terça-feira, 31 de maio de 2016

Mar de Fogo

Para se fazer um grande épico é necessário mais do que uma bela fotografia e cenas de impacto passadas em lugares exóticos e distantes. É justamente isso que prova "Mar de Fogo", produção de 2004. A história é baseada em fatos reais. Em 1890 um rico e poderoso líder árabe ofereceu um grande prêmio ao vencedor de uma corrida de cavalos de três mil milhas pelas regiões mais hostis do deserto da Arábia Saudita. Entre os concorrentes um cowboy americano, Frank T. Hopkins (Viggo Mortensen), se destacou por sua audácia, coragem e fibra de campeão. Cavalgando um animal da raça Mustang chamado Hidalgo ele entrou para a história por participar dessa competição. Sua proeza ficou tão conhecida dentro dos Estados Unidos que ele e seu cavalo viraram atração fixa no famoso show de Buffalo Bill no Oeste Selvagem.

"Mar de Fogo" foi dirigido pelo jovem cineasta texano Joe Johnston de "Jurassic Park III" e "Jumanji". Considerado um protegido de Steven Spielberg sua intenção se mostra bem nítida desde o começo do filme. Seu objetivo é alcançar a mesma classe e opulência do grande clássico "Lawrence da Arábia", algo pra lá de pretensioso. O problema é que tudo ficou apenas na intenção. Nem a presença do grande Omar Sharif (um dos atores preferidos do genial David Lean) melhora esse aspecto. Apesar da excelente produção, da bonita fotografia (temos que admitir) o filme não consegue convencer ou agradar. Muitas vezes na ânsia de realizar grandes tomadas abertas no deserto tudo o que o diretor consegue no final das contas é passar tédio para a película. Esse aliás é um dos grandes problemas de "Hidalgo" pois seu ritmo se torna irregular, ora acelerado demais, ora completamente parado, ficando por isso muitas vezes chato. Não foi um filme que me agradou, apesar das expectativas e boas intenções que rondaram sua chegada aos cinemas. Pode ser dispensado sem maiores problemas.
 
Mar de Fogo (Hidalgo, EUA, 2004) Direção: Joe Johnston / Roteiro: John Fusco / Elenco: Viggo Mortensen, Omar Sharif, Zuleikha Robinson / Sinopse: Cowboy americano (Mortensen) participa de uma corrida de cavalos no meio do deserto da Arábia Saudita. Filme vencedor do Western Writers of America na categoria de Melhor Roteiro.

Pablo Aluísio.

Prince (1958 - 2016)

Eu certamente não sou a pessoa mais indicada para escrever sobre Prince. Eu nunca fui de acompanhar sua carreira e nem de comprar seus discos. Claro que como um jovem que viveu parte de sua adolescência na década de 80 eu sabia muito bem quem foi o Prince, seus sucessos mais óbvios e sua postura nos palcos. Por isso esse singelo texto vai ser mais sobre minhas impressões superficiais sobre esse artista do que uma análise mais cuidadosa de sua importância musical.

Como se sabe ele faleceu ontem, ainda relativamente jovem, de causas não devidamente  esclarecidas. De uma maneira em geral eu sempre associei o Prince a outro astro da mesma época em que ele viveu seu auge: Michael Jackson. Penso que não sou o único a fazer essa associação. Os caminhos deles cruzaram muitas vezes ao longo de suas carreiras. Ainda que fosse um grande e talentoso instrumentista, Prince entendeu que a performance de palco era algo essencial para fazer sucesso. Por isso criou sua própria mise-en-scène em seus concertos. Embora negasse isso o fato é que seu estilo de ser e interpretar se baseava bastante no que Jackson fazia, afinal ele não era apenas o Rei do Pop, mas também dos clips e do visual. Nos anos 80 a imagem era tudo! Assim Prince adotou figurinos vitorianos, bem kitsch, que se tornaram sua marca registrada. Outra coisa que me chamava a atenção eram suas guitarras. Todas com formatos bem diferenciados. Causava um grande impacto para quem o via se apresentando ao vivo. Eram instrumentos diferentes e bem bonitos.

