sábado, 20 de setembro de 2025

Michael Jackson - Ben

Michael Jackson - Ben
Eu tenho uma cópia desse disco em vinil em minha coleção particular há muitos anos, mas confesso que nunca havia dado muita bola para ele. Ficava lá, perdido no meio de tantos outros discos, pegando poeira. Dia desses, por mera curiosidade, fui ouvir para tentar me lembrar dele. Gente, que disco agradável de se ouvir! Claro, eu conhecia muito bem a canção "Ben" que dá título ao álbum, mas devo ser sincero em dizer que não conhecia e nem me lembrava das demais faixas. Fiquei surpreso com o que ouvi! Disco muito, mas muito bom mesmo!

Veja, não é o Michael Jackson do final dos anos 70 e começo dos 80. Não tem música daquele estilo que o alcançou ao máximo do sucesso por aqui. Tire o cavalinho da chuva. Aqui você ouvirá o puro som da Motown, gravadora black que fez história dentro da música dos Estados Unidos. A gravadora já vinha faturando muito com o grupo familiar Jackson Five, então eles apostaram também no lado solo da carreira de Michael Jackson e quando gravou esse disco ele não passava de um garotinho! Ainda assim, olha, é de ficar de queixo qualidade com a qualidade musical desse LP. O mais puro som Motown, isso é o que o ouvinte encontrará nessas belas faixas. Incrível, realmente ótimo! 

Michael Jackson - Ben (1972)
Ben
The Greatest Show on Earth
People Make the World Go Round
We've Got a Good Thing Going
Everybody's Somebody's Fool
My Girl
What Goes Around Comes Around
In Our Small Way
Shoo-Be-Doo-Be-Doo-Da-Day
You Can Cry on My Shoulder

Pablo Aluísio. 

Dancin’ Days

Outro disco dos anos 70. As trilhas sonoras de novelas foram muito populares no Brasil durante a era do vinil, mas curiosamente nunca tiveram muita vez em minha casa quando eu era jovem. Eu só me lembro dessa trilha e de Estúpido Cupido muitos anos depois. Era um vinil original, todo estropiado, havia sido comprado quando a novela estava passando. Não compramos o disco, ele simplesmente apareceu. Não me pergunte como isso foi parar em nossa discoteca. 

De qualquer forma é um bom disco pegando bem a moda da discoteca que varreu o mundo da música dos anos 70. Tudo era exagerado, das roupas e meias coloridas, das discotecas em si com seus balóes de vidro e até mesmo pelo figurino. Música dançante que fez muito sucesso, mas que inesperadamente não formou grandes ídolos da música. Eram geralmente artistas de um sucesso só! 

Dancin’ Days – Internacional (1978)

Lado A:
1- Dancin' Days Medley – (Harmony Cats) 
2- Three Times A Lady – (Commodores) 
3- Scotch Machine – (Voyage)
4- The Wages Of Sin – (Santa Esmeralda) 
5- You Light Up My Life – (Debby Boone) 
6- The Grand Tour – (Grand Tour) 
7- I Loved You – (Freddy Cole)

Lado B:
1- Macho Man – (Village People) 
2- Follow You, Follow Me – (Genesis) 
3- Gypsy Lady – (Linda Clifford) 
4- Blue Street – (Blood, Sweat And Tears)
5- Rio De Janeiro – (Gary Criss) 
6- Rivers Of Babylon – (Boney M) 
7- Automatic Lover – (Dee D. Jackson)

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Os Filmes de Leonardo DiCaprio - Parte I

O Despertar de um Homem
Filme baseado em fatos reais. O enredo se passa nos anos 70. Enquanto cresce e se torna um homem o jovem Toby Wolff (Leonardo DiCaprio) presencia sua mãe Caroline (Ellen Barkin) se envolver com uma série de homens violentos, irascíveis e cafajestes. A situação se torna insustentável o que faz com que ela procure recomeçar sua vida em uma outra cidade. Lá acaba conhecendo um novo namorado, Dwight (Robert De Niro), um sujeito que parece ser um bom partido para ela. Trazendo um pouco de estabilidade em sua conturbada vida amorosa, Caroline acaba tendo que lidar com os atritos entre sua nova paixão e seu filho que não gosta do novo companheiro dela.

Esse bom filme assisti em VHS nos anos 90. É aquele tipo de drama que procura ser o mais pé no chão possível. Nada de espetacular ou absurdo acontece - apenas retrata as dificuldades da vida de um jovem, adolescente, que vê sua mãe errando sempre na escolha de seus namorados. Tudo baseado nas memórias pessoais do escritor Tobias Wolff. Eu me recordo que o filme realmente me tocou quando o vi pela primeira vez. Embora nunca tenha passado por algo semelhante deve ser muito penoso (para não dizer traumatizante) ser criado em uma família desestruturada como a do personagem de Leonardo DiCaprio. Afinal de contas nessa idade o ser humano vai criando seus valores morais, seus padrões familiares e quando não há modelos disso por perto tudo pode ficar ainda mais desesperador. 

Robert De Niro está realmente inspirado pois seu papel exige uma dualidade de personalidades que ele desenvolve muito bem. Para Caroline ele é um tipo de pessoa, já para seu filho o quadro muda drasticamente. DiCaprio, anos antes de virar ídolo em "Titanic" demonstra uma maturidade em seu trabalho que realmente espanta. Afinal ele era apenas um garoto na época! Por fim a bela Ellen Barkin explode em sensualidade em seu papel, mesmo sendo uma personagem em si dramática e infeliz. Assim tente dar uma de coruja hoje à noite e faça uma forcinha para conferir pois esse "This Boy's Life" realmente vale a pena.

