 1957 no estúdios Radio Recorders em Hollywood. Apesar de ensaiar e gravar quase todos os temas da trilha sonora nessas sessões, a RCA só aproveitou como oficiais as versões de "Party", "Hot Dog" e "Lonesome Cowaboy". Todas as demais foram arquivadas ou rejeitadas pelos produtores. Muitos desses registros inclusive foram perdidos. "Party" não teve uma grande repercussão na época, era apenas um bom rock em uma época em que Elvis só estava gravando verdadeiros hinos desse ritmo. Porém ela não foi esquecida como bem demonstrou Paul McCartney em seu disco "Run Devil Run" onde ele gravou uma nova versão deste verdadeiro hino do Rock'n'Roll mundial. Um merecido reconhecimento, sem dúvida.
BLUEBERRY HILL (Rose / Lewis / Stock) - Música que abria o antigo Lado B da trilha sonora, em sua versão norte-americana. A primeira "Bonus Song" da carreira de Elvis Presley. Essa denominação era usada para músicas que não faziam parte da trilha sonora mas que eram colocadas nos LPs para completá-los cronologicamente. Uma das mais deliciosas canções dos anos 50. Se tornou bastante popular graças ao cantor e compositor de New Orleans, Fats Domino. Fats era um roqueiro atípico, primeiro porque sua vida foi um mar de tranquilidade, sem escândalos ou manchetes sensacionalistas na imprensa marrom. Segundo porque, ao contrário dos demais astros da primeira geração de roqueiros, não viu sua carreira afundar na virada da década de 50 para a de 60. Outro aspecto interessante em Fats Domino foi que ele foi um dos primeiros rockstars a irem para Las Vegas, na época considerada uma cidade fora de rota para os cantores jovens por causa do público envelhecido que frequentava os cassinos da cidade. Muito anos antes de Elvis ir de forma definitiva para Vegas, Fats já se apresentava regularmente naquela cidade. Aqui Elvis interpreta o maior sucesso de Domino, e por sua vez não deixa por menos e protagoniza uma versão de alto nível. O mais puro som dos anos 50 está aqui!.
TRUE LOVE (Porter) - Aqui Elvis Presley interpreta uma canção escrita por um dos maiores nomes da música norte americana, o músico e compositor Cole Porter. Esta canção fez parte da trilha sonora do clássico filme "Alta Sociedade", protagonizado por Bing Crosby, Frank Sinatra e Grace Kelly alguns anos antes. Inclusive Frank Sinatra gravou um disco inteiro só com canções de Cole Porter chamado "Sinatra Sings The Select Cole Porter", trabalho musical maravilhoso e obrigatório. Já Elvis apenas entrou em contato timidamente com Porter. Como era um astro jovem e Porter exigia maior sofisticação não era muito conveniente para Presley se envolver em demasia com um autor que era o preferido de Sinatra, que por sua vez detestava a turma roqueira da época.
DON'T LEAVE ME NOW (Schroeder / Weisman) - Outra "Bonus Song" que apesar de bem gravada e executada passou despercebida no lançamento do disco. Romântica e com indisfarçável gosto country a música ficaria muito bem no repertório de um Hank Williams, por exemplo. Elvis voltaria ao estúdio mais uma vez e em abril de 1957 gravaria uma nova versão dessa mesma canção, dessa vez para fazer parte da trilha de outro filme dele, "Jailhouse Rock" (o prisioneiro do rock, 1957). Não há grandes diferenças entre as duas versões, apenas uma nova introdução de piano abrindo a versão de "Jailhouse Rock". Difícil explicar o porquê desta canção ter sido incluída novamente em outra trilha sonora e em outro filme. De qualquer forma fica o registro de Elvis em duas ocasiões diversas de sua carreira interpretando a mesma canção.
HAVE I TOLD YOU LATELY THAT I LOVE YOU (Weisman) - Outra canção com toques de música country! Chega a ser impressionante a quantidade de takes alternativos dessa música, o que mostra as dificuldades de se chegar a uma versão satisfatória. O CD "Stereo 57 - Essential Elvis Vol. 2" por exemplo traz várias das tentativas de Elvis. Outra canção que não faz parte dos trabalho de "Loving You", sendo gravada no dia 19 de janeiro de 1957 em Los Angeles. Nessa mesma noite Elvis, muito inspirado por sinal, conseguiu também chegar na versões definitivas de "Blueberry Hill" e "Is It So Strange", essa última sem dúvida uma das grandes baladas na voz de Elvis Presley nos anos 50. Enfim, mais uma canção que deixa registrado novamente um belo momento de seu talento.
I NEED YOU SO (Hunter) - Fechando o disco da trilha sonora de "Loving You" Elvis apresenta uma canção de um de seus compositores preferidos, Ivory Joe Hunter. Elvis sempre admirou muito Hunter, tanto que mesmo nos anos 70, ele iria gravar várias músicas dele, como "It's Still Here" e "I Will be True", ambas lançadas no LP "Elvis" de 1973. É uma música que de certa forma repete praticamente os mesmos arranjos de "Have I told you lately that I love you?" e não acrescenta muito. Isso porém não tira seus inegáveis méritos, principalmente pelo vocal inspirado de Elvis. Um bom desfecho para o terceiro LP da carreira de Elvis Presley.
Elvis Presley - Loving You (1957): Elvis Presley (vocal, violão) / Scotty Moore (guitarra) / Tiny Timbrell (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Dudley Brooks (piano) / Gordon Stoker (piano) / Hoyt Hawkins (piano) / The Jordanaires (acompanhamento vocal) / George Fields (harmonica) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Elvis Presley e Steve Sholes / Gravado no Radio Recorders - Hollywood / Data de Gravação: 15 a 18, 21 a 22 de janeiro e 14 de fevereiro de 1957 / Data de Lançamento: julho de 1957 / Melhor posição nas charts: #1 (EUA) e #1 (UK)
Texto escrito por PABLO ALUÍSIO - Junho de 1999 / revisado e atualizado em novembro de 2001 / Reescrito em agosto de 2005.
