domingo, 5 de maio de 2024

Madonna - The Celebration Tour

Madonna - The Celebration Tour
Assisti ontem ao show da Madonna nas areias da praia de Copacabana. Queriam ou não, esse foi o evento musical do ano no Brasil nesse ano de 2024. Nada foi feito perto dessa magnitude e nada será feito tão cedo. A Madonna levou mais de 1 milhão e meio de pessoas ao seu concerto. Aliás essa palavra concerto é um pouco equivocada. O show da Madonna está mais para apresentação da Broadway. Tudo remete a essa tradição teatral de Nova Iorque. A música, fator essencial para ela no palco, não foi a única arte representada. Na realidade estava lado a lado com a dança e com a linguagem teatral, dos grandes musicais do presente e do passado. 

E aí que vejo o grande valor desse show. Não se resume a ser apenas a apresentação de uma cantora e sua banda. Aliás não havia banda. Como eu disse, o mais importante foi o aspecto visual. Madonna, que nunca deixou de se considerar uma dançarina, levou um grande grupo de dançarinas e dançarinos ao palco para contar, em última análise, sua própria história. E nesse aspecto não há o que reclamar. Profissionalismo em alto grau. Não vi falhas nesse aspecto. O corpo de bailarinos da Madonna foi impecável realmente. Para quem gosta de dança como expressão artística, o show é nota 10 com louvor. 

No tocante à questão musical realmente houve muita utilização de playback. Isso é inegável. Entretanto as pessoas precisam entender o conceito dessa apresentação da Madonna. É um espetáculo da Broadway e não um concerto de rock. Então o uso de playback é certamente justificável pois esse é o modelo usado nesse tipo de show. Vá na Broadway assistir a qualquer musical que você verá que o playback é usado como padrão para as músicas cantadas. Além do mais temos que levar em consideração que a Madonna é uma artista de 65 anos de idade. Não tem como correr, dançar, pular, fazer a coreografia e ainda cantar pra valer no palco. É impossível. O ser humano tem seus limites. Ainda assim ela realmente cantou em diversas músicas, não foi tudo com uso de playback, vamos ser honestos nas críticas. 

Por fim temos o conteúdo do show. Vejo gente reclamante do excesso de sensualidade, das referências à religião, etc. Ora, quem está reclamando de algo assim simplesmente não conhece a artista Madonna. A carreira dela foi construída em cima desse tipo de mensagem. Ela levanta as bandeiras que considera preciosas, entre elas a defesa da comunidade LGBT. Quem não concorda com esse tipo de posicionamento não deve nem assistir ao show dela. Uma apresentação da Madonna não é lugar para gente religiosa fundamentalista e fanática porque em última análise esse tipo de gente é o foco das críticas da própria Madonna. E temos que admitir que pessoas religiosas demais também são chatas demais, ainda mais no Brasil onde prospera um tipo de evangélico retrógado e medieval que é quase impossível de suportar. Eu nem quero a convivência com esse topo de crente bitolado e nem muito menos a Madonna, é bom frisar! Ela não quer e nem busca a aprovação dos evangélicos, entre outros grupos de preconceito. Ela os critica abertamente!

Então é isso. Realmente vi um show muito profissional, muito bem executado e com a mensagem que a artista considera importante para se passar ao seu púbico. Foi um enorme sucesso e provavelmente o show com o maior público da história, batendo o recorde dos Rolling Stones. Diante disso a apresentação da Madonna foi realmente espetacular!

Pablo Aluísio. 

sábado, 4 de maio de 2024

Elvis Presley - That's the Way It Is - Parte 7

O disco fecha suas cortinas com o clássico "Bridge Over Troubled Water" de Paul Simon. Essa é uma das maiores canções populares já escritas. Gravada originalmente no final dos anos 60 e lançada em janeiro de 1970 no disco de mesmo nome da dupla Simon e Garfunkel a música logo virou símbolo de uma era e colecionou prêmios em sua vitoriosa trajetória: "Gravação do ano", "Álbum do ano", "Melhor canção escrita do ano" e outros. Além da aclamação da crítica o público também não deixou por menos colocando a música por seis semanas seguidas no topo da parada norte americana. Tanto sucesso não poderia passar despercebido por Elvis Presley. Ele amou a música desde a primeira vez que a ouviu e foi um dos primeiros intérpretes a gravar uma versão, apenas seis meses depois que ela foi lançada originalmente pela famosa dupla dos anos 70. Elvis não perderia a chance de fazer sua versão pessoal de uma canção tão significativa. Logo ele, que estava empenhado em renovar seu repertório e produzir material relevante e de importância, bem longe de seu passado recente de trilhas sonoras medíocres. 

