sábado, 4 de agosto de 2018

Creed - Nascido para Lutar

Stallone poderia ter feito mais uma continuação vazia de Rocky, mas preferiu ir por outro caminho. Excelente escolha. Esse "Creed" não apenas foi um sucesso de público e crítica, como também abriu portas para uma outra franquia independente (Creed II já foi inclusive anunciado). Também ganhou pontos por deixar de lado seu ego de estrela de cinema para abrir um espaço para outros roteiristas e para o diretor Ryan Coogler dirigir um excelente drama esportivo, onde a ação também não é deixada de lado. Assim Sylvester Stallone acabou sendo indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro por sua atuação! Quem imaginaria que nessa altura de sua vida ele iria ainda conseguir algo assim? Foi certamente algo excepcional.

De fato Stallone apenas serve como um coadjuvante de luxo dentro do enredo. O seu tão querido Rocky Balboa está curtindo seus anos de aposentadoria - vivendo uma existência modesta. E de repente bate à sua porta o jovem Adonis Johnson (Michael B. Jordan). Ele é filho do campeão Apollo Creed e quer ser também um campeão do boxe. Em sua forma de ver as coisas ninguém poderia lhe treinar melhor do que o próprio Rocky Balboa! E assim o filme se desenvolve. Há um pequeno problema de ritmo em sua estrutura e o roteiro não deixa de explorar certos clichês desse tipo de filme, porém é também inegável que o filme conseguiu chamar atenção por seus próprios méritos. Talvez Michael B. Jordan não seja um ator tão carismático para segurar um filme desse porte. Nesse aspecto ele acabou sendo salvo pelo próprio Stallone que sempre teve um carisma absurdo, ainda mais quando volta a interpretar o bom e velho Rocky Balboa.

Creed - Nascido para Lutar (Creed, Estados Unidos, 2015) Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) / Direção: Ryan Coogler / Roteiro: Ryan Coogler, Aaron Covington / Elenco: Michael B. Jordan, Sylvester Stallone, Tessa Thompson / Sinopse: Jovem lutador procura campeão de boxe do passado para que esse o treine. O choque de gerações logo se torna bem evidente entre ambos. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Ator Coadjuvante (Sylvester Stallone). Vencedor do Globo de Ouro na mesma categoria.

Pablo Aluísio.

Histórias Cruzadas

Filme muito bom que é baseado em uma história real. Antes de ir para o cinema deu origem a um best-seller nos Estados Unidos. A história se passa nos anos 1960. Uma jovem recém formada decide escrever um livro contando o cotidiano das empregadas domésticas negras do sul. Como se sabe os estados sulistas dos Estados Unidos sempre foram associados a uma sociedade extremamente racista. Basta lembrar da guerra civil para entender bem isso. Assim Skeeter (Emma Stone) começa a acompanhar as experiências de vida da empregada doméstica Aibileen (Viola Davis). É justamente nas pequenas coisas diárias que ela espera encontrar a verdadeira face daquela sociedade.

E o que ela encontra? O racismo mais disfarçado, um misto de preconceito racial com preconceito social. Relegadas a baixos salários e longas jornadas de trabalho, as empregadas domésticas negras eram mesmo consideradas seres humanos de segunda categoria. O filme porém procura não criar um estilo de panfleto social, indo mais nas sutilezas, sem exagerar na dose. Em termos de elenco, onde predominam elas, as mulheres, temos excelentes atuações. Passando pela jovem e bem intencionada personagem interpretada por Emma Stone e passando pela integridade moral e experiência de vida da Aibileen de Viola Davis. Um filme muito bom mesmo, com excelente reconstituição de época, tudo valorizado pelo roteiro socialmente consciente. Uma boa oportunidade para os americanos se olharem no espelho.

