domingo, 15 de maio de 2011

Paul McCartney - Pipes of Peace

Um dos grandes sucessos de Paul na década de 80, naqueles que foramss alguns dos anos mais criativos de toda sua carreira. Aqui Paul segue com a fórmula que havia dado muito certo em "Tug of War", ou seja, reunir-se a um grande nome da música com produção do maestro George Martin, seu produtor mais constante desde a época dos Beatles. Se em "Tug of War" tínhamos a presença muito especial de Stevie Wonder aqui Paul resolveu trazer nada mais, nada menos, do que o auto proclamado Rei do Pop, sim ele mesmo, Michael Jackson! Foi uma via de mão dupla,. Jackson participou de "Pipes of Peace" e em contrapartida Paul deu às caras no fenomenal disco "Thriller" (na ótima faixa “The Girl Is Mine”). Em Pipes of Peace Michael Jackson participa de duas excelentes canções, a simpática "Say, Say, Say" e a baladona "The Man". Ambas as músicas foram assinadas por Paul e Michael. Infelizmente essa parceria bem sucedida dentro dos estúdios, não duraria muito, pois Paul e Michael se desentenderam depois por causa da venda dos direitos autorais das músicas dos Beatles. Paul queria comprar, mas Michael lhe passou a perna e as comprou antes, deixando Paul desolado... e furioso! Sobre o acontecimento Jackson resumiria tudo com a seguinte frase: "Amigos, amigos, negócios à parte". Nunca mais voltaram a trabalhar juntos embora as regras de boa educação fizessem com que evitassem uma troca de acusações por meio da imprensa na época!

Além de Michael Jackson, Paul resolveu formar uma nova banda para as gravações, formação essa que eu pessoalmente considero das melhores, contando com o ex-Beatle Ringo Starr (dispensa maiores apresentações), Denny Laine (do Wings), Eric Stewart (ex-10cc) e Stanley Clarke (um instrumentista excepcionalmente talentoso). Tantos talentos juntos geraram um excelente álbum com músicas excepcionais como a própria música título, "Pipes of Peace", que ganhou um dos melhores videoclips da carreira de McCarntey. Passada na I Guerra Mundial a estória relembra um pequeno evento, baseado em fatos reais, que aconteceu quando dois exércitos inimigos resolveram bater uma bolinha nos campos enlameados do front durante uma trégua. Paul inclusive surge dos dois lados, como um inglês e como um alemão. Extremamente bem produzido o clip até hoje é lembrado, tal sua qualidade. A música "Say, Say, Say" também virou um videoclip bastante divertido com Paul e Michael interpretando charlatões no século passado. A canção se tornou o carro chefe do disco e foi lançada em single que trazia uma estranha capa com Paul e Michael com pernas enormes, realmente desproporcionais. No lado B desse single foi encaixada a bacaninha "Ode a Koala Bear", uma musiquinha muito simpática e bem arranjada.

Um fato curioso é que Paul, na época da gravação desse disco, estava muito envolvido no projeto para um musical a ser lançado no cinema. Assim as coisas ficaram meio atropeladas. Tentando ganhar tempo Paul acabou incluindo várias composições que iriam entrar em "Tug Of War", mas que acabaram ficando de fora do disco como "Keep Under Cover", "Hey Hey", "Tug Of Peace" e "Sweetest Little Show". Talvez por essa razão "Pipes of Peace" ganharia uma injusta fama de ser uma “sobra” de "Tug of War". Tal forma de pensar é bem injusta pois o álbum apesar de sofrer influências do disco anterior certamente tem identidade própria. No final o disco fez sucesso, e apesar dos pesares, conseguiu emplacar nas paradas, chegando a vender 1 milhão de cópias apenas nos EUA. O êxito prosseguiu em vários outros países conquistando vários discos de ouro e platina. Paul McCartney assim confirmava mais uma vez sua grande vocação para o sucesso.

1. Pipes of Peace (Paul McCartney) - Paul sempre caprichou nas canções que davam título aos seus álbuns. O mesmo aconteceu com a música "Pipes of Peace". A inspiração para Paul veio de um evento histórico real acontecido durante a Primeira Guerra Mundial, quando soldados ingleses e alemães, inimigos no campo de batalha, aproveitaram uma trégua para disputar uma animada pelada de futebol no meio dos campos cheios de lama desse conflito que ficou conhecido como a guerra das trincheiras. O clip obviamente aproveitou a ideia e usou um artifício bastante curioso, colocando Paul atuando tanto como um soldado inglês como um alemão, com seus uniformes, bigodinhos e insígnias próprias de cada país. Realmente genial. Em termos musicais Paul e George Martin (sempre ele, sempre presente nos melhores trabalhos dos Beatles) criaram um maravilhoso arranjo, clássico e erudito, para acompanhar a singela letra. Eu considero essa gravação uma verdadeira obra prima, sem favor algum!

2. Say Say Say (Paul McCartney / Michael Jackson) - O maior sucesso desse disco foi uma parceria que Paul fez com Michael Jackson. Na verdade era uma troca de gentilezas. Paul trabalhou no álbum "Thriller" de Jackson, cantando na canção "The Girl Is Mine" e ele retribuiu aqui, gravando "Say Say Say" ao lado de Paul. Na época Michael Jackson era certamente o maior nome da música. Nunca um disco havia vendido tanto como "Thriller" (recorde que permanece até os dias de hoje) e ele estava no auge de sua popularidade. Era um super astro do mundo da música, estava realmente no topo do mundo! "Say Say Say" foi lançada como single e ganhou um clip. Desnecessário dizer que foi um mega sucesso. No videoclip (lembre-se que a MTV estava nascendo), Paul e Michael interpretavam vendedores ambulantes do começo do século XX, um tipo muito comum naquele tempo. Vendendo garrafas de elixir milagroso (que não passavam de embustes) eles tinham que dar no pé assim que o golpe era descoberto. Um dos melhores clips de Paul e Jackson que ajudou o álbum a vender muito, se tornando um dos singles campeões de vendas dos anos 80.

3. The Other Me (Paul McCartney) - Essa canção "The Other Me" quase entrou no álbum "Tug of War", mas ficou de fora por falta de espaço. Na verdade Paul tinha tantas composições disponíveis naquela época - uma das mais criativas e produtivas de sua carreira - que ele até mesmo cogitou a possibilidade de gravar um disco duplo. Só desistiu da ideia depois que a gravadora EMI o aconselhou a gravar dois discos separados, um para ser lançado em 1982 e outro em 1983. Comercialmente seria mais interessante. Paul concordou com a ideia e assim tivemos "Tug of War" e "Pipes of Peace", duas obras primas da carreira solo de McCartney. A letra da música fala sobre o "Outro Eu". Nos versos Paul resume a questão ao cantar: "Eu sei que fui um louco idiota / Por tratá-la do jeito que tratei / Mas algo tomou conta de mim / Eu realmente não ficaria surpreso / Se você tentasse encontrar um "Outro Eu". Dizem alguns autores que Paul escreveu essa letra como um pedido de desculpas para a sua esposa Linda. Houve uma época em que ele começou a beber em demasia e Linda o confrontou sobre isso, gerando grandes discussões entre o casal. Ao que tudo indica Paul realmente entendeu que ele estava errado, agindo como um idiota. Pois é, nunca é tarde para se reconhecer um erro.

4. Keep Under Cover (Paul McCartney) -  Um dos problemas desse disco é que ele foi lançado em um espaço de tempo muito curto em relação ao disco anterior, "Tug Of War". Isso fez com que Paul utilizasse material que havia sido descartado nos trabalhos das sessões de 1982. Um exemplo disso vem em "Keep Under Cover" que fazia parte da primeira lista de canções que deveriam fazer parte de "Tug of War". Como foi descartada, Paul resolveu colocá-la aqui nesse LP. Ao lado de George Martin, Paul criou um arranjo que saísse do comum, ao invés do tradicional piano ele resolveu acrescentar belos solos de cravo, de forma bem discreta, ao fundo. A letra foi escrita na fazenda de Paul na Escócia e tem tudo a ver com a vida cotidiana por lá. Para torná-la mais comercialmente viável Paul colocou alguns clichês, versos de amor bem banais, para falar a verdade. Apesar disso (ou em razão disso) a música acabou funcionando muito bem do ponto de vista harmônico.

5. So Bad (Paul McCartney) - A balada "So Bad" é um dos melhores momentos desse álbum. Mostra claramente o tipo de composição que Paul sempre soube fazer muito bem. Baladas românticas, sem medo de soarem piegas ou bregas. A música tem belos versos como "Há uma dor, dentro de meu coração / Você significa muito para mim / Garota, Eu te amo / Garota, Eu te amo tanto!" - versos mais do que simples, mas que acabam tocando qualquer um que esteja apaixonado. Paul sempre soube criar grandes músicas usando versos batidos, isso é bem verdade, mas que são atemporais, nunca perdendo a essência de sua mensagem de amor. Paul sempre foi um romântico incorrigível, vamos ser bem sinceros e isso talvez tenha sido o segredo de seu sucesso como Beatle e depois como artista solo. O simples, muitas vezes, funciona mais do que o complexo, o rebuscado.

