quinta-feira, 8 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 15

Como todas essas drogas não eram vendidas em farmácias normais Elvis começou a pesquisar em livros e guias médicos algum tipo de substância que poderia servir como substituta daquelas que eram privativas do exército americano. Foi assim que começou um de seus maiores hobbies: ler e pesquisar sobre remédios novos no mercado. Durante anos Elvis brincou de tomar drogas, muitas vezes se auto medicando, usando um guia de remédios disponíveis no mercado escrito para leigos em medicina. Este livro acabou se tornando sua leitura preferida depois da Bíblia. Elvis estava sempre querendo conhecer as novas drogas, experimentá-las e sentir seus efeitos. Muitos desses medicamentos eram produtos químicos fortíssimos que causavam forte dependência, quando não receitadas de forma adequada por médicos ou usado para combater doenças para as quais eram prescritos. Muitos deles também só podiam ser comprados por receita médica, o que fazia com que Elvis sempre procurasse travar amizade com o maior número de médicos que pudesse. Até porque ninguém saberia ao certo quando ele precisaria deles. Por essa época Elvis começou a incluir em sua lista de assalariados vários doutores de Memphis e de outras regiões. Nunca se sabia ao certo quando ele precisaria da próxima dose. Precavido, Elvis começou a prezar da companhia desses profissionais e de vez em quando jogava um carro zero KM nas mãos deles.

Todos esses profissionais de saúde sabiam que estavam na presença de uma pessoa com sérios problemas com drogas e que todos os presentes dados por Elvis só tinha um objetivo: facilitar o acesso, o caminho para a aquisição dessas substâncias. Com uma receita prescrita nas mãos, Elvis teria sinal verde para saciar seu vício, que agora o estava consumindo totalmente, dia e noite. Conforme a dependência de Elvis ia atingindo níveis absurdos, os próprios médicos começaram a temer pela excessiva quantidade de comprimidos receitados. Para driblar uma possível investigação policial, os médicos de Elvis começaram a receitar as drogas em nomes de terceiros, para algum membro da máfia de Memphis ou então até mesmo para parentes dele. Não era raro haver um frasco de remédios no criado mudo de Elvis, com os nomes de Red e Sonny West ou até mesmo de Lisa Marie na caixa de drogas. Nos frascos era possível se ler: “Droga rigorosamente controlada, seguindo normas federais de saúde, com venda permitida apenas sob prescrição médica” e abaixo: “Droga prescrita para Lisa Marie Presley”.

Apesar dos nomes diversos, toda o estoque químico era consumido apenas por uma só pessoa: Elvis. Os demais, citados nas embalagens, muitas vezes, até ignoravam a existência desses remédios. Era uma farsa macabra. Os médicos sabiam que Elvis tinha problemas de dependência, mas faziam vista grossa, principalmente se estivessem com uma Mercedes recém dada de presente por ele, estacionada na entrada de seus consultórios. Qualquer estudante de medicina do 1º ano de curso sabe reconhecer um dependente: olhos vermelhos e lacrimejantes, olhar vidrado, conversação desconexa, desinteresse pela vida pessoal, confusão mental. Para um viciado tudo o que importa é a próxima dose. Nem a família, nem o trabalho, nem questões particulares, nada mais lhe despertava interesse. Aos poucos os seus freios morais e éticos foram sendo perdidos no labirinto químico em que se afundara. Elvis sabia que as pessoas ao seu redor conheciam o seu real estado de forte dependência química. Mas para superar e abafar tudo, ele se utilizava de dois artifícios: a sua autoridade pessoal e o seu poder financeiro.

Muitos hoje afirmam que Elvis teria que sofrer uma interdição pessoal, uma intervenção da família para, de forma forçada, se internar em uma clínica de recuperação. Com isso teriam salvado sua vida. Para os defensores dessa teoria Elvis morreu também por omissão de seus parentes e amigos, que nada fizeram para reverter seu quadro lastimável. Mas isso era muito improvável nos anos 1970. Na época isso nem era comum e ninguém tinha força moral para liderar uma coisa dessas! Para aqueles que viviam às suas custas, era muito complicado iniciar qualquer forma de censura ou interdição pessoal em relação a Elvis Presley. Mesmo as pessoas mais influentes na vida dele, como o seu pai Vernon e o Coronel Parker, só conseguiam ir até um certo limite.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 14

Elvis à Venda Sob Prescrição Médica - O homem Elvis era agora mais do que nunca prisioneiro do Elvis mito. Sem oportunidade de crescer e evoluir como um ser humano normal, Elvis se via no meio de um cabo de guerra entre a imprensa e seus fãs mais exaltados. A primeira sempre estava aumentando consideravelmente qualquer deslize ou acontecimento negativo em sua vida e os fãs também pecavam, mas pelo lado oposto, pois estavam convencidos de que Elvis não seria capaz de fazer nenhum ato condenável ou censurável. Afinal, onde estava o tal falado equilíbrio que Elvis tanto tinha procurado em suas leituras de religiões orientais? O cantor nem mais sabia quem era de verdade, um ser humano real ou a capa de seu último disco? A perda de contato com a realidade foi o primeiro sinal de que Elvis estava entrando de vez num labirinto de verdades e mentiras do qual não conseguiria mais sair. Nem queria ser massacrado e nem muito menos ser endeusado por fãs que não tinham o menor conhecimento do que ele passava em sua vida íntima. Toda aquela história de rei pra lá, rei pra cá, já tinha lhe esgotado a paciência. Em um dos shows Elvis já havia inclusive chegado a se indispor pessoalmente com um grupo de fãs que havia estendido uma grande faixa o chamando de Rei. Elvis parou a música, olhou para aquilo e disse em tom de censura: “O único Rei que conheço é Jesus Cristo!”. As fãs ficaram tão sem graça que recolheram a faixa no mesmo minuto. Todos queriam que ele fosse perfeito e Elvis sabia que não era nada disso!