Antenado no que estava acontecendo musicalmente ao seu redor, Elvis logo providenciou seu próprio registro da canção. Quando foi informado da data das sessões de gravação em junho daquele mesmo ano ele logo entrou em contato com seu produtor Felton Jarvis e pediu que ele providenciasse logo a liberação da música pois ele já tinha inclusive feito alguns ensaios com sua banda na estrada e estava procurando achar o tom certo para sua versão. Elvis sabia que seu estilo vocal em pouco se aproximava da linha folk universitária de seus autores originais. Ele procurou adaptar a canção ao seu próprio estilo, deixando a simplicidade da versão original de lado e investindo em algo mais grandioso com presença marcante de orquestra (arranjo inexistente dentro da versão original da dupla Simon e Garfunkel). Isso também se justificava porque Elvis pretendia utilizá-la durante seus concertos e não havia como ele, sendo um barítono, fazer uma versão que se aproximasse da ideia simplória de Paul Simon e seu companheiro de dupla. Alguns ajustes teriam que ser feitos e isso traria todas as características que fariam essa canção única dentro da vasta discografia de Elvis. Esse tipo de material era o que ele iria procurar cada vez mais durante os anos 70.

Canções que representassem de alguma forma um novo desafio, um novo pico a alcançar. Certamente os rocks que tanto caracterizaram sua carreira, ao ponto de receber o título de Rei do Rock, não mais significavam um grande desafio a ser superado em 1970. Elvis procurava algo mais, algo que demonstrassem a todos seu grande talento vocal, que deixasse claro para quem ouvisse seus discos ou assistisse seus shows que ele era, acima de qualquer coisa, um grande cantor, nada mais do que isso. Elvis procurava antes de qualquer coisa ser reconhecido por seus colegas profissionais, pela crítica especializada e principalmente por seu público que manteve-se fiel a ele, mesmo na pior fase de sua carreira nos anos 60. 

O saldo final é conhecido de todos: a canção é considerada uma das maiores interpretações de toda a carreira de Elvis Presley! A versão do Rei para o sucesso imortal da dupla "Simon e Garfunkel" emociona até hoje. Como toque final foram acrescentadas palmas para se dar a impressão que ela foi gravada ao vivo, porém esta é a versão de estúdio e não a versão que aparece no filme (e que também é ótima). Só foi lançada da forma como foi gravada muitos anos depois na caixa de CDs "Walk a mile in my Shoes" com nova mixagem e mostrando toda a extensão de sua beleza. "Bridge Over Troubled Water", sem a menor sombra de dúvida, é um dos maiores marcos da carreira de Elvis Presley.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 3 de maio de 2024

O Diário de Um Jornalista Bêbado

Jornalista americano freelancer (Johnny Depp) vai até Porto Rico atrás de um emprego em um decadente jornal local. Lá se torna amigo do empresario Sanderson, que deseja construir um grande império de turismo na Ilha após o governo americano colocar à venda as terras e as praias caribenhas da região. Enquanto a situação não se resolve o tal jornalista bêbado bebe, se mete em confusões e paquera a sra Sanderson (Amber Heart). Tudo muito frouxo e sem graça. O filme é muito chato. Só indico a quem gosta de ver dois marmanjos completamente bêbados durante as quase duas horas de filme (um exagero, já que em essência nada de muito importante acontece). O Johhny Depp está travado, o que é um absurdo para quem está interpretando uma personagem alcoolizado. Há cenas constrangedoras de sua canastrice e ele não conseguiu em momento algum dar algum tipo de carisma ao seu jornalista bêbado. Além disso os momentos de humor se resumem a acompanhar esse jornalista bebum passeando por Porto Rico, assistindo rinhas da galo e dando em cima da mulher do empresário Sanderson. Piadas de bêbados tem duração curta mas o filme se alonga desnecessariamente, tentando criar em vão algum vínculo com o espectador (que se não for outro bêbado vai acabar se cansando do roteiro repetitivo).

