terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Ray Charles - I Got a Woman

Ray Charles tinha tudo contra si no começo de sua vida. Ele nasceu negro em uma família muito humilde em uma das regiões mais segregadas e racistas dos Estados Unidos. Além disso ficou com problemas na visão muito cedo, se tornando deficiente visual. A questão é que ele também tinha um grande talento musical e isso o salvou completamente da vida cheia de privações e miséria de onde veio. No começo da carreira Ray se virou como podia para arranjar trabalho. Assim ele começou a copiar o estilo de Nat King Cole, afinal cantando daquela forma ele sempre arranjava contratos com as boates da região.

Obviamente Ray Charles tinha seu próprio estilo, único e maravilhoso, mas por questões puramente comerciais deixava isso um pouco de lado. O importante era sobreviver. Depois de uma temporada numa pequena gravadora ele foi finalmente contratado pela conhecida e poderosa Atlantic Records. Foi a grande chance de sua vida. As coisas porém não começaram muito bem pois Charles continuava a seguir os passos de Nat King Cole. Após lançar quatro singles e perceber que nenhum havia feito sucesso ele finalmente tomou coragem para assumir seu próprio estilo em seus discos. Assim levou "I Got a Woman" para gravar. Se fizesse sucesso seria ótimo, caso contrário ele voltaria para o estilo anterior.

"I Got a Woman" estourou nas paradas e levou o nome de Ray Charles pela primeira vez ao topo das paradas. A fórmula era mais do que interessante. A melodia era claramente inspirada na Gospel Music Negra, nos hinos religiosos que Ray conhecia tão bem desde criança. A letra porém não tinha nada a ver com religião, era aliás bem ousada, quase escandalosa naqueles tempos moralistas e conservadores. A fusão entre Gospel e uma letra tão profana deu origem a um novo gênero musical, a Soul Music, a música que vem de dentro, do fundo da alma. Finalmente após tantos anos de luta em busca do sucesso o maravilhoso Ray Charles havia finalmente encontrado seu caminho.

Claro que "I Got a Woman" abriu todas as portas para Ray Charles a partir daí. Desse ponto em diante ele não mais deixaria os picos da fama e do sucesso. A canção em si se tornou um marco e para muitos especialistas foi um dos primeiros registros de rock da história! Afinal de contas o que é o Rock em sua essência? Uma mistura talentosa de gêneros musicais diversos. "I Got a Woman" se enquadra perfeitamente nesse conceito. Consagrada por crítica e público a música ainda seria gravada por outros mitos, entre eles Elvis Presley e os Beatles. Maior prova de sua imortalidade não há!


Pablo Aluísio.

Raul Seixas - Metrô Linha 743

Era uma época complicada na vida de Raul Seixas. Ele havia passado por várias gravadoras, Philips, WEA, CBS e em todas elas tinha criado algum tipo de atrito com os executivos. Raul não fazia concessões e as gravadoras não o respeitavam como o artista criador que era. Em uma dessas gravadores um executivo lhe sugeria que fizesse uma canção em homenagem à Princesa Diana para voltar a tocar nas rádios! Raul achou um disparate! Isso era lá sugestão que se desse a um roqueiro verdadeiro como ele? Assim por volta de 1983 Raul foi parar na pequena "Estúdio Eldorado" que pertencia ao grupo Estadão. Raulzito achava esse jornal reacionário e quadradão mas precisando trabalhar encarou o desafio de gravar um disco que teria que vender 80 mil cópias de todo jeito. Para isso Raul compôs "O Carimbador Maluco" que fez parte de um programa infantil de grande sucesso da Globo e virou sucesso nas estações de rádio pelo Brasil afora. Depois disso cansado desse jogo comercial ele foi parar na Som Livre. Raul havia achado seu LP na Eldorado muito singelo, sem uma base musical sólida como ele estava acostumado a fazer em seus álbuns anteriores.

Em suas próprias palavras aquele tinha sido um trabalho bastante decepcionante para ele. Tanto que assim que terminou de gravar o disco literalmente vomitou a letra e música de "Metrô Linha 743". A canção não fazia concessões de nenhum tipo, era um momento raulseixista que lembrava os seus bons tempos de artista diferente, contestador e fora dos padrões. Raul também se dizia cansado das "fórmulas de sucesso" das gravadoras e por isso decidiu fazer um trabalho "preto e branco", sem firulas, todo baseado em arranjo acústico, com forte vocação para um som mais cru, mais verdadeiro, de origem mesmo. Em pleno furor de sucesso do chamado Rock Brasil, Raul então surgia com uma sonoridade bem diferenciada, que não fazia nenhuma questão de ser comercial. Curiosamente Raul não via graça nenhuma na leva de bandas de rock brasileiras dos anos 80. Para ele todos, sem reservas, eram alienados, acomodados. Para Raul não havia mais franco atirador para levantar a poeira do rock no Brasil. "Metrô Linha 743" era assim sua carta de intenções para o rock nacional não cair na mediocridade! Infelizmente para Raul a crítica da época não gostou muito do disco. O álbum foi acusado de não ter idéias novas - algo que deve ter sido cruel para Raul, logo ele que vinha trilhando a estrada do rock há tantos anos. A crítica para variar errou. "Metrô Linha 743" é um ótimo trabalho de Raul e hoje tem um status inegável de clássico e cult. Quem dera os queridinhos da mídia de hoje pudessem compor um trabalho tão criativo e consistente como esse.

Raul Seixas - Metrô Linha 743 (1984)
Metrô Linha 743
Um Messias Indeciso
Meu Piano
Quero Ser o Homem Que Sou
Canção do Vento
Mamãe Eu Não Queria
Mas I Love You (Pra Ser Feliz)
Eu Sou Egoísta
O Trem das Sete
A Geração da Luz

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Elvis Presley - A Legendary Performer - Volume 3

Quando Elvis Presley morreu sua gravadora, a RCA Victor, lançou muitos discos ruins. A maioria eram coletâneas sem maior importância. Meras edições visando apenas tirar dinheiro de admiradores desavisados. Velhas gravações, sem novidade nenhuma, com bonitas capas. Nada muito além disso. Porém havia coisa boa também chegando ao mercado. Essa série intitulada "A Legendary Performer" foi uma das poucas coisas importantes lançadas naqueles anos. Aqui havia sim uma certa preocupação em trazer material inédito para os fãs do cantor. E era justamente isso, gravações inéditas, que os colecionadores mais procuravam.

