O grande nome por trás do sucesso dos Beatles foi sem dúvida o empresário Brian Epstein. Ele era filho de uma bem sucedida família de judeus de Liverpool. Seu pai era um rico comerciante que colocou o filho para cuidar de sua loja de discos. No passado Brian já havia estado nas forças armadas inglesas e até tentara uma carreira de ator de teatro, porém nada parecia dar muito certo em sua vida.
Como dono da loja North End Music Store (NEMS) ele se encontrou. Brian se orgulhava de ter a melhor loja de música do norte da Inglaterra, onde o cliente jamais sairia sem encontrar o disco que procurava. Ele mandava importar álbuns diretamente dos Estados Unidos, pelo porto da cidade e era visitado por colecionadores vindos até mesmo de Londres atrás de raridades em vinil. Os próprios Beatles frequentavam a loja de Brian, mas eles nessa época não se conheciam. Os rapazes ainda eram jovens sem grana da classe trabalhadora de Liverpool. No máximo eles iam até a loja apenas para ouvir as novidades, mas sem comprar os discos, o que não interessava muito a Brian.
De qualquer maneira o negócio prosperou. Brian Epstein era um excelente gerente. Ele criou um método baseado em pura matemática com que deixava a loja sempre abastecida, com um excelente catálogo de discos. Anos depois Epstein diria que o maior vendedor de discos da época era Elvis Presley. Então ele importava discos de Elvis dos Estados Unidos antes mesmo deles serem lançados oficialmente na Inglaterra. Também explorava músicas e discos raros de outros países europeus. Isso transformou Brian não apenas em um excelente homem de negócios, mas também em um expert musical. Sem modéstia pessoal, Brian dizia que conhecia tudo em termos de mercado musical. Ele conhecia todos os cantores, todas as bandas, todos os selos, tudo... absolutamente tudo!
Seu orgulho de ter uma joja impecável só foi quebrado quando um jovem entrou em sua loja e pediu um disco de Tony Sheridan e The Beatles. "My Bonnie" era o lado A do disquinho alemão. Brian ficou chocado! Ele nunca havia ouvido falar nos Beatles e nem encontrou o single para vender nos catálogos que recebia das gravadoras. Era um lançamento desconhecido que ele nem sabia por onde comprar. Assim ele ficou intrigado com aquele pedido. Acabou descobrindo que os Beatles se apresentavam ali pertinho, em um clube. Acabou indo a uma de suas apresentações, mais tentando comprar exemplares do single que não tinha do que propriamente conhecer os jovens daquele barulhento grupo de rock. Depois que Epstein foi apresentado a John, Paul e George, toda a sua vida mudou. Ele nunca havia sido empresário de uma banda, mas também os Beatles nunca tinham sido empresariados antes, ainda mais por um homem de negócios como Brian. Parecia o casamento perfeito. Acabou sendo o encontro que mudaria para sempre a música do século XX.
Pablo Aluísio.
segunda-feira, 16 de maio de 2011
domingo, 15 de maio de 2011
Paul McCartney - Pipes of Peace
Um dos grandes sucessos de Paul na década de 80, naqueles que foramss
alguns dos anos mais criativos de toda sua carreira. Aqui Paul segue
com a fórmula que havia dado muito certo em "Tug of War", ou seja,
reunir-se a um grande nome da música com produção do maestro George
Martin, seu produtor mais constante desde a época dos Beatles. Se em
"Tug of War" tínhamos a presença muito especial de Stevie Wonder aqui
Paul resolveu trazer nada mais, nada menos, do que o auto proclamado Rei
do Pop, sim ele mesmo, Michael Jackson! Foi uma via de mão dupla,.
Jackson participou de "Pipes of Peace" e em contrapartida Paul deu às
caras no fenomenal disco "Thriller" (na ótima faixa “The Girl Is Mine”).
Em Pipes of Peace Michael Jackson participa de duas excelentes canções,
a simpática "Say, Say, Say" e a baladona "The Man". Ambas as músicas
foram assinadas por Paul e Michael. Infelizmente essa parceria bem
sucedida dentro dos estúdios, não duraria muito, pois Paul e Michael se
desentenderam depois por causa da venda dos direitos autorais das
músicas dos Beatles. Paul queria comprar, mas Michael lhe passou a perna
e as comprou antes, deixando Paul desolado... e furioso! Sobre o
acontecimento Jackson resumiria tudo com a seguinte frase: "Amigos,
amigos, negócios à parte". Nunca mais voltaram a trabalhar juntos embora
as regras de boa educação fizessem com que evitassem uma troca de
acusações por meio da imprensa na época!
Além de Michael Jackson, Paul resolveu formar uma nova banda para as gravações, formação essa que eu pessoalmente considero das melhores, contando com o ex-Beatle Ringo Starr (dispensa maiores apresentações), Denny Laine (do Wings), Eric Stewart (ex-10cc) e Stanley Clarke (um instrumentista excepcionalmente talentoso). Tantos talentos juntos geraram um excelente álbum com músicas excepcionais como a própria música título, "Pipes of Peace", que ganhou um dos melhores videoclips da carreira de McCarntey. Passada na I Guerra Mundial a estória relembra um pequeno evento, baseado em fatos reais, que aconteceu quando dois exércitos inimigos resolveram bater uma bolinha nos campos enlameados do front durante uma trégua. Paul inclusive surge dos dois lados, como um inglês e como um alemão. Extremamente bem produzido o clip até hoje é lembrado, tal sua qualidade. A música "Say, Say, Say" também virou um videoclip bastante divertido com Paul e Michael interpretando charlatões no século passado. A canção se tornou o carro chefe do disco e foi lançada em single que trazia uma estranha capa com Paul e Michael com pernas enormes, realmente desproporcionais. No lado B desse single foi encaixada a bacaninha "Ode a Koala Bear", uma musiquinha muito simpática e bem arranjada.
Um fato curioso é que Paul, na época da gravação desse disco, estava muito envolvido no projeto para um musical a ser lançado no cinema. Assim as coisas ficaram meio atropeladas. Tentando ganhar tempo Paul acabou incluindo várias composições que iriam entrar em "Tug Of War", mas que acabaram ficando de fora do disco como "Keep Under Cover", "Hey Hey", "Tug Of Peace" e "Sweetest Little Show". Talvez por essa razão "Pipes of Peace" ganharia uma injusta fama de ser uma “sobra” de "Tug of War". Tal forma de pensar é bem injusta pois o álbum apesar de sofrer influências do disco anterior certamente tem identidade própria. No final o disco fez sucesso, e apesar dos pesares, conseguiu emplacar nas paradas, chegando a vender 1 milhão de cópias apenas nos EUA. O êxito prosseguiu em vários outros países conquistando vários discos de ouro e platina. Paul McCartney assim confirmava mais uma vez sua grande vocação para o sucesso.
1. Pipes of Peace (Paul McCartney) - Paul sempre caprichou nas canções que davam título aos seus álbuns. O mesmo aconteceu com a música "Pipes of Peace". A inspiração para Paul veio de um evento histórico real acontecido durante a Primeira Guerra Mundial, quando soldados ingleses e alemães, inimigos no campo de batalha, aproveitaram uma trégua para disputar uma animada pelada de futebol no meio dos campos cheios de lama desse conflito que ficou conhecido como a guerra das trincheiras. O clip obviamente aproveitou a ideia e usou um artifício bastante curioso, colocando Paul atuando tanto como um soldado inglês como um alemão, com seus uniformes, bigodinhos e insígnias próprias de cada país. Realmente genial. Em termos musicais Paul e George Martin (sempre ele, sempre presente nos melhores trabalhos dos Beatles) criaram um maravilhoso arranjo, clássico e erudito, para acompanhar a singela letra. Eu considero essa gravação uma verdadeira obra prima, sem favor algum!