Ele tinha problemas e muitos! Seu maior problema agora era a forte dependência de medicamentos a que estava preso. Os primeiros remédios que tomou foram receitados ainda na adolescência para que ele superasse um velho mal que sempre o acompanhara ao longo da vida: a insônia contumaz. Os Presley eram caipiras e achavam que o fato de Elvis não dormir mais do que uma ou duas horas por noite era natural, seria uma característica normal que Elvis herdara de seus parentes paternos e que não haveria nada a fazer sobre isso. Ele teria que se acostumar com a situação e se adaptar a ela, segundo Gladys. Mas Elvis não agüentava mais ficar a noite em claro e passar o dia seguinte sentindo-se exausto e sem energia para nada. Foi por essa razão que numa manhã, antes das aulas começarem, ele próprio resolveu procurar o médico do colégio em que estudava para pedir ajuda, talvez o Doutor pudesse lhe receitar algo que o fizesse dormir melhor durante à noite. Depois desses primeiros comprimidos receitados e de seus efeitos mais do que satisfatórios, ele se convenceu que a solução de todos os seus problemas poderia ser encontrada numa simples pílula.

Pouco tempo depois Elvis foi ficando cada vez mais confortável com a situação de ele mesmo tomar as pílulas que achava que lhe seriam úteis e necessárias. O consumo desses remédios agora seria parte de sua vida até os seus últimos dias. Durante seus anos na estrada, nos anos 50, Elvis acabou sendo apresentado a outras drogas, principalmente aquelas que eram populares entre os músicos. Havia muitos estimulantes para esses profissionais segurarem o pique durante os shows e inibidores de apetite entre as excursões, pois essas eram as drogas populares entre os artistas que faziam as famosas turnês de Hank Snow. Durante uma dessas noites Elvis sentiu-se mal após tomar um milk shake estragado e ficou com receio de fazer a apresentação nessas circunstâncias, foi nesse momento que um músico da banda de Slim Whitman lhe deu um estimulante para que ele se apresentasse bem. O mal estar desapareceu rapidamente e logo após tomar o remédio Elvis sentiu-se ótimo, maravilhoso! Não tardou para ele resolver adotar o uso desse comprimido também, principalmente quando ficasse muito tempo longe de casa, na estrada, durante as jamborees.

Tomar esse tipo de droga para Elvis era complicado, pois ele não conseguia dormir direito nem se estivesse sem tomar nenhum estimulante, imagine com eles! Quando tomava esse tipo de droga Elvis ficava totalmente elétrico e não conseguia mais dormir depois dos shows de jeito nenhum! Para combater isso então ele tomava mais remédios para dormir e assim começava a roleta russa química que iria marcar toda sua vida. Nessa primeira fase de uso de drogas simples, não havia ainda o risco desses comprimidos trazerem maiores danos à saúde do cantor. O pior estava por vir. No exército Elvis foi estimulado pelo sargento de seu batalhão a ingerir uma nova geração de pílulas desenvolvidas exclusivamente para os soldados agüentarem a dura rotina de treinamentos no rigoroso inverno alemão. Aquele tipo de droga que Elvis tomava antes, nos anos 50, era brincadeira de criança perto do poder e dos efeitos dessas bolinhas do U.S. Army. Quando Elvis voltou aos Estados Unidos de seu serviço militar ele estava totalmente dependente e viciado nesse tipo de medicamento. Uma de suas maiores preocupações naquele momento era se ele teria como manter o uso dessas drogas após deixar o exército!

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 13

Lá estava Elvis novamente, recém completados 41 anos, uma idade que lhe pesava muito nas costas, fazendo com que se sentisse um velho ídolo, pelo menos em sua visão pessoal, indo gravar mais um LP de rotina para a RCA. Naquela altura Elvis não conseguia mais se imaginar como um artista de seu tempo. O outrora símbolo da juventude vinha, desde que ultrapassou a barreira dos quarenta, se queixando a amigos e familiares de sua idade. Como encarar novamente o palco e os estúdios, agora que tudo lhe parecia cinzento e sem esperança? Certamente Elvis pensou que nem os mitos envelheciam, que ele ficaria para sempre com o sorriso encantador de seus primeiros discos. Quando finalmente o peso dos anos e dos excessos lhe bateram às portas, Elvis se sentiu mais do que nunca deprimido e abalado. Não raro perguntava aos seus amigos mais próximos: “Será que os fãs ainda vão gostar de mim?” Em outras ocasiões pedia aos amigos que se ajoelhassem com ele para rezar de mãos dadas. Com os olhos fechados, umedecidos pela dor lacrimejante em seu coração, Elvis exclamava a plenos pulmões: “Meu Deus, meu Deus, me ajude, não consigo continuar! Me Dê forças meu Senhor! Me Dê forças!”