Depois que Prince estourou também no Brasil com o grande sucesso de Purple Rain, todos pensavam que ele iria entrar numa disputa música a música nas paradas de sucesso com Michael Jackson. E de fato Prince conseguiu excelentes números comerciais em termos de vendas de discos. Porém ao contrário de Jackson ele teve uma espécie de surto em determinado momento de sua trajetória. Brigou com a gravadora, virou um recluso e resolveu que iria abolir seu próprio nome Prince. Ao invés disso adotou um símbolo para lhe identificar. Começou a gravar discos bem estranhos, com material que não mais fazia sucesso e assim foi desaparecendo da grande mídia. Para quem prestava pouca atenção nele a coisa só piorou. Ele desapareceu do radar. Nos anos seguintes ouvi falar muito pouco dele. Geralmente quando ouvia seu nome ele vinha acompanhando da pergunta: "Por onde anda o Prince?" A impressão é que havia caído em um ostracismo enorme. Ele não emplacava mais sucessos, sumiu das rádios e dos programas de TV o que me fez pensar seriamente que ele tinha se aposentado da música.

Parecia que iria se tornar uma daquelas estrelas típicas dos anos 80 que surgiam, faziam algum sucesso e depois sumiam para sempre. E de fato passei muitos anos sem ouvir falar nele. Só de vez em quando via alguma reportagem sobre Prince em revistas, pena que não eram revistas de música, mas de fofocas. Ele geralmente surgia namorando alguma sub celebridade (como Carmem Electra), ou então tendo um namorico com uma adolescente brasileira (quando esteve aqui na década de 90). Fora isso, nada. Só há algumas semanas o Prince pareceu voltar à mídia ao passar mal durante um de seus últimos shows. Seu avião inclusive teve que retornar porque ele estava em péssimo estado. É isso. Infelizmente Prince para mim foi apenas um cantor de sucesso dos anos 80 que depois desapareceu por um longo período. Dizem que nesse hiato gravou grandes discos experimentais. Infelizmente não os ouvi. Para mim ele sempre será o performático com guitarra vitoriana tocando "Purple Rain" e nada muito além disso. Pensando bem até que está de bom tamanho.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Natal Sangrento

Título no Brasil: Natal Sangrento
Título Original: Silent Night, Deadly Night
Ano de Produção: 1984
País: Estados Unidos
Estúdio: TriStar Pictures
Direção: Charles E. Sellier Jr.
Roteiro: Paul Caimi, Michael Hickey
Elenco: Lilyan Chauvin, Gilmer McCormick, Toni Nero

Sinopse:
Depois que seus pais são assassinados, uma jovem adolescente atormentado sai em uma fúria assassina vestido como o próprio Papai Noel, aterrorizando as famílias na noite de Natal. A mente perturbada do assassino procura por vingança contra os abusos que sofreu após ser enviado para um sinistro orfanato. Roteiro parcialmente baseado numa história real envolvendo um dos mais infames serial killers (assassinos em série) dos Estados Unidos.

Comentários:
"Tente sobreviver ao Natal" - essa era a frase que acompanhava a publicidade desse "Natal Sangrento", filme de terror que invadiu os cinemas americanos na véspera de natal de 1984. Naquela década o cinema americano vivia uma febre de filmes de horror que disputavam o título de mais sangrento da temporada. Quanto mais sangue e tripas expostas melhor. Esse aqui foi lançado no mesmo final de semana de "A Hora do Pesadelo", sendo que ambos disputaram a preferência dos fãs de filmes de terror nas bilheterias naquela ocasião. O uso da mitologia de natal em um filme desse tipo causou uma certa indignação e revolta em determinados setores da sociedade americana. O filme foi acusado de ser de extremo mau gosto ao usar a figura de Papai Noel entrando pela chaminé de uma casa com um machado em seu poster original! Afinal estavam destruindo a figura do bom velhinho, o transformando em um psicopata cruel e assassino. Bobagem, o filme é um produto pop que jamais deve ser levado muito à sério. Causa espanto que críticos tão conceituados como Roger Ebert tenham escrito que a produção era uma "vergonha" por misturar os elementos natalinos em um filme Slasher de muita violência. O curioso é que o resultado foi bem mais violento do que queria seu diretor Charles E. Sellier Jr, a tal ponto que ele largou a produção pouco antes do fim das filmagens. Houve um atrito entre sua visão (mais centrada para o suspense) e os produtores, que queriam mais sangue derramando na tela. Assim o estúdio acabou escalando o editor Michael Spence para dirigir algumas cenas extras de matança, o que deixou tudo ainda mais cru e sádico. Estavam certos pois o filme acabou fazendo sucesso, dando origem dois anos depois a uma continuação que também foi bem sucedida do ponto de vista puramente comercial.