Aqui, nessa terceira edição, foi lançada pela primeira vez a música "Danny". Ela havia sido gravada para a trilha sonora do filme "Balada Sangrenta". Era uma excelente gravação, tecnicamente perfeita, mas os produtores na época, em 1958, resolveram tirá-la do disco! A razão dessa decisão? Até hoje não se sabe ao certo. Era então uma música inédita, coisa rara, algo que valia pelo LP inteiro. Outras novidades vinham em duas faixas inéditas dentro da discografia de Elvis, "It Hurts Me" e "Let Yourself Go". Não eram as versões oficiais, mas sim gravações do NBC TV Special. Além disso o ouvinte ainda era presenteado com uma versão inédita, ao vivo, de "Let It Be Me". Trocando em miúdos, era coisa que o colecionador não tinha acesso naqueles tempos. Um excelente lançamento para a ocasião.

Elvis Presley - A Legendary Performer Volume 3 (1978)
Hound Dog
Interview - TV Guide
Danny
Fame and Fortune
Frankfurt Special
Britches
Crying in the Chapel
Surrender
Guadalajara
It Hurts Me
Let Yourself Go
In the Ghetto
Let It Be Me

Pablo Aluísio.

Rolling Stones - Satisfaction

Eis a canção mais popular da carreira dos Stones. Chegou ao mercado pela primeira vez em 1965 e acertou em cheio no gosto dos jovens da época. A letra, temos que convir, não é a força motriz da música, mas sim sua linha melódica. São apenas três notas, compostas por Keith Richards, mas o que parece tão singelo é até hoje considerado um dos mais pegajosos riffs de guitarra da história do rock. Vai direto ao ponto e uma vez ouvida jamais será esquecida - afinal de contas esse é o grande segredo do sucesso. Embora seja creditada a Mick Jagger e Keith Richards a verdade é que a dupla mantinha um pacto ao estilo Lennon e McCartney, ou seja, mesmo que a canção fosse composta por apenas um deles, ambos levariam o crédito. Richards em algumas entrevistas enfureceu Jagger ao dizer que ele não tinha contribuído em nada na criação de "(I Can not Get No) Satisfaction". Para Keith essa é uma filha de um pai apenas, claro que ele mesmo!

Hoje, passado tantos anos, não há como saber quem tem ou não razão. A letra, que repito, não é grande coisa, tenta falar sobre frustração sexual e materialismo. Curiosamente existem rumores que os Stones estavam prontos a arquivar a canção. Sua salvação veio justamente pelo fato de ter entrado dentro do projeto do disco "Out of Our Heads", um dos mais interessantes trabalhos do grupo em sua primeira fase, ainda na onda do "Yeah, Yeah, Yeah" dos Beatles. Uma vez gravada - de forma impecável em minha opinião - o single chegou nas rádios, porém as grandes corporações inglesas de comunicação acharam a letra muito vulgar e obviamente ofensiva. Coube então as pequenas rádios (e as piratas) divulgarem o novo single.

Quando o sucesso pegou e não houve mais como ignorar, nem a poderosa BBC conseguiu jogá-la para debaixo do tapete. Falar hoje em dia da importância da música dentro da história do rock inglês é chover no molhado. Afinal ela foi eleita a segunda maior canção de rock já escrita dentro da lista da Rolling Stone (a revista) em sua edição comemorativa das "500 Maiores Músicas de Todos os Tempos". Listas são sempre idiotas, mas no caso dessa aqui serve ao menos para mostrar a importância desse rock dentro do mais popular estilo musical da história.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Summer Festival 72

Mais um lançamento da FTD (Follow That Dream) enfocando a temporada de verão de Elvis em Las Vegas no ano de 1972. O CD denominado "Summer Festival 72" conta com as apresentações de Elvis realizadas no Dinner e no Midnight Show dos dia 11 e 12 de agosto daquele ano. Essa temporada em Vegas foi um pouco problemática para Elvis, logo na estréia ele se sentiu mal no palco e teve que cancelar a apresentação. Depois voltou a ter novamente problemas de saúde, como aumento de peso e sintomas de depressão, e mais uma vez procurou a solução mais rápida e perigosa, com o crescente consumo de medicamentos. Mesmo assim não conseguiu evitar de se apresentar bastante pálido e gordo, embora cantando corretamente em vários shows. Nessa apresentação do dia 11 de agosto novamente Elvis não se afasta muito de sua tradicional set list de músicas, embora procure também apresentar coisas novas. Infelizmente Elvis em pouco tempo abandonaria esse costume de apresentar canções novas em seu repertório talvez por seguir um conselho de Frank Sinatra que dizia que grandes cantores sempre deveriam fazer o mesmo show para não decepcionar seus fãs. De uma forma ou outro esse CD se torna essencial para quem quer conhecer mais sobre essa temporada e fase de Elvis.