2. Say Say Say (Paul McCartney / Michael Jackson) - O maior sucesso desse disco foi uma parceria que Paul fez com Michael Jackson. Na verdade era uma troca de gentilezas. Paul trabalhou no álbum "Thriller" de Jackson, cantando na canção "The Girl Is Mine" e ele retribuiu aqui, gravando "Say Say Say" ao lado de Paul. Na época Michael Jackson era certamente o maior nome da música. Nunca um disco havia vendido tanto como "Thriller" (recorde que permanece até os dias de hoje) e ele estava no auge de sua popularidade. Era um super astro do mundo da música, estava realmente no topo do mundo! "Say Say Say" foi lançada como single e ganhou um clip. Desnecessário dizer que foi um mega sucesso. No videoclip (lembre-se que a MTV estava nascendo), Paul e Michael interpretavam vendedores ambulantes do começo do século XX, um tipo muito comum naquele tempo. Vendendo garrafas de elixir milagroso (que não passavam de embustes) eles tinham que dar no pé assim que o golpe era descoberto. Um dos melhores clips de Paul e Jackson que ajudou o álbum a vender muito, se tornando um dos singles campeões de vendas dos anos 80.
3. The Other Me (Paul McCartney) - Essa canção "The Other Me" quase entrou no álbum "Tug of War", mas ficou de fora por falta de espaço. Na verdade Paul tinha tantas composições disponíveis naquela época - uma das mais criativas e produtivas de sua carreira - que ele até mesmo cogitou a possibilidade de gravar um disco duplo. Só desistiu da ideia depois que a gravadora EMI o aconselhou a gravar dois discos separados, um para ser lançado em 1982 e outro em 1983. Comercialmente seria mais interessante. Paul concordou com a ideia e assim tivemos "Tug of War" e "Pipes of Peace", duas obras primas da carreira solo de McCartney. A letra da música fala sobre o "Outro Eu". Nos versos Paul resume a questão ao cantar: "Eu sei que fui um louco idiota / Por tratá-la do jeito que tratei / Mas algo tomou conta de mim / Eu realmente não ficaria surpreso / Se você tentasse encontrar um "Outro Eu". Dizem alguns autores que Paul escreveu essa letra como um pedido de desculpas para a sua esposa Linda. Houve uma época em que ele começou a beber em demasia e Linda o confrontou sobre isso, gerando grandes discussões entre o casal. Ao que tudo indica Paul realmente entendeu que ele estava errado, agindo como um idiota. Pois é, nunca é tarde para se reconhecer um erro.
4. Keep Under Cover (Paul McCartney) - Um dos problemas desse disco é que ele foi lançado em um espaço de tempo muito curto em relação ao disco anterior, "Tug Of War". Isso fez com que Paul utilizasse material que havia sido descartado nos trabalhos das sessões de 1982. Um exemplo disso vem em "Keep Under Cover" que fazia parte da primeira lista de canções que deveriam fazer parte de "Tug of War". Como foi descartada, Paul resolveu colocá-la aqui nesse LP. Ao lado de George Martin, Paul criou um arranjo que saísse do comum, ao invés do tradicional piano ele resolveu acrescentar belos solos de cravo, de forma bem discreta, ao fundo. A letra foi escrita na fazenda de Paul na Escócia e tem tudo a ver com a vida cotidiana por lá. Para torná-la mais comercialmente viável Paul colocou alguns clichês, versos de amor bem banais, para falar a verdade. Apesar disso (ou em razão disso) a música acabou funcionando muito bem do ponto de vista harmônico.
5. So Bad (Paul McCartney) - A balada "So Bad" é um dos melhores momentos desse álbum. Mostra claramente o tipo de composição que Paul sempre soube fazer muito bem. Baladas românticas, sem medo de soarem piegas ou bregas. A música tem belos versos como "Há uma dor, dentro de meu coração / Você significa muito para mim / Garota, Eu te amo / Garota, Eu te amo tanto!" - versos mais do que simples, mas que acabam tocando qualquer um que esteja apaixonado. Paul sempre soube criar grandes músicas usando versos batidos, isso é bem verdade, mas que são atemporais, nunca perdendo a essência de sua mensagem de amor. Paul sempre foi um romântico incorrigível, vamos ser bem sinceros e isso talvez tenha sido o segredo de seu sucesso como Beatle e depois como artista solo. O simples, muitas vezes, funciona mais do que o complexo, o rebuscado.
6. The Man (Paul McCartney / Michael Jackson) - "The Man" foi a outra canção feita em parceria com Michael Jackson. Paul estava bem à vontade e animado por trabalhar ao lado do cantor mais famoso do mundo na época, mas a amizade teve um fim precoce. Michael Jackson, sem avisar a Paul, lhe passou uma rasteira, comprando todo o catálogo das canções dos Beatles, justamente em um período em que Paul se preparava financeiramente para ele mesmo adquirir as canções que havia escrito ao lado de John Lennon. Isso significou o fim da aproximação entre Paul e Michael. Nunca mais se falaram novamente. Uma pena, porque pelo menos artisticamente eles pareciam dar muito certo. Basta ouvir essa balada "The Man", um primor pop que tocou muito nas rádios da época, para ter certeza disso. Tem um refrão pegajoso, um bom arranjo instrumental e aquela vocação para se tornar hit nas rádios (coisa que a música realmente se tornou assim que foi lançada).
7. Sweetest Little Show (Paul McCartney) - Já "Sweetest Little Show" se sobressai pelos bons arranjos acústicos. É interessante que Paul, ao trabalhar ao lado de George Martin, sempre procurava por bons materiais, uma vez que o famoso produtor só aceitava trabalhar tendo total poder de veto, ou seja, Martin podia rejeitar qualquer composição que Paul trouxesse para o estúdio caso ele entendesse que não era muito boa. Claro que também com os anos o relacionamento entre eles foi se desgastando justamente por isso. Paul era tão dominador e controlador quanto George Martin. O próprio George Harrison em vários ocasiões acusou Paul de ser um arrogante prepotente dentro dos estúdios, sempre impondo suas escolhas aos outros. Embora respeitasse muito George Martin pelo que ele havia feito pelos Beatles no começo da carreira, ele agora não parecia mais disposto a ouvir um não de seu produtor. Por essa razão também essa música acabou sendo uma das últimas parcerias entre eles. Paul ficou possesso, pois George Martin quase a tirou do disco "Pipes of Peace" por ser, em sua opinião, "banal demais". Imaginem o ataque de raiva de Paul, o controlador, ao ouvir esse tipo de crítica!
8. Average Person (Paul McCartney) - Se você estiver procurando conhecendo melhor o som mais pop dos anos 80 eu recomendo essa gravação de Paul para o álbum "Pipes of Peace". Notem os arranjos, algo que foi muito utilizado pelos grupos da época. No meio dos efeitos sonoros, Paul parece ter usado todos os instrumentos que eram modinha naqueles tempos, com direito a uma bateria eletrônica e muitos sintetizadores. É interessante porque gravações como essa acabam ficando mais datadas do que as demais, feitas ao estilo mais tradicional. Pois é, o moderninho tem mesmo a tendência de envelhecer mais rápido do que a velha e boa sonoridade musical de raiz. Fica a lição.
