sábado, 18 de junho de 2011

Papa Pio IV

Com a morte do Papa Paulo IV começou a disputa pelo trono do Papa em Roma. Quatro grandes potências disputavam entre si para fazer o novo sucessor de Pedro. França, Portugal, Espanha e cidades italianas brigavam para apoiar o seu nome preferido nessa sucessão. O nome escolhido foi uma maneira de amenizar todas essas disputas. Depois de alguns anos o Papa voltou a ser um membro da família Medici. Giovanni Angelo Medici foi o escolhido e subiu ao trono em 1559. Ele adotou o título de Pio IV e começou a enfrentar os diversos problemas que atingiam a Igreja Católica naquele período.

Um deles era o velho problema do protestantismo, algo que quebrou a unidade do cristianismo na Europa. Inúmeras igrejas protestantes foram fundadas, criando tensões e conflitos em países do norte como Suécia, Holanda, Bélgica e Dinamarca. Algumas dessas guerras religiosas envolviam não apenas católicos contra protestantes, mas até mesmo entre seguidores de Lutero e outras vertentes dentro do próprio movimento dissidente. De repente a Europa não tinha apenas uma visão da doutrina cristã, mas dezenas, centenas delas, todas diferentes entre si.

O Papa Pio IV culpou esse estado de coisas à publicação de diversos livros que propagavam visões distorcidas da sociedade, do mundo e do próprio Deus. Assim ele mandou elaborar uma lista de livros hereges e mandou que todos os exemplares em circulação dessas obras fossem queimados em praça pública. O novo Index, ou índice de livros proibidos, baniu diversas publicações consideradas ofensivas ao verdadeiro pensamento do bom e fiel seguidor cristão. Curiosamente, em segredo, o Papa ordenou que pelo menos algumas cópias de cada livro proibido fossem preservadas dentro da biblioteca do Vaticano. A intenção não era erradicar completamente os livros proibidos, mas sim tirá-los das mãos de pessoas que poderiam se tornar subversivas ou perigosas. A criação literária em si deveria ser preservada.

Outro ponto de destaque de seu pontificado foi a conclusão do conturbado Concílio de Trento. Pio IV considerou bons os resultados, encerrando um árduo trabalho teológico dentro da Igreja. Em termos de diplomacia internacional Pio IV continuou a enfrentar problemas com a Inglaterra. Desde o rompimento com o rei Henrique VIII os conflitos continuavam. Londres e Roma não conseguiam chegar a uma saída diplomática para a crise. Depois de tentar uma aproximação com a filha de Henrique, Elizabeth I, o Papa resolveu romper relações de vez. Isso se deu em decorrência de um ofensa da Rainha ao Papa. Depois de tomar conhecimento dela o Papa então decidiu excomungá-la. O último ato do Papa foi a revogação e a proibição da simonia dentro da Igreja. A compra de perdão pelos pecados foi considerado uma indignidade para o pensamento cristão. Em 1565 o Papa foi encontrado morto em seus aposentos. Ele não era tão velho como seus antecessores, mas não gozava de muita saúde. Ele faleceu aos 66 anos de idade, após cinco anos como Papa.

Pablo Aluísio.

João Paulo II - Uma pequena história na África

João Paulo II - Uma pequena história na África - Essa pequena história, desconhecida de muitos, está registrada no livro "Francisco: O Papa dos Humildes" de Andreas Englisch. Karol Wojtyla (hoje Sâo João Paulo II) estava em uma remota região africana, para a inauguração de uma nova igreja. O lugar era desolado, distante de tudo e de todos. Apenas um Papa peregrino como João Paulo II chegaria a um lugar tão distante e isolado.

O autor do livro na época trabalhava como jornalista correspondente e estava lá para acompanhar o Papa. Assim que desceu de seu automóvel o Papa pôde perceber o quanto era pobre aquela comunidade. A Igreja, recém terminada, ainda estava com cheiro de tinta fresca. As ferramentas dos pedreiros que a tinham construído estavam no chão, espalhadas. João Paulo II desceu do carro e foi sentar-se ao lado da entrada da Igreja, usando um pequeno caixote de frutas como cadeira improvisada. Todos ficaram admirados pela humildade daquele homem tão importante agindo de forma tão despretensiosa.

Ali estava o líder espiritual de mais de um bilhão e meio de seres humanos na maior humildade, como se fosse como qualquer outra pessoa. As crianças se aproximaram do Papa que foi muito receptivo. Elas começaram a brincar ao seu redor e João Paulo II parecia bem à vontade. Então o povo que estava ali para a inauguração da nova igreja começou a cercar o Papa. Todos à vontade, sem qualquer esquema de segurança, nem nada parecido. Uma limonada foi oferecida ao Papa que aceitou de boa vontade, afinal o calor era insuportável.

Enquanto o Bispo não aparecia o Papa ficou ali, se divertindo com as crianças que brincavam ao seu redor, conversando com o povo humilde em um grau de intimidade que deixou o jornalista espantado. Assim um trabalhador, um pedreiro que havia construído a Igreja, chegou ao lado de João Paulo II e esse lhe perguntou: "Agora que a Igreja está pronta, o que o senhor vai fazer?". O homem disse ao Papa que não seria fácil encontrar outro trabalho ali, o que era bem preocupante para ele pois era um pai de família, que tinha que sustentar sua esposa e seus filhos pequenos. O Papa ouviu atentamente. O desemprego era um problema sempre presente. João Paulo II sabia disso e se compadeceu dos problemas daquelas pessoas.

Quando o Bispo finalmente chegou o Papa terminou de beber sua limonada e juntos entraram na Igreja recém construída, mas antes o Papa lhe disse: "Não cuide dessa Igreja de pedra! Cuide do povo dessa região, que precisa muito de ajuda. Faça isso, senão vai se ver comigo!". Claro que as palavras do Papa não soaram como uma ameaça, mas sim como um direcionamento, demonstrando que o importante não era a Igreja em si, mas sim a comunidade ao seu redor. Não eram as pedras da nova construção que deveriam estar em primeiro lugar, mas sim os alicerces daquela comunidade. Uma amostra do lado mais humano de um Papa que marcou época e que hoje é considerado um dos grandes Papas da história.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Os Filhos de Maria

Uma pergunta que sempre surge em sites e blogs de internet. Maria, mãe de Jesus, teve outros filhos após seu nascimento? Para a doutrina católica a resposta é negativa. Para justificar os teólogos católicos usam o próprio evangelho. Desde tempos imemoriais, ainda na fase meramente da tradição oral, a família de Jesus sempre foi representada como sendo formada apenas por José, Maria e o próprio Jesus. A tradição da família santa com apenas três pessoas também é seguida em várias outras tradições religiosas como, por exemplo, a da Igreja Ortodoxa e até mesmo de algumas igrejas protestantes históricas.

