Aos poucos vou completando a filmografia do ator Rock Hudson. Não é muito fácil achar grande parte dos filmes que estrelou, mas com uma certa paciência estou conseguindo, de alguns anos para cá, assistir a vários filmes raros de sua filmografia. Um deles, que ainda permanecia inédito para mim, foi justamente esse "O Vale das Paixões" (This Earth Is Mine, EUA, 1959), dirigido por Henry King. Baseado no romance escrito por Alice Tisdale Hobart o roteiro explora um clã de ricos plantadores de uva no vale de Napa na Califórnia. Foi lá que o grande patriarca Philippe Rambeau (Claude Rains) fundou um império de vinícolas. Os tempos de glória porém parecem coisa do passado pois a Lei Seca está em vigor (a história do filme se passa em 1931) e não há como vender a produção.
Seu neto, John Rambeau (Rock Hudson), resolve então passar por cima da lei para vender o vinho produzido e não vendido para gangsters de Chicago. Ele está disposto a ganhar fortunas com o comércio ilegal de bebidas contrabandeadas. O velho Philippe se sente ultrajado com isso, já que é um homem da velha escola, que se sempre se orgulhou de ter ficado rico honestamente, trabalhando até o sol se por para que sua plantação produzisse o melhor em termos de vinhos finos dos Estados Unidos. Para John porém isso pouco importa. Ele quer também ter a chance de ficar rico, tal como seu avô. Sua posição dentro do clã Rambeau nunca foi muito boa pois ele é um filho bastardo. John nasceu de um grande escândalo moral envolvendo sua mãe e um pai que nunca o assumiu como filho publicamente. Isso faz com que ele procure sempre mostrar seu valor para os demais familiares. Para complicar ainda mais sua vida pessoal, assim que conhece sua prima Elizabeth Rambeau (Jean Simmons), se apaixona perdidamente por ela. Liz viveu muitos anos na Inglaterra e só agora vai até a Califórnia para conhecer seus parentes americanos. Diz o ditado que amor de primo é para sempre, pois é exatamente essa situação que o roteiro procura explorar em termos de romance e paixão entre os protagonistas.
O filme, como era de se esperar, tem uma produção excelente e uma trama melhor ainda. Esses filmes clássicos antigos que procuravam desenvolver personagens complexos, atormentados, sempre superam nossas expectativas. Interessante que durante o filme vi muitas semelhanças entre o personagem de Rock Hudson e o lendário Cal Trask de James Dean em "Vidas Amargas" (East of Eden, EUA, 1955). Ambos pertencem a famílias ricas e ambos são verdadeiras párias dentro de seu clã familiar. Para se destacarem deixam de lado seus valores morais e éticos e entram sem receios numa jornada de ganância insana, em busca da fortuna alcançada de qualquer maneira, seja do jeito que for. Rock e Dean se cruzaram em "Assim Caminha a Humanidade" três anos antes e essa semelhança entre dois personagens tão parecidos causa realmente uma certa perplexidade. A única diferença é que o filme de Dean foi dirigido pelo gênio Elia Kazan e o de Rock Hudson pelo veterano Henry King, que era reconhecidamente um bom cineasta, mas bem longe da genialidade de Kazan.
Outro aspecto digno de nota é que o roteiro faz um paralelo inteligente (e até muito bonito) entre o ciclo da vida, quando gerações mais velhas morrem e são substituídas por novas gerações que de certa maneira acabam seguindo os mesmos passos de seus pais e avôs. Isso fica bem claro na cena final quando os personagens de Rock e Jean Simmons se reencontram no alto da mesma colina onde décadas atrás seus avôs estiveram, começando o seu próprio império. Bastante evocativa a cena é uma das mais marcantes do filme como um todo. No geral eu gostei de tudo, do bom desenvolvimento da história (sem pressa, procurando situar o espectador dentro daquela numerosa família), das boas atuações de todo o elenco (com destaque para o sempre ótimo Claude Rains) e da bela mensagem final. Muitas vezes o destino já nos é traçado por nossa linhagem familiar e de nossos antepassados. Nada está escrito, mas tudo pode ser determinado por nosso próprio passado. Enfim, um grande filme que recomendo a todos que gostam de grandes histórias em filmes clássicos irretocáveis. Produções como essa Hollywood infelizmente já não faz mais. Ecos de um passado glorioso da sétima arte.
Pablo Aluísio.
Avaliação:
ResponderExcluirDireção: ★★★★
Elenco: ★★★★
Produção: ★★★★
Roteiro: ★★★★
Cotação Geral: ★★★★
Nota Geral: 8.6
Cotações:
★★★★★ Excelente
★★★★ Muito Bom
★★★ Bom
★★ Regular
★ Ruim
Comment: Terror e ficção - Garotos Perdidos
ResponderExcluirPablo:
ResponderExcluirEu sempre vi o Rock Hudson como um homem com H maiúsculo, como se dizia. Mas depois que veio a tona a sua Aids e com isso reportagens devastadores sobre sua promíscua vida sexual, eu, que sempre convivi com bastante tolerância com gays (na minha classe sempre havia um ou mais), descobri que sou muito preconceituoso.
Hoje sou incapaz de assistir filmes com o Rock Hudson em que ele interpreta super heteros, que é quase a totalidade dos seu filmes, e acreditar no personagem. Eu, na década de "70, vi nas Sessão da Tarde e nas Coruja Colorida, muitos filme com o Rock Hudson e o admirava muito; pra mim ele era um Tarzan. Hoje sou incapaz de vê-lo assim. Mesmo fazendo papéis como o do filme do seu post,só vejo uma bicha enrustida. Que pena para um homem, e ator, com tantas qualidades aparentemente super másculas, terminar sua história assim.
Sabe, eu entendo perfeitamente esse seu ponto de vista. Havia um amigo de meu pai (hoje falecido) que foi fã do Rock Hudson na época, chegou a assistir grande parte de seus filmes no cinema e tudo mais. Quando foi revelado que ele era gay e estava com AIDS a reação desse senhor foi a pior possível. Ele se sentiu traído e enganado pelo Rock. Acho que muitas pessoas pensaram como ele, principalmente os fãs que cresceram assistindo aos seus filmes. No meu caso particular é diferente. Eu não sou do tempo do Rock e já conheci sua história sabendo de toda a verdade. Isso acabou criando em mim um verdadeiro interesse histórico em sua carreira. Eu sempre adorei a história do cinema e tudo o que aconteceu com Rock soa muito interessante sobre esse ponto de vista. Olhar para o passado com uma visão de arqueólogo da sétima arte.
ResponderExcluir"A única diferença é que o filme de Dean foi dirigido pelo gênio Elia Kazan e o de Rock Hudson pelo veterano Henry King, que era reconhecidamente um bom cineasta, mas bem longe da genialidade de Kazan."
ResponderExcluirPablo, me permita apontar outra diferença: o peso que o James Dean imprime aos seus personagens nos marcam de forma indelével, coisa que o Rock Hudson, pelo menos neste This Earth Is Mine, não chega nem perto.
James Dean era muito mais talentoso que Rock Hudson. Por isso a diferença. Não nos esqueçamos que Rock era um galã e galãs, como todos sabemos, pouco se destacam no quesito talento dramático (com algumas exceções).
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