Em "Love Me Tender" as músicas foram colocadas no último minuto, o filme, um western convencional, nem tinha canções em seu roteiro original, mas como Elvis era um nome quente em 1956, os diretores musicais da 20th Century Fox se apressaram em colocar 4 músicas para Elvis cantar em cima da hora! Mas com "Loving You" as coisas fluíram de forma diferente. O roteiro já nasceu pronto para Elvis, toda a trilha foi composta especialmente para ele. Elvis estava no auge e as coisas não poderiam sair de outra forma. "Loving You" hoje é considerado um dos clássicos do Rei, um símbolo do cinema jovem feito nos anos 50, cujo roteiro foi levemente inspirado na própria história do cantor. Nada muito dramático, ao contrário, muito leve e soft. Até mesmo porque ninguém queria ver Elvis estrelar um dramalhão! Com "Loving You" Hollywood abriu definitivamente as portas para Elvis Presley. A parceria iria durar 16 anos e Elvis só iria se despedir do cinema em 1972 com o documentário "Elvis On Tour".
Durante todo esse tempo muitos filmes seriam produzidos, com tudo o que de bom e ruim que os estúdios tinham a oferecer para o cantor. "Loving You" é um grande sucesso de Elvis nos cinemas, um filme que abriu caminho para todas as produções posteriores dele. Para fazer par principal com o Rei do Rock a Paramount escalou uma starlet em ascensão: Dolores Hart. A atriz que contracenou com Elvis tinha uma promissora carreira em Hollywood. Era uma das mais prestigiadas atrizes jovens e poderia ter se tornado um nome famoso com essas produções. Mas, para surpresa de todos, abandonou a vida do cinema para se dedicar totalmente à religião, se tornado freira em uma ordem católica. De qualquer forma Dolores levou seu prêmio por "Loving You", pois ela foi a primeira atriz a beijar Elvis em cena. Estas são as canções do Long Playing "Loving You" (LPM 1515):
MEAN WOMAN BLUES (Claude DeMetrius) - Um dia depois de registrar um de seus maiores sucessos de sua carreira, "All Shook Up", Elvis entrava no Radio Recorders para gravar "Mean Woman Blues". Na verdade a canção nem foi feita especialmente para o filme, mas foi aproveitada por seu potencial cênico, aonde Elvis poderia desenvolver com desenvoltura seus requebros. Esse é um blues visceral cantado por Elvis em um determinado momento da película, passado numa lanchonete típica dos anos 50. em que ele é desafiado a provar seu talento para os jovens presentes à mesa por um caricato vilão de filmes adolescentes. Termina com a inevitável briga entre o Rei e seu oponente. A dança apresentada se tornou um dos momentos antológicos da carreira cinematográfica de Elvis, mesmo que depois tenha sido criticada por causa do posicionamento da câmera principal, que focalizou Elvis de forma errada, pois pendurado na parede atrás do cantor havia um grande par de chifres de alce. Para alguns observadores, algumas tomadas de cena colocaram Elvis em uma posição no mínimo inusitada. Pois em alguns momentos os chifres se encaixam perfeitamente com sua cabeça, dando a impressão de que o diretor quis de forma deliberada colocar "chifres" em Elvis! Cada coisa que esse pessoal percebe, convenhamos... Apesar de todas as lendas urbanas envolvendo a cena, o veredito é um só: grande cena, grande música.
(Let Me Be Your) TEDDY BEAR (Kall Mann / Bernie Lowe) - No auge do sucesso de Elvis correu um boato que ele adorava ursinhos de pelúcia. Apesar de não ser verdade o boato ganhou força e de um momento para o outro o cantor se viu num mar de bichinhos dados pelos seus fãs. Em uma entrevista Elvis afirmou que tinha guardado todos em sua casa! Para aproveitar esta história foi composto este grande sucesso, que alcançou o primeiro lugar da parada de singles da revista Billboard com "Loving You" no lado B. O single foi um campeão absoluto de vendas quando foi lançado em junho de 1957. Assim como "Mean Woman Blues", "Teddy Bear" também não fez parte das sessões de gravação da trilha sonorda do filme "Loving You". Ela foi registrada dias depois em uma sessão que só foi realizada para Elvis gravá-la. Nesse mesmo dia Presley ainda gravou uma versão "envenenada e maldita" de "One Night" chamada "One Night Of Sin". Esse take alternativo acabou se tornando bem badalado após a morte do cantor. Curiosidade: o "Teddy", nome dado ao ursinho é uma homenagem ao presidente americano Theodore Roosevelt, conhecido por suas caçadas e espírito aventureiro.
LOVING YOU (Jerry Leiber / Mike Stoller) - Música título do filme que foi gravada em três arranjos diferentes: uma versão acústica para uma determinada cena do filme, em balanço blues e a versão clássica, conhecido por todos, lenta e romântica, que está presente neste LP. A razão para tantas versões é a determinação dos diretores musicais da Paramount para que fosse gravada variações diferentes para a aprovação final do estúdio. Além disso deveria haver takes de "Loving You" suficientes para utilizar em material promocional, como trailers, divulgação em rádios, etc. Aliás "Loving You" acabou se tornando um problema para Elvis. Muitos dos takes produzidos nas sessões de janeiro de 57 foram rejeitados pela Paramount. Então Elvis deve que voltar várias vezes aos estúdios para regravar grande parte do material, tanto que a versão definitiva de "Loving You" só saiu mesmo dia 24 de fevereiro. Mesmo assim Elvis não estava completamente seguro de que aquela seria a versão ideal. Mas sem mais tempo a RCA Victor resolveu lançá-la mesmo no single junto com "Teddy Bear". O single, como já foi escrito aqui, fez grande sucesso e novamente mostrou que seus compositores, Leiber e Stoller, se firmavam cada vez mais como os principais escritores de Elvis. A música em si possui melodia e letra simples, ideal para os corações juvenis dos anos cinqüenta.