O fato é que Presley tinha muitos problemas pessoais e profissionais por essa época. O casamento com Priscilla estava no fim, as temporadas em Las Vegas já não mais despertavam grande interesse no cantor que naquele período começou a se interessar muito mais pelos shows nas outras cidades americanas (como os realizados em Nova Iorque) como uma melhor oportunidade de conhecer novos públicos, novos desafios, enquanto que em Vegas as coisas iam ficando mais ou menos na mesma. A correria aliada a muitos shows e turnês levou Elvis a aumentar o consumo de drogas, o que acabou refletindo em problemas de saúde, cada vez mais graves. Seu aumento de peso também começou a ser notado pela imprensa, que muitas vezes ficava mais interessada nisso do que em sua música. Mesmo assim não podemos deixar de destacar alguns bons momentos nesse show como por exemplo a apresentação de "Until It's Time For You To Go" de seu novo LP na época, "Elvis Now". "For The Good Times" era outra novidade em meio a uma certa saturação de seu repertório. O bom é que o CD também traz gravações do chamado Midnight show (ou show da meia-noite) do dia 11 onde Elvis apresentou boas canções de rock como no medley "Little Sister / Get Back" (uma curiosa fusão entre um hit próprio dos anos 60 com a famosa canção dos Beatles). Já "It's Over" foi uma forma encontrada por Elvis para mostrar sua vitalidade e maturidade vocal. "Never Been To Spain", um belo blues, era outro sopro novo nos shows. Elvis a levaria inclusive para os shows no Madison Square Garden onde se tornaria um dos destaques do álbum ao vivo. Muito charme e balanço acompanham a faixa. Assim recomendo especialmente o título para os fãs de Elvis que gostem desse ano em particular. Afinal esse foi o ano do "Elvis on Tour", do "Madison Square Garden" e do "Elvis Now". Para muitos um dos períodos mais interessantes de toda a sua carreira.

Elvis Presley - FTD "Summer Festival '72" (FTD #34) 
Dinner show, August 11, 1972
Also Sprach Zarathustra
See See Rider
I Got A Woman
Until It's Time For You To Go
You Don't Have To Say You Love Me
You've Lost That Loving Feeling Polk Salad Annie
What Now My Love
Fever
Love Me
Blue Suede Shoes
One Night
All Shook Up
Teddy Bear / Don't Be Cruel
Heartbreak Hotel
Hound Dog
Love Me Tender
Suspicious Minds
Introductions
My Way
An American Trilogy
Can't Help Falling In Love 

Midnight show, August 11, 1972
Little Sister / Get Back
It's Over

Midnight show, August 12, 1972
Proud Mary
Never Been To Spain
For The Good Times
A Big Hunk O' Love
Tiger Man (opening only)

Pablo Aluísio.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Elvis Presley - He Walks Beside Me

Aqui temos outro álbum póstumo de Elvis Presley. Lançado em 1978, no ano posterior ao falecimento do artista, esse disco foi produzido por Felton Jarvis, o produtor que acompanhou Elvis na fase final de sua vida, quando lançou discos extremamente interessantes. Bom, o foco desse LP foi a música gospel, a música religiosa. Praticamente todas as faixas são desse estilo, com breves exceções (em minha opinião). Todas as canções gospel em essência foram retiradas dos 3 álbuns religiosos gravados por Elvis (His Hand in Mine, How Great Thou Art e He Touched Me). As demais foram pinceladas de outros discos do cantor.

A canção de louvor à Virgem Maria, chamada "Miracle of the Rosary" foi tirada do disco "Elvis Now" de 1972. "If I Can Dream" foi buscada lá em 1968. Essa foi a música mais representativa do especial de TV que Elvis realizou no canal NBC. De terno branco, ele realizou uma apresentação memorável da faixa. Um fato curioso é que Felton Jarvis também colocou músicas menos óbvias nessa coletânea, como "Who Am I", uma bela música que nunca havia sido aproveitada bem dentro da carreira de Elvis. Por fim vale os elogios para essa capa, uma das melhores da longa discografia de Mr. Elvis Presley.

Elvis Presley -  He Walks Beside Me (1978)
He Is My Everything
Miracle of the Rosary
Where Did They Go Lord
Somebody Bigger Than You or I
An Evening Prayer
The Impossible Dream
If I Can Dream
Padre
Known Only to Him
Who Am I
How Great Thou Art

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Mahalo From Elvis

Esse disco foi lançado em dezembro de 1977. Elvis morreu em agosto desse mesmo ano. Assim podemos perceber facilmente que esse foi um dos primeiros LPs póstumos desse grande e inesquecível cantor. Por essa razão o "Mahalo From Elvis" tem sua importância histórica. Agora, dito isso, também não podemos deixar de criticar a seleção musical do álbum. Ao ler a lista fico com a sensação de que o produtor desse lançamento não sabia nada com nada em relação a Elvis Presley. O disco foi assim uma mistureba dos diabos, misturando fases da carreira do Rei do Rock.

O Lado A do disco traz uma curiosa seleção musical evocando as ilhas havaianas, talvez daí venha seu título original. Aqui pegaram músicas da trilha sonora do disco "Blue Hawaii" e a misturaram com uma faixa dos anos 70, "Early Morning Rain" que apesar de não ser uma música havaiana pelo menos foi usada no especial de TV "Aloha From Hawaii". E o lado B? Não vejo nada de muito especial ligando as canções. São apenas faixas pinceladas de diversas trilhas sonoras dos anos 60. Enfim, organização e coerência você certamente não encontrará aqui nesse primeiro disco póstumo.

Elvis Presley -  Mahalo From Elvis (1977)
Blue Hawaii
Early Morning Rain
Hawaiian Wedding Song
KU-U-I-PO
No More
Relax
Baby, If You'll Give Me All Of Your Love
One Broken Heart For Sale
So Close, And Yet So Far (From Paradise)
Happy Ending

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Sun Records, 1955

Elvis Presley - Sun Records, 1955
Estamos nos anos 50. Bob Luman, um cantor country daquela época relembra como eram as apresentações de Elvis Presley: "O cara apareceu de calças vermelhas, paletó verde, meias e camisa cor de rosa, com aquela cara de deboche e ficou parado em frente ao microfone por cinco minutos antes de fazer qualquer movimento. Então começou a tocar seu violão e quebrou duas cordas, eu toco há dez anos e no total ainda não quebrei duas cordas! E lá estava ele, as cordas arrebentadas e as garotas gritando e correndo até o palco. Ele mexia os quadris, como se tivesse algum caso de amor com o violão. Assim era Elvis Presley tocando em Kilgore, Texas. Ele me deixou arrepiado cara!"