6. The Man (Paul McCartney / Michael Jackson) - "The Man" foi a outra canção feita em parceria com Michael Jackson. Paul estava bem à vontade e animado por trabalhar ao lado do cantor mais famoso do mundo na época, mas a amizade teve um fim precoce. Michael Jackson, sem avisar a Paul, lhe passou uma rasteira, comprando todo o catálogo das canções dos Beatles, justamente em um período em que Paul se preparava financeiramente para ele mesmo adquirir as canções que havia escrito ao lado de John Lennon. Isso significou o fim da aproximação entre Paul e Michael. Nunca mais se falaram novamente. Uma pena, porque pelo menos artisticamente eles pareciam dar muito certo. Basta ouvir essa balada "The Man", um primor pop que tocou muito nas rádios da época, para ter certeza disso. Tem um refrão pegajoso, um bom arranjo instrumental e aquela vocação para se tornar hit nas rádios (coisa que a música realmente se tornou assim que foi lançada).

7. Sweetest Little Show (Paul McCartney) - Já "Sweetest Little Show" se sobressai pelos bons arranjos acústicos. É interessante que Paul, ao trabalhar ao lado de George Martin, sempre procurava por bons materiais, uma vez que o famoso produtor só aceitava trabalhar tendo total poder de veto, ou seja, Martin podia rejeitar qualquer composição que Paul trouxesse para o estúdio caso ele entendesse que não era muito boa. Claro que também com os anos o relacionamento entre eles foi se desgastando justamente por isso. Paul era tão dominador e controlador quanto George Martin. O próprio George Harrison em vários ocasiões acusou Paul de ser um arrogante prepotente dentro dos estúdios, sempre impondo suas escolhas aos outros. Embora respeitasse muito George Martin pelo que ele havia feito pelos Beatles no começo da carreira, ele agora não parecia mais disposto a ouvir um não de seu produtor. Por essa razão também essa música acabou sendo uma das últimas parcerias entre eles. Paul ficou possesso, pois George Martin quase a tirou do disco "Pipes of Peace" por ser, em sua opinião, "banal demais". Imaginem o ataque de raiva de Paul, o controlador, ao ouvir esse tipo de crítica!

8. Average Person (Paul McCartney) - Se você estiver procurando conhecendo melhor o som mais pop dos anos 80 eu recomendo essa gravação de Paul para o álbum "Pipes of Peace". Notem os arranjos, algo que foi muito utilizado pelos grupos da época. No meio dos efeitos sonoros, Paul parece ter usado todos os instrumentos que eram modinha naqueles tempos, com direito a uma bateria eletrônica e muitos sintetizadores. É interessante porque gravações como essa acabam ficando mais datadas do que as demais, feitas ao estilo mais tradicional. Pois é, o moderninho tem mesmo a tendência de envelhecer mais rápido do que a velha e boa sonoridade musical de raiz. Fica a lição.

9. Hey Hey (Paul McCartney) - Um fato curioso é que "Pipes of Peace" foi gravado meio às pressas, para aproveitar o sucesso da parceria entre Michael Jackson e Paul McCartney (que juntos gravaram duas músicas, "Say Say Say" e "The Man"). Assim Paul teve que se virar para completar o álbum. Uma das soluções que ele encontrou foi encaixar algumas composições que havia criado para o disco anterior, "Tug of War". Ele pegou algumas faixas que tinham sobrado, muitos delas trabalhadas ao lado do produtor George Martin (dos Beatles) e começou a trabalhar em cima delas. Algo de bom poderia sair daquelas canções inacabadas. Uma dessas músicas descartadas foi "Hey Hey". Na verdade a falta de tempo fica patente na faixa que sequer tem letra! Na verdade é uma boa jam session de Paul com seu grupo e nada mais! Curiosamente a canção até tem boa melodia, agradável, mas nada disfarça o fato dela ser uma grande encheção de linguiça. O próprio Paul ficou um pouco decepcionado de ter incluído canções como essa (que no máximo poderiam ser usadas como lados B de seus compactos mais obscuros). Anos depois ele diria: "Não tive realmente tempo de colocar algo melhor no disco. Reconheço minha falha!".

10. Tug of Peace (Paul McCartney) - "Tug Of Peace", por sua vez, é o que gosto de chamar de canção link! O que exatamente significa isso? Essencialmente é uma faixa de ligação com o disco anterior, "Tug of War". Quase que puramente instrumental - com um pequeno refrão por um coro que parece ter saído de algum álbum dos Wings - essa faixa é apenas uma espécie de gravação experimental de Paul no disco. Afinal os fãs dos Beatles pensavam que apenas John Lennon e Yoko Ono podiam se dar ao prazer de gravar faixas assim? Porém ser experimental era obviamente pouco para Paul McCartney. Assim o ex-Beatle escreveu alguns belos arranjos para solos de sua guitarra Gibson, que atravessam praticamente toda a gravação. Uma canção um pouco abaixo das demais presentes nesse disco, mas certamente uma das mais interessantes do ponto de vista puramente musical. Paul sendo um pouco Lennon, para variar.

11. Through Our Love (Paul McCartney) - Embora, como sempre, tenha seus detratores, o fato é que o álbum "Pipes of Peace" também tem momentos muito bons, canções inegavelmente bem escritas. A música "Through Our Love" selecionada por Paul para fechar o disco, tem uma melodia belíssima e um maravilhoso arranjo. Aqui Paul realmente trabalhou duro ao lado do produtor e maestro George Martin para lapidar cada nuance, cada nota. A letra, despudoradamente romântica é quase uma carta de amor de Paul (obviamente para Linda) para deixar as coisas sem importância para trás, não se perdendo mais tempo com elas. Em reflexão Paul admite que já perdeu tempo demais em coisas sem a menor importância. O que importa no final de tudo é realmente dar o amor para a pessoa que se ama, nada mais. Enfim, uma bela melodia embalada por uma letra bem articulada, honesta, cheia de sentimentos. Paul em sua mais pura essência.

Pablo Aluísio. 

Cinema Cássico - Marilyn Monroe



U2 - War

Em relação ao U2 existe uma verdade absoluta: não se pode entender o grupo, seu som e suas letras sem entender suas origens. O U2 é um grupo de rock político desde sempre, mesmo em seus primeiros álbuns já se nota claramente esse aspecto. Embora os anos 80 tenham dado origem a excelentes artistas não há como negar que aquela década também foi o auge do Pop. E o mundo Pop é aquela coisa: se investe muito mais no visual e na imagem dos artistas do que em qualquer outra coisa. O artista pop é uma celebridade por excelência, vide os maiores ícones daqueles tempos, Michael Jackson e Madonna. Ser político, tratar de assuntos sérios naquela época não era fácil, mas o U2 salvou a lavoura daqueles tempos relativamente bem fúteis. Eles deixaram as futilidades de lado e resolveram falar dos problemas políticos de seu país, da barra enorme que era ser um jovem na Irlanda durante a opressão inglesa aos seus cidadãos e à sua liberdade. Não havia espaço para baboseiras, o assunto era sério. 

Um exemplo você pode conferir nesse "War", cujas intenções do grupo ficam evidenciados logo no título. Que artista pop adolescente dos 80´s iria dar o nome de "Guerra" a um disco? Absolutamente nenhum. Assim o U2 rompeu realmente barreiras. O som do grupo e principalmente as letras fugiam do feijão com arroz, das melodias cheias de sintetizadores e dos temas banais do tipo adolescente ama garota, mas garota não o ama. Na época havia também outro fator importante: O Bono ainda não era tão pretensioso e nem queria salvar o mundo como vemos hoje em dia! Ele apenas fazia um som honesto ao lado de seu conjunto e se considerava apenas um membro da classe trabalhadora irlandesa que conseguiu se destacar no cenário musical - e isso era o ápice da vida deles, não salvar o planeta Terra da destruição como vemos agora. Deixando isso um pouco de lado "War" ainda é muito bom musicalmente e não perdeu a força, mesmo depois de tantos anos. O Rock como gênero musical talvez seja um dos únicos que resiste muito bem ao tempo, praticamente nunca ficando datado (com exceções, é óbvio). De qualquer maneira se você não está nem aí para esse tipo de discussão e quer apenas matar as saudades de sua juventude o disco ainda cai muito bem pois está cheio de hits radiofônicos da época, afinal de contas onde mais você iria ouvir o hino "Sunday Bloody Sunday"?

