terça-feira, 20 de março de 2012

A Hora do Pesadelo (2010)

Freddy Krueger (Jackie Earle Haley) é um assassino de crianças que retorna para atormentar um grupo de adolescentes em seus sonhos. Baseado no famoso filme da década de 80 dirigido por Wes Craven. Quem foi jovem na década de 80 certamente assistiu algum filme da série original no cinema. Freddy Krueger ao lado de Jason de "Sexta Feira 13" foi um dos personagens mais recorrentes do terror oitentista. Claro que após um certo tempo o personagem perdeu todo o aspecto macabro que um dia possuiu, virando apenas um ícone pop como qualquer outro, o que significa que virou mercadoria e produto comercial como bonequinhos, figurinhas, revistas, camisetas etc. Depois de ser saturado por isso o velho Freddy finalmente virou coisa do passado e sumiu definitivamente... até agora! Eu odeio remakes. E remakes de franquias mortas são especialmente um horror (não no bom sentido da palavra, mas no ruim mesmo). Esse A Hora do Pesadelo é um pesadelo realmente. Péssimos atores, roteiro requentando e sem atrativos e efeitos especiais banais e de rotina. Não gostei de quase nada do filme, que não tem personalidade, brilho ou carisma. Não passa de uma tentativa caça níquel de usar o nome de Freddy Krueger para levantar uma grana fácil nas bilheterias. É tão grotesco quanto a razão de sua existência.

Certas franquias já deram o que tinha que dar. Se não estou enganado foram seis ou sete filmes da saga original, mas uma série de TV que explorava os pesadelos criados por Wes Craven. O último filme trazia um encontro com Jason de Sexta Feira 13, em suma, o personagem e o tema já estavam esgotados. Deveriam ter encerrado por aí. Esse Remake é totalmente desnecessário e gratuito. Nem o ator que interpreta Freddy, Jackie Earle Haley, se salva do abacaxi. Sua maquiagem é mal feita e pouco convincente. O elenco jovem também é feio e esquisito e não sabe atuar. Enfim esse Remake não deveria nunca ter sequer existido, nem nos piores pesadelos dos produtores de Hollywood. Tomare que agora em diante deixem o velho Krueger em paz definitivamente.

A Hora do Pesadelo (A Nightmare on Elm Street, Estados Unidos, 2010) Direção: Samuel Bayer / Roteiro: Wesley Strick, Eric Heisserer / Elenco: Jackie Earle Haley, Rooney Mara, Kyle Gallner / Sinopse: Freddy Krueger (Jackie Earle Haley) é um assassino de crianças que retorna para atormentar um grupo de adolescentes em seus sonhos. Baseado no famoso filme da décade de 80 dirigido por Wes Craven.

Pablo Aluísio.

Onde o Amor Está

"Country Strong" é um filme que me soou muito artificial apesar das boas intenções e da exploração da música country americana que particularmente gosto muito. Eu penso que para retratar esse universo country tem que haver muita paixão e coração envolvidos e é justamente isso que falta aqui. A atriz Gwyneth Paltrow sempre me pareceu ser uma atriz muito fria e distante, que não consegue passar muito calor humano em suas interpretações. Aqui ela interpreta uma cantora com problemas de alcoolismo chamada Kelly Canter. Ela tem dificuldades com o casamento, se sente ameaçada por uma cantora mais jovem (interpretada pela gracinha Leighton Meester) e para dificultar ainda mais sua vida pessoal e profissional se sente atraída por um cantor mais jovem chamado Beau (interpretado por Garrett Hedlund). O problema é que mesmo com uma personagem com tantas possibilidades nas mãos a Paltrow falha novamente. Nem nas cenas em que ela supostamente estaria embriagada consegue passar veracidade. Suas cenas dramáticas soam falsas e artificiais como o próprio filme em si.