O Despertar de um Homem (This Boy's Life, Estados Unidos, 1993) Estúdio: Warner Bros / Direção: Michael-Caton Jones / Roteiro: Robert Getchell, baseado no livro de Tobias Wolff / Elenco: Robert De Niro, Ellen Barkin, Leonardo DiCaprio, Chris Cooper / Sinopse: A história de uma jovem mulher, seu filho e os relacionamentos dramáticos que acaba se envolvendo. 

Gilbert Grape - Aprendiz de Sonhador 
Lasse Hallström, talentoso cineasta sueco que realizou o brilhante "Minha Vida de Cachorro ", teve o melhor momento em sua carreira no cinema americano nesse muito terno e comovente "What's Eating Gilbert Grape" em 1993. O filme que agora completa 20 anos merece passar por uma revisão por parte dos cinéfilos. A trama gira em torno da família de Gilbert Grape (Johnny Depp). Ele é um jovem normal que pretende seguir em frente com sua vida mas que não consegue criar um caminho próprio por causa de problemas familiares. Seu irmão, Arnie Grape (Leonardo DiCaprio), é deficiente mental e precisa de cuidados especiais. Sua mãe tem problemas emocionais e sofre de uma obesidade sem controle. Suas irmãs não são menos problemáticas. Uma é solitária e triste e a outra rebelde e bem agressiva. No meio de tantos conflitos Gilbert tenta levar uma vida normal.

"Gilbert Grape: Aprendiz de Sonhador" tem vários méritos cinematográficos. Em termos de elenco temos uma interpretação brilhante de Leonardo DiCaprio que lhe valeu inclusive indicações ao Oscar e ao Globo de Ouro. Foi o primeiro filme que chamou a atenção do grande público para seu trabalho. Muitos consideram até hoje seu melhor trabalho de atuação física no cinema. Johnny Depp também está muito bem, curiosamente fazendo um papel bem atípico de sua carreira, a de um jovem comum. Sem maquiagem pesada e sem interpretar um personagem bizarro (tão comum em seus filmes posteriores) Depp mostra seu talento natural. 

O roteiro também se revela muito delicado, colocando as várias questões humanas envolvidas na trama com rara sensibilidade. O filme fez bastante sucesso no mercado de vídeo na época e hoje, como já foi escrito, merece uma revisão. Um excelente drama mostrando a vida de uma família americana tipicamente interiorana que certamente vai agradar aos mais sensíveis. Se ainda não viu não deixe passar em branco, principalmente se você for um fã dos atores Leonardo DiCaprio e Johnny Depp. Esse é um filme que vale a pena conhecer.

Gilbert Grape - Aprendiz de Sonhador (What's Eating Gilbert Grape, Estados Unidos, 1993) Direção: Lasse Hallström / Roteiro: Peter Hedges / Elenco: Johnny Depp, Leonardo DiCaprio, Juliette Lewis, Mary Steenburgen, John C. Reilly, Darlene Cates, Laura Harrington, Mary Kate Schellhardt / Sinopse: O filme narra a conturbada vida familiar de Gilbert Grape (Depp) que tenta levar uma vida normal em meio a inúmeros problemas familiares.

Diário de um Adolescente
Adaptação cinematográfica do livro escrito por Jim Carroll. Durante a década de 1960, esse escritor, ainda adolescente, afundou no mundo das drogas. Para manter o vício em heroína, passou a cometer crimes como furtos e roubos. E acabou entrando no submundo de Nova Iorque. Muitos anos antes de Titanic, o ator Leonardo DiCaprio já estrelava filmes excelentes. Quer um exemplo dessa fase de sua carreira? Temos aqui um exemplo perfeito. O filme não foi um sucesso de bilheteria na época em que foi lançado. Na realidade, era praticamente um filme independente, feito com pouco mais de 2 milhões de dólares. Mesmo assim, se destacava porque a história que contava era extremamente importante. 

Era uma mensagem para os adolescentes que poderiam cair no mundo das drogas pesadas. Tudo o que se vê no filme é autobiográfico e realmente aconteceu de fato com o escritor que escreveu o livro original que deu origem ao roteiro desse filme. A cidade de Nova Iorque surge aqui como um lugar sujo e cheio de criminalidade. E o protagonista transita entre o mundo do basquete colegial, onde ele se dava muito bem e o mundo das drogas, onde ele afundava cada vez mais. É seguramente um dos melhores filmes da carreira de Leonardo DiCaprio. E isso em uma época em que ele era apenas uma adolescente promissor no mundo do cinema!

Diário de um Adolescente (The Basketball Diaries, Estados Unidos, 1995) Estúdio: New Line Cinema / Direção: Scott Kalvert / Roteiro: Bryan Goluboff / Elenco: Leonardo DiCaprio, Mark Wahlberg, Lorraine Bracco, Marilyn Sokol, James Madio, Patrick McGaw / Sinopse: O filme conta a história de um jovem que na fase mais promissora de sua vida acaba se encontrando com as drogas e o mundo do crime. 

Rápida e Mortal
Lady (Sharon Stone) chega numa cidade perdida do velho oeste para participar de uma competição de duelos para saber quem é o mais rápido do gatilho na região. A competição é organizada por Herod (Gene Hackman), um facínora que aterroriza todos os habitantes honestos da cidadezinha. Em troca de uma suposta “proteção” ele cobra valores absurdos de comerciantes e cidadãos que pagam na verdade para não serem mortos por ele e seus capangas armados até os dentes. O que Herod não sabe é que Lady vem em busca de vingança pela morte de seu pai, um xerife que cruzou com o caminho dele em um passado remoto. 

