terça-feira, 26 de abril de 2016

A Bruxa

Os fãs de cinema bem sabem que se existe algo em extinção atualmente na sétima arte são bons filmes de terror. Geralmente as produções mais recorrentes na atualidade são meras variações do estilo mockumentary que, em minha opinião, já andam bem saturados. Por isso gostei muito quando surgiu algo de novo nas telas. Esse filme se chama "A Bruxa". Ok, muito provavelmente você torcerá o nariz ao saber que o tema é a velha bruxaria. Desde "A Bruxa de Blair" essa temática anda meio desacreditada. Foram muitos filmes ruins para se manter algum tipo de boa expectativa. O que salvou essa nova produção foi basicamente a ideia do diretor e roteirista Robert Eggers de voltar ao básico do gênero. Veja, um bom filme de terror é proporcionalmente mais assustador quanto mais sua premissa tende para a simplicidade. Não adianta encher a tela de monstros digitais e nem de banhos de sangue para causar medo no público. Nesse estilo cinematográfico o menos geralmente é mais. Pense no maior filme de terror de todos os tempos, "O Exorcista". O roteiro é básico, a estória contada é básica e a produção não passa do mediano. Não existe nada de muito espetacular em termos de produção nesse filme. E por que ele é tão cultuado até os dias de hoje? Fácil de responder, simplesmente porque ele apela para os sentimentos mais primitivos do ser humano. O medo do desconhecido, do sobrenatural. Além disso usou de forma extremamente inteligente de vários símbolos religiosos. O medo em sua expressão mais psicológica.

Claro que "A Bruxa" não pode ser comparado ao "Exorcista", mas os filmes tem bastante coisas em comum. A principal é que tudo caminha em um crescente de suspense que vai se transformando em desespero. Nada é muito explorado de forma explícita. Muita coisa é simplesmente sugerida. Ao invés de encher os olhos de coisas horrendas o roteiro apenas sugere caminhos para a nossa imaginação e o nosso medo. O roteiro também é de uma simplicidade ímpar: há uma família no meio da floresta. Eles foram banidos da comunidade. O lugar é frio, escuro e misterioso. Há boatos de que rituais de bruxaria são realizados nas redondezas. A família que está naquela situação é formada por aqueles primeiros pioneiros que foram para o novo mundo em busca de um recomeço. Só encontraram uma terra ainda muito primitiva e inexplorada. Não é de se admirar que a mente comece a pregar peças em cada um deles. Um mero animal irracional, um bode, pode assumir uma simbologia macabra. Uma sombra entre as árvores pode se transformar na mente em uma manifestação terrena do anjo caído. Algo que realmente pode ser apenas um surto da mente de cada um ou a manifestação real do sobrenatural.

O bom desse roteiro é que se o espectador prestar bem atenção saberá que ele nunca dará uma resposta definitiva às várias perguntas que vão surgindo. Há realmente algo estranho ali, a manifestação do mal, ou tudo o que acontece de ruim foi causado apenas pelos membros da família que simplesmente passam por um surto de fanatismo religioso coletivo? Por fim e não menos importante outra coisa muito interessante desse filme é seu contexto histórico. No século XVII (onde a estória do filme se passa) a mentalidade das pessoas era bem diferente da atual. As bruxas eram criaturas reais e não fruto da imaginação do homem. Elas estavam ao redor, esperando para passar maldições e heresias. Por essa razão tantas mulheres foram mortas nas fogueiras da inquisição. Não era algo abstrato, conceitual. Longe disso, era tudo encarado como realidade concreta! O mal absoluto jamais era encarado como uma abstração da mente, mas algo palpável. Um sinal dos tempos.

A Bruxa (The VVitch: A New-England Folktale, EUA, Canadá, Inglaterra, 2015) Direção: Robert Eggers / Roteiro: Robert Eggers / Elenco: Anya Taylor-Joy, Ralph Ineson, Kate Dickie / Sinopse: Em 1660, na colônia da Nova Inglaterra, uma família de peregrinos é expulsa de uma comunidade puritana. Tendo que viver próximo a uma floresta misteriosa eles começam a perceber e sentir a presença de uma entidade maligna. Após o sumiço do bebê as coisas começam a ir de mal a pior, colocando todos no limite de sua própria sanidade.

Pablo Aluísio.

3 comentários:

  1. Avaliação:
    Direção: ★★★
    Elenco: ★★★
    Produção: ★★★★
    Roteiro: ★★★★
    Cotação Geral: ★★★★
    Nota Geral: 8.3

    Cotações:
    ★★★★★ Excelente
    ★★★★ Muito Bom
    ★★★ Bom
    ★★ Regular
    ★ Ruim

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  2. Pablo; considerações subjetivas:
    - Me senti interessado, depois enganado. Medo não senti nada, mas nada mesmo!
    - Não há explicação para que toda mulher não seja ateia. Todas as religiões as trata como sendo a transfiguração do mal sobre a terra. Absurdo! São só meio chatas, as vezes, ou muitas vezes, mas são lindas.
    - A combinação de religião e ignorância em doses paradoxais foi o pior mal contra a humanidade e principalmente contra a mulher.
    - “Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay”.

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  3. "Eu não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem..."

    Rsrs

    Outro dia vi numa livraria um exemplar de "Malleus Maleficarum", ou "O Martelo das bruxas", escrito em 1487. É um guia para inquisidores. Da próxima vez vou comprar... rsrsrs

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