A diretora Shana Feste só tem dois títulos em seu curriculum, nenhum deles excepcionalmente bom. Seu filme de maior repercussão até o momento foi "Em Busca de Uma Nova Chance" que carregou e muito nas tintas do dramalhão. Pelo menos aqui em "Country Strong" temos a música para salvar a produção. De fato a única coisa que funciona bem nesse filme é o lado musical. As canções são boas e as interpretações idem. Para falar a verdade Paltrow se sai bem melhor cantando do que interpretando. Talvez por isso consegui assistir todo o filme, por causa de sua trilha sonora que inclusive conta com vários nomes em ascensão da country music. Algo parecido aconteceu com "Coração Louco" um filme apenas mediano do ponto de vista dramático que foi salvo por uma ótima trilha sonora. "Onde o Amor Está" segue na mesma linha. Fora isso nada muito digno de nota pois o argumento é um tanto quanto clichê e batido. De qualquer forma "Country Strong" foi salvo pela sua música, o que livra o espectador daquela sensação de tempo perdido.

Onde o Amor Está (Country Strong, Estados Unidos, 2010) Direção: Shana Feste / Roteiro: Shana Feste / Elenco: Garrett Hedlund, Gwyneth Paltrow, Leighton Meester / Sinopse: Kelly Canter (Gwyneth Paltrow) é uma cantora de música country que tenta reerguer sua carreira após ela ser destruída por seu alcoolismo. Para ajudá-la em sua recuperação ela conta com o apoio de James (Tim McGraw), seu marido e produtor.

Pablo Aluísio.

Tropa de Elite 2

Com certo atraso finalmente assisti "Tropa de Elite 2". Realmente se trata de um filme ambicioso. Não no sentido de ser pedante mas sim no objetivo de tentar resumir a situação do país atual em pouco menos de duas horas de duração. Vamos convir que isso não é nada fácil. O roteiro (muito bem construído) sai de uma situação individual (no caso os acontecimentos que cercam o personagem Capitão Nascimento) para uma complexa rede de intrigas e corrupções que deixaria qualquer articulador de teorias da conspiração satisfeito. Para isso o diretor usou de um argumento didático que a despeito de entreter acaba também conscientizando muito bem.

Fiquei particularmente satisfeito em saber que uma mensagem assim encontrou tanto campo, já que o filme é o mais assistido da história do cinema brasileiro. Se ele servir para conscientizar as pessoas do jogo sujo que existe entre políticos, bandidos e milicianos no Brasil então já valeu sua existência. Deixando esse aspecto sociológico de lado e vendo o filme apenas como um produto cinematográfico em si, devo dizer que, apesar de ter lá seus clichês, o saldo final é muito positivo. Tropa 2 é inteligente, sabe envolver o espectador e não deixa os fãs do primeiro filme decepcionados. Há ótimas cenas de ação (não tantas como no primeiro mas competentes) e um clima de tensão que deixa o público realmente ligado nos acontecimentos. Para resumir "Tropa de Elite 2" é um excelente filme (e um soco no estômago pois leva o espectador a refletir sobre a situação da segurança no Brasil). Se ainda não assistiu não perca mais tempo.

Tropa de Elite 2 (Tropa de Elite 2, Brasil, 2010) Direção: José Padilha / Roteiro: José Padilha / Elenco: Wagner Moura, André Ramiro, Irandhir Santos / Sinopse: Segundo filme com o famoso personagem Capitão Nascimento (Wagner Moura) . Oficial do BOP do Rio de Janeiro agora ele tem que lidar com o mundo da política e corrupção.

Pablo Aluísio.

Independência ou Morte!