U2 - War (1983)
Sunday Bloody Sunday / Seconds / New Year's Day / Like a Song../ Drowning Man / The Refugee
Two Hearts Beat as One / Red Light / Surrender / 40 / U2 - War (Irlanda, 1983) Produção: Steve Lillywhite / Selo: Island / Data de gravação: 17 de maio, 20 de agosto de 1982 / Data de Lançamento: Fevereiro de 1983 / Músicos: Bono (vocal, guitarra), The Edge (guitarra, piano), Adam Clayton (baixo), Larry Mullen Jr (bateria), Kenny Fradley (trompete), Steve Wickham (violino), The Coconuts (vocais).

"Sunday Bloody Sunday" talvez seja a música mais politizada do U2. Uma letra relembrando o domingo sangrento, quando os soldados ingleses abriram fogo contra manifestantes irlandeses desarmados, parte da população civil que apenas estava reivindicando seus direitos. Um absurdo completo. A harmonia da música inclusive lembra uma marcha militar para destacar ainda mais a indignação dos membros da banda. E pensar que apenas ditaduras atiravam contra pessoas inocentes... a democrática Inglaterra também carregou essa mancha em seu história.

"Seconds" é a segunda canção do disco. Aqui o teor da letra também é político. Nessa mensagem Bono tenta chamar a atenção para o perigo da corrida armamentista entre as grandes potências nucleares da época (Estados Unidos e União Soviética), cada uma construindo mais e mais armamentos nucleares de alta potencialidade destrutiva. Aonda tudo aquilo iria terminar? O ritmo da canção é muito boa, lembrando inclusive a primeira faixa "Sunday Bloody Sunday". O ritmo se desenvolve como uma marcha militar. Outro recado de Bono sobre os problemas que o mundo vivia naquele momento.

A terceira música desse disco acabou se tornando também seu maior hit nas rádios dos anos 80. Se trata de "New Year's Day". Aqui os arranjos já são bem mais caprichados, com destaque para a guitarra duplicada ao fundo. A gravadora farejou sucesso nessa gravação e lançou como single em janeiro de 1983 com a faixa "Treasure (Whatever Happened to Pete the Chop)" no lado B. O sucesso se confirmou. Foi a primeira música do U2 a ter destaque na parada da Billboard nos Estados Unidos. Também foi a primeira música do grupo a entrar na seletiva lista "Top 10" do Reino Unido. Para jovens irlandeses praticamente desconhecidos foi um avanço e tanto na carreira.

Pablo Aluísio.

sábado, 14 de maio de 2011

The Beatles - The Decca Tapes

Toda história de sucesso precisa ter um começo modesto. Assim que Brian Epstein assinou com os Beatles ele sentiu a necessidade de que o grupo precisava de uma grande gravadora. Era preciso ter um disco para divulgação do som do quarteto. A primeira providência foi arranjar um teste com a gravadora Decca em Londres. A Decca era tradicional no mercado e tinha grandes artistas sob contrato. Todo o trabalho de divulgação e promoção de seu departamento de marketing era considerado o melhor da Inglaterra. Era o ideal para os Beatles. Eles obviamente ficaram animados e até tocaram muito bem na audição. O problema é que foram recusados! Isso mesmo, a Decca recusou aquele que seria o grupo de rock mais popular do mundo, que venderia milhões de cópias de discos nos anos seguintes!

Felizmente as gravações sobreviveram ao tempo e podem ser ouvidas aqui nesse álbum. O tal sujeito - que depois seria demitido obviamente por ter recusado o maior fenômeno musical de todos os tempos - alegou que grupos de rock formado apenas por rapazes já estavam fora de moda, que não tinha mais nada a ver aquele tipo de som e que as chances daquele grupo de rock desconhecido de Liverpool dar certo era muito remota. Trocando em miúdos foi um dos maiores banhos de água fria que se poderia imaginar. No caminho de volta da viagem o grupo, claro, ficou bem para baixo, desanimado mesmo. Só não ficaram mais entristecidos porque Brian Epstein tinha uma carta na manga. Ele havia marcado outra audição, dessa vez na gravadora EMI.

Brian havia conhecido um produtor considerado excêntrico dentro da empresa chamado George Martin. Embora fosse um talento musical e maestro de profissão, Martin ganhava a vida gravando discos de comédia no selo Parlophone. Absolutamente ninguém levava a Parlophone à sério dentro da EMI e por isso ninguém ligou muito quando George Martin fechou com os Beatles, assinando o primeiro contrato profissional da vida daqueles jovens. Para os demais executivos da EMI, o velho George Martin só havia contratado um grupo de rock desconhecido para tocar um barulho em seu selo. Mal sabiam eles no que os Beatles iriam se transformar...

De qualquer forma, musicalmente falando, esses primeiros registros na Decca já mostra um conjunto de músicos bem entrosados, fruto da época em que eles se apresentavam diariamente na Alemanha. O repertório, por essa razão, é basicamente o set list de seus concertos em Hamburgo. Há música de salão, para dança, como a famosa "Besame Mucho", rocks mais viscerais como "Money (That's What I Want)" e até covers de Buddy Holly como "Crying, Waiting, Hoping". Em Hamburgo os Beatles tocavam para marinheiros americanos que passavam alguns dias de folga nos clubes noturnos da cidade. Por isso os Beatles tinham de se virar para agradar esses militares. Havia espaço também para músicas surreais como "The Sheik Of Araby" e homenagens ao ídolo Chuck Berry em números como "Memphis Tennessee" que também seria gravada por Elvis Presley alguns anos depois. Enfim, uma boa amostra do tipo de som que os Beatles tocavam em seus primeiros anos de estrada. Não há nenhum deslize por parte deles na audição, todas as canções estão bem tocadas, demonstrando acima de tudo que o executivo que os reprovou na época era mesmo um produtor bem idiota.

The Beatles - The Decca Tapes (1982)
Like Dreamers Do / Money (That's What I Want) / Till There Was You / The Sheik Of Araby / To know Her Is To Love Her / Take Good Care Of My Baby / Memphis Tennessee / Sure to Fall (In Love With You) / Hello Little Girl / Three Cool Cats / Crying, Waiting, Hoping / Love Of The Loved / September In The Rain / Besame Mucho / Searchin. / Data de gravação: janeiro de 1962 / Músicos: John Lennon (guitarra), Paul McCartney (baixo), George Harrison (guitarra), Pete Best (bateria).

Pablo Aluísio.

The Beatles - John Lennon e sua Guitarra Rickenbacker

No auge dos Beatles se criaram vários símbolos associados ao grupo, fossem os cabelos (considerados escandalosamente longos para a época), ou os terninhos britânicos com corte francês. Até mesmo os próprios instrumentos musicais que eles usavam viraram marca da banda. Um dos ícones nesse sentido foi a guitarra Rickenbacker com a qual Lennon gravou praticamente todos os primeiros discos dos Beatles. A famosa  marca de instrumentos musicais chegou pela primeira vez a John quando os Beatles tocavam em Hamburgo, na Alemanha. Isso mesmo, o design e a tecnologia da Rickenbacker eram alemães. É curioso que enquanto os outros ídolos da música, como Elvis Presley, preferiam a tradicional Gibson, Lennon não abria mão da sua guitarrinha alemã, que nem era considerada tão boa e cheia de recursos como as demais.

Nos tempos do Cavern Club a guitarra que John Lennon usava era conhecida como Heiligengeistfeld. Era um modelo mais simples (até tosco, diria) sem muitos recursos. O instrumento era de tal forma fraco em suas qualificações técnicas que o próprio Lennon precisou modificá-la. Algo que ele mesmo fez com uma velha chave de fenda. Ele instalou vários acessórios Hofner comprados numa loja de instrumentos musicais de Hamburgo. A grana era curta, os Beatles tocavam na noite para ter o que comer no dia seguinte. Em tempos de dureza a criatividade geralmente despontava.

Depois que os Beatles voltaram para a Inglaterra a sorte começou a mudar e John Lennon aposentou sua velha companheira de palco. Em fins de 1961 ele adquiriu uma guitarra Rickenbacker 325 conhecida popularmente como modelo Capri. Foi essa guitarra que se tornou mundialmente famosa em suas mãos pois foi tocando nela que Lennon atravessou a fase mais gloriosa dos Beatles. A usou em praticamente todos os álbuns do grupo de "Please Please Me" até "Rubber Soul" quando a própria sonoridade dos Beatles começou a mudar, deixando de lado a boa e velha Rickenbacker. Um fato curioso sobre essa guitarra é que John Lennon a destruiu em 1967 durante uma bebedeira em sua casa em Londres. Em uma farra John a teria jogado do segundo andar e o instrumento se espatifou no chão com a queda.