Este certamente era o estado de espírito de Elvis naquele dia, quando mais vez se sentou para gravar novas canções. 20 anos depois de suas primeiras gravações na RCA, lá estava o cantor novamente em frente ao microfone, ao lado de seus músicos e escutando suas demos. Pouca coisa mudara no método de gravação, mas o homem que ali estava certamente fora muito machucado pelos anos, pelas decepções, pelas traições, pela vida. O mundo parecia estar em suas costas, todo o peso de uma existência um tanto quanto infeliz agora lhe pesava e muito em sua vida. Encarar aquele microfone a poucos centímetros de seu rosto marcado pelas amarguras da vida era algo penoso e mortificante. O Elvis de rocks embalantes e melodias alegres ficara no passado, O Elvis dos contratos cinematográficos, de músicas enlatadas também.

Ali estava apenas o homem que sofria e que estava disposto mais uma vez a cantar sua vida, suas decepções, sua melancolia. Isso está muito bem retratado no set list das músicas. São momentos que nos falam sobre solidão (Solitaire), despedidas (The Last Farewell), mágoa (Hurt), falta de esperança (Never again), desilusão (I’ll Never Falling in Love Again). Um Elvis que não sonha mais, que apenas tenta sobreviver à melancolia insuportável das horas, dos dias que nunca passam. Um Elvis que quer se retirar do mundo que tanto o magoou. Um Elvis trágico e a caminho de seu derradeiro tour, sua derradeira música, sua nota final. Não há mais nada a sonhar, a desejar, não há mais razão para viver. Se levantar da cama para quê? Lutar para alcançar o quê? Se tudo já foi cantado e gravado, se tudo já foi apresentado, alcançado e superado, por qual razão reviver toda essa mortificante situação? Da vida ficam apenas algumas poucas boas lembranças, como os momentos ao lado de sua inesquecível mãe, cujo rosto vai se apagando com o passar dos anos. Dos tempos de pobreza, quando era feliz e não sabia. Da namoradinha Dixie e dos suados 5 dólares para levá-la ao cinema aos sábados. Do vento no cabelo ao dirigir o caminhão em seu primeiro emprego. Do violão novo, comprado com sacrifício. Das tardes na varanda aprendendo e sonhando com seus ídolos de então, deuses, lindos, faiscantes estrelas da música country. Mas agora Elvis iria sonhar com o quê? Gravar novos discos? Ele já tinha feito isso a vida inteira. Sair em turnês? Ele já tinha rodado por todas as cidades desse mundão chamado United States. Elvis não tinha mais objetivos de vida. Quando chegamos a esse ponto, morremos.

Elvis ainda resistia, mas ao gravar suas últimas faixas, ele estava morrendo lentamente. Não havia mais montanhas a subir, picos a conquistar. Não sobrara mais nada. A sala das selvas é o inicio do fim. Se a lei da selva afirma que só os fortes sobrevivem, Elvis depois de lutar por todos esses anos e sobreviver a tudo e a todos, poderia certamente se considerar um vencedor. Mas até os vencedores um dia encontram seu destino. Ele certamente estava deixando o palco para sempre. As cortinas finalmente se fechavam ao velho ídolo. Sem pompa, sem festa, só o simples silêncio da luz se apagando, calma, leve, suave...como um sonho...um sonho que um dia se tornou realidade uma única vez para um pobre garoto de Tupelo chamado simplesmente Elvis...

Pablo Aluísio.

terça-feira, 6 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 12

Tudo parecia promissor para mais outra sessão de gravação bem sucedida mas a verdade é que Elvis ainda não se sente pronto para as gravações. Ele pede para que Jarvis rode para ele alguns demos, para assim escolher as canções que lhe agradassem. Com uma folha de papel na mão, que traz as letras na íntegra, Elvis vai acompanhando as canções, em tom inaudível - seus lábios se movem, porém nenhum som é emitido, pois o Rei quer poupar sua voz para as gravações definitivas.

Conforme as execuções são feitas, Elvis vai elegendo suas preferidas e circulando-as com um pequeno traço de aprovação. As que não passam pelo seu crivo pessoal logo são descartadas. Esse método de gravação vinha acompanhando Elvis desde seus primeiros anos na RCA Victor. Ele foi utilizado pela primeira vez em Nova Iorque por Steve Sholes, velho produtor da gigante fonográfica, que logo percebeu em Elvis uma grande capacidade de memorização. Sem dúvida, Elvis podia facilmente ouvir uma demo pela primeira vez no estúdio e em poucos minutos gravar as masters definitivas. Em seus primeiros dias, na principal gravadora norte americana, havia uma grande quantidade de canções à sua disposição e tudo era decidido ali mesmo no estúdio ao lado de seu produtor. Foi assim que Elvis gravou praticamente todos os seus discos, com exceção das trilhas sonoras, pois estas já chegavam prontas e compostas e não poderiam ser desmembradas. De Hollywood o material já chegava coeso e fechado e Elvis tinha que gravar as músicas em bloco. Talvez por essa razão ele tenha se sentido tão frustrado em seus anos como ator de cinema. Sua liberdade na hora de escolher o material era totalmente cerceada. Mas isso eram águas passadas e como dizia o velho ditado: “Águas passadas não movem moinhos”.