Após entrar em conflito com as cortes portuguesas o Príncipe D. Pedro resolve declarar a independência do Brasil. Nas margens do Rio Ipiranga ele dá o famoso grito de "Independência ou Morte"! Antes de mais nada é bom saber que eu sempre acabo gostando de filmes históricos e com esse não foi diferente. Estava esperando algo mais "chapa branca" pois é fato que o filme foi feito para comemorar os 150 anos de independência do Brasil e contou com dinheiro oficial para ser realizado. Todos sabem também que a produção foi bancada pelo regime militar linha dura que governava o país na época. Mesmo com tudo isso pesando contra penso que o produto final é bem digno. Existem problemas no filme, isso é claro, sendo a edição realmente uma lástima. A impressão que tive foi que muito material deve ter sido filmado e depois a edição tentou juntar tudo numa duração razoável. Não deu muito certo. O resultado é mal feito de fato. Existem cenas em que se nota claramente que tudo está truncado. Mesmo assim o filme ainda resiste.

O mais interessante aqui é mostrar o romance entre Pedro I e a Marquesa dos Santos (a amante do imperador, que levava esse caso escandaloso de forma pública, para humilhação da imperatriz Leopoldina que tinha que engolir tudo calada). Por isso o ato final do filme é bem melhor do que o primeiro. A produção cresce em figurinos, cenários e interesse. Tarcisio Meira não compromete como o impulsivo e infiel imperador e Glória Menezes segura as pontas bem como sua amante. O elenco de apoio é bom também. Enfim, mesmo que lembre em certos momentos um produto global a produção "Independência ou Morte" não é um filme ruim, tem problemas sim, mas no final consegue contar essa parte da nossa história de forma satisfatória.

Independência ou Morte! (Brasil, 1972) Direção Carlos Coimbra / Roteiro: Carlos Coimbra / Elenco: Tarcísio Meira, Glória Menezes, Dionísio Azevedo, Rubens Ewald Filho, Kate Hansen, Emiliano Queiroz, Manoel da Nóbrega / Sinopse: Após entrar em conflito com as cortes portuguesas o Príncipe D. Pedro resolve declarar a independência do Brasil. Nas margens do Rio Ipiranga ele dá o famoso grito de "Independência ou Morte".

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 19 de março de 2012

O Enigma da Pirâmide

Em 1985 no auge de sua criatividade e em um momento particularmente inspirado na produção de vários filmes Steven Spielberg produziu esse muito simpático e bem bolado "O Enigma da Pirâmide". O título original em inglês "Young Sherlock Holmes" já é auto explicativo pois em nossa língua significa literalmente "O Jovem Sherlock Holmes". A trama mostra Sherlock em sua juventude, inclusive seu primeiro encontro com Watson, seu fiel escudeiro e parceiro de tantas aventuras. Juntos eles terão que descobrir um misterioso grupo pagão que realiza sacrifícios humanos em honra a várias divindades do antigo Egito. A estória não é original da pena de Sir Arthur Conan Doyle mas a modernização do personagem é excelente, muito melhor inclusive do que esses fracos filmes que estão sendo feitos na franquia estrelada por Robert Downey Jr. Tudo realizado com muito charme, excelente reconstituição histórica e atores carismáticos. Aliás o filme lembra bastante o universo de Harry Potter pois os personagens são jovens, estudam em uma escola tradicional e se envolvem em grandes aventuras. 

Na questão puramente técnica "O Enigma da Pirâmide" também trouxe inovações tecnológicas extremamente relevantes. O filme foi o primeiro da história do cinema americano a trazer efeitos 100 % digitais. Eles podem ser vistos na cena em que um cavaleiro medieval de um vitral antigo pula para lutar contra seu inimigo. O excelente nível dos efeitos inclusive lhe valeu a indicação ao Oscar do ano, perdendo injustamente a estatueta. Por trás da realização de "Young Sherlock Holmes" se destacava além de Spielberg como produtor a presença de Chris Columbus no roteiro e Barry Levinson na direção. Columbus iria dirigir anos depois o primeiro filme de Harry Potter levando muito desse filme sobre Sherlock para a nova franquia que nascia. Já Levinson surpreende em um gênero que não lhe era muito familiar. Cineasta de dramas mais profundos ele aqui conseguiu realizar um filme leve, divertido e muito eficiente. Uma das melhores produções assinadas por Steven Spielberg na década de 80, "O Enigma da Pirâmide" é indicado não apenas para os fãs do famoso detetive mas também aos que gostam de aventuras juvenis realizadas com muito bom gosto e charme.  