Alguns anos atrás um segundo instrumento, do mesmo modelo e que também havia pertencido a Lennon, foi vendido em um leilão por 800 mil dólares. Essa segunda guitarra pertencia a Ringo Starr que teria sido presenteado com ela por John em Nova Iorque no ano de 1975. Ringo visitava os Estados Unidos quando em um encontro no apartamento de Lennon ele teria oferecido o instrumento a Ringo "pelos bons e velhos tempos dos Beatles". Não era a mesma dos acordes inesquecíveis dos discos dos Beatles, mas de qualquer maneira, como foi provado em leilão, tinha também seu valor histórico e musical.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

The Beatles - Beatles VI (1965)

Certa vez John Lennon disse que não conseguia entender direito a discografia americana dos Beatles. Como se sabe a Capitol, gravadora que detinha os direitos de lançamento dos discos dos Beatles nos Estados Unidos, criava seus próprios álbuns e esses eram bem diferentes dos discos ingleses (só para situar o leitor é interessante explicar que a discografia inglesa é de fato a oficial dos Beatles). Pois bem, os executivos da Capitol geralmente pincelavam faixas soltas e as misturavam com canções dos álbuns originais ingleses. Para completar o caldeirão fundiam tudo com singles ingleses e europeus.

"Beatles VI" vai por esse caminho. Na verdade se trata, muito a grosso modo, de uma fusão dos discos britânicos "Beatles For Sale" e "Help!". O curioso é que esses álbuns venderam imensamente mais cópias do que os originais britânicos, uma vez que o mercado inglês não poderia ser comparado com a complexidade e a imensidão do mercado consumidor americano. Para nós, brasileiros, esse disco soava completamente estranho pois felizmente a Emi Odeon no Brasil resolveu seguir, sabiamente, o catálogo original que foi lançado na Inglaterra e no resto da Europa (com obviamente pequenas exceções como os discos brasileiros ao estilo "Beatlemania" e "Beatles Again").

É curioso perceber também o fato de que o disco é basicamente uma seleção de covers, principalmente de cantores e compositores americanos (como Buddy Holly e a dupla Leiber e Stoller). Um tipo de homenagem fabricada Made in USA dos Beatles em relação ao rock feito na América. Uma espécie de "Yankees Go Home" ao avesso! Lançado nos Estados Unidos em meados dos anos 60 o LP original vendeu muito e alcançou os primeiros lugares da parada naquele país. Depois disso o álbum foi poucas vezes relançado no mercado americano, talvez pelo fato de que a partir dos anos 70 o interesse dos fãs americanos cresceu em relação aos discos do Reino Unido. No Brasil o LP nunca foi lançado, nem antes e nem depois, sendo cópias americanas um item raro entre colecionadores. Pois é, banda de alcance internacional, os Beatles também apresentavam diferenças nas diversas discografias das mais diferentes nações.

The Beatles - Beatles VI (1965)
Kansas City / Eight Days A Week / You Like Me Too Much / Bad Boy / I Don't Want To Spoil The Party / Words Of Love /  What You're Doing / Yes It Is / Dizzy Miss Lizzie / Tell Me What You See / Every Little Thing / País de origem: Estados Unidos / Estúdio / Selo: Capitol Records / Produção das gravações originais: George Martin / Formato Original: Vinil / Músicos: John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr.

Pablo Aluísio.

The Beatles - Eleanor Rigby

Paul McCartney compôs essa canção durante as filmagens de "Help!". Ele inclusive quase escolheu a música para fazer parte da trilha sonora do filme, mas pensou melhor e resolveu trabalhar ainda mais nela antes de levá-la para o estúdio. Assim que George Martin a ouviu pela primeira vez percebeu que ali havia uma faixa clássica que não se enquadraria com os instrumentos de um grupo de rock. Era necessário escrever um arranjo mais erudito, usando um quarteto de cordas, de preferência. Paul aceitou imediatamente as sugestões. Assim os instrumentos básicos dos Beatles foram deixados de lado.

Um grupo de músicos foi contratado e Paul e Martin começaram a lapidar a canção em Abbey Road. Para se ter uma ideia Ringo Starr nem sequer participou da gravação da música. John e George só colaboraram fazendo os vocais de apoio. Embora John tenha creditada a canção como uma de suas criações, o fato é que sua participação foi quase nula. Paul esclareceria anos depois que John havia escrito apenas uma linha da letra e feito o backing vocal, nada muito além disso. Aliás nenhum dos Beatles tocou na faixa, sendo tudo providenciado mesmo pelo gênio George Martin.

A letra, composta quase que exclusivamente por Paul falava sobre solidão. Essa é certamente uma das letras mais cinematográficas dos Beatles pois em essência narra o enterro de Eleanor Rigby, uma pessoa solitária, em cujo funeral ninguém compareceu a não ser o Padre McKenzie para fazer as orações finais. Durante anos Paul disse que a personagem Eleanor Rigby era ficcional, tanto que antes de escolher esse nome outros foram usados na composição como Miss Daisy Hawkins.

A sonoridade porém não agradava Paul que depois finalmente encontrou o que procurava em "Eleanor Rigby". A explicação soava bem plausível, isso até historiadores dos Beatles encontrarem uma lápide real no cemitério de Liverpool com o nome de Eleanor Rigby, cuja data de falecimento constava como o de 1939. Informado sobre a descoberta Paul se disse completamente surpreso. Quem sabe seu nome ficou em seu subconsciente, pois Paul costumava frequentar o local quando era mais jovem. Mais um mistério na história desse verdadeiro clássico da carreira dos Beatles.

Eleanor Rigby (Paul McCartney / John Lennon) Álbum: Revolver / Data de Gravação: 28 e 29 de abril, 6 de junho de 1966 / Local de Gravação: Abbey Road Studios, Londres / Produtor: George Martin / Músicos: Paul McCartney (vocal), John Lennon (vocal), George Harrison (vocal), Tony Gilbert (violino), Sidney Sax (violino), John Sharpe (violino), Juergen Hess (violino), Stephen Shingles (violão), John Underwood (violão), Derek Simpson (violoncelo), Norman Jones (violoncelo).

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

John Lennon - Live Peace in Toronto

Em 1969 chegou nas lojas o álbum "John Lennon - Live Peace in Toronto". Esse pode ser considerado o primeiro disco solo de John do ponto de vista puramente musical. Seus outros trabalhos ao lado de Yoko Ono traziam apenas sons experimentais e nada mais. Aqui sim havia finalmente música. É um show ao vivo com a Plastic Ono Band, um arremedo de grupo musical que John reuniu às pressas para fazer o concerto. O disco abre com um cover de Lennon para o clássico de Carl Perkins, "Blue Suede Shoes", que como todos sabemos se tornaria imortal mesmo na voz de Elvis Presley. Apesar da pressa de se ensaiar na véspera do show e tudo mais, essa versão de John Lennon é bem executada, diria até muito boa. Há uma pegada bem mais pesada do que as versões originais e os solos de guitarra valorizam muito o resultado final. Com essa performance Lennon quis deixar claro suas raízes, de onde tinha surgido sua vontade de ser um roqueiro. Tudo podia ser encontrado nos primeiros discos da pioneira geração do rock americano. O resto era bobagem.

Depois ele mais uma vez deixou o arranjo mais pesado e visceral nessa nova versão de "Money", uma canção marcante dos primeiros discos dos Beatles. É impossível não lembrar dos Beatles aqui. A melodia foi, digamos, modificada bastante por John. Ficou com menos velocidade, mas também mais pesada. Uma solução por parte de Lennon que me agradou completamente devo dizer. A única ausência mais sentida vem da ausência justamente dos vocais de apoio de Paul e George. A voz isolada de John deixa uma sensação de vácuo, de que algo está faltando. E está mesmo, pois os Beatles eram mesmo insubstituíveis.

Depois de dois covers - excelentes, é bom frisar - John se sai com uma versão envenenada de "Dizzy, Miss Lizzy". Essa canção fechava o álbum "Help!" dos Beatles. Não era uma composição de Lennon e McCartney, mas sim uma faixa composta por Larry Williams. Na época de sua gravação original ao lado dos Beatles, John justificou sua gravação como um lembrete aos demais membros do grupo de que os Beatles era uma banda de rock ´n´ roll e isso jamais deveria ser esquecido. Por isso ele optou por essa pauleira, com guitarras estridentes e fortes. Talvez John estivesse incomodado com gravações como "Yesterday" e todos aqueles violinos. Para John Lennon isso agredia um pouco a imagem que ele gostava de ter de si mesmo, a de um jovem roqueiro rebelde com casaco de couro.

Uma pena que John Lennon nunca tocou "Yer Blues" ao vivo com os Beatles. Essa canção que foi lançada no Álbum Branco era de excelente qualidade, um blues ao velho estilo. Tinha um ótimo arranjo, contando com excelentes solos de Harrison. Infelizmente quando ela foi gravada os Beatles já tinham desistido dos concertos e das turnês internacionais. Assim acabou se tornando uma canção apenas de estúdio. Os Beatles jamais a tocariam ao vivo.