Certamente olhar para trás era a única coisa que Elvis não queria naquele momento. Aliás esse talvez fosse um dos grandes problemas de Elvis Presley em seus últimos anos: ele estava de saco cheio de tudo! Nada mais o empolgava. Elvis já havia gravado tantos discos, feito tantos shows, que tudo agora lhe parecia repetitivo, tedioso e monótono. Tudo agora o deixava mortalmente entediado. Por isso ele mostrava tanta má vontade em gravar material novo em estúdio. Por isso havia quase sempre um certo desinteresse de sua parte na escolha das músicas que iriam estar em seu novo disco. Elvis não demonstrava mais paciência em conhecer a musicalidade dos anos 70 ou enfrentar novos desafios. Para ele tudo se resumia numa questão muito simples: cumprir seus contratos com a RCA Victor e se livrar logo de mais uma obrigação contratual. Infelizmente era isso aí. Elvis estava muito mais interessado em outros aspectos de sua vida particular do que em sua carreira musical. Se estava ali, era simplesmente por livre e espontânea pressão, tal como um burocrata que cumpre sua jornada de trabalho rotineiramente, da maneira mais maçante possível. Elvis estava ali para marcar o ponto e dar no pé o quando antes, o mais rápido possível.

De certa forma ele até mesmo tinha razão. Seu empresário nunca o deixou alcançar maiores vôos em sua trajetória. Nunca deixou Elvis correr maiores riscos. Todos os seus passos foram milimetricamente calculados. Nada mais de inovações. Com isso veio o inevitável: a estagnação artística. Até suas ambições mais simples, como um velho sonho de gravar um disco com músicas de quartetos gospel, que ele tanto gostava desde a infância, eram barrados por Parker. Preso em sua gaiola de ouro, Elvis foi ficando cada vez mais desiludido e estagnado. Não é de se espantar que tudo agora lhe parecia chato, cansado e rotineiro. Esse disco que Elvis iria gravar praticamente já tinha sido gravado várias e várias vezes nos anos anteriores. Era justamente isso que pensava. Não havia novidade nenhuma nas canções escolhidas, nos arranjos produzidos, nada. Como era bastante intuitivo Elvis sabia de tudo isso. Para ele aquilo tudo era só um filme que ele teria que assistir pela milionésima vez! Que chato, que tédio! Não condeno Elvis nesse ponto. O tempo passou e ele ficou tristemente estacionado em um só ponto. Seu potencial e seu talento, de certa forma, estavam novamente sendo desperdiçados, como inclusive já havia acontecido tantas vezes antes em sua carreira. Agora ele sentia que, por causa de sua idade, não teria mais forças para enfrentar Tom Parker e sua máquina. O jogo estava perto do fim.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 11

No dia 2 de fevereiro de 1976 Elvis finalmente desceu as escadas que levavam ao seu quarto, eterno refúgio e abrigo, para gravar o tão esperado álbum novo para a RCA Victor. Ele entrou no estúdio em silêncio e calmamente, olhou de lado e sentou-se no centro do desarrumado “estúdio improvisado”, como sempre fazia desde seus primeiros tempos na Sun Records. Elvis sentia-se melhor com a banda bem próxima, com seus músicos ao redor e seus vocalistas virados contra ele, pois segundo ele próprio, “podia sentir melhor a música”. Na sua frente um pequeno móvel para colocar suas letras, seus óculos e demais acessórios; ao seu lado o violão, disposto e pronto com sua afinação preferida, caso quisesse utilizá-lo. Um copo d’água, algumas toalhas para enxugar o rosto durante as sessões e nada mais. Elvis também pedia para que fosse colocada uma iluminação suave no ambiente. O cantor estava sofrendo de problemas oculares nessa época, pois sua retina já havia sido bastante prejudicada pelas imensas luzes de palco.

De tempos em tempos Elvis tinha que se submeter a algum tratamento nesse sentido. Outra exigência não escrita: Elvis não admitia mais em suas sessões o uso de máquinas fotográficas ou câmeras de filmagens. No estúdio o cantor queria antes de tudo privacidade e tranqüilidade. Ele só admitia abrir alguma exceção se fosse uma situação expressa em seu contrato, se fosse determinante para fazer parte de algum filme como no "Elvis On Tour", por exemplo. Fora isso, nada de registrar seus momentos de trabalho dentro dos estúdios. No máximo ele topava tirar uma foto com todos os músicos que gravaram ao seu lado, como quase sempre fazia em suas primeiras sessões de 1969 e no começo dos anos 70, mas era só isso. Nada de maiores concessões.