O Enigma da Pirâmide (Young Sherlock Holmes, Estados Unidos, 1985) Direção: Barry Levinson / Roteiro: Chris Columbus baseado nos personagens criados por Sir Arthur Conan Doyle / Elenco: Nicholas Rowe, Alan Cox, Sophie Ward, Anthony Higgins, Freddie Jones / Sinopse: Sherlock Holmes e John Watson são dois jovens que decidem investigar uma estranha seita que adora antigos deuses do Egito.

Pablo Aluísio.

Vejo Você No Próximo Verão

Jack (Philip Seymour Hoffman) é um motorista de limusines de luxo, pacato, tímido e que não tem o menor jeito com as mulheres. Em vista disso seu amigo Clyde (John Ortiz) e a esposa (Daphne Rubin-Vega) resolvem lhe apresentar Connie (Amy Ryan), uma garota tão tímida quanto Jack. Juntos eles tentam manter um relacionamento amoroso apesar das dificuldades em comum. "Vejo Você no Próximo Verão" é um filme sobre pequenos momentos na vida de algumas pessoas comuns que sentem grande dificuldade em se relacionar entre si. Gostei muito da tônica do roteiro, que tem um ritmo próprio, calmo, sem grandes pretensões. A direção de Phillip Seymour Hoffman, muito boa por sinal, segue pelo mesmo caminho. O filme exige uma certa cumplicidade com o espectador por causa dessas características mas se engana quem pensa que esse desenrolar cadenciado o torna cansativo. Longe disso. Após embarcar na proposta do filme tudo se torna bem prazeroso e fácil de digerir. Além disso Hoffman teve a sensibilidade de não esticar demais a estória, que por si é bem simples mesmo.

O quarteto central do filme é muito bom. Hoffman está excelente em sua caracterização, assim como Amy Ryan (alguns degraus abaixo de seu colega de cena). O nível de constrangimento que eles alcançam em suas cenas de relacionamento é abissal, chegando a dar agonia no espectador! Outro ponto forte é a trilha sonora adequada. Aqui vemos como uma boa seleção musical consegue ajudar a contar uma boa estória. De resto nada que macule a produção. Philip Seymour Hoffman mostra muito talento na direção, obviamente fruto de sua longa carreira como ator teatral de sucesso aonde aprendeu os segredos da direção com alguns dos maiores talentos americanos na área. Sem cair no dramalhão ou na pieguice o ator conseguiu extrair o melhor da peça teatral no qual o filme foi baseado. De uma forma em geral gostei de praticamente tudo mas principalmente de sua simplicidade cativante. Em resumo posso dizer que "Vejo Você no Próximo Verão" é um filme delicado para pessoas sensíveis.

Vejo Você no Próximo Verão (Jack Goes Boating, Estados Unidos, 2010) Direção: Philip Seymour Hoffman / Roteiro: Robert Glaudini baseado na peça de Robert Glaudini / Elenco: Philip Seymour Hoffman, Amy Ryan, John Ortiz, Daphne Rubin-Vega / Sinopse: Jack (Philip Seymour Hoffma) é um motorista de limusines de luxo, pacato, tímido e que não tem o menor jeito com as mulheres. Em vista disso seu amigo Clyde (John Ortiz) e a esposa (Daphne Rubin-Vega) resolvem lhe apresentar Connie (Amy Ryan), uma garota tão tímida quanto Jack. Juntos eles tentam manter um relacionamento amoroso apesar das dificuldades em comum.