Histórias Cruzadas (The Help, EUA, 2011) Direção: Tate Taylor / Roteiro: Tate Taylor, baseado na obra de Kathryn Stockett / Elenco: Emma Stone, Viola Davis, Octavia Spencer, Bryce Dallas Howard, Mike Vogel, Allison Janney / Sinopse: Durante a década de 60 a jovem Skeeter (Emma Stone), uma recém formada que tem planos de ser tornar escritora, decide escrever um livro retratando o cotidiano das empregadas domésticas negras do sul dos EUA. Em busca de material para seu texto ela consegue o apoio de Aibileen (Viola Davis), governanta de um amigo. Através dela Skeeter começa a ouvir também outras empregadas domésticas de sua cidade, dando forma ao seu livro que acabaria revelando um lado nada lisonjeiro das relações patroas e empregadas no sul racista americano

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Sibéria

Não acredito que os fãs de Keanu Reeves vão gostar muito desse filme. Todo rodado na Rússia, ele se propõe a ser ao mesmo tempo um filme de ação e romance e no final das contas falhas nas duas opções. Reeves interpreta um negociante americano que vai até a Rússia para comprar e revender raros diamantes azuis. O valor, claro, é exorbitante. Seus clientes são mafiosos, sujeitos violentos e que não aceitam falhas nesse tipo de negócio. Só que o fornecedor dele já foi pego vendendo diamantes falsos e pior do que isso, já se queimou com a máfia russa. O roteiro tem buracos. O espectador nunca fica sabendo, por exemplo, se o protagonista é apenas um vendedor de diamantes raros ou se tem alguma ligação a mais com o mundo do crime. Nada fica muito claro. Não procure também por muita ação nesse filme. Só há mesmo uma cena (a final) onde tiros são trocados numa floresta remota da Sibéria. Fora isso só há ameaças e situações de tensão ao longo de todo o filme. Nada parecido com John Wick. Quem gosta de ver Reeves em cenas mais movimentadas vai se decepcionar.

E então vem o lado romântico do filme. Enquanto está esperando por seu fornecedor, Reeves se envolve com uma russa interpretada pela atriz romena Ana Ularu. Ele a conhece casualmente em um bar onde ela trabalha. Depois do flerte vão para a cama, o que rende algumas cenas mais picantes ao filme (também não vá esperar muito nesse quesito). Esse romance entre o americano e a russa me pareceu bem morno. Apesar da pegação na hora do sexo, o Reeves não parece muito empolgado com sua nova namorada. Na maioria das vezes surge frio e distante. Para piorar a situação ela tem um pretendente na vila onde mora, um sujeito que vive bêbado (o que convenhamos é um estereótipo barato do roteiro em cima dos homens russos). Também tem alguns irmãos rudes e toscos que por diversão caçam ursos nas redondezas (outro estereótipo bobo do roteiro). No final fica aquela sensação de que o filme vai avançando sem ritmo, sem pegada, lento demais... tudo culminando numa cena que vai deixar as fãs do Keanu Reeves ainda mais irritadas.

Sibéria (Siberia, Estados Unidos, 2018) Direção: Matthew Ross / Roteiro: Scott B. Smith, Stephen Hamel / Elenco: Keanu Reeves, Ana Ularu, Boris Gulyarin, Ashley St. George / Sinopse: Lucas Hill (Keanu Reeves) é um americano que chega na Rússia para negociar raros diamantes azuis com a máfia, só que ao chegar em solo russo descobre que seu fornecedor está desaparecido, provavelmente morto, por ter vendido pedras falsas a criminosos de São Petersburgo.

Pablo Aluísio.

Regresso do Mal

Um filme de terror com Nicolas Cage? Sim, isso mesmo! O filme foi lançado no feriado de Halloween nos Estados Unidos e até que não foi tão mal como se esperava. O bom e velho Cage faz um pai feliz que decide levar o filho, um garotinho, para passear no meio de uma festa pelas ruas de Nova Iorque. Quando se distancia para comprar um sorvete para o filho acaba o perdendo de vista. Desesperado, faz de tudo para encontrá-lo, mas seus esforços são em vão. O roteiro então dá um pulo de um ano. O menino continua desaparecido. Pistas levam Cage a descobrir que seu sumiço pode ter sido causado pelos adoradores de uma antiga seita ocultista obscura.