Single nas lojas
That's All Right (Arthur Crudup) - Esta é uma música histórica! Foi a primeira canção interpretada pelo cantor a ser lançada comercialmente pela pequena gravadora de Sam Cornelius Philips: Sun Records. Foi gravada no dia 7 de julho de 1954 por um simples caminhoneiro do Tennessee que ganhou uma chance de Provar seu talento graças a interferência da secretária de Philips, Marion Keisker, que insistiu com o patrão para que ele proporcionasse uma chance para o "Cara de Costeletas". Elvis virou a versão de "Big Boy" pelo o avesso e criou as bases estéticas do Rock'n'Roll! O Rock não é só a mistura de vários ritmos americanos, mas também uma postura positiva e satírica diante da vida e Elvis foi o primeiro a se expressar desta forma criando o "Rockabilly". "Thats All Right (mama)" pode ser considerada uma das dez canções mais importantes da história da música pop do século XX. Ela foi lançada pela primeira vez no Compacto Simples SUN 209 e depois pela RCA no disco "For LP Fans Only". Em 2003 "That's All Right (mama)" foi eleita a canção mais inovadora da História.

Blue Moon Of Kentucky (Bill Monroe) - Originalmente foi lançada em 1948 pelo próprio autor pelo selo Columbia. Em julho de 1954 chegava às lojas do sul dos Estados Unidos o single "SUN 209" que trazia as duas primeiras canções comerciais interpretadas pelo futuro Rei do Rock'n'Roll. No lado A "That's All Right" e no lado B esta simples balada country. "Blue Moon of Kentucky" foi gravada contando apenas com Elvis, Scotty Moore e Bill Black. O produtor Sam Philips sempre afirmava que o "dia que encontrasse um branco que cantasse como um negro iria ganhar um milhão de dólares", esta frase iria se tornar verdade com a descoberta de "The Pelvis" em Memphis. Sem dúvida este é um dos grandes momentos do cantor pois registrou para a história o momento do aparecimento de um dos maiores fenômenos da música Popular Mundial.

Pablo Aluísio.

Cliff Richard - The Shadows - Thunderbirds Are Go!

"Thunderbirds" foi um programa infantil muito popular na Inglaterra durante os anos 1960. Exibido durante duas temporadas nos anos de 1965 e 1966 a série é até hoje lembrada por fãs saudosistas por causa da técnica utilizada nas filmagens: os personagens eram na verdade marionetes, cujos movimentos dependiam da habilidade de seus controladores, usando fios de náilon que muitas vezes se tornavam bem nítidos durante os programas (e que só aumentavam seu charme nostálgico para dizer a verdade). Claro que no mundo dos games de última geração de hoje os Thunderbirds não teriam nenhuma chance com a garotada, mas na época em que foram lançados fizeram a alegria de muitos guris.

Deixando um pouco de lado o programa em si eu gostaria de chamar a atenção para esse vinil que comprei recentemente em um sebo chamado "Thunderbirds Are Go!" trazendo a trilha sonora do seriado inglês. Esse EP traz nada mais, nada menos, do que dois artistas de primeiro time interpretando quatro canções que fizeram bonito nas paradas quando chegaram ao mercado inglês. Quem diria que The Shadows iria executar uma música chamada "Lady Penelope"? (uma das principais personagens da série); Eles ainda gravaram o tema principal de abertura e "Zero X", uma delícia tipicamente dos anos 60. Coisa de louco (e de colecionador) Já o grande Cliff Richard emplaca "Shooting Car", um roquinho dos mais simpáticos. Esse compacto duplo raríssimo nunca foi lançado no Brasil, embora a série dos Thunderbirds tenha sido exibida com sucesso durante muitos anos na TV aberta brasileira. Como não poderia deixar de comentar essa curiosa aquisição digna das grandes coleções de antiguidades, resolvi deixar tudo aqui registrado para os fãs da série e da música instrumental dos anos 60. Afinal é coisa fina!

Cliff Richard - The Shadows - Thunderbirds Are Go! (1965)
Shooting Star (Cliff Richard)
Lady Penelope (The Shadows)
Zero X (The Shadows)
Thunderbirds (The Shadows)

Erick Steve. 

sábado, 12 de fevereiro de 2011

A-ha - Stay On These Roads

Incrível, mas esse álbum completou 30 anos de de seu lançamento original! Como o tempo passa rápido! O disco chegou nas lojas exatamente no dia 3 de maio de 1988. É desde aquela época um dos meus discos preferidos do grupo. Muita gente acredita que o A-ha foi apenas uma banda norueguesa que fez muito sucesso na década de 1980 com suas canções de refrães pegajosos e depois disso sumiu do mapa sem deixar vestígios. Nada mais longe da realidade. Na verdade o A-ha é um dos grupos europeus mais interessantes que já surgiram no mundo da música. E eles se mantém na ativa até os dias atuais.

Embora realmente tenham tido uma fase de sucesso FM, o fato é que eles seguiram em frente após isso e gravaram trabalhos excelentes, acima da média mesmo. Muitos desses álbuns não fizeram grande sucesso entre o público brasileiro, mas devem ser redescobertos, como por exemplo, o excepcional "Memorial Beach", cuja qualidade é inversamente proporcional ao seu fraco sucesso comercial. Considerado por muitos o melhor disco do grupo ele demonstra que mesmo não alcançando mais o topo das paradas o A-ha conseguiu manter um bom nível de qualidade em seus discos.

"Stay On These Roads", por outro lado, faz parte da fase de maior sucesso do grupo. Lançado em 1988 o disco emplacou nas rádios e paradas com várias de suas canções, que viraram hits como "You Are the One", "Touchy!", "The Blood That Moves the Body", "The Living Daylights" e a própria faixa título do disco, a baladona "Stay on These Roads". Esse foi o terceiro disco do A-ha na gravadora Warner e contou com todo o apoio da gravadora multinacional que não mediu esforços para continuar divulgando o grupo, inclusive escalando a banda para compor e cantar o tema do novo filme de James Bond, "Marcado Para Morrer". A faixa "The Living Daylights" é inclusive considerada até hoje um dos melhores temas do agente inglês no cinema. Composta em quatro mãos por Paul Waaktaar-Savoy e John Barry, não fez feio nem nas paradas e nem na avaliação dos principais críticos de música na época de seu lançamento. Um grande êxito.

