sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Green Book: O Guia

Dos filmes que estão concorrendo ao Oscar de melhor filme nesse ano, esse é seguramente um dos melhores. O roteiro aproveita uma situação até básica para passar sua mensagem, seus bons sentimentos e valores. Temos aqui dois protagonistas. O primeiro deles é o motorista italiano Tony Lip (Viggo Mortensen). Ele trabalhava numa das melhores casas noturnas de Nova Iorque, o Copa. Atuando como leão de chácara colocava os bêbados e valentões para fora, os jogando na rua. Quando a casa fecha por alguns meses, para reforma, ele fica desempregado. Uma oportunidade de trabalho surge com o pianista negro Dr. Don Shirley (Mahershala Ali). Ele vai fazer uma excursão pelas cidades do sul e como todos sabemos essa região dos Estados Unidos sempre foi conhecida pelos movimentos racistas. Para um negro como ele nada seria mais conveniente do que ter um italiano bom de briga para lhe proteger. Então acertado o acordo eles seguem viagem em um antigo Cadillac azul - um carro muito bonito, estiloso e cheio de charme.

O roteiro assim vai explorando as diversas situações pelos quais eles passam. Em uma região onde os negros eram segregados dos brancos, onde eles não podiam ir em certos lugares, se hospedarem em hotéis, ir a restaurantes, etc, Tony começa a seguir um guia impresso, trazendo o itinerário certo para um homem negro viajar em segurança por aqueles rincões. Agora imagine o tamanho do preconceito racial que existia na época (a história do filme se passa em 1962). Outro aspecto que o roteiro desenvolve muito bem é o choque de personalidades entre um músico negro culto, excelente pianista, de gestos e hábitos educados e refinados e um italiano de Nova Iorque meio grosseirão, falastrão, inconveniente, mas também prático para resolver problemas que vão surgindo pela estrada.

Como eu disse é um dos melhores filmes do Oscar. Roteiro muito bem escrito, baseado em fatos reais, boa interpretação dos dois atores principais e aquele tipo de mensagem que vale a pena reforçar nos dias de hoje. O único deslize da produção, ao meu ver, vem em certos momentos onde a Nova Iorque de Tony Lip surge meio artificial, ali no comecinho do filme. Isso porém é algo tão superficial que nem vale a pena prestar muito atenção. Foque-se nos valores de amizade e tolerância que o filme passa e curta o filme pelo que ele tem de melhor.

Green Book: O Guia (Green Book, Estados Unidos, 2018) Direção: Peter Farrelly / Roteiro: Nick Vallelonga, Brian Hayes Currie / Elenco: Viggo Mortensen, Mahershala Ali, Linda Cardellini / Sinopse: O filme mostra a viagem de um músico negro chamado Dr. Don Shirley (Mahershala Ali) e um italiano bom de briga, Tony Lip (Viggo Mortensen), pelo sul racista dos Estados Unidos durante a década de 1960. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Ator (Viggo Mortensen e Mahershala Ali), Melhor Roteiro Original e Melhor Edição (Patrick J. Don Vito). Filme vencedor do Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme, Melhor Ator (Mahershala Ali) e Melhor Roteiro.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Boy Erased

Filme baseado em fatos reais. O roteiro foi escrito em cima da história do jovem Jared Eamons (Lucas Hedges). Filho único de um pastor protestante, interpretado no filme por Russell Crowe, ele teve tudo que um jovem de sua idade poderia querer. Pais amorosos e presentes, uma boa educação nos melhores colégios, carro novo ao completar 18 anos, ou seja, não poderia reclamar de nada. A mãe, em bom momento de Nicole Kidman, sempre foi amiga e companheira nos momentos mais complicados. Quando vai para a universidade Jared começa a desfrutar de uma ampla liberdade e nesse momento descobre que sempre teve atração por homens. Ele tentou ter uma namorada na época do colégio, mas nunca conseguiu dar muito certo com ela. Na universidade percebeu que o problema é que ele tinha mesmo tendência homossexuais. Seu encontro com um dos alunos vaza, e seus pais acabam descobrindo esse lado que não conheciam do filho.

