quinta-feira, 3 de novembro de 2011

The Beatles - Rubber Soul

O disco que marca o começo da virada na carreira dos Beatles. Não restam dúvidas que até determinado ponto da carreira os Beatles seguiram uma linha comercial onde pouco ou quase nada era permitido em termos de ousadia. Havia essa fórmula certa de sucesso que os Beatles seguiram em todos os seus primeiros discos. Letras falando de amores juvenis, nada de muito ousado ou desafiador. De fato falando sinceramente o grupo seguiu direitinho a cartilha imposta pela gravadora Odeon. “Rubber Soul” não sai muito dessa linha é verdade mas já podemos perceber nitidamente espasmos de criatividade. Isso se torna perceptível logo na segunda faixa do disco na canção "Norwegian Wood (This Bird Has Flown)" de autoria de John Lennon. Nela ouvimos um arranjo bem original com uso de vários instrumentos orientais, indianos, algo que realmente fugia do esquema Guitarra, baixo, violão e bateria. Além disso a música era muito autoral onde Lennon recordava de um encontro extra conjugal que havia tido com uma garota. Na ocasião ela acabou elogiando os próprios móveis de seu apartamento e Lennon usou isso como tema da canção pois o tipo de madeira era bem comum, ordinário, nada sofisticado como a própria moça que sequer havia se apercebido disso. Esse jogo de ideias seria a tônica de John em suas futuras composições, algumas tão herméticas que muitas vezes apenas John e pessoas próximas compreendiam totalmente do que se tratava.

Outra faixa de “Rubber Soul” digna de nota é a própria “Girl”. Sob uma fachada comercial a baladinha tinha muito mais a dizer do que muitos percebiam. Era sobre a “garota perfeita”, idealizada, que todos nós um dia sonhamos ter como namorada. “Nowhere Man” é outro ponto marcante dessa lista de canções. Novamente Lennon escreve sobre si mesmo numa linguagem à la Bob Dylan (como ele gostava de se referir). John tinha essa personalidade angustiada, com toques depressivos que geravam ótimas letras. De fato ele aqui em “Rubber Soul” realmente começa a se soltar como compositor e criador. Seu lado mais centrado em si mesmo começa a dominar suas criações. A sucessão de clássicos de Lennon se fecha com a linda, maravilhosa mesmo, “In My Life”. Se havia algumas dúvidas sobre os rumos que sua poesia tomavam a partir dessa fase de sua vida “In My Life” vinha para esclarecê-las definitivamente. Aqui Lennon em tom de nostalgia lembra de seus tempos de infância e juventude, em um jogo de palavras muito lírico e evocativo que no final das contas consegue se comunicar com todos. É incrível como John Lennon conseguia escrever sobre si mesmo mas falando sobre temas universais, inerentes a todos nós. Impossível ouvir “In My Life”, por exemplo, sem ficar com imediato sentimento de nostalgia e saudade.

Paul McCartney curiosamente acabou seguindo um caminho bem oposto ao de seu colega de banda. Paul aparece em Rubber Soul com canções genéricas, de personagens criados como “Michelle”, que é meramente ficcional. Sua letra parcialmente em francês é uma curtição de Paul para com o romantismo descabelado das músicas românticas francesas. O resultado certamente ficou muito bonito mas como disse é mais um produto de Paul visando objetivos comerciais em essência. Harrison não produz nada de muito marcante no álbum assim como Ringo que se limita a participar cantando o simpático country "What Goes On". Em suma é isso. “Rubber Soul” é certamente uma mudança de rota, não tão radical quanto o sucessor “Revolver” mas mesmo assim já mostrando mudanças de ares significativas. Nos anos que viriam Paul faria mais canções de personagens e John ficaria cada vez mais autoral e egocêntrico e nesse processo os Beatles acabariam se tornando a maior banda de rock de todos os tempos.

The Beatles - In My Life

John Lennon nunca foi necessariamente um sujeito nostálgico. Na verdade ele pouco ligou para seu passado em Liverpool, tanto que depois que ficou rico e famoso praticamente não voltou mais para sua cidade natal. Quando sua tia Mimi se mudou de lá acabou-se mesmo qualquer motivo para Lennon voltar para o lugar onde nasceu. Ao invés disso ele procurou preservar em sua memória os anos de juventude e infância. Como o próprio John explicou em uma entrevista a canção "In My Life" surgiu dessa necessidade de se olhar um pouco mais para trás, relembrando os velhos tempos. Inicialmente John escreveu a letra, procurando colocar nela lugares e pessoas de seu passado, mas em pouco tempo percebeu que a ideia, embora fosse muito boa, não estava fluindo bem. A primeira versão tinha ficado "chata" em sua opinião.

Assim ele sentou-se com seu amigo Paul para reescrever a canção, que depois seria lançada no disco "Rubber Soul". Paul, que era um mestre em escrever sobre temas ficcionais, sem ligação direta com a realidade (como em "Eleanor Rigby", por exemplo), sugeriu que John seguisse essa linha mais imaginativa em sua letra. Seria como recordar dos velhos tempos para a pessoa amada, deixando claro para ela que que tudo aquilo não significava mais nada perante a importância de a ter encontrado em sua vida. De certa maneira era algo distante da ideia inicial de Lennon, mas como ele próprio havia reconhecido a coisa tinha ficado ruim e era necessário tomar um outro caminho.

A versão final que chegou até nós e que se tornou a gravação original é de uma singeleza ímpar! Lennon conseguiu captar com a melodia um claro sentimento de nostalgia, não apenas particular, referente ao próprio passado dele, mas sim universal, que diz respeito a todos nós. É o velho sentimento de que um dia todos encontraremos nossa alma gêmea que nos fará olhar para trás e reconhecer que apesar de tudo ela era aquilo tudo que todos estávamos buscando! Curiosamente embora estivesse casado há anos John Lennon não se sentia verdadeiramente no espírito da canção, já que ele ainda não havia encontrado a mulher definitiva de sua vida - que aliás acabaria sendo Yoko Ono, algum tempo depois. O mais crucial é que Lennon realmente acabou criando uma bela música, embalada por uma das mais bonitas melodias da carreira dos Beatles e isso, senhoras e senhores, definitivamente não é pouca coisa! 

The Beatles - Rubber Soul (1965)
Lado 1
1. Drive My Car
2. Norwegian Wood (This Bird Has Flown)
3. You Won't See Me
4. Nowhere Man
5. Think for Yourself"
6. The Word
7. Michelle

Lado 2
1. What Goes On
2. Girl
3. I'm Looking Through You
4. In My Life
5. Wait
6. If I Needed Someone
7. Run for Your Life

Pablo Aluísio.

The Beatles - Help!

Esse foi um dos discos mais vendidos dos Beatles. Assim aproveito para tecer alguns comentários sobre o álbum "Help!" dos Beatles (que inclusive está tocando nesse momento, enquanto vou escrevendo o texto). Antes de mais nada é importante deixar um conselho: fique longe do filme que é definitivamente bem fraco. A única coisa que se salva são os momentos em que os Beatles tocam - todo o resto (roteiro, direção, elenco) é um completo desperdício! Se você vive reclamando dos filmes de Elvis Presley espere para ver essa "obra" cinematográfica. Enfim, esqueça! Ouça a trilha sonora e esqueça do cinema!

O álbum é uma maravilha. É a tal coisa, certa vez John Lennon resumiu tudo muito bem isso ao dizer:"Os Beatles são músicos, não atores!". Um exemplo que deveria ter sido passado para o colega Elvis que ficou dez anos perdendo tempo em Hollywood. Mas enfim... voltemos ao disco. Esse álbum é, em minha visão, o último grande disco dos Beatles em sua fase Ié, ié, ié (que muitos preferem chamar apenas de primeira fase). É uma coleção magnífica de grandes composições, aliados a um trabalho primoroso de produção por parte de George Martin, um trabalho digno de todos os aplausos. Ele introduziu novos instrumentos, novas sonoridades, sem nunca descaracterizar o som único dos Beatles. Isso fica óbvio logo na primeira faixa, "Help!", uma composição de Lennon com um refrão forte e marcante. Como John sempre gostou de analisar sua própria vida ele anos depois diria que a música era realmente um pedido de socorro pois ele se sentia sufocado com o sucesso absurdo que os Beatles tinham alcançado. Os gritos, as turnês e a pressão quase o levaram a ter um colapso nervoso.