“Rápida e Mortal” é de certa forma uma homenagem do cineasta Sam Raimi aos antigos filmes clássicos do chamado western spaguetti. Tudo ecoa ao estilo dessas produções – a trilha sonora, os enquadramentos de câmera, a violência e o enredo, que novamente constrói toda uma trama em cima de um ato de vingança, tentando trazer justiça a um evento do passado (tema que era bem recorrente nos faroestes italianos). As cenas de duelos que permeiam toda a estória reforçam ainda mais esse aspecto. A estilização das mortes e os personagens em si são os aspectos mais visíveis da produção nesse sentido.

Muitos podem torcer o nariz pelo fato do filme ser estrelado pela atriz Sharon Stone (no auge de sua carreira) mas o fã de filmes de western deve ignorar esse detalhe. O que não faltam aqui são atores talentosos em cena. O elenco aliás é um dos maiores trunfos do filme pois é recheado de grandes nomes. Além de Sharon Stone (linda e mostrando que ficava muito bonita de figurino country) temos ainda o maravilhoso Gene Hackman (como o vilão, ótimo como sempre), Leonard DiCaprio (Como Kid, filho de Herod, um jovem falastrão e fanfarrão que pensa ser melhor no gatilho do que realmente é na verdade) e Russel Crowe (como um pistoleiro arrependido e convertido que agora só pensa em servir como missionário de Deus, rejeitando a violência). 

De quebra Cary Sinise surge em flashbacks como o pai da personagem de Sharon Stone, um xerife morto em serviço. Confesso que na época em que assisti pela primeira vez o filme não me marcou muito. Achei apenas um western eficiente e nada mais. Agora em uma nova revisão revi minha antiga opinião pois o achei realmente divertido, com boa fluência e ritmo. O roteiro que gira quase que totalmente em torno do torneio de duelos poderia desenvolver melhor os personagens mas do jeito que está não compromete. No final das contas o tempo acabou fazendo bem a “Rápida e Mortal”, quem diria.

Rápida e Mortal (The Quick and the Dead, Estados Unidos, 1995) Direção: Sam Raimi / Roteiro: Simon Moore / Elenco: Sharon Stone, Gene Hackman, Russell Crowe, Leonardo DiCaprio, Lance Henriksen / Sinopse: Em busca de vingança uma cowgirl conhecida apenas como Lady (Sharon Stone) chega numa cidadezinha aterrorizada pelo bandido Herod (Gene Hackman). Ele está organizando um torneio de duelos para determinar quem é o gatilho mais rápido da região. Não demora para que ela também entre na disputa!

Eclipse de uma Paixão
O filme resgata a juventude do poeta Arthur Rimbaud (1854 - 1891). Impulsionado por seu mentor e mestre Paul Verlaine (David Thewlis) ele começa a dar os primeiros passos em relação a sua obra, que se tornaria no futuro uma das mais importantes da história. Ao lado do escritor também surgem aspectos de sua própria vida pessoal, como sua sexualidade fora dos padrões convencionais de sua época.

Esse filme acabou ganhando notoriedade pelos motivos errados. Ao invés das pessoas discutiram aspectos biográficos do imortal Rimbaud, ficou-se meses falando das ousadas cenas de homossexualidade protagonizadas pelo galã adolescente Leonardo DiCaprio! Assim grande parte dos méritos artísticos do filme foram literalmente ignoradas em prol de um debate fútil e incoerente sobre os rumos que a carreira de DiCaprio estavam tomando. Afinal, seria interessante para um ator que estava prestes a se tornar um dos maiores astros de Hollywood se expor dessa forma, em cenas tão polêmicas? 

Tudo bobagem. Hoje em dia, quando ninguém mais fala sobre isso, o filme ganha contornos ainda mais interessantes para entender o artista (e o homem) por trás de uma obra tão importante. Ele morreu ainda bem jovem (com apenas 37 anos) e o que mais chama atenção é que seus melhores trabalhos foram feitos quando ele era ainda bem mais jovem, quando era praticamente um adolescente. Enfim, temos aqui uma boa amostra para a vida sofrida e breve desse poeta. Basta deixar as futilidades de lado para entender um pouco de seu pensamento ímpar.

Eclipse de uma Paixão (Total Eclipse, Inglaterra, França, Bélgica, 1995) Estúdio: Capitol Films, Le Studio Canal+ / Direção: Agnieszka Holland / Roteiro: Christopher Hampton / Elenco: Leonardo DiCaprio, David Thewlis, Romane Bohringer, Dominique Blanc, Félicie Pasotti, Christopher Chaplin / Sinopse: A história do jovem Arthur Rimbaud, sua obra e seus amores. Filme indicado ao San Sebastián International Film Festival.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 18 de setembro de 2025

Code 8 Renegados

Code 8 Renegados 
Esse é o primeiro filme dessa franquia. Assim como sua sequência, esse também pode ser encontrado na Netflix. São filmes que contam histórias relativamente independentes, então você poderá assistir a algum deles sem se preocupar com a cadeia de eventos que os liga. Aqui temos a história de um jovem que até tenta levar uma vida honesta e decente. Só que sua mãe está morrendo de câncer. Ela foi mãe solo e o criou sozinho desde que nasceu. Como nos Estados Unidos não existe saúde pública, a mãe corre o risco de morrer sem nenhum tratamento médico. O jovem precisa de dinheiro e de forma urgente, o jeito é entrar no mundo do crime. 

A história do filme se passa em um futuro distópico. Há muita tecnologia, com policiais robôs e tudo mais, só que ao mesmo tempo a sociedade amarga a miséria, a corrupção (inclusive policial) e a criminalidade que infesta as ruas das grandes cidades americanas. Eu gostei desse filme, mais até do que do segundo, que também havia gostado. Tem uma boa premissa e os personagens são interessantes a ponto de nos importarmos com eles. E não se engane sobre isso, nos dias atuais, com roteiros cheios de "roteiradas", isso é até mesmo algo raro de encontrar em filmes mais recentes. Então deixo a dica para quem quiser assistir a um bom filme futurista de ação que a despeito de priorizar esse aspecto, também deixa margens para discutir questões bem mais interessantes, sobre as razões de vida que fazem alguém entrar para o mundo do crime.  