Pablo Aluísio.

Dupla em Fúria

Título no Brasil: Dupla em Fúria
Título Original: Bu er shen tan
Ano de Produção: 2013
País: China
Estúdio: Hong Kong Pictures International
Direção: Tsz Ming Wong
Roteiro: Tan Cheung
Elenco: Jet Li, Zhang Wen, Shishi Liu

Sinopse:
Dois tiras, Huang Feihong (Jet Li) e Wang Bu'er (Zhang Wen) são designados para desvendar uma série de assassinatos em Hong Kong. As investigações levam os policiais para um jogo mortal, onde criminosos bem armados e organizados em extensas quadrilhas não estarão dispostos à se renderem perante a lei.

Comentários:
Muita gente ficou (com razão) decepcionado com a participação de Jet Li em "Os Mercenários 3", já que ele surge rapidamente em cena, atirando do alto de um helicóptero e nada mais. Para esses eu recomendo essa produção recente realizada na China onde Jet Li tem novamente possibilidade de mostrar toda sua perícia em artes marciais. O roteiro é, como manda a tradição oriental, bem simples e direto, apenas o suficiente para criar um background para as cenas de luta e ação. Jet Li está completamente à vontade para demonstrar toda a sua técnica, em excelentes lutas coreografadas (ninguém, mas absolutamente ninguém, no meio cinematográfico tem mais criatividade do que os próprios orientais em organizarem lutas extremamente complexas do ponto de vista técnico). Para não ficar muito pesado o roteiro também investe em generosas pinceladas de bom humor durante todo o desenvolvimento da trama. O filme foi rodado diretamente na língua local mas depois dublado em inglês para ser lançado no mercado americano e europeu. Uma boa pedida para os fãs de filmes de artes marciais em geral.

Pablo Aluísio.

Até o Fim

Título no Brasil: Até o Fim
Título Original: All Is Lost
Ano de Produção: 2013
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: J.C. Chandor
Roteiro: J.C. Chandor
Elenco: Robert Redford

Sinopse:
Homem velejando em seu barco enfrenta inúmeras dificuldades quando sua embarcação apresenta vários problemas técnicos de complicada solução. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Edição de Som. Vencedor do Globo de Ouro na categoria Melhor Trilha Sonora Original. Indicado na categoria Melhor Ator - Drama (Robert Redford).

Comentários:
Imagine um filme onde só existe um ator, vivendo um personagem que ninguém sabe o nome e utilizando apenas um barco como cenário. E pior: Este personagem não fala - a não ser duas palavras durante todo o filme: God e fuck. Pois é, este filme se chama: "Até o Fim" (All is Lost) 2013. O personagem é ninguém menos que um dos maiores astros do cinema do século 20: Robert Redford. O longa - dirigido por J.C. Chandor e gerado no ventre da produtora independente, Sundance que tem o próprio R.R como proprietário, mostra o ator solitário a bordo de seu veleiro na imensidão do oceano Índico, quando de repente ele é acordado com o choque do seu pequeno barco contra um contêiner que boiava à deriva, e que provavelmente tinha caído de algum cargueiro. Com o choque, o casco é rasgado e a água começa a inundar o interior do barco. Do alto de seus 78 anos, um carismático e ainda excelente Robert Redford age rápido e mostra agilidade e força para consertar o rombo no casco do veleiro. Utilizando um grande pedaço de plástico e uma cola especial o mítico ator consegue consertar o rombo, mas o pior já havia acontecido e não tinha conserto: Seu rádio comunicador havia sido danificado, e, partir daquele momento, o nosso eterno Sundance Kid - longe do frescor de sua juventude luminosa do famoso pistoleiro - encontra-se perdido e desconectado do mundo, passando a lutar só e desesperadamente pela sua própria sobrevivência, em meio à imensas tempestades, tubarões e dias impiedosos de sol e calor escaldantes. 