"The Night Before" de Paul já era um pouco mais amena. Gosto bastante do ritmo dessa música - perceba que ela já começa numa tonalidade única que vai até o fim da canção, sem variações. O vocal de Paul está dobrado, o que traz uma ótima sensação ao ouvinte. McCartney na letra está obviamente falando da vida noturna de Londres, de suas boates e amores fugazes. Imagine conhecer uma bela garota numa sexta à noite e no dia seguinte descobrir que nada daquilo significou alguma coisa. Aliás Paul e John eram grandes frequentadores de clubes noturnos desde os tempos de Hamburgo. Quando ficaram famosos a coisa toda ficou maior e mais agitada. Na letra Paul então escreveu uma pequena crônica sobre isso, sobre as noites nas baladas e as manhãs seguintes. E para manter a dobradinha entre Lennon e McCartney logo após entra Lennon em tom de leve melancolia na ótima "You've Got to Hide Your Love Away", A letra é de um pessimismo e uma sinceridade que chegaram a assustar as adolescentes fãs dos Beatles da época. Lennon soava até mesmo depressivo. Esse tipo de atitude  certamente não combinava com os gritinhos das jovens (algo que Lennon particularmente detestava!).

Depois de um momento tão surpreendente como esse, eis que o ouvinte é convidado a dar uma chance a George Harrison em "I Need You". Essa é uma composição menor de uma fase em que George ainda tentava respirar no meio de dois gênios que eram Paul e John. A música é sincera, com boa letra e uma guitarra sempre solando uma nota só (o que se torna a grande característica da faixa). Para suavizar ainda mais o disco, a música "Another Girl" de Paul vem logo a seguir e propõe acertar contas com um velho amor do passado, deixando claro que superou tudo e está de novo amor, numa boa. Decepções amorosas são dolorosas, mas precisam ser superadas. Chega o momento de seguir em frente, ter novas paixões, viver novas emoções. Paul assim propõe deixar a tristeza de lado de uma vez por todas e partir para outra. Belo conselho.

"You're Going to Lose That Girl" tem ótimos solos de guitarra e um arranjo diferenciado onde Ringo deixou a bateria de lado para investir em velhos bongôs cubanos. Essa foi uma sugestão de George Martin. Casualmente ele foi informado que o filme teria cenas filmadas nas Bahamas. Nada melhor do que dar um pequeno toque caribenho ao álbum. A composição é de John e ele novamente se mostra um grande letrista. Depois de "Help!" o grande sucesso desse disco foi "Ticket to Ride". Poucos sabem, mas essa canção foi composta por Paul e John na Alemanha, em Hamburgo, quando eles ainda formavam uma banda desconhecida de jovens ingleses. A expressão "Ticket to Ride" era usada em prostíbulos da cidade, era o nome que era dado aos ingressos para entrar nesses cabarés localizados no porto de Hamburgo. Traduza a expressão e entenda o sentido malicioso das palavras! Essa piada interna por parte dos Beatles só seria revelada muitos anos depois por John em uma entrevista. Até aquele momento todos pensavam que os Beatles estavam sendo apenas "poéticos"! Não, eles estavam sendo vulgares mesmo! Coisas de jovens da idade deles.

Já "Act Naturally" foi colocada para abrir o Lado B do antigo vinil. Era a sempre reservada faixa para Ringo Starr exercitar seus limitados dotes vocais. Em faixas como essa, animadinhas e nada complexas, ele até que se saía muito bem - vamos reconhecer. Nada importante, nada mais do que um momento divertido do disco. Pura diversão mesmo. Encerrada ela vem os primeiros acordes de "It's Only Love", outro momento cortante de John Lennon. A canção foi escrita para sua esposa da época. Ele tentava de alguma forma reacender seu amor por ela - algo que não daria muito certo pois o casamento estava praticamente arruinado. Em um dos versos ele pergunta: "Brigamos todas as noites?". Estava mesmo complicada a vida do casal Lennon.

"You Like Me Too Much" é a segunda faixa composta e cantada por George Harrison. Essa é bem melhor do que a anterior. John está nos teclados, o que dá um sabor diferente para os arranjos da canção. George Harrison também pediu a George Martin que dobrasse seu vocal, assim ele faz dueto consigo mesmo. Ficou bonita, principalmente os solos do meio. Não é nenhuma obra prima, mas é bonita e tem bela harmonia. "Tell Me What You See" que vem logo a seguir talvez seja a única composição realmente de Lennon e McCartney do disco, já que na época eles já procuravam escrever seus próprios trabalhos, sem necessariamente contar com a ajuda do outro. A letra é basicamente de Paul, com pequenos toques de Lennon. É engraçado porque fica até fácil descobrir quem escreveu cada linha. Geralmente Paul surgia com alguma frase mais otimista, enquanto John respondia com sua acidez habitual.

"I've Just Seen a Face", por outro lado, foi escrita apenas por Paul. Ele inclusive se esmerou em escrever um belo arranjo, com um belo dedilhado em seu começo. Essa melodia inclusive me passa um sabor country - não sei se apenas eu penso assim. Aquele violão solando, aquele ritmo, parece até que foi gravada em Nashville. Ecos dos pioneiros do sul dos Estados Unidos que inspiraram os Beatles. Depois dela vem o grande clássico do disco, a imortal "Yesterday", a música que mais ganhou versões na história. Esqueça os Beatles. Essa é uma criação de Paul McCartney, única e exclusivamente. O próprio Lennon dizia que as pessoas sempre o estavam parabenizando por essa canção, mas que ela era na verdade "filha de Paul". Em entrevista John Lennon reconheceu isso ao dizer: "Nunca pensei em escrever nada parecido com aquilo". Os Beatles não participam da sessão de gravação da faixa oficial. Apenas Paul toca violão, acompanhado de um quarteto de cordas providenciado por George Martin. O resultado ficou inesquecível. Clássico absoluto!

Talvez para contornar a extrema doçura e ternura de "Yesterday", John Lennon resolveu encerrar o disco com a paulada de "Dizzy Miss Lizzy", um cover estridente de Larry Williams. A guitarra, no último volume, vai estourar seus tímpanos - por isso tenha cuidado! A razão da gravação dessa canção seria explicada por John na entrevista que deu na Playboy no começo dos anos 80, pouco antes de sua morte. Na ocasião ele desabafou: "As pessoas sempre me viram como o roqueiro dos Beatles. Enquanto Paul escrevia belas baladas de amor eu sempre aparecia com as faixas ao estilo pauleira. Talvez elas tenham razão. Eu sou assim. Uma velha orquestra de Rock ´n´Roll".

The Beatles - Help! (1965)

Lado A
1. Help!
2. The Night Before
3. You've Got to Hide Your Love Away
4. I Need You
5. Another Girl
6. You're Going to Lose That Girl
7. Ticket To Ride

Lado B
1. Act Naturally
2. It's Only Love
3. You Like Me Too Much
4. Tell Me What You See
5. I've Just Seen A Face
6. Yesterday
7. Dizzy Miss Lizzy

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

The Beatles - Beatles For Sale

John Lennon gostava de brincar dizendo que esse disco poderia ser apelidado de "Beatles Country and Western". A brincadeira tem sua razão de ser. "Beatles For Sale" é um disco um tanto diferenciado dentro da discografia do grupo. Na verdade o álbum foi ideia da gravadora EMI que vendo o fim de ano chegando pensou logo em lançar um novo LP da banda para aproveitar os festejos de fim de ano. O problema é que os Beatles nem tinham material suficiente para completar todo um disco. Eles estavam trabalhando demais, com um show atrás do outro e tinham esgotado todo o material inédito no disco anterior do grupo. Assim a fonte estava seca.

O problema é que George Martin se reuniu com os rapazes e juntos decidiram que sim, era possível gravar algo para ser lançado no natal e ano novo. Meio que na correria o grupo se reuniu e fez um levantamento do que havia á disposição. Havia algumas sobras das trilhas sonoras que não tinham sido utilizados em Help, por exemplo. "Eight Days a Week" era o maior exemplo disso. Entre tantos pedaços de gravações os Beatles ainda poderiam completar canções como "No Reply" e "Baby's in Black" que Paul adorava. No começo das sessões os Beatles ainda não tinham todo o material que precisavam para colocar um álbum de gravações inéditas no mercado, mas isso foi sendo superado com o passar do tempo.