GOT A LOT O'LIVIN TO DO (Aaron Schroder / Bernie Weisman) - Ponto alto tanto no filme em que Elvis a apresenta em uma de suas melhores performances, como no disco, pois a canção é um Rock'n'Roll vibrante e empolgante. Para a cena do filme Elvis chamou seus pais para participarem como figurantes na plateia. Visualiza-se facilmente Gladys Presley, sua mãe, de roupa azul, sentada entre o público, batendo palmas ao lado do filho. Elvis fez questão que sua mãe estivesse com ele em Hollywood. Queria lhe dar o melhor, hospedá-la em hotéis de luxo e dar todo o tratamento vip que ela nunca teve na vida. Elvis queria acima de tudo cercá-la do bom e do melhor. Gladys era a força moral e espiritual que Elvis sempre podia contar. Com a morte de sua mãe, meses depois, "Loving You" se tornou um filme muito doloroso de assistir para Elvis, pois a lembrança de sua mãe ali ao seu lado seria mais presente do que nunca. Para evitar a depressão de ver novamente Gladys em cena ao seu lado, Elvis tomou uma atitude drástica: baniu de uma vez por todas o filme de sua vida. Se recusou sempre a assisti-lo novamente e nunca mais nem ao menos voltou a ouvir a trilha sonora, segundo seus amigos da máfia de Memphis. Ele se sentiu profundamente deprimido pela morte da mãe e segundo seus amigos mais íntimos nunca mais se recuperou desta perda.
LONESOME COWBOY (Sid Tepper / Roy Bennet) - Esta canção foi composta inicialmente para ser o tema título da trilha sonora do segundo filme de Elvis pois ele iria se chamar "Lonesome Cowboy". Mas esse projeto inicial foi mudado pelos executivos da Paramount. Primeiro porque outro western poderia levar alguns a confundir o novo filme com "Love Me Tender" e segundo porque era mais importante colocar Elvis em um tema mais atual e urbano, que falasse mais diretamente com o público alvo de Elvis: os jovens. A música ficou e foi encaixada em uma cena com Elvis devidamente vestido à caráter. Apesar de apresentar um bom ritmo e certa fluência, percebe-se claramente que seu arranjo ficou um pouco confuso, no meio termo entre a pretensão e a simplicidade. O resultado final acabou não indo para nenhum lado, transformando tudo numa grande confusão rítmica. "Lonesome Cowboy" foi uma das únicas músicas aproveitadas das sessões de janeiro para a Paramount. Todas as outras, ou foram descartadas ou então regravadas por Elvis depois. Esta dupla de compositores seria responsável por uma das melhores trilhas sonoras da carreira de Elvis nos anos sessenta: "G.I.Blues" (saudades de um pracinha, 1960).
HOT DOG (Jerry Leiber / Mike Stoller) - Pequena pérola composta pelos sempre ótimos Leiber e Stoller. Não confundir com "Hound Dog" dos mesmos compositores. Esta dupla foi importantíssima para a carreira do Rei do Rock, mas nunca se deram bem com o Coronel Parker. Além de cobrarem bem mais do que os demais escritores possuíam opiniões próprias que se chocavam com o próprio ponto de vista de Parker. Uma das ideias sugeridas por Leiber e Stoller a Elvis foi a realização de um musical na Broadway estrelada pelo próprio cantor. Elvis gostou muito da ideia pois teria oportunidade de atuar e o mais importante, de dançar e desenvolver novas coreografias. Apesar da ideia ter sido recebida com entusiasmo por Elvis logo foi abandonada, pois o Coronel convenceu o cantor que tal projeto "poderia ser prejudicial à sua carreira"! Esse e outros incidentes entre Parker e os autores acabaram causando o afastamento definitivo deles da carreira de Elvis em meados dos anos 60. Sem dúvida uma grande perda para o cantor.
PARTY (Jesse Mac Robinson) - Fechando o antigo lado A do LP e a parte referente aos trabalhos relativos ao filme temos esta música que cumpre seu papel de forma eficiente, parecendo até mesmo uma continuação de "Hot Dog". Ambas foram gravadas nas mesmas sessões realizadas em janeiro de 1957 no estúdios Radio Recorders em Hollywood. Apesar de ensaiar e gravar quase todos os temas da trilha sonora nessas sessões, a RCA só aproveitou como oficiais as versões de "Party", "Hot Dog" e "Lonesome Cowaboy". Todas as demais foram arquivadas ou rejeitadas pelos produtores. Muitos desses registros inclusive foram perdidos. "Party" não teve uma grande repercussão na época, era apenas um bom rock em uma época em que Elvis só estava gravando verdadeiros hinos desse ritmo. Porém ela não foi esquecida como bem demonstrou Paul McCartney em seu disco "Run Devil Run" onde ele gravou uma nova versão deste verdadeiro hino do Rock'n'Roll mundial. Um merecido reconhecimento, sem dúvida.
BLUEBERRY HILL (Rose / Lewis / Stock) - Música que abria o antigo Lado B da trilha sonora, em sua versão norte-americana. A primeira "Bonus Song" da carreira de Elvis Presley. Essa denominação era usada para músicas que não faziam parte da trilha sonora mas que eram colocadas nos LPs para completá-los cronologicamente. Uma das mais deliciosas canções dos anos 50. Se tornou bastante popular graças ao cantor e compositor de New Orleans, Fats Domino. Fats era um roqueiro atípico, primeiro porque sua vida foi um mar de tranquilidade, sem escândalos ou manchetes sensacionalistas na imprensa marrom. Segundo porque, ao contrário dos demais astros da primeira geração de roqueiros, não viu sua carreira afundar na virada da década de 50 para a de 60. Outro aspecto interessante em Fats Domino foi que ele foi um dos primeiros rockstars a irem para Las Vegas, na época considerada uma cidade fora de rota para os cantores jovens por causa do público envelhecido que frequentava os cassinos da cidade. Muito anos antes de Elvis ir de forma definitiva para Vegas, Fats já se apresentava regularmente naquela cidade. Aqui Elvis interpreta o maior sucesso de Domino, e por sua vez não deixa por menos e protagoniza uma versão de alto nível. O mais puro som dos anos 50 está aqui!.