A dúvida porém ressurgiu quando certas vertentes protestantes passaram a pregar que Maria teria tido outros filhos, em especial Tiago, que é citado no texto bíblico como sendo irmão de Jesus. Há problemas nesse tipo de visão. A expressão "irmão de jesus" é interpretada de forma equivocada. Na antiguidade esse termo irmão tinha uma outra conotação. Muitas vezes os próprios primos eram designados como irmãos de  uma mesma família maior, formada por tios, tias, avós e avôs. Assim Tiago não era filho de Maria (em nenhum lugar da bíblia isso é citado) e nem muito menos irmão de sangue de Jesus Cristo. Ele era muito provavelmente seu primo, assim como suas outras "irmãs". Naqueles tempos distantes nem mesmo a designação "primo" era utilizada. Sendo todos filhos de uma linha envolvendo avôs, pais e tios, eram assim considerados "irmãos" em um sentido diferente do que hoje usamos.

E ainda há mais. Aos pés da cruz Maria está acompanhada de João, discípulo de Jesus. O Filho de Deus olha para ambos e diz: "João, eis sua mãe. Maria eis o seu filho!". Fica óbvio que Jesus estava designando que João cuidasse de Maria dali em diante. Ela obviamente já estava em uma idade mais avançada e precisava de alguém para cuidar dela em sua velhice. Ora, se Jesus tivesse mesmo irmãos e irmãs, não haveria essa preocupação por parte do Messias, pois ela seria cuidada por seus próprios filhos. Na preocupação de Jesus descobrimos duas coisas importantes: a de que Maria não tinha outros filhos e a de que José, seu esposo, muito provavelmente já estava morto quando Jesus foi crucificado. Maria ficava sozinha no mundo, sem parentes próximos. Por isso Jesus, mesmo crucificado, não deixou ela desamparada. Mandou que seu apóstolo cuidasse dela a partir daquele momento.

O fato é que João cumpriu a determinação de Jesus e ficou ao lado de Maria até seu falecimento. João, o amado apóstolo, esteve ao lado da mãe de Deus até o fim de seus dias. Finalizando, aqui vão mais dois outros fortes argumentos sobre a não existência de outros filhos de Maria. Nenhum filho dela é citado mais na Bíblia, nem nos atos dos apóstolos e nem em nenhuma outra parte do evangelho cristão. Além da tradição histórica que atravessou os séculos outro fato vem reforçar a doutrina católica. Nas mais antigas representações da família de Jesus não existem irmãos ou irmãs ao lado de Jesus, Maria e José. Apenas os três são representados nessas imagens, demonstrando que os cristãos primitivos, aqueles que tiveram mais contato com a história real, também tinham a certeza e a convicção de que a família santa era formada apenas por um trio, envolvendo pai, filho e mãe. A história, além da teologia, confirmam assim que não havia mais irmãos e nem irmãs na vida de Jesus.

Pablo Aluísio.

Papa Marcelo II

Após a morte do Papa Júlio III subiu ao trono de Pedro o cardeal romano Marcello Cervini, que resolveu usar seu nome de batismo como título Papal. Esse Papa ficou notório na história por algumas características. A mais famosa foi o fato dele ter sido Papa por um breve, na verdade brevíssimo, período de apenas 22 dias! Eleito em 9 de abril, morreu em 1 de maio de 1555. Mal houve tempo de fazer qualquer coisa que fosse historicamente relevante. Suspeitas de que teria sido assassinado voltaram a rondar o Vaticano após sua morte.

E o que poderia ter causada a morte tão rápida desse pontífice? Para muitos historiadores Marcelo II tentou ser bastante revolucionário nos poucos dias de seu pontificado. Assim que foi eleito resolveu doar todo o dinheiro que seria usado em sua festa de subida ao trono para os pobres de Roma. Homem estudioso, metódico, ele queria promover um Papado de extrema austeridade, procurando investigar as finanças do Vaticano.

Também procurou reforçar a doutrina católica, como seu antecessor, Júlio III. Marcello era o encarregado da biblioteca da Igreja antes de ser eleito Papa e tinha uma cultura excepcional do ponto de vista teológico. Também combateu o nepotismo que existia dentro da Igreja, com membros do clero sendo favorecidos por causa de suas linhas de parentesco e fortuna pessoal. Seu exemplo calou fundo dentro do povo que logo percebeu que o novo Papa estava disposto a combater toda a corrupção dentro do alto clero em Roma.

Infelizmente seus anseios de mudança foram em vão pois morreu muito rapidamente. Embora sempre tenha pairado sobre a morte de Marcelo II várias especulações de que ele fora envenenado, historiadores modernos defendem que ele provavelmente já era um homem doente do coração quando foi eleito Papa. Com o stress do cargo e as pressões inerentes a sua posição, ele acabou sofrendo um colapso cardíaco enquanto caminhava apressadamente pelos corredores do Vaticano. Tão rápida foi sua morte que nem sequer foi pintado um quadro oficial do novo Papa, só existindo atualmente figuras e gravuras com sua imagem. Apesar da brevidade de seu pontificado o Papa Marcelo II é bem conceituado entre historiadores da Igreja Católica. Para muitos deles esse foi um Papa que realmente queria limpar a Igreja das pequenas e grandes corrupções. Pena que não houve tempo para isso.

Pablo Aluísio.

Papa Paulo IV

O Papa Paulo IV tinha origens humildes. Ele pertencia a uma família nobre, mas arruinada, de ascendência portuguesa, que morava há muitas décadas em Nápoles. Desde cedo a Igreja se mostrou ser uma boa carreira a seguir. Como seus pais não tinham mais terras e nem poder o jovem Giovanni Pietro Carafa viu nos estudos uma maneira de melhorar de vida. A instituição que tinha as melhores escolas e universidades da época era justamente a Igreja Católica. Carafa era um homem de fé, assim resolveu entrar no seminário. Jovem aluno muito estudioso, logo subiu na hierarquia católica, se tornando padre, bispo e arcebispo em Nápoles. Tornou-se homem próximo do Papa Leão X, que o nomeou embaixador na Inglaterra.

A morte muito precoce do Papa Marcelo II fez com que um novo conclave fosse convocado às pressas. Por suas qualidades pessoais Giovanni Pietro Carafa acabou sendo eleito Papa em maio de 1555. Assim que chegou ao trono Paulo IV precisou lidar com novos e velhos problemas. O poderoso Carlos V não gostava pessoalmente dele e fez de tudo para sabotar seu pontificado. Paulo IV resistiu, mas não sem antes trazer vários problemas políticos para a cúpula da Igreja.

Tendo sido embaixador na Inglaterra conhecia bem os problemas que a Igreja Católica enfrentava naquela nação, entre elas, a mais séria, a subida ao poder de Elizabeth I, que era filha de Ana Bolena e uma protestante feroz. Roma queria que Mary Stuart fosse a nova Rainha, não apenas por ser a filha legítima do Rei Henrique VIII, como também por ser a filha de Catarina de Aragão, rainha católica devota. Para o Vaticano Ana Bolena nada mais tinha sido do que uma amante do rei. A diferença de opiniões criou uma nova crise entre Roma e Londres, levando a mais um rompimento entre o Catolicismo e o Reino da Inglaterra.