9. Hey Hey (Paul McCartney) - Um fato curioso é que "Pipes of Peace" foi gravado meio às pressas, para aproveitar o sucesso da parceria entre Michael Jackson e Paul McCartney (que juntos gravaram duas músicas, "Say Say Say" e "The Man"). Assim Paul teve que se virar para completar o álbum. Uma das soluções que ele encontrou foi encaixar algumas composições que havia criado para o disco anterior, "Tug of War". Ele pegou algumas faixas que tinham sobrado, muitos delas trabalhadas ao lado do produtor George Martin (dos Beatles) e começou a trabalhar em cima delas. Algo de bom poderia sair daquelas canções inacabadas. Uma dessas músicas descartadas foi "Hey Hey". Na verdade a falta de tempo fica patente na faixa que sequer tem letra! Na verdade é uma boa jam session de Paul com seu grupo e nada mais! Curiosamente a canção até tem boa melodia, agradável, mas nada disfarça o fato dela ser uma grande encheção de linguiça. O próprio Paul ficou um pouco decepcionado de ter incluído canções como essa (que no máximo poderiam ser usadas como lados B de seus compactos mais obscuros). Anos depois ele diria: "Não tive realmente tempo de colocar algo melhor no disco. Reconheço minha falha!".
10. Tug of Peace (Paul McCartney) - "Tug Of Peace", por sua vez, é o que gosto de chamar de canção link! O que exatamente significa isso? Essencialmente é uma faixa de ligação com o disco anterior, "Tug of War". Quase que puramente instrumental - com um pequeno refrão por um coro que parece ter saído de algum álbum dos Wings - essa faixa é apenas uma espécie de gravação experimental de Paul no disco. Afinal os fãs dos Beatles pensavam que apenas John Lennon e Yoko Ono podiam se dar ao prazer de gravar faixas assim? Porém ser experimental era obviamente pouco para Paul McCartney. Assim o ex-Beatle escreveu alguns belos arranjos para solos de sua guitarra Gibson, que atravessam praticamente toda a gravação. Uma canção um pouco abaixo das demais presentes nesse disco, mas certamente uma das mais interessantes do ponto de vista puramente musical. Paul sendo um pouco Lennon, para variar.
11. Through Our Love (Paul McCartney) - Embora, como sempre, tenha seus detratores, o fato é que o álbum "Pipes of Peace" também tem momentos muito bons, canções inegavelmente bem escritas. A música "Through Our Love" selecionada por Paul para fechar o disco, tem uma melodia belíssima e um maravilhoso arranjo. Aqui Paul realmente trabalhou duro ao lado do produtor e maestro George Martin para lapidar cada nuance, cada nota. A letra, despudoradamente romântica é quase uma carta de amor de Paul (obviamente para Linda) para deixar as coisas sem importância para trás, não se perdendo mais tempo com elas. Em reflexão Paul admite que já perdeu tempo demais em coisas sem a menor importância. O que importa no final de tudo é realmente dar o amor para a pessoa que se ama, nada mais. Enfim, uma bela melodia embalada por uma letra bem articulada, honesta, cheia de sentimentos. Paul em sua mais pura essência.
Pablo Aluísio.
Além de Michael Jackson, Paul resolveu formar uma nova banda para as gravações, formação essa que eu pessoalmente considero das melhores, contando com o ex-Beatle Ringo Starr (dispensa maiores apresentações), Denny Laine (do Wings), Eric Stewart (ex-10cc) e Stanley Clarke (um instrumentista excepcionalmente talentoso). Tantos talentos juntos geraram um excelente álbum com músicas excepcionais como a própria música título, "Pipes of Peace", que ganhou um dos melhores videoclips da carreira de McCarntey. Passada na I Guerra Mundial a estória relembra um pequeno evento, baseado em fatos reais, que aconteceu quando dois exércitos inimigos resolveram bater uma bolinha nos campos enlameados do front durante uma trégua. Paul inclusive surge dos dois lados, como um inglês e como um alemão. Extremamente bem produzido o clip até hoje é lembrado, tal sua qualidade. A música "Say, Say, Say" também virou um videoclip bastante divertido com Paul e Michael interpretando charlatões no século passado. A canção se tornou o carro chefe do disco e foi lançada em single que trazia uma estranha capa com Paul e Michael com pernas enormes, realmente desproporcionais. No lado B desse single foi encaixada a bacaninha "Ode a Koala Bear", uma musiquinha muito simpática e bem arranjada.
Um fato curioso é que Paul, na época da gravação desse disco, estava muito envolvido no projeto para um musical a ser lançado no cinema. Assim as coisas ficaram meio atropeladas. Tentando ganhar tempo Paul acabou incluindo várias composições que iriam entrar em "Tug Of War", mas que acabaram ficando de fora do disco como "Keep Under Cover", "Hey Hey", "Tug Of Peace" e "Sweetest Little Show". Talvez por essa razão "Pipes of Peace" ganharia uma injusta fama de ser uma “sobra” de "Tug of War". Tal forma de pensar é bem injusta pois o álbum apesar de sofrer influências do disco anterior certamente tem identidade própria. No final o disco fez sucesso, e apesar dos pesares, conseguiu emplacar nas paradas, chegando a vender 1 milhão de cópias apenas nos EUA. O êxito prosseguiu em vários outros países conquistando vários discos de ouro e platina. Paul McCartney assim confirmava mais uma vez sua grande vocação para o sucesso.
1. Pipes of Peace (Paul McCartney) - Paul sempre caprichou nas canções que davam título aos seus álbuns. O mesmo aconteceu com a música "Pipes of Peace". A inspiração para Paul veio de um evento histórico real acontecido durante a Primeira Guerra Mundial, quando soldados ingleses e alemães, inimigos no campo de batalha, aproveitaram uma trégua para disputar uma animada pelada de futebol no meio dos campos cheios de lama desse conflito que ficou conhecido como a guerra das trincheiras. O clip obviamente aproveitou a ideia e usou um artifício bastante curioso, colocando Paul atuando tanto como um soldado inglês como um alemão, com seus uniformes, bigodinhos e insígnias próprias de cada país. Realmente genial. Em termos musicais Paul e George Martin (sempre ele, sempre presente nos melhores trabalhos dos Beatles) criaram um maravilhoso arranjo, clássico e erudito, para acompanhar a singela letra. Eu considero essa gravação uma verdadeira obra prima, sem favor algum!
2. Say Say Say (Paul McCartney / Michael Jackson) - O maior sucesso desse disco foi uma parceria que Paul fez com Michael Jackson. Na verdade era uma troca de gentilezas. Paul trabalhou no álbum "Thriller" de Jackson, cantando na canção "The Girl Is Mine" e ele retribuiu aqui, gravando "Say Say Say" ao lado de Paul. Na época Michael Jackson era certamente o maior nome da música. Nunca um disco havia vendido tanto como "Thriller" (recorde que permanece até os dias de hoje) e ele estava no auge de sua popularidade. Era um super astro do mundo da música, estava realmente no topo do mundo! "Say Say Say" foi lançada como single e ganhou um clip. Desnecessário dizer que foi um mega sucesso. No videoclip (lembre-se que a MTV estava nascendo), Paul e Michael interpretavam vendedores ambulantes do começo do século XX, um tipo muito comum naquele tempo. Vendendo garrafas de elixir milagroso (que não passavam de embustes) eles tinham que dar no pé assim que o golpe era descoberto. Um dos melhores clips de Paul e Jackson que ajudou o álbum a vender muito, se tornando um dos singles campeões de vendas dos anos 80.