Code 8 Renegados (Code 8, Canadá, 2019) Direção: Jeff Chan / Roteiro: Chris Pare; história de Jeff Chan / Elenco: Robbie Amell, Stephen Amell, Sung Kang / Sinopse: Um jovem com poderes especiais acaba entrando no mundo do crime para tentar salvar a vida de sua mãe que está morrendo de uma doença terminal e não tem como pagar pelas despesas médicas. 

Pablo Aluísio.  

A Colônia

Título no Brasil: A Colônia
Título Original: Double Team
Ano de Lançamento: 1997
País: Estados Unidos
Estúdio: Mandalay Entertainment
Direção: Hark Tsui
Roteiro: Don Jakoby, Paul Mones
Elenco: Jean-Claude Van Damme, Mickey Rourke, Dennis Rodman

Sinopse:
Um espião internacional une-se a um traficante de armas para fugir de uma colônia penal e resgatar sua família de um terrorista. Agora, começa um jogo de sobrevivência onde apenas o mais forte sobreviverá. 

Comentários:
Nos anos 90 os estúdios de Hollywood começaram a importar cineastas do Oriente para dirigir filmes de ação. Eles tinham mesmo muita experiência nesse tipo de fita, principalmente por causa da indústria de cinema de Hong Kong. Para Jean-Claude Van Damme essa era uma ótima opção, afinal esse era o tipo de filme de ação em que ele havia construído toda a sua carreira. Agora, ver Mickey Rourke, aqui fazendo papel coadjuvante para Van Damme, foi mesmo o fim da picada. Logo ele que tinha sido apontado como o "Novo Marlon Brando" nos anos 80, era claramente um sinal que as coisas estavam indo de mal a pior e só iriam piorar ainda mais nos anos que viriam. Que pena, lamentei demais na época isso tudo acontecer. Eu havia me tornado fã de Rourke por causa de seus excelentes filmes na década anterior. Assistir ele nesse tipo de produção foi mesmo muito decepcionante. 

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Screamboat: Terror a Bordo

Screamboat: Terror a Bordo
Que filme ruim, pelo amor de Deus! Sabe, muitos personagens infantis estão entrando em domínio público. Isso significa que não existe mais direitos autorais em relação a eles. Já vimos isso com o Ursinho Poh e o Peter Pan. Agora chegou a vez do personagem símbolo da Disney, o Mickey! Então, como aconteceu com os demais personagens queridos da infância, o Mickey também entrou na roda. Fizeram um filme de terror trash com ele! O que surgiu dessa ideia bizarra de usar o simpático Mickey em um filme de terror foi esse terror de filme! 

Nada, absolutamente nada, funciona nesse filme. É um dos piores filmes que já vi em minha vida! Péssimo, péssimo, péssimo... O grotesco surge inclusive do próprio Mickey do mal. Ao invés de criar um personagem digital (o caminho mais óbvio para um rato) os produtores resolveram vestir um cara qualquer (e péssimo ator) com uma fantasia de rato! Gente, é de dar vontade de abandonar o filme logo no começo. Então ficamos com essa personificação pra lá de bizarra, um cara vestido de rato, caçando os passageiros de um barco que liga Nova Iorque e suas cidades vizinhas. Muito ruim! Roteiro podre, elenco incompetente e claro o rato... que é seguramente uma das piores coisas que assisti em um filme de teror na minha vida! Não, chega, o filme é tão ruim que nem merecia um review tão extenso como esse aqui. Fuja, ignore, mas não veja, de jeito nenhum. 

Screamboat: Terror a Bordo (Screamboat, Estados Unidos, 2025) Direção: Steven LaMorte / Roteiro: Matthew Garcia-Dunn e Steven LaMorte / Elenco: David Howard Thornton, Tyler Posey, Jared Johnston / Sinopse: Durante uma viagem marítima de travessia de uma balsa noturna em Nova York, pessoas são atacadas por um estranho monstro, que se assemelha muito ao famoso personagem dos desenhos animados, o Mickey! 

Pablo Aluísio. 

Stalker - O Jogo da Morte

Stalker - O Jogo da Morte 
Stalker é aquele tipo de sujeito com problemas e transtornos mentais que fica obcecado por uma mulher! Ele literalmente passa a perseguir a garota que para ele representa um símbolo, um tipo de mulher ideal que ele gostaria de se relacionar. Só que esse tipo de mulher perseguida desejaria tudo na vida, menos se relacionar com um esquisitão que a persegue, pelas ruas, se escondendo atrás de latas de lixo para não ser descoberto. De fato, é uma situação bem assustadora, para não dizer o mínimo. Inclusive recentemente esse modelo de perseguição virou crime no Brasil. 

Esse tipo de situação já deu origem a muitos crimes na vida real. Esses stalkers geralmente transformam sua frustação e não correspondência de sentimentos em ira e raiva. Para partir para um ato de violência contra a mulher que vive perseguindo é um pequeno passo a se dar por alguém com uma mente tão perturbada! Como se pode perceber é um tema bem interessante que daria margem para um filme até muito bom de terror, mas em relação a essa fita não tenha nenhuma esperança. O filme é fraquinho de dar pena! Não tem nenhuma grande cena e o teor de terror é quase zero! Um daqueles filmes de streaming que ninguém nem chega a assistir, quanto menos se esquecer dele depois! Se encontrar aí pelos canais de streaming da vida simplesmente ignore e procure por algo melhor. Não vá perder seu tempo nesse filme que não dá medo em ninguém. 