Outra luta que o Papa teve que enfrentar foi contra a liberação dos costumes que havia na própria cidade de Roma naquela época. Na capital da fé cristã havia muitos prostíbulos, muitas jovens era prostitutas e a devassidão era completa. Mulheres sem maridos, órfãos jogados pelas ruas, miséria e pobreza moral. Para Paulo IV algo precisava ser feito. Foi assim que ele resolveu trazer a inquisição para Roma, para moralizar à força o povo da cidade. Isso criou para ele sérios problemas, entre eles a antipatia do próprio povo romano que passou a odiar o Papa.

Apesar da idade avançada, 83 anos, o Papa Paulo IV continuava sua problemática política diplomática internacional. Ele criou vários problemas com as mais diversas cortes da Europa. As brigas com Carlos V continuavam, os atritos com a Rainha Elizabeth I eram constantes e para piorar chegou a negar o reconhecimento do reinado de Fernando I. Com fama de austero, briguento e moralizante, o Papa morreu de forma inesperada numa manhã de agosto de 1559. Após quatro anos de um Papado turbulento ele não aguentou as pressões e morreu do coração. O velho Papa continuava muito impopular, mesmo após sua morte, o que fez com que seu túmulo fosse vandalizado. Suas ordens promovendo a moral e os bons costumes, interferindo na vida pessoal de muitos romanos, cobrou seu preço.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Jesus e Isaías

Para os cristãos o profeta Isaías profetizou a chegada de Jesus, principalmente em Isaías 53. Nesse versículo, extremamente importante para a teologia cristã, vemos o profeta Isaías se referindo a um homem justo, que seria moído (martirizado) pelos pecados do mundo. Como todos sabemos a doutrina católica é categórica ao afirmar que Jesus foi crucificado para curar os pecados do mundo, para ser o supremo sacrifício divino em prol da redenção de toda a humanidade. O Salvador seria assim desprezado, humilhado, morto e sepultado por causa das iniquidades do povo (iniquidades no sentido de pecados). Jesus seria o cordeiro, aquele que daria a vida por amor ao próximo. Lendo Isaías vemos que isso combina perfeitamente com a história de Jesus. Para os cristãos é uma profecia definitiva sobre a vinda de Jesus (Deus) ao mundo. Para bem situar o leitor colocarei abaixo o inteiro teor do texto bíblico.

"Isaías 53 - 1 Quem deu crédito à nossa pregação? E a quem se manifestou o braço do Senhor? 2 Porque foi subindo como renovo perante ele, e como raiz de uma terra seca; não tinha beleza nem formosura e, olhando nós para ele, não havia boa aparência nele, para que o desejássemos. 3 Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum. 4 Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. 5 Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. 6 Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos.

7 Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca. 8 Da opressão e do juízo foi tirado; e quem contará o tempo da sua vida? Porquanto foi cortado da terra dos viventes; pela transgressão do meu povo ele foi atingido. 9 E puseram a sua sepultura com os ímpios, e com o rico na sua morte; ainda que nunca cometeu injustiça, nem houve engano na sua boca. 10 Todavia, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando a sua alma se puser por expiação do pecado, verá a sua posteridade, prolongará os seus dias; e o bom prazer do Senhor prosperará na sua mão. 11 Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com o seu conhecimento o meu servo, o justo, justificará a muitos; porque as iniqüidades deles levará sobre si. 12 Por isso lhe darei a parte de muitos, e com os poderosos repartirá ele o despojo; porquanto derramou a sua alma na morte, e foi contado com os transgressores; mas ele levou sobre si o pecado de muitos, e intercedeu pelos transgressores."

Apesar do texto ser bem claro a respeito de tudo o que aconteceria com Jesus no futuro (essa profecia foi escrita cinco séculos antes do nascimento de Jesus de Nazaré, profetizando o que lhe aconteceria), muitos rabinos judeus entendem que o longo trecho se refere não a um homem e nem a um Messias, mas sim ao próprio povo de Israel, Para eles o "servo sofredor" na verdade seria o próprio povo judeu, em uma referência que do ponto de vista histórico falava sobre a saída dos judeus do cativeiro da Babilônia. Nada a ver com a chegada de Jesus cinco século depois. É realmente muito complicado ler a profecia de Isaías e não pensar que ele está se referindo a um sujeito, a uma pessoa e não a uma coletividade. Como superar isso? Para os mestres do judaísmo isso seria explicado pelo fato de existir traduções equivocadas do original em hebraico. Não concordamos com esse ponto de vista, porém diante de uma postura de respeito a outras religiões e crenças, resolvemos colocar aqui também a opinião dos judeus, que até hoje não aceitaram a figura de Jesus (Yeshua em sua língua natal) como o verdadeiro Messias profetizado pelo profeta Isaías.

Pablo Aluísio.

A Mensagem de Jesus e a Intolerância Religiosa

A Mensagem de Jesus e a Intolerância Religiosa
Devemos respeitar todas as religiões e suas doutrinas, caso contrário tudo o que nos tornaremos é mais um na longa fila dos intolerantes religiosos. Se você quer expor seu pensamento sobre Deus, ótimo, você é livre para isso, mesmo que sua doutrina religiosa seja diferente da minha. Agora tudo se deturpa quando você começa a apenas atacar as outras crenças. A fé em Deus é algo pessoal, bem  subjetivo. No final é algo entre Deus e a pessoa. Cada um encontra seu caminho até chegar a Deus e se esse caminho é diferente do seu, não significa que você deve ofender as escolhas de cada um. A intolerância religiosa nasce quando alguém não aceita que as pessoas tenham sua própria religiosidade. A humilhação e a ridicularização são formas de intolerância religiosa. Repense suas posturas. Você poderia estar passando seu ponto de vista de um modo equilibrado, racional. Não seja mais um pregador de ódio contra os que pensam diferente de você! O ódio é o oposto do amor e Jesus pregou o amor. Quem prega o ódio contra a religião alheia não está obviamente seguindo a mensagem de Jesus que era acima de tudo de puro amor.

Deus não olha pequenas divergências de doutrina religiosa, Deus olha o coração de cada um. Um católico pode ser salvo, assim como um evangélico, um judeu, etc. Se essas pessoas forem puras de coração e sua ligação com Deus for sincera ela será salva. Não será por causa de picuinhas doutrinárias religiosas (muitas delas criadas pelos homens apenas) que alguém perderá a salvação. Detalhes de doutrinas são secundárias, Jesus deixou isso bem claro. Veja no evangelho. Ao ver que alguns judeus estavam preocupados em violar uma lei que dizia que não se deveria consumir certos alimentos em determinados dias da semana, que isso causaria a impureza da alma desses homens, Jesus disse: O que torna impuro o homem não é o que entra pela sua boca (os alimentos em questão), mas sim o que sai de sua boca (as ofensas aos outros, por exemplo).