O filme foi um mega fracasso de bilheteria. Tomando as dores da produção o ator Johnny Depp partiu para a ofensa dizendo que o público americano não gostou do filme porque é "burro"! Sinceramente, além de não ter trabalhado de forma bem no filme ele ainda tentou enfiar goela abaixo do público um produto que em suma é muito chato e fraco. Deveria reconhecer a bomba e ficar calado. Além disso burro será mesmo quem pagar para ver esse monte de bebuns xaropes. Tem graça ver alguém enchendo a cara e falando uma besteira atrás do outra? Eu não vejo graça nenhuma, aliás bêbados são chatos por natureza e o filme comprova isso. Enfim, o filme é literalmente um porre. Merece ter sido o fracasso que foi.

Diário de um Jornalista Bêbado (The Rum Diary, Estados Unidos, 2011) Direção e roteiro de Bruce Robinson. / Elenco: Johnny Depp, Aaron Eckhart, Giovanni Ribisi / Sinopse: Jornalista americano vai até a Costa Rica atrás de emprego em um pequeno jornal local, se envolvendo em diversas confusões, tudo regado a muita bebida e drogas.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 2 de maio de 2024

Bebê Rena

Título no Brasil: Bebê Rena
Título Original: Baby Reindeer
Ano de Lançamento: 2024
País: Estados Unidos
Estúdio: Netflix
Direção: Weronika Tofilska, Josephine Bornebusch
Roteiro: Richard Gadd
Elenco: Richard Gadd, Jessica Gunning, Nava Mau

Sinopse:
Barman escocês que tenta fazer sucesso em Londres como comediante acaba encarando o fracasso de suas apresentações nos palcos. Pior do que isso, ele passa a ser perseguido por uma mulher completamente perturbada que ele conheceu no pub onde trabalha. E ela está decidida a transformar sua vida em um completo inferno. 

Comentários:
Essa é a série do momento na Netflix. Primeiro lugar em praticamente todos os países e grande repercussão, inclusive na net. Não se fala em outra coisa, é um grande sucesso. A boa notícia é que realmente temos uma excelente série aqui. Tudo o que se vê na tela realmente aconteceu e o ator que interpreta o protagonista está na verdade interpretando sua própria vida, pois aquilo aconteceu com ele, anos atrás. Todos os personagens, justamente por essa razão, possuem muita alma. Não são meros personagens criados para uma história interessante inventada. O comediante fracassado que sobrevive como barman, sua namorada transexual e a perseguidora gorda e psicótica realmente existem e estão por ai, tendo que lidar com os efeitos do grande sucesso da série. É uma daquelas séries com muitas camadas psicológicas para se desvendar. De certa maneira também é muito perturbadora, uma daquelas histórias que não vamos esquecer e que iremos lembrar por muitos anos ainda. Eu gostei muito e recomendo sem hesitação. Se você é uma das poucas pessoas que ainda não viram "Bebê Rena" corra para a Netflix e confira uma das séries mais viscerais e doentias dos últimos anos. 

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 1 de maio de 2024

Massacre em Rosewood

Título no Brasil: Massacre em Rosewood
Título Original: Rosewood
Ano de Lançamento: 1997
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: John Singleton
Roteiro: Gregory Poirier
Elenco: Jon Voight, Ving Rhames, Don Cheadle

Sinopse:
O filme recria um fato histórico ocorrido em 1923 em uma cidade do Sul dos Estados Unidos, quando um grupo de supremacistas brancos e racistas decidiram atacar uma comunidade negra, matando crianças, mulheres e idosos, o que chocou grande parte da sociedade americana da sua época. 

Comentários:
Esse é um filme chocante porque mostra o nível de violência e brutalidade que pode chegar um grupo racista, caso não seja combatido pela lei e pelas autoridades constituídas. O diretor black John Singleton, muitos considerado por causa de seu ativismo em prol da luta dos negros nos Estados Unidos, conseguiu realizar um grande filme, muito bem produzido e ao mesmo tempo conscientizador desse problema social que atinge há décadas os estados sulitas norte-americanos, os mesmos que perderam a guerra civil. Parece que os sulistas jamais vão superar aqueles velhos preconceitos gravados em ferro e fogo na bandeira confederada. Sinceramente falando, já deveriam ter superado há muitas décadas. E pensar que ainda hoje a chaga do racismo permanece aberta. Parece ser um problema sem solução. Espero estar errado sobre isso. 