Stalker - O Jogo da Morte (Shook, Estados Unidos, 2021) Direção: Jennifer Harrington / Roteiro: Alesia Glidewell e Jennifer Harrington / Elenco: Daisye Tutor, Emily Goss, Grant Rosenmeyer / Sinopse: Uma jovem influenciadora digital cai na mira de um stalker, um assassino sádico, que desenvolveu uma obsessão assassina por ela! 

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 16 de setembro de 2025

Jonah Hex

Título no Brasil: Jonah Hex
Título Original: Jonah Hex
Ano de Produção: 2010
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Jimmy Hayward
Roteiro: Brian Taylor, Mark Neveldine
Elenco: Josh Brolin, Megan Fox, John Malkovich, Michael Fassbender, Will Arnett, John Gallagher Jr
  
Sinopse:
Baseado nos personagens criados por John Albano e Tony DeZuniga para a DC Comics, o filme "Jonah Hex: Caçador de Recompensas" conta a estória de um misterioso cowboy e pistoleiro que apresenta poderes paranormais, conseguindo inclusive conversar com os mortos. Após ver toda a sua família ser morta, parte em busca de vingança contra os assassinos.

Comentários:
Por definição eu gosto de filmes de Western. Esse porém é um western diferente que foi baseado em um personagem em quadrinhos. No cinema o estranho Jonah Hex poderia render bem mais,  porém devo confessar que ficou no meio do caminho. Sua adaptação para as telas de cinema apresenta vários problemas. O filme é muito curto, quase um média metragem, com pouco mais de 70 minutos. O roteiro é simplório e não se desenvolve (basicamente todo o argumento pode ser resumido na seguinte frase: "Homem mau mata família de homem honrado e esse vai atrás de vingança"). O filme é só isso. Tem uma subtrama envolvendo uma arma de destruição em massa que será usada pelo vilão para destruir Washington, mas nem isso consegue prender a atenção do espectador. O ator Josh Brolin, que interpreta o protagonista Jonah Hex, não tem carisma e chega às raias da antipatia. Malkovich, um bom ator, está mais canastrão do que nunca desfilando um festival de caretas grotescas. Isso sem falar no seu visual, usando uma peruca simplesmente ridícula. Já Megan Fox é um desastre completo. A garota simplesmente não sabe atuar, não sabe expressar nenhum tipo de sentimento em cena, em algumas ocasiões notei que ela nem sabe falar direito! A única coisa que sabe fazer é um biquinho atrás do outro posando de bonitona (coisa que ela é). Uma atriz bonita, mas bem vazia em termos de talento. Mereceu todos os "prêmios" do Framboesa de Ouro que recebeu certamente. Jonah Hex não é um personagem ruim pelo que vi. Há cenas interessantes quando ele fala com os mortos (esse é um de seus poderes como todo bom personagem de HQ), mas até isso é desperdiçado. No geral é a tal coisa, o Hex pode até ser interessante, mas esse filme não.

Pablo Aluísio.

A Morte Tem Seu Preço

Título no Brasil: A Morte Tem Seu Preço
Título Original: Gunsmoke
Ano de Produção: 1953
País: Estados Unidos
Estúdio:  Universal Pictures
Direção: Nathan Juran
Roteiro: D.D. Beauchamp
Elenco: Audie Murphy, Susan Cabot, Paul Kelly, Charles Drake, Mary Castle, Jack Kelly

Sinopse:
Reb Kittredge (Audie Murphy) é um jovem pistoleiro contratado que acaba se arrependendo de seu passado. Assim passa a defender a vida de um rancheiro e sua filha, ameaçados por um facínora que ambiciona suas terras.

Comentários:
Acredito que a década de 1950 legou alguns dos melhores filmes de faroeste da história. Mesmo quando esses filmes eram, digamos, considerados menores, a boa qualidade cinematográfica se revelava nas telas. Audie Murphy foi provavelmente o rei dos filmes B de western. Eram produções feitas com orçamentos menores, mas que nem por isso deixavam de se destacar. Esse "Gunsmoke" é muito bom. Inclusive daria origem a uma série de TV alguns anos depois (sem Murphy no papel principal). O tema aqui é o arrependimento. O personagem de Audie Murphy é um pistoleiro, um homem que colocava seu colt de aluguel a quem lhe pagasse melhor. Só que não seria de bom tom colocar o herói mais condecorado da segunda guerra mundial numa cilada dessas. Por isso o roteiro ia pelo caminho da redenção. O roteiro apenas adaptou a novela escrita por Norman A. Fox. Romances de western eram comuns na época e o cinema, claro, aproveitou muitas dessas histórias, transformando tudo em bons filmes do gênero.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Os Filmes de Marlon Brando - Parte 1

Espíritos Indômitos
Ken Wilocek (Marlon Brando) é um jovem que se alista no exército dos Estados Unidos. Uma vez no front é seriamente ferido com um tiro. Quando é tratado descobre a terrível realidade, pois o tiro fez com que perdesse os movimentos de sua pernas. Nessa nova condição tenta recomeçar sua vida, apesar de todas as dificuldades físicas e psicológicas que precisará enfrentar. 

Esse foi o primeiro filme da carreira do ator Marlon Brando no cinema. E sua estreia se deu em grande estilo. Dirigido pelo ótimo cineasta Fred Zinnemann, o personagem de Brando dava voz a milhares de de veteranos que iam para a guerra e voltavam para sua pátria com problemas físicos graves. Alguns ficavam presos em cadeiras de rodas pelo resto de suas vidas. Era sem dúvida um tema muito humano, importante e relevante, em uma época em que Hollywood retratava os soldados apenas como heróis de guerra em filmes que muitas vezes fantasiava o que acontecia de verdade em um campo de batalha. 