Você acha que entre bilhões de pessoas no mundo, cada qual com sua própria cultura e religião, ninguém seria salvo apenas por questões doutrinárias secundárias? Os justos e puros de coração serão salvos pela misericórdia de Deus. Esse é ensinamento de Jesus de Nazaré. A condenação da alma apenas por pequenos detalhes religiosos é sem sentido. Esse tipo de pensamento é absurdo. Deus não punirá e nem condenará ninguém por causa desse tipo de questão. O que valerá no final é a pureza do coração em cada um. Esse é o pensamento que Jesus deixou bem claro em sua mensagem. Por isso te digo, se estão saindo coisas impuras da sua boca (como disse Jesus), isso não será bom para você no juízo. Repense e leia a palavra do Filho do Homem. Entenda bem o que ele quis passar. Reavalie a forma como você está agindo. Não condene a maneira de pensar diferente do seu irmão. Ele segue outra religião? Essa é uma escolha dele, apenas dele.

Apenas fique atento e procure evitar seguir aqueles que transformam a pregação em uma bandeira de ódio contra os outros, contra os que professam outro tipo de fé! Uma conduta negativa nada tem a ver com a mensagem do Cristo. E qual é a sua conduta? A de ofender outras formas de religião! Isso seria de acordo com Deus? Jamais! Jesus veio para divulgar a boa nova e a boa nova é o amor, a tolerância e a misericórdia. O católico deve considerar o evangélico seu irmão, assim como o judeu, o seguidor de religiões afro, os espíritas, os mórmons, as testemunhas de Jeová, os budistas! Qualquer pessoa religiosa merece respeito, acima de tudo! Jesus disse que na casa de seu Pai havia muitas moradas. Esse é o grande exemplo do cristianismo, o acolhimento de todos. O Nazareno deixou claro que a cortina do templo da antiga proposta religiosa (que só aceitava os seguidores da vertente religiosa judaica) estava rasgada com sua ressurreição. Se você ainda não entendeu isso, certamente não entendeu a verdadeira mensagem de Jesus de Nazaré. A mensagem de Jesus é para todos os homens, independente de suas religiões. Jesus veio para todos.

A ofensa e a perseguição contra outras religiões é algo absolutamente negativo e isso definitivamente não parte de Deus. Devemos amar todas as maneiras e expressões religiosas no mundo. Isso é positivo. Ofender, não. Como disse Jesus o que realmente torna impuro o homem é o que sai de sua boca. Eis o problema. Se você deseja mesmo seguir o exemplo do Filho do Homem é importante entender sua mensagem. Faço parte de uma comunidade católica e sou muito feliz na minha religião. Claro que sei que existem muitas outras religiosidades pelo mundo afora, mas procuramos respeitar todas elas, todas! O Papa Francisco sempre deixa isso bem claro em suas pregações. Trate aquele que professa outra fé como a um verdadeiro irmão. Talvez esse seja o grande segredo do sucesso do catolicismo pelo mundo inteiro, a sempre disposição de ajudar, de ser um braço amigo e fraterno.

A tolerância religiosa nos aproxima de Deus, nos tornam pessoas melhores. Esse tipo de postura não faz parte apenas da doutrina religiosa católica, mas das obras dos grandes filósofos clássicos da Grécia e de Roma. Aliás os grandes textos filosóficos clássicos da antiguidade só chegaram ao nosso conhecimento por causa dos mosteiros católicos espalhados por toda a Europa. Os monges copistas preservaram esse grande legado cultural. Não é à toa que na visita do Papa Francisco aos Estados Unidos o Presidente Obama disse em discurso que a Igreja Católica foi um dos mais importantes pilares da fundação da civilização. Ele tinha toda a razão.

Essa é a grande lição dessa mensagem. O próprio Jesus, se formos pensar bem, foi morto justamente por causa da intolerância religiosa. Sua mensagem era revolucionária, ia contra a visão tradicional da época. A forma de pensar de Jesus foi combatida com violência e ele foi crucificado. Quando você se torna intolerante religioso você pensa igualmente aos que mataram Jesus. Ser um intolerante faz de você uma pessoa que está colocando Jesus de novo na cruz! É isso o que você deseja ser? Claro que não! Quando geralmente encontro alguém cheio de ódio no coração tento deixar uma palavra de paz, de amor e de compreensão. Jesus deixou palavras de amor, seu mandamento é puro amor - amar uns aos outros como eu os amei - tão simples! Infelizmente as pessoas ainda preferem encher o coração de ódio ao invés de amor. Odiar o que pensa diferente, o que segue outra vertente religiosa. Isso não o levará perante Deus. De qualquer forma, fazendo um trabalho de formiguinha tento espalhar a mensagem pura do Nazareno que foi acima de tudo o amor ao próximo.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Papa Paulo III

O cardeal Alessandro Farnese se tornou o Papa Paulo III em outubro de 1534, pouco tempo após o assassinato de Clemente VII, seu antecessor. Alessandro era um velho cardeal na ocasião, muito bem relacionado nos bastidores do alto clero do Vaticano. Romano de nascimento, ele conhecia toda a cúpula da Igreja Católica na intimidade. Ao subir no trono de Pedro, Farnese precisou lidar com alguns aspectos negativos que envolviam sua biografia no passado. Uma delas era o fato de ter sido muito próximo do corrupto Papa Alexandre VI. Muitos cronistas diziam que a ascensão desse Papa representava a subida novamente ao poder do grupo que cercava o Papa Bórgia.

Outro problema é que Alessandro Farnese tinha filhos! Ele formou uma família enquanto era cardeal, isso em uma época em que o celibato já era regra oficial da Igreja. Ele tinha quatro filhos com uma nobre chamada Silvia Ruffini. Todos eles eram bem conhecidos em Roma e de certa maneira a notícia de que o novo Papa era realmente pai de família não chocou muito as pessoas da época, pois isso era de certa maneira notório dentro daquela sociedade. O celibato ainda era contestado por vários membros do clero, muitos alegavam que não havia base bíblica para essa norma. Curiosamente os escritos de Paulo (ao qual o nome do novo Papa se inspirava) tinham servido de fundamento para os defensores do celibato clerical.

Os problemas de sua vida pessoal porém pareciam menores diante da crise que a Igreja vinha passando. O avanço do protestantismo começava a preocupar os líderes da Igreja Católica. Os papas anteriores não tinham se empenhado muito em deter esse avanço, mas Paulo III chegara na conclusão que a coisa toda havia saído do controle. Durante mil e quinhentos anos o cristianismo havia sido unido sob a bandeira do Vaticano. Era uma igreja única. Com as publicações de Martinho Lutero várias novas igrejas iam surgindo nas mais diversas sociedades da Europa. Mal um novo monarca subia ao trono e logo ele rompia com o catolicismo, criando sua própria igreja. Foi o que fez o Rei inglês Henrique VIII. Com a recusa do Papa Clemente VII em lhe dar o divórcio ele resolveu romper com Roma. Expulsou os membros do clero católico do país e fundou sua própria igreja, a Anglicana. Casou-se com sua amante Ana Bolena e acabou sendo excomungado justamente por Paulo III que o declarou herege, adúltero e pecador.