O pai, um pastor, entende que pode consertar essa questão. Ele se reúne com outros pastores mais experientes e decide enviar Jared para um tratamento de reversão de suas preferências sexuais. É o que vulgarmente se chama "cura gay" no Brasil. Jared aceita passar pelo tal programa, indo para uma instituição que se diz especializada nesse tipo de questão delicada. O roteiro do filme então foca nesse tipo de reversão, que nos Estados Unidos é amplamente utilizado, sendo legal em diversos estados. No Brasil a questão é bem complicada, pois o conselho nacional de psicologia não dá nenhum aval para esse tipo de coisa.

Claro que o filme tem um viés ideológico por trás. Como o roteiro foi escrito a partir do livro publicado pelo próprio Jared, ele toma posição firme contra o tal programa. Seus pais porém não são destruídos por sua retórica. São retratados apenas como pessoas religiosas, que acreditavam no que estavam fazendo. Os pais aliás são o grande interesse para quem gosta de cinema pois são interpretados por atores famosos. Russell Crowe está quase irreconhecível. Muito acima do peso, não se parece mais em nada com os dias de Gladiador. Nicole Kidman, de cabelo curto e muito laquê, interpreta essa dona de casa que no final das contas decide ficar ao lado do filho. O elenco que forma o núcleo familiar aliás é a melhor coisa dessa produção que provavelmente vai gerar ainda mais polêmica e discussão ao ser lançado no Brasil.

Boy Erased: Uma Verdade Anulada (Boy Erased, Estados Unidos, 2018) Direção: Joel Edgerton / Roteiro: Garrard Conley, Joel Edgerton / Elenco: Lucas Hedges, Nicole Kidman, Russell Crowe, Joel Edgerton / Sinopse: O filme conta a história de Jared Eamons (Lucas Hedges), jovem homossexual, filho de pastor, que é enviado para um programa de reversão de sua sexualidade, onde tentará superar esse "problema" em sua vida. Filme indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Ator - Drama (Lucas Hedges) e Melhor Canção Original ("Revelation" de autoria do trio Jon Thor Birgisson, Troye Sivan e Brett McLaughlin)

Pablo Aluísio.

Zona Mortal

Título no Brasil: Zona Mortal
Título Original: Drop Zone
Ano de Produção: 1994
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: John Badham
Roteiro: Tony Griffin, Guy Manos
Elenco: Wesley Snipes, Gary Busey, Yancy Butler, Michael Jeter, Corin Nemec, Kyle Secor
  
Sinopse:
Após a fuga espetacular de um criminoso por pára-quedas, o agente que o escoltava, Pete Nessip (Wesley Snipes), acaba sendo suspenso de suas funções. Revoltado com a punição do FBI ele decide começar sua própria investigação, tudo feito sem o conhecimento de seus superiores. Acaba descobrindo algo maior, envolvendo paraquedistas no roubo de informações confidenciais do governo americano.

Comentários:
Nos anos 90 houve uma busca por parte dos roteiristas em inovar nos filmes de ação. Personagens como Rambo estavam desgastados. Assim o cenário mudou, deixando a selva para invadir o meio urbano. Uma boa ideia inovadora acabou surgindo no roteiro desse filme. Explorando o mundo dos esportes radicais o filme explora inúmeras cenas com muita adrenalina, saltos espetaculares e coisas do tipo. Gary Busey, atuando em seu tipo habitual, é o vilão do filme. Ele interpreta um ex-agente do DEA que passa para o outro lado, investindo em várias atividades criminosas para ficar rico, afinal como agente federal ele nunca conseguiria isso. Enfim, uma boa fita, um pouco envelhecida hoje em dia, é verdade, mas ainda boa diversão. Há cenas bem elaboradas não apenas de paraquedismo, como também de brigas em queda livre, bandidos atravessando janelas de altos edifícios e muita ação. Outro ponto positivo vem da direção de John Badham, um dos melhores diretores de filmes de ação de Hollywood. Para quem gosta do estilo não há o que reclamar.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

A Culpa é das Estrelas

Dois jovens com sérios problemas de saúde encontram a felicidade em suas vidas ao se apaixonarem e viverem uma bonita estória de amor. Enquanto vão descobrindo os segredos e alegrias do amor adolescente, vão entendendo também que o tempo de ambos está chegando ao fim. Filme que caiu no gosto do público adolescente, já se tornando um cult da turminha mais jovem. Alguns mais críticos chegaram ao ponto de dizer que seria uma espécie de "Love Story" dos tempos atuais. Afinal essa coisa toda de romance com final trágico lembra bastante ao clássico romântico dos anos 1970. Vamos convir que tudo isso é um tremendo exagero.