Pablo Aluísio.

domingo, 18 de março de 2012

Nascido em 4 de Julho

O EUA é uma nação que foi forjada na violência e no capitalismo selvagem. Em essência esses são os verdadeiros pilares da América. Nessa engrenagem o complexo industrial militar norte-americano sempre deve ser suprido por guerras e conflitos, façam sentido ou não. A Guerra do Vietnã é um exemplo claro disso. Um aparato militar jamais visto foi deslocado para um pobre país asiático sem importância em uma matança sem sentido. Jovens na flor da idade foram para aquela nação que nunca tinham nem ouvido falar para morrerem em suas selvas. Quem ganhou com o envolvimento dos EUA no Vietnã? Obviamente que não foram esses soldados. Quem lucrou realmente com essa barbaridade foi justamente o complexo militar da nação Ianque. Guerras são caras e alguém sempre lucra com elas, não se engane. Fortunas foram feitas com o sangue alheio. Violência e capitalismo, eis o segredo da existência desse conflito. Violência e capitalismo, eis o DNA da alma norte-americana. Nada mais, nada menos. Nesse ínterim o ser humano se torna peça descartável, sem a menor importância. Uma estatística, um número qualquer na mesa de algum burocrata. O indivíduo perde toda a sua importância. "Nascido em 4 de Julho" dá voz a uma dessas peças sem importância no tabuleiro da guerra capitalista. Em um roteiro excepcional acompanhamos a transformação de um jovem que ousou tentar de alguma forma lutar contra essa situação. O filme é sobre ele, Ron Kovic (Tom Cruise), que se tornou paralítico aos vinte e um anos de idade após levar um tiro durante uma batalha numa praia do Vietnã. Sua vida, seus pensamentos, seus conflitos internos, tudo ecoa na tela com raro brilhantismo.

Oliver Stone, ele próprio um veterano da Guerra do Vietnã, já havia revisitado esse conflito no premiado "Platoon". O diferencial de "Nascido em 4 de Julho" para o filme anterior é que nesse acompanhamos os efeitos da guerra, as consequências. O tema já havia sido retratado no cinema antes em "Espíritos Indômitos" com Marlon Brando. O enfoque é sobre os soldados que voltam da guerra mutilados, feridos, estraçalhados emocionalmente. As bandeiras, as medalhas e os uniformes militares diante dessa situação perdem totalmente a relevância. O que fica é um dos efeitos mais cruéis desse tipo de luta armada. Homens jovens, incapazes de viverem em sua plenitude, condenados a uma cadeira de rodas pelo resto de suas vidas e o pior por um evento histórico sem qualquer sentido ou justificativa. Stone foi muito feliz nessa direção que na minha opinião foi a melhor de sua carreira. O enredo socialmente relevante faz pensar, desperta consciências. Filmes devem existir não apenas para entreter mas também para conscientizar. Nesse aspecto "Nascido em 4 de Julho" é uma obra prima do cinema americano.

Nascido em 4 de Julho (Born on the Fourth of July, Estados Unidos, 1989) Direção: Oliver Stone / Roteiro: Oliver Stone baseado no livro de Ron Kovic / Elenco: Tom Cruise, Willem Dafoe, Tom Berenger, Kyra Sedgwick / Sinopse: Ron Kovic (Tom Cruise) é um jovem americano que se alista voluntariamente no corpo de fuzileiros navais durante a Guerra do Vietnã. Ele tem convicção que deve lutar pelo seu país contra o chamado avanço comunista. Durante a guerra sua tropa é emboscada e Kovic leva um tiro que o torna paralítico pelo resto de sua vida. O filme é sobre sua luta pelo fim da guerra do Vietnã após retornar do sudoeste asiático.

Pablo Aluísio.

