sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Frank Sinatra - The Voice - Parte 4

Os problemas de memorização foram ficando cada vez piores, mas Frank Sinatra se recusou a deixar os palcos. Ele cumpria longas e pesadas turnês, mesmo sem ter a condição perfeita para isso. O resultado foi que Sinatra entrou em uma montanha russa. Numa noite conseguia se apresentar bem, escondendo seus problemas de memória. Outras vezes fazia concertos tão desastrosos que todos ficavam embaraçados. Em um palco perto de Nova Iorque Sinatra reconheceu o fracasso de sua apresentação. Sem meias palavras olhou para o público e disse no microfone: "Na saída peguem o dinheiro dos ingressos de volta!".

No meio da conturbada carreira nos palcos coisas boas aconteceram nos estúdios. Um produtor teve a brilhante ideia de colocar Sinatra para cantar duetos com outros grandes nomes da música. Sinatra foi informado do projeto e disse que toparia, desde que os outros artistas viessem até ele. O velho cantor não estava disposto a cruzar o mundo de avião para cantar com esses caras. No final nada disso era necessário. Sinatra gravaria sua parte e os demais cantores e cantoras fariam sua parte em cima de suas gravações. E assim foi feito. Sinatra nunca se encontrou com os demais vocalistas. Tudo foi unido pela tecnologia. O resultado foi excelente. O disco "Duets" acabou se tornando o álbum mais vendido de toda a carreira de Sinatra. Em poucos dias vendeu 3 milhões de cópias, algo que ele nunca havia feito. Era um novo sopro de vida em sua vida musical.

Na vida pessoal Sinatra continuou bebendo muito. Ele estava sempre atrás de alguém para sentar com ele à mesa para passar horas e horas bebendo. Seus velhos amigos estavam praticamente todos mortos. Dean Martin havia morrido já há alguns anos. Eles tinham tido problemas e Martin já estava fora da agenda de Sinatra há bastante tempo. Ele também voltou-se a um velho hobby que amava: colecionar trenzinhos de brinquedo. Sinatra tinha uma imensa coleção de trens. Quando soube que havia sido lançada uma nova linha de modernos trenzinhos na Alemanha, em réplicas perfeitas de trens do século XVIII, nem pensou duas vezes. Pegou seu jatinho e foi para a Europa só para comprar esses brinquedos. Sinatra abriu também sua imensa coleção para as crianças. Ele mandava trazer colegiais de escolas perto de sua casa para que também curtissem os trenzinhos. Sua esposa Barbara confessou numa entrevista que Sinatra mandou até mesmo confeccionar um chapéu de maquinista para essas ocasiões. Ele adorava o hobby e ficava encantando com o espanto dos estudantes no meio de todas aquelas peças raras. Sinatra então os incentivava: "Vamos lá, brinquem, fiquem à vontade!" Entre a garotada ele também acabava virando uma criança.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Frank Sinatra - The Voice - Parte 3

Conforme os anos foram passando Frank Sinatra começou a apresentar sinais de demência. Isso chocou sua esposa Barbara e suas filhas. Tudo foi escondido da imprensa, porém os que lhe eram próximos sabiam o que estava acontecendo. Sinatra poderia encontrar um maestro com quem havia trabalhado por anos e anos e não se lembrar mais quem ele era. Certa vez encontrou-se com Nelson Ridlle em um hotel de Las Vegas e quando esse o chamou, Sinatra respondeu: "Quem é você?". Ora, os dois trabalharam juntos por décadas, gravaram dezenas de discos juntos e era inconcebível que Sinatra não o reconhecesse.

Esse foi um sinal claro de que algo estava errado. Ao ser levado para o médico foi constatado que Sinatra estava tendo os primeiros sinais de uma demência precoce, algo que colocaria um fim em sua carreira de ator. Afinal decorar textos com as falas era algo vital para um ator. Sem isso Sinatra não tinha mais como atuar em novos filmes. Para evitar maiores boatos seu agente começou a entregar todos os roteiros e scripts que lhes eram enviados. Com a desculpa de que não tinha tempo para filmes ele deixou Hollywood para sempre.

Nos shows ao vivo foi instalado um sistema de teleprompter, algo bem discreto, para que ele pudesse ler as letras das músicas. Por décadas Sinatra havia se orgulhado de sua memória, de nunca esquecer uma letra no palco. Nos últimos tempos porém isso havia se tornado um problema e tanto. Inclusive quando estave no Brasil Sinatra esqueceu a letra de um de seus maiores sucessos. Isso em pleno Maracanã, diante do maior público de sua carreira. Em determinado momento ele ficou ali parado, sem saber o que fazer, até que o público em coro começou a cantar sua música. Sinatra diria para sua filha que aquele momento havia sido um dos mais emocionantes de toda a sua vida como artista.