TRUE LOVE (Porter) - Aqui Elvis Presley interpreta uma canção escrita por um dos maiores nomes da música norte americana, o músico e compositor Cole Porter. Esta canção fez parte da trilha sonora do clássico filme "Alta Sociedade", protagonizado por Bing Crosby, Frank Sinatra e Grace Kelly alguns anos antes. Inclusive Frank Sinatra gravou um disco inteiro só com canções de Cole Porter chamado "Sinatra Sings The Select Cole Porter", trabalho musical maravilhoso e obrigatório. Já Elvis apenas entrou em contato timidamente com Porter. Como era um astro jovem e Porter exigia maior sofisticação não era muito conveniente para Presley se envolver em demasia com um autor que era o preferido de Sinatra, que por sua vez detestava a turma roqueira da época.
DON'T LEAVE ME NOW (Schroeder / Weisman) - Outra "Bonus Song" que apesar de bem gravada e executada passou despercebida no lançamento do disco. Romântica e com indisfarçável gosto country a música ficaria muito bem no repertório de um Hank Williams, por exemplo. Elvis voltaria ao estúdio mais uma vez e em abril de 1957 gravaria uma nova versão dessa mesma canção, dessa vez para fazer parte da trilha de outro filme dele, "Jailhouse Rock" (o prisioneiro do rock, 1957). Não há grandes diferenças entre as duas versões, apenas uma nova introdução de piano abrindo a versão de "Jailhouse Rock". Difícil explicar o porquê desta canção ter sido incluída novamente em outra trilha sonora e em outro filme. De qualquer forma fica o registro de Elvis em duas ocasiões diversas de sua carreira interpretando a mesma canção.
HAVE I TOLD YOU LATELY THAT I LOVE YOU (Weisman) - Outra canção com toques de música country! Chega a ser impressionante a quantidade de takes alternativos dessa música, o que mostra as dificuldades de se chegar a uma versão satisfatória. O CD "Stereo 57 - Essential Elvis Vol. 2" por exemplo traz várias das tentativas de Elvis. Outra canção que não faz parte dos trabalho de "Loving You", sendo gravada no dia 19 de janeiro de 1957 em Los Angeles. Nessa mesma noite Elvis, muito inspirado por sinal, conseguiu também chegar na versões definitivas de "Blueberry Hill" e "Is It So Strange", essa última sem dúvida uma das grandes baladas na voz de Elvis Presley nos anos 50. Enfim, mais uma canção que deixa registrado novamente um belo momento de seu talento.
I NEED YOU SO (Hunter) - Fechando o disco da trilha sonora de "Loving You" Elvis apresenta uma canção de um de seus compositores preferidos, Ivory Joe Hunter. Elvis sempre admirou muito Hunter, tanto que mesmo nos anos 70, ele iria gravar várias músicas dele, como "It's Still Here" e "I Will be True", ambas lançadas no LP "Elvis" de 1973. É uma música que de certa forma repete praticamente os mesmos arranjos de "Have I told you lately that I love you?" e não acrescenta muito. Isso porém não tira seus inegáveis méritos, principalmente pelo vocal inspirado de Elvis. Um bom desfecho para o terceiro LP da carreira de Elvis Presley.
Elvis Presley - Loving You (1957): Elvis Presley (vocal, violão) / Scotty Moore (guitarra) / Tiny Timbrell (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Dudley Brooks (piano) / Gordon Stoker (piano) / Hoyt Hawkins (piano) / The Jordanaires (acompanhamento vocal) / George Fields (harmonica) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Elvis Presley e Steve Sholes / Gravado no Radio Recorders - Hollywood / Data de Gravação: 15 a 18, 21 a 22 de janeiro e 14 de fevereiro de 1957 / Data de Lançamento: julho de 1957 / Melhor posição nas charts: #1 (EUA) e #1 (UK)
Texto escrito por PABLO ALUÍSIO - Junho de 1999 / revisado e atualizado em novembro de 2001 / Reescrito em agosto de 2005.
sábado, 3 de janeiro de 2009
Elvis Presley - Ama-me Com Ternura
Nos
últimos dias da guerra civil americana um pequeno pelotão do exército
confederado assalta uma locomotiva que trazia o soldo dos soldados da
União. Com o dinheiro em mãos (algo em torno de 12 mil dólares) decidem
voltar para sua guarnição mas são surpreendidos ao saberem que a guerra
finalmente havia chegado ao fim! O problema passa a ser o destino do
dinheiro. Eles deveriam devolvê-lo aos ianques ou ficar com ele,
repartindo entre os soldados? Após uma breve reunião decidem ficar com o
dinheiro, repartindo entre eles a quantia. Depois de acertarem tudo os
irmãos Reno, liderados por Vance Reno (Richard Egan), retornam ao seu
antigo rancho onde vivem seu irmão mais jovem e sua mãe. Vance planeja
usar o dinheiro para ajudar sua família e depois finalmente se casar com
a bela Cathy (Debra Paget), sua antiga paixão. O problema é que ao
chegar em casa acaba descobrindo que Cathy, pensando que ele estava
morto na guerra, acabou se casando com seu irmão caçula, o jovem Clint
(Elvis Presley). Como superar seus sentimentos por Cathy agora? “Love Me Tender” se chamava originalmente “The Reno Brothers” e havia sido planejado como um drama de western, explorando os conflitos familiares entre os irmãos Reno em um roteiro baseado na estória original de Maurice Geraghty, uma veterana roteirista de faroestes. Quando Elvis Presley foi encaixado no filme tudo mudou, músicas foram adicionadas no enredo e o que era mais dramático ficou levemente amenizado. A primeira vez que Elvis apareceu numa tela de cinema foi justamente nesse filme, arando as terras do rancho de sua mãe ao longe quando finalmente percebe seus irmãos retornando da guerra. Presley nunca havia atuado antes na vida e tudo foi uma enorme experiência para ele. Na verdade era apenas um jovem de 21 anos deslumbrado com a chance de fazer um filme em Hollywood. De origem humilde ele jamais poderia pensar que um dia apareceria no cinema! Embora sua atuação tenha sido criticada por alguns na época o fato é que Elvis em nenhum momento compromete o filme com sua performance. Na verdade ele demonstra boa presença de cena, mesmo nos momentos em que seu personagem exige mais. Parece estar bem à vontade contracenando com os demais atores sem mostrar qualquer tipo de nervosismo ou amadorismo.