E muitos desses homens que voltavam com sequelas eram abandonados pelo próprio governo e pelo exército. Brando, que sempre teve grande sensibilidade social, conviveu e contracenou com veteranos reais, que estavam vivendo em cadeiras de rodas. Uma experiência que o marcou por toda a vida. E o filme em si é considerado até hoje uma obra-prima da sétima arte. Um retrato visceral dos danos que uma guerra poderia causar em jovens com toda uma vida pela frente, agora limitados por ferimentos de combate.

Espíritos Indômitos (The Men, Estados Unidos, 1950) Estúdio: United Artists / Direção: Fred Zinnemann / Roteiro: Carl Foreman / Elenco: Marlon Brando, Teresa Wright, Everett Sloane, Jack Webb, Richard Erdman, Arthur Jurado  / Sinopse: O filme mostra o drama de jovens soldados que retornam mutiliados de guerra. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor roteiro (Carl Foreman).
 
Uma Rua Chamada Pecado
Passados mais de setenta anos, o longa "Uma Rua Chamada Pecado" (A Streetcar Named Desire - 1951) ainda mantém no ar e intactos, alguns dos sentimentos mais básicos e primários do Homem: sexo, violência e desejo. Mesmo na época de seu lançamento, e a pedido da Warner - que se via pressionada pela censura - o filme sofreu cortes generosos, para desespero de seu diretor, Elia Kazan, que lutou até o fim para que sua obra-prima não sofresse os cortes já determinados pelos "abutres da censura". Não teve jeito, Kazan foi derrotado. Durante muitos anos (até 1993), o filme foi exibido e comercializado com cinco minutos a menos que faziam total diferença no conjunto da obra. No Brasil não foi diferente. O que poderia ser literalmente traduzido para o português, como: "Um Bonde Chamado Desejo", de repente transformou-se em, "Uma Rua Chamada Pecado". Ou seja: a censura não via com bons olhos a palavra DESEJO. Realmente inacreditável, além de lamentável.

Baseado na obra premiada do dramaturgo americano Thomas Lanier Williams ou simplesmente, Tennessee Williams, a obra trata de um redemoinho alucinante de sentimentos. Tudo começa quando Blanche Du Bois (Vivien Leigh), uma professorinha de alma delicada e decadente do Mississipi, vai passar alguns dias com sua irmã Stella (Kim Hunter), e o cunhado Stanley Kowalski (Marlon Brando) em Nova Orleans. Frágil e sedutora, seu comportamento contrasta com os modos rudes e animalescos de Kowalski. A visita de poucos dias parece não ter mais fim, pois o esforço de Blanche, forçando uma convivência pacífica, irrita profundamente Kowalski que aos poucos vai se transformando numa fera. O pequeno apartamento parece ficar menor a cada minuto, sufocante, claustrofóbico. Uma panela de pressão a ponto de explodir. É justamente toda essa atmosfera, que pôs Marlon Brando em evidência para o mundo. Mal ele podia imaginar que sua atuação como Stanley Kowalski, o tornaria uma espécie de marco fundamental. Um divisor de águas entre o cinema pré e pós Marlon Brando. Ou seja: o cinema, mas, principalmente, os atores que vieram posteriormente, não seriam mais os mesmos.

A influência dos chamados "monstros sagrados" do Actor's Studios, entraria como um vírus, para sempre em suas veias. Brando, na pele do animalesco Kowalski, consegue manifestar toda a sua capacidade interpretativa e criativa. Numa completa desambiguidade o organismo Brando-Kowalski é um corpo incandescente que se move lentamente, com olhos injetados de um animal, transpirando suor, ódio e testosterona, quase sempre na mesma medida. Em uma leitura personalíssima e explosiva da obra, Brando se entrega de corpo e alma a um personagem de maldade e furor acachapantes. Sua atuação majestosa é o que Roland Barthes chamava de "quantificação da qualidade" - "pouco interessa o que se fala, o que interessa mesmo é o suor, o grito, o medo e o ódio". Parece que Uma Rua Chamada Pecado foi feita na medida certa para transformar-se depois num réquiem eterno para o genial Marlon Brando. Nota 10.

Uma Rua Chamada Pecado (A Streetcar Named Desire, EUA, 1951) Direção: Elia Kazan / Roteiro: Oscar Saul baseado na peça de Tennessee Williams / Elenco: Vivien Leigh, Marlon Brando, Kim Hunter,Karl Malden / Sinopse: Blanche (Vivien Leigh) uma problemática mulher resolve ir visitar sua irmã Stella (Kim Hunter) em New Orleans. Lá conhece Stanley (Marlon Brando) o rude e provocativo cunhado. Não tarda a se instalar um clima de tensão entre todos os moradores daquele pequeno apartamento. Texto escrito por Telmo Jr e Pablo Aluísio. 
 
Viva Zapata!
Cinebiografia do revolucionário mexicano  Emiliano Zapata (1879 - 1919). Filho de uma família rica no México, Zapata liderou a nação na revolução mexicana de 1910 que tencionava devolver o poder ao povo daquele país. Com o descontentamento crescente da população com sua classe política e corrupta, Zapata de posse de uma retórica populista conseguiu formar um grande exército que lutou ao seu lado. Filmar a vida de Zapata era um velho projeto de Elia Kazan. Ele próprio era uma pessoa com uma visão de esquerda (que seria manchada após ser acusado de entregar seus amigos do Partido Comunista). Assim era natural que Kazan quisesse fazer o filme definitivo sobre o revolucionário. Não foi nada fácil. Poucos produtores tinham coragem de filmar a vida desse personagem histórico mexicano com receio de ser acusado de ser socialista, o que poderia transformar em um inferno a vida de qualquer um em Hollywood na década de 1950. Kazan porém não desistia fácil e realizou um belo filme.