3. The Other Me (Paul McCartney) - Essa canção "The Other Me" quase entrou no álbum "Tug of War", mas ficou de fora por falta de espaço. Na verdade Paul tinha tantas composições disponíveis naquela época - uma das mais criativas e produtivas de sua carreira - que ele até mesmo cogitou a possibilidade de gravar um disco duplo. Só desistiu da ideia depois que a gravadora EMI o aconselhou a gravar dois discos separados, um para ser lançado em 1982 e outro em 1983. Comercialmente seria mais interessante. Paul concordou com a ideia e assim tivemos "Tug of War" e "Pipes of Peace", duas obras primas da carreira solo de McCartney. A letra da música fala sobre o "Outro Eu". Nos versos Paul resume a questão ao cantar: "Eu sei que fui um louco idiota / Por tratá-la do jeito que tratei / Mas algo tomou conta de mim / Eu realmente não ficaria surpreso / Se você tentasse encontrar um "Outro Eu". Dizem alguns autores que Paul escreveu essa letra como um pedido de desculpas para a sua esposa Linda. Houve uma época em que ele começou a beber em demasia e Linda o confrontou sobre isso, gerando grandes discussões entre o casal. Ao que tudo indica Paul realmente entendeu que ele estava errado, agindo como um idiota. Pois é, nunca é tarde para se reconhecer um erro.
4. Keep Under Cover (Paul McCartney) - Um dos problemas desse disco é que ele foi lançado em um espaço de tempo muito curto em relação ao disco anterior, "Tug Of War". Isso fez com que Paul utilizasse material que havia sido descartado nos trabalhos das sessões de 1982. Um exemplo disso vem em "Keep Under Cover" que fazia parte da primeira lista de canções que deveriam fazer parte de "Tug of War". Como foi descartada, Paul resolveu colocá-la aqui nesse LP. Ao lado de George Martin, Paul criou um arranjo que saísse do comum, ao invés do tradicional piano ele resolveu acrescentar belos solos de cravo, de forma bem discreta, ao fundo. A letra foi escrita na fazenda de Paul na Escócia e tem tudo a ver com a vida cotidiana por lá. Para torná-la mais comercialmente viável Paul colocou alguns clichês, versos de amor bem banais, para falar a verdade. Apesar disso (ou em razão disso) a música acabou funcionando muito bem do ponto de vista harmônico.
5. So Bad (Paul McCartney) - A balada "So Bad" é um dos melhores momentos desse álbum. Mostra claramente o tipo de composição que Paul sempre soube fazer muito bem. Baladas românticas, sem medo de soarem piegas ou bregas. A música tem belos versos como "Há uma dor, dentro de meu coração / Você significa muito para mim / Garota, Eu te amo / Garota, Eu te amo tanto!" - versos mais do que simples, mas que acabam tocando qualquer um que esteja apaixonado. Paul sempre soube criar grandes músicas usando versos batidos, isso é bem verdade, mas que são atemporais, nunca perdendo a essência de sua mensagem de amor. Paul sempre foi um romântico incorrigível, vamos ser bem sinceros e isso talvez tenha sido o segredo de seu sucesso como Beatle e depois como artista solo. O simples, muitas vezes, funciona mais do que o complexo, o rebuscado.
6. The Man (Paul McCartney / Michael Jackson) - "The Man" foi a outra canção feita em parceria com Michael Jackson. Paul estava bem à vontade e animado por trabalhar ao lado do cantor mais famoso do mundo na época, mas a amizade teve um fim precoce. Michael Jackson, sem avisar a Paul, lhe passou uma rasteira, comprando todo o catálogo das canções dos Beatles, justamente em um período em que Paul se preparava financeiramente para ele mesmo adquirir as canções que havia escrito ao lado de John Lennon. Isso significou o fim da aproximação entre Paul e Michael. Nunca mais se falaram novamente. Uma pena, porque pelo menos artisticamente eles pareciam dar muito certo. Basta ouvir essa balada "The Man", um primor pop que tocou muito nas rádios da época, para ter certeza disso. Tem um refrão pegajoso, um bom arranjo instrumental e aquela vocação para se tornar hit nas rádios (coisa que a música realmente se tornou assim que foi lançada).
7. Sweetest Little Show (Paul McCartney) - Já "Sweetest Little Show" se sobressai pelos bons arranjos acústicos. É interessante que Paul, ao trabalhar ao lado de George Martin, sempre procurava por bons materiais, uma vez que o famoso produtor só aceitava trabalhar tendo total poder de veto, ou seja, Martin podia rejeitar qualquer composição que Paul trouxesse para o estúdio caso ele entendesse que não era muito boa. Claro que também com os anos o relacionamento entre eles foi se desgastando justamente por isso. Paul era tão dominador e controlador quanto George Martin. O próprio George Harrison em vários ocasiões acusou Paul de ser um arrogante prepotente dentro dos estúdios, sempre impondo suas escolhas aos outros. Embora respeitasse muito George Martin pelo que ele havia feito pelos Beatles no começo da carreira, ele agora não parecia mais disposto a ouvir um não de seu produtor. Por essa razão também essa música acabou sendo uma das últimas parcerias entre eles. Paul ficou possesso, pois George Martin quase a tirou do disco "Pipes of Peace" por ser, em sua opinião, "banal demais". Imaginem o ataque de raiva de Paul, o controlador, ao ouvir esse tipo de crítica!
8. Average Person (Paul McCartney) - Se você estiver procurando conhecendo melhor o som mais pop dos anos 80 eu recomendo essa gravação de Paul para o álbum "Pipes of Peace". Notem os arranjos, algo que foi muito utilizado pelos grupos da época. No meio dos efeitos sonoros, Paul parece ter usado todos os instrumentos que eram modinha naqueles tempos, com direito a uma bateria eletrônica e muitos sintetizadores. É interessante porque gravações como essa acabam ficando mais datadas do que as demais, feitas ao estilo mais tradicional. Pois é, o moderninho tem mesmo a tendência de envelhecer mais rápido do que a velha e boa sonoridade musical de raiz. Fica a lição.
9. Hey Hey (Paul McCartney) - Um fato curioso é que "Pipes of Peace" foi gravado meio às pressas, para aproveitar o sucesso da parceria entre Michael Jackson e Paul McCartney (que juntos gravaram duas músicas, "Say Say Say" e "The Man"). Assim Paul teve que se virar para completar o álbum. Uma das soluções que ele encontrou foi encaixar algumas composições que havia criado para o disco anterior, "Tug of War". Ele pegou algumas faixas que tinham sobrado, muitos delas trabalhadas ao lado do produtor George Martin (dos Beatles) e começou a trabalhar em cima delas. Algo de bom poderia sair daquelas canções inacabadas. Uma dessas músicas descartadas foi "Hey Hey". Na verdade a falta de tempo fica patente na faixa que sequer tem letra! Na verdade é uma boa jam session de Paul com seu grupo e nada mais! Curiosamente a canção até tem boa melodia, agradável, mas nada disfarça o fato dela ser uma grande encheção de linguiça. O próprio Paul ficou um pouco decepcionado de ter incluído canções como essa (que no máximo poderiam ser usadas como lados B de seus compactos mais obscuros). Anos depois ele diria: "Não tive realmente tempo de colocar algo melhor no disco. Reconheço minha falha!".
10. Tug of Peace (Paul McCartney) - "Tug Of Peace", por sua vez, é o que gosto de chamar de canção link! O que exatamente significa isso? Essencialmente é uma faixa de ligação com o disco anterior, "Tug of War". Quase que puramente instrumental - com um pequeno refrão por um coro que parece ter saído de algum álbum dos Wings - essa faixa é apenas uma espécie de gravação experimental de Paul no disco. Afinal os fãs dos Beatles pensavam que apenas John Lennon e Yoko Ono podiam se dar ao prazer de gravar faixas assim? Porém ser experimental era obviamente pouco para Paul McCartney. Assim o ex-Beatle escreveu alguns belos arranjos para solos de sua guitarra Gibson, que atravessam praticamente toda a gravação. Uma canção um pouco abaixo das demais presentes nesse disco, mas certamente uma das mais interessantes do ponto de vista puramente musical. Paul sendo um pouco Lennon, para variar.
