domingo, 24 de abril de 2005

Elvis Presley - That's The Way It Is

Essa é a trilha sonora do filme "Elvis é Assim" da MGM. Na ocasião o estúdio ainda tinha Elvis sob contrato e com sua volta aos palcos decidiu-se filmar o cantor ao vivo em Las Vegas. Seria mais barato e bem mais interessante já que seus filmes convencionais vinham cambaleando já há um bom tempo. Hoje o fã de Elvis agradece de joelhos a decisão da Metro pois nos legou ótimas imagens dos concertos do grande astro nessa cidade em 1970. Se não fosse pelo documentário teríamos ficado privados de tantos momentos especiais. Esse disco tem algumas curiosidades. Por se tratar de um documentário de um show ao vivo era de se esperar que o material do álbum fosse retirado diretamente das apresentações mas isso não ocorre. É basicamente um disco de estúdio,gravado por Elvis em Nashville. Ao vivo mesmo apenas poucas faixas sendo as mais marcantes "I Just Cant't Help Believin'" e "You've Lost That Lovin' Feelin'". O Elvis que surge nas músicas desse trabalho passa longe do roqueiro rebelde da década de 1950. É um novo artista, com novo repertório, de músicas emocionais, baladas românticas e instrumental caprichado. O roqueiro de brilhantina cantando sobre chicletes, cachorros quentes, sapatos azuis e ursinhos de pelúcia já não fazia sentido para um homem de sua idade, com novos interesses e sentimentos.

Também esqueça a trágica imagem de seus últimos dias quando o excesso de drogas abalou o ser humano de forma cruel. Aqui Elvis ainda mantinha uma boa forma física, com apresentações viris e empolgantes que em nada ficavam a dever ao rebolativo roqueiro da década de 50. Algumas pessoas acham que ao longo dos anos Elvis ficou muito depressivo, cantando sobre o amor perdido. Pois é justamente o tema central dessa seleção de músicas. A única canção que destoa um pouco desse estilo é a agitada "Patch It Up" que injeta uma boa dose de energia no repertório contemplativo das demais gravações. Particularmente gosto muito da simplicidade emotiva de "Mary In The Morning" e do refrão kármico de "I've Lost You". Apesar da boa seleção a música que define todo o trabalho é realmente a monumental  "Bridge Over Troubled Water". A versão original era de Paul Simon mas ele, apesar de bom cantor, tinha uma voz pouco expressiva e de impacto. No vozeirão de Elvis a canção ganha adornos de suntuosidade extrema, beirando o operístico. Um registro indicado para quem ainda acredita que Elvis se resumia a sua Pelvis rebolante escandalizadora..Então fica a dica para quem quiser conhecer um Elvis Presley mais romântico, cantando o amor sem receios. Um bom álbum de um artista único.

Elvis Presley - That's The Way It Is (1970)
I Just Cant't Help Believin'
Twenty Days And Twenty Nights
How The Web Was Woven
Patch It Up
Mary In The Morning
You Don't Have To Say You Love Me
You've Lost That Lovin' Feelin'
I've Lost You
Just Pretend
Stranger In The Crowd
The Next Step Is Love
Bridge Over Troubled Water

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - His Hand In Mine / How Great Thou Art

Em 1969 a RCA Victor soltou no mercado americano esse novo single de Elvis composto apenas por duas reprises. Na realidade os executivos da gravadora apenas escolheram as duas canções títulos dos dois únicos álbuns gospel de Elvis lançados até aquele momento e inventaram esse compacto sem muita razão de ser. Para faturar em cima do momento bom na carreira do cantor ainda aproveitaram duas boas fotos de Elvis no NBC TV Special na capa e contracapa (essa com Elvis cantando "If I Can Dream" no mesmo programa de TV). Parecia até  ser uma boa ideia para fazer sucesso nas paradas de fim de ano. Não colou! Os fãs de Elvis estavam bem ávidos em comprar material de qualidade de Mr. Presley depois de tantas canções ruins de filmes por anos, mas claro que isso não significava que iriam jogar seu dinheiro fora com material velho, já fartamente comercializado em um passado nem tão remoto assim.