Procurando esconder suas problemas do grande público, o velho "olhos azuis" teve um grande aborrecimento quando chegou nas lojas uma biografia não autorizada sobre ele. Escrito pela jornalista Kitty Kelly com o título de "His Way: The Unauthorized Biography of Frank Sinatra", o livro trazia pela primeira vez revelações secretas de sua vida. Sinatra ficou furioso com a publicação e declarou para os jornais que iria processar até o inferno a autora. Isso só trouxe mais publicidade ainda para a biografia que rapidamente foi para a lista dos mais vendidos do New York Times. Pela primeira vez o cantor sentia na pele o que era ter a sua vida pessoal exposta ao grande público, sem maquiagem e sem esconder seus segredos pessoais mais íntimos.

Pablo Aluísio.

Charles Chaplin - Hollywood Boulevard - Parte 3

A família Chaplin era pobre. Pessoas honestas, trabalhadores comuns que viviam no limite da sobrevivência. O bisavô e o avô de Charles Chaplin eram sapateiros em um bairro humilde de Londres. A virada na curva veio justamente com seu pai, também chamado Charles Chaplin. Dono de uma bela voz ele decidiu que não iria ser sapateiro, mas sim artista. Claro que isso despertou todos os tipos de comentários maldosos dentro da família, mas Chaplin, o pai, seguiu em frente. E pelos registros históricos encontrados por pesquisadores pode-se perceber que ele era realmente um bom artista que chegou a se apresentar em teatros respeitados de Londres no século XIX. Seu problema era outro. Talento tinha, mas também tinha problemas de alcoolismo. Uma das frustrações de Charlie era que a voz de seu pai nunca fora gravada. Assim o registro de seu grande talento de cantor se perdeu para sempre quando ele morreu.

O mesmo aconteceu com a mãe de Chaplin. Hannah tinha uma excelente percepção das pessoas. Ela passava as manhãs olhando pela janela de seu pequenino apartamento de Londres e ia imitando todos os que passavam pela rua. "Lá vem o senhor Wilson. Apressado, com os sapatos desamarrados. Provavelmente brigou com a esposa" - Ela dizia - e depois disso começava a imitar o jeito de andar do Sr. Wilson. Chaplin, ainda criança, via tudo aquilo e achava maravilhoso. De fato Hannah teria sido uma grande artista se não sofresse de uma grave doença mental que nas crises a deixava inabilitada para cuidar dos dois filhos,

Charles Chaplin (o filho, futuro Carlitos) e Sydney (o sempre esforçado irmão mais velho de Charlie) tiveram que se virar desde sempre por causa dos problemas mentais da mãe e da ausência do pai. Sydney arranjou emprego como marinheiro e o pequeno Charlie começou a ganhar alguns trocados fazendo danças e mímicas em pequenas apresentações pelas feiras e ruas. Os teatros de Londres tiveram um grande momento no começo do século XX e Charlie viu que poderia ganhar fazendo pequenos números. Conseguiu até mesmo um contrato fixo dentro de uma trupe de garotos que se apresentavam dentro de um número cômico. De fato Charles Chaplin foi artista desde muito jovem, ainda criança. Ele se lembraria desses anos com nostalgia e alegria, principalmente pelos palhaços que conheceu ao longo da vida. Os velhos artistas circenses em muito lhe inspiraram quando ele finalmente abraçou a carreira de comediante no cinema alguns anos mais tarde.

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Frank Sinatra - The Voice - Parte 2

Uma das paixões de Frank Sinatra foi a atriz e dançarina Juliet Prowse. O casal se conheceu em um estúdio de cinema, enquanto ambos trabalhavam no mesmo filme, o musical Can-Can de 1960. Sinatra ainda tentava se recuperar do fim de seu romance com Ava Gardner. Aliás ele passaria anos e anos tentando superar a fossa de ter sido abandonado por Ava. Sua obsessão por ela virou quase algo patológico. E foi justamente nesse período que Sinatra começou a namorar Juliet.