Telmo Vilela Jr.

domingo, 29 de maio de 2016

Coração Satânico

Um dos melhores filmes de terror e suspense que já assisti em minha vida também foi um dos mais subestimados. Estou me referindo a "Angel Heart" que no Brasil recebeu o título de "Coração Satânico". Lançado em 1987, com direção do talentoso Alan Parker, o filme tinha um roteiro maravilhoso escrito baseado a partir do ótimo romance gótico de William Hjortsberg. A velha batalha entre o bem e o mal, entre Deus e Satã, ganhava ares mais mundanos, mais próximos de cada um. No enredo um detetive particular chamado Harry Angel (interpretado por Mickey Rourke no auge de sua carreira) era contratado pelo misterioso Louis Cyphre (Robert De Niro) para encontrar um antigo cantor de jazz conhecido como Johnny Favorite. No passado esse tal de Favorite teria ficado em dívida com o senhor Louis, que agora surgia para cobrar sua parte no trato. Angel sai em busca do sujeito, passando pelos lugares mais sórdidos e obscuros de uma New Orleans cheia de magia negra, feitiços e vodu. O sangue vermelho parece lhe acompanhar em toda parte e curiosamente o mal parece estar sempre presente em seu caminho de investigação.

Na época de lançamento do filme o ator Mickey Rourke era considerado o legítimo sucessor de Marlon Brando e James Dean. Um dos últimos a se formar no Actors Studio de Nova Iorque (a mesma escola de interpretação dos dois mitos citados), tudo parecia caminhar para transformar Rourke em um dos grandes astros rebeldes do cinema. Infelizmente não foi bem isso que aconteceu. De qualquer maneira o filme "Angel Heart" (no original "Coração de Anjo") tinha outro grande ator em cena. Era Robert De Niro. Antes de afundar em várias comédias constrangedoras, De Niro brilhava em um papel bem diferente. Um sujeito que na fachada parecia ser muito fino e elegante, quase um lord. No fundo ele seria a personificação do puro mal diabólico. O roteiro já deixava pistas sobre isso durante todo o desenrolar da trama - basta ver que seu nome, Louis Cyphre, lembra bastante o nome de Lúcifer, o anjo caído. Por isso a grande lição que esse excelente filme deixava era mais simples que se pensava: Nunca faça promessas com o diabo, um dia ele irá certamente cobrar sua parte.

Pablo Aluísio.

Os Caçadores da Arca Perdida

No começo da década de 80 o diretor Steven Spielberg quase foi contratado para assumir a franquia de James Bond, o agente 007. Infelizmente as negociações não deram certo. Frustrado, Spielberg viajou em férias para as Bahamas ao lado do amigo e também diretor George Lucas. Nessas férias Lucas mostrou a Spielberg um roteiro que havia acabado de escrever. Era uma aventura ao velho estilo, que lembrava até mesmo os antigos seriados cinematográficos do passado. Algo como Flash Gordon, Buck Rogers, Tarzan, mas em um contexto diferente. Um professor respeitado, arqueólogo, que se envolvia nas maiores aventuras na busca por artefatos históricos cobiçados. Seu nome? Indiana Jones. Desde o começo Spielberg adorou a ideia. Ele sabia que havia ali potencial para mais uma franquia de grande sucesso comercial. E foi justamente o que aconteceu. Com filmagens programadas em várias países tudo estava certo a não ser um problema crucial: quem iria interpretar Indiana? No começo tanto Spielberg como Lucas queriam o ator Tom Selleck para o papel, mas esse estava comprometido com a série de TV Magnum, grande sucesso de audiência na época. Assim eles foram atrás de outro ator para estrelar o filme.

A solução acabou sendo mais simples do que se imaginava. Lucas sugeriu a Spielberg que o papel de Indiana Jones fosse entregue a Harrison Ford, que já tinha se dado muito bem como o mercenário das estrelas Han Solo em "Star Wars". Acertos feitos, começaram as filmagens. "Os Caçadores da Arca Perdida" logo se tornou um fenômeno de bilheteria. Era um filme de aventura com claro sabor nostálgico, mas com uma roupagem mais adequada aos novos tempos. Com ótimo timing o filme era realmente perfeito, tanto tecnicamente como em termos de produção e roteiro. Por falar em roteiro a estória criada por George Lucas era realmente um primor de inventividade. Nela um grupo de pesquisadores nazistas saíam em busca da Arca da Aliança, o artefato citado na Bíblia. A lenda e a tradição afirmavam que aquele que possuísse a Arca se tornava invencível no campo de batalha. Exatamente o que almejava Hitler e seus homens. Curiosamente havia um fundo de verdade no enredo pois era bem conhecido o misticismo e a atração que os nazistas tinham nesse tipo de relíquia religiosa. O filme acabou fazendo tanto sucesso que de fato acabou virando uma série cinematográfica, tal como aquelas que o inspiraram. Haveria filmes bons e outros nem tanto, mas inegavelmente Indiana Jones se tornaria um dos grandes personagens da história do cinema americano.