Para tapar o buraco do resto do disco eles escolheram alguns covers que já tinha longo histórico com a banda nos concertos ao vivo durante todos aqueles anos, principalmente nos primeiros anos, nas excursões pela Alemanha. "Rock and Roll Music", por exemplo, fazia parte do repertório dos Beatles desde os tempos pioneiros no Cavern e em Hamburgo. Paul McCartney encaixou a linda "Words of Love" de seu ídolo Buddy Holly e assim o "Beatles For Sale" foi finalmente tomando forma. John Lennon também resgatou um velho tema que ele não havia trazido antes para os estúdios por um certo receio. "I'm a Loser" era autoral demais. A letra em primeira pessoa trazia o pensamento mais íntimo de Lennon. Ele nunca havia gravado antes com os Beatles algo assim tão honesto e verdadeiro. Como as músicas dos Beatles até aquele momento eram canções pop de amor com letras mais genéricas, Lennon tinha um certo temor de jogar algo tão pessoal assim no trabalho da banda. Paul adorou a canção desde a primeira audição e dessa forma ela foi incluída. Essa gravação acabou virando um marco pois Lennon adorou a experiência e a partir daí iria escrever canções cada vez mais pessoais, em primeira pessoa, expondo sem máscaras aquilo que pensava. Era uma evolução em relação aos primeiros discos, onde o tema geralmente girava em torno de romances adolescentes.

"Beatles For Sale" chegou nas lojas em dezembro de 1964, tal como a EMI tanto queria. Desnecessário dizer que foi outro pico de sucesso dos Beatles. Os rostos na capa mostravam quatro jovens com semblantes cansados. Não é para menos, as turnês sem fim tinham finalmente cobrado seu preço. O disco também não tem mais aquele pique todo que sempre caracterizou os primeiros trabalhos da banda. De qualquer modo é um disco dos Beatles em sua fase ié, ié, ié de excelente nível. Eles estavam deixando esse estilo em breve, mas o álbum em si ainda tinha grande qualidade artística. Definitivamente se há uma conclusão de tudo isso é a de que eles poderiam ser tudo, menos "losers" (perdedores) como pregava Lennon em sua imortal canção.

Beatles For Sale (1964)
No Reply
I'm a Loser
Baby's in Black
Rock and Roll Music
I'll Follow the Sun  
Mr. Moonlight  
Kansas City/Hey-Hey-Hey-Hey!
Eight Days a Week
Words of Love
Honey Don't
Every Little Thing
I Don't Want to Spoil the Party
What You're Doing
Everybody's Trying to Be My Baby 

Pablo Aluísio.

The Beatles - A Hard Day's Night

Terceiro disco dos Beatles, a trilha sonora de A Hard Day´s Night chama a atenção por algumas de suas características mais marcantes. É incrível mas todas as músicas do álbum são de autoria de John Lennon e Paul McCartney. As pessoas não param para pensar sobre isso mas o fato é que na época eles eram pouco mais do que garotos, bastante jovens e inexperientes em projetos desse porte. Era uma trilha para um filme de um grande estúdio de Hollywood e mesmo assim os rapazes não se intimidaram. Eram realmente gênios musicais. Se formos analisar bem esse é o trabalho mais marcante da primeira fase da carreira dos Beatles. O pavoroso título nacional (Os Reis do Ié, Ié, Ié) de certa forma mostrava uma realidade dentro da musicalidade do grupo nesse momento de sua carreira.

Todas as faixas, sem exceção, são recheadas de letras sentimentais do amor adolescente perdido. Lennon anos depois faria sátira sobre isso mas o fato é que em essência foi cantando e compondo esse tipo de canção que o quarteto conquistou as paradas de sucesso do mundo. Em termos de arranjo o grupo mostrava seu lado mais influenciado por Bob Dylan e pelo folk americano. Unindo essas influências eles acabaram criando um som único, sem paralelos com a música popular da década de 60. Hoje soa pueril? A intenção deles era essa mesmo. Como bem resumiu Lennon os Beatles de certa forma se comportaram como um verdadeiro cavalo de Tróia. Inicialmente cantando sobre o amor inocente dos jovens da época, os Beatles conquistaram as paradas. Depois disso começaram a cantar sobre drogas e sexo. Dentro da seleção musical do disco os Beatles selecionaram sete das canções que eles consideravam as melhores para cantar no filme. As demais seriam usadas para preencher o lado B dos antigos vinis. É curioso que apesar das canções mais famosas e conhecidas estarem no lado A – como é natural – o outro lado do álbum também era recheada de belas canções, em especial "Any Time at All"  e "I'll Be Back"  que Lennon particularmente não gostava muito mas  que ainda hoje se sobressai pela pegada mais roqueira.

Entre as faixas mais conhecidas, que foram talhadas mesmo para estourar nas rádios, o destaque vai para a bela balada "And I Love Her", uma canção que já demonstra o grande talento de Paul McCartney para escrever inspiradas músicas de amor com arranjos ternos e delicados. A música foi feita por Paul para sua namorada na época, Jane Asher. Esse foi um dos casos mais sérios e compromissados que Paul se envolveu em sua vida. Os demais membros do grupo pensavam que ele se casaria com certeza com Jane nos anos que viriam mas infelizmente a união não foi em frente. Pelo menos deixou belas músicas como essa pelo caminho. Nada como uma grande paixão para compor grandes declarações de amor em forma de música. Outra canção da seleção que se destaca por seu lirismo romântico é "If I Fell" mostrando que Lennon não era apenas o Teddy Boy do grupo e que poderia facilmente liderar vocalmente uma bela balada sem problemas.

Anos depois, principalmente na década de 70, John iria fazer pouco caso de gravações como essa, querendo passar uma imagem de roqueiro durão mas não enganou ninguém. Esse disco foi escrito face a face entre ele e Paul e Lennon era tão romântico quanto o colega no que diz respeito a letras como essa. Seu cinismo característico talvez se sobressaía mais em faixas como “Can´t Buy Me Love” mas a canção mostrava que Lennon era excelente baladeiro (algo que iria se aproveitar e muito em sua discografia solo). Assim “A Hard Day´s Night” surge hoje em dia como exemplo típico do som que os Beatles desenvolveram em sua primeira fase. Letras românticas, pueris, arranjos tendendo para o folk americano, com uso inclusive de instrumentos tradicionais como gaita e um nítido sabor de namoro adolescente. Afinal os Beatles por essa época eram em essência um grupo amado pelos adolescentes da década de 1960 e sua música refletia isso. Só depois, dentro de alguns anos, é que eles chutariam o balde entrando de cabeça no movimento psicodélico mais porra louca dos 60´s. Mas isso é uma outra história que falaremos depois por aqui. Até lá.

The Beatles - A Hard Day's Night (1964)
A Hard Day's Night
I Should Have Known Better
If I Fell
I'm Happy Just to Dance with You
And I Love Her
Tell Me Why
Can't Buy Me Love
Any Time at All
I'll Cry Instead
Things We Said Today
When I Get Home
You Can't Do That
I'll Be Back

Pablo Aluísio.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

The Beatles - With The Beatles

The Beatles - With The Beatles - "With The Beatles" foi o segundo álbum dos Beatles. O sucesso de seu primeiro LP levou a esse segundo trabalho que levando a máxima "não se mexe em time que está ganhando" não muda muito em relação ao primeiro trabalho do grupo. Novamente tudo foi gravado praticamente "ao vivo". Não que os Beatles o gravaram em algum show, nada disso, a questão é que por essa época o grupo gravava seus discos praticamente crus, sem qualquer truque de estúdio. Os instrumentos eram literalmente ligados na mesa de som e o conjunto tocava a canção ali, na hora, na garra.

A melhor versão entrava no LP, simples assim. A engenharia de estúdio ainda era muito primitiva e tudo acontecia dessa forma. Quem tinha talento se estabelecia, quem não tinha sumia do mercado. A vantagem dos Beatles era que tinham muita experiência de tocar por muitas horas seguidas quando estavam em Hamburgo e isso lhes trouxe um entrosamento absurdo. Quando entravam em estúdio para gravar tudo acontecia muito rápido. Eles já estavam devidamente calibrados e prontos para chegar na versão definitiva. Em razão disso também era comum os Beatles gravarem seus primeiros álbuns em poucas horas de estúdio. Geralmente em um ou dois dias no máximo tudo já estava concluído e pronto para lançamento. George Martin, o produtor, também era outro grande talento que trabalhando ao lado dos rapazes conseguia ótimos resultados com o mínimo de horas de estúdio o que no final das contas era muito econômico e lucrativo.

Pois bem, como já foi dito "With The Beatles" procura seguir os passos de "Please Please Me". Assim os Beatles mesclam composições próprias com covers de seus ídolos na música. Entre os covers duas faixas se destacam. A primeira é "Roll Over Beethoven" clássico de Chuck Berry. Os Beatles a incluíram por duas razões básicas: a primeira é que adoravam a poesia jovem e descompromissada de Berry. A segunda é que a música já vinha em seu repertório de shows há anos e seria muito prático e fácil gravar a faixa agora na EMI. O destaque vai para George Harrison em simples e eficiente solo, aproveitando bem o riff de Berry. Outra excelente gravação entre as covers é "You Really Got a Hold on Me" de Smokey Robinson. Os Beatles não eram bobos e sempre estavam antenados com o que acontecia no mundo em termos de música. Não é por outra razão que trouxeram essa representante do som da Motown para seu álbum. Eles sabiam do excelente nível da música negra americana e não perderam muito tempo ligando pessoalmente para Berry Gordy para adquirir os direitos da faixa. Como eu disse, de bobos não tinham nada.