Em vários flashbacks o roteiro então vai explorando o passado, mostrando inclusive o que aconteceu ainda nos tempos da colonização, onde uma lenda amaldiçoada começou a imperar entre os moradores. O título original desse filme (que significa "Pague ao Fantasma") tem muito a ver com o próprio enredo. Entre boas sequências de suspense e terror o que acaba se sobressaindo mesmo é o argumento do roteiro, que procura manter a atenção do espectador. O filme só se perde mesmo quando vai chegando ao final. O personagem de Cage atravessa o mundo espiritual em uma cena que não diz a que veio, que não ajuda em nada ao filme como um todo. No geral não é uma perda de tempo pois o filme ainda tem seus momentos, porém ficou muito longe do que poderia ser.

Regresso do Mal (Pay the Ghost, EUA, 2015) Direção: Uli Edel / Roteiro: Dan Kay, baseado na novela de Tim Lebbon / Elenco: Nicolas Cage, Sarah Wayne Callies, Veronica Ferres / Sinopse: Professor se desespera ao perder seu filho no meio de uma grande festa de Halloween. Após meses de busca intensa ele começa a seguir pistas que podem levar a uma ligação entre antigas crenças celtas e o paradeiro de centenas de crianças desaparecidas. Teria algo a ver com um evento trágico que aconteceu em Nova Iorque durante o século XVII, em pleno período da colonização da cidade?

Pablo Aluísio. 

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Deadpool

Esse é o primeiro filme do herói (herói?!) Marvel Deadpool. Recentemente vi o segundo e pude perceber que os produtores apenas apostaram no que já havia dado certo por aqui. Nada de muito novo. Pois bem, o diferencial desse personagem mascarado em relação aos demais é que ele mais parece uma metralhadora de gracinhas (ou bobagens) do que um herói de quadrinhos para a criançada admirar e comprar bonequinhos. Por falar nas revistas em quadrinhos, os entendidos afirmam que seus gibis são bem ruins, mas seus filmes, pelo menos até agora, se salvam da mesmice. O engraçado é que lendo a sinopse até parece um personagem mais tradicional, uma espécie de sub-Wolverine, mas não se trata mesmo disso, é algo bem diferente.

O enredo traz o veterano das forças especiais Wade Wilson (Ryan Reynolds). Ele está com uma doença terminal e por desespero de causa topa entrar em um experimento, um tratamento inovador e também perigoso. O resultado é que ele sobrevive e mais... surge com poderes especiais que jamais sonhara antes. O plot é legalzinho, não há como negar, mas também não foge muito do lugar comum entre origens de personagens da editora Marvel. Por fim a maior das ironias.  Ryan Reynolds fracassou com Lanterna Verde, mas acabou dando certo como Deadpool. E olha que nos quadrinhos o Lanterna da DC é muito mais popular do que o falastrão Deadpool da Marvel Comics... Vai entender...

Deadpool (Estados Unidos, Canadá, 2016) Estúdio: 20th Century Fox / Direção: Tim Miller / Roteiro: Tim Miller, Rhett Reese, Paul Wernick / Elenco: Ryan Reynolds, Morena Baccarin, T.J. Miller / Sinopse: Um membro das forças especiais passa por um tratamento novo que acaba salvando sua vida de um fim certo por causa de um câncer agressivo. Ao mesmo tempo o torna praticamente indestrutível, impossível de se matar.

Pablo Aluísio.

Baile Perfumado

Título no Brasil: Baile Perfumado
Título Original: Baile Perfumado
Ano de Produção: 1997
País: Brasil
Estúdio: Imovision
Direção: Paulo Caldas, Lírio Ferreira
Roteiro: Paulo Caldas, Lírio Ferreira
Elenco: Duda Mamberti, Luiz Carlos Vasconcelos, Aramis Trindade, Joffre Soares, Cláudio Mamberti, Germano Haiut

Sinopse:
Em 1937 o libanês Benjamin Abrahão (Duda Mamberti) resolve apostar numa empreitada perigosa. Ele decide ir para a caatinga em busca de Lampião e seu bando de cangaceiros no nordeste brasileiro. Sua intenção é filmar o famoso bandoleiro para exibir em cinemas pelo país afora. Inicialmente relutante, o Capitão Virgulino então finalmente decide ceder, "atuando" assim no filme de Benjamin.