A Fox viu a presença de Elvis no elenco como um bônus para o filme. Mal sabiam eles que a partir de seu lançamento tudo iria girar em torno de Elvis Presley. Ele era o terceiro nome no elenco mas quando a Fox viu seu potencial de bilheteria mudou a estratégia de marketing e se concentrou na figura do cantor. Novos posters foram feitos e a figura de Elvis colocada em destaque. O resultado veio nas bilheterias. Os fãs de Presley lotaram os cinemas, formando filas e mais filas nas portas das salas de exibição. Todos queriam ver Elvis na tela grande! “Love Me Tender” que não passava de uma produção B da Fox logo se tornou um dos campeões de bilheteria do ano. O saldo final foi mais do que satisfatório rendendo nove vezes mais que seu custo de produção – um resultado que mostrava a força do roqueiro Elvis para os chefões dos estúdios. Afinal os jovens formavam a maior parte do público pagante do cinema americano na época e eles simplesmente adoravam as músicas de Elvis. Muitos inclusive assistiram ao filme várias vezes aumentando ainda mais sua renda final. A música tema também chegou ao primeiro lugar nas paradas e virou um clássico instantâneo.
A presença de Elvis e o sucesso causado pelo seu público ofuscaram de certa forma uma avaliação mais isenta desse faroeste. Os que não gostavam de Elvis e sua música “selvagem” obviamente aproveitaram para desmerecer o filme em si. Bobagem. “Ama-me Com Ternura” era bem na média do que se produzia na época. Não era um faroeste ruim e nem uma bomba, pelo contrário, estava de acordo com o que os estúdios produziam nos anos 50. De certa forma poderia ser até mesmo estrelado por um Randolph Scott ou qualquer outro astro de westerns dos grandes estúdios. O diretor era o competente Robert D. Webb que já havia dirigido bons faroestes antes como “A Lei do Bravo” e sem dúvida sabia muito bem o que estava fazendo, com ou sem Elvis Presley no elenco. Esse aliás adorou tudo, o clima do set de filmagens, os ensaios, as tomadas de cena, tudo. De fato não seria a última vez que Elvis Presley iria ao velho oeste em sua carreira. Ele retornaria alguns anos depois às pradarias em filmes como “Estrela de Fogo” e “Charro” mas essa é uma outra história...
Ama-me Com Ternura (Love Me Tender, EUA, 1956) Direção: Robert D. Webb / Roteiro: Robert Buckner baseado na curta estória de Maurice Geraghty / Elenco: Richard Egan, Debra Paget, Elvis Presley, Robert Middleton, William Campbell / Sinopse: Após o fim da guerra americana Vance Reno (Richard Egan) retorna para o rancho de sua mãe mas descobre que a paixão de sua vida, a jovem Cathy (Debra Paget) se casou com seu irmão caçula, Clint Reno (Elvis Presley).
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - Love Me Tender (1956)
Um dos grandes sonhos de Elvis era se tornar ator. Para ele muitos cantores surgiam a desapareciam rapidamente, mas um bom ator poderia ter uma carreira longa e produtiva. Elvis não tinha muita confiança em seu sucesso como cantor, pois ele estava convencido que seu estrelado só iria durar pouco tempo. Além disso, pensava Elvis, um ídolo da juventude como ele estava fadado a ser superado por um novo artista mais jovem. Pois é meus amigos, Elvis não levava muita fé nesse negócio de Rock'n'Roll. Também pudera, ao longo de sua vida Elvis viu uma moda musical ser superada por outra em tempo recorde. Então quando conseguiu uma grande projeção inicial na mídia dos anos 50 Elvis sugeriu a Tom Parker que ele sondasse os grandes estúdios para saber se havia algum interesse nele em Hollywood. Parker não conhecia o esquema dos grandes executivos do cinema pois sempre havia atuado no ramo musical, mas não perdeu tempo e em poucos dias já estava circulando no meio cinematográfico de Los Angeles.
O Coronel se hospedou nos melhores e mais bem frequentados hotéis de Hollywood e procurou entrar na nata da sociedade local. Obteve êxito rapidamente pois era bastante sociável, tinha uma conversa interessante e sim, os produtores estavam muito interessados em contratar esse novo ídolo jovem, esse tal de Elvis Presley. Tom Parker era um empresário astuto e em pouco tempo estava recebendo propostas de praticamente todos os estúdios, menos da Warner Bros, pois não conseguiu ser recebido por Jack Warner. Parker ligou para Elvis e lhe disse que deveria vir imediatamente à Hollywood fazer os primeiros testes com os diretores de elenco. Ao chegar na Paramount Elvis teve uma surpresa. Ao invés de testá-lo em alguma cena com outro ator, tudo o que lhe deram foi um violão sem cordas para que ele dançasse e fizesse playback em cima da gravação de "Blue Suede Shoes". Elvis então fez seu teste (que pode ser conferido no documentário "The Great Performances") e foi aprovado. Porém antes de estrear pela Paramount o estúdio deu uma opção para Parker e o cantor.