Para promover o disco o A-ha caiu na estrada e realizou mais de 80 concertos mundo afora. Uma turnê exaustiva e muito produtiva em termos de divulgação. Para os fãs brasileiros essa turnê marcou época pois o grupo a encerrou justamente no Brasil ao realizar cinco shows em São Paulo e no Rio de Janeiro. A presença dos noruegueses por aqui inflamou as vendas do conjunto que foi premiado pela Warner Brasil com um Disco de Platina pelas vendas excepcionais. Como se não bastasse a filial brasileira da Warner até mesmo inventou uma coletânea chamada "A-ha In Brazil" que também fez bonito nas lojas, vendendo milhares de cópias.

Infelizmente "Stay On These Roads" marcaria o fim da fase de maior sucesso da carreira do A-ha. Depois da enorme turnê eles resolveram dar um tempo. Cada um foi para seu lado produzir trabalhos próprios e o A-ha como grupo só voltaria ao mercado dois anos depois com o álbum "East of the Sun, West of the Moon" que ficou famoso por causa do hit "Crying in the Rain", uma regravação de um antigo sucesso da dupla The Everly Brothers. Não faz mal. "Stay On These Roads" está aí como um disco acima da média com nada mais, nada menos, do que cinco grandes sucessos em um álbum com apenas 10 faixas - um resultado excepcional em termos de popularidade. Se você gosta do A-ha ou da sonoridade da década de 80 então “Stay On These Roads” é simplesmente indispensável em sua coleção.

A-ha - Stay On These Roads (1988)
Stay on These Roads
The Blood That Moves the Body
Touchy!
This Alone Is Love
Hurry Home
The Living Daylights
There's Never a Forever Thing
Out of Blue Comes Green   
You Are the One
You'll End up Crying

Pablo Aluísio.

Dean Martin

Dino Paul Cocetti, ou simplesmente, Dean Martin, nasceu em 7 de junho de 1917, em Steubenville, Ohio, Estados Unidos. Filho de imigrantes italianos, só começou a falar inglês aos cinco anos. Depois de largar a escola muito cedo, tornou-se um boxeador peso médio, e respeitado no meio do boxe com apenas 15 anos de idade. Carregando o codinome Kid Crochet vencera todas as doze lutas que disputara. Mas o sonho do jovem Dino era ser como Bing Crosby, de quem imitava todos os maneirismos e o jeito de andar. Em pouco tempo, e com o nome de Dino Martini, passou a se apresentar como crooner de bandas de sua região. Aos vinte anos foi contratado para ser o vocalista da Ernie McKay Orchestra.

No início dos anos 40 foi contratado pela banda de Sammy Watkins. Sammy, seu novo patrão, foi quem sugeriu a troca de nome para Dean Martin. Depois de excursionar com a banda de Sammy por todo o norte de Ohio, Dean mudou-se para Nova York a fim de tentar um novo rumo para a carreira. Mas com a chegada da Segunda Guerra, foi convocado e serviu durante um ano. Em 1946, Dean ja era um cantor conhecido nos night clubs da Costa Leste americana, quando gravou seu primeiro disco e conheceu o comediante Jerry Lewis durante uma temporada de shows em Nova York. Os dois se apresentarm separadamente, até que em uma noite resolveram encerrar os espetáculo juntos.

Meses depois voltaram a se encontrar em Atlantic City e repetiram a performance com enorme sucesso. No início do ano seguinte, estrearam a turnê "Martin e Lewis". Em 1949 o show chegou ao rádio e a dupla estreou no cinema com "Amiga da Onça" (My Friend Irma - 1949). Martin e Lewis foram a grande sensação do business dos anos 50. Fizeram juntos 16 filmes, mas se separaram em 1956. Muitos apostavam que longe de Jerry Lewis, Dean Martin ficaria com a carreira estagnada. Mas não foi bem assim. No final da década de 50 participou de filmes de primeira linha, como "Os Deuses Vencidos" (The Young Lions - 1958), ao lado de lendas como Marlon Brando e Montgomery Clift. "Deus Sabe Quanto Amei" (Some Came Running - 1958), de Vincent Minelli, com Frank Sinatra e Shirley MacLaine.

Mas a fama internacional de ator dramático veio com o clássico do western: "Onde Começa o Inferno" (Rio Bravo - 1959) de Howard Hawks, onde contracenou com John Wayne. Dessa fama internacional no cinema, veio outro clássico: "Onze Homens e Um Segredo (Ocean`s Eleven - 1960). No qual dividiu a tela com os amigos do famoso grupo chamado "Rat Pack": Frank Sinatra, Sammy Davis Jr., Peter Lawford e Joey Bishop. O Rat Pack (ou clã) como também eram conhecidos, agitava o universo artístico, fazendo filmes de sucesso, discos clássicos e inspirados, além de espetáculos que eram disputados a tapa em boates sofisticadas. O Rat Pack protagonizou ainda mais dois filmes: "Os Três Sargentos" (Sergeants 3 - 1962) e "Robin Hood de Chicago" (Robin and the 7 Hoods - 1964).

Música e Televisão - Mesmo tendo vencido como ator, Dean Martin, jamais abandonou a sua carreira de cantor. Entre os anos de 1951 e 1968, Martin cravou 40 singles na lista Hot 100 da Billboard. Três deles ficaram em primeiro lugar nas paradas dos Estados Unidos. E em 1964, sua canção, "Everybody Loves Somebody" chegou a desbancar "A Hard Day's Night", sucesso dos Beatles.

