terça-feira, 1 de novembro de 2005

Elvis Presley - The Jungle Room Sessions

FTD The Jungle Room Sessions - É seguramente um dos dez mais importantes títulos da coleção FTD. Aqui temos pela primeira vez o resgate de alguns momentos das sessões realizadas na chamada Sala das Selvas em Graceland. Como se sabe foi uma sessão de gravação completamente fora dos padrões. Elvis se recusou a ir até Nashville para gravar novas músicas para a RCA e como a gravadora não tinha nenhum local disponível em Memphis as sessões tiveram que ser improvisadas em sua própria casa, na mitológica mansão Graceland. Ao longo dos anos muito se especulou sobre o que teria levado Elvis a se indispor com a RCA Victor. Problemas profissionais, pessoais e de saúde montam um mosaico amplo que nos faz entender as circunstâncias dessa decisão. Na vida profissional Elvis demonstrava estar exausto e cansado diante de tantos compromissos. Embora não gravasse há meses em estúdio, ele vivia de cidade em cidade, cantando e se esgotando em turnês sem fim pelos Estados Unidos. A situação era ainda mais grave tendo em vista as condições pessoais do cantor. Não raro ele mostrava claros sinais de que não estava bem, mesmo assim encarava longas e exaustivas agendas para cumprir seus compromissos assumidos. Ordens do Coronel Parker.

Na vida pessoal as coisas também não andavam muito bem. Elvis ainda tentava de alguma forma exorcizar o fantasma da traição de Priscilla em sua vida. Para isso se envolvia com beldades bem mais jovens do que ele. Agora estava apaixonado por uma garota chamada Ginger Alden. Ao contrário de sua namorada fixa anterior, Linda Thompson, Ginger não tinha ainda idade e maturidade suficientes para ter um relacionamento construtivo com Elvis, até porque ele seguia em frente na sua auto destruição pessoal causada por remédios de tarja preta. Isso obviamente abalou bastante sua saúde, o que acabou completando a tríade de fatores que impossibilitaram Elvis de se locomover até um estúdio profissional de gravação. A boa notícia é que em termos técnicos essas gravações não foram tão prejudicadas como se alardeou. Claro que a crítica não gostou muito do resultado na época do lançamento dos discos originais, mas hoje em dia poucos ainda se levantam para falar mal das músicas, até porque o consenso parece mesmo apontar para uma qualificação de mais um grande trabalho por parte de Elvis, mesmo sob circunstâncias adversas.

Outro fato digno de nota é salientar que as sessões também trouxeram uma luz para os bastidores das gravações. Durante muitos anos se escreveu que Elvis estaria severamente deprimido dentro da sala das selvas, mal balbuciando alguma palavra audível. Na realidade, como se prova esses registros, a situação não era tão negra como se supunha ser. Elvis está até mesmo brincalhão, tirando onda, rindo e fazendo piadas (como ocorre quando o cachorro late ao fundo ou o telefone toca, estragando as gravações). Nada de um Elvis saindo do caixão como um Drácula morto-vivo que tanto foi retratado até mesmo em biografias ditas sérias e bem escritas. Sim, ele estava bem acima de seu peso, tinha problemas de todos os tipos, mas seu espírito ali parecia contradizer que nuvens negras sempre estavam acima de sua cabeça o tempo todo. Ao que parece nem Elvis parecia se levar muito à sério durante esses dias, afinal de contas ele estava em casa, caso se enchesse de tudo, poderia simplesmente ir até a cozinha tomar um pouco de água ou então ir embora para seu quarto dormir.

Como praticamente fazia em todas as gravações, Elvis pouco mudou o seu estilo de agir na sala das selvas. Ele ainda sentava no centro, rodeado de seus músicos, para ir aos poucos escolhendo as faixas que gravaria. Uma a uma, Felton Jarvis ia executando as canções que estavam disponíveis. Se gostava Elvis dizia algo como "Vamos lá rapazes, essa vale a pena enfiar a cara" - caso contrário soltava algum palavrão do tipo "Essa música é uma m... Passe outra!". Também não há maiores surpresas no estillo musical adotado nessas sessões. Elvis continou seguindo a linha country romântica que vinha usando em seus últimos discos. O curioso é que isso provém do próprio gosto pessoal de Elvis na época. Ao contrário do que muitos pensam, Elvis não se interessava mais em ouvir estações de rádio que tocavam Rock. Na verdade ele havia perdido interesse pelo rock há muitos anos. Só cantava seus velhos rocks para não decepcionar seus fãs nos concertos, mas fora isso ele nem mais conhecia os novos artistas e bandas que faziam sucesso. Mal sabia quem era o Led Zeppelin ou o Pink Floyd. Para Elvis o importante era mesmo saber o que estava no ouvido do povão que adorava country music. Assim em momentos de descanso ou quando estava no carro, Elvis mandava sintonizar as principais estações country de Memphis. Não é por outra razão que esse estilo musical se proliferou em seus discos na fase final de sua carreira.

Pablo Aluísio.

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