Pablo Aluísio.

Nascido Para Matar

Na segunda metade dos anos 80 houve todo um ciclo de filmes tratando sobre a Guerra do Vietnã. Além do premiado Platoon tivemos também outro grande filme sobre o tema: Nascido Para Matar. Dirigido pelo mestre Stanley Kubrick e baseado no livro de Gustav Hasford o filme era na verdade uma denúncia ao militarismo americano. O roteiro tinha dois atos básicos. O primeiro seria focado no treinamento de um grupo de fuzileiros militares (marines). Numa base militar um sargento durão (interpretado pelo ótimo R. Lee Ermey) levava seus homens ao limite, até o momento em que um deles perdia completamente o controle, indo para as raias da loucura e da insanidade. É interessante essa parte inicial do filme pois explorava como os militares procuravam suprimir completamente as individualidades e a personalidade de cada soldado. Uma maneira de transformá-los em máquinas de guerra, sem remorso, consciência ou senso crítico.

Depois daquela tragédia aqueles mesmos jovens eram então levados para o inferno do Vietnã. A linha de ligação entre os dois atos vinha na presença do praça Joker' Davis (Matthew Modine). Ele almeja ser correspondente de guerra, mas precisa também colocar a mão na massa no front, enfrentando todos os tipos de desafios, inclusive uma sniper vietcongue. Nesse segundo ato o diretor Kubrick coloca uma desesperança, um clima sórdido e até mesmo mesmo desesperador, investindo em uma fotografia escura, vermelha, como se estivesse fazendo uma alegoria com o sangue daqueles homens que seguem sendo abatidos como gado no matadouro. De todos os dramas de guerra que foram lançados nesse período, "Nascido Para Matar" foi um dos mais festejados. Um filme cru e áspero que não abria margem a concessões ou meias verdades. A intensidade de Kubrick fez toda a diferença do mundo. Brilhante.

Pablo Aluísio. 

sábado, 28 de maio de 2016

Crimes Ocultos

Na União Soviética, sob o brutal regime comunista de Stálin, um oficial da polícia política, Leo Demidov (Tom Hardy), cai em desgraça junto ao Estado após se negar a entregar sua própria esposa, Raisa (Noomi Rapace), acusada injustamente de ser inimiga da revolução. Por ser uma herói de guerra acaba sendo poupado da execução, afinal foi ele o soldado que levantou a bandeira soviética no alto de um prédio em Berlim, no fim da II Guerra Mundial, dando origem a uma foto que se tornou histórica e símbolo da vitória russa sobre a Alemanha de Hitler. Sua punição vem então na forma de uma transferência para uma região remota da Rússia chamada Rostov. Ao chegar em seu novo posto ele acaba ficando sob o comando do implacável General Mikhail Nesterov (Gary Oldman). Eles precisam resolver juntos um mistério macabro. Várias crianças são encontradas mortas perto de ferrovias e estações de trem por todo o país. Certamente há um serial killer à solta, mas as investigações se tornam duplamente perigosas pois o regime de Stálin negava existir psicopatas na sociedade soviética, considerada perfeita sob o comunismo. Para os altos escalões desse Estado a figura do psicopata era exclusiva de sociedades capitalistas decadentes ocidentais como os Estados Unidos. Como investigar um assassino em série lutando contra a própria política de acobertamento do Estado Soviético?

Gostei bastante desse filme. Embora seja baseado em um livro de suspense escrito por Tom Rob Smith, a trama foi inspirada em fatos históricos reais. Nos anos 1950 a polícia soviética precisou organizar uma grande operação para descobrir e prender um serial killer de crianças que atuava na região de Rostov. Ele era Andrei Chikatilo, um burocrata que viajava de cidade em cidade resolvendo seus negócios e no caminho aproveitava para aliciar e matar crianças indefesas que encontrava em estações de trem e pequenas vilas. A maioria delas eram órfãs e abandonadas, vivendo de esmolas nesses lugares. As investigações confirmariam ao menos 53 assassinatos (muito embora hoje saiba-se que foi muito mais do que isso, já que ele matava suas vítimas no meio de florestas remotas, onde muitas vezes os corpos sequer eram encontrados por policiais). Além do excelente roteiro o filme ainda tem outros atrativos. Em termos de elenco não há o que reclamar. O filme tem três ótimos atores nos papéis principais, além de Oldman e Hardy se destaca também Joel Kinnaman (o ator que interpretou RoboCop na nova versão, também conhecido pela ótima série "The Killing"). Ele interpreta um agente político cruel e manipulador, velho desafeto do personagem de Tom Hardy, que faz de tudo para prejudicá-lo sempre que possível. A reconstituição histórica também é excelente, perfeita. Enfim, ótimo filme sobre um dos mais infames assassinos da história, cuja história se passou sob um dos regimes comunistas mais ferrenhos que já se teve notícia.