Tinha grande potencial de palco, algo que certamente Lennon sabia, tanto que a levou para seu show em Toronto. A execução de John ao lado da Plastic Ono Band até que é muito boa, mas certamente jamais poderia ser comparada à versão oficial dos Beatles. Embora bem fiel ao disco, deixa em certos aspectos muito a desejar, principalmente no duelo de guitarras no solo, em sua parte final.

"Cold Turkey" também apresenta problemas. Aceleram demais a velocidade da música, tão absurdamente que ficou parecendo até mesmo outra canção! Absurdo! Essa canção ganhou uma bela versão de estúdio, que inclusive foi lançada como single na época. Ao vivo ela ficou estranha, principalmente por Lennon não demonstrar muita fidelidade ao disco original.

Para falar a verdade percebe-se até mesmo um certo desleixo por parte dele, o que não deixa de ser uma surpresa, já que a música era já naquela época considerada uma de suas melhores faixas na carreira solo. Os gritinhos de Yoko também não ajudam em nada. O público fica até mesmo assustado com eles. Isso fica claro quando se percebe as tímidas palmas depois que o grupo termina de tocar a canção. Pelo visto não gostaram muito.

Depois de "Cold Turkey" Lennon resolve cantar um dos seus hinos de paz, a super conhecida "Give Peace a Chance". Essa música pacifista foi escrita por Lennon para participar de sua campanha pela paz "War is Over". Curiosamente a música trazia como coautor Paul McCartney, embora ele não tivesse na verdade nada a ver com a canção. Era a velha cláusula, ainda dos primeiros anos dos Beatles, que afirmava que eles sempre assinariam Lennon / McCartney, mesmo quando as canções fossem feitas por apenas um deles. Como os Beatles ainda estavam na ativa em 1969 - eles só se separariam definitivamente em 1970 - Lennon cumpriu sua parte do acordo, colocando seu companheiro de banda na coautoria da canção.

Pablo Aluísio.

Frank Sinatra - Swing Easy!

Quando Frank Sinatra foi para a gravadora Capitol ele queria mesmo mudar, procurar por novos rumos. Com um contrato que lhe dava plena autonomia na gravação de seus discos ele começou a planejar cuidadosamente cada álbum. Os LPs da carreira de Sinatra na Capitol eram extremamente pessoais pois ele pensava me praticamente tudo, da seleção musical às capas, dos arranjos aos menores detalhes. Tudo partia de Sinatra e tinha que passar por ele antes de qualquer decisão definitiva. De certo modo Sinatra era visto quase como um tirano pelos executivos da gravadora, mas havia uma clara razão para isso: Sinatra almejava a perfeição e acima de tudo o sucesso. Sua fase na Capitol é para muitos críticos não apenas a mais comercial de sua carreira, como também a mais criativa, pessoal e brilhante de Sinatra. Ele suavizou tudo, desde seu visual até às próprias canções, procurando por um repertório agradável que soasse bem aos ouvidos do homem comum da América.

Esses álbuns da Capitol não foram pensados e nem criados para um público mais erudito. O próprio Sinatra dizia que os realizou para o trabalhador comum que precisava relaxar na sala de sua casa após um dia duro de trabalho. Por essa razão notamos em praticamente todos os discos dessa fase essa suavidade agradável que tanta caracteriza esses trabalhos musicais. A intenção de agradar era tamanha que Sinatra resolveu abrir algumas sessões de gravação para o público e jornalistas. Alguns fãs eram escolhidos pela produção de Sinatra, além de críticos musicais de renome. Todos acompanhavam o método de trabalho do cantor atrás dos microfones.

O mais curioso é que Sinatra acabava criando uma relação com essas pessoas, quase como se estivesse perante um grande público. Entre um gole e outro de café ele ia cantando, contando piadas ou histórias engraçadas, enquanto interagia com seus músicos (apenas os melhores, escolhidos a dedo por Sinatra e o produtor Nelson Riddle entre as principais big bands americanas da época). Frank geralmente escolhia um horário especial para trabalhar (entre oito da noite à meia-noite). Nesse meio tempo ele dava o melhor de si, entretinha os convidados, tudo em um clima muito íntimo e aconchegante. O resultado? Um dos discos mais simpáticos e de fácil digestão do velho Sinatra. Uma verdadeira preciosidade que não pode faltar em sua coleção de (boa) música.

Frank Sinatra - Swing Easy! (1954)
Just One of Those Things
I'm Gonna Sit Right Down (And Write Myself a Letter)
Sunday
Wrap Your Troubles in Dreams
Taking a Chance on Love
Jeepers Creepers
Get Happy
All of Me

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Paul McCartney - Egypt Station

Esse é o novo álbum de Paul McCartney. "Egypt Station" é o seu título. Como se pode perceber ele não está nem um pouco disposto a se aposentar. John Lennon sempre disse que Paul era viciado em trabalho. A mais pura verdade. Esse álbum me deixou bem satisfeito, mais do que os anteriores. Paul abraçou novamente as boas melodias, as sonoridades agradáveis ao ouvido, voltando para aquele tipo de música que sempre foi sua marca registrada. É um repertório que me fez lembrar dos melhores discos de Paul nos anos 80. Ele definitivamente não perdeu a mão em compor e produzir músicas nesse estilo. Isso você perceberá logo no começo do CD. "I Don't Know" tem um belo arranjo em piano e violão. Seus primeiros acordes me fizeram lembrar imediatamente de "Only Love Remains". A letra é simples, passando uma mensagem que não vai mudar o mundo, mas que agrada bastante. Aqui Paul acerta justamente por escolher o simples e eficiente. Nada de sons exagerados, tentando evocar uma modernidade que não agrega em nada no final das contas.

Como não poderia deixar de ser a faixa mais comentada entre os fãs brasileiros é justamente a música que Paul fez em homenagem ao nosso país. Os primeiros acordes já entregam que Paul foi em busca de inspiração na boa e velha Bossa Nova. Depois ele acrescenta uma sonoridade mais moderninha, mas sem nunca deixar o acompanhamento inicial. Essa canção que Paul batizou de "Back in Brazil" foi composta quando ele estava em turnê pela terra brasilis. Segundo o produtor Greg Kurstin essa foi uma das primeiras canções gravadas e uma das que mais deram trabalho a Paul em estúdio. Sim, o Brasil não é para iniciantes! Outro destaque desse disco é "Hand in Hand". Seu estilo me fez lembrar muito das canções do disco "London Town" de 1978. É a mesma simplicidade romântica, com poucos instrumentos ao fundo, quase como se Paul estivesse cantando uma canção de ninar. O arranjo de quarteto de cordas que vai surgindo aos poucos também acrescenta muito ao resultado final. Achei acima de tudo uma faixa cativante, principalmente para quem é fã de longa data do ex-Beatle.

Gostei de "Who Cares" desde a primeira vez que ouvi. Certo, a canção tem um começo meio esquisito, mas depois que Paul coloca para fora seu lado, digamos, experimental, a canção embala. É uma daquelas faixas que me lembram dos discos de Paul lá por volta de meados dos anos 80. Com um arranjo de guitarras bem à vontade, é um dos bons momentos do disco. Uma faixa crua que cumpre o que promete. Já "Fuh You" parece simplória em seus primeiros acordes. Porém é preciso reconhecer que ela tem uma das melhores melodias do álbum e um refrão que vai grudar na sua cabeça de forma definitiva. Com duas audições você já pegou a linha da canção, não a esquecendo mesmo. É aquele tipo de som descompromissado que fez a carreira solo de Paul. Não me admira que esse CD tenha vendido tanto. Sua sonoridade que nos remete ao bom e velho Paul dos anos 80 aqui prova que a antiga fórmula ainda funciona muito bem. Típico som para tocar na FM naquela viagem de carro que você vai ter que fazer no fim de semana.

Gosta de uma boa balada ao violão? Então a dica do álbum é a singela "Confidante". Paul disse que sempre compôs ao longo da vida com basicamente apenas dois instrumentos: violão ou piano. Suas músicas mais clássicas sempre foram feitas ao piano. As mais bucólicas sempre surgiram nas cordas do violão que ele sempre gosta de carregar para onde vai, até porque a inspiração pode pintar a qualquer momento, em qualquer lugar. Essa faixa foi composta ao violão, enquanto Paul tirava férias numa estação de verão nos Estados Unidos. Composta à beira do lago mantém bem esse clima. Mais um momento agradável do álbum. Gostei bastante. Devo dizer que não curti muito "People Want Peace". Não se trata de implicância com a letra pacifista onde Paul tenta apertar um botão para virar o ativista John Lennon dos anos 70. Nada disso. Certo que a música tem muitos clichês - alguns já mais do que saturados - porém o que derrapa aqui em minha opinião é a própria melodia, que considero fraca e sem direção. O finalzinho com todo mundo batendo palma, como se estivessem em um acampamento hippie, também não convence em nada. Esse tipo de música era com John Lennon, não tem jeito. Com Paul parece forçada e falsa. 