Comentários:
Bom momento do cinema brasileiro que conta uma das histórias mais improváveis do nordeste, quando um estrangeiro conseguiu romper as linhas de defesa de Lampião para fazer as únicas imagens do grupo de cangaceiros em um filme. Aliás o filme em si é um exercício de metalinguagem cinematográfica das mais interessantes, isso porque o filme de Benjamin Abrahão acabou dando origem a justamente esse "Baile Perfumado". Obviamente a câmera que usou na época era bem primitiva, sem som, nem nada de muito sofisticado em termos tecnológicos, porém as imagens captadas do bando de Lampião foi certamente um dos registros históricos mais importantes da cultura do povo nordestino. A tradição ligando o cangaço com o cinema brasileiro vem de muito tempo, poderia dizer até mesmo que essa seria a mitologia brasileira equivalente ao velho oeste dos Estados Unidos. Se o Brasil tivesse uma indústria de cinema mais regular e desenvolvida certamente muitos filmes teriam sido produzidos sobre o cangaço. De qualquer maneira esse "Baile Perfumado" é seguramente um tiro certeiro nesse estilo de produção..Roteiro bem elaborado, boa produção e um enredo que é à prova de falhas. Se ainda não viu não deixe de conferir.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Bom Comportamento

Até que achei bom esse novo filme estrelado pelo ator Robert Pattinson. Ele deixou a imagem de vampiro ídolo dos adolescentes para interpretar um ladrão de bancos, um sujeito até bem desprezível que usa seu irmão deficiente mental nos crimes. Depois de mais um assalto as coisas acabam saindo muito mal. O ladrão de Pattinson consegue fugir da polícia, mas seu irmão acaba literalmente atravessando uma porta de vidro da agência bancária. Depois disso fim de papo. Ferido, com o rosto cheio de cortes profundos, acaba sendo preso pelos tiras. Sendo uma pessoa deficiente, com problemas até mesmo de comunicação com os outros, acaba sendo espancado brutalmente na prisão. Aí vem aquela coisa, levado ao hospital, acaba sendo alvo dos planos do irmão criminoso que quer tirar ele de lá, só que mais uma vez acontece tudo errado, desastre completo.

O filme pode ser considerado um thriller criminal. Todos os principais personagens são seres trágicos, sem esperança nenhuma. Também são desprovidos de valores morais. Bandidos de corpo e alma. Para salvar o irmão da cadeia Pattinson vai atrás de uma antiga namorada, uma mulher também com problemas mentais que mora com a mãe em um apartamento bem pequeno. Pior do que isso, pede que ela use os cartões de crédito de sua sofrida mãe para pagar a fiança. Um absurdo completo. No meio do caminho ainda há espaço para o sequestro de uma pessoa errada e a disfarçada invasão da casa de um velha senhora negra e sua neta. O inferno na Terra. Bom filme enfim, bem visceral e à sua maneira, cruel.

Bom Comportamento (Good Time, Estados Unidos, 2017) Direção: Benny Safdie, Josh Safdie / Roteiro: Ronald Bronstein, Josh Safdie / Elenco: Robert Pattinson, Benny Safdie, Jennifer Jason Leigh / Sinopse: Dois irmãos, um deles com retardo mental, assaltam um banco. O crime porém não dá muito certo. A polícia é chamada e um deles acaba encurralado. Preso, é espancado na prisão por um grupo de prisioneiros negros. Depois disso é levado a um hospital, onde o seu irmão vai tentar resgatá-lo de qualquer maneira.

Pablo Aluísio.

Animais Noturnos

Esse filme no fundo tem algo que vai fazer todo e qualquer espectador se identificar. Sua mensagem subliminar é sobre as escolhas erradas que fazemos ao longo da vida; Arrependimentos? Sim, embora ninguém goste realmente de admitir que se arrependeu de algo feito no passado. A protagonista é Susan Morrow (Amy Adams). Uma mulher que começa a perceber que sua vida pessoal e profissional não vai bem. O marido é um sujeito cada vez mais distante e a galeria de arte onde ela trabalha vai de mal a pior a cada dia. Para enrolar ainda mais sua situação o ex-marido Edward Sheffield (Jake Gyllenhaal) surge com um novo livro que ele pretende publicar. Ela gostava dele, mas por pressão familiar o deixou. É a velha faceta do preconceito social. Como ele era pobre e sem dinheiro, a mãe dela tratou de colocar um fim no romance.