O próprio Elvis ficou surpreso com o single. Embora ele fosse apaixonado por música religiosa, ele não queria que, em particular essas duas canções de que tanto amava, fossem utilizadas como meros caça-niqueis. Além disso Elvis tinha um profundo respeito por seus fãs, a ponto de confessar certa vez que ficava muito mal, fisicamente mal, quando algum lançamento com seu nome chegava ao mercado sem a devida qualidade artística. Infelizmente em seus contratos com a RCA não havia nenhuma cláusula dando a ele o controle sobre os lançamentos de sua gravadora. Tudo chegava ao mercado sem o consentimento do cantor. Não raras vezes Elvis ficava realmente aborrecido com certos compactos que eram jogados no mercado americano sem qualquer tipo de critério. Nos momentos de maior raiva chegava ao ponto até mesmo de ameaçar abandonar a gravadora, embora nunca tivesse levado essa ameaça em frente. De uma maneira ou outra, sendo até bem complacente, tenho que admitir que pelo menos em termos de direção de arte esse single era bem bonito. O contraste de sua foto em preto e branco com esse azul intenso é inegavelmente de uma beleza ímpar. Tão boa é a capa desse compacto que ficaria muito bem até mesmo em um álbum da época. Para falar a verdade a capa é bem mais bela do que a disco "Elvis NBC TV Special" que trazia uma foto esquisita e bem pouco estética do programa de TV na capa. Coisas de um tempo em que isso nem era tão relevante como pensamos ser hoje em dia.

Pablo Aluísio.

sábado, 23 de abril de 2005

Elvis Presley - If I Can Dream / Edge of Reality

Esse Single celebrou a volta de Elvis ao sucesso e principalmente ao retorno a um material mais consistente, de qualidade. Por anos o cantor se dedicou a trilhas sonoras de filmes, algumas delas francamente infantis e juvenis demais. O problema é que Elvis não era mais um artista adolescente, mas um homem com mais de 30 anos de idade. Seus fãs também tinham envelhecido e não estavam mais dispostos a consumir bobagens. Por volta de 1968 Elvis finalmente decidiu voltar aos palcos, gravar material relevante e deixar a tralha de Hollywood para trás. Ao lado de "Memories" essa canção foi a única inédita apresentada no NBC TV Special.

O curioso é que ela foi escolhida e gravada por Elvis mesmo a contragosto do Coronel Parker. O empresário queria que Elvis encerrasse o programa cantando alguma canção natalina. O produtor do especial Steve Binder achou essa realmente uma péssima ideia e acabou convencendo Elvis a gravar uma música mais de acordo com a realidade que o país atravessava. Afinal os Estados Unidos estavam atolados na Guerra do Vietnã, a questão dos direitos civis das populações negras fazia crescer uma constante tensão dentro da sociedade, inclusive eclodindo em movimentos violentos e o clima geral era de desalento entre os americanos. Nada poderia soar mais atual e antenado com os acontecimentos do que a letra dessa música. Para gravá-la Elvis entendeu que precisava de um clima adequado, bem especial. Para isso pediu que as luzes do estúdio fossem apagadas. Ele se sentou no chão - algo que nunca havia feito antes na carreira - e lá mesmo gravou o take perfeito, final, em meio a muita inspiração interior.

No lado B a RCA Victor resolveu enfiar a fraca "Edge of Reality". A canção era da trilha sonora do filme "Live a Little, Love a Little", ou seja, uma típica representante de um aspecto da carreira de Elvis que ele queria deixar para trás definitivamente. Alguns autores inclusive afirmam que Elvis Presley ficou extremamente aborrecido quando soube que ela seria encaixada como o outro lado de sua preciosa "If I Can Dream". Quando tentou reverter já era tarde demais, o single já estava confeccionado e rodando nas máquinas da empresa em Nova Iorque. Olhando para trás temos que concordar com Elvis, esse foi um Lado B realmente fraco e sem propósito. O ideal seria a dobradinha de inéditas do NBC com "If I Can Dream" no Lado A e "Memories" no Lado B. Além de ser perfeita para o consumidor, ainda poderia fazer frente aos singles dos Beatles que dominavam as paradas na época. Ao contrário da RCA o quarteto de Liverpool colocava grandes músicas em ambos os lados de seus singles, o que fazia com que os disquinhos explodissem em vendas no mercado. Quer um exemplo disso? Um mês antes de "If I Can Dream" chegar nas lojas os Beatles lançavam "Hey Jude / Revolution" no mercado. Dois clássicos absolutos, canções fortes e significativas, que entravam destruindo nas paradas. Mesmo Elvis renascendo das cinzas naquele momento era muito complicado para ele bater de frente com um lançamento desse porte! De qualquer maneira os fãs do velho Elvis  estavam contentes por ter novamente material de qualidade para comprar. O single de Presley fez sucesso e ganhou inúmeras resenhas elogiosas da crítica especializada. Era um alívio depois de tantos fracassos comerciais e matérias que destruíam seus mais recentes discos e singles.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Memories / Charro