Enfim, essas são algumas músicas que mais me chamaram a atenção, mas há outros bons momentos certamente. Em termos de música todos acabam desenvolvendo seus próprios gostos pessoais, como é de praxe. Minha conclusão sobre esse álbum de Paul McCartney é que ele obviamente perde em comparação com outras obras musicais do passado desse grande artista, mas em relação a outros CDs mais recentes até que se sai muito bem. Talvez haja excesso de faixas (18 são um pouco demais em minha opinião) teriam deixado o disco mais enxuto, com mais qualidade. Entretanto esse é uma escolha pessoal do artista. Assim o que temos é um álbum acima de tudo agradável de se ouvir.

Paul McCartney - Egypt Station (2018)
Opening Station
I Don't Know
Come On to Me
Happy with You
Who Cares
Fuh You
Confidante
People Want Peace
Hand in Hand
Dominoes
Back in Brazil
Do It Now
Caesar Rock
Despite Repeated Warnings
Station II
Hunt You Down/Naked/C-Link

Pablo Aluísio.

terça-feira, 10 de maio de 2011

George Michael - Faith

Fim de ano é tempo de organizar algumas bagunças. Remexendo em uma velha pilha de discos de vinil da minha velha coleção acabei me deparando com uma cópia antiga, já bem gasta pelo tempo, desse "Faith". Para matar um pouco a saudade resolvi colocar para tocar algumas faixas. Provavelmente apenas Michael Jackson e Madonna eram mais populares do que George Michael na década de 80. O cantor inglês era um dos maiores vendedores de discos do mundo! Suas turnês lotavam estádios planeta afora e George Michael tinha um fã clube tão forte e organizado como os de Madonna e Michael Jackson. "Faith" foi seu auge absoluto. Depois de um começo de carreira no Wham! (uma espécie de Menudo em versão dupla) o cantor rompeu com o antigo amigo e se lançou em carreira solo.

Após assinar com uma grande gravadora ele mudou o visual (saiu o estilo namoradinho de colegial e entrou o jeito motoqueiro de ser). George Michael encarnava naquele momento o cara durão de rua, que arranjava briga em bares de motoqueiro onde só havia caras durões para bater. Com uma jukebox dos anos 50 ao lado e casaco de couro negro, o cantor praticamente se reinventou. O novo design caiu imediatamente no gosto de seu extenso fã clube. "Faith" vendeu quase 30 milhões de cópias ao redor do mundo! George Michael com seu visual de borracharia, barba por fazer e óculos espelhados virou um ícone de sensualidade e perigo para todas as adolescentes do mundo! Depois de conquistar o primeiro lugar nas paradas George Michael partiu para conquistar o mundo através de turnês megalomaníacas! Lotou estádios dos EUA à Europa e até no Brasil o ídolo das massas aterrissou.

Foi um dos primeiros álbuns gravados digitalmente no mundo - uma revolução e tanto para aquela época. George Michael mostrando uma maturidade incomum foi praticamente o único produtor de todas as faixas. Usando a nova tecnologia ao limite ele conseguiu produzir um disco único que até hoje causa admiração em quem ouve. Além disso ele sempre mostrou ser um intérprete muito talentoso, com voz muito agradável. Infelizmente assim como aconteceu com Michael Jackson, sua vida pessoal cheia de problemas e escândalos nublaram a isenção dos que escreviam sobre suas obras. O fato porém é que George Michael nunca mais voltou ao nível comercial e artístico que apresentou nesse "Faith", um álbum que até hoje é um dos maiores representantes da musicalidade da década de 80. Um apogeu que jamais voltaria a acontecer em sua carreira.

1. Faith (George Michael) - Inegavelmente é um pop descartável dos anos 80, música para tocar nas estações de rádio FM. Tudo feito para consumo rápido. A música título "Faith" vai justamente por esse lado. Agora pare para pensar um pouco. Compare essa pop music dos anos 80 com o que se ouve hoje em dia no Dial de sua programação. É algo muito superior a qualquer coisa que se ouça hoje em dia. Os arranjos dessa música são caprichados, lembrando inclusive as guitarras dos anos Rockabilly. Isso fica ainda mais evidente pelo próprio visual de George Michael nesse álbum. Ele surge como um roqueiro dos anos 50, com direito a casaco preto de couro e tudo. Uma antiga guitarra vintage completa o quadro. Ficou muito legal!

2. Father Figure (George Michael) - "Father Figure" foi outro grande sucesso desse álbum. É uma balada, mas que se diferencia justamente pelo estilo vocal de George Michael. Ele a canta em sussurros, causando um efeito de confissão em quem ouve a faixa. O coro feminino só valoriza ainda mais a canção. É aquela sonoridade anos 80 que se você ouviu na época nunca mais esqueceu. Extremamente fixada em sua mente. Coisas de produtor. A letra é também extremamente sensual. Em primeira pessoa George Michael conta para sua garota que quer ser sua figura paterna. Não na linha de se tornar um Sugar Daddy da jovem, mas sim ali lado a lado, desfrutando de momentos mais íntimos possíveis. Um violão espanhol solando ao fundo completam o quadro de sensualidade latente.

3. I Want Your Sex (I & II) (George Michael) - A música que mais fez sucesso desse álbum foi "I Want Your Sex (I & II)", Realmente um belo trabalho de arranjos providenciado pelo próprio George Michael que foi o produtor do disco. É interessante perceber também que essa faixa acabou sendo renegada pelo próprio George Michael alguns anos depois, principalmente depois que ele enveredou por uma linha mais séria em sua discografia. Não é mesmo incomum astros da música renegarem seus maiores sucessos depois de alguns anos. Até parece que sentem uma certa vergonha por terem feito sucesso com determinadas canções. Deixando isso de lado a canção tem um arranjo que mais parece um antigo R&B, com ênfase na parte mais acústica, isso sem deixar de lado o som mais sofisticado que acabou estourando nas rádios durante os anos 80. Já a letra, bem, essa era mais do que direta. Na época não se sabia que George Michael era gay, por isso o apelo de sua sexualidade pegou também as fãs em cheio. Com um visual bem másculo, com jeitão de roqueiro dos anos 50, George Michael logo se reafirmou como símbolo sexual para as garotas, algo aliás que vinha desde os tempos do Wham, só que naqueles tempos numa pegada mais juvenil.

4. One More Try (George Michael) - "One More Try" começa quase como uma música sacra. Essa balada foi outra que não saiu das paradas na época. De forma em geral esse foi mesmo o auge comercial da carreira do cantor. Praticamente todas as faixas do disco se tornaram hits. Impressionante. George Michael estava ali lado a lado com Michael Jackson e Madonna no domínio das paradas de sucesso. Aliás sempre cito os três artistas como a verdadeira "trindade" da música pop internacional dos anos 80. Seus discos eram formados de um sucesso atrás do outro. Em uma época onde a sonoridade da música comercial era infinitamente superior ao que se ouve hoje em dia eles se destacavam muito nesse aspecto. Sim, música comercial mesmo, feita para vender, mas com inegável qualidade.

5. Hard Day (George Michael) - "Hard Day" também é muito bem arranjada, porém é tal coisa, esse uso excessivo de sintetizadores (tão comum nos anos 80) deixou a gravação também bastante datada. A linha de baixo, instrumento mais tradicional e convencional, acabou salvando a canção de sua sonoridade 80s em excesso. Essa faixa fez relativo sucesso na época. Não é uma música de George Michael que você vai lembrar de imediato, mas bastará mais alguns segundo para que você se lembre bem dela. Tem um ritmo mais cadenciado. A letra não diz muita coisa, porém no conjunto se torna bastante razoável.

6. Hand to Mouth (George Michael) - A música começa com uma bateria digital (que era febre nos anos 80). A voz do George Michael também está modificada, muito remixada. Essa faixa fez um sucesso apenas razóavel em seu lançamento. Seu estrofe principalmente vai soar familiar para quem viveu a época. O refrão então, você lembrará com certeza. Mesmo assim penso que é uma faixa menor dentro do disco. Não chega a se destacar. Apenas seu ritmo mais relaxante vai chamar a atenção hoje em dia.

