Um dos grandes sucessos de Paul na década de 80, naqueles que foramss
alguns dos anos mais criativos de toda sua carreira. Aqui Paul segue
com a fórmula que havia dado muito certo em "Tug of War", ou seja,
reunir-se a um grande nome da música com produção do maestro George
Martin, seu produtor mais constante desde a época dos Beatles. Se em
"Tug of War" tínhamos a presença muito especial de Stevie Wonder aqui
Paul resolveu trazer nada mais, nada menos, do que o auto proclamado Rei
do Pop, sim ele mesmo, Michael Jackson! Foi uma via de mão dupla,.
Jackson participou de "Pipes of Peace" e em contrapartida Paul deu às
caras no fenomenal disco "Thriller" (na ótima faixa “The Girl Is Mine”).
Em Pipes of Peace Michael Jackson participa de duas excelentes canções,
a simpática "Say, Say, Say" e a baladona "The Man". Ambas as músicas
foram assinadas por Paul e Michael. Infelizmente essa parceria bem
sucedida dentro dos estúdios, não duraria muito, pois Paul e Michael se
desentenderam depois por causa da venda dos direitos autorais das
músicas dos Beatles. Paul queria comprar, mas Michael lhe passou a perna
e as comprou antes, deixando Paul desolado... e furioso! Sobre o
acontecimento Jackson resumiria tudo com a seguinte frase: "Amigos,
amigos, negócios à parte". Nunca mais voltaram a trabalhar juntos embora
as regras de boa educação fizessem com que evitassem uma troca de
acusações por meio da imprensa na época!
Além de
Michael Jackson, Paul resolveu formar uma nova banda para as gravações,
formação essa que eu pessoalmente considero das melhores, contando com o
ex-Beatle Ringo Starr (dispensa maiores apresentações), Denny Laine (do
Wings), Eric Stewart (ex-10cc) e Stanley Clarke (um instrumentista
excepcionalmente talentoso). Tantos talentos juntos geraram um excelente
álbum com músicas excepcionais como a própria música título, "Pipes of
Peace", que ganhou um dos melhores videoclips da carreira de McCarntey.
Passada na I Guerra Mundial a estória relembra um pequeno evento,
baseado em fatos reais, que aconteceu quando dois exércitos inimigos
resolveram bater uma bolinha nos campos enlameados do front durante uma
trégua. Paul inclusive surge dos dois lados, como um inglês e como um
alemão. Extremamente bem produzido o clip até hoje é lembrado, tal sua
qualidade. A música "Say, Say, Say" também virou um videoclip bastante
divertido com Paul e Michael interpretando charlatões no século passado.
A canção se tornou o carro chefe do disco e foi lançada em single que
trazia uma estranha capa com Paul e Michael com pernas enormes,
realmente desproporcionais. No lado B desse single foi encaixada a
bacaninha "Ode a Koala Bear", uma musiquinha muito simpática e bem
arranjada.
Um fato curioso é que Paul, na época da
gravação desse disco, estava muito envolvido no projeto para um musical a
ser lançado no cinema. Assim as coisas ficaram meio atropeladas.
Tentando ganhar tempo Paul acabou incluindo várias composições que iriam
entrar em "Tug Of War", mas que acabaram ficando de fora do disco como
"Keep Under Cover", "Hey Hey", "Tug Of Peace" e "Sweetest Little Show".
Talvez por essa razão "Pipes of Peace" ganharia uma injusta fama de ser
uma “sobra” de "Tug of War". Tal forma de pensar é bem injusta pois o
álbum apesar de sofrer influências do disco anterior certamente tem
identidade própria. No final o disco fez sucesso, e apesar dos pesares,
conseguiu emplacar nas paradas, chegando a vender 1 milhão de cópias
apenas nos EUA. O êxito prosseguiu em vários outros países conquistando
vários discos de ouro e platina. Paul McCartney assim confirmava mais
uma vez sua grande vocação para o sucesso.