11. Through Our Love (Paul McCartney) - Embora, como sempre, tenha seus detratores, o fato é que o álbum "Pipes of Peace" também tem momentos muito bons, canções inegavelmente bem escritas. A música "Through Our Love" selecionada por Paul para fechar o disco, tem uma melodia belíssima e um maravilhoso arranjo. Aqui Paul realmente trabalhou duro ao lado do produtor e maestro George Martin para lapidar cada nuance, cada nota. A letra, despudoradamente romântica é quase uma carta de amor de Paul (obviamente para Linda) para deixar as coisas sem importância para trás, não se perdendo mais tempo com elas. Em reflexão Paul admite que já perdeu tempo demais em coisas sem a menor importância. O que importa no final de tudo é realmente dar o amor para a pessoa que se ama, nada mais. Enfim, uma bela melodia embalada por uma letra bem articulada, honesta, cheia de sentimentos. Paul em sua mais pura essência.
Pablo Aluísio.
U2 - War
Um exemplo você pode conferir nesse "War", cujas intenções do grupo ficam evidenciados logo no título. Que artista pop adolescente dos 80´s iria dar o nome de "Guerra" a um disco? Absolutamente nenhum. Assim o U2 rompeu realmente barreiras. O som do grupo e principalmente as letras fugiam do feijão com arroz, das melodias cheias de sintetizadores e dos temas banais do tipo adolescente ama garota, mas garota não o ama. Na época havia também outro fator importante: O Bono ainda não era tão pretensioso e nem queria salvar o mundo como vemos hoje em dia! Ele apenas fazia um som honesto ao lado de seu conjunto e se considerava apenas um membro da classe trabalhadora irlandesa que conseguiu se destacar no cenário musical - e isso era o ápice da vida deles, não salvar o planeta Terra da destruição como vemos agora. Deixando isso um pouco de lado "War" ainda é muito bom musicalmente e não perdeu a força, mesmo depois de tantos anos. O Rock como gênero musical talvez seja um dos únicos que resiste muito bem ao tempo, praticamente nunca ficando datado (com exceções, é óbvio). De qualquer maneira se você não está nem aí para esse tipo de discussão e quer apenas matar as saudades de sua juventude o disco ainda cai muito bem pois está cheio de hits radiofônicos da época, afinal de contas onde mais você iria ouvir o hino "Sunday Bloody Sunday"?
U2 - War (1983)
Sunday Bloody Sunday / Seconds / New Year's Day / Like a Song../ Drowning Man / The Refugee
Two Hearts Beat as One / Red Light / Surrender / 40 / U2 - War (Irlanda, 1983) Produção: Steve Lillywhite / Selo: Island / Data de gravação: 17 de maio, 20 de agosto de 1982 / Data de Lançamento: Fevereiro de 1983 / Músicos: Bono (vocal, guitarra), The Edge (guitarra, piano), Adam Clayton (baixo), Larry Mullen Jr (bateria), Kenny Fradley (trompete), Steve Wickham (violino), The Coconuts (vocais).
"Sunday Bloody Sunday" talvez seja a música mais politizada do U2. Uma letra relembrando o domingo sangrento, quando os soldados ingleses abriram fogo contra manifestantes irlandeses desarmados, parte da população civil que apenas estava reivindicando seus direitos. Um absurdo completo. A harmonia da música inclusive lembra uma marcha militar para destacar ainda mais a indignação dos membros da banda. E pensar que apenas ditaduras atiravam contra pessoas inocentes... a democrática Inglaterra também carregou essa mancha em seu história.
"Seconds" é a segunda canção do disco. Aqui o teor da letra também é político. Nessa mensagem Bono tenta chamar a atenção para o perigo da corrida armamentista entre as grandes potências nucleares da época (Estados Unidos e União Soviética), cada uma construindo mais e mais armamentos nucleares de alta potencialidade destrutiva. Aonda tudo aquilo iria terminar? O ritmo da canção é muito boa, lembrando inclusive a primeira faixa "Sunday Bloody Sunday". O ritmo se desenvolve como uma marcha militar. Outro recado de Bono sobre os problemas que o mundo vivia naquele momento.
A terceira música desse disco acabou se tornando também seu maior hit nas rádios dos anos 80. Se trata de "New Year's Day". Aqui os arranjos já são bem mais caprichados, com destaque para a guitarra duplicada ao fundo. A gravadora farejou sucesso nessa gravação e lançou como single em janeiro de 1983 com a faixa "Treasure (Whatever Happened to Pete the Chop)" no lado B. O sucesso se confirmou. Foi a primeira música do U2 a ter destaque na parada da Billboard nos Estados Unidos. Também foi a primeira música do grupo a entrar na seletiva lista "Top 10" do Reino Unido. Para jovens irlandeses praticamente desconhecidos foi um avanço e tanto na carreira.
Pablo Aluísio.
sábado, 14 de maio de 2011
The Beatles - The Decca Tapes
Felizmente as gravações sobreviveram ao tempo e podem ser ouvidas aqui nesse álbum. O tal sujeito - que depois seria demitido obviamente por ter recusado o maior fenômeno musical de todos os tempos - alegou que grupos de rock formado apenas por rapazes já estavam fora de moda, que não tinha mais nada a ver aquele tipo de som e que as chances daquele grupo de rock desconhecido de Liverpool dar certo era muito remota. Trocando em miúdos foi um dos maiores banhos de água fria que se poderia imaginar. No caminho de volta da viagem o grupo, claro, ficou bem para baixo, desanimado mesmo. Só não ficaram mais entristecidos porque Brian Epstein tinha uma carta na manga. Ele havia marcado outra audição, dessa vez na gravadora EMI.
Brian havia conhecido um produtor considerado excêntrico dentro da empresa chamado George Martin. Embora fosse um talento musical e maestro de profissão, Martin ganhava a vida gravando discos de comédia no selo Parlophone. Absolutamente ninguém levava a Parlophone à sério dentro da EMI e por isso ninguém ligou muito quando George Martin fechou com os Beatles, assinando o primeiro contrato profissional da vida daqueles jovens. Para os demais executivos da EMI, o velho George Martin só havia contratado um grupo de rock desconhecido para tocar um barulho em seu selo. Mal sabiam eles no que os Beatles iriam se transformar...
De qualquer forma, musicalmente falando, esses primeiros registros na Decca já mostra um conjunto de músicos bem entrosados, fruto da época em que eles se apresentavam diariamente na Alemanha. O repertório, por essa razão, é basicamente o set list de seus concertos em Hamburgo. Há música de salão, para dança, como a famosa "Besame Mucho", rocks mais viscerais como "Money (That's What I Want)" e até covers de Buddy Holly como "Crying, Waiting, Hoping". Em Hamburgo os Beatles tocavam para marinheiros americanos que passavam alguns dias de folga nos clubes noturnos da cidade. Por isso os Beatles tinham de se virar para agradar esses militares. Havia espaço também para músicas surreais como "The Sheik Of Araby" e homenagens ao ídolo Chuck Berry em números como "Memphis Tennessee" que também seria gravada por Elvis Presley alguns anos depois. Enfim, uma boa amostra do tipo de som que os Beatles tocavam em seus primeiros anos de estrada. Não há nenhum deslize por parte deles na audição, todas as canções estão bem tocadas, demonstrando acima de tudo que o executivo que os reprovou na época era mesmo um produtor bem idiota.