O namoro que para alguns ia terminar em casamento, não foi em frente porque Juliet não queria abrir mão de sua carreira de atriz e bailarina. Frank Sinatra lhe dizia que a partir do momento em que se casasse com ela, Prowse deveria abandonar tudo. Para um italiano da velha escola como Sinatra não pegava bem ter uma mulher trabalhando fora enquanto o marido ficava em casa esperando ela voltar. Era claro uma mentalidade da idade da pedra, mas logo Juliet percebeu que isso não iria mudar. Como ela não tinha a menor intenção de virar uma dona de casa italiana os dois acabaram rompendo. Shirley MacLaine que estava no mesmo filme chegou a comentar que sabia que o romance nunca iria dar certo, justamente porque Juliet era muito independente e Sinatra tinha ideias muito antigas sobre o casamento. Uma coisa não iria combinar com a outra. 

Depois de Juliet Prowse, que acabou sendo o romance mais duradouro de sua vida naquela época, o ator e cantor não parecia se acertar com mais nenhuma mulher. Ele tentou se reaproximar de Ava Gardner, na centésima tentativa de voltar a ser o seu homem, mas tudo foi por água abaixo. Ava havia entrado em um ciclo de auto destruição, bebendo muito, perdendo com isso a lendária beleza que um dia encantou Hollywood. Sinatra tentava tirar ela dessa vida, mas isso só fazia com que as brigas aumentassem e se tornassem cada vez mais violentas. O fim definitivo aconteceu quando Ava tentou seduzir uns garotões de praia bem na frente de Sinatra. Aquilo foi uma ofensa a ele, que por mais apaixonado que estivesse, não iria tolerar ser humilhado. 

Assim Sinatra parou de tentar de encontrar a mulher de seus sonhos. Ao invés de se relacionar com outra atriz, de investir em relacionamentos mais sérios, ele passou a ser vista com loiras que eram dançarinas em Las Vegas. Garotas que trabalhavam como coristas (segundo alguns biógrafos, como prostitutas também). O Frank Sinatra romântico, que passava semanas chorando por Ava Gardner, parecia ter desaparecido. Ao invés de sofrer Frank Sinatra a partir daquele momento apenas pegava o telefone e contratava uma garota para passar o fim de semana com ele. Sem dramas, stress e brigas sem fim.

Pablo Aluísio.

Frank Sinatra - The Voice

Em 1965 Frank Sinatra completou 50 anos de idade. Não foi um tempo muito feliz para ele. Seu último disco havia conseguido chegar no máximo na décima posição entre os mais vendidos. Para Sinatra essa era uma posição indigna de seu talento. A questão é que havia novos concorrentes de peso nas paradas. Eles eram ingleses, conhecidos como Beatles. Frank Sinatra já havia enfrentado um cantor de rock extremamente popular no passado, um tal de Elvis Presley, mas agora os Beatles vinham com fúria total nas paradas. Cinco de seus discos ocupavam as cinco primeiras posições na Billboard. Era algo inédito e incrível!

Frank não gostava dos Beatles. Quando um amigo lhe trouxe o novo álbum do grupo chamado "Help!", Sinatra detestou. Ele odiou a primeira música cantada por John Lennon que na sua opinião não sabia cantar, mas sim gritar. Sinatra não conseguia encontrar nada de agradável naqueles ingleses. Ele implicava com seus cabelos longos, dizendo que aquilo era uma afronta contra a tradição de artistas elegantes da música americana. Sinatra também acreditava que o conjunto não tinha harmonia, que era pura moda passageira. Temos que entender que era especialmente complicado para ele, afinal como iria concorrer com quatro jovens de vinte e poucos anos, enquanto ele já estava chegando nos 50? Frank Sinatra sentia-se velho e fora de moda. Não que ele precisasse ainda vender discos naquela altura de sua vida pois estava milionário, dono de diversas empresas que o deixaram muito rico. Era mais uma questão de orgulho pessoal.

Frank Sinatra porém não era apenas ranzinza com colegas de profissão, ele também poderia ser muito generoso com outros artistas quando era preciso. Quando ele soube que a grande diva do jazz Billie Holiday estava levando uma vida miserável em um quarto imundo de um hospício de Nova Iorque providenciou para que seus homens fossem até lá, a tirassem do lugar e a levassem para uma dos melhores centros de repouso para idosos, com tudo pago por ele. Segundo um amigo próximo "Sinatra era um homem muito italiano, muito emocional". E não foi apenas Holiday que contou com a generosidade do "The Voice" (a voz), ao longo dos anos. Ele ajudou muitos cantores e atores fracassados, que tinham caído na pobreza, após suas carreiras acabarem. Certa vez Sinatra soube que um velho ídolo da música italiana do passado trabalhava como porteiro em um bar de Nova Iorque. Mandou dar a ele algo em torno de dez mil dólares para ajudar. Esse tipo de ato ia ficando cada vez mais comum em seus últimos anos.