Pablo Aluísio.

Crash: Estranhos Prazeres

Título no Brasil: Crash: Estranhos Prazeres
Título Original: Crash
Ano de Lançamento: 1996
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia TriStar Films
Direção: David Cronenberg
Roteiro: J.G. Ballard, David Cronenberg
Elenco: James Spader, Holly Hunter, Rosanna Arquette

Sinopse:
James Ballard (James Spader) é um diretor de programas para televisão que sofre um grave acidente de carro. E depois desse evento ele descobre que existe um estranho grupo de pessoas que sexualizam acidentes desse tipo para revitalizarem suas próprias vidas sexuais adormecidas e em crise. Filme premiado no festival de cinema de Cannes. 

Comentários:
David Cronenberg sempre foi um diretor estranho em busca de temas esquisitos para seus filmes. No caso dessa produção ele dobrou suas apostas. Realmente, o tema central do filme é até complicado de explicar. Como assim existe uma modalidade de atração sexual baseada em acidentes de carro? Que coisa mais bizarra... vou te contar. Pois é justamente disso que se trata. Eu particularmente nunca gostei do filme, não por causa dessa coisa de omnissexuais (seja lá o que isso venha a significar), mas simplesmente porque acho um filme sem nexo, mal editado e que muitas vezes cai no marasmo completo. Claro que quando chegou as cinemas a crítica adorou, tanto que o filme foi celebrado em Cannes. Eu entendo quem pensa assim, mas no meu caso particular não deu certo. Eu realmente nunca gostei desse filme e seu tema singular e exótico. 

Pablo Aluísio.

terça-feira, 30 de abril de 2024

O Preço de um Homem

Título no Brasil: O Preço de um Homem
Título Original: The Naked Spur
Ano de Lançamento: 1953
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: Anthony Mann
Roteiro: Sam Rolfe, Harold Jack Bloom
Elenco: James Stewart, Janet Leigh, Robert Ryan, Ralph Meeker, Millard Mitchell, Aaron Stevens

Sinopse:
Howard Kemp (James Stewart) é um caçador de recompensas que há muito tempo persegue o assassino Ben Vandergroat (Ryan). Ao longo do caminho, Kemp é forçado a lidar com certos sujeitos, entre eles um velho garimpeiro chamado Jesse Tate e um soldado da União dispensado de forma desonrosa. Quando eles descobrem que Vandergroat tem uma recompensa de US$ 5.000 por sua cabeça, a ganância começa a tomar conta deles. Vandergroat aproveita ao máximo a situação, semeando dúvidas entre os dois homens em todas as oportunidades, finalmente convencendo um deles a ajudá-lo a escapar.

Comentários:
Quando você se deparar com qualquer faroeste contando com essa dupla Stewart e Mann, pode assistir ao filme sem nem pensar duas vezes. No mínimo será mais um grande western, isso se não for um clássico absoluto do gênero cinematográfico. É impressionante como eles só fizeram bons filmes. Nunca houve espaço para a mediocridade no trabalho deles em Hollywood. E esse filme só vem confirmar isso. É um daqueles excelentes filmes do passado, com linda direção de fotografia, captando toda a beleza natural onde foi filmado e contando com um elenco muito bom, onde destaco não apenas James Stewart, aqui em um papel um pouco fora do seu habitual, como também da estrela Janet Leigh. De cabelos loiros curtinhos, muito bronzeada, ela convence demais como uma garota durona do velho oeste. Tão durona que na época em que o filme chegou nos cinemas houve quem acusasse sua personagem de ser uma lésbica, isso apesar dela se relacionar com os personagens masculinos do filme. Mas enfim, gostei demais. Esse é um daqueles filmes que não podem faltar na coleção do cinéfilo que aprecia filmes de faroeste. 