The Beatles - The Decca Tapes (1982)
Like Dreamers Do / Money (That's What I Want) / Till There Was You / The Sheik Of Araby / To know Her Is To Love Her / Take Good Care Of My Baby / Memphis Tennessee / Sure to Fall (In Love With You) / Hello Little Girl / Three Cool Cats / Crying, Waiting, Hoping / Love Of The Loved / September In The Rain / Besame Mucho / Searchin. / Data de gravação: janeiro de 1962 / Músicos: John Lennon (guitarra), Paul McCartney (baixo), George Harrison (guitarra), Pete Best (bateria).
Pablo Aluísio.
The Beatles - John Lennon e sua Guitarra Rickenbacker
No auge dos Beatles se criaram vários símbolos associados ao grupo, fossem os cabelos (considerados escandalosamente longos para a época), ou os terninhos britânicos com corte francês. Até mesmo os próprios instrumentos musicais que eles usavam viraram marca da banda. Um dos ícones nesse sentido foi a guitarra Rickenbacker com a qual Lennon gravou praticamente todos os primeiros discos dos Beatles. A famosa marca de instrumentos musicais chegou pela primeira vez a John quando os Beatles tocavam em Hamburgo, na Alemanha. Isso mesmo, o design e a tecnologia da Rickenbacker eram alemães. É curioso que enquanto os outros ídolos da música, como Elvis Presley, preferiam a tradicional Gibson, Lennon não abria mão da sua guitarrinha alemã, que nem era considerada tão boa e cheia de recursos como as demais.
Nos tempos do Cavern Club a guitarra que John Lennon usava era conhecida como Heiligengeistfeld. Era um modelo mais simples (até tosco, diria) sem muitos recursos. O instrumento era de tal forma fraco em suas qualificações técnicas que o próprio Lennon precisou modificá-la. Algo que ele mesmo fez com uma velha chave de fenda. Ele instalou vários acessórios Hofner comprados numa loja de instrumentos musicais de Hamburgo. A grana era curta, os Beatles tocavam na noite para ter o que comer no dia seguinte. Em tempos de dureza a criatividade geralmente despontava.
Depois que os Beatles voltaram para a Inglaterra a sorte começou a mudar e John Lennon aposentou sua velha companheira de palco. Em fins de 1961 ele adquiriu uma guitarra Rickenbacker 325 conhecida popularmente como modelo Capri. Foi essa guitarra que se tornou mundialmente famosa em suas mãos pois foi tocando nela que Lennon atravessou a fase mais gloriosa dos Beatles. A usou em praticamente todos os álbuns do grupo de "Please Please Me" até "Rubber Soul" quando a própria sonoridade dos Beatles começou a mudar, deixando de lado a boa e velha Rickenbacker. Um fato curioso sobre essa guitarra é que John Lennon a destruiu em 1967 durante uma bebedeira em sua casa em Londres. Em uma farra John a teria jogado do segundo andar e o instrumento se espatifou no chão com a queda.
Alguns anos atrás um segundo instrumento, do mesmo modelo e que também havia pertencido a Lennon, foi vendido em um leilão por 800 mil dólares. Essa segunda guitarra pertencia a Ringo Starr que teria sido presenteado com ela por John em Nova Iorque no ano de 1975. Ringo visitava os Estados Unidos quando em um encontro no apartamento de Lennon ele teria oferecido o instrumento a Ringo "pelos bons e velhos tempos dos Beatles". Não era a mesma dos acordes inesquecíveis dos discos dos Beatles, mas de qualquer maneira, como foi provado em leilão, tinha também seu valor histórico e musical.
Pablo Aluísio.
Nos tempos do Cavern Club a guitarra que John Lennon usava era conhecida como Heiligengeistfeld. Era um modelo mais simples (até tosco, diria) sem muitos recursos. O instrumento era de tal forma fraco em suas qualificações técnicas que o próprio Lennon precisou modificá-la. Algo que ele mesmo fez com uma velha chave de fenda. Ele instalou vários acessórios Hofner comprados numa loja de instrumentos musicais de Hamburgo. A grana era curta, os Beatles tocavam na noite para ter o que comer no dia seguinte. Em tempos de dureza a criatividade geralmente despontava.
Depois que os Beatles voltaram para a Inglaterra a sorte começou a mudar e John Lennon aposentou sua velha companheira de palco. Em fins de 1961 ele adquiriu uma guitarra Rickenbacker 325 conhecida popularmente como modelo Capri. Foi essa guitarra que se tornou mundialmente famosa em suas mãos pois foi tocando nela que Lennon atravessou a fase mais gloriosa dos Beatles. A usou em praticamente todos os álbuns do grupo de "Please Please Me" até "Rubber Soul" quando a própria sonoridade dos Beatles começou a mudar, deixando de lado a boa e velha Rickenbacker. Um fato curioso sobre essa guitarra é que John Lennon a destruiu em 1967 durante uma bebedeira em sua casa em Londres. Em uma farra John a teria jogado do segundo andar e o instrumento se espatifou no chão com a queda.
Alguns anos atrás um segundo instrumento, do mesmo modelo e que também havia pertencido a Lennon, foi vendido em um leilão por 800 mil dólares. Essa segunda guitarra pertencia a Ringo Starr que teria sido presenteado com ela por John em Nova Iorque no ano de 1975. Ringo visitava os Estados Unidos quando em um encontro no apartamento de Lennon ele teria oferecido o instrumento a Ringo "pelos bons e velhos tempos dos Beatles". Não era a mesma dos acordes inesquecíveis dos discos dos Beatles, mas de qualquer maneira, como foi provado em leilão, tinha também seu valor histórico e musical.
Pablo Aluísio.
sexta-feira, 13 de maio de 2011
The Beatles - Beatles VI (1965)
Certa vez John Lennon disse que não conseguia entender direito a discografia americana dos Beatles. Como se sabe a Capitol, gravadora que detinha os direitos de lançamento dos discos dos Beatles nos Estados Unidos, criava seus próprios álbuns e esses eram bem diferentes dos discos ingleses (só para situar o leitor é interessante explicar que a discografia inglesa é de fato a oficial dos Beatles). Pois bem, os executivos da Capitol geralmente pincelavam faixas soltas e as misturavam com canções dos álbuns originais ingleses. Para completar o caldeirão fundiam tudo com singles ingleses e europeus.
"Beatles VI" vai por esse caminho. Na verdade se trata, muito a grosso modo, de uma fusão dos discos britânicos "Beatles For Sale" e "Help!". O curioso é que esses álbuns venderam imensamente mais cópias do que os originais britânicos, uma vez que o mercado inglês não poderia ser comparado com a complexidade e a imensidão do mercado consumidor americano. Para nós, brasileiros, esse disco soava completamente estranho pois felizmente a Emi Odeon no Brasil resolveu seguir, sabiamente, o catálogo original que foi lançado na Inglaterra e no resto da Europa (com obviamente pequenas exceções como os discos brasileiros ao estilo "Beatlemania" e "Beatles Again").
É curioso perceber também o fato de que o disco é basicamente uma seleção de covers, principalmente de cantores e compositores americanos (como Buddy Holly e a dupla Leiber e Stoller). Um tipo de homenagem fabricada Made in USA dos Beatles em relação ao rock feito na América. Uma espécie de "Yankees Go Home" ao avesso! Lançado nos Estados Unidos em meados dos anos 60 o LP original vendeu muito e alcançou os primeiros lugares da parada naquele país. Depois disso o álbum foi poucas vezes relançado no mercado americano, talvez pelo fato de que a partir dos anos 70 o interesse dos fãs americanos cresceu em relação aos discos do Reino Unido. No Brasil o LP nunca foi lançado, nem antes e nem depois, sendo cópias americanas um item raro entre colecionadores. Pois é, banda de alcance internacional, os Beatles também apresentavam diferenças nas diversas discografias das mais diferentes nações.