"Viva Zapata" resistiu bem ao tempo, isso apesar de cometer alguns clichês em seu roteiro (fato que se pode perdoar porque afinal estamos falando de um filme que foi feito há mais de 60 anos). O Zapata de Marlon Brando é bem romantizado por isso, embora a caracterização do ator seja muito boa, mostrando um personagem bem verossímil e que ficou bem próximo da realidade: um homem de pouca cultura (era analfabeto), brutalizado e de poucas palavras, mas muita ação. Brando inclusive deixou crescer um enorme bigode ao estilo do verdadeiro Zapata, mas teve que aparar seu vasto bigodão por ordens do estúdio que o achou muito exagerado (o que poderia fazer a plateia rir dele, levando o filme ao ridículo). Mesmo sob protestos o bom senso prevaleceu e Brando fez o que foi determinado pelo estúdio. A atriz Jean Peters era fraca (só entrou no filme por influência de seu namorado, o milionário excêntrico Howard Hughes que literalmente a escalou no filme). Nas cenas mais dramáticas ao lado de Brando a situação fica um tanto constrangedora para o lado dela (que afinal só era uma starlet, bonita e nada mais). O filme também quase não saiu do papel. O produtor Zanuck não queria Brando para o papel e entrou com confronto direto com Kazan que não abria mão do ator. Zanuck ainda brigou com Kazan por causa da maquiagem "muito escura" que foi realizada em cima de Jean Peters. Como se vê ele era um produtor muito poderoso que procurava se meter em cada detalhe dos filmes que produzia o que irritava profundamente Kazan, sempre muito independente e cioso de seu trabalho.

Além disso o filme não pôde ser rodado no México por expressa proibição do governo daquele país que achou o roteiro "inaceitável". As filmagens então foram realizadas no Novo México, no Colorado e no Texas. As condições não eram as ideais e o custo de se "maquiar" essas localidades para parecerem o México inflaram o orçamento. Lá pelo meio do filme Brando também foi perdendo o interesse ao entender que "Viva Zapata!" faria várias concessões para se enquadrar no estilo de Hollywood. Mesmo com tantos problemas "Viva Zapata" resistiu e hoje em dia é considerado um clássico, sem a menor sombra de dúvidas. Além da direção de alto nível por parte de Kazan o filme acabou ganhando muito também com a presença de Anthony Quinn no papel do irmão de Zapata. Enfim é um dos mais interessantes filmes da carreira de Brando e Kazan, o que não é pouca coisa. "Viva Zapata!" assim se torna essencial para quem deseja conhecer a obra de Elias Kazan e Marlon Brando em sua plenitude criativa.

Viva Zapata! (Viva Zapata!, EUA, 1952) Direção: Elia Kazan / Roteiro: John Steinbeck / Elenco: Marlon Brando, Jean Peters, Anthony Quinn, Joseph Wiseman, Alan Reed / Sinopse: Cinebiografia do líder revolucionário Emiliano Zapata (Marlon Brando) que em 1910 promoveu uma grande revolução no Estado do México visando devolver o poder político ao povo daquele país, que estava cansado de sua classe política corrupta e inepta. Filme vencedor do Oscar nas categorias de melhor ator coadjuvante (Anthony Quinn). Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhor ator (Marlon Brando), melhor roteiro (John Steinbeck), melhor direção de arte, melhor música (Alex North).

Júlio César
Em sua autobiografia Marlon Brando tirou duas conclusões sobre o filme “Júlio César”. A primeira foi que ele era ainda muito jovem e inexperiente para assumir um papel tão complexo em um texto tão rico (e muito fiel ao original escrito por William Shakespeare). O ator ficou inseguro durante as filmagens, também pudera, rodeado de monstros da arte de interpretação, Brando teve que se esforçar muito mais do que o habitual para não só decorar o rebuscado texto como também compreender o que ele significava. A segunda conclusão que Brando chegou é a de que filmes assim não encontram muita recepção e ressonância entre a cultura americana que em essência é a cultura do chiclete e da Coca-Cola, uma cultura que nem chega perto da milenar cultura europeia do qual provém essa maravilhosa peça.

Durante a exibição do filme fiquei pensando na opinião do ator e cheguei na conclusão pessoal de que ele estava certo apenas em termos. Realmente o ator está muito jovem, até inexperiente, para recitar Shakespeare. Atores ingleses obviamente se saem melhor nesse aspecto. Porém é impossível não reconhecer seu talento em duas grandes cenas do filme. A primeira ocorre quando Marco Antônio (Brando) encontra o corpo esfaqueado de César no senado. Se nos primeiros minutos de filme ele está em segundo plano aqui nesse momento assume posição de destaque no desenrolar dos acontecimentos. A segunda grande cena do ator no filme surge depois quando ele discursa para a multidão. Levando o corpo de César nos braços ele joga com as palavras de forma maravilhosa. Essa segunda cena é seguramente um dos maiores momentos de Brando no cinema. Esqueça seus famosos resmungos, aqui ele surge com uma dicção perfeita e uma oratória ímpar (mostrando que sua passagem pelo Actors Studio não foi em vão). Com pleno domínio ele instiga o povo contra os senadores que mataram César. Brando está perfeito no discurso, em um momento realmente de arrepiar.