Ele poderia iniciar em poucos dias as filmagens de um western B que estava sendo produzido pela 20th Century Fox. Atrás da suposta generosidade dos chefões da Paramount havia uma precaução compreensível antes de gastar milhões de dólares em um filme estrelado por Elvis. No fundo eles queriam antes de tudo ver como esse novo artista se saia em cena e principalmente conferir se ele tinha algum potencial comercial nas bilheterias. Caso Elvis se desse mal ninguém sairia perdendo pois a Paramount não gastaria nada e nem a Fox que iria fazer "The Reno Brothers" com ou sem Elvis. Além disso o filme teria uma produção modesta e Elvis apenas pularia de pára-quedas nele. Caso o filme fosse bem recebido a Paramount faria uma bela produção para seu segundo filme (que acabou sendo "Loving You"). Mas de simples teste, "Love Me Tender", logo se transformou em um fenômeno de bilheteria em todo o mundo. Elvis Presley havia chegado para ficar!
Love Me Tender (Presley / Matson) - Música título do primeiro filme de Elvis Presley, que no Brasil recebeu o nome de "Ama-me com Ternura" (Love Me Tender, 1956). O titulo original do filme era "The Reno Brothers", faroeste sem grande importância, estilo B da Fox, que nunca teria entrado na história se não fosse pela primeira participação de Elvis Presley no cinema. A estória se passava durante o final da guerra civil norte americana e tratava da delicada disputa de uma mulher por dois irmãos. Um deles (Richard Egan) voltava do campo de batalha e descobria, estarrecido, que sua antiga namorada (Debra Paget) estava agora casada com seu irmão mais novo (Elvis). E isso só havia acontecido porque todos estavam convencidos que ele havia morrido no campos de algodão do sul, lutando contra os exércitos da União. Já imaginou a confusão? O roteiro gira em torno desse triângulo amoroso familiar. Elvis, muito novo e com os cabelos ainda bem próximos de sua tonalidade natural, não compromete em nenhum momento, mesmo sendo sua estreia como ator. Quando lançado em 1956, "Love Me Tender" se tornou um tremendo sucesso de bilheteria.
Elvis mostrou que era um nome quente não só no mundo musical, como também na tela grande. Muitos fãs inclusive foram em peso na semana anterior ao lançamento oficial do filme apenas para assistir ao trailer que mostrava pequenos trechos de Elvis cantando! O disco acompanhou o sucesso do filme. A trilha foi lançada em um compacto duplo com "We're Gonna Move", "Let Me" e "Poor Boy" todas de autoria de Elvis Presley e Vera Matson. Era o inicio de uma carreira cinematográfica que iria contar com mais de trinta filmes. A canção "Love Me Tender", por sua vez, foi gravada em agosto de 1956 nos estúdios I da 20th Century Fox em Hollywood e lançada um mês depois em single com "Any Way You Want Me" no lado B, chegando ao primeiro lugar da Billboard na primeira semana. Elvis não contou com sua banda tradicional, os Blue Moon Boys, pois o estúdio não tinha contrato com eles e sim com músicos determinados pelo estúdio cinematográfico da Fox. Músicos profissionais do cast fixo da companhia. Mesmo um pouco fora do ambiente que lhe era familiar, Elvis, ao lado de Darby, produziu "Love me Tender" e lhe deu um arranjo bastante simples, porém muito eficiente, sentimental e belo.
Depois de registrar sua participação no estúdio Elvis aproveitou a oportunidade de se apresentar no The Ed Sullivan Show em 9 de setembro para promover a música e o filme. O sucesso foi imediato e Elvis foi assistido por mais de 50 milhões de americanos. 82,6% dos televisores dos EUA estavam sintonizados nele naquela noite. A nação parou para assistir Elvis interpretar "Love Me Tender", um recorde que só foi quebrado depois pelo assassinato do presidente Kennedy e pela apresentação em 1964 dos Beatles no mesmo programa. Tamanha repercussão levou rapidamente o disco a se tornar o primeiro da história a ter 1 milhão de cópias pré vendidas, graças à expectativa gerada em torno de seu lançamento. Um marco na carreira de Elvis e uma das canções mais identificadas com sua imagem. Um ícone romântico da cultura musical dos Estados Unidos, baseada na velha música "Aura Lee" em adaptação do maestro Ken Darby.
Poor Boy (Presley / Matson) - Outra boa canção da trilha sonora de "Love me Tender" (ama-me com ternura, 1956). Para muitos uma música apenas bobinha e sem conteúdo, para outros apenas um country fabricado em Hollywood e sem o selo de qualidade Nashville. Mas tirando toda a diversidade de opiniões, "Poor Boy" é apenas uma canção que cumpre sua função de forma eficiente durante o filme. Dá uma chance a Elvis para mostrar uma boa apresentação e cantar de forma descontraída. Essa canção, assim como todas as outras dessa trilha sonora, embora tenham sidos creditadas à autoria da dupla Elvis Presley / Vera Matson, não foram compostas por eles. Elvis praticamente nunca escrevia as músicas que cantava e seu nome foi incluído apenas para que ele participasse nos royalties da canção (Essa aliás era uma atitude bastante comum durante os anos 50). Já Vera Matson que aparece nos créditos das canções ao lado de Elvis é a esposa de Ken Darby, diretor musical da Fox. Por problemas autorais ele resolveu colocar o nome de sua mulher para dividir os créditos da canção, que inclusive foi inteiramente composta por ele.
We're Gonna Move (Presley / Matson) - Canção que foi baseada numa marchinha muito popular entre os soldados confederados durante a guerra civil americana. Outra interessante adaptação de Ken Darby. Quando a Fox trouxe Elvis para os sets de filmagens em 1956 houve até um certo debate sobre os rumos que o filme iria seguir a partir de sua entrada. Para o diretor Richard D. Webb o filme deveria seguir o roteiro original, ou seja, nada de músicas e nem destaque especial para Elvis, que no fundo iria apenas interpretar um mero papel coadjuvante. Mas sua opinião foi atropelada pela repercussão que Elvis estava tendo na mídia da época. Era praticamente impossível ignorar a presença de Presley no filme. Além do mais os fãs não iriam aceitar que o filme não tivessem músicas. Por ordens vindas da direção da Fox tudo mudou. O roteiro, antes melodramático e soturno, foi jogado para o alto e em seu lugar foi acrescentado várias cenas com Elvis cantando e exercendo seu direito óbvio de se destacar no elenco! Ken Darby foi chamado às pressas e teve que se virar para compor uma trilha sonora em cima da hora. Como não havia muito tempo mesmo para escrever material inédito, ele resolveu adaptar algumas canções folclóricas da época da guerra como "Aura Lee" (Love Me Tender) e essa que era conhecida pelos confederados como "There's a Leak in this Old Building".