The Beatles - Beatles VI (1965)
Kansas City / Eight Days A Week / You Like Me Too Much / Bad Boy / I Don't Want To Spoil The Party / Words Of Love / What You're Doing / Yes It Is / Dizzy Miss Lizzie / Tell Me What You See / Every Little Thing / País de origem: Estados Unidos / Estúdio / Selo: Capitol Records / Produção das gravações originais: George Martin / Formato Original: Vinil / Músicos: John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr.
Pablo Aluísio.
"Beatles VI" vai por esse caminho. Na verdade se trata, muito a grosso modo, de uma fusão dos discos britânicos "Beatles For Sale" e "Help!". O curioso é que esses álbuns venderam imensamente mais cópias do que os originais britânicos, uma vez que o mercado inglês não poderia ser comparado com a complexidade e a imensidão do mercado consumidor americano. Para nós, brasileiros, esse disco soava completamente estranho pois felizmente a Emi Odeon no Brasil resolveu seguir, sabiamente, o catálogo original que foi lançado na Inglaterra e no resto da Europa (com obviamente pequenas exceções como os discos brasileiros ao estilo "Beatlemania" e "Beatles Again").
É curioso perceber também o fato de que o disco é basicamente uma seleção de covers, principalmente de cantores e compositores americanos (como Buddy Holly e a dupla Leiber e Stoller). Um tipo de homenagem fabricada Made in USA dos Beatles em relação ao rock feito na América. Uma espécie de "Yankees Go Home" ao avesso! Lançado nos Estados Unidos em meados dos anos 60 o LP original vendeu muito e alcançou os primeiros lugares da parada naquele país. Depois disso o álbum foi poucas vezes relançado no mercado americano, talvez pelo fato de que a partir dos anos 70 o interesse dos fãs americanos cresceu em relação aos discos do Reino Unido. No Brasil o LP nunca foi lançado, nem antes e nem depois, sendo cópias americanas um item raro entre colecionadores. Pois é, banda de alcance internacional, os Beatles também apresentavam diferenças nas diversas discografias das mais diferentes nações.
The Beatles - Beatles VI (1965)
Kansas City / Eight Days A Week / You Like Me Too Much / Bad Boy / I Don't Want To Spoil The Party / Words Of Love / What You're Doing / Yes It Is / Dizzy Miss Lizzie / Tell Me What You See / Every Little Thing / País de origem: Estados Unidos / Estúdio / Selo: Capitol Records / Produção das gravações originais: George Martin / Formato Original: Vinil / Músicos: John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr.
Pablo Aluísio.
The Beatles - Eleanor Rigby
Um grupo de músicos foi contratado e Paul e Martin começaram a lapidar a canção em Abbey Road. Para se ter uma ideia Ringo Starr nem sequer participou da gravação da música. John e George só colaboraram fazendo os vocais de apoio. Embora John tenha creditada a canção como uma de suas criações, o fato é que sua participação foi quase nula. Paul esclareceria anos depois que John havia escrito apenas uma linha da letra e feito o backing vocal, nada muito além disso. Aliás nenhum dos Beatles tocou na faixa, sendo tudo providenciado mesmo pelo gênio George Martin.
A letra, composta quase que exclusivamente por Paul falava sobre solidão. Essa é certamente uma das letras mais cinematográficas dos Beatles pois em essência narra o enterro de Eleanor Rigby, uma pessoa solitária, em cujo funeral ninguém compareceu a não ser o Padre McKenzie para fazer as orações finais. Durante anos Paul disse que a personagem Eleanor Rigby era ficcional, tanto que antes de escolher esse nome outros foram usados na composição como Miss Daisy Hawkins.
A sonoridade porém não agradava Paul que depois finalmente encontrou o que procurava em "Eleanor Rigby". A explicação soava bem plausível, isso até historiadores dos Beatles encontrarem uma lápide real no cemitério de Liverpool com o nome de Eleanor Rigby, cuja data de falecimento constava como o de 1939. Informado sobre a descoberta Paul se disse completamente surpreso. Quem sabe seu nome ficou em seu subconsciente, pois Paul costumava frequentar o local quando era mais jovem. Mais um mistério na história desse verdadeiro clássico da carreira dos Beatles.
Eleanor Rigby (Paul McCartney / John Lennon) Álbum: Revolver / Data de Gravação: 28 e 29 de abril, 6 de junho de 1966 / Local de Gravação: Abbey Road Studios, Londres / Produtor: George Martin / Músicos: Paul McCartney (vocal), John Lennon (vocal), George Harrison (vocal), Tony Gilbert (violino), Sidney Sax (violino), John Sharpe (violino), Juergen Hess (violino), Stephen Shingles (violão), John Underwood (violão), Derek Simpson (violoncelo), Norman Jones (violoncelo).
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 12 de maio de 2011
John Lennon - Live Peace in Toronto
Em 1969 chegou nas lojas o álbum "John Lennon - Live Peace in
Toronto". Esse pode ser considerado o primeiro disco solo de John do
ponto de vista puramente musical. Seus outros trabalhos ao lado de Yoko
Ono traziam apenas sons experimentais e nada mais. Aqui sim havia
finalmente música. É um show ao vivo com a Plastic Ono Band, um arremedo
de grupo musical que John reuniu às pressas para fazer o concerto. O disco abre com um cover de Lennon para o clássico de Carl Perkins, "Blue Suede Shoes",
que como todos sabemos se tornaria imortal mesmo na voz de Elvis
Presley. Apesar da pressa de se ensaiar na véspera do show e tudo mais,
essa versão de John Lennon é bem executada, diria até muito boa. Há uma
pegada bem mais pesada do que as versões originais e os solos de
guitarra valorizam muito o resultado final. Com essa performance Lennon
quis deixar claro suas raízes, de onde tinha surgido sua vontade de ser
um roqueiro. Tudo podia ser encontrado nos primeiros discos da pioneira
geração do rock americano. O resto era bobagem.
Depois ele mais uma vez deixou o arranjo mais pesado e visceral nessa nova versão de "Money", uma canção marcante dos primeiros discos dos Beatles. É impossível não lembrar dos Beatles aqui. A melodia foi, digamos, modificada bastante por John. Ficou com menos velocidade, mas também mais pesada. Uma solução por parte de Lennon que me agradou completamente devo dizer. A única ausência mais sentida vem da ausência justamente dos vocais de apoio de Paul e George. A voz isolada de John deixa uma sensação de vácuo, de que algo está faltando. E está mesmo, pois os Beatles eram mesmo insubstituíveis.
Depois de dois covers - excelentes, é bom frisar - John se sai com uma versão envenenada de "Dizzy, Miss Lizzy". Essa canção fechava o álbum "Help!" dos Beatles. Não era uma composição de Lennon e McCartney, mas sim uma faixa composta por Larry Williams. Na época de sua gravação original ao lado dos Beatles, John justificou sua gravação como um lembrete aos demais membros do grupo de que os Beatles era uma banda de rock ´n´ roll e isso jamais deveria ser esquecido. Por isso ele optou por essa pauleira, com guitarras estridentes e fortes. Talvez John estivesse incomodado com gravações como "Yesterday" e todos aqueles violinos. Para John Lennon isso agredia um pouco a imagem que ele gostava de ter de si mesmo, a de um jovem roqueiro rebelde com casaco de couro.
Uma pena que John Lennon nunca tocou "Yer Blues" ao vivo com os Beatles. Essa canção que foi lançada no Álbum Branco era de excelente qualidade, um blues ao velho estilo. Tinha um ótimo arranjo, contando com excelentes solos de Harrison. Infelizmente quando ela foi gravada os Beatles já tinham desistido dos concertos e das turnês internacionais. Assim acabou se tornando uma canção apenas de estúdio. Os Beatles jamais a tocariam ao vivo.