Quanto mais relaxado e calmo o ambiente para ele, melhor. Nesse ponto ele poderia ficar tranqüilo, pois além de acolhedora a sala das Selvas era afinal de contas a sua casa. Não haveria lugar no mundo melhor para ele do que em Graceland. Nesse ponto ele estava totalmente à vontade. Isso era tudo o que Elvis necessitava para começar a produzir sua arte, nem mais, nem menos do que isso. A entrada de Elvis no estúdio sempre era um momento de tensão para os demais músicos. Todos tinham que esperar as primeiras reações dele para começar a expressar alguma atitude, para saber como se comportar dali para frente. Elvis poderia aparecer de bom humor e rindo e nesse caso todos deveriam acompanhá-lo em seu ânimo festivo e soltar boas vibrações sobre ele, mas também poderia acontecer de Elvis aparecer com péssimo humor e se essa fosse a situação todo cuidado era pouco, pois qualquer piada fora do lugar poderia despertar a fúria do Rei, que tinha péssimo gênio.

Todos ainda se lembravam de um fato acontecido que demonstrava nitidamente como Elvis poderia ser uma pessoa difícil dentro dos estúdios, quando estava num mal dia: durante uma das sessões em Nashville, anos atrás, um vocalista pegou Elvis em um desses dias infernais. O sujeito não conseguia acertar o tom certo que Elvis queria e começou a rir da situação. Elvis certamente pensou que ele estava de alguma foram rindo dele ou fazendo algum tipo de piada! Depois de repetir a mesma música várias vezes Elvis explodiu e jogou o microfone no chão gritando: "Eu já cantei essa merda de música mil vezes e você ainda não sabe sua parte!?" O pior aconteceu depois quando os caras da máfia de Memphis partiram para cima do pobre músico, que só não foi espancado violentamente por Red e Sonny por causa de Felton Jarvis que tomou à frente deles e ficou entre os truculentos guarda costas e o músico, que à esta altura estava totalmente aterrorizado!

Esse ato de coragem por parte do produtor evitou que uma barbaridade fosse cometida dentro do estúdio de gravação! Depois desse incidente todo cuidado era pouco! Por isso a partir desse dia, ninguém diz nada, nem fala nada antes de Elvis revelar seu humor. Ninguém se atreve a correr o sério risco de cometer um crime de lesa majestade. Mas ao que tudo indica, finalmente depois de tantas confusões, parece que nesse primeiro dia de gravações na sala das selvas o Rei do Rock está sereno. Aos poucos seus músicos chegam para cumprimentá-lo, a começar pelo seu amigo Charlie Hodge, seguido do produtor Felton Jarvis que logo percebe que Elvis está em um bom dia. “Vamos lá pessoal, vamos ensaiar algo e depois registramos, ok?” grita em tom de empolgação o velho maestro.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 10

O Rei apenas ficava curtindo a cena em seus aposentos, rindo e se divertindo com o jeito impaciente e ansioso de seu produtor. Mas entre uma risada e outra uma “loucura” apareceu na cabeça de Elvis. Lá em cima o cantor havia tido uma idéia assustadora. Elvis começou a espalhar seu arsenal de armas pelo chão do quarto e chamou os caras da máfia de Memphis. “Tive uma idéia, uma grande idéia, não há como dar errado!” - dizia Elvis empolgado! “Vamos exterminar os traficantes de Memphis hoje à noite!” Todos ficaram completamente atônicos com o que Elvis acabara de dizer! Como é que é!? Os caras da máfia de Memphis olhavam uns para os outros sem acreditar no que Elvis dizia!

“Esses caras estão por aí, a polícia há anos querem pegá-los, Rick está com problemas. Vamos pegá-los hoje. Faremos uma emboscada, depois volto para Graceland para gravar o disco. Será um álibi perfeito! Vamos explodir os miolos deles, onde está aquele meu distintivo?” Enquanto Elvis buscava sua insígnia de agente federal, todos ficavam pasmos! Era demais! Como é que todos iriam sair dessa?! Ninguém ali era um assassino!!! Elvis estava completamente fora de si, tagarelando e falando asneiras, uma atrás da outra! Joe percebeu que Elvis estava agindo daquela forma por causa dos remédios tomados por ele, como estimulantes e antidepressivos. Ao misturar tudo Elvis ficou elétrico, tendo idéias malucas, totalmente fora de propósito.

O Dr Nick foi chamado às pressas para Graceland, antes que Elvis pudesse fazer uma besteira. Quando o Dr Nick chegou na mansão percebeu a situação completamente caótica: lá embaixo o grupo de Elvis e a RCA esperando o cantor descer para gravar seu disco e lá em cima Elvis tentando convencer a máfia de Memphis a limpar as ruas dos traficantes de drogas. Era surreal! Logo o médico lhe aplicou uma injeção para tranqüilizá-lo e fazer com que voltasse ao normal. “Diabos, vamos lá pessoal, vamos limpar a cidade!” - ainda disse Elvis em um último apelo. Porém aos poucos, após tomar uma nova medicação, ele foi se acalmando e recuperando a razão.

 O relógio chegava perto da meia noite quando finalmente Elvis desceu as escadas de seu quarto, devagar, lentamente, um degrau por vez...bem lentamente. Quando todos esperavam que a dose de confusões havia se esgotado, Elvis aprontou mais uma! Quando entrou no recinto todos levaram um susto. Elvis trazia à mão uma metralhadora privativa do exército israelense. Visivelmente alterado pelo abuso de drogas Elvis sentou-se e chamou os rapazes da banda para dar uma olhadinha na “belezinha” que ele havia acabado de comprar. Chegou ao ponto de apontar para o caríssimo equipamento da RCA e dizer ironicamente: “Não é um equipamento de milhares de dólares? Poderia fazê-lo em pedaços quando quisesse!”.