Na verdade é um bom filme, com roteiro bem redondinho, bom elenco e situações que acabam cativando, principalmente para quem ainda acredita no amor verdadeiro. O enredo começa sem maiores pretensões, um namorico entre dois adolescentes, mas vai crescendo em dramaticidade conforme a estória vai se desenrolando. Quem se destaca mesmo no meio das lágrimas é a gatinha Shailene Woodley, que é bom lembrar, já virou ídolo teen nos Estados Unidos, aparecendo em capas de cadernos, revistas para o público jovem e toda aquela badalação que já estamos acostumados com esse tipo de sucesso juvenil. Ainda é cedo para dizer se a moça vai realmente virar uma grande estrela do cinema, mas o primeiro passo já foi dado. Fora isso é bom ir preparando os lencinhos para se emocionar com tudo o que acontece em cena... Os românticos de plantão agradecem!

A Culpa é das Estrelas (The Fault in Our Stars, Estados Unidos, 2014) Direção: Josh Boone / Roteiro: Scott Neustadter, Michael H. Weber / Elenco: Shailene Woodley, Ansel Elgort, Nat Wolff / Sinopse: O filme mostra o romance de um casal de adolescentes. Eles estão apaixonados, mas precisam correr contra o tempo. Filme vencedor de sete prêmios no Teen Choice Awards, entre eles nas categorias de melhor filme, atriz e ator.

Pablo Aluísio.

Apóstolo

Mais um filme produzido pela Nefflix que deixa a desejar. Em certos momentos me lembrou vagamente de "A Vila" de M. Night Shyamalan, mas sem a mesma originalidade e criatividade. Na verdade é um filme desnecessariamente violento, brutal, que começa como drama religioso e acaba como terror gore, com muito sangue e tripas. Essa mistura de gêneros não me agradou. O roteiro poderia ir por outro lado, discutindo questões mais importantes como o próprio fanatismo religioso e a proliferação de seitas perigosas, mas ao invés disso foi pelo caminho mais fácil, curto e sensacionalista, perdendo pontos no quesito inteligência de argumento. A trama mostra um irmão que vai atrás de sua irmã, raptada por uma seita de fanáticos que vivem numa ilha isolada. Eles pediram resgate pela vida da moça ao seu pai. Ao chegar lá, disfarçado de novo membro da seita, ele percebe que eles veneram uma deusa pagã, que seria responsável pelas colheitas da região. O clima é de tensão, com um líder carismático que se auto intitula apóstolo. Ele dita quem vive e quem morre naquele lugar temerário. Enquanto se faz de bom seguidor, Thomas Richardson (Dan Stevens) tenta encontrar onde estaria sua irmã no meio daquele grupo de fanáticos.

Problemas são muitos nesse filme. O ator Dan Stevens, que interpreta o protagonista, é um deles. Cheio de caretas e expressões de tensão forçadas, ele definitivamente não convence muito. Melhor se sai Michael Sheen como o pastor. Mesmo sem ter bom material em mãos ele consegue trazer interesse em seu personagem, que anda com uma velho pedaço de galho que usa como bengala. De fato é o único grande ator em cena. Porém nada justifica o erro do roteiro em apelar para cenas de pura violência, digna dos filmes da linha "Jogos Mortais". Quando as ideias vão rareando sobram muito sangue jorrando na tela. Como escrevi, algo desnecessário, que só atrapalha o filme em seu resultado final.