Crimes Ocultos (Child 44, Estados Unidos, Rússia, Inglaterra, República Tcheca, Romênia, 2015) Direção: Daniel Espinosa / Roteiro: Richard Price, baseado no livro de Tom Rob Smith / Elenco: Tom Hardy, Gary Oldman, Joel Kinnaman, Noomi Rapace / Sinopse: União Soviética. 1953. Leo Demidov (Tom Hardy) e o General Mikhail Nesterov (Gary Oldman) são dois investigadores que precisam desvendar uma série de mortes de crianças, perto de estações de trem por todo o país. Suas tentativas de solucionar os crimes esbarram no próprio Estado que não quer admitir que existam psicopatas dentro uma sociedade comunista supostamente perfeita como aquela. O lema de Stálin afirmava que "Não existiriam psicopatas no paraíso", algo que iria se revelar completamente sem sentido e mentiroso com o avanço das investigações.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Platoon

O grande vencedor do Oscar no ano de 1987 foi "Platoon", drama de guerra dirigido por Oliver Stone. Na época o filme foi recebido com grande entusiasmo por público e crítica porque supostamente o cinema americano finalmente havia encarado o desafio de contar parte da derrota americana na Guerra do Vietnã de uma forma sincera e corajosa. Antes disso filmes como "Rambo" ou "O Franco Atirador" já tinham colocado o dedo na ferida do orgulho nacional americano machucado, mas "Platoon" tinha um diferencial a seu favor. Era um drama sério, bem escrito e não um filme de ação ou existencialista. O público estava pronto para ver a queda do exército de seu país nas florestas tropicais do Vietnã. Acontece que o próprio diretor Oliver Stone era um veterano de guerra. O que ele sabia do Vietnã não lhe havia sido contado e nem lido, mas vivenciado. Quando a guerra chegou ao seu ápice o jovem Oliver resolveu se alistar nas forças armadas. Voluntário, foi enviado para o front no sudeste asiático. Como era ainda muito jovem tinha uma visão patriótica e um tanto boba do que representava um conflito como aquele. Quando chegou no Vietnã compreendeu a enorme besteira que havia cometido. Stone era um dos poucos soldados brancos no exército. Apenas negros e pobres estavam naquele inferno. O velho sentimento de patriotismo lhe trouxe vergonha profunda do que estava vendo.

Um aspecto interessante sobre o roteiro é que na época foi divulgado que tudo o que se via na tela havia acontecido de fato, era uma espécie de biografia de Oliver Stone. Não era verdade, a informação não procedia. Anos depois o próprio Stone tratou de explicar. Na realidade o roteiro do filme era uma mistura de acontecimentos reais com ficção. Os dois personagens mais importantes eram os sargentos Elias (Willem Dafoe) e Barnes (Tom Berenger). Um representava o bem e o outro o mal. Um claro mecanismo dramático, para se contar esse enredo. Stone afirmou que ambos representavam na verdade vários oficiais e suboficiais que conheceu no Vietnã. Era uma representação e não algo real. O saldo, apesar de tudo, foi dos melhores. O filme foi premiado com o Oscar de Melhor Filme, Direção, Som e Edição. O ator Charlie Sheen que interpretava o alter ego de Stone no filme foi considerado um dos prováveis astros do futuro, mas essa previsão não se concretizou. Sheen se envolveu com drogas e prostituição e viu sua carreira afundar no cinema (ela foi salva em parte quando resolveu se dedicar à TV). Recentemente ele confessou ser viciado em crack e ter AIDS. Nem Oliver Stone em seus momentos mais barra pesada pensaria em algo tão hardcore como isso.

Pablo Aluísio.