Na outra categoria, das composições próprias, o maior clássico é "All My Loving", música símbolo dessa fase do grupo, ainda hoje usada à exaustão por Paul McCartney em suas apresentações ao vivo mundo afora. Letra romântica expressando sentimentos juvenis da garotada, mais Beatles do que isso impossível. Outro destaque é a primeira música composta por Harrison a entrar em um disco dos Beatles, "Don't Bother Me". Não é uma grande música mas serviu para quebrar o gelo. Melhor se sai "I Wanna Be Your Man" que os Beatles tinham dado aos Rolling Stones mas depois se arrependeram pois a música era maravilhosa e coisas assim não se dão e nem se emprestam. A canção que abre o disco, "It Won't Be Long" foi classificada por um crítico inglês como repleta de "Cadências Eólicas", algo que Paul nunca, jamais, tinha ouvida falar. Isso acabou virando piada interna entre os membros da banda. O álbum fecha as portas com "Money", onde John tenta repetir a garra e o pique de "Twist And Shout" do disco anterior. A letra é seca e sarcástica e Lennon obviamente se identificava pois o que ele queria mesmo era ficar rico e famoso. No saldo final considero "With The Beatles" um dos melhores trabalhos do grupo inglês. É despretensioso e honesto em suas intenções. O repertório é agradável e algumas músicas viraram eternos clássicos. Item obrigatório na coleção de pessoas que amam música em geral.

A primeira composição de George Harrison a entrar em um álbum dos Beatles foi justamente essa gravação de "Don't Bother Me" que ouvimos nesse disco. Claro que com os anos George iria melhorar muito em termos de melodia e letra, mas aqui já demonstra bons sinais de seu talento. Não é uma grande canção, diria que é até mesmo uma criação básica, mas que serviu para quebrar o gelo. Além disso trazia em sua letra aspectos da própria personalidade do "Beatle quieto", afinal uma música que tinha uma mensagem de "Não me perturbe" não poderia ser mais característica do Beatle. Enquanto Paul sempre trazia o lado mais romântico e otimista e John surgia com o rock mais ácido e pessimista, George fazia contrabalanço aos dois, tentando aparecer e se esconder ao mesmo tempo no meio dos dois gênios.

"All My Loving" provavelmente seja uma das canções mais populares desse álbum. Embora muitos a associem a Paul exclusivamente, essa foi uma criação a quatro mãos, com Paul e John trocando ideias face a face. Claro que a letra foi criada quase que exclusivamente por McCartney, baseada em seu relacionamento com a atriz Jane Asher, porém John apareceu dando importantes dicas no desenvolvimento da melodia em si. Para John a canção tal como fora apresentada pela primeira vez por Paul nos estúdios Abbey Road ainda não tinha o pique necessário. Foi John então que a acelerou um pouco, trazendo mais vida para a música. Ficou excelente após a colaboração de Lennon. George Martin decretou após ouvir o primeiro ensaio: "É isso, está perfeita, vamos gravar!".

Voltando para a letra seria interessante dar uma olhada em seus versos: "Feche os olhos e eu te beijarei / Amanhã sentirei sua falta / Lembre-se que sempre serei verdadeiro / E quando eu estiver longe / Vou te escrever todo dia / E mandar todo meu amor pra você / Vou fingir que estou beijando / Os lábios dos quais sinto falta / E torcer para meus sonhos virarem realidade".

Eu poderia classificar esse tipo de sentimento presente na letra como um amor adolescente, algo que poderia ter sido escrito por um colegial apaixonado pela garota da escola. Não estou escrevendo isso para desmerecer Paul como letrista, mas sim para salientar como é também arriscado escrever canções de amor para o público jovem. Paul, como bem demonstrou o sucesso da balada, acabou acertando em cheio. Até porque o público dos Beatles por essa época era formado basicamente por jovens histéricas que gritavam pelos membros do grupo nos shows. Foi justamente para essas fãs que Paul escreveu essas palavras. Nada mais complicado do que captar o sentimento dessas garotas em versos e melodia.

Desde o primeiro álbum os Beatles sempre deixavam uma música, geralmente a mais simples, para o baterista Ringo Starr cantar. Viroi uma tradição que foi sendo seguida até o último disco. Embora Ringo não tivesse um grande talento vocal, seu timbre de voz era interessante, ideal para rocks mais agitados ou então músicas com sabor country and western. No caso do "With The Beatles" Paul e John reservaram para ele a agitada "I Wanna Be Your Man" que inclusive acabou virando um ponto alto também nos concertos ao vivo do grupo.

Ringo sempre muito animado criava um verdadeiro frisson entre as fãs quando mandava ver na apresentação dessa canção. O interessante é que os Beatles não foram os primeiros a gravarem a canção. John Lennon havia dado de presente aos Rolling Stones a música. Eles a gravaram e a lançaram em fins de 1963. O single com "Not Fade Away" no Lado A foi um dos primeiros sucessos do grupo de Mick Jagger. Talvez esse sucesso todo tenha incomodado um pouco John que resolveu que os Beatles iriam colocá-la em seu novo álbum, algo que os Stones não esperavam. Em entrevistas feitas anos depois John Lennon deixou escapar um certo ressentimento pelo fato dos Rolling Stones terem feito sucesso com uma canção escrita por ele. Chegou até mesmo a desmerecer a música, dizendo que nunca daria algo realmente bom para os Stones gravarem. Foi algo meio rude de sua parte.

"Roll Over Beethoven" era um cover dos Beatles para um velho sucesso de Chuck Berry. Não era surpresa para ninguém que os Beatles adoravam a primeira geração do rock americano, com destaque para Elvis Presley, Little Richard, Buddy Holly e claro o próprio Chuck Berry. A letra era uma gozação de Berry para com os críticos da época que diziam que o Rock ´n´ Roll era um tipo de música muito simples, com letras fracas e melodias primárias. Tudo isso era compensado com a vibração da canção. O interessante é que os Beatles poderiam ter incluído nas faixas do disco dois dos maiores sucessos da banda na época como "She Loves You" e "I Want To Hold Your Hand". O problema é que as gravadoras não incluíam músicas lançadas em singles nos álbuns, nos LPs. Um erro que atingiu a discografia não apenas dos Beatles, mas de outros grandes artistas do rock também. Uma forma de pensar equivocada. Sem ter músicas originais inéditas para tantos lançamentos o jeito foi mesmo gravar esse cover, que aliás ficou excelente, recebendo elogios do próprio Chuck Berry.

Esse álbum "With The Beatles" tem uma sonoridade tão agradável de se ouvir. Mesmo após tantos anos ainda considero um prazer colocar esse álbum para apreciar as músicas. O grupo também parecia extremamente entrosado, efeito, é claro, de uma banda que vivia na estrada fazendo shows ao vivo. A prática, já dizia o sábio, leva à perfeição.

A excelente qualidade do conjunto, do repertório das músicas, começava já desde a primeira faixa. Bastava colocar a agulha no LP, no vinil, para começar a ouvir os primeiros acordes. "It Won't Be Long" é um reflexo desse entrosamento do quarteto. Eles gravaram essa música, que pode até ser considerada um pouco complicada de tocar, em poucos takes. Sua estrutura rítmica sui generis levou um crítico americano a dizer que a canção tinha "cadências elóicas"

A estranha designação virou uma piada dentro da banda, entre os próprios Beatles. John e Paul, autores da música, não tinham a menor ideia do que isso significava. Brincando sobre o fato Paul ironizou, muitos anos depois, dizendo que a crítica não fazia o menor sentido e que ele, mesmo após anos de carreira, continuava sem saber do que se tratava! Brincadeiras à parte, é inegável reconhecer que se trata de uma excelente gravação do grupo. Eles estavam tinindo nos estúdios Abbey Road quando gravaram essa canção.

Já "Please Mister Postman" era um cover do som da Motown. Quem diria, os ingleses brancos revisitando a música negra americana. Eles curtiam muito a sonoridade dos artistas da gravadora de Detroit. A música já vinha sendo apresentada pelo grupo desde os primeiros shows na Alemanha, em Hamburgo, sendo por isso uma opção natural para compor esse segundo álbum dos Beatles. Seria mais fácil de gravá-la após tantos anos e era uma maneira de agradar os americanos, pois o empresário Brian Epstein já estava de olho no mercado dos Estados Unidos. Se os Beatles conquistassem seu lugar ao sol dentro da terra do Tio Sam nada mais poderia parar seu sucesso. Algo que se confirmaria no ano seguinte quando o grupo finalmente aterrissou no país de forma gloriosa para dar o pontapé inicial na Beatlemania que conquistaria o mundo.