Outro ponto forte desse filme é o seu roteiro que se desdobra em duas linhas narrativas distintas que vão seguindo durante o filme. Na primeira acompanhamos a vida de Susan e no segundo mergulhamos na trama do livro que ela lê, justamente "Animais Noturnos" escrito por seu ex-marido. Tudo muito bem realizado e de bom gosto. Vale ressaltar também que essa dupla de atores centrais - Amy Adams e Jake Gyllenhaal - fazem toda a diferença. Eles estão ótimos, excepcionais em seus papéis. Diria até que Amy merecia ter sido indicada ao Oscar por esse trabalho, opinião compartilhada por muitos críticos de cinema quando esse filme foi lançado. Então é isso. Fica a recomendação desse drama muito bem escrito e atuado. Algo cada vez mais raro nos dias de hoje.

Animais Noturnos (Nocturnal Animals, Estados Unidos,  2016) Estúdio: Focus Features / Direção: Tom Ford / Roteiro: Tom Ford / Elenco: Amy Adams, Jake Gyllenhaal, Michael Shannon, Aaron Taylor-Johnson, Laura Linney, Michael Sheen / Sinopse: O filme conta a história de Susan Morrow (Amy Adams). O casamento dela vai mal e a galeria de arte que administra está em um péssimo momento. Ela olha para o passado e se arrepende de várias coisas, entre elas a de não ter seguido em frente com seu relacionamento com Edward Sheffield (Jake Gyllenhaal). E para sua surpresa ele ressurge com um livro dedicado justamente a ela!

Pablo Aluísio.  

quinta-feira, 26 de julho de 2018

O Doce Pássaro da Juventude

Título no Brasil: O Doce Pássaro da Juventude
Título Original: Sweet Bird of Youth
Ano de Produção: 1962
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: Richard Brooks
Roteiro: Richard Brooks
Elenco: Paul Newman, Geraldine Page, Shirley Knight, Ed Begley, Madeleine Sherwood, Rip Torn
  
Sinopse:
Com roteiro baseado na obra de Tennessee Williams, o filme "O Doce Pássaro da Juventude" conta a estória de Chance Wayne (Paul Newman). Após muitos anos ele está de volta para sua cidade natal e não está sozinho. Ao seu lado viaja também a decadente estrela de cinema Alexandra Del Lago (Geraldine Page). De volta ao seu antigo lar Chance reencontra pessoas de seu passado e tenta superar os traumas de sua juventude. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Ator Coadjuvante (Ed Begley). Também vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz - Drama (Geraldine Page).

Comentários:
Mais uma brilhante adaptação de um texto de Tennessee Williams. O roteiro é baseado em sua peça de teatro que causou grande repercussão de crítica e público desde que foi encenada pela primeira vez em Nova Iorque. Aqui somos apresentados ao casal formado por Chance Wayne (Paul Newman) e Alexandra Del Lago (Geraldine Page). Eles chegam numa pequena cidade chamada St Cloud e se hospedam num hotel barato. Ela está totalmente embriagada e ele a trata publicamente como uma princesa estrangeira. No decorrer do filme vamos entendendo aos poucos quem realmente são e a razão de estarem ali. A trama é tecida gradativamente, em camadas, com uso extremamente inteligente de flashbacks contando todo o passado dos personagens. É um ótimo instrumento narrativo para situar o espectador dentro do enredo. Nem é preciso dizer que o roteiro tem excelentes diálogos e é excepcionalmente bem interpretado por Paul Newman (em grande forma) e Geraldine Page (maravilhosa em cena, conseguindo imprimir em sua personagem doses exatas de sensibilidade, humanidade e crueldade psicológica).