O primeiro single de 1969 na realidade trazia canções do ano anterior. O Lado A vinha com "Memories" do NBC TV Special. É curioso que apesar da importância histórica desse programa de TV, que levantou a carreira de Elvis, havia poucas canções inéditas em seu repertório. Na realidade apenas "If I Can Dream" e "Memories" eram novidade para os ouvidos dos fãs de Elvis. Todo o resto era um grande revival de sua época de ouro, muitas dos anos 1950, quando Elvis realmente revolucionou o mundo da música. Pois bem, segundo a RCA Victor o single vinha atendendo a pedidos dos fãs do cantor. Assim a gravadora resolveu apostar na faixa, mesmo que na época errada - na realidade o single com a música deveria ter sido lançada na mesma semana de exibição do especial na NBC e não  meses depois como acabou acontecendo. O fato é que quando "Memories / Charro" chegou às lojas americanas, já era fevereiro de 1969, o natal já havia passado, as lojas estavam vazias e o impacto da exibição do programa também já tinha sido exaurido. Um típico caso de erro no timing certo no lançamento do compacto. Deixando esses aspectos comerciais de lado é interessante louvar a boa gravação e a bela melodia da canção. Muitos disseram que sua letra era de certa maneira constrangedoramente nostálgica, tentando pegar um gancho com o passado de Elvis para sensibilizar seus antigos fãs dos anos 1950 que o havia abandonado. Bobagem, essa é uma visão meramente simplista da composição em si.

Já o Lado B vinha para promover o faroeste "Charro". Estrelado por um Elvis barbudo e com visual diferente a película era uma tentativa de trazer novos ares para a estagnada e saturada filmografia de Presley em Hollywood. Infelizmente o filme não trouxe nada de muito marcante para Elvis nesse sentido. Era apenas uma cópia da cópia. Explico. O chamado Western Spaguetti nada mais era do que uma cópia italiana dos filmes americanos de faroeste. "Charro" é uma produção estranha porque era um filme americano que tentava imitar os filmes italianos, ou seja, tentava copiar uma cópia! Bem irracional não é mesmo? O filme em si deixa muito a desejar, não tem boa produção - mais parecendo um telefilme da época - e roteiro mal escrito. Elvis até se esforça, mas nunca deixamos de lado a sensação de que estamos na realidade vendo Elvis vestido de Charro. Em nenhum momento ele consegue desaparecer dentro de seu personagem. Na época o estúdio vendeu o filme como uma nova forma de apresentar Elvis nos cinemas, mas a verdade é que tudo se tornou apenas mais um fracasso de bilheteria em sua carreira. Se o filme deixa muito a desejar o mesmo já não se pode falar da música. Na primeira vez que a ouvi não gostei muito, sinceramente falando. Hoje em dia já tenho uma impressão melhor. Certamente passa longe de ser um tema com a qualidade de um Ennio Morricone, porém passa longe de ser um desastre ou uma vergonha alheia. Tem lá seus méritos. De uma forma ou outra, seja porque foi lançado em uma época errada, seja porque não teve uma boa divulgação, o fato é que o single em si não foi um campeão de vendas, alcançando apenas a trigésima quinta posição entre os mais vendidos. Bem abaixo do single anterior com "If I Can Dream" que fez bonito nas paradas. O lançamento temporão e fora de época pelo menos serviu para a RCA Victor ficar mais atenta na questão temporal, no tempo certo de colocar certas músicas de Elvis no mercado.