Felton Jarvis ficou totalmente assustado e não se atreveu a pedir a Elvis que ele começasse os trabalhos. O cantor olhou ao redor e percebeu que suas vocalistas estavam estarrecidas. “Não se preocupem queridas, é só uma arma. Uma lindeza, não é mesmo?... Acho que vou usar essas caixas de som como alvo... o que acham? Seria uma boa idéia? Vamos lá... digam o que acham...”. Ninguém sabia direito o que fazer: rir ou não? Ficar assustado ou não? Demonstrar nervosismo? Elvis levantou-se, apontou a metralhadora para as caixas e riu... “Esses caras da RCA gostariam disso, não é?...Não vou lhes dar esse gostinho”.

Finalmente Elvis entregou a metralhadora para Hambúrguer James dizendo: “Guarde-a com cuidado” e piscando o olho finalizou: “Podemos precisar dela mais tarde, hein?... Depois dispensou todos avisando: “Talvez só grave algo amanhã, hoje não estou com vontade de gravar nada, estou com dor de garganta...” Todo mundo sabia que era mentira, no fundo todos queriam mesmo que Elvis saísse dali, no estado em que ele estava podia ser perigoso... Felton quase teve um enfarte, pois cada dia que o equipamento ficava ocioso causava um tremendo prejuízo para a gravadora. No dia seguinte os músicos ficaram novamente o dia todo tomando banho de piscina e desfrutando da boa comida de Graceland,

Enquanto Elvis ficava lá em cima dormindo mais uma vez. Felton Jarvis ligou para a RCA em Nova Iorque, ele tinha chegado à conclusão de que as sessões em Graceland seriam um desastre completo, um grande desperdício de trabalho, tempo e dinheiro. Já tinha acontecido de tudo naquela semana, garotas iam e vinham, puxa-sacos assalariadas por todos os lados, músicos de calção de banho o dia inteiro, Elvis armado até os dentes (inclusive já tinha até mesmo planejado uma missão ao melhor estilo Charles Bronson em “Desejo de matar” para liquidar os traficantes de drogas em Memphis) mas... gravar que era bom, nada. Por um valete real Elvis mandou avisar seu produtor que naquela noite ele iria descer finalmente para gravar as canções. “Palavra de escoteiro!” mandou frisar o astro! Felton respirou aliviado, mas será que isso iria acontecer mesmo?...

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 9

No fundo, ao se envolver com uma adolescente, Elvis estava mesmo procurando exorcizar de uma vez por todas o fantasma da traição de Priscilla de sua vida. De qualquer forma não seria dessa vez. Ele nunca descobriu o que o Coronel Parker fez pelas suas costas e ficou pensando erroneamente que a garota não tinha mais interesse nele. A história deprimiu muito Elvis e jogou sua auto estima no chão. O amante lendário não conseguia nem mais conquistar uma garotinha, uma colegial qualquer? Esse pensamento foi mais um a adormentá-lo e assombrá-lo em seus momentos de solidão. Mas Elvis não ficaria sozinho por muito tempo.

“Ele sempre tinha dois tipos de estoques em sua vida: de pílulas e de garotas! Quando uma ia embora, ele a substituía por outra”, resumiu a situação Billy Smith, anos depois. Para curar sua depressão Elvis mandou chamar outra de suas “garotas de estoque” (apelido dado pelos caras da máfia de Memphis para as garotas de Elvis nessa época). Se antes ele tinha se envolvido com uma virgenzinha de 15 anos, agora sua companheira constante não seria nada pura. Tratava-se de Minde Miller, modelo profissional e segundo alguns boatos, uma concorrida companhia em Los Angeles

Pular de uma adolescente para uma garota de luxo demonstrava bem a roleta russa emocional que Elvis vivia naqueles dias. Minde era uma das antigas paixões de Elvis, uma garota que ia e vinha na vida dele, conforme sua vontade. Ela era uma mulher extremante atraente, morena, com uma beleza exótica que logo despertou admiração e desejo em Elvis. Na ocasião ela tentava se tornar atriz, mas enquanto não conseguia se firmar uma carreira sólida, fazia companhia a figurões e milionários (Após a morte de Elvis ela chegou a aparecer no famoso filme de Brian de Palma, “Dublê de Corpo”). Era em suma uma mulher de fazer padre abandonar a batina. Extremamente ativa sexualmente,

Minde veio para apaziguar e aliviar a constante fossa de Elvis por causa de Rise. Mas quem pensa que a vida afetiva e sexual de Elvis se resumia na época a essas duas beldades (fora aquelas que desempenhavam o papel de sua “namorada oficial” como Linda e Ginger) está muito enganado. Havia uma terceira garota na vida de Elvis chamada Alicia Gerwin. Essa última acabou sendo a mais regular “garota de estoque” de Elvis em seus últimos anos. Em seu último vôo para Las Vegas, por exemplo, Alicia foi a garota designada para acompanhar o cantor, aonde ficou todo o tempo ao lado de sua cama, cuidando dele, enquanto o avião cruzava os céus dos EUA.