1. Pipes of Peace
(Paul McCartney) - Paul sempre caprichou nas canções que davam título
aos seus álbuns. O mesmo aconteceu com a música "Pipes of Peace". A
inspiração para Paul veio de um evento histórico real acontecido durante
a Primeira Guerra Mundial, quando soldados ingleses e alemães, inimigos
no campo de batalha, aproveitaram uma trégua para disputar uma animada
pelada de futebol no meio dos campos cheios de lama desse conflito que
ficou conhecido como a guerra das trincheiras. O clip obviamente
aproveitou a ideia e usou um artifício bastante curioso, colocando Paul
atuando tanto como um soldado inglês como um alemão, com seus uniformes,
bigodinhos e insígnias próprias de cada país. Realmente genial. Em
termos musicais Paul e George Martin (sempre ele, sempre presente nos
melhores trabalhos dos Beatles) criaram um maravilhoso arranjo, clássico
e erudito, para acompanhar a singela letra. Eu considero essa gravação
uma verdadeira obra prima, sem favor algum!
2. Say Say Say
(Paul McCartney / Michael Jackson) - O maior sucesso desse disco foi
uma parceria que Paul fez com Michael Jackson. Na verdade era uma troca
de gentilezas. Paul trabalhou no álbum "Thriller" de Jackson, cantando
na canção "The Girl Is Mine" e ele retribuiu aqui, gravando "Say Say
Say" ao lado de Paul. Na época Michael Jackson era certamente o maior
nome da música. Nunca um disco havia vendido tanto como "Thriller"
(recorde que permanece até os dias de hoje) e ele estava no auge de sua
popularidade. Era um super astro do mundo da música, estava realmente no
topo do mundo! "Say Say Say" foi lançada como single e ganhou um clip.
Desnecessário dizer que foi um mega sucesso. No videoclip (lembre-se que
a MTV estava nascendo), Paul e Michael interpretavam vendedores
ambulantes do começo do século XX, um tipo muito comum naquele tempo.
Vendendo garrafas de elixir milagroso (que não passavam de embustes)
eles tinham que dar no pé assim que o golpe era descoberto. Um dos
melhores clips de Paul e Jackson que ajudou o álbum a vender muito, se
tornando um dos singles campeões de vendas dos anos 80.
3. The Other Me
(Paul McCartney) - Essa canção "The Other Me" quase entrou no álbum
"Tug of War", mas ficou de fora por falta de espaço. Na verdade Paul
tinha tantas composições disponíveis naquela época - uma das mais
criativas e produtivas de sua carreira - que ele até mesmo cogitou a
possibilidade de gravar um disco duplo. Só desistiu da ideia depois que a
gravadora EMI o aconselhou a gravar dois discos separados, um para ser
lançado em 1982 e outro em 1983. Comercialmente seria mais interessante.
Paul concordou com a ideia e assim tivemos "Tug of War" e "Pipes of
Peace", duas obras primas da carreira solo de McCartney. A letra da
música fala sobre o "Outro Eu". Nos versos Paul resume a questão ao
cantar: "Eu sei que fui um louco idiota / Por tratá-la do jeito que
tratei / Mas algo tomou conta de mim / Eu realmente não ficaria surpreso
/ Se você tentasse encontrar um "Outro Eu". Dizem alguns autores que
Paul escreveu essa letra como um pedido de desculpas para a sua esposa
Linda. Houve uma época em que ele começou a beber em demasia e Linda o
confrontou sobre isso, gerando grandes discussões entre o casal. Ao que
tudo indica Paul realmente entendeu que ele estava errado, agindo como
um idiota. Pois é, nunca é tarde para se reconhecer um erro.