"Little Child" era uma composição de Paul McCartney, ou como gostava de dizer John Lennon "Uma filha de Paul". O tema romântico, com temática adolescente, era bem a marca registrada do baixista dos Beatles por essa época. Inicialmente Paul pensou em dar a música para Ringo cantar, mas depois desistiu. A letra começa simples, com o autor em primeira pessoa pedindo para dançar com uma garota. Letra simples, bem derivativa dos temas da época. Poderia ter contado com alguma contribuição de John, mas para falar a verdade ele era cínico demais para temas tão pueris como esse.

"Hold Me Tight" tinha uma pegada bem mais forte. Outra faixa que muitos autores atribuem ao próprio Paul McCartney, muito embora aqui John Lennon também tenha contribuído mais intensamente. Nessa época os Beatles estavam preocupados mesmo em escrever sucessos de rádio, por isso as músicas seguiam uma certa fórmula. Nessa faixa em particular eles repetiram o uso de palmas pontuando o ritmo da canção. O vocal de Paul intercala com John, dividindo o mesmo microfone. Uma música que sempre me agradou, tendo inclusive feito parte também do raro disco "Beatles Again".

"You Really Got a Hold on Me" era um cover. Nesses primeiros álbuns do grupo havia mesmo a necessidade de cantar canções de outros artistas já que os Beatles não tinham tantas músicas prontas para fazer parte do repertório. Paul e John eram até muito produtivos, o que significavam que compunham muitas músicas juntos, mas também tinham um senso crítico muito forte o que deixavam muitas delas fora dos discos. Só entrava o que eles consideravam ter qualidade.

A faixa começa com George solando sua guitarra. O ritmo é cadenciado, com toques mais românticos. Algo até esperado já que a música original dos Miracles vinha da safra de artistas negros da Motown, um verdadeiro celeiro de talentos de Detroit, uma gravadora que os Beatles particularmente gostavam muito. A letra é praticamente uma carta de amor de alguém apaixonado por uma garota que não corresponde a esse sentimento (bem adolescente). "Você realmente me pegou" é uma frase que resume. Eu não deveria amar você por tudo, mas quem controla as próprias emoções? Pois é... complicada a situação.

Essa canção All I've Got to Do fez parte do disco "With The Beatles", o segundo álbum do grupo na Europa. Já nos Estados Unidos ela foi lançada como parte do LP "Meet The Beatles". Como se sabe no começo da carreira dos Beatles havia uma diferença entre a discografia inglesa e americana. Só tempos depois é que tudo foi unificado, sendo os discos lançados na Inglaterra considerados os oficiais. A canção conta com o vocal principal de John Lennon, com aquela voz bem característica que todos os fãs conhecem.

O curioso é que Lennon explicaria anos depois que a música tinha sido uma influência do chamado "som da Motown", a gravadora americana especializada em música negra. John diria que ele estava tentQando trazer um pouco da sonoridade de Smokey Robinson, do grupo The Miracles, para os discos dos Beatles. Penso que embora tQenha sido esse o objetivo, essa canção romântica tem identidade própria, que resultou igualmente numa boa gravação por parte do quarteto. É simples, romântica e muito eficiente, funcionando muito bem dentro do repertório do disco.

With The Beatles (1963)
It Won't Be Long
All I've Got To Do
All My Loving
Don't Bother Me
Little Child
Till There Was You
Please Mister Postman
Roll Over Beethoven
Hold Me Tight
You Really Got a Hold on Me
I Wanna Be Your Man
Devil in Her Heart
Not a Second Time
Money.

Pablo Aluísio.

The Beatles - Please Please Me

No inicio os Beatles só queriam ser aceitos. Quando chegaram na EMI para suas primeiras gravações eles apenas queriam ser aprovados. O grupo vinha de uma experiência infeliz na Decca onde um executivo mal humorado lhes tinham dito que “Ninguém mais está interessado em grupos de rock como o de vocês!”. Desanimados mas não derrotados os Beatles continuaram sua saga atrás de alguma gravadora que lhes aceitassem. Eles já tinham gravado profissionalmente na Alemanha como o grupo de apoio de Tony Sheridan mas não era a mesma coisa. Eles queriam ser reconhecidos por seus próprios talentos, cantando suas próprias músicas. Na EMI conheceram o educado e simpático George Martin que resolveu dar uma chance ao grupo. Ele comandava o selo Parlophone, especializado em discos de comédias e gravações sem muita importância comercial. Querendo diversificar Martin acabou vendo naqueles rapazes uma promessa. Após as primeiras audições ele percebeu que havia muito trabalho a fazer. Os rapazes eram muito crus ainda. Suas composições eram bem  interessantes mas tinham que ser melhoradas dentro do estúdio. Martin também não gostou muito de seu baterista, o tímido Pete Best. Sugeriu que o usassem apenas nos shows e que dentro do estúdio fosse utilizado o baterista da própria EMI, um músico contratado. John e Paul acreditavam que seria melhor trazer outro músico melhor. Foi assim que Ringo Starr entrou na história dos Beatles.

Please Please Me foi o primeiro álbum da banda. Fruto de muito empenho pessoal de Brian Epstein, o disco de estréia daqueles quatro rapazes de Liverpool finalmente se materializava. A seleção musical misturava covers de outros grupos e cantores com composições próprias de John Lennon e Paul McCartney, os líderes da banda. A música título era uma variação da musicalidade de Roy Orbison pois Lennon era fã do cantor americano. Na primeira vez que ouviu a música George Martin acho seu ritmo muito fora de tom. Depois de conversar com Paul e John finalmente chegou numa boa versão, com ótimo ritmo. No total foram registradas 14 canções, sendo sete delas composições de Lennon / McCarney, uma dupla que criaria nos anos seguintes algumas das canções mais populares do século XX. O disco foi gravado praticamente ao vivo dentro de estúdio. Tudo se resumia em ligar os instrumentos diretamente nos equipamentos de gravação e mandar ver. Por isso não prospera a velha tese de que os Beatles não eram bons ao vivo, que erravam e tocavam mal. Não é verdade. Para entender basta ouvir essas gravações e os registros que os Beatles fariam depois na rádio BBC. Material gravado ao vivo, de ótima qualidade. Na última gravação do dia, “Twist and Shout” a voz de John Lennon estava em frangalhos, o que trouxe uma vocalização única na faixa. Essa aliás acabou sendo uma das mais famosas canções do disco, um símbolo da primeira fase dos Beatles. O disco chegou nas lojas em março de 1963 e logo se destacou nas paradas. O próprio empresário Brian Epstein deu uma forcinha adquirindo um lote completo de cópias para suas lojas de discos, assim os Beatles começariam a aparecer entre os mais vendidos logo nos primeiros dias de lançamento. O resto é história. “Please Please Me” marcaria o começo de uma nova fase na história da música mundial. Uma revolução de proporções épicas. E pensar que tudo isso começou naquela tarde em que os Beatles só desejavam ouvir um “sim” da poderosa EMI.

1. I Saw Her Standing There  (Lennon / McCartney) - Os Beatles abrem seu primeiro disco com essa composição própria. Esse foi um diferencial importante para o quarteto inglês já que desde os primórdios sempre fizeram questão de compor suas próprias canções. Claro que sendo seu primeiro álbum ainda havia uma certa insegurança em lidar apenas com material escrito por eles mesmos, por isso há entre as faixas do disco alguns covers de outros artistas que os Beatles gostavam (fórmula inclusive que se repetiria em seu segundo álbum e que de certa forma seria descartada no disco "A Hard Day´s Night"). Em relação a "I Saw Her Standing There" o que mais importante temos a dizer é que se trata daquilo que gosto de chamar de "música de palco". Aquele tipo de rock feito para levantar o público durante os concertos. Por isso a sequência númerica em sua introdução e a extrema vibração ao longo de todo o número.