Porém ao contrário de Linda, Alicia não se sentia confortável servindo de amante e enfermeira de Elvis ao mesmo tempo. Ela procurou enfrentar a situação e confrontou Elvis em relação aos remédios que enchiam o quarto de cantor em Memphis e em Las Vegas. O cantor se enfureceu: “Quem não está contente com o que está acontecendo aqui pode ir embora agora!”. Alicia foi embora, mas voltou depois de alguns dias, após Elvis lhe enviar um pequeno presentinho: um caríssimo colar de diamantes. Ela sabia que era considerada uma “garota de estoque” de Elvis, mas depois de um certo tempo resolveu aceitar sua posição. Esse constante vai e vem de mulheres na vida de Elvis causava um sério transtorno para todos à sua volta. Chamar também uma mulher de "garota de estoque" era algo cruel mas para os caras da máfia de Memphis as mulheres que rondavam Elvis por aquela época eram bem isso mesmo, meras mercadorias usadas para o seu bel prazer.

Os caras da Máfia de Memphis sempre estavam em aeroportos trazendo e levando “garotas de estoque” para Elvis. Não era raro o Rei dizer a um de seus valetes: “Leve essa garota daqui, mas não a perca de vista, pode ser que eu queira encontrá-la mais tarde”, ou então “Onde está aquela ruivinha que veio aqui na sexta? Qual era mesmo o nome dela? Enfim... não importa... Achem a garota, seus incompetentes!”. Enquanto Elvis se envolvia em suas incontáveis histórias de alcova, a banda TCB ficava o tempo todo hospedada em Graceland, esperando ele resolver descer para finalmente gravar o tal disco. “Ficávamos o dia todo na piscina de Graceland, nadando e comendo frango frito e batatas, aquilo começou a nos aborrecer!” - relembra James Burton.

Elvis nunca aparecia para gravar e isso aumentava a insatisfação, levando o grupo até mesmo a bolar um plano de “motim” para ver se Elvis dava o ar de sua graça no estúdio. O primeiro dia programado para o começo das gravações foi caótico. Elvis não apareceu na hora certa e Felton Jarvis e os músicos ficaram três horas a postos na sala de Graceland travestida de estúdio esperando o cantor descer para gravar. Elvis informou que estava doente e sendo atendido por médicos e que por isso todos deveriam esperá-lo mais ainda. Mentira. Elvis estava novamente assistindo pelo circuito interno de TV as reações nervosas de Felton Jarvis, que acendia um cigarro atrás do outro, testava os equipamentos pela milésima vez e resmungava com a banda e com os engenheiros de som, reclamando da “total falta de profissionalismo de Elvis”. Para Presley gravar novas músicas era um aborrecimento e tanto. Mas com medo de levar um processo milionário nas costas ele sabia que mais cedo ou mais tarde teria que gravar novas canções.

Pablo Aluísio.

domingo, 4 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 8

O contrato de Elvis com a RCA afirmava que ele tinha que colocar no mercado pelo menos três álbuns inéditos por ano. Para cumprir essa meta de gravar tanto material novo, muitas vezes eram lançados discos ao vivo. Isso era uma comodidade para o cantor porque ele cumpria duas obrigações com apenas um evento. Matava dois coelhos com uma cajadada só. Mas a RCA não aceitava mais essa solução, digamos “fácil” por parte de Elvis. As coisas iriam mudar. Ele teria sim que cumprir o contrato com discos de estúdio daqui pra frente. Depois do impasse inicial criado por Elvis a idéia de Tom Parker de levar os equipamentos de estúdio para dentro da casa de Elvis vingou.

E lá foi a RCA Victor instalar equipamentos de última geração no valor de 200 mil dólares dentro da mansão de Elvis. Tudo com o objetivo de colocar o cantor na frente de um microfone para ele gravar material novo e inédito. O Primeiro local escolhido pelo produtor da RCA Felton Jarvis foi a quadra de raquetebol. Elvis riu e comentou baixinho com os caras da máfia de Memphis: “Felton vai quebrar a cara, a acústica da quadra é péssima! (risos) mas vou ficar calado. Deixa ele instalar tudo lá, depois eles terão que desinstalar tudo de novo e assim ganho mais tempo! Além disso ganho uma história divertida para contar depois (risos)”.

Desse ponto em diante Elvis decidiu que queria se divertir com os técnicos da RCA. Quando tudo foi finalmente instalado na quadra, Elvis foi chamado ao “estúdio” improvisado. Ele chegou e se sentou bem no meio do equipamento. Estava mortalmente silencioso. Felton lhe mostrou onde ficariam os engenheiros de som e o equipamento principal, estava empolgado e quando finalmente perguntou o que Elvis achava, ele disparou: “Não, cara... tá tudo errado! Aonde estão os captores? Ali? Péssima localização! O que é aquilo ali? Aquele microfone está mal posicionado, vai vazar para o microfone vizinho! Tire isso daí! Qual é marca dessas caixas de retorno? Puxa! Elas são péssimas! Desmontem tudo! Coloquem tudo abaixo! Substituam o equipamento técnico, liguem para Nashville, Nova Iorque, sei lá... falem com os caras da RCA... Esse é o som mais fdp que eu já ouvi”.