A televisão foi outro campo de sucesso de Martin. Em 1965, ele estreou na Rede NBC a série, "The Dean Martin Show", que lhe valeu um Globo de Ouro como melhor estrela de TV e ficou no ar até 1973. Entre 1974 e 1984, comandou o programa "The Dean Martin Celebrity Roasts", também com um enorme sucesso. Nessa época voltou ao cinema com dois longas, "Quem Não Corre Voa" (The Cannonball Run - 1981), além de "Um Rally Muito Louco" ( The Cannonball Run II - 1984). Ambos estrelados por Burt Reynolds. Em 1987, Martin entrou em profunda depressão após a morte de seu filho, Dean Paul, num desastre de avião. A partir daí suas aparições públicas ficaram mais raras.

Dois anos depois, em 1989, realizou alguns shows em Las Vegas. Foi lá que aconteceu seu último encontro com o ex-companheiro de velhas jornadas, Jerry Lewis. Sua última aparição na TV aconteceu em 1990 no especial de TV, "Sammy Davis Jr. 60th Aniversary Celebration". Dean Martin aposentou-se por volta de 1991. Em 1993 recebeu de seu médico o diagnóstico de câncer de pulmão. No Natal de 1995, Dean Martin perdeu a batalha contra a terrível doença, vindo a falecer aos 78 anos.

Telmo Vilela Jr.

Marilyn Monroe - Gold Collection

Todos conhecem a atriz Marilyn Monroe mas nem todos conhecem a cantora Marilyn Monroe. Claro que para muitos Marilyn era apenas uma garota esforçada que não fazia feio nos números musicais de seus filmes. Agora seu talento vocal está sendo redescoberto, principalmente nos Estados Unidos, onde vários álbuns foram lançados nos últimos anos reunindo as faixas gravadas por ela. Entre os títulos eu destaco esse "Marilyn Monroe - Gold Collection" que traz mais de vinte canções gravadas por Marilyn Monroe nos estúdios da Fox e Columbia. Além dos CDs o fã de Marilyn ainda é presenteado com inúmeras fotos e encadernação de luxo. A aproximação de Monroe com o mundo da música começou quando os diretores de estúdio perceberam que ela não tinha uma formação artística completa. No mercado americano para ser considerado um ator completo o profissional tem que dominar não apenas a arte da interpretação mas da dança e da música também, mesmo que em relação a esses últimos sejam necessários muitas vezes apenas os conhecimentos básicos. Assim Marilyn foi designada para estudar canto com o jovem maestro Fred Karger. Embora fosse um talento em sua área Karger tinha apenas 32 anos quando começou a dar aulas a Marilyn o que facilitou bastante a aproximação. Sua primeira providência foi dar uma pilha de discos de vinil da cantora Ella Fitzgerald para ela ouvir atentamente em casa. Parece que deu certo.

Pelo que ouvimos aqui nesses registros Marilyn sem dúvida aprendeu bem a lição. Com uma voz terna, suave, mas bem colocada, a atriz consegue ótimos resultados, com destaque para a sensual (e ao mesmo tempo melancólica) "Fine Romance". Outro excelente momento é "Kiss", uma das faixas mais sexys que já ouvi em minha vida. Brincando com sua própria imagem de loira fatal e mito sexual, Marilyn também esbanja charme e ousadia em "Do It Again". O curioso em ouvir Marilyn cantando é perceber que mesmo ela não tendo um excepcional talento vocal conseguia passar por cima de tudo isso levando o ouvinte a ter uma boa sensação em ouvir suas gravações. Isso me lembrou bastante da definição do diretor Billy Wilder que descrevendo Marilyn disse que ela era uma "Amadora profissional". E por mais incrível que isso possa parecer é nisso justamente que se concentra uma das maiores virtudes da Marilyn Monroe cantora, pois a sensação que temos ao ouvi-la é a mesma que teríamos se a estivéssemos ouvindo cantando despreocupadamente em sua casa, enquanto fazia os afazeres diários. Ela nunca soa forçada ou tensa, pelo contrário, ela sempre surge muito natural cantando as músicas. Também é uma pena que Marilyn nunca tenha pensado em levar esse seu lado musical mais à sério. O fato é que ela cantava apenas se isso fosse necessário aos seus filmes. A atriz nunca viu a música como um instrumento valioso em si mesmo. De qualquer forma se tiver a oportunidade não deixe de procurar conhecer esse seu lado tão interessante. Afinal ouvir um dos maiores mitos da história do cinema soltando a voz é além de algo bem raro também muito gratificante.

Marilyn Monroe - Gold Collection (1998)
Ladies Of The Chorus / Anyone Can See I Love You / Every Baby Needs A Da-Da- Daddy / Do It Again / Kiss / She Acts Like A Woman Should / Fine Romance / Two Little Girls From Little Rock / When Love Goes Wrong / Bye Bye Baby / Diamonds Are A Girl's Best Friend / You'd Be Surprised / One Silver Dollar / I'm Gonna File My Claim / River Of No Return / Down In The Meadow / After You Get What You Want / Heatwave / Man Chases A Girl / Lazy / There's No Business Like Show Business / Rachmaninov & Chopsticks / That Old Black Magic / I Found A Dream / When I Fall In Love / Love Happy / Royal Triton Tv Commercial / Marilyn Best Actress / Edgar Bergen / Bye Bye Baby / Diamond's Are A Girl Best Friend (reprise) / Something's Got To Give / Happy Birthday Mr President.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - My Way

Estamos na Elvis Week mais uma vez. Então nada mais oportuno do que lembrar alguns momentos imortais de Elvis Presley. A primeira vez que ouvi "My Way" eu ainda era muito jovem, acredito que não tinha nem 15 anos de idade. Sinceramente falando, uma música como essa definitivamente não foi composta para alguém tão jovem. Na época eu ainda estava descobrindo aos poucos a grande riqueza que se poderia encontrar na história da música. É curioso, sempre gostei do som da minha geração, dos artistas e grupos que faziam sucesso na minha juventude, mas ao mesmo tempo comecei a me interessar bastante também pelos grandes ídolos do passado. Nesse retorno a um tempo não vivido acabei descobrindo artistas como Beatles e, é claro, Elvis Presley. "My Way" me veio pela primeira vez na voz de Elvis. Eu comprei o álbum duplo "Aloha From Hawaii" e a canção abria um dos lados do disco. Era uma faixa grandiosa, com rico arranjo (nessa fase de sua carreira Elvis se apresentava com uma orquestra completa como apoio) e me recordo bem que a intensidade de sua interpretação me deixou realmente admirado e impressionado.