2. Misery (Lennon / McCartney) - Durante um certo tempo o grupo pensou em colocar "Besame Mucho" nesse disco, mas a ideia foi afastada por Paul pois em suas próprias palavras isso o retratava como um "músico de cabaret". De uma forma ou outra a sugestão foi colocada de lado, até porque os Beatles já a tinham gravado em outra ocasião, com um resultado abaixo do esperado (falaremos mais sobre isso em outra ocasião). "Misery" foi composta face a face entre Paul e John, porém Lennon a considerava uma criação mais dele do que de Paul. A letra com sabor até mesmo country, já trazia alguns aspectos sombrios e pessimistas que iriam caracterizar bastante a obra de John Lennon nos anos seguintes. Ele aliás costumava brincar dizendo que Paul sempre surgia com otimismo e pensamentos positivos, enquanto ele gostava de adotar posturas mais pessimistas, isso quando não era completamente sarcástico e mordaz.

3. Anna (Go to Him) (Alexander) - Primeiro cover dos Beatles no disco. Essa canção gravada originalmente pelo próprio autor Arthur Alexander no selo Dot Records era apenas uma das dezenas que os Beatles usavam em seus shows. É nitidamente uma balada de bailinho, para se dançar com o rosto colado. Numa época em que o quarteto fazia longas apresentações na Alemanha, algumas delas durante quase quatro horas, era necessário fazer e lançar mão de praticamente tudo que estivesse nas paradas. Como eles tinham tocado muito a música nessas ocasiões resolveram encaixar no álbum, já que seria facilmente gravada - afinal eles já estavam mais do que afiados na execução da canção. Um belo momento romântico do disco que acabou fazendo um considerável sucesso no Brasil já que a canção se chamava "Anna", um nome comum em nosso país.

4. Chains (Goffin/King) - Outra que segue a lógica da gravação anterior. Era mais uma balada que os Beatles já estavam calejados de tanto que a tocaram ao vivo. Para mudar um pouco deram parte da vocalização principal para George Harrison que nessa época ainda não compunha, se limitando a ser apenas o talentoso guitarrista solo do grupo. Também conviver com a enorme sombra de Paul e John não deveria ser muito fácil. Para piorar Lennon o considerava quase como apenas um pupilo, já que a diferença de idade entre eles sempre pesou muito na relação. Mais tímido do que os demais membros do grupo, se assumindo como um Teddy Boy consumado, sem pretensão de bancar o intelectual, Harrison levaria ainda alguns anos para se firmar como mais um elo criativo dentro dos Beatles.

5. Boys (Dixon / Farrell) - Ringo Starr nunca foi o melhor cantor do mundo. Na verdade ele destruiu algumas canções dos Beatles, como por exemplo, "Good Night" do White Album, que exigia uma voz mais suave e melódica. Lá infelizmente Ringo não tinha o timbre adequado. Na verdade seus talentos como cantor se enquadravam bem em countrys e rocks mais agitados. Em "Boys" deu certo. A música, um rock com muita vibração, caiu como uma luva para sua voz rústica da classe operária de Liverpool. Curiosamente, por causa da pressa em que o álbum foi gravado (afinal tempo era dinheiro para a EMI), "Boys" ficou pronta em apenas um take, gravado ali, ao vivo, com todos tocando juntos. Por isso muitos qualificam esse primeiro disco dos Beatles como um "disco ao vivo gravado em estúdio" (por mais contraditória que essa expressão possa parecer). 

6. Ask Me Why (Lennon / McCartney) - Por muitos anos, por ser uma baladinha, "Ask Me Why" foi considerada uma filha de Paul. Afinal ele sempre foi o grande compositor de músicas românticas dos Beatles. Anos depois porém o mistério foi decifrado pois ao que tudo indica a canção foi escrita quase que noventa por cento por John Lennon. Paul apenas deu retoques finais em sua melodia. Uma surpresa encontrar uma música tão terna provindo do áspero John Lennon. Por ter uma boa sonoridade e vocação para as paradas o produtor George Martin a colocou como lado B do single "Please, Please Me". Uma decisão acertada já que a outra canção que os Beatles queriam colocar no segundo lado do compacto era muito fraca mesmo. Essa música chamada "Tip of My Tongue" foi assim deixada de lado pelo grupo.

7. Please Please Me (Lennon / McCartney) - Inicialmente essa música tinha uma pegada à la Roy Orbison. Era chorosa e com ritmo bem delicado, quase parando. George Martin ouviu a música nesse estilo e não gostou. Na verdade ele queria que os Beatles gravassem outra música naquele dia. Os rapazes porém insistiram em gravar uma composição própria e não "How Do You Do It", a preferida do produtor. Sob sugestão de George Martin finalmente chegaram um consenso. Os Beatles aceitavam acelerar mais a velocidade da música e em contrapartida George Martin topava colocar a canção como carro-chefe do próximo single dos Beatles. E assim foi feito. É um dos grandes clássicos do grupo, embora o tempo a tenha deixado um pouco datada hoje em dia.

8. Love Me Do (Lennon / McCartney) - Essa música abria o antigo lado B do disco. "Love Me Do" é o verdadeiro estopim da carreira dos Beatles, a canção que os colocou no mapa. John e Paul a criaram ainda na Alemanha, por volta de 1958 ou 1959 (nem eles sabiam direito). Por anos a canção fez parte do repertório de shows do conjunto, afinal eles sempre tiveram especial orgulho de suas próprias composições. Quando pintou a primeira grande oportunidade de gravar em uma grande gravadora (a EMI) eles nem pensaram duas vezes e sugeriram a George Martin sua "obra prima" Love Me Do. A primeira gravação contou com Pete Best na bateria, mas Martin achou seu desempenho medíocre - o que indiretamente abriria o caminho para Ringo Starr entrar nos Beatles. Revista hoje em dia talvez possa ser considerada a mais pueril música do grupo, afinal de contas eles eram apenas garotos quando a criaram.

9. P.S. I Love You (Lennon / McCartney) - Esse é aquele tipo de música que você tem a clara impressão que já ouviu antes, com outros artistas. Paul e John eram acima de tudo grandes fãs de música americana e assim eles de certa forma compilaram nessa canção alguns clichês que faziam parte do repertório dos principais grupos que gostavam e ouviam. Derivativa, mas muito charmosa, "P.S. I Love You" vence a luta contra o lugar comum por causa de sua bela melodia e pelos bons arranjos vocais que a acompanham desde o começo. Aqui não há muito o que discutir pois é uma composição de Paul McCartney que já demonstrava desde muito cedo ser um letrista excepcional para canções e baladinhas românticas. Também é uma velha conhecida dos fãs do grupo já que os Beatles a usaram de forma exaustiva nos palcos de Liverpool antes de sua gravação. Acabou sendo escolhida por isso para ser o lado B do single inglês "Love Me Do" por George Martin.

10. Baby It's You (David / Williams / Bacharach) - Esse é um cover dos Beatles para um sucesso do The Shirelles, um grupo vocal negro formado por maravilhosas cantoras que conseguiram se tornar o primeiro grupo feminino afro-americano a atingir o topo de sucessos da Billboard Hot 100, um feito incrível para os anos 1960, principalmente em uma sociedade com tantos problemas raciais como a norte-americana na época. A versão dos ingleses cabeludos segue praticamente passo a passo a gravação das garotas do Shirelles. Não há grandes diferenças entre as duas versões. Foi colocada no álbum por sugestão de John Lennon que estava muito interessado no som de grupos negros, principalmente os que faziam parte do elenco de artistas da gravadora Decca.

11. Do You Want To Know A Secret? (Lennon / McCartney) - Uma canção escrita por Paul e John baseado no famoso clássico Disney "Branca de Neve e os Sete Anões". Fazia parte das memórias afetivas de Lennon, pois sua mãe Julia costumava cantar as canções do filme para ele quando ia dormir. Embora seja tão pessoal, Paul também contribuiu muito, criando inclusive o pegajoso refrão. No estúdio eles acabaram por se decidir em dar a música para George Harrison cantar. Inicialmente Paul a gravaria, mas John achou por bem que todos os membros do grupo tivessem ao menos uma música como vocalista principal nos discos dos Beatles. Muitos anos depois, um pouco irritado com George Harrison por causa dos problemas com a Apple, John afirmou com sua conhecida veia mordaz que havia dado a música para Harrison cantar como uma "espécie de esmola" já que ele não era considerado um bom cantor pelo restante do grupo. Segundo Lennon: "Do You Want To Know A Secret tinha apenas três notas e ele (George Harrison) não era o melhor cantor no mundo".

12. A Taste of Honey (Scott / Marlow) - Talvez seja a pior faixa do álbum, com um arranjo vocal muito pretensioso que hoje em dia soa desconfortável aos ouvidos. Seu exótico ritmo talvez se explique pelo fato da mesma ter sido composta baseando-se em uma peça teatral de sucesso na época. Daí vem sua dramaticidade. A versão dos Beatles é apenas ok. Provavelmente foi colocada no disco para preencher mais espaço e tempo, afinal o álbum foi planejado para ser lançado com quatorze músicas, o que era acima da média na indústria fonográfica daqueles tempos. O mais comum eram discos com dez ou no máximo doze faixas. Muito provavelmente George Martin tenha lotado o disco de canções como forma de convencer o consumidor a comprar o LP de estréia daqueles jovens novatos.