Apóstolo (Apostle, Inglaterra, Estados Unidos, 2018) Direção: Gareth Evans / Roteiro: Gareth Evans / Elenco: Dan Stevens, Michael Sheen, Richard Elfyn, Paul Higgins / Sinopse: Thomas Richardson (Dan Stevens) vai atrás de sua irmã, raptada por uma seita de fanáticos religiosos que vivem numa comunidade isolada, de um ilha na costa da Irlanda do Norte. Sua intenção é localizar a irmã, para resgatá-la do meio daqueles loucos. Para isso se faz passar por um bom devoto do culto da deusa pagã cultuada por aquela seita.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Rainha do Deserto

Werner Herzog sempre foi um excelente diretor. Nessa produção porém ele se perdeu um pouco, errando a mão ao retratar a história da diplomata inglesa Gertrude Bell (Kidman). Figura essencial na definição das fronteiras dos países que até hoje conhecemos no Oriente Médio, sua vida daria material para um excelente filme. O problema é que Herzog deixou tudo isso em segundo plano, procurando ao invés disso mostrar aspectos da vida pessoal e emocional de Gertrude. Infeliz em sua vida romântica, ele procura por um recomeço nas areias escaldantes do deserto, mas sempre esbarrando em frustrações e desilusões. O roteiro que poderia tirar muito do contexto político de sua atuação na região, deixa esse lado mais do que interessante para enfocar o lado menos importante dessa personagem da história.

O filme porém não é de todo equivocado. As imagens captadas por Herzog são belíssimas, afinal o Marrocos (onde o filme foi rodado) tem uma conhecida beleza natural, ideal para produções históricas que retratam o mundo árabe. Outra boa desculpa para gostar sem culpas desse filme é a presença de Nicole Kidman. Tal como um vinho de rara safra ela parece melhorar com a passagem do tempo, ficando mais bonita a cada ano que passa. Claro que continua também uma excelente atriz, sempre se esforçando em cada cena, tudo para tornar crível seu sofrimento emocional. Sua atuação compensa até mesmo o fato de  termos que aguentar James Franco e Robert Pattinson, dois canastrões sem salvação! Enfim é isso. Entre pontos positivos e negativos, salvam-se mesmo os olhos de Nicole Kidman naquela paisagem desolada (e igualmente bela) do deserto marroquino.

Rainha do Deserto (Queen of the Desert, Estados Unidos, Marrocos, 2015) Direção: Werner Herzog / Roteiro: Werner Herzog / Elenco: Nicole Kidman, James Franco, Robert Pattinson, Damian Lewis, Mark Lewis Jones, Jenny Agutter / Sinopse: Inglaterra, 1906. A britânica Gertrude Bell (Kidman) decide ir embora para o Oriente Médio para trabalhar na embaixada de seu país naquela região desértica. No outro lado do mundo acaba encontrando o amor, as desiluções e a frustração na vida pessoal, além de uma complicada cena política em sua vida profissional. Filme indicado ao Urso de Ouro no Berlin International Film Festival.

Pablo Aluísio.

Caos

Após uma operação policial mal sucedida em que morre uma refém, o detetive Quentin Conners (Jason Statham) é suspenso da corporação. Seu retorno só acontece quando uma quadrilha domina uma agência bancária no centro de Seattle. Liderados pelo misterioso Lorenz (Wesley Snipes), eles exigem a presença de Conners nas negociações. De volta à ativa as coisas novamente não saem muito bem. Para piorar o veterano policial precisa lidar com seu novo parceiro, Shane Dekker (Ryan Phillippe), um novato recém saído da academia de polícia. Ao seu lado ele tentará colocar o bando de Lorenz atrás das grades. Nada é o que aparenta ser nesse bom filme de ação. Esse é aquele tipo de filme que qualquer comentário fora do lugar estragará as várias surpresas do roteiro. Esse por sua vez é muito bem bolado e mantém o espectador o tempo todo em suspense.