Sinatra também teve sorte como homem de negócios. Ele fundou seu próprio selo musical chamado Reprise e ficou muito rico com ele. O nome Reprise vinha do próprio Sinatra. Ele queria que os fãs sempre ouvissem seus discos, uma vez atrás da outra, como reprises eternas. A Warner se interessou pelo selo e ofereceu uma fortuna para Sinatra. Ele então propôs parceria e acabou mais rico do que nunca! Os mais próximos porém perceberam que Sinatra foi ficando cada vez mais sozinho. Estava milionário, mas também solitário. De vez em quando Sinatra saía de sua reclusão para defender boas causas, como quando fez uma série de shows para crianças doentes com câncer. Sobre isso ele diria nos bastidores: "Se sou tão afortunado nessa vida preciso ajudar as pessoas desafortunadas! É uma obrigação pessoal".

Pablo Aluísio.

domingo, 18 de novembro de 2007

Os Filmes de Vivien Leigh - Parte 2

O filme que fez Hollywood se interessar por Vivien Leigh foi o drama histórico "Fogo Por Sobre a Inglaterra", que se passava nos tempos do reinado da Rainha Elizabeth I. Vivien ficou extremamente bem no filme, com roupas de época. Ela ainda era bem jovem e sua imagem chamou a atenção dos grandes estúdios americanos. O fato desse filme inglês ser exibido nos cinemas dos Estados Unidos serviu como um cartão de visitas da atriz no outro lado do Atlântico.

Esse filme também foi um marco na vida pessoal da atriz pois ela conheceu o ator Laurence Olivier com quem iria se casar futuramente. O fato de ambos serem atores, lutando pela carreira em Londres na pequena indústria cinematográfica local, acabou servindo de atração entre eles. O romance não demorou muito a acontecer, até porque Vivien se sentia bem solitária nos primeiros dias na capital britânica. Seus familiares e amigos ficaram no interior e em Londres ela precisou formar um novo círculo de amigo. Era uma nova vida que começava para ela.

O filme seguinte na carreira de Vivien Leigh foi um filme de espionagem, passado durante a primeira guerra mundial, chamado "Jornada Sinistra". A atriz interpretava uma personagem chamada Madeleine Goddard. Ela era uma espiã francesa em Londres que acabava se apaixonando por um espião alemão, seu inimigo no conflito. O Barão Karl Von Marwitz era interpretado pelo ator Conrad Veidt. Esse filme foi lançado em 1937, dois anos antes da eclosão da II Guerra Mundial. Hitler já estava no poder na Alemanha, mas poucos ainda sabiam que uma nova guerra, pior ainda do que a anterior, estava prestes a varrer a Europa mais uma vez. Para Vivien foi algo até perturbador fazer esse filme, principalmente pelas coisas que estavam prestes a acontecer, com bombardeios alemães diários em Londres, algo que ela própria iria vivenciar.

Nesse mesmo ano Vivien ainda iria atuar em uma comédia romântica bem leve chamada "Tempestade Num Copo D'Água". Ela interpretava uma jornalista investigativa de nome Victoria Gow. Quando o filme começa ela parte em busca de histórias indiscretas envolvendo um figurão da política, mas de forma irônica acabava se apaixonando por ele. O curioso sobre esses três últimos filmes de Leigh é que os três foram lançados no Brasil também, demonstrando que ela já era uma artista conhecida em nosso país, antes mesmo da explosão de "E O Vento Levou...". Vivien ainda não era uma grande estrela, algo que só iria acontecer mesmo com o lançamento desse épico americano, considerado por muitos como um dos maiores filmes de todos os tempos.

Pablo Aluísio.

Frank Sinatra - Belas Músicas

Você pode até não gostar muito de Frank Sinatra. O que não pode negar é que ele foi realmente um gênio na sua área. Sua presença é obrigatória nas listas dos melhores cantores do século XX. Mais do que merecido. Em se tratando de sua discografia eu gosto bastante dos álbuns do cantor que ele lançou nos anos 50.