13. There's A Place (Lennon / McCartney) - A última canção composta por Paul e John em seu disco de estréia. Mais uma que foi inspirada no cinema. Aqui Lennon apenas aproveitou uma frase da música "Somewhere" do filme West Side Story que dizia: "Somewhere there's a place for us". Já que havia em algum lugar um cantinho para esses jovens apaixonados viverem felizes, John completou a ideia com uma afirmação de que, sim, havia mesmo um lugar para eles. Não seria necessariamente um lugar físico, poderia ser apenas uma abstração na própria mente, onde eles viveriam felizes, mas de fato esse lugar existiria. Gosto muito dessa letra pois já mostra um lado de John em que ele imagina um lugar ideal (ecos da futura Imagine? Pode ser). Ele provava assim que desde jovem já tinha uma visão bem abstrata do mundo ao seu redor. 

14. Twist and Shout (Medley / Russell) - A sessão de gravação do disco já estava em seu final quando os Beatles puxaram um último fôlego para finalizar essa música. A voz de John Lennon já estava em frangalhos, o que de certa forma acabou combinando com a essência da música em si. Além disso a forma como John canta a música acabou lhe dando sua característica mais conhecida. Depois que foi utilizada na trilha sonora do filme "Curtindo a Vida Adoidado" acabou ficando ainda mais conhecida e famosa para as novas gerações. No geral é aquele tipo de rock mais visceral que John Lennon queria trazer para os discos dos Beatles, afinal de contas ele próprio se auto intitulava "uma velha orquestra de rock ´n´ roll".

The Beatles - Please Please Me (1963) - John Lennon (vocal, guitarra e gaita) Paul McCartney (vocal, backing vocal e baixo) George Harrison (guitarra, vocal e backing vocal) Ringo Starr (bateria, vocal e percussão) / Produzido por George Martin / Data e Local de Gravação: Abbey Road Studios - 11 de Setembro de 1962, 26 de Novembro de 1962 e 11 de Fevereiro de 1963 / Data de Lançamento:  22 de Março de 1963 (mono) 26 de Abril de 1963 (estéreo) / Singles extraídos desse Álbum: 1."Love Me Do" Lançamento: 5 de Outubro de 1962 / 2."Please Please Me" Lançamento: 11 de Janeiro de 1963 / 3."Twist and Shout" Lançamento: 2 de Março de 1964 / 4."Do You Want To Know A Secret" Lançamento: 23 de Março de 1964 / 5."Baby It's You" Lançamento: 20 de Março de 1995.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Invocadores do Mal

Terminei de ler esse segundo livro do casal Ed e Lorraine Warren. O que me despertou a curiosidade para ler esse tipo de livro foi obviamente o cinema. Vários filmes foram produzidos nos últimos anos baseados nas experiências ditas sobrenaturais do casal. E aqui deixo uma recomendação aos leitores: leia tudo com o olhar cético, com o bom senso e o senso crítico bem ligados. Não vá ler pensando que tudo o que está em suas páginas é verdade. Eu particularmente li com o olhar de quem estava lendo um livro de pura cultura pop, nada mais do que isso.

São histórias de fantasmas, algumas que fazem até mesmo parte do folclore de certas comunidades nos Estados Unidos e Inglaterra. Embora o casal Warren tenha tentado o tempo todo trazer uma certa chancela da ciência para o que contam, não caiam nessa. Esse tipo de argumento é pura balela. Nenhum experimento científico foi feito até hoje se trazendo um fantasma para um ambiente controlado onde pudesse ser estudado por cientistas. Sem o método científico não existe ciência, ponto final. Essa mesma realidade vale para quem defende que espiritismo é ciência... não é mesmo! Nunca caia em falácias de charlatões. Eles voam como moscas por aí.
 
Em relação ao livro em si ele é de fácil leitura, com pouco mais de 200 páginas. Não é literatura de alto nível. Achei até tudo meio bagunçado. Há narrativas, relatos, depois o Ed joga a transcrição de entrevistas, tudo meio jogado ao vento. Faltou um editor mais presente para colocar uma certa ordem naquela bagunça toda. Se você estivar em busca de um livro como pura literatura de qualidade, olha, eu não recomendaria esse livro, sinceramente falando. De qualquer forma sendo lido como pura cultura pop, até que funciona. Fora disso é besteira cristalina.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Lady Killers

Lady Killers
Esse livro conta a história de mulheres assassinas ao longo da história. O chamariz da edição diz: "Entre na mente das assassinas em série". Escrito por Tori Telfer em 2017, o livro ganhou uma edição bem caprichada da Darkside Books no Brasil, com ilustrações de Jennifer Dahbura. Em seus capítulos são dissecadas pequenas biografias de cada uma dessas assassinas em série, algumas bem conhecidas, outras nem tanto. Praticamente não são enfocadas criminosas da atualidade, mas do passado, algumas de séculos atrás. Todas ganharam notoriedade em sua época por causa dos crimes horríveis que cometeram.

O perfil mais comum presente no livro é a da envenenadora dissimulada. Algo que confirma uma antiga visão de que as mulheres não matam com violência, mas sim com venenos. A história de fato parece confirmar essa tese. As mulheres, ao contrário dos homens, quase nunca partem para a violência ou brutalidade. A especialidade dessas damas da morte, como regra geral, era mesmo o veneno, muitas vezes servido nas refeições de parentes, maridos, pessoas próximas, conhecidos em geral. Bastava um aborrecimento, um conflito, para o arsênico (o veneno mais popular) entrar no cardápio das vítimas. Era muito comum também a figura da viúva negra. Era aquele tipo de assassina que matava o marido ou companheiro, geralmente para ficar com seus bens ou o seguro de vida. Aqui a morte do marido era usada ou como caminho de liberdade de um casamento horrível ou então como meio de ascensão social.

Entre as mais notórias (ou infames) assassinas algumas se destacam e até hoje são bem conhecidas, como a condessa de sangue Elizabeth Báthory, que inclusive abre o livro, trazendo a primeira biografia. Ela foi uma nobre sádica que matava jovens camponesas de seu feudo. Tudo com a finalidade de banhar-se em seu sangue para manter uma juventude eterna. Enquanto assassinava mulheres pobres nada aconteceu. Quando começou a matar jovens da nobreza acabou sendo presa e condenada a morrer enclausurada em seu próprio castelo. Seguramente essa condessa foi uma psicopata pois tinha enorme prazer nos crimes que cometia. E quando era jovem já era conhecida pelas torturas que praticava contra empregadas de seu castelo. No meu ponto de vista um caso de psicopatia clássica.

Outra história que me chamou bastante atenção foi a de Kate Bender. Ela viveu na época do velho oeste americano. Abriu uma hospedaria para viajantes ao lado de outras pessoas que dizia ser sua família, embora hoje suspeita-se que isso era uma mentira inventada por ela. O hotelzinho ficava no Arizona, numa rota bastante movimentada de homens que iam para as montanhas em busca de ouro e riqueza. Pois bem, cada cowboy, minerador ou viajante que se hospedava no pequeno hotel da senhorita Bender acabava encontrando a morte. Ela e seus "familiares" matavam seus hóspedes, para roubar seus pertences e ouro que eles traziam das minas. Depois enterravam os corpos nas terras da propriedade do hotel. Cronistas da época, que escreveram sobre os crimes, afirmaram que Kate Bender era uma moça bonita, uma formosa loira de olhos azuis. Ela usava sua beleza para atrair os homens ao seu hotel e lá eles eram mortos das maneiras mais violentas. A própria Kate geralmente cortava suas gargantas! E o mais incrível de tudo é que ela escapou, nunca foi presa por seus crimes, pelos assassinatos em série que cometeu.

A edição brasileira de "Lady Killers" é um primor de capricho e bom gosto, mas erraram ao adicionar uma segunda parte onde se reúnem minibiografias de outras assassinas e micro resenhas de filmes e séries. Achei os textos dessa parte final bem simplórios, nada acrescentando ao livro original americano, esse sim bem mais detalhista e com mais conteúdo. Parece que os editores nacionais queriam lançar um livro com mais páginas e então resolveram, como se diz na expressão popular, "encher linguiça", colocando páginas e mais páginas, de maneira desnecessária. Isso porém não tira o interesse do livro que é muito bom, especialmente recomendado para quem deseja conhecer um pouco mais a mente de mulheres que matam, as tais damas assassinas ou melhor dizendo as Lady Killers.