Felton estava completamente atônico! Elvis piscou o olho para Felton e disparou: “Você já ouviu a acústica daqui? Impossível gravar nesse ambiente, as gravações vão ficar horrorosas! Coloquem tudo abaixo! Estarei dormindo em meu quarto, depois discutiremos um lugar melhor para montar toda essa parafernália. Não se preocupe, não é algo assim tão importante para ficar de cabeça quente, já tenho minha própria cabeça vermelha em meu grupo (Elvis estava se referindo a Red West, o ruivo da turma da máfia de Memphis)”. Felton Jarvis mal conseguia respirar de tanto desapontamento, decepção e raiva!

- “Elvis, vamos tentar gravar algo aqui! Vamos tentar uma vez só! Se der certo pouparemos um trabalho imenso de levar tudo para outro local!” sugeriu Jarvis. O cantor virou-se para ele e lhe deu seu famoso “Sorriso Elvis”, por fim disse : “Não eu, não irei desperdiçar minha voz aqui sabendo que tudo vai terminar por água abaixo. Tenho shows agendados, tenho que me preservar”. Dito isso, retirou-se da quadra. Mas não perdeu tempo em ir assistir a irritação de Felton Jarvis pelo circuito interno de Graceland instalado em seu quarto. Em sua suíte Elvis podia observar todos os cômodos de sua mansão por causa de um sistema de segurança instalado por ele.

Elvis se divertiu como nunca nessa noite: ele ria e ria ao lado dos caras da máfia de Memphis ao observar o pobre produtor Felton Jarvis coçar a cabeça antes de mandar desmontar todo o equipamento. Os problemas de Jarvis estavam apenas começando. RCA, discos, ameaças de processo, nada disso estava na realidade preocupando Elvis. Ele já tinha problemas aos montes em sua vida pessoal para ocupar seus pensamentos. Na verdade o foco principal de suas dores de cabeça nas duas últimas semanas tinha um nome: Rise Smith. Ela era uma garota que Elvis havia conhecido alguns dias atrás durante um de seus rotineiros passeios ao parque de diversões ao lado de sua filha Lisa Marie

Enquanto Lisa se divertia na roda gigante, Elvis ficou lá embaixo e acabou conhecendo Rise, que fazia um bico no parque para ajudar a pagar seus estudos. Rise era uma garota muito correta, católica, descendente de imigrantes irlandeses, extremamente bonita, alta e com vastos cabelos loiros. Era uma beleza, uma verdadeira simpatia, uma flor de pessoa. Nõo demorou muito e logo a espevitada Rise caiu nas graças de Elvis, que literalmente gamou por ela. “Ficou completamente apaixonado. Foi conhecer a família dela. Deu-lhe presentes. Era alta, tinha espesso cabelo louro e uma voz muito sexy. Foi a última grande aventura dele!”, relembrou David Stanley (filho de Dee, a madrasta de Elvis). Mas havia um problema sério nesse caso: Rise Smith tinha apenas 16 anos!

Quando o Coronel Parker soube por Joe Esposito que Elvis estava caindo de amores por uma ninfetinha de 15 anos ficou preocupadíssimo. Já imaginou o que aconteceria com Elvis, caso a imprensa descobrisse que o Rei do Rock, no alto de seus 41 anos, estava tendo um casinho com uma menina de quinze anos, uma mera debutante? Uma colegial que nem tinha ao menos completado o ginasial? Seria o fim da imagem pública dele. Tom Parker procurou agir. As coisas estavam começando a ficar sérias, principalmente depois que Elvis convidou Rise para jantar e passar a noite em sua mansão Graceland.

O Coronel Tom Parker sabia muito bem o que acontecia com astros que se envolviam com garotinhas, o caso de Jerry Lee Lewis era bem fresco ainda na mente do velho empresário. Segundo Albert Goldman em artigo publicado, o Coronel contratou os serviços de um detetive particular de Memphis chamado apenas de “Ted” para fazer um servicinho sujo para ele. Esse detetive teria que entrar em contato com a garota e lhe oferecer dinheiro para se afastar de uma vez por todas de Elvis. Parker sabia que Elvis nunca iria seguir suas ordens de terminar o romance com a ninfeta, então o último recurso que encontrou foi mesmo comprar a menina.

Por 5 mil dólares Rise, relutante e assustada demais com o acontecido, acabou aceitando o dinheiro de Ted. Quando soube que seu plano tinha tido êxito o Coronel ficou extasiado, chegando a comentar com seu assistente pessoal Tom Diskin: “Virtuosa, honesta ou não, essa garota não e burra! No fundo todos têm seu preço”. Quando Elvis a procurou no fim de semana e telefonou para sua casa notou que ela não queria mais falar com ele. Nem ao menos quis lhe encontrar pessoalmente novamente. Elvis tentou insistir, mas logo percebeu que tudo estava acabado. Ele logo notou que seu tão sonhado romance com a garota ideal de seus sonhos, tinha naufragado mais uma vez.

Pablo Aluísio.