Para combater o avanço do pensamento Luterano pela Europa, Paulo III também tomou outras providências, dando início ao que ficou conhecido como Contra-Reforma, uma série de medidas que visavam parar a reforma protestante pelo continente. Uma dessas medidas foi a implantação da terrível inquisição que visava julgar e condenar todos os hereges da fé católica. Sob essa bandeira muitos foram mortos em fogueiras por toda a Europa. Paulo III também promoveu e incentivou a fundação da Companhia de Jesus, criada por Inácio de Loyola em 1540.

De certa maneira Paulo III foi um Papa contraditório. Ao mesmo tempo em que ele autorizou coisas terríveis como a inquisição ibérica, também foi um patrono das artes, servindo de Mecenas para que Michelangelo pintasse uma de suas maiores obras primas, o juízo final no altar da Capela Sistina. Também se mostrou muito humanista ao escrever e defender os direitos dos povos nativos das recentes colônias espanholas e portuguesas no novo mundo. Em 1545 também promoveu outra de suas grandes obras, a convocação do Concílio de Trento, que iria mudar a Igreja para sempre. Tudo porém acabou ruindo da noite para o dia. Um de seus filhos foi assassinado por causa de intrigas palacianas e brigas por direitos sucessórios. A morte dele arrasou o Papa. Ele nunca mais conseguiu ser o mesmo. Ao entrar em depressão acabou sofrendo um colapso do coração, pois já estava em idade avançada, com 81 anos. Depois de sua morte ele foi enterrado na Basílica de São Pedro, como havia se tornado tradição no século XVI.

Pablo Aluísio.

O Deus dos Judeus e o Deus dos Cristãos

Esse é um aspecto polêmico, mas vale a reflexão. Antes de mais nada é importante frisar que estou nesse texto tratando de um aspecto teológico, ou seja, não é minha intenção criticar qualquer tipo de crença ou fé alheia. Dito isso vamos para a análise. A primeira é uma afirmação que não está livre de controvérsias. O Deus dos judeus não é o mesmo Deus dos cristãos. O Deus dos cristãos é Jesus. Jesus é Deus dentro da doutrina cristã. Deus se fez homem na figura de Jesus. O Deus dos  judeus é apenas Deus, o eterno. Os judeus não acreditam que Jesus era Deus. Não acreditam nem que ele era o Messias. Assim muitos confundem esse tema. Jesus por ser judeu seguia em parte as leis do judaísmo e tecnicamente o Deus que ele adorava seria o mesmo Deus dos cristãos. Será mesmo? Não se deve confundir as bases do Judaísmo com as bases do Cristianismo. O Judaísmo é uma religião, o Cristianismo é outra. As regras de uma doutrina religiosa não valem necessariamente para a outra. Nem o Deus de uma das religiões é o mesmo da outra. Duvida? Então vamos lá.

Quem acha que o Deus do Judaísmo é o mesmo do Cristianismo nunca refletiu muito a fundo sobre os fundamentos do próprio cristianismo. Teologia é importante, justamente por essa razão, é algo importante para a vida! Assim vamos expor as bases de cada religião aqui. Jesus é Deus na doutrina do cristianismo (católico e protestante). Para o Judaísmo Jesus não é Deus. Ele foi apenas um judeu que viveu no século I e que tinha sua própria visão religiosa. Nada mais do que isso. Se Jesus é Deus dentro do cristianismo e não é Deus dentro do judaísmo, logo chegamos na conclusão lógica que as duas grandes religiões do mundo ocidental não seguem a mesma divindade. O Deus de uma religião não é o mesmo Deus da outra religião.

Claro que existirão aqueles que dirão que o Deus que Jesus adorou foi o mesmo Deus do judaísmo tradicional. Isso porém vai até um determinado momento histórico. Com a morte de Jesus e a crença em sua ressurreição temos uma clara ruptura entre o Judaísmo tradicional e a nova religião que nascia. Uma expressão muito interessante que expressa isso diz que a cruz de Jesus rasgou a cortina do templo, ou seja, sua morte e ressurreição rompe definitivamente com as amarras e leis do velho Judaísmo tradicional. O próprio Jesus ao longo de sua vida pregou vários temas que fugiam ao que era imposto pelas autoridades do templo. Basta lembrar do evento em que ele disse "Que atire a primeira pedra quem nunca pecou!" ao impedir o apedrejamento de acordo com as leis judaicas ou então quando rompeu com uma velha tradição sobre o não consumo de alimentos por parte dos judeus em determinado dia da semana. Nesse dia Jesus disse: "O que torna impuro os homens não é que entra de sua boca, mas o que sai dela!".

Então o que vemos é um Jesus que não estava disposto a seguir cada detalhe secundário da doutrina do judaísmo, muito longe disso. E por parte das autoridades do templo ele tampouco era o Messias e para sustentar essa posição alegavam e traziam de volta as antigas profecias que diziam o que o verdadeiro Messias deveria fazer. Não há salvação nesse ponto. O cristianismo apresenta muitos laços históricos com o judaísmo, mas em termos de identificação as semelhanças logo param e param justamente na figura de Jesus, o Deus dos cristãos. A Trindade, por exemplo, algo tão vital na crença dos cristãos não é também aceita pelos judeus. As diferenças são enormes e não cabe aqui expor todas elas.

O Judaísmo tem seus dogmas, doutrinas religiosas e sistema de crenças próprios. O cristianismo também. Não são ambos idênticos e por essa razão não são a mesma religião. Por isso vejo com espanto quando algum líder religioso cristão levanta regras do velho Judaísmo para criticar outras vertentes do cristianismo. Do ponto de vista teológico isso não faz o menor sentido. Um exemplo vem da tão falada idolatria dos católicos em relação às imagens. Ora, essa é uma velha regra do Judaísmo que sequer deveria ser levada em conta dentro do cristianismo. Pior do que isso, os católicos não veneram imagens, como já bem expliquei aqui no blog. Mesmo que adorassem imagens, não haveria em si mesmo nenhum problema. O catolicismo tem seus próprios dogmas religiosos, suas próprias doutrinas. Não segue literalmente tudo o que o velho Judaísmo prega. Como um evangélico pode levantar uma regra do velho Judaísmo contra os católicos se os judeus sequer acreditam que Jesus é o Messias? Não faz muito sentido não é mesmo?