Pablo Aluísio.

O Condenado - Bernard Cornwell

Sempre gostei muito dos livros escritos pelo autor inglês Bernard Cornwell. Ele geralmente ambiente seus romances em duas épocas básicas, durante as guerras contra Napoleão Bonaparte ou então nas batalhas épicas da formação da nação inglesa, logo após a saída dos romanos da Britânia. Cornwell gosta de escrever longas sagas históricas, em diversos livros em séries, mas aqui nesse "O Condenado" temos um livro único, com história fechada. O protagonista é um ex-tenente das guerras napoleônicas. Ele esteve na batalha de Waterloo servindo ao exército inglês. Agora, de volta à vida civil, ele é contratado pelo secretário do interior para fazer uma investigação não oficial. Ele precisa descobrir se um jovem pintor que foi condenado à morte pela justiça é de fato mesmo o autor do assassinato de uma marquesa. O pedido da investigação partiu da própria Rainha que nunca acreditou na versão oficial.

Assim esse tenente chamado Ridel Sandman sai em Londres em busca de pistas. Ao seu lado surgem outros personagens que lhe dão apoio, como um curioso e divertido Lord inglês, que adora o esporte em que Sandman é considerado um craque, uma bela jovem chamada Sally e um velho sargento, também veterano das guerras napoleônicas. O objetivo é localizar uma criada que teria sido testemunha do crime e saberia a verdadeira identidade do assassino.

Bernard Cornwell escreveu um bom livro. Ele se debruçou por meses na biblioteca de Londres para estudar sobre o contexto histórico da chamada "era dos enforcamentos", um tempo no século XIX em que muitos criminosos foram executados na forca na praça principal da capital do império. Ele inclusive decidiu usar os nomes reais de certas pessoas que participaram desses enforcamentos em seus personagens de ficção. Um fato curioso é que os condenados que conseguiam escapar da forca, através de algum perdão real, acabavam sendo expulsos para a Austrália. Enfim, um livro muito bom de ler, principalmente para quem gosta de mistérios e aspectos de uma época em que a criminologia valoriza a punição pública pela corda.

Pablo Aluísio.

domingo, 23 de outubro de 2011

Cinema News - Edição VIII

O Novo Duna - O tão esperado filme "Duna" ganhou um novo poster hoje. O filme será divulgado no IMAX com a arte ao lado. Essa nova versão de "Duna" dirigida pelo cineasta Denis Villeneuve tem sido um dos filmes mais aguardados dos últimos anos. E não é para menos. "Duna", o livro, é uma das obras mais celebradas da literatura no ramo da ficção. Houve uma versão cinematográfica lançada nos anos 80, mas aquela antiga produção foi considerada um fracasso tanto de público, como de crítica. Esse novo filme renova todas as apostas e não tem sido fácil para seus produtores. O filme deveria ter sido lançado no ano passado, mas com o problemas da pandemia o dia de seu lançamento foi adiado diversas vezes. Agora o estúdio mantém o dia 22 de outubro de 2021 como a data definitiva de lançamento nos Estados Unidos. Com o avanço da vacinação no país e a queda de internações e mortes, o filme pode finalmente ter a chance de chegar nas telas de cinema. O que preocupa os produtores é a questão de que até onde o filme poderá ir nas bilheterias? Será que finalmente o público americano (e do resto do mundo) vai ganhar confiança para voltar a frequentar os cinemas? Os lançamentos que foram feitos nessa retomada não causam muito entusiasmo. Via de regra os filmes, mesmo as super produções, renderam bem menos do que era esperado. Agora e aguardar para ver como o filme será recebido comercialmente, além da opinião de críticos e dos fãs sobre essa nova tentativa de levar o universo de Duna para os cinemas.

Morre Charlie Watts
Como não poderia ser diferente a notícia mais comentada no mundo da música nessa semana foi a morte do baterista dos Rolling Stones. Charlie Watts morreu em decorrência de um procedimento médico não divulgado pelo grupo. Especula-se que ele tenha morrido por causa de um câncer na garganta, algo que vinha minando sua saúde já há alguns anos. Em termos de importância ele foi um dos principais membros dos Stones. Ótimo instrumentista, também não deixou de ser subestimado em diversos momentos de sua vida. Algo parecido do que ocorreu com Ringo dos Beatles. O fato é que não havia nos anos 60 a mentalidade de se valorizar muito os bateras dos grupos de rock. Um equívoco e tanto, uma vez que a bateria é a verdadeira pulsação de um conjunto de rock, a "cozinha" sempre foi de vital importância para a sonoridade de toda e qualquer grande banda de rock. Na vida pessoal Charlie Watts era uma pessoa bem discreta que odiava a fama. Seu único exagero em termos de fama e riqueza era sua coleção de carros esportivos raros, mas isso, convenhamos, era um simples hobby, ainda mais se tratando de um músico tão importante na história dos Rolling Stones. Assim deixo, através desse simples texto, meus sentimentos de pêsames por seu falecimento.

Falece Jean-Paul Belmondo
Faleceu no último dia 6 de setembro, aos 88 anos de idade, o ator francês Jean-Paul Belmondo. Muito querido pelo público, inclusive o brasileiro, o ator teve uma longa carreira no cinema que atravessou sete décadas! No total trabalhou em 91 filmes. Seu primeiro trabalho como ator se deu no filme "Molière", um curta-metragem lançado em 1956. Seu trabalho de despedida se deu há poucos anos, em 2006, onde surgiu para uma breve despedida no filme "Un homme et son chien", uma produção francesa que até foi bem elogiada pela crítica na ocasião de seu lançamento. Jean-Paul Belmondo foi indicado a dois prêmios BAFTA pelos filmes Pierrot le Fou (1965) e Léon Morin, prêtre (1961). Foi premiado pelo Oscar do cinema francês, o César Awards por seu trabalho como ator em Itinéraire d'un enfant gâté (1988). Em 2011, já afastado das telas e com problemas de saúde recebeu uma bela homenagem pelo conjunto de sua obra no Festival de cinema de Cannes. Foi seu último aceno de despedida para a sétima arte ao qual devotou toda a sua vida de artista. 

Luke e Lula!
Mark Hamill, o Luke Skywalker de "Star Wars", declara apoio a Lula nas próximas eleições! O ator Mark Hamill da saga "Star Wars" usou suas redes sociais para declarar apoio a Lula nas próximas eleições presidenciais no Brasil. Ele escreveu: "Que a força esteja com o Brasil". Depois continuou: "Atenção Brasil! A força é realmente forte nesse homem. Desejo a Lula tudo de bom em sua nobre busca". Mark Hamill assim segue os passos de outros astros de Hollywood como Leonardo DiCaprio ao incentivar os jovens brasileiros que compareçam às urnas, uma vez que apenas pelo voto poderão derrotar o presidente Bolsonaro que tem uma péssima imagem fora do Brasil.

Nos Estados Unidos, principalmente entre a comunidade de Hollywood, o presidente Bolsonaro é muito mal visto, sendo associado a ideias tacanhas, ultrapassadas e até mesmo perigosas por suas declarações que insinuam estar contra a democracia e o direito ao voto. Também é encarado como um político que odeia artistas e arte em geral, em especial o cinema brasileiro que nos últimos anos ganhou várias críticas positivas por parte de especialistas. 

Leo e Bolsonaro
Leonardo DiCaprio diz em festa que "Bolsonaro perderá as eleições para o bem do planeta!" O ator Leonardo DiCaprio participou de uma festa em Hollywood nesse fim de semana e disse para os amigos que Jair Bolsonaro perderá as próximas eleições para presidente. revelou uma fonte próxima. Para o ator isso seria um bem para o planeta, para o meio ambiente. Leonardo DiCaprio tem incentivado o voto jovem no Brasil justamente para que o atual presidente, que tem apoio de pessoas mais velhas, idosos em sua maioria, venha a perder as eleições presidenciais. Bolsonaro faz mal para a proteção ao meio ambiente na visão do astro de Hollywood.

Alguns artistas brasileiros estiveram presente à festa em Hollywood. O ator norte-americano é extremamente empenhado na causa ambiental. Para ele um dos maiores problemas do mundo hoje se chama Jair Bolsonaro, presidente do Brasil, um político de extrema-direita que parece atuar contra a proteção do meio ambiente.O presidente Bolsonaro inclusive tem se irritado com Leonardo DiCaprio. Recentemente o presidente do Brasil disse que ele deveria ficar calado. Leonardo DiCaprio ignorou completamente a resposta de Bolsonaro e esse aviso que ele sequer levou em consideração. O clima, como se pode perceber anda tenso entre os dois.

Pablo Aluísio.