Há dois eventos que definirão toda a estória. A primeira acaba sendo o estopim de tudo o que acontecerá em cena. Conners e seu parceiro acabam cometendo um erro numa ponte durante uma forte chuva. Há uma refém e um criminoso apontando a arma em sua direção. Como sair dessa armadilha? Um dos policiais perde o controle e atira. A refém é morta. Depois o sequestrador também é baleado. Os dois detetives são afastados. Um deles é expulso, mas o personagem de Statham consegue ficar no departamento de polícia, ainda que afastado e suspenso por tempo indeterminado. O segundo evento crucial do filme surge quando um banco é assaltado, todos os criminosos são liderados pelo frio e calculista Lorenz (Snipes). Ele parece conhecer muito bem a forma como Conners (Statham) trabalha e por isso o chama para servir como negociador. Mas afinal o que haveria por trás de todo esse suposto crime? O grande mérito desse roteiro inteligente é a reviravolta que acontece nos 10 minutos finais. Talvez você não pegue todas as pistas que vão sendo deixadas pelo caminho. Melhor assim. Uma das grandes graças de se assistir a filmes como esse é justamente se surpreender com o desenrolar dos fatos. Nesse aspecto o diretor Tony Giglio se saiu excepcionalmente bem. E Jason Statham é aquele tipo de ator que sempre vale a pena conferir seus filmes.

Caos (Chaos, Estados Unidos, Inglaterra, 2005) Estúdio: Sony Pictures / Direção: Tony Giglio / Roteiro: Tony Giglio / Elenco: Jason Statham, Ryan Phillippe, Wesley Snipes, Jessica Steen / Sinopse: Policial veterano com parceiro novato precisa lidar com a inexperiência do jovem policial, ao mesmo tempo em que tanta colocar um perigoso criminoso que está solto atrás das grades.
  
Pablo Aluísio.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Lucy

Lucy (Scarlett Johansson) é uma garota normal que acaba ficando no lugar errado, na hora errada. Enganada pelo namorado, ela vira alvo de um grupo de traficantes coreanos que lhe transformam numa mula para levar uma nova droga em seu corpo até Paris. Ao chegar em seu destino acaba sendo agredida por criminosos o que faz com que a droga acabe vazando para dentro de seu organismo, causando efeitos inesperados em sua vida. A partir desse momento Lucy começa a desenvolver estranhos poderes mentais. O filme parte de uma premissa, uma teoria, que já não encontra mais sustentação no mundo da ciência, a de que todos os seres humanos só usam na verdade apenas 10% de sua capacidade cerebral. Ora, se o fundamento do roteiro é uma bobagem imagine o resto. O roteiro tenta misturar ficção new age com cenas de ação e o resultado não é dos melhores. Na verdade os poderes que a personagem Lucy ganha ao atingir praticamente 100% de sua capacidade mental não são empolgantes ou impressionantes.

O curioso é ver que ao chegar no suposto ápice de sua mente, tudo que Lucy faz é matar seus inimigos, correr na contramão de uma grande cidade com um carro em alta velocidade e se empenhar em uma caçada em busca da droga que lhe traz esses estranhos poderes - trocando em miúdos, com toda a inteligência do mundo, tudo o que ela consegue ser no final das contas é uma viciada criminosa. Que belo sinal de inteligência não é mesmo? Talvez o Besson esteja em alguma egotrip lisérgica para escrever algo assim. Os efeitos digitais são na média do que Hollywood vem produzindo e o roteiro é um amontoado de pseudociência de botequim, inclusive com direito a um final ao estilo "2001" mas obviamente sem um quinto da arte cinematográfica do gênio Kubrick. Em suma, você não precisa do uso de mais de 10% de sua capacidade mental para entender que esse filme é uma grande bobagem pretensiosa e nada mais.

Lucy (França, 2014) Estúdio: Canal+, EuropaCorp / Direção: Luc Besson / Roteiro: Luc Besson / Elenco: Scarlett Johansson, Morgan Freeman, Min-sik Choi / Sinopse: Jovem desenvolve estranhos poderes mentais após sofrer um acidente com drogas. Depois disso ela parte para a vingança contra todos aqueles que a prejudicaram no passado.

Pablo Aluísio. 

Uma História Real

Esse filme tem um lado humano muito bonito. É a história de um senhorzinho de 80 anos que descobre que seu irmão está muito doente. Ele quer visitá-lo, mas há dois problemas. O primeiro é que o irmão mora há 500 Km de sua casa. O segundo é que ele não tem carteira de motorista e nem dinheiro para pagar uma passagem de ônibus. Então diante de todos esses problemas o que ele faz? Sobe em seu cortador de grama e segue viagem pelas estradas do meio oeste dos Estados Unidos. A história real (daí o título do filme) despertou a curiosidade do cineasta David Lynch que resolveu fazer esse filme, assumindo não apenas a direção como também bancando a produção, colocando dinheiro de seu próprio bolso para contar a história.