Além disso a ignorância impera em muitos setores. O idolatrismo condenado pelos judeus era bem outro. Primeiro só se referia a idólatras dentro do próprio Judaísmo e segundo que os textos antigos se referem a cultos de idolatria onde havia até mesmo sacríficios humanos de crianças. Quem pode comparar algo assim tão terrível com a arte sacra dos católicos? É simplesmente absurdo. Dessa forma fica então esses aspectos que levantei para pura reflexão. Pense sobre tudo o que leu e reflita sobre tudo o que eu escrevi.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Papa Júlio III

Foi um ato de coragem do cardeal Giovanni Maria Giocci adotar o nome Papal de Júlio III. Isso porque Júlio II havia sido um dos grandes Papas daquele século. Evocar o título Papal Júlio era realmente a prova que o cardeal Giocci queria nada mais do que a grandeza para seu pontificado. Ele subiu ao trono em novembro de 1549, no conclave que foi convocado após a morte do Papa Paulo III. O alto clero de Roma queria mudar alguns aspectos para o novo Papa. Era necessário escolher um sucessor não tão idoso como havia sido Paulo III e não tão jovem como Leão X (que se tornou Papa com apenas 37 anos de idade!).

O que eles procuravam então? Um homem de meia idade, culto, bem relacionado diplomaticamente e que tivesse poder dentro da cúria romana. Nenhum nome se encaixava melhor nesse perfil do que Giocci. Assim que assumiu ele percebeu que o velho problema da cisão do Cristianismo continuava na Europa. Monarcas estavam fundando suas próprias igrejas protestantes, muitas delas controladas por protegidos da nobreza, pessoas sem qualquer qualificação religiosa que só queriam explorar os fiéis. Roma estava apreensiva com essa situação.

Júlio III enquanto cardeal foi um homem de confiança do Papa Paulo III. Muitos diziam que ele era seu braço direito. Assim não houve mudanças significativas no rumo da Igreja durante seu pontificado. O novo Papa se dedicou a completar tudo o que havia começado na gestão de Paulo III, entre eles o desenvolvimento do Concílio de Trento. Essa reunião de mestres e estudiosos católicos tinha sido inaugurada por Giocci quando ele era cardeal. Foi dele a incumbência de fazer as orações iniciais do Concílio e agora como Papa as discussões teológicas deveriam seguir em frente.

As teses de Martinho Lutero foram debatidas durante o Concílio e rejeitadas. Houve uma preocupação especial de Júlio III com os seminários católicos ao redor do mundo. Ele temia influências por parte dos reformistas nas mentes dos jovens estudantes. Por isso reforçou os colégios eclesiásticos, em especial da Alemanha e de Roma. Ajudou a elaborar os estatutos dos jesuítas, considerados essenciais para a Igreja Católica naquele momento delicado. Também fortaleceu a doutrina católica, evitando que fosse contaminada pelas novas heresias vindas dos seguidores de Lutero.

No plano externo, em questões políticas, o Papa Júlio III se aliou a Maria Tudor, filha de Henrique VIII, que havia rompido com o catolicismo. Com a morte do rei o Papa viu a oportunidade de reorganizar a Igreja Católica na Inglaterra, algo em que alcançou certo êxito. Também procurou abrir diálogo com os protestantes alemães, pois apesar de haver discordâncias dogmáticas, as duas linhas de pensamento religioso eram cristãs, acima de tudo. O Papa porém não conseguiu ver suas obras concluídas. Seu papado foi relativamente breve. Após cinco anos no trono de Pedro ele morreu, vítima de gota, uma doença bem dolorosa, que o impedia de se deslocar por sua corte e seus domínios, algo que lhe trouxe fama de ser recluso e alheio ao povo católico da época.

Pablo Aluísio.

Papa Clemente VII

Depois da morte do Papa Adriano VI subiu ao trono mais um membro da família Médici. Júlio de Juliano de Médici, que se tornaria o papa Clemente VII, era bem diferente de Adriano. Enquanto esse vinha de origem humilde e subiu por suas próprias forças, Júlio era parte da rica aristocracia europeia, fazendo parte da elite rica (e corrupta) de Florença, uma das mais influentes e poderosas cidades estado da época. O interessante que Júlio Médici foi por anos um dos grandes conspiradores palacianos do Vaticano, sendo figura central na ascensão de vários Papas como Leão X (com o qual tinha parentesco) e Adriano VI, seu antecessor.

Sua subida na carreira eclesiástica foi fulminante. Em pouco tempo Júlio Médici saiu da posição de padre para arcebispo, bispo e cardeal. Praticamente toda a sua carreira foi formada em Florença, onde sua família exercia uma posição de grande proeminência. Depois de se tornar cardeal foi para Roma, onde com grande tradição política acabou se tornando uma figura central na subida e queda dos Papas da época. Dizia-se nos bastidores que Júlio Médici, muitas vezes, tinha mais poder e influência do que o próprio Papa.

Por essa razão era natural que um dia viesse a se tornar Papa também. E assim ele venceu de forma bem fácil a eleição para a sucessão de Adriano VI. Adotando o nome de Clemente VII ele logo entrou de forma decisiva no jogo político da época, nunca se furtando em se meter nos mais variados assuntos dos diferentes Estados cristãos. Foi seguramente um dos pontífices mais politiqueiros de toda a história. Não havia um só trono ou nação que não tivesse algum representante do Papa em sua corte, sempre jogando o xadrez político daqueles tempos.

Com tanto envolvimento na política da época, Clemente VII negligenciou o lado religioso de seu posto. Ao invés de estar envolvido em questões de fé, espirituais, Clemente parecia mais interessado em colocar monarcas que estivessem ao seu lado, destronando os que iam contra seus interesses. Tampouco quis saber do nascente movimento protestante. Clemente achava aquilo uma bobagem que iria passar, sumir com o tempo, por isso não deu ouvidos às críticas que eram feitas para a Igreja, ao invés disso passou a insistir em coisas erradas, como a venda de indulgências.

O fato histórico mais conhecido de seu papado foi o rompimento com o Rei inglês Henrique VIII. O monarca britânico queria se separar de sua primeira esposa, que não lhe dava um herdeiro homem, para se casar com Ana Bolena, que tinha fama de prostituta. O Papa recusou dar o divórcio a Henrique pois Catarina de Aragão, a Rainha, era uma devota católica fiel. A crise, sem solução, acabou levando ao rompimento de Londres com Roma. Henrique VIII expulsou os padres e membros católicos da Inglaterra, fundando sua própria Igreja, chamada Anglicana. O Papa Clemente VII morreu aos 56 anos de idade, após ser envenenado em sua refeição com um cogumelo venenoso. Quem o matou? Com tantos inimigos nas cortes europeias essa resposta acabou ficando sem resposta.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Papa Leão X

A morte do grande Papa Júlio II abriu um vácuo de poder em Roma. Seu sucessor teria que ser igualmente grandioso. As principais famílias nobres da Europa disputavam o trono de São Pedro na época. Ter um Papa em sua linhagem familiar era seguramente uma grande honra. Assim na disputa pela sucessão de Júlio II a poderosa, rica e influente família Médici se sagrou vitoriosa, dando o trono do Papado para um de seus membros: Giovanni di Lorenzo de' Medici que se tornou o Papa Leão X em março de 1513. Como membro de uma das famílias nobres mais ricas de toda a Europa, Giovanni cresceu recebendo a melhor educação possível para a época. Seus professores ao longo da vida eram mestres da filosofia, das artes e da política. Ele era em razão disso extremamente culto e um dos jovens mais preparados da Europa, tanto que se tornou Cardeal muito jovem ainda.