Parceiros da Noite

Steve Burns (Al Pacino) é um policial de Nova Iorque que decide se infiltrar dentro da comunidade gay para investigar uma série de assassinatos envolvendo homossexuais. A imersão nesse submundo acabará causando grandes mudanças em seu modo de pensar e agir. "Parceiros da Noite" é um dos filmes mais polêmicos da filmografia de Al Pacino. Tocando em um tema complicado o filme tenta trazer uma boa trama policial com a questão gay como pano de fundo. Eu nunca assisti um filme com Al Pacino que me decepcionasse. Sabia que com esse não seria diferente e não foi. "Parceiros da Noite" é um policial bem acima da média que apesar de ter sido lançado no começo dos anos 80 tem um jeitão de filme policial dos anos 70, característica que só pesa ao seu favor. Em muita coisa me lembrou outro grande filme de Pacino, o famoso "Serpico". Gostei do roteiro e como sempre da atuação de Pacino. Aqui ele surge um pouco mais contido do que de costume, é verdade, mas isso pode ser interpretado como parte de sua caracterização pois o personagem acaba passando por um dilema durante as investigações. 

 "Parceiros da Noite" foi produzido com tinhas fortes. Realmente a primeira hora do filme pode ser ofensiva para quem não gosta de ver cenas que mostrem homossexualismo entre homens. Por isso caso esse seja o seu caso é bom ir se preparado para essa terça parte inicial. Devo confessar que achei um pouco carregado nas tintas, criando uma tênue ligação, mesmo que involuntária, entre homossexualismo e criminalidade. Só não vou dizer que foi excessivo porque realmente não sei se o nível de promiscuidade entre os gays de Nova Iorque chegava naqueles extremos. Esse aspecto inclusive incomodou alguns setores GLS na época que protestaram contra a visão que o filme passava dos gays. Pois bem, de qualquer forma, passado essa parte o filme vai melhorando gradativamente e cresce absurdamente em seus vinte minutos finais. Aliás o final "em aberto" é genial. Não vou colocar aqui porque seria ruim para quem ainda não viu o filme, mas tenho certeza que grande parcela do público ficará intrigada. Enfim, deixem o preconceito de lado e não deixem de ver "Parceiros da Noite" pois vale muito a pena. Mais um ótimo momento de Pacino nas telas.

Parceiros da Noite (Cruising, Estados Unidos, 1980) Direção: William Friedkin / Roteiro: William Friedkin, baseado na novela de Gerald Walker / Elenco: Al Pacino, Paul Sorvino, Karen Allen / Sinopse: Steve Burns (Al Pacino) é um policial de Nova Iorque que decide se infiltrar dentro da comunidade gay para investigar uma série de assassinatos envolvendo homossexuais. A imersão nesse submundo acabará causando grandes mudanças em seu modo de pensar e agir.  

Pablo Aluísio.

sábado, 17 de março de 2012

Mande Lembranças Para Broad Street

Como o Paul McCartney está fazendo uma série de shows pelo Brasil é válido lembrar essa sua incursão no cinema durante os anos 80. O filme é mero pretexto para Paul desfilar novos e antigos sucessos durante a metragem de Broad Street. O roteiro em si é uma mera desculpa para a sequência de cenas (com linguagem de videoclip) em que McCartney mostra novos arranjos para velhos sucessos dos Beatles. "Yesterday", "The Long and Winding Road", "Eleanor Rigby", estão todas lá. Essas sequências são todas de muito bom gosto e certamente agradarão ao fã do quarteto britânico, já o cinéfilo comum que não gosta do conjunto ficará um pouco decepcionado pois o filme se resume a apenas isso. É um "clipão" musical do Paul. O curioso é que ao contrário de seu colega de banda, John Lennon, Paul McCartney nunca se furtou em usar farto material dos Beatles, seja em shows, seja em filmes como esse. Isso bem demonstra a diferença de personalidade entre eles. Lennon gostava de soltar farpas contra os Beatles, já Paul os louva sempre que possível. Ele tem orgulho das músicas do grupo e não esconde isso.