O filme tem uma linda fotografia e conta com a atuação muito preciosa do ator Richard Farnsworth. Por sua atuação aliás ele foi indicado ao Oscar, fato que me levou a assistir ao filme. Aos 79 anos de idade acabou sendo o ator mais velho a concorrer ao prêmio na época. Muito carismático, acabou falecendo um ano depois, em 2000. Bom, além do enredo inusitado o filme vale também pela sempre caprichada direção de Lynch, um cineasta que sempre procurou fugir dos padrões, do convencional. A história do velhinho atravessando os Estados Unidos encaixava bem nesse tipo de proposta de cinema. Um filme bonito, simpático e belo de se ver. Vale bastante a pena.

Uma História Real (The Straight Story, Estados Unidos, 1999) Direção: David Lynch / Roteiro: John Roach, Mary Sweeney / Elenco: Richard Farnsworth, Sissy Spacek, Jane Galloway Heitz / Sinopse: Filme com roteiro baseado em fatos reais. Aos 80 anos de idade Alvin (Richard Farnsworth) decide subir em seu cortador de grama para ir visitar o irmão doente que mora há mais de 500 km de sua casa. No caminho acaba conhecendo pessoas e cidades que jamais sonhara existir. Filme indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Ator (Richard Farnsworth).

Pablo Aluísio.

domingo, 10 de fevereiro de 2019

A Justiceira

Miss Meadows (Katie Holmes) aparenta ser uma doce e muito delicada professorinha de crianças que nas horas vagas resolve trazer um pouco de ordem e justiça para o seu bairro. Assim, por baixo de sua imagem delicada como um flor, encontra-se uma mulher com mentalidade de menina que não aceita infrações à lei e a ordem por parte de criminosos em geral. Filme estranho com gente esquisita. Katie Holmes dá vida a essa bizarra personagem chamada Miss Meadows. Embora ela seja uma mulher adulta, se veste com roupas de garotinha, fala com voz de criança e tem atitudes de adolescente boba. Ao mesmo tempo é capaz de atos de extrema violência, sacando de sua bolsinha de menina uma arma, passando fogo em meliantes em geral, desde ladrões, passando por pedófilos e assaltantes. Curiosamente não perde sua forma delicada de agir nem nos momentos mais violentos.

A caracterização de Katie Holmes ficou esquisita (o que de certa forma combina com o clima geral da produção). Ela já passou da idade de interpretar um papel assim - seria melhor uma atriz mais jovem - e em certos momentos não consegue passar a ternura necessária para caracterizar adequadamente a personagem Miss Meadows, principalmente nas cenas de dança. Com tachinhas em seus sapatos de boneca, ela sai dançando pelas ruas, lendo poesias pueris ao mesmo tempo em que precisa se defender de predadores sexuais. Se você acha que isso não é estranho o bastante o que podemos dizer de seu namoro com o xerife? A cena de sexo dos dois é uma das coisas mais bizarras que já vi no cinema nos últimos tempos. Embora o enredo se passe no mundo atual ela mais parece ter saído de um filme dos anos 1950, com seu figurino antigo e seu velho carro clássico. Em suma é isso, um filme de complicada definição, adequado apenas a uma específica parcela do público que goste de filmes que fujam completamente do usual, do comum e do ordinário. Um exercício de humor negro com pegada bizonha que fará a cabeça de poucos.

A Justiceira (Miss Meadows, Estados Unidos, 2014) Direção: Karen Leigh Hopkins / Roteiro: Karen Leigh Hopkins / Elenco: Katie Holmes, James Badge Dale, Callan Mulvey / Sinopse: Professora infantil resolve agir como justiceira nas horas vagas, eliminando criminosos e impondo a lei e a ordem com as próprias mãos, usando para isso de todos os métodos mais violentos de que conhece. Filme indicado ao Oldenburg Film Festival na categoria de Melhor Direção.

Pablo Aluísio.