Esse Papa realmente tinha que ter um preparo intelectual fora do comum porque ele enfrentou um dos grandes desafios na história da Igreja Católica: o desmembramento da fé cristã. Durante séculos, por mil e quinhentos anos,  a Europa viveu unida apenas sob uma única fé: o catolicismo. Agora Leão X precisava enfrentar algo novo, impensável anos atrás. Um grupo de reformistas liderados por Martinho Lutero estava divulgando ideias por todo o continente que dariam origem à reforma protestante. Os reformistas denunciavam a corrupção na cúpula da Igreja Católica e propunham uma reforma radical em seus dogmas, ritos e crenças. A Igreja já havia enfrentado muitos problemas antes, inclusive com invasões de exércitos brutais em seus domínios, mas jamais havia enfrentado uma guerra no mundo da teologia, das ideias religiosas.

Leão X foi um dos papas mais jovens da história. Ele subiu ao poder no Vaticano com apenas 37 anos de idade! Isso aliado aos desafios que tinha que enfrentar colocava em risco os rumos da poderosa Igreja Católica. Assim que assumiu o jovem Papa precisou enfrentar o fracasso do quinto Concílio de Latrão que foi reunido para trazer inovações para a Igreja, mas que concretamente fez muito pouco. Em pouco tempo se chegou na conclusão que havia sido um fracasso teológico. Os problemas porém iam além dos meros fracassos internos. O mundo cristão ocidental estava ameaçado pelo avanço dos guerreiros muçulmanos. O poderoso império Otomano estava prestes a invadir a cristã Hungria, ameaçando invadir a Europa Ocidental. Leão X então precisou reunir todos os grandes monarcas europeus para que eles organizassem seus exércitos para combater os islâmicos antes que fosse tarde demais. Planos para uma grande cruzada foram elaborados, porém no final o Papa conseguiu respirar aliviado ao perceber que os exércitos húngaros tinham conseguido destruir os exércitos invasores do Islã.

Outra crise, essa de natureza doméstica, perturbava a paz de Leão X. Em sua época a península itálica ainda não formava um único Estado (o que futuramente aconteceria com a fundação da Itália). Assim existiam várias cidades-estados, tais como Milão, Nápoles, Veneza, etc, sempre brigando entre si. Leão X exercia assim uma posição de árbitro no meio de tantos conflitos, algo que o desgastou enormemente. Dois porém foram grandes legados do Papa Leão X. O primeiro dizia respeito à escravidão. O Papa condenou publicamente o tráfico de negros para serem usados como mão de obra escrava nas colônias americanas. Para o Papa isso era um completo absurdo. Outra inovação veio do direito canônico pois o Papa Leão X promoveu mudanças para evitar que os postos de cardeais fossem ocupados apenas por fatores puramente políticos. Para ser cardeal agora era necessário passar por anos e anos de dedicação eclesiástica. Ironicamente o Papa Leão X encerrava um modelo que de certo modo havia lhe favorecido no passado. Depois de muitas lutas internas e externas, de política e teologia, o Papa morreu de forma repentina em dezembro de 1521, com apenas 45 anos de idade, o que despertou suspeitas de que ele teria sido envenenado. Algo que nunca foi historicamente confirmado.

Pablo Aluísio.

Papa Adriano VI

O Papa Adriano VI, que sucedeu Leão X, herdou um mundo cristão dividido. O protestantismo estava se espalhando em países do norte da Europa, muitas vezes apoiados por monarcas que tinham problemas políticos com a Igreja Católica. O curioso é que inicialmente o reformador Martinho Lutero queria a fundação de uma Igreja Evangélica unida, única, mas isso de fato não aconteceu. Cada príncipe, cada monarca europeu, cada Rei e Rainha, promoveu a fundação de igrejas subordinadas a eles, com dogmas religiosos que lhes agradavam e nada mais. O cristianismo assim passava por uma verdadeira anarquia religiosa promovida pelas monarquias europeias.

Adriano Floriszoon Boeyens, o Papa Adriano VI, era alemão de nascimento. Ele tinha origem humilde, filho de um simples marceneiro e uma dona de casa. Pessoas simples de sua cidade natal, Utrecht. O jovem porém demonstrava ter vocação para o estudo. Por isso seu pai o incentivou a investir numa vida acadêmica, ter educação formal, algo que lhe faltou. Patrocinado pela Marquesa de Borgonha ele fez dos estudos sua vida. Entrou na universidade e se formou em teologia, filosofia e direito canônico. Era um estudante disciplinado, dedicado e fervoroso amigo do saber. Desde cedo se destacou entre os colegas justamente por essas características.

A Igreja Católica mantinha as melhores universidades da época e assim a vida religiosa passou a ser um passo natural em sua vida. Quando se formou se tornou professor dos filhos da alta nobreza, educando os filhos do imperador Maximiliano I. Era um homem erudito, culto e muito respeitado. Justamente o tipo que o Papa Leão X - ele também um erudito - queria ao seu lado em Roma. Assim Adriano foi chamado para o Vaticano e lá se tornou Cardeal, por seus méritos próprios. Não tinha origem aristocrática, mas soube-se fazer sozinho com dedicação e luta no mundo dos estudos. Foi recompensado por isso.

Quando Leão X morreu uma parte dos cardeais queria a eleição de seu primo, também da família Médici, para o trono de Pedro. Dois terços dos cardeais porém formaram um bloco de oposição e resolveram apoiar Adriano, por ser um homem culto, de origem humilde, que não tinha laços com famílias ricas como os Médicis. Assim Adriano foi eleito Papa em 1522, quando curiosamente ele não se encontrava em Roma. Só depois voltou para a cidade, já eleito Papa pelos membros da Cúria Romana. Tinha 63 anos, uma idade considerada avançada para a época pois a expectativa de vida não ia muito além disso.

Como Papa, Adriano VI tentou lutar contra a corrupção na alta cúpula da Igreja Católica. Combateu as indulgências e promoveu reformas éticas em Roma. Como era alemão, com hábitos diferentes e cultura estrangeira, não conseguiu ganhar a confiança do povo romano, apesar de suas medidas de limpeza da Cúria romana. Era considerado um homem duro, de gestos firmes, não condizentes com o que o rebanho estava acostumado. No trato político era austero, o que lhe criou problemas com a nobreza europeia. Também, para muitos historiadores, não levou muito à sério a Reforma Protestante, achando equivocadamente que ela não iria muito longe e que não prosperaria. Infelizmente, como já era uma pessoa idosa para os padrões do século XVI, não ficou muito tempo como Papa, Após um ano de sua subida ao trono morreu no Vaticano. Foi um dos mais breves papados da história. Um outro Papa alemão demoraria a subir novamente ao poder depois de sua morte.