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 22 de abril de 2005

Elvis Presley - Guitar Man / Hi-Heel Sneakers

Mais um exemplo do salto qualificativo que estava acontecendo gradualmente na discografia de Elvis Presley. É curioso perceber que enquanto os álbuns afundavam, tanto do ponto de vista artístico como comercial, os singles ousavam e ganhavam muito em termos de qualidade em si. Isso de certa forma demonstrava duas coisas: Primeiro, o medo que a RCA Victor tinha em lançar canções convencionais e fora dos padrões das trilhas sonoras. Segundo, que as próprias trilhas sonoras já não estavam com nada, uma fórmula que já deixava claro que não tinha mais futuro para Elvis. "Guitar Man" foi gravado nas ótimas sessões de setembro de 1967 no RCA Studio B, em Nashville, Tennessee. O produtor foi Felton Jarvis, acompanhado do engenheiro de som Jim Malloy. Foi justamente a canção que abriu os trabalhos naquela noite. Elvis tinha plena conviccão que as canções dos filmes deixavam muito a desejar e por essa razão estava com vontade de gravar material mais relevante. Acertou em cheio! Um dos destaques da gravação é seu arranjo, bem mais trabalhado e caprichado do que o que vinha sendo gravado para filmes em geral. Com uma levada country, porém com pitadas também do bom e velho rock, a canção certamente é uma das melhores gravadas por Elvis nesse período de sua carreira. Foram necessárias doze tentativas para enfim se chegar na versão master. De uma forma ou outra ela teria grande destaque posteriormente, durante o NBC TV Special, virando até mesmo tema principal do programa. Curiosamente nos anos 80 a música passaria por uma remodelagem sonora completa, com o aproveitamento apenas do vocal de Elvis, sendo substituída toda a parte de acompanhamento. Ficou diferente, menos country e de certa forma bem interessante, embora obviamente prefira a versão original.

"Hi-Heel Sneakers", por sua vez, é um blues visceral, também muito bem arranjado, contando com ótimas partes instrumentais. Foi gravada na mesma sessão de "Guitar Man", porém no dia seguinte, já na segunda-feira. A versão original foi gravada por Tommy Tucker no selo Checker em 1964. Acabou sendo seu grande sucesso indo parar no topo da parada Cash Box. Na Billboard também se destacou chegando na ótima décima primeira posição da Billboard Hot 100. É certamente uma das músicas mais regravadas da história, ganhando versões nas vozes dos Beatles, Rolling Stones, Sting, Led Zeppelin, Carl Perkins, Jerry Lee Lewis, Everly Brothers, Chuck Berry, Stevie Wonder e tantos outros. Estima-se que tenha mil versões gravadas, dentro e fora dos Estados Unidos. A de Elvis pode ser considerada, sem exageros, como uma das melhores. Voltando à sua discografia muitos anos depois, fazendo parte inclusive de uma excelente coletânea só de blues lançada nos anos 80 chamada "Reconsider Baby", um dos últimos LPs lançados de Elvis no Brasil já que o vinil estava em pleno processo de abandono por parte da indústria fonográfica. Por ter chegado nas lojas nesse momento histórico de transição foi também um dos primeiros CDs de Elvis a chegar no mercado brasileiro. Pela primeira vez o consumidor tinha o direito de escolher entre o vinil e o CD nas prateleiras dos grande magazines. Para quem tinha acompanhado a escassez de títulos em catálogo do cantor já era um avanço e tanto. Para quem estiver realmente interessado na música eu recomendo ainda os seguintes títulos: "Silver Box" e "Rare Elvis". Infelizmente poucos takes dessa música chegaram até nós. Ao que tudo indica Felton Jarvis acabou inutilizando as fitas que traziam as primeiras tentativas de Elvis em emplacar a canção dentro do estúdio. Uma pena.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Stay Away Joe

Embora o filme fosse irrelevante, Elvis teve que mais uma fazer entrar em estúdio para gravar sua trilha sonora. O cantor já não tinha mais disposição para viajar até a costa oeste e por isso a RCA Victor aceitou sua sugestão de gravar as músicas do filme ali por perto de Memphis mesmo, em Nashville. Jeff Alexander foi indicado para ser o produtor das músicas. Ele já vinha trabalhando com regularidade ao lado de Presley, principalmente na gravação de músicas para filmes de Hollywood. Al Pachucki foi o engenheiro de som dos trabalhos. Assim na noite do dia 1 de outubro de 1967 Elvis chegou ao estúdio B da RCA em Nashville, Tennessee. Na pauta havia dez canções, mas Elvis não estava nada disposto a gravar tudo. Ele ouviu as demos e eliminou cinquenta por cento delas. Não gostou muito da canção título, "Stay Away, Joe", mas essa não poderia ser deixada de fora. As sessões se iniciaram com a versão que seria usada no filme. Curiosamente foram necessários mais takes do que o habitual porque Elvis não conseguia se concentrar na canção, que era mesmo muito fraca, com melodia piegas e letra boba. As coisas melhoram um pouco com "All I Needed Was the Rain" por causa de seu balanço de blues negro. Mesmo assim não chegava a ser uma obra prima. Pior veio depois quando Elvis teve que colocar sua voz na medíocre "Dominick". O roteiro previa que Elvis a cantaria para um bovino! (sim, é verdade, por mais incrível que isso possa parecer!).