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 29 de abril de 2024

Um Corpo que Cai

Título no Brasil: Um Corpo que Cai
Título Original: Vertigo
Ano de Produção: 1958
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Alfred Hitchcock
Roteiro: Alec Coppel, Samuel A. Taylor
Elenco: James Stewart, Kim Novak, Barbara Bel Geddes, Tom Helmore, Henry Jones, Raymond Bailey

Sinopse:
Com roteiro baseado no romance policial "D'Entre Les Morts", o filme conta um caso envolvendo o investigador aposentado John 'Scottie' Ferguson (James Stewart). Ele é contratado por um amigo para seguir sua esposa pelas ruas de San Francisco. O marido está preocupado com o comportamento dela. Só que Ferguson descobre muito mais do que poderia esperar.

Comentários:
Esse filme é considerado por muitos críticos como o melhor da carreira do mestre do suspense Alfred Hitchcock. É um título de peso, só sustentado realmente por grandes filmes. E "Vertigo" se sai muito bem nessa posição de destaque. O roteiro é genial, mostrando toda a capacidade de Hitchcock em narrar seu enredo, que em alguns momentos parece bem simples, para depois ganhar contornos bem mais complexos. Em termos de linguagem cinematográfica é o melhor trabalho de Alfred Hitchcock, pois o diretor mescla momentos de pura ilusão, sonhos e devaneios, com a realidade concreta. Nesse ponto fascina até mesmo os cinéfilos mais experientes. Olhando sob esse aspecto subjetivo de fato temos aqui uma verdadeira obra-prima da filmografia de Hitchcock, muito provavelmente jamais superada por nenhum outro momento de seus outros filmes. "Um Corpo que Cai" é o auge de Hitchcock, seu mais expressivo filme no cinema. Um grande clássico.

Pablo Aluísio.

domingo, 28 de abril de 2024

Elvis Presley - That's the Way It Is - Parte 6

Eu não colocaria "Stranger in the Crowd" entre as melhores músicas desse disco, mas ela tem sim seus méritos. Se "Just Pretend" e "Bridge Over Troubled Water" são músicas embasadas nos arranjos de piano, aqui o que se destaca mesmo é o pleno domínio dos arranjos de cordas e de instrumentos percussivos. A mais acústica música do disco não chega ao ponto de ser um dos destaques da trilha, sendo considerada apenas um complemento ao conjunto. Apesar disso, de ser uma mera coadjuvante, não podemos deixar de colocar em destaque seus méritos como a vocalização inspirada de Elvis e o belo solo de guitarra de James Burton, bem diferente do que ele costumava fazer em estúdio. 

Winfield Scott, autor dessa música, compôs várias canções dos filmes de Elvis nos anos 60. Ele esteve muito presente nessa fase e foi dele a descoberta de uma das maiores surpresas em termos de gravações perdidas de Elvis. Quase que por acaso ele acabou descobrindo o tape inédito de "I'm Roustabout", canção que havia sido originalmente composta para ser o tema principal do filme "Roustabout" (O carrossel de emoções, 1964). Assim que soube o que tinha em mãos entrou em contato com Ernst Jorgensen que não perdeu tempo em anunciar para o mundo que pela primeira vez em muitos anos havia sido descoberta uma nova música na voz de Elvis, até então totalmente inédita. A descoberta acabou sendo definida por Joe Di Muro, executivo da RCA / BMG, como a "mais inacreditável da música moderna"!

"The Next Step Is Love" vem logo a seguir. Quando Elvis resolveu retomar o rumo de sua carreira e deixar Hollywood para trás ele procurou encontrar inspiração e renovação em um novo grupo de compositores. Paul Evans, cantor, compositor e famoso produtor certamente se encaixava nesse novo perfil que Elvis tanto procurava. Antes de compor "The Next Step is Love", Evans já era muito conhecido nos EUA por causa de suas músicas românticas, doces e ternas, que fizeram muito sucesso principalmente na primeira metade dos anos 60 como, por exemplo, "Too Make You Feel My Love", "When" e principalmente "Roses are Red (My Love)", seu grande sucesso que chegou ao primeiro lugar nas paradas. Além disso ainda escreveu novas versões para o clássico sacro "Amazing Grace". Compositor de grande talento, foi ainda gravado por Pat Boone, La Vern Baker e Bobby Vinton. Pena que não tenha tido uma parceria de maior duração ao lado de Elvis, pois na visão estreita de Tom Parker ele ainda era considerado um compositor muito "caro"!!! De qualquer maneira a música acabou sendo lançada como Lado B do Single "I've Lost You". No filme Elvis aparece ouvindo e dando sua aprovação final ao resultado da gravação desta canção. É uma bela música sem dúvida, porém perde em comparação com alguns clássicos presentes neste disco. Poderíamos dizer que é um belo complemento ao disco, mas sem jamais ser protagonista dentro da seleção de boas melodias desse trabalho de Elvis. 