Let Me (Presley / Matson) - Das que vieram para coadjuvar "Love Me Tender" no compacto duplo essa é a que melhor se sai bem. Vagamente lembrando "Poor Boy", "Let Me" é divertida, bem executada e dançante. Mas o melhor mesmo é a cena de Elvis no filme, numa performance memorável (mesmo que mal captada pelo diretor do filme, talvez propositadamente!). Um prazer ouvir e ver Elvis cantando essa canção, na flor da idade, com o futuro promissor pela frente. Impossível ficar indiferente ao seu ritmo alegre e de bom astral. Além disso o vocal de Elvis está simplesmente impagável. A cena do filme é ótima, quando ele a canta em um pequeno palco, durante uma feira de gado. Registro nota 10 de um Elvis Presley que ainda estava apenas começando a ganhar o mundo.
Elvis Presley - Love Me Tender (1956): Elvis Presley (vocal e violão) / Vito Mumolo (guitarra) / Mike Rubin (baixo) / Richard Cornell (bateria) / Luther Rountree (banjo) / Dom Frontieri e Carl Fortina (acordeon) / Rad Robinson (vocal) / Jon Dodson (vocal) / Charles Prescott (vocal) / Arranjado por Ken Darby e Elvis Presley / Produzido por Ken Darby / Data de gravação: agosto, setembro e outubro de 1956 / Local de gravação: 20th Century Fox, Stage I, Hollywood / Data de lançamento: setembro de 1956 (single) e novembro de 1956 (Extended Play) / Melhor posição alcançada nas charts: EUA #1 e UK #11 (single) e EUA #35 e UK # - (Extended Play).
Pablo Aluísio - setembro de 2005.
O Coronel se hospedou nos melhores e mais bem frequentados hotéis de Hollywood e procurou entrar na nata da sociedade local. Obteve êxito rapidamente pois era bastante sociável, tinha uma conversa interessante e sim, os produtores estavam muito interessados em contratar esse novo ídolo jovem, esse tal de Elvis Presley. Tom Parker era um empresário astuto e em pouco tempo estava recebendo propostas de praticamente todos os estúdios, menos da Warner Bros, pois não conseguiu ser recebido por Jack Warner. Parker ligou para Elvis e lhe disse que deveria vir imediatamente à Hollywood fazer os primeiros testes com os diretores de elenco. Ao chegar na Paramount Elvis teve uma surpresa. Ao invés de testá-lo em alguma cena com outro ator, tudo o que lhe deram foi um violão sem cordas para que ele dançasse e fizesse playback em cima da gravação de "Blue Suede Shoes". Elvis então fez seu teste (que pode ser conferido no documentário "The Great Performances") e foi aprovado. Porém antes de estrear pela Paramount o estúdio deu uma opção para Parker e o cantor.
Ele poderia iniciar em poucos dias as filmagens de um western B que estava sendo produzido pela 20th Century Fox. Atrás da suposta generosidade dos chefões da Paramount havia uma precaução compreensível antes de gastar milhões de dólares em um filme estrelado por Elvis. No fundo eles queriam antes de tudo ver como esse novo artista se saia em cena e principalmente conferir se ele tinha algum potencial comercial nas bilheterias. Caso Elvis se desse mal ninguém sairia perdendo pois a Paramount não gastaria nada e nem a Fox que iria fazer "The Reno Brothers" com ou sem Elvis. Além disso o filme teria uma produção modesta e Elvis apenas pularia de pára-quedas nele. Caso o filme fosse bem recebido a Paramount faria uma bela produção para seu segundo filme (que acabou sendo "Loving You"). Mas de simples teste, "Love Me Tender", logo se transformou em um fenômeno de bilheteria em todo o mundo. Elvis Presley havia chegado para ficar!
Love Me Tender (Presley / Matson) - Música título do primeiro filme de Elvis Presley, que no Brasil recebeu o nome de "Ama-me com Ternura" (Love Me Tender, 1956). O titulo original do filme era "The Reno Brothers", faroeste sem grande importância, estilo B da Fox, que nunca teria entrado na história se não fosse pela primeira participação de Elvis Presley no cinema. A estória se passava durante o final da guerra civil norte americana e tratava da delicada disputa de uma mulher por dois irmãos. Um deles (Richard Egan) voltava do campo de batalha e descobria, estarrecido, que sua antiga namorada (Debra Paget) estava agora casada com seu irmão mais novo (Elvis). E isso só havia acontecido porque todos estavam convencidos que ele havia morrido no campos de algodão do sul, lutando contra os exércitos da União. Já imaginou a confusão? O roteiro gira em torno desse triângulo amoroso familiar. Elvis, muito novo e com os cabelos ainda bem próximos de sua tonalidade natural, não compromete em nenhum momento, mesmo sendo sua estreia como ator. Quando lançado em 1956, "Love Me Tender" se tornou um tremendo sucesso de bilheteria.