Depois da gravação desse lixo a sessão foi encerrada. Elvis pensou que estava livre desse material de baixa qualidade, mas foi surpreendido pelo aviso da RCA de que ele deveria voltar ao estúdio para gravar mais versões e se possível melhorar as que já tinham sido gravadas. Assim Elvis retornou em janeiro de 1968 para mais uma sessão com esse mortificante material. Para sua surpresa não conseguiu terminar numa noite, como estava planejado, tendo que ficar três dias em Nashville tentando consertar a trilha sonora. Uma nova faixa chamada "Stay Away" foi providenciada e como havia muito tempo livre Elvis acabou gravando mais três músicas que não faziam parte da trilha. Entre elas alguns clássicos de sua carreira como "Too Much Monkey Business" de Chuck Berry, que apesar de ter sido muito bem gravada seria negligenciada de forma vergonhosa pela RCA Victor no mercado e "U.S. Male" que teria melhor destino. Essa segunda sessão contou com outro produtor, Felton Jarvis, que estava disposto a melhorar a qualidade dos discos de Elvis. Isso explica em parte a excelente gravação de "Goin' Home", sem dúvida uma das melhores faixas gravadas por Elvis nessa fase de sua carreira.

Sessão de gravação da trilha sonora Stay Away Joe
Data de gravação: 01 de outubro de 1967 - 15 a 17 de janeiro de 1968
Local de gravação: RCA Studio B, Nashville, Tennessee
Produção: Jeff Alexander, Felton Jarvis
Engenheiros de som: Al Pachucki e Bill Vandevort 
Músicos: Elvis Presley (vocais), Scotty Moore (guitarra), Jerry Reed (guitarra e violão), Chip Young (guitarra), Bob Moore (baixo),  Murrey "Buddy" Harman (bateria), D.J. Fontana (bateria), Floyd Cramer (piano), Charlie McCoy (harmonica), Peter Drake (steel guitar) e The Jordanaires (vocais).

Pablo Aluísio. 

quinta-feira, 21 de abril de 2005

Long Legged Girl / That's Someone You Never Forget

Bom, a alegria dos fãs de Elvis infelizmente não iria durar muito em 1967. É certo que nesse ano ele gravou um grande disco, "How Great Thou Art" que lhe trouxe pela primeira vez em anos muitas críticas positivas. O problema é que lá atrás Elvis havia assinado contratos de longa duração com as principais companhias cinematográficas de Hollywood e precisava cumpri-los. Como já estava muito claro nem sempre a qualidade pontuava os filmes e as trilhas sonoras desses projetos e assim o fã tinha que se contentar em ver Elvis envolvido em uma sucessão de abacaxis. Em abril de 1967 pintou nas lojas seu novo single, "Long Legged Girl / That's Someone You Never Forget". A primeira canção do lado A era de fato inédita, já o lado B trazia uma reprise antiga do álbum "Pot Luck With Elvis". Isso por si só já tirava a metade da vontade de comprar o single para o colecionador de longa data. Sobrava assim apenas a curiosidade de ouvir mais uma faixa inédita de Elvis que vinha para promover um novo filme de título esquisito "Double Trouble" (algo como "Problemas em dobro"). Ao colocar o disquinho para tocar o ouvinte logo chegava na conclusão que o título era mais do que adequado pois Elvis tinha mesmo muitos problemas em sua carreira musical, em dobro! A música era extremamente fraca, um "roquinho", vamos colocar dessa forma. Não, não se tratava de um rock digno de alguém que era chamado de Rei do Rock e passava muito longe de seus antigos clássicos imortais no gênero.