Tinha grande potencial de palco, algo que certamente Lennon sabia, tanto que a levou para seu show em Toronto. A execução de John ao lado da Plastic Ono Band até que é muito boa, mas certamente jamais poderia ser comparada à versão oficial dos Beatles. Embora bem fiel ao disco, deixa em certos aspectos muito a desejar, principalmente no duelo de guitarras no solo, em sua parte final.
"Cold Turkey" também apresenta problemas. Aceleram demais a velocidade da música, tão absurdamente que ficou parecendo até mesmo outra canção! Absurdo! Essa canção ganhou uma bela versão de estúdio, que inclusive foi lançada como single na época. Ao vivo ela ficou estranha, principalmente por Lennon não demonstrar muita fidelidade ao disco original.
Para falar a verdade percebe-se até mesmo um certo desleixo por parte dele, o que não deixa de ser uma surpresa, já que a música era já naquela época considerada uma de suas melhores faixas na carreira solo. Os gritinhos de Yoko também não ajudam em nada. O público fica até mesmo assustado com eles. Isso fica claro quando se percebe as tímidas palmas depois que o grupo termina de tocar a canção. Pelo visto não gostaram muito.
Depois de "Cold Turkey" Lennon resolve cantar um dos seus hinos de paz, a super conhecida "Give Peace a Chance". Essa música pacifista foi escrita por Lennon para participar de sua campanha pela paz "War is Over". Curiosamente a música trazia como coautor Paul McCartney, embora ele não tivesse na verdade nada a ver com a canção. Era a velha cláusula, ainda dos primeiros anos dos Beatles, que afirmava que eles sempre assinariam Lennon / McCartney, mesmo quando as canções fossem feitas por apenas um deles. Como os Beatles ainda estavam na ativa em 1969 - eles só se separariam definitivamente em 1970 - Lennon cumpriu sua parte do acordo, colocando seu companheiro de banda na coautoria da canção.
Pablo Aluísio.
Depois ele mais uma vez deixou o arranjo mais pesado e visceral nessa nova versão de "Money", uma canção marcante dos primeiros discos dos Beatles. É impossível não lembrar dos Beatles aqui. A melodia foi, digamos, modificada bastante por John. Ficou com menos velocidade, mas também mais pesada. Uma solução por parte de Lennon que me agradou completamente devo dizer. A única ausência mais sentida vem da ausência justamente dos vocais de apoio de Paul e George. A voz isolada de John deixa uma sensação de vácuo, de que algo está faltando. E está mesmo, pois os Beatles eram mesmo insubstituíveis.
Depois de dois covers - excelentes, é bom frisar - John se sai com uma versão envenenada de "Dizzy, Miss Lizzy". Essa canção fechava o álbum "Help!" dos Beatles. Não era uma composição de Lennon e McCartney, mas sim uma faixa composta por Larry Williams. Na época de sua gravação original ao lado dos Beatles, John justificou sua gravação como um lembrete aos demais membros do grupo de que os Beatles era uma banda de rock ´n´ roll e isso jamais deveria ser esquecido. Por isso ele optou por essa pauleira, com guitarras estridentes e fortes. Talvez John estivesse incomodado com gravações como "Yesterday" e todos aqueles violinos. Para John Lennon isso agredia um pouco a imagem que ele gostava de ter de si mesmo, a de um jovem roqueiro rebelde com casaco de couro.
Uma pena que John Lennon nunca tocou "Yer Blues" ao vivo com os Beatles. Essa canção que foi lançada no Álbum Branco era de excelente qualidade, um blues ao velho estilo. Tinha um ótimo arranjo, contando com excelentes solos de Harrison. Infelizmente quando ela foi gravada os Beatles já tinham desistido dos concertos e das turnês internacionais. Assim acabou se tornando uma canção apenas de estúdio. Os Beatles jamais a tocariam ao vivo.
Tinha grande potencial de palco, algo que certamente Lennon sabia, tanto que a levou para seu show em Toronto. A execução de John ao lado da Plastic Ono Band até que é muito boa, mas certamente jamais poderia ser comparada à versão oficial dos Beatles. Embora bem fiel ao disco, deixa em certos aspectos muito a desejar, principalmente no duelo de guitarras no solo, em sua parte final.
"Cold Turkey" também apresenta problemas. Aceleram demais a velocidade da música, tão absurdamente que ficou parecendo até mesmo outra canção! Absurdo! Essa canção ganhou uma bela versão de estúdio, que inclusive foi lançada como single na época. Ao vivo ela ficou estranha, principalmente por Lennon não demonstrar muita fidelidade ao disco original.
Para falar a verdade percebe-se até mesmo um certo desleixo por parte dele, o que não deixa de ser uma surpresa, já que a música era já naquela época considerada uma de suas melhores faixas na carreira solo. Os gritinhos de Yoko também não ajudam em nada. O público fica até mesmo assustado com eles. Isso fica claro quando se percebe as tímidas palmas depois que o grupo termina de tocar a canção. Pelo visto não gostaram muito.
Depois de "Cold Turkey" Lennon resolve cantar um dos seus hinos de paz, a super conhecida "Give Peace a Chance". Essa música pacifista foi escrita por Lennon para participar de sua campanha pela paz "War is Over". Curiosamente a música trazia como coautor Paul McCartney, embora ele não tivesse na verdade nada a ver com a canção. Era a velha cláusula, ainda dos primeiros anos dos Beatles, que afirmava que eles sempre assinariam Lennon / McCartney, mesmo quando as canções fossem feitas por apenas um deles. Como os Beatles ainda estavam na ativa em 1969 - eles só se separariam definitivamente em 1970 - Lennon cumpriu sua parte do acordo, colocando seu companheiro de banda na coautoria da canção.
Pablo Aluísio.
Frank Sinatra - Swing Easy!
Esses álbuns da Capitol não foram pensados e nem criados para um público mais erudito. O próprio Sinatra dizia que os realizou para o trabalhador comum que precisava relaxar na sala de sua casa após um dia duro de trabalho. Por essa razão notamos em praticamente todos os discos dessa fase essa suavidade agradável que tanta caracteriza esses trabalhos musicais. A intenção de agradar era tamanha que Sinatra resolveu abrir algumas sessões de gravação para o público e jornalistas. Alguns fãs eram escolhidos pela produção de Sinatra, além de críticos musicais de renome. Todos acompanhavam o método de trabalho do cantor atrás dos microfones.
O mais curioso é que Sinatra acabava criando uma relação com essas pessoas, quase como se estivesse perante um grande público. Entre um gole e outro de café ele ia cantando, contando piadas ou histórias engraçadas, enquanto interagia com seus músicos (apenas os melhores, escolhidos a dedo por Sinatra e o produtor Nelson Riddle entre as principais big bands americanas da época). Frank geralmente escolhia um horário especial para trabalhar (entre oito da noite à meia-noite). Nesse meio tempo ele dava o melhor de si, entretinha os convidados, tudo em um clima muito íntimo e aconchegante. O resultado? Um dos discos mais simpáticos e de fácil digestão do velho Sinatra. Uma verdadeira preciosidade que não pode faltar em sua coleção de (boa) música.
Frank Sinatra - Swing Easy! (1954)
Just One of Those Things
I'm Gonna Sit Right Down (And Write Myself a Letter)
Sunday
Wrap Your Troubles in Dreams
Taking a Chance on Love
Jeepers Creepers
Get Happy
All of Me
Pablo Aluísio.
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