A letra da canção exalta principalmente a paixão, os primeiros momentos em que cada um se descobre apaixonado pelo outro. Há uma clara intenção de, em forma poética, tentar capturar esse momento. Até mesmo aspectos bobos ganham relevância, como caminhar descalços pelos campos, rindo debaixo da chuva. Particularmente penso que essa gravação teria ficado bem melhor se tivesse sido feita com a antiga banda de Elvis, principalmente com aquela formação da primeira metade da década de 1960. Essa música tem uma singeleza que combinaria bem com aquele período histórico da carreira do cantor. Além disso se ele tivesse optado por aquela linha vocal mais terna, que tanto caracterizou suas canções naquela época, o resultado teria sido bem bonito. Já em Nashville, com todas aquelas canções para se gravar, onde o tempo era mais do que precioso, houve uma certa pressa em finalizar a faixa. Com isso a melodia não foi tão valorizada. Some-se a isso o fato da TCB Band ser um grupo com características de palco, o que deu a esse registro um certo sabor de música gravada ao vivo. Mas enfim, mesmo sendo feitas essas observações é importante ressaltar a boa qualidade da música como um todo. Nunca chegou a ser um hit ou um standart na discografia de Elvis, porém como coadjuvante nesse ótimo álbum "That´s The Way It Is" está de bom tamanho.

Pablo Aluísio.

sábado, 27 de abril de 2024

The Beatles - With The Beatles - Parte 6

Esse segundo disco dos Beatles foi gravado em uma época que o grupo estava cumprindo uma série de obrigações contratuais. Além dos shows havia um contrato onde os Beatles tocavam na rádio BBC de Londres. Assim, para que tudo coubesse dentro dessa agenda apertada, os Beatles decidiram facilitar as coisas. E isso significava usar algumas músicas covers que eles estavam tocando na BBC em seu novo disco. Afinal essas músicas já estavam ensaiadas e os Beatles devidamente familiarizados com essas faixas, poderiam gravar tudo de forma mais rápida. No estúdio não haveria tanto problema em finalizá-las.

"Devil in Her Heart" era um cover nessa linha. Quem sugeriu a gravação foi Paul McCartney. Esse tipo de música os Beatles utilizavam em suas apresentações, pois tinha aquele jeitão de bolero, ideal para os clubes em que os Beatles se apresentavam em seus primeiros anos de carreira. Era aquele tipo de baladona usada para que todos dançassem de rostinho colado. Bem de acordo com os clubes noturnos por onde eles passavam. Tempos duros, mas também de aprendizado nesse tipo de palco. 

Se a música anterior era romântica e nostálgica, essa "Money" era puro rock ´n´roll, ideal para John Lennon desfilar sua marra de rebelde ao estilo James Dean. Com letra cortante e direta, era aquele tipo de som usado nos shows em inferninhos, quando os Beatles queriam incendiar a apresentação, colocando todos para dançar. Curiosamente "Money" acabou sendo comparada a "Twist and Shout" do primeiro disco. Realmente havia muitas semelhanças. Além de ser um rock pra cima, ainda contava com uma vocalização bem parecida com John Lennon cantando com a voz bem rouca e surrada.

"Not a Second Time" era uma original dos rapazes, com autêntico selo de originalidade da dupla Lennon e McCartney. Houve uma certa discussão dentro do estúdio sobre qual seria o melhor arranjo para a música. Nesse caso George Martin, o produtor das sessões, foi figura importante, dando dicas e contribuindo pessoalmente na seleção de instrumentos, inclusive ajudando em um belo solo no meio da música, algo que a marcou muito. Basta ouvir essas notas, seja tocada em piano ou violão, para reconhecer imediatamente a faixa. O vocal principal ficou com John Lennon, embora a música também fosse ideal para Paul McCartney, caso ele quisesse cantar a música no estúdio.

Panlo Aluísio.