Por falar em Beatles aqui temos em cena bancando o ator, o baterista Ringo Starr. Depois do fim do grupo ele tentou emplacar uma carreira de ator em filmes como Caveman. Depois de algumas produções horríveis ele finalmente se conscientizou que não havia espaço para ele nessa carreira, o que não o impediu de voltar aqui em "Broad Street" para dar uma força ao amigo. Eu simpatizo com o Ringo mas certas coisas devem ser ditas. Não há uma única cena do filme em que Ringo consiga mostrar o menor talento dramático, é engraçado e divertido ver como ele é mal ator. Um refinado canastrão em essência. Já sua mulher, a lindona Barbara Bach, está lá também para dar uma força ao marido e desfilar seu repertório de caras e bocas. Era bonita mas talentosa, não. De qualquer forma tudo isso é de menor importância pois o que vale mesmo é assistir Paul mandando bem em seus clássicos e na muito bonita "No More Lonely Nights" que fez muito sucesso na época! O curioso é que mesmo tendo a trilha sonora uma boa repercussão "Broad Street" não conseguiu se destacar nas bilheterias, se tornando um grande fracasso (um dos poucos na carreira vitoriosa de Paul McCartney). Ninguém é perfeito. De qualquer forma vale a revisão, assista e se divirta.

Mande Lembranças Para Broad Street (Give My Regards To Broad Street, Estados Unidos, 1984) Direção: Peter Webb / Roteiro: Paul McCartney, Peter Webb / Elenco: Paul McCartney, Ringo Starr, Barbara Bach, Linda McCartney / Sinopse: Músico (Paul McCartney) tem as matrizes de seu último disco roubadas. Ao lado de amigos tenta recuperar os valiosos registros fonográficos.

Pablo Aluísio.

Barfly

"Barfly" (literalmente "mosca de bar") foi baseado nos escritos do autor maldito Charles Bukowski. Seu foco se concentra nos chamados "losers" da sociedade americana, os pobres, os marginalizados, os alcoólatras, as prostitutas e os moradores de rua. Ele própria definiu Barfly como uma crônica de muitas de suas noites de bebedeiras na juventude. Aqui Mickey Rourke encarna o próprio alter ego de Bukowski em uma caracterização brilhante que injustamente não foi indicada ao Oscar! Ele se despe de qualquer inibição e surge em cena barbado, gordo, decadente, bêbado. Contracenando com ele a grande atriz Faye Dunaway em delicada atuação. O filme tem um clima de melancolia e falta de esperanças que incomoda mas ao mesmo tempo consegue criar lirismo e afeição do espectador com os personagens, por mais complicados que eles sejam. 

Mickey Rourke para melhor atuar passou a frequentar o submundo de Los Angeles bem antes do começo das filmagens. Também procurou conhecer o autor. Em entrevista Mickey explicou que teve um certo receio em encontrar-se pessoalmente com Bukowski pois podia não ir com sua cara e isso prejudicaria sua atuação e o filme em si. Mas depois ponderou e decidiu que seria melhor o encontrar cara a cara. Depois de apresentações formais Rourke então o chamou para tomar todas num boteco perto do set de filmagens e assim acabaram se aproximando. Não demorou para que uma simpatia mútua surgisse entre eles. O filme foi dirigido pelo mestre Barbet Schroeder que já havia mostrado seu grande talento em vários filmes de grande sensibilidade emocional. Sua direção é concisa mas marcante. "Barfly" é uma produção indispensável para quem admira o trabalho de Mickey Rourke, um filme que é uma das maiores obras primas de sua filmografia. Imperdível.  

Barfly (Barfly, Estados Unidos, 1987) Direção: Barbet Schroeder / Roteiro: Charles Bukowski / Elenco: Mickey Rourke, Faye Dunaway, Alice Krige, Jack Nance, J.C. Quinn / Sinopse: Henry Chinaski (Mickey Rourke) é um alcoólatra que passeia pela noite de Los Angeles frequentando os lugares mais obscuros do submundo da cidade. Lá conhece e se apaixona por Wanda Wilcox ( Faye Dunaway) que tem um estilo de vida que se parece demais com seu próprio jeito de ser.  

Pablo Aluísio.