Na realidade o texto tem um tema central: A extrema dificuldade que certas pessoas possuem em lidar com o fim da juventude e de encarar os fracassos pessoais de uma velhice em depressão. Alexandra Del Lago (Page) retrata muito bem isso. Uma antiga diva do cinema que vê seu mundo desmoronar após perder o encanto e a jovialidade. Seus filmes fazem parte do passado, praticamente ninguém a conhece mais. A fama que um dia a glorificou está definitivamente em um passado distante. Já Chance (Newman) é muito mais interessante. Correndo atrás de um sonho que jamais se realizará, ele vê seus anos (e sua juventude) passarem em branco, sem conseguir tornar realidade os objetivos que ele próprio determinou a si mesmo. Em certo aspecto é também um derrotado em sua vida profissional e pessoal. O texto é um dos melhores de Williams, embora não seja tão pesado como o que vimos em outras obras dele como "Gata em Teto de Zinco Quente". Além disso "O Doce Pássaro da Juventude" tem mais clima de cinema, deixando o aspecto teatral da obra original em segundo plano. Enfim, gostei muito e recomendo bastante. É uma verdadeira obra prima do cinema americano clássico.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Quo Vadis

Título no Brasil: Quo Vadis
Título Original: Quo Vadis
Ano de Produção: 1951
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: Mervyn LeRoy
Roteiro: John Lee Mahin, S.N. Behrman
Elenco: Robert Taylor, Deborah Kerr, Peter Ustinov, Leo Genn
  
Sinopse:
Durante o governo do sanguinário e louco imperador romano Nero uma nova doutrina religiosa chamada Cristianismo avança entre a sociedade de Roma. Pregada por pessoas como o apóstolo Pedro e seus seguidores, a nova religião trazia uma mensagem de esperança, fé e amor ao próximo. Logo a nova crença em um Messias da Judeia chamado Jesus se torna um problema para o império e seus deuses pagãos, dando origem a uma série de perseguições violentas. Épico histórico baseado em fatos reais ocorridos nos primeiros anos do cristianismo em Roma.

Comentários:
Filme indicado a oito prêmios Oscar, incluindo melhor filme, ator (Peter Ustinov), fotografia, edição e música (a cargo do grande compositor Miklós Rózsa). Não restam dúvidas que é uma obra prima de Hollywood. Fazia bastante tempo que havia assistido "Quo Vadis" pela última vez, por isso resolvi rever essa grande produção épica dos estúdios Metro. Realmente o filme continua muito bom. Ele é um precursor dos vários filmes que seriam produzidos sobre a Roma imperial nos anos seguintes. Tem uma produção muito bonita e rica. Naquela época não havia como fazer nada por computador, então nas grandes cenas se utilizavam realmente de centenas de milhares de figurantes, dando um tom de grandiosidade a tudo que se via na tela. De fato tudo é impressionante, inclusive sua duração: mais de duas horas e quarenta minutos de metragem! É um épico típico de Hollywood naquela época. Tudo soa superlativo, inclusive a trilha sonora que é completamente suntuosa. Os personagens desfilam em cena com toda a pompa e a circunstância devidas.

Muito do que se vê na tela é pura ficção, embora haja também grandes trechos adaptados do novo testamento em sua parte chamada "Atos dos Apóstolos", ou seja, o filme se passa nos anos imediatamente posteriores à morte de Jesus Cristo, justamente quando seus seguidores se espalharam pelo mundo afora divulgando a boa nova (o Evangelho). Em termos gerais um dos grande atrativos em "Quo Vadis" vem da presença de um elenco muito bom, acima da média. Robert Taylor e Deborah Kerr estão bem, embora seus personagens não fujam muito do lugar comum. Quem brilha realmente é Peter Ustinov como Nero. Fazendo um imperador mimado, abobalhado, tirano, sanguinário e com ares de grandeza artística, Ustinov marcou para sempre o personagem, tanto que todos os atores que depois interpretaram o imperador louco de Roma foram pelo mesmo caminho desenvolvido por ele. Outro destaque vem da inspirada atuação do ator Finlay Currie como Pedro, o apóstolo pescador, dando toda a dignidade que o papel merece. Em conclusão é um grande épico da história do cinema americano, sempre lembrado, o que é justo haja visto sua excelente qualidade. "Quo Vadis" realmente merece ser descoberto (e redescoberto) sempre que possível, principalmente para quem gosta de épicos clássicos. Imperdível.

Pablo Aluísio.