Em 1954 Sinatra lançou pela Capitol o álbum "Swing Easy!". Com um ótimo repertório o disco segue sendo um dos meus preferidos do cantor. Aliás recomendo todos os álbuns de Sinatra na Capitol. Sua passagem pela gravadora foi marcada por atritos e problemas, mas é inegável que lá ele contou com o melhor que havia dentro da indústria fonográfica da época. Os melhores produtores, músicos e compositores. Só o melhor!

Desse disco eu destaco algumas canções. Uma delas é "Wrap Your Troubles in Dreams". Essa canção foi composta nos anos 30 e inicialmente não fazia parte do repertório de Sinatra. Na verdade ele a pegou da discografia de outro ícone, Bing Crosby, também considerado por muitas listas como um dos maiores cantores de todos os tempos. Sinatra adorava a versão de Crosby e por essa razão resolveu gravar sua própria versão. Ficou maravilhosa, diria inclusive que é bem superior à gravação original, não apenas por questões tecnológicas (que eram bem mais sofisticadas na época que Sinatra a gravou), mas também por causa da performance absurdamente perfeita por parte de Sinatra. Outra versão dessa música que recomendo é a de Doris Day. A atriz, que também era uma cantora acima da média, fez uma das melhores gravações de sua carreira justamente com essa melodia.

Bom, uma coisa que não pode faltar em nenhum grande disco de Frank Sinatra é a presença de alguma composição de Cole Porter. Na voz de Sinatra a obra de Porter, um dos maiores compositores americanos de todos os tempos, ganha outra dimensão. Aliás é bom frisar esse aspecto. Os primeiros intérpretes de Cole Porter, ainda na década de 1930, não estavam à altura de suas composições. Foi necessário passar alguns anos para que Sinatra criasse essas verdadeiras obras primas. "Just One of Those Things" foi criada por Porter para um musical da Broadway chamado Jubilee. Embora fora do contexto da peça em si, ela funciona perfeitamente assim, solo, na voz do grande Sinatra. Um primor sonoro. É, em poucas palavras, outro momento que vale pelo álbum inteiro.

Pablo Aluísio.

sábado, 17 de novembro de 2007

Charlton Heston

O primeiro filme da carreira de Charlton Heston foi realizado quando ele era apenas um adolescente. O filme se chamava "Peer Gynt" e contava a história do rebelde protagonista (interpretado por Heston), um jovem indomável que era praticamente banido de seu vilarejo por causa de seu temperamento fora do comum. Assim ele acabava indo para a floresta, viver no meio da natureza. Duas coisas chamavam bastante a atenção nesse primeiro filme do ator: sua juventude (ele era praticamente um menino alto e magricela) e a direção de David Bradley, que na época tinha apenas 21 anos de idade. É uma produção praticamente amadora, muito rara de se encontrar hoje em dia para se assistir.

Embora Heston sempre lembrasse desse primeiro filme com carinho, ele considerava que seu primeiro trabalho de verdade como ator havia sido "Julius Caesar" de 1950. O filme era uma versão para o cinema da famosa peça teatral escrita por William Shakespeare. Heston só ganhou o papel de Marco Antônio porque a direção foi entregue ao seu amigo David Bradley com quem havia trabalhado em "Peer Gynt". Produzido pelo estúdio Avon, esse filme não foi uma grande produção em termos técnicos, pois não contava com um orçamento generoso. Pelo contrário, foi algo bem mais modesto, onde o elenco se esforçou ao dobro para compensar a falta de maiores recursos. Embora fosse ainda inexperiente, Charlton Heston se saiu muito bem, ganhando os primeiros elogios na carreira. Foi um prenúncio de sua vitoriosa carreira em filmes épicos, principalmente passados no mundo antigo, da Roma clássica dos tempos de Júlio César. Ele sempre fotografava muito bem em trajes do império romano.

Nesse mesmo ano de 1950 o ator fez uma rara participação em uma série de TV. Chamada "The Clock", era um programa semanal que adaptava histórias de terror e suspense da rádio ABC, agora adaptadas para a televisão. Tudo filmado em Nova Iorque, fez com que Heston ganhasse ainda mais experiência, principalmente pelo fato dos episódios muitas vezes serem encenados ao vivo, onde não havia espaço para o erro. Muitos dos episódios dessa série em que Heston atuou se perderam, por causa da precariedade técnica da época. Mesmo assim alguns resistiram ao tempo e foram lançados em uma coleção especial em DVD nos Estados Unidos. Uma peça de colecionador.