7. Look at Your Hands (David Austin / George Michael) - "Look at Your Hands" tem um arranjo tão anos 80! Esses saxofones, nesse tipo de linha melódica, me lembra imediatamente de Rob Lowe fingindo ser um músico naquele clássico "O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas". Poderia ter feito parte dessa trilha sonora pois tem tudo a ver. Voltando para o "Faith" podemos perceber que a música tem seu embalo - com destaque também para as vocalistas femininas - mas nunca fez muito sucesso. Um Lado B de Michael. Bom embalo, dançante, bem produzida, mas sem maior brilho. Detalhe importante: foi composta em dupla com David Austin.

8. Monkey (George Michael) - A música "Monkey"ganhou clip, a gravadora se esforçou para fazer sucesso, mas a música nunca virou um hit! Por qual razão? Complicado dizer. O público tem seus próprios mistérios e nenhum analista consegue com certeza dizer se uma faixa vai ou não fazer sucesso. No videoclip temos uma parte em que George Michael, vestido de fazendeiro chic, com direito a suspensórios, dança em boa fotografia preto e branco. Na outra linha uma bem bolada edição mostra o cantor em diversos shows de sua turnê. É como eu escrevi, George Michael se esforçou muito para promover a canção - até fez coreografia própria, mas nunca pegou, nunca tocou bem nas rádios.

9. Kissing a Fool (George Michael) - E que tal beijar um tolo? Essa é a proposta de "Kissing a Fool". Ao contrário das anteriores esse bom swing fez sucesso e se tornou um hit internacional. O que não deixa de ser curioso pois é uma música bem simples, mas que caiu no gosto popular. Esse tipo de sonoridade me lembra muito os antigos cantores dos anos 40, com toda aquela ginga que se perdeu no tempo. Outro fato digno de nota: o arranjo não envelheceu nada e segue sendo tão saboroso e moderno como no dia em que chegou nas lojas pela primeira vez. Quem diria que essa faixa seria uma das mais impermeáveis ao tempo? Pois é... George Michael soando como algo novo, a última novidade.

10. Hard Day (Shep Pettibone Remix) (George Michael) - Numa época em que era raro termos remixes em álbuns de cantores e bandas, o George Michael inovou ao colocar essa faixa "Hard Day (Shep Pettibone Remix)". Era basicamente a mesma Hard Day, só que obviamente turbinada com todos os efeitos sonoros que eram possíveis nos anos 80. Ficou bem dançante, bem moderna, ideal para as pistas de dança. Importante chamar a atenção para o fato de que embora ainda não tivesse assumido publicamente que era gay o cantor era figurinha fácil em bailes e festas LGBTs. E ele bem sabia disso, tanto que contratou um grupo de DJs de Los Angeles especialmente para a elaboração desse remix. Um presente de George Michael para seu público mais fiel, obviamente.

11. A Last Request (I Want Your Sex Part III) (George Michael) - A mesma lógica fonográfica vem com "A Last Request (I Want Your Sex Part III)", só que aqui saiu o lado mais dance, frenético, para a entrada de uma balada bem calma, relax, bem diferente da "I Want Your Sex" original. Era fácil para George Michael brincar de produtor com esse tipo de faixa, afinal ele tinha à disposição o melhor dos mais modernos estúdios de gravação de Los Angeles e Nova Iorque ao seu dispor. Assim ele poderia dar diversas vertentes sonoras às músicas que havia gravado para o álbum "Faith". O resultado iria inspirar outros artistas a fazerem o mesmo, trilharem o mesmo caminho. Não deixou de ser uma inspiração bem interessante para quem gostava de música e sonoridade em geral. Foi até uma pequena revolução no mundo do disco que ele deu o pontapé inicial, quase sem querer.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Michael Jackson

Michael Jackson e Thriller
Os anos 80 foram de Michael Jackson. Elvis Presley estava morto, os Beatles tinham se separado e o trono de maior astro musical do mundo estava vago. Michael Jackson tomou esse trono justamente com esse álbum. "Thriller"foi durante anos o disco mais vendido da história, com mais de 50 milhões de cópias vendidas! Um número que hoje em dia é praticamente impossível de se alcançar. Aliás foi impossível até mesmo para o próprio Michael Jackson que nunca mais conseguiu alcançar esse marco comercial.

Estamos falando de outra era no mundo da música. Um tempo em que você necessariamente tinha que ter um vinil em mãos para ouvir o seu artista preferido. Hoje em dia nada mais parecido acontece. Alguns cantores não estão lançando nem mesmo mais CDs, tudo fica no virtual mesmo, em arquivos digitais. A indústria fonográfica se pulverizou! O curioso é que foi um álbum com poucas faixas, apenas nove no total. Na época os LPs vinham em média com dez a doze músicas. Isso decorreu do fato das músicas de Michael também terem duração maior do que o normal. O produtor Quincy Jones trabalhou de forma minuciosa em cada gravação, em cada detalhe  O disco trouxe uma produção primorosa, isso era algo inegável. Tanto capricho e trabalho foram recompensados.

Michael Jackson - Thriller - Box Special
Durante muitos anos Thriller foi o álbum mais vendido de todos os tempos. Um marco absoluto da música internacional. O cantor e compositor Michael Jackson chegou ao seu auge com esse trabalho realmente fantástico. Praticamente todas as faixas se tornaram hits, fazendo com que o álbum realmente fosse um fenômeno de vendas. Agora o trabalho ganhou uma recente modernização, através de um box com muito material de estúdio que seguia inédito. O produtor Quincy Jones (o verdadeiro gênio por trás do disco, ao lado de Michael Jackson, óbvio), foi até seus arquivos e encontrou muita coisa interessante.

O álbum foi produzido pela gravadora CBS, um braço do gigante da comunicação Columbia. Durante muitos anos os fãs só tiveram acesso ao disco original, tal como lançado na primeira metade dos anos 80, com encartes simples (contando com desenhos feitos pelo próprio Michael) e as letras das músicas. Nada de muito especial, nem mesmo nas inúmeras reedições do disco. O novo box promete trazer muito material que os fãs do cantor sequer imaginavam existir. Ainda há aspectos de direitos autorais a serem discutidos entre os herdeiros do astro, mas vamos torcer para que tudo caminhe bem e esse lançamento chegue mesmo nas mãos de seu público fiel.

Michael Jackson e Prince: Bad
Michael Jackson ainda segue sendo tema de interesse, mesmo após tanto tempo depois de sua morte. Um recente livro lançado nos Estados Unidos traz aspectos reveladores da intimidade do cantor, inclusive a descrição de seu quarto, que foi investigado pela polícia após sua morte. Fotos de crianças (até bebês!), frascos de remédios, roupas com sangue (não se sabe a origem delas) e dizem até pornografia infantil. Michael segue sendo um enigma complicado de desvendar.

Pois bem, um dos aspectos mais curiosos revelados nem vem dessa intimidade obscura do artista, mas sim de um encontro que foi durante muito tempo escondido do público. Algumas semanas antes de começar a gravação de seu novo disco "Bad" Michael se encontrou com Prince na sala da gravadora CBS em Los Angeles. Jackson queria que Prince participasse do seu novo álbum. Não apenas cantando em dueto na faixa principal "Bad" como também dançando no clipe.

O vídeo promocional traria Michael e Prince como líderes de gangues rivais que se encontrariam em um estacionamento de L.A. No começo tudo levaria o espectador a pensar que uma luta de punhais estaria prestes a começar, mas então ambos começariam a dançar, numa disputa para ver quem faria a melhor e mais bem elaborada performance. Seria genial se... Prince não gostasse da música. Realmente, com muito jeito, ele disse a Michael que não havia gostado de "Bad". Havia um trecho da canção que dizia: "A sua bunda é minha!" e Prince deixou claro para Michael que jamais cantaria um verso assim!

O encontro acabou terminando mal. Michael ficou ressentido pela recusa e nunca mais quis saber de Prince novamente. O grande encontro entre os dois ídolos pop dos anos 80 jamais aconteceria. O clipe foi gravado seguindo a ideia inicial, mas apenas como Michael atuando como astro. E ele também gravou a faixa sozinho. "Bad" não vendeu tanto quanto "Thriller" (isso jamais aconteceria de novo na carreira de Jackson) e por vários motivos foi considerado um disco decepcionante. Mesmo assim, entre polêmicas, recusas e batidas, o importante é que todos saíram são e salvos de mais essa tormenta na vida de Michael Jackson.