4. Keep Under Cover
(Paul McCartney) - Um dos problemas desse disco é que ele foi lançado
em um espaço de tempo muito curto em relação ao disco anterior, "Tug Of
War". Isso fez com que Paul utilizasse material que havia sido
descartado nos trabalhos das sessões de 1982. Um exemplo disso vem em
"Keep Under Cover" que fazia parte da primeira lista de canções que
deveriam fazer parte de "Tug of War". Como foi descartada, Paul resolveu
colocá-la aqui nesse LP. Ao lado de George Martin, Paul criou um
arranjo que saísse do comum, ao invés do tradicional piano ele resolveu
acrescentar belos solos de cravo, de forma bem discreta, ao fundo. A
letra foi escrita na fazenda de Paul na Escócia e tem tudo a ver com a
vida cotidiana por lá. Para torná-la mais comercialmente viável Paul
colocou alguns clichês, versos de amor bem banais, para falar a verdade.
Apesar disso (ou em razão disso) a música acabou funcionando muito bem
do ponto de vista harmônico.
5. So Bad (Paul
McCartney) - A balada "So Bad" é um dos melhores momentos desse álbum.
Mostra claramente o tipo de composição que Paul sempre soube fazer muito
bem. Baladas românticas, sem medo de soarem piegas ou bregas. A música
tem belos versos como "Há uma dor, dentro de meu coração / Você
significa muito para mim / Garota, Eu te amo / Garota, Eu te amo tanto!"
- versos mais do que simples, mas que acabam tocando qualquer um que
esteja apaixonado. Paul sempre soube criar grandes músicas usando versos
batidos, isso é bem verdade, mas que são atemporais, nunca perdendo a
essência de sua mensagem de amor. Paul sempre foi um romântico
incorrigível, vamos ser bem sinceros e isso talvez tenha sido o segredo
de seu sucesso como Beatle e depois como artista solo. O simples, muitas
vezes, funciona mais do que o complexo, o rebuscado.
6. The Man
(Paul McCartney / Michael Jackson) - "The Man" foi a outra canção feita
em parceria com Michael Jackson. Paul estava bem à vontade e animado
por trabalhar ao lado do cantor mais famoso do mundo na época, mas a
amizade teve um fim precoce. Michael Jackson, sem avisar a Paul, lhe
passou uma rasteira, comprando todo o catálogo das canções dos Beatles,
justamente em um período em que Paul se preparava financeiramente para
ele mesmo adquirir as canções que havia escrito ao lado de John Lennon.
Isso significou o fim da aproximação entre Paul e Michael. Nunca mais se
falaram novamente. Uma pena, porque pelo menos artisticamente eles
pareciam dar muito certo. Basta ouvir essa balada "The Man", um primor
pop que tocou muito nas rádios da época, para ter certeza disso. Tem um
refrão pegajoso, um bom arranjo instrumental e aquela vocação para se
tornar hit nas rádios (coisa que a música realmente se tornou assim que
foi lançada).
7. Sweetest Little Show (Paul
McCartney) - Já "Sweetest Little Show" se sobressai pelos bons arranjos
acústicos. É interessante que Paul, ao trabalhar ao lado de George
Martin, sempre procurava por bons materiais, uma vez que o famoso
produtor só aceitava trabalhar tendo total poder de veto, ou seja,
Martin podia rejeitar qualquer composição que Paul trouxesse para o
estúdio caso ele entendesse que não era muito boa. Claro que também com
os anos o relacionamento entre eles foi se desgastando justamente por
isso. Paul era tão dominador e controlador quanto George Martin. O
próprio George Harrison em vários ocasiões acusou Paul de ser um
arrogante prepotente dentro dos estúdios, sempre impondo suas escolhas
aos outros. Embora respeitasse muito George Martin pelo que ele havia
feito pelos Beatles no começo da carreira, ele agora não parecia mais
disposto a ouvir um não de seu produtor. Por essa razão também essa
música acabou sendo uma das últimas parcerias entre eles. Paul ficou
possesso, pois George Martin quase a tirou do disco "Pipes of Peace" por
ser, em sua opinião, "banal demais". Imaginem o ataque de raiva de
Paul, o controlador, ao ouvir esse tipo de crítica!