Sobre o segundo aspecto realmente devo dar razão à opinião do ator. O público americano provavelmente estranhou a forma do filme. A cultura americana (e a nossa, diga-se de passagem) não abre muitas brechas para um texto tão bem escrito e profundo como esse. Os diálogos são declamados com grande eloqüência, por maravilhosos atores. O texto obviamente é riquíssimo em todos os sentidos e ao final de cada grande diálogo o espectador mais atento certamente ficará impressionado pela grandeza que a palavra escrita alcançava nas mãos de Shakespeare. Por se tratar de tão culto autor o filme exige uma certa erudição do público.

O espectador deve entender principalmente o contexto histórico do que se passa na tela (o fim da República Romana e o surgimento do Império). Deve também entender que Brutus (brilhantemente interpretado por James Mason) não é um vilão em cena mas sim um cidadão romano que acreditava no sistema político de então. Aliás é bom frisar que o tempo acabaria de certa forma dando razão a ele e aos senadores que mataram César. Os ideais republicanos de Roma tiveram muito mais influência nos séculos seguintes do que o arcaico e corrupto sistema que foi implantado pelos imperadores que iriam suceder César no poder. O legado do Império acabou mas as fundações do republicanismo que tanto foram defendidas por Brutus seguem firme até os dias de hoje. Enfim, Júlio César é um excelente filme, uma aula de cultura em todos os aspectos. Brando não está menos do que magnífico, apesar de ter ficado inseguro no resultado final. Em tempos de baixa cultura em que vivemos “Júlio César” é não menos do que obrigatório.

Júlio César (Julius Caesar, Estados Unidos, 1953) Diretor: Joseph L. Mankiewicz / Roteiro: Joseph L. Mankiewicz baseado na obra de William Shakespeare / Elenco: Marlon Brando, James Mason, John Gielgud, Deborah Kerr, Alan Napier./ Sinopse: Júlio César (Louis Calhern) é um habilitoso político e general romano que é assassinado no senado nos idos de março. Após sua morte duas facções se formam, os que querem a morte dos assassinos liderados por Marco Antônio (Marlon Brando) e Otáviano e os que comemoram sua morte liderados por Brutus (James Mason) e Cícero (Alan Napier). O palco da guerra civil está armado.

O Selvagem
Se James Dean representava o jovem encucado e confuso em seus filmes, Marlon Brando em "O Selvagem" representou o outro lado da moeda, a do jovem que não se intimidava e junto aos amigos formava uma gangue de motocicletas para aterrorizar as pequenas cidades do meio oeste americano. O personagem dele nesse filme acabou gerando uma repercussão tão grande entre os jovens que espantou não só Brando como os próprios produtores do filme. Embora esse tipo de grupo fosse bastante comum em poucos lugares da Califórnia, após o filme ser exibido as gangues proliferaram por todo o país em um ritmo assombroso. A influência chegou até no Brasil quando também foram formados grupos como o do filme. De repente andar de moto em couro preto virou moda da noite para o dia. 

Algumas alterações de última hora acabaram irritando o ator, inclusive a inserção de um tedioso aviso advertindo aos jovens dos perigos de se envolver com tais grupos. Na realidade os produtores sofreram pressão por grupos conservadores e no meio do clima paranóico que existia na década de 1950 resolveram colocar a advertência fora de propósito. Marlon achou aquilo de uma caretice sem tamanho. Ele adorava motos e desde seus primeiros dias em Nova Iorque adotou o veículo como o seu preferido, conhecia vários motoqueiros e achava o cúmulo da moralidade e estupidez associar motos imediatamente à deliquência juvenil.

Isso não adiantou muito. Assim que o filme foi lançado Brando logo foi acusado de incentivador da delinquência juvenil, de servir de mal exemplo para os jovens americanos. Em sua autobiografia o ator dedicou alguns capítulos ao filme. Na realidade ele nem mesmo achou o filme grande coisa, o considerou curto demais, violento e sem muito propósito, mas se confessava totalmente surpreso com toda a repercussão que "O Selvagem" alcançou dentro da cultura pop nos anos seguintes. O fato é que sua imagem de "motoqueiro de jaqueta negra" invadiu o inconsciente coletivo e ainda hoje é marca registrada de qualquer jovem "rebelde" que se preze. Até mesmo o jovem aspirante a ator, James Dean, apareceu na frente de Brando completamente vestido de seu personagem nesse filme. 

Marlon obviamente ficou espantado pois compreendeu que Dean realmente associava o personagem do motoqueiro com o próprio estilo de vida dele, o que era uma grande bobagem pois Marlon nunca fez parte de gangue nenhuma durante toda a sua vida. Dean queria encontrar uma forma de identificação com seu maior ídolo e por isso se vestiu de Johnny, o motoqueiro, ao se encontrar com Marlon. Brando não gostou muito e o dispensou discretamente. Ao longo dos anos Brando se veria perseguido por essa imagem, jamais conseguindo se livrar dela. Ele deveria ter entendido que algumas imagens ganham vida própria e sobrevivem a tudo, até mesmo ao tempo. Brando em sua moto aterrorizando uma cidadezinha qualquer perdida dos EUA é uma dessas imagens que ficaram cravadas para sempre na mente dos cinéfilos. "O Selvagem" é realmente um filme apenas mediano mas como produto pop jamais poderá ser subestimado. É um marco absoluto dos chamados "anos dourados". Simplesmente definitivo.

O Selvagem (The Wild One, Estados Unidos, 1953) Direção. Laslo Benedek / Roteiro: John Paxton, Frank Rooney / Elenco: Marlon Brando, Mary Murphy, Robert Keith / Sinopse: Johnny (Marlon Brando) chega numa pacata cidadezinha com sua gangue de motoqueiros de couro preto. Na localidade conhece a linda Kathie (Mary Murphy) com quem simpatiza ao mesmo tempo em que tem que lidar com um grupo rival de rebeldes motorizados.

Pablo Aluísio.