Pablo Aluísio.

domingo, 12 de junho de 2011

Lutero e o Nazismo

Que ligação poderia haver entre o pai do protestantismo, Martinho Lutero, e o Nazismo que varreu a Europa no século XX? Segundo o historiador Robert Michael as fontes do sentimento nazista possuem uma ligação incômoda com textos que Lutero deixou. Já é consenso que Lutero era profundamente antissemita. Ele odiava judeus em geral e não parecia esconder esse fato. Pior do que isso, escrevia sobre sua ódio para o que ele considerava ser "O povo do diabo". 

Nos últimos anos de sua vida escreveu: "A Alemanha deve ficar livre de judeus, aos quais após serem expulsos, devem ser despojados de todo dinheiro e joias, prata e ouro. Que sejam incendiadas suas sinagogas e escolas, suas casas derrubadas e destruídas." O texto choca pela violência verbal, porém essas frases não foram escritas por um membro do partido nazista, mas sim por Lutero!

Três anos antes de morrer Lutero defendeu a tese de que o povo judeu não era mais o escolhido por Deus. Não era mais o povo eleito pelo Senhor, mas sim o povo do diabo. Chocante demais? Agora veja que ele foi além, muito além, ao escrever que "A sinagoga é como uma prostituta incorrigível e uma devassa maléfica. Os judeus estão cheios das fezes do demônio, nas quais se rebolam como porcos". Sua retórica agressiva e humilhante seria vista nos dias de hoje como um crime de ódio. Em determinado momento chegou a escrever: "A culpa é nossa, por não termos matado todos eles".

Seus textos intolerantes criaram inúmeros problemas por toda a Alemanha. Na Saxônia houve tumultos e mortes. Em Brandenburg e na Silésia houve inúmeras perseguições promovidas por protestantes contra judeus em sinagogas e nas ruas. Uma coisa tenebrosa. Em Estrasburgo os textos antissemitas de Lutero foram proibidos, mas os conflitos continuaram quando um pastor luterano incentivou seus paroquianos a matarem todos os judeus que encontrassem pela frente! Algo terrível. Apesar de combatido o pensamento infame de Lutero contra os judeus persistiu, chegando ao século XX quando subiu ao poder na Alemanha os Nazistas.

Assim como havia escrito Lutero, os membros do Partido Nazista também declaravam abertamente o ódio aos judeus e pregavam seu extermínio físico. Isso levou o Pastor Wilhelm Rehm de Reutlingen a declarar em 1933 que o Nazismo não teria surgido se Lutero não tivesse plantado o ódio antissemita na Alemanha em sua época. Julius Streicher, editor do jornal Nazista Der Stürmer, foi mais longe e escreveu que "nunca havia dito nada sobre os judeus que Martinho Lutero não tivesse dito 400 anos antes." A questão foi resumida pelo historiador William L. Shirer que declarou:“O grande fundador do protestantismo não foi só antissemita apaixonado como feroz defensor da obediência absoluta à autoridade política alemã. Desejava a Alemanha livre de judeus!"

Pablo Aluísio. 

Papa Júlio II

Em uma época em que os Papas eram os monarcas mais poderosos da Europa cristã, o Papa Júlio II foi certamente um dos homens mais influentes e poderosos de seu tempo. Giuliano della Rovere era italiano, nascido na cidade de Savona. Desde jovem esteve ligado aos assuntos da Igreja Católica uma vez que era sobrinho do Papa Sisto IV. Esse parentesco lhe abriu as portas para ter acesso a uma educação primorosa, nas melhores escolas da Igreja. Muitos historiadores acreditam inclusive que Sisto queria formar e modelar um sábio para no futuro se tornar Papa. O jovem Giuliano era basicamente seu projeto pessoal em relação a isso.

Assim o futuro Papa acabou recebendo uma educação das mais completas. Quando se tornou frade resolveu seguir os passos dos franciscanos a quem especialmente admirava. Depois foi subindo na hierarquia da Igreja em Roma. Se tornou bispo na França e depois cardeal em Roma. Sabia falar várias línguas, o que o deixava em posição especial dentro da cúria, geralmente exercendo funções diplomáticas. O Papa Inocêncio VIII o tinha em grande estima pessoal. Quando Alexandre VI, um dos papas mais corruptos da história da Igreja subiu ao poder, Giuliano della Rovere se tornou um dos principais cardeais de oposição aos seus absurdos. Tão indignado ficou com Alexandre VI que inclusive chegou ao ponto de se aliar ao Rei Charles da França para que exigisse um concílio com o objetivo de investigar os abusos cometidos.

Quando Alexandre VI morreu subiu ao poder o Papa Pio III, o breve. Esse Papa vinha como um esperança de renovação contra os abusos e crimes do Papa anterior, mas morreu pouco depois, de uma séria doença incurável. Assim Giuliano della Rovere se tornou seu sucessor natural, uma vez que sempre se alinhara com a oposição ao infame Papa Bórgia, linha política essa que tinha ele e Pio III como principais representantes. Em novembro de 1503 ele finalmente subiu ao trono de Pedro, adotando o nome de Júlio II.

Uma de suas principais medidas foi enfraquecer e aniquilar os poderes que a família Bórgia (do Papa Alexandre VI) ainda tinha em Roma. Em poucos meses ele renovou os principais postos do Papado, eliminando membros fiéis aos Bórgias. No campo teológico convocou o Quinto Concílio de Latrão que evitava deter a visão apocalíptica de Joaquim de Fiore, um abade que pregava o fim do mundo ainda para aquela geração. Também nesse Concílio chegou-se ao dogma que afirmava que a alma humana era individual e imortal. Júlio II também lutou contra a criação de uma Igreja Católica de natureza estatal, sediada na França.

Outro aspecto muito lembrado de seu Papado foi seu intenso apoio aos grandes artistas da época. Considerado o verdadeiro Papa Mecenas, Júlio II contratou os serviços de gênios como Rafael e Michelangelo. Foi Júlio II quem mandou pintar o teto da capela Sistina, considerada uma das maiores obras primas artísticas de todos os tempos. Também se destacou no campo militar. Para defender os territórios papais o Papa Júlio II mandou reorganizar os exércitos do Vaticano, investindo em novas armas e equipamentos para manter as terras que historicamente eram dos Papas.

Durante todo o seu Papado manteve uma aproximação com os monarcas da França, Portugal e Espanha. Ao lado desses dois últimos Estados acabou confirmando o Tratado de Tordesilhas, que dividia as novas terras descobertas entre os dois reinos. Em fevereiro de 1513 o Papa adoeceu misteriosamente e após uma febre intensa morreu no Vaticano. Ele foi enterrado inicialmente na Basílica de São Pedro Acorrentado (onde estariam relíquias importantes, as correntes que teriam prendido São Pedro). Depois seus restos mortais foram transferidos para serem enterrados na Basílica de São Pedro no Vaticano, bem ao lado de seu tio Sisto.

Pablo Aluísio.