8. Average Person
(Paul McCartney) - Se você estiver procurando conhecendo melhor o som
mais pop dos anos 80 eu recomendo essa gravação de Paul para o álbum
"Pipes of Peace". Notem os arranjos, algo que foi muito utilizado pelos
grupos da época. No meio dos efeitos sonoros, Paul parece ter usado
todos os instrumentos que eram modinha naqueles tempos, com direito a
uma bateria eletrônica e muitos sintetizadores. É interessante porque
gravações como essa acabam ficando mais datadas do que as demais, feitas
ao estilo mais tradicional. Pois é, o moderninho tem mesmo a tendência
de envelhecer mais rápido do que a velha e boa sonoridade musical de
raiz. Fica a lição.
9. Hey Hey (Paul McCartney)
- Um fato curioso é que "Pipes of Peace" foi gravado meio às pressas,
para aproveitar o sucesso da parceria entre Michael Jackson e Paul
McCartney (que juntos gravaram duas músicas, "Say Say Say" e "The Man").
Assim Paul teve que se virar para completar o álbum. Uma das soluções
que ele encontrou foi encaixar algumas composições que havia criado para
o disco anterior, "Tug of War". Ele pegou algumas faixas que tinham
sobrado, muitos delas trabalhadas ao lado do produtor George Martin (dos
Beatles) e começou a trabalhar em cima delas. Algo de bom poderia sair
daquelas canções inacabadas. Uma dessas músicas descartadas foi "Hey
Hey". Na verdade a falta de tempo fica patente na faixa que sequer tem
letra! Na verdade é uma boa jam session de Paul com seu grupo e nada
mais! Curiosamente a canção até tem boa melodia, agradável, mas nada
disfarça o fato dela ser uma grande encheção de linguiça. O próprio Paul
ficou um pouco decepcionado de ter incluído canções como essa (que no
máximo poderiam ser usadas como lados B de seus compactos mais
obscuros). Anos depois ele diria: "Não tive realmente tempo de colocar
algo melhor no disco. Reconheço minha falha!".
10. Tug of Peace
(Paul McCartney) - "Tug Of Peace", por sua vez, é o que gosto de chamar
de canção link! O que exatamente significa isso? Essencialmente é uma
faixa de ligação com o disco anterior, "Tug of War". Quase que puramente
instrumental - com um pequeno refrão por um coro que parece ter saído
de algum álbum dos Wings - essa faixa é apenas uma espécie de gravação
experimental de Paul no disco. Afinal os fãs dos Beatles pensavam que
apenas John Lennon e Yoko Ono podiam se dar ao prazer de gravar faixas
assim? Porém ser experimental era obviamente pouco para Paul McCartney.
Assim o ex-Beatle escreveu alguns belos arranjos para solos de sua
guitarra Gibson, que atravessam praticamente toda a gravação. Uma canção
um pouco abaixo das demais presentes nesse disco, mas certamente uma
das mais interessantes do ponto de vista puramente musical. Paul sendo
um pouco Lennon, para variar.
11. Through Our Love
(Paul McCartney) - Embora, como sempre, tenha seus detratores, o fato é
que o álbum "Pipes of Peace" também tem momentos muito bons, canções
inegavelmente bem escritas. A música "Through Our Love" selecionada por
Paul para fechar o disco, tem uma melodia belíssima e um maravilhoso
arranjo. Aqui Paul realmente trabalhou duro ao lado do produtor e
maestro George Martin para lapidar cada nuance, cada nota. A letra,
despudoradamente romântica é quase uma carta de amor de Paul (obviamente
para Linda) para deixar as coisas sem importância para trás, não se
perdendo mais tempo com elas. Em reflexão Paul admite que já perdeu
tempo demais em coisas sem a menor importância. O que importa no final
de tudo é realmente dar o amor para a pessoa que se ama, nada mais.
Enfim, uma bela melodia embalada por uma letra bem articulada, honesta,
cheia de sentimentos. Paul em sua mais pura essência.
Pablo Aluísio.
Paul McCartney
ResponderExcluirPipes of Peace
Pablo Aluísio.
Os duetos das vozes do Paul e Michael em Say Say Say podem entrar em qualquer antologia das coisas mais bem executadas de todos os tempos.
ResponderExcluirPop perfeito. E o clip... excelente também!
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