É interessante que descobri Elvis de maneira cronológica, ou seja, primeiro curti seus discos de rock dos anos 50, depois fui comprando suas trilhas sonoras pop dos anos 60 e só depois, numa fase mais adiantada, foi que fui finalmente adentrando os anos 70 em sua carreira. Antes do Aloha eu já havia comprado "That´s The Way It Is", meu primeiro disco da fase madura de Elvis. Como eu era bem jovem ainda, confesso que curtia mais a fase roqueira do cantor. O Elvis que me fazia a cabeça era o de sua fase "James Dean de guitarras". Cabelos cheios de brilhantina, topete fantástico e todo aquele visual que marcou toda uma geração da história da música popular mundial. O Elvis trágico, machucado, muito profundo interiormente, que cantava sobre relacionamentos adultos, só vim a descobrir mais tarde. "My Way" também me impressionou pela força de sua letra. Ali estava um homem com muitos anos de vida, fazendo uma verdadeira revisão de seu passado. Era uma mensagem que certamente um adolescente não entenderia completamente, mas hoje, bem mais velho, entendo perfeitamente o que seu autor quis passar. Só com as experiências da vida podemos compreender completamente o que essa letra tenta transmitir.

Outro fato curioso sobre "My Way" em minha vida é que só muito tempo depois, quando comecei mesmo a estudar a história da música, lendo livros e revistas sobre o assunto, é que pude constatar que Elvis não era o primeiro a transformar a bela canção em um momento imortal. Frank Sinatra já havia feito isso antes (inclusive nos EUA ela era bem mais associada a Sinatra do que a Elvis) e indo mais além, a versão original havia se tornado um verdadeiro hino na Europa, na voz de Claude François. Paul Anka escreveu a primeira versão em língua inglesa e Sinatra ganhou um de seus maiores hits. Aliás para quem gosta realmente de música um dos maiores prazeres sobre esse assunto é realmente ler e conhecer sua rica história. Como ela foi composta, os músicos que participaram de sua sessão de gravação original, os produtores envolvidos, os primeiros selos onde foi lançada (algo que atualmente se perdeu já que a música em si não precisa mais de um meio físico para chegar até você).

Eu não sou da época de Elvis ou Sinatra, mas isso pouco importou. Na verdade o importante é ter bom gosto e ao longo da vida procurar desenvolver uma cultura musical, ouvindo de tudo, sem preconceito ou ideias pré concebidas sobre nada. O próprio Elvis era assim, uma das suas frases mais interessantes é aquela que diz que a música não tem cor e nem classificação. Ele estava certo. Se não tivesse pensado assim desde o começo da minha vida teria perdido alguns dos melhores discos que ouvi em minha existência. Gosto também muito de uma frase de John Lennon que dizia "Eu sou uma velha orquestra de Rock ´n´ Roll". Nem preciso dizer que me identifiquei totalmente com essa auto definição. Eu também sou uma velha capa de LP toda surrada. Tem coisa melhor do que isso? Absolutamente não!

Mas voltemos ao clássico. Existem canções que só crescem com o passar do tempo. Embora a tenha conhecida em minha adolescência, ainda muito jovem, "My Way" foi ganhando cada vez mais significado. Os anos passaram e "My Way" foi se tornando cada vez mais relevante. A mais pura verdade é que todos um dia irão se identificar com ela. O passar dos anos deixa sempre essa sensação de nostalgia e reflexão, além de todo um repertório de perguntas sobre as escolhas que fizemos, os caminhos que resolvemos percorrer e as vitórias, arrependimentos e conquistas que vivenciamos. No fundo é a história de nossas vidas, transformada de forma genial em uma das mais belas baladas que já tive o prazer de ouvir. E o Elvis, bem o velho Elvis sempre será imortal, não por causa do sensacionalismo e nem das excentricidades que rodeiam sua vida, mas sim pela emoção e sinceridade que conseguia colocar em cada nota musical. Nesse ponto ele foi realmente único. Ouvir "My Way" com Elvis sempre será um prazer renovado, tal como naquele distante passado quando o ouvi pela primeira vez em vinil. Certas coisas não mudam, não importando o tempo e nem o espaço.

Pablo Aluísio.

Paul Anka - Diana

Paul Anka fez parte da geração pasteurizada que tomou de assalto às paradas americanas com a crise que o rock ´n´ roll enfrentou em fins dos anos 1950. De repente todos os grandes ídolos estavam afastados de suas carreiras de roqueiros (Elvis no exército, Chuck Berry na cadeia, Buddy Hole morto em acidente de avião, etc, etc). Para cobrir a lacuna deixada as gravadoras apostaram numa série de jovens brancos de boa aparência, todos de classe média, sem postura rebelde ou ameaçadora. Simbolizavam os namorados perfeitos das garotas de meia soquete que frequentavam o high school. Era a forma que o rock (se é que podemos chamar isso de rock) encontrou para sobreviver à sua própria crise. De todos os hits que Paul Anka gravou esse é certamente um dos mais populares (inclusive no Brasil onde ganhou versão de sucesso na voz do excelente cantor brasileiro Carlos Conzaga). A canção foi escrita de forma modesta, sem qualquer pretensão, em um caderno escolar. Existem duas versões para a inspiração de sua composição. A primeira foi divulgada pelo cantor Don Costa que disse ter sido inspirada em uma amiga de escola do próprio Paul Anka chamada Diana Ayoub. Já o próprio Anka afirmara certa vez que a verdadeira Diana era uma garota linda que ele mal conhecia e que frequentava sua igreja. Ele teria nutrito uma paixão platônica por ela que durou anos e anos, mas quando finalmente teve a chance de conversar com a garota ficou tão nervoso que mal conseguiu falar meia dúzia de palavras. 