Era mais uma daquelas musiquinhas com letra adolescente que não diziam absolutamente nada. Elvis demonstrou toda a sua má vontade na gravação. Ele estava visivelmente mal, desinteressado, chegando ao ponto de conter o riso em razão da mediocridade dos arranjos, da letra e da melodia. Elvis era, gosto de sempre relembrar isso, um cantor com muita cultura musical, adquirida desde seus tempos de infância, lá em Memphis. Ouvindo apenas as rádios mais importantes, ele sabia muito bem o que tinha valor como música e o que era lixo cultural. Não era um idiota. Sob qualquer ponto de vista "Long Legged Girl" era mesmo lixo. O problema de trilhas sonoras era que o pacote chegava até Elvis fechado, completo. Ele sequer tinha direito de opinar sobre a qualidade das faixas. Por questões contratuais seu trabalho se resumia em ir até o estúdio e cantar as músicas, por piores que fossem! Um horror! E como se tudo isso não fosse ruim o bastante o fato é que a gravação em si da música deixou muito a desejar. A faixa foi gravada na correria em junho de 1966 no Radio Recorders em Hollywood. Foi a última canção gravada da trilha naquela noite, já na alta madrugada, quando nem os músicos e nem o produtor Jeff Alexander estavam mais dispostos em realizar um trabalho melhor. Todo mundo estava cansado e de saco cheio. Elvis levou apenas seis takes para chegar ao seu take definitivo, enfim, correria, falta de qualidade e desinteresse formavam em conjunto os ingredientes certeiros para compor mais um decepcionante novo single para Elvis em uma das piores fases de sua carreira.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Big Boss Man / You Don't Know Me

A prova que a carreira musical de Elvis estava dividida em duas fatias bem claras. Na primeira, relacionada aos álbuns, o cantor se via preso nas trilhas sonoras dos filmes Made in Hollywood. Em relação a esses discos não havia muita saída. O pacote já chegava completo e fechado nas mãos de Elvis. Tudo o que lhe sobrava era colocar sua voz nas canções determinadas pelos estúdios de cinema e por sua gravadora, a RCA Victor. Em relação aos singles havia maior margem de liberdade, principalmente a partir de 1966, quando a RCA foi se conscientizando que as músicas de filmes estavam destruindo as possibilidades comerciais de Elvis Presley em se destacar. Assim os próprios executivos incentivavam Elvis a escolher o material que desejasse nessas sessões. Na verdade o próprio Elvis estava farto! Ele queria gravar material de qualidade, adulto, que não tivesse mais aquela pegada adolescente que ainda persistia em seus álbuns de filmes. Ele queria cantar canções relevantes, que falassem de sentimentos das pessoas de sua idade. Ficar cantando sobre praia, surfe e mariscos estava se tornando insuportável. Assim a RCA programou uma sessão em setembro de 1967 em que Elvis teria plena liberdade para escolher o material que queria gravar. Nem preciso dizer que a sessão se revelou maravilhosa em todos os aspectos. Presley sabia que muito provavelmente algumas daquelas gravações seriam desperdiçadas como bonus songs em trilhas sonoras, mas também tinha esperanças que outras pudessem chegar ao mercado para vencer por seus próprios méritos.

"Big Boss Man" foi a segunda música gravada nessas sessões, logo após outro clássico, "Guitar Man". Elvis estava determinado e procurar por novas sonoridades, outros tipos de letras mais interessantes, que fugissem um pouco do romance adolescente que imperava em suas canções para filmes. Também é importante destacar que nessa noite do dia 10 de setembro Elvis emplacou apenas duas gravações, demonstrando que tudo foi realmente gravado com capricho, calma, para acertar em cima de um arranjo muito bem elaborado e de qualidade. Já o lado B do single, "You Don't Know Me" foi gravada no dia seguinte. Elvis amava essa canção. Era uma de suas preferidas e ele vinha aborrecido há tempos porque não tinha gostado da versão que havia gravado para o filme "Clambake". Ele queria chegar em um take mais decente, em suas próprias palavras. Fã de Eddy Arnold não queria deixar uma versão de segunda categoria com seu nome na capa. Quem dirigiu os trabalhos nessas sessões foi Felton Jarvis, um produtor que se deu muito bem com Elvis dentro dos estúdios, a tal ponto que não mais se largaram após essas sessões iniciais. Felton tinha uma incrível capacidade de entender o que Elvis queria quando estava gravando. Além disso lhe proporcionava uma liberdade e um clima ameno e agradável para que ele liberasse seu talento sem pressões ou atritos. Era o produtor que ele tanto procurava após todos aqueles anos.

Pablo Aluísio.