Elvis mostrou que era um nome quente não só no mundo musical, como também na tela grande. Muitos fãs inclusive foram em peso na semana anterior ao lançamento oficial do filme apenas para assistir ao trailer que mostrava pequenos trechos de Elvis cantando! O disco acompanhou o sucesso do filme. A trilha foi lançada em um compacto duplo com "We're Gonna Move", "Let Me" e "Poor Boy" todas de autoria de Elvis Presley e Vera Matson. Era o inicio de uma carreira cinematográfica que iria contar com mais de trinta filmes. A canção "Love Me Tender", por sua vez, foi gravada em agosto de 1956 nos estúdios I da 20th Century Fox em Hollywood e lançada um mês depois em single com "Any Way You Want Me" no lado B, chegando ao primeiro lugar da Billboard na primeira semana. Elvis não contou com sua banda tradicional, os Blue Moon Boys, pois o estúdio não tinha contrato com eles e sim com músicos determinados pelo estúdio cinematográfico da Fox. Músicos profissionais do cast fixo da companhia. Mesmo um pouco fora do ambiente que lhe era familiar, Elvis, ao lado de Darby, produziu "Love me Tender" e lhe deu um arranjo bastante simples, porém muito eficiente, sentimental e belo.
Depois de registrar sua participação no estúdio Elvis aproveitou a oportunidade de se apresentar no The Ed Sullivan Show em 9 de setembro para promover a música e o filme. O sucesso foi imediato e Elvis foi assistido por mais de 50 milhões de americanos. 82,6% dos televisores dos EUA estavam sintonizados nele naquela noite. A nação parou para assistir Elvis interpretar "Love Me Tender", um recorde que só foi quebrado depois pelo assassinato do presidente Kennedy e pela apresentação em 1964 dos Beatles no mesmo programa. Tamanha repercussão levou rapidamente o disco a se tornar o primeiro da história a ter 1 milhão de cópias pré vendidas, graças à expectativa gerada em torno de seu lançamento. Um marco na carreira de Elvis e uma das canções mais identificadas com sua imagem. Um ícone romântico da cultura musical dos Estados Unidos, baseada na velha música "Aura Lee" em adaptação do maestro Ken Darby.
Poor Boy (Presley / Matson) - Outra boa canção da trilha sonora de "Love me Tender" (ama-me com ternura, 1956). Para muitos uma música apenas bobinha e sem conteúdo, para outros apenas um country fabricado em Hollywood e sem o selo de qualidade Nashville. Mas tirando toda a diversidade de opiniões, "Poor Boy" é apenas uma canção que cumpre sua função de forma eficiente durante o filme. Dá uma chance a Elvis para mostrar uma boa apresentação e cantar de forma descontraída. Essa canção, assim como todas as outras dessa trilha sonora, embora tenham sidos creditadas à autoria da dupla Elvis Presley / Vera Matson, não foram compostas por eles. Elvis praticamente nunca escrevia as músicas que cantava e seu nome foi incluído apenas para que ele participasse nos royalties da canção (Essa aliás era uma atitude bastante comum durante os anos 50). Já Vera Matson que aparece nos créditos das canções ao lado de Elvis é a esposa de Ken Darby, diretor musical da Fox. Por problemas autorais ele resolveu colocar o nome de sua mulher para dividir os créditos da canção, que inclusive foi inteiramente composta por ele.
We're Gonna Move (Presley / Matson) - Canção que foi baseada numa marchinha muito popular entre os soldados confederados durante a guerra civil americana. Outra interessante adaptação de Ken Darby. Quando a Fox trouxe Elvis para os sets de filmagens em 1956 houve até um certo debate sobre os rumos que o filme iria seguir a partir de sua entrada. Para o diretor Richard D. Webb o filme deveria seguir o roteiro original, ou seja, nada de músicas e nem destaque especial para Elvis, que no fundo iria apenas interpretar um mero papel coadjuvante. Mas sua opinião foi atropelada pela repercussão que Elvis estava tendo na mídia da época. Era praticamente impossível ignorar a presença de Presley no filme. Além do mais os fãs não iriam aceitar que o filme não tivessem músicas. Por ordens vindas da direção da Fox tudo mudou. O roteiro, antes melodramático e soturno, foi jogado para o alto e em seu lugar foi acrescentado várias cenas com Elvis cantando e exercendo seu direito óbvio de se destacar no elenco! Ken Darby foi chamado às pressas e teve que se virar para compor uma trilha sonora em cima da hora. Como não havia muito tempo mesmo para escrever material inédito, ele resolveu adaptar algumas canções folclóricas da época da guerra como "Aura Lee" (Love Me Tender) e essa que era conhecida pelos confederados como "There's a Leak in this Old Building".
Let Me (Presley / Matson) - Das que vieram para coadjuvar "Love Me Tender" no compacto duplo essa é a que melhor se sai bem. Vagamente lembrando "Poor Boy", "Let Me" é divertida, bem executada e dançante. Mas o melhor mesmo é a cena de Elvis no filme, numa performance memorável (mesmo que mal captada pelo diretor do filme, talvez propositadamente!). Um prazer ouvir e ver Elvis cantando essa canção, na flor da idade, com o futuro promissor pela frente. Impossível ficar indiferente ao seu ritmo alegre e de bom astral. Além disso o vocal de Elvis está simplesmente impagável. A cena do filme é ótima, quando ele a canta em um pequeno palco, durante uma feira de gado. Registro nota 10 de um Elvis Presley que ainda estava apenas começando a ganhar o mundo.
Elvis Presley - Love Me Tender (1956): Elvis Presley (vocal e violão) / Vito Mumolo (guitarra) / Mike Rubin (baixo) / Richard Cornell (bateria) / Luther Rountree (banjo) / Dom Frontieri e Carl Fortina (acordeon) / Rad Robinson (vocal) / Jon Dodson (vocal) / Charles Prescott (vocal) / Arranjado por Ken Darby e Elvis Presley / Produzido por Ken Darby / Data de gravação: agosto, setembro e outubro de 1956 / Local de gravação: 20th Century Fox, Stage I, Hollywood / Data de lançamento: setembro de 1956 (single) e novembro de 1956 (Extended Play) / Melhor posição alcançada nas charts: EUA #1 e UK #11 (single) e EUA #35 e UK # - (Extended Play).
Pablo Aluísio - setembro de 2005.
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