Já que não conseguiu falar o que sentia por ela pessoalmente, cara a cara, resolveu desabafar na própria música, que é muito bonita e tem linda melodia. Claro que por se enquadrar em determinados limites comerciais da época "Diana" passa longe de ser revolucionária ou inovadora. É bem na média do que era produzido e gravado naquela virada de década, principalmente por essa geração de bons rapazes modelos com seus ternos impecáveis e sorrisos Colgate. Como Anka não tinha ainda um grande nome dentro da indústria a música foi lançada antes com Don Costa nos vocais em maio de 1957. Paul Anka ficou tão mal em ver sua querida música na voz de outro cantor que se apressou em também gravar sua própria versão que chegou nas lojas americanas apenas dois meses depois do lançamento original. Para sua sorte foi justamente o seu single que caiu no gosto popular, chegando ao incrível number one da parada Billboard em poucos dias, transformando Paul Anka em astro literalmente da noite para o dia. De repente o jovem desconhecido estava se apresentando em programas de rádio, TV e cinema. Quando atingiu a incrível marca de nove milhões de cópias vendidas Paul Anka se convenceu que iria se tornar o novo Elvis Presley, mas para seu azar ele logo perceberia também que era apenas mais um dos "maiores cantores de todos os tempos da última semana", ou seja, artistas que surgiam tão rapidamente quanto sumiam. Os novos tempos acabavam de inventar o astro descartável de plástico.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Elvis Presley Recording Sessions - 1968

Hoje publiquei no blog sobre Elvis o texto compilado do álbum Elvis Sings Flaming Star, um disco que poucos dão importância mesmo entre os colecionadores estrangeiros. Há uma certa má vontade em relação a esse álbum por duas razões básicas: foi lançado pelo selo promocional RCA Camden e era, em resumo, uma colcha de retalhos produzida pela RCA com músicas que estavam sobrando em seus arquivos há anos. De novidade apenas uma versão ao vivo com muita energia de "Tiger Man". Nos Estados Unidos o disco na época em que chegou pela primeira vez aos consumidores não despertou muito interesse, mas na Inglaterra ele conseguiu se destacar nas paradas chegando em um fantástico terceiro lugar entre os mais vendidos! Os ingleses sempre amaram o som de Elvis e estavam sempre especulando sobre uma possível turnê do cantor na ilha - algo que infelizmente nunca aconteceria por causa do empresário Tom Parker que, como se sabe, não poderia deixar o país por ser um imigrante ilegal que não podia tirar passaporte! Achou absurdo? Pois é, bem vindo ao mundo de Elvis!

Esse ano de 1968 é emblemático dentro da carreira de Elvis porque hoje em dia é considerado o ano em que ele voltou aos bons e velhos tempos, cantando novamente ao vivo, relembrando seus sucessos no especial de TV que o consagraria novamente. Essa visão é um pouco simbólica demais. Se formos parar para analisar as sessões de gravação de Elvis nesse ano veremos que as coisas não foram bem assim. Durante praticamente todo o ano Elvis fez basicamente o mesmo que estava fazendo nos anteriores: gravando muitas músicas para trilhas sonoras de Hollywood, tentando a todo custo levantar e ressuscitar sua carreira no cinema. Duvida? Então vejamos. A primeira sessão de gravação desse ano aconteceu em janeiro quando Elvis foi a Nashville terminar as músicas do péssimo filme "Stay Away Joe" (um faroeste pastelão, por mais estranho que isso possa parecer!). Claro que nessa sessão em particular ele conseguiu registrar algumas excelentes músicas como "Too Much Monkey Business" e "U.S. Male", mas esse não era o ponto focal principal da sessão.

Depois em março Elvis retornou aos estúdios para a gravação de mais uma trilha sonora medíocre, dessa vez do filme "Live a Little, Love a Little". Essa sessão só não foi um desperdício completo porque afinal de contas nela Presley gravou "A Little Less Conversation" que iria se tornar um hit mundial muitos anos depois com um remix que venderia milhões de cópias ao redor do mundo. Houve também a gravação de "Almost in Love", uma bossa nova, a única composição de um brasileiro (Luiz Bonfá) a ser gravada por Elvis Presley em toda a sua carreira. Pois bem, em junho Elvis foi até a Califórnia para a gravação do NBC TV Special, esse sim um ponto de reviravolta em sua trajetória artística, mas depois disso o que ele fez no resto do ano? Em outubro lá estava Elvis em Hollywood novamente gravando mais trilhas sonoras, dessa vez do faroeste spaguetti "Charro" e da confusa comédia romântica musical "The Trouble with Girls". Trocando em miúdos, mesmo após o NBC, que para muitos significava a volta triunfal do Rei do Rock, ele ainda voltou para a velha fórmula desgastada de sua cambaleante carreira em Hollywood.

A verdade é que em termos de qualidade musical a discografia de Elvis Presley só sofreria mesmo um impacto de verdade no ano seguinte, nas maravilhosas sessões realizadas em Memphis, no American Sound Studios. Ali realmente foi um pico de qualidade sem precedentes. Elvis deixou os temas bobinhos de trilhas de filmes para se concentrar em algo muito mais substancial, canções realmente significativas, relevantes e extremamente bem compostas. Ao invés de ficar posando de eterno adolescente namorador nas telas Elvis finalmente assumia sua idade cronológica, cantando letras sobre relacionamentos e problemas adultos, deixando as musiquinhas de namoricos adolescentes de lado. Afinal ninguém aguentava mais aquilo. Já tinha passado do prazo de validade. Mudar para melhor só aconteceria mesmo dentro do American. Aquele sem dúvida foi um momento crucial em sua carreira. Isso porém aconteceu em 1969 e não em 1968 onde Elvis ainda insistiu em seguir por caminhos equivocados. Todo o resto é apenas uma simplificação simplória da história do cantor.

Pablo Aluísio.