Embora tenha sido algo interessante trabalhar na televisão, o ator queria despontar mesmo no cinema. Assim voltou para Hollywood para atuar no filme noir "Cidade Negra". Esse filme foi produzido por Hal Wallis para a Paramount Pictures. Esse produtor foi muito importante na carreira de Charlton Heston pois iria produzir alguns dos maiores filmes de sua carreira nos anos seguintes. "Dark City" era um típico noir da época, com detetives, jogadores desonestos de poker e mulheres fatais. Todo filmado usado técnicas de luz e sombras, ainda hoje chama a atenção por sua fotografia que é muito bem realizada. Dirigido por William Dieterle e tendo no elenco ótimos profissionais como Lizabeth Scott e Viveca Lindfors, foi sem dúvida o primeiro filme de Heston considerado muito bom pelos críticos. Ajudou ainda mais a abrir os caminhos para ele em Hollywood.

Pablo Aluísio.

Jerry Lewis

Jerry Lewis foi um adorável palhaço. Ontem tivemos a triste notícia de sua morte, aos 91 anos de idade. Viveu bastante e viveu bem. Além de sua obra cinematográfica maravilhosa, Jerry também se dedicou às causas humanitárias, comandando durante anos um programa de TV, o Teleton, onde angariava verbas para ajudar pessoas com necessidades especiais. Foi justamente em um desses programas ao vivo que ele reencontrou pela última vez seu parceiro Dean Martin. O encontro foi arranjado por Frank Sinatra, amigo de ambos, que tinha esse velho sonho de reunir novamente a dupla de tantos filmes inesquecíveis do passado.

Além de grande comediante, Jerry Lewis foi também um grande ator. Ontem o diretor Martin Scorsese reforçou justamente esse aspecto. Humoristas em geral nem sempre são reconhecidos por serem grandes atores, tanto que a Academia muito raramente premia esses profissionais por suas atuações. Assim como aconteceu com outro gênio da comédia, Charles Chaplin, Jerry nunca levantou o Oscar por seu trabalho em algum de seus filmes, nunca foi premiado por seu genial trabalho no cinema. O máximo que conseguiu em termos de premiações foi ser indicado ao Globo de Ouro por sua atuação em "Boeing, Boeing" de 1966, onde ele interpretava um sujeito mais normal, nada parecido com o seu mais famoso personagem, a do adulto com personalidade de criança que utilizou em tantos filmes ao longo de sua carreira.

Também foi um diretor cheio de criatividade e originalidade. No começo da carreira, principalmente quando ainda formava dupla com Dean Martin, Jerry Lewis teve que atuar sob direção de cineastas como Norman Taurog e Frank Tashlin (com quem realizou seus melhores filmes nos anos 1950 e 1960). Depois quando percebeu que tinha status suficiente para comandar suas produções, o próprio Jerry assumiu o controle. Começou a dirigir seus filmes, a escrever os roteiros, fazendo aquilo que sempre quis, dando asas para sua imaginação fértil. No total dirigiu 23 de seus filmes, começando com "O Mensageiro Trapalhão" e indo até "As Loucuras de Jerry Lewis", já na década de 1980. Um de seus filmes mais interessantes foi "The Day the Clown Cried" sobre um palhaço de circo que era usado para enganar as crianças enquanto elas eram levadas para os campos de concentração do horror nazista. Pelo tema forte demais para a época, Jerry resolveu arquivar a produção para só ser lançada, quem sabe algum dia, após sua morte.

Por fim e não menos importante, Jerry Lewis sempre será lembrado por ter levado o sorriso a milhões de espectadores mundo afora com suas comédias. No Brasil ele virou uma espécie de rei da Sessão da Tarde pois seus filmes eram constantemente reprisados, principalmente nas décadas de 70 e 80. Com isso formou-se toda uma nova geração de admiradores de seu trabalho. Filmes como "Artistas e Modelos", "Ou vai ou Racha", "Bancando a Ama-Seca", "O Rei do Laço", "O Terror das Mulheres", "Errado pra Cachorror" e "O Professor Aloprado", entre tantos outros, sempre serão lembrados por todos que viveram essa época. Ontem a reação ao seu falecimento nas redes sociais foi enorme. Muitos lembrando como ele havia sido o ídolo da infância de tanta gente. Um admirador escreveu: "Com a morte de Jerry se vai parte também da minha infância". Nada poderia definir melhor a sua obra do que essa singela frase. Descanse em paz Jerry Lewis e muito obrigado por seus filmes!

Pablo Aluísio.