Michael Jackson Untouchable
Certas celebridades não conseguem morrer de fato. Suas vidas são fuçadas, estudadas, esmiuçadas ao extremo. Já havia acontecido antes em grande escala com Elvis Presley e agora começa a acontecer com outros ídolos mortos mais recentemente. A bola da vez é o superstar Michael Jackson. No livro "Michael Jackson Untouchable" o autor foca seu texto na vida íntima e sexual do cantor americano. Falar na vida sexual de Michael é algo que soa cansativo hoje para a maioria das pessoas pois durante anos esse tema foi exaustivamente explorado pela mídia. Como se sabe Michael Jackson foi acusado de ser pedófilo e teve que ir ao tribunal para se defender e provar que tudo o que diziam contra ele não era verdade. Agora surge uma nova visão sobre a vida do star. Para o autor Randall Sullivan a questão é simples de entender: Michael Jackson não era pedófilo, nem gay, nem hetero. Na verdade ele era assexuado e teria morrido virgem aos 50 anos de idade. Quem explica é o próprio Sullivan: "De todas as respostas que alguém pode dar sobre a pergunta central envolvendo a memória de Michael Jackson, a que tem mais apoio das evidências é a de que ele morreu como um virgem de 50 anos, tendo nunca feito sexo com nenhum homem, mulher ou criança, em um estado especial de solidão que é responsável em grande parte por ele ter se tornasse único enquanto artista e tão infeliz enquanto ser humano".

A declaração causou controvérsia essa semana nos Estados Unidos uma vez que Michael Jackson foi casado com a filha de Elvis Presley, Lisa Marie Presley. Será que o casamento tantas vezes acusado de ser  uma farsa jamais se consumou? Lisa Marie não quis dar declarações sobre o novo livro. O assunto para ela parece ter sido encerrado de forma definitiva. Para os fãs de Michael Jackson porém o tema ter voltado à tona agora é mais uma fonte de dor de cabeça pois terão que novamente responder às mesmas perguntas cansativas de antes como: Michael Jackson era pedófilo? Michael Jackson era gay? Michael Jackson era assexuado? O que significa isso afinal? As pessoas continuam extremamente preocupadas com a vida sexual alheia. O assunto como se vê parece longe de chegar ao fim. Para finalizar porém fica a grande pergunta nesse momento: E no que a afirmação de que Michael Jackson não era interessado por sexo se baseia? Segundo o autor ele teria ouvido pessoas próximas a Jackson como seu advogado Tom Mesereau, que defendeu Jackson das acusações de pedofilia em 2005. Mas afinal qual é a verdade no meio de tudo isso? Ninguém ao certo jamais saberá.

Michael Jackson, 60 anos
Se Michael Jackson estivesse vivo hoje estaria completando 60 anos de idade. Faz nove anos que morreu. Escrever sobre Michael é algo bem familiar em meu caso. Quando Thriller se tornou aquele fenômeno de vendas eu já me interessava muito por música, discos, etc. Ele foi o ícone máximo do mundo musical dos anos 80. Isso foi muito bom porque afinal ele era um artista extremamente talentoso, excelente cantor e dançarino e performance de palco realmente impressionante. O problema é que Michael gostava muito de ser uma celebridade. Assim ele herdou uma cera tara pelas manchetes nos jornais. Não importava que fossem escandalosas ou baseadas em atos bizarros de sua parte. Ele só tinha fixação em aparecer o tempo todo nos tabloides, isso apesar de publicamente dizer que odiava essa exposição.

Acabou sendo a armadilha mortal que o engoliu. Quando as acusações de abuso infantil surgiram ele ficou numa posição muito ruim porque perante a imprensa ele já vinha se promovendo como um sujeito diferente, fora dos padrões, completamente bizarro para muitos. Por isso as acusações de pedofilia o atingiram em cheio, algo que não aconteceria com outra pessoa que cultivasse um comportamento mais normal. Claro que gostei muito de suas músicas e de seus discos através dos anos. Inclusive deveria escrever mais sobre ele nesse blog. Como milhões de pessoas ao redor do mundo a arte de Michael Jackson fez parte da trilha sonora da minha vida. Pena que ele não soube, ao meu ver, capitalizar esse imenso talento apenas para o mundo musical, onde ele definitivamente foi um astro imortal.

Rancho de Michael Jackson é vendido
Finalmente conseguiram vender o rancho Neverland de Michael Jackson. O lugar estava à venda por anos. Inicialmente os herdeiros do cantor pediram 100 milhões de dólares. Ninguém mostrou interesse em comprar. E as coisas pioraram muito nos últimos anos. O rancho ficou praticamente abandonado, com os imóveis que fazem parte do rancho precisando de reformas urgentes. E depois que acusações voltaram para a mídia o interesse decaiu muito mais.

Como se sabe dois homens denunciaram Michael em um documentário chamado "Deixando Neverland", onde acusaram o cantor de ter transformado aquela propriedade isolada em uma verdadeira armadilha para crianças. O lugar tinha como tema Peter Pan, por isso se chamava Terra do Nunca. Havia lojas de doces, brinquedos, rodas gigantes, animais, tudo o que uma criança gostaria. Ao que tudo parece e foi denunciado também era um paraíso de pedofilia, onde Michael levava as crianças para ter relações sexuais nos lugares mais escondidos de Neverland.

Com um histórico pavoroso desses, nenhuma família mais tradicional quis comprar aquele rancho. Ron Burkle, um bilionário, ofereceu 20 milhões. Os herdeiros acharam muito pocuo, mas como ficaram sem opções fizeram uma contraoferta de 22 milhões. Assim o negócio foi fechado. Não se sabe quais são os planos do novo comprador. Neverland, que na verdade se chama Sycamore Valley Ranch, pode tanto ser utilizado comercialmente, para quem sabe transformar tudo em uma espécie de Graceland para fãs de Michael Jackson, como também pode ser usada para uso particular. Só o tempo dirá o que vai acontecer com esse lugar. 

Pablo Aluísio.

domingo, 8 de maio de 2011

Bohemian Rhapsody: The Original Soundtrack

Um dos assuntos mais comentados dessa semana foi a estreia nos cinemas dessa cinebiografia do grupo Queen. Nem todo mundo gostou, principalmente os fãs reclamaram bastante do roteiro. No filme há diversos erros de data, desencontros narrativos, personagens de ficção que nunca existiram. Chegaram ao ponto inclusive de errarem as datas do Rock in Rio, dando a entender ao espectador que o festival aconteceu nos anos 70. Enfim, falhas não faltam. Para os fãs que leram os livros sobre a história da banda deve ter sido bem frustrante assistir a um filme com tantos erros em série.

Já a trilha sonora, como não poderia deixar de ser, é bem mais interessante. Aliás é uma ótima pedida para quem não tem nenhum CD do Queen, já que traz um balanço geral de todos os seus grandes sucessos, funcionando assim como uma coletânea abrangente. E para os fãs que já possuem todos os álbuns da banda, lançamentos especiais, etc, a gravadora resolveu anexar algumas gravações raras que não tinham saído ainda em nenhum lançamento anterior, inclusive com a primeira oficialização de músicas gravadas justamente no Rock in Rio. Elas até agora só tinham chegado nas mãos dos admiradores da música do Queen em bootlegs, CDs piratas em sua maioria. Enfim, um boa novidade nesse fim de ano, principalmente para dar de presente para aquele jovem que está começando a gostar de rock atualmente. Sem novidades relevantes no mercado roqueiro o jeito mesmo é lançar mão de coisas primorosas do passado. O Queen nesse aspecto cai muito bem.

Bohemian Rhapsody: The Original Soundtrack (2018)
1. 20th Century Fox Fanfare   
2. Somebody to Love
3. Doing All Right... Revisited
4. Keep Yourself Alive" (Ao vivo no Teatro Rainbow, Londres, 31 de março de 1974)   
5. Killer Queen   
6. Fat Bottomed Girls (Ao Vivo em Paris, França, 27 de fevereiro de 1979)   
7. Bohemian Rhapsody     
8. Now I'm Here (Ao vivo no Hammersmith Odeon, Londres, 24 de dezembro de 1975)   
9. Crazy Little Thing Called Love     
10. Love of My Life (Ao Vivo no Rock in Rio, 18 de janeiro de 1985)   
11. We Will Rock You (movie mix)   
12. Another One Bites the Dust     
13. I Want to Break Free    
14. Under Pressure (com David Bowie)   
15. Who Wants to Live Forever     
16. Bohemian Rhapsody (Live Aid, Estádio Wembley, Londres, 13 de julho de 1985)   
17. Radio Ga Ga (Live Aid, Estádio Wembley, Londres, 13 de julho de 1985)   
18. Ay-Oh (Live Aid, Estádio Wembley, Londres, 13 de julho de 1985)   
19. Hammer to Fall (Live Aid, Estádio Wembley, Londres, 13 de julho de 1985)   
20. We Are the Champions (Live Aid, Estádio Wembley, Londres, 13 de julho de 1985)   
21. Don't Stop Me Now... Revisited
22. The Show Must Go On"

Pablo Aluísio.      

O Heavy Metal dos anos 80

Olhando para o passado vejo que muitas pessoas da minha geração adoravam Heavy Metal. Nos anos 80 esse estilo musical teve mesmo uma explosão de popularidade, com centenas de bandas novas surgidas todos os anos. Eu vivi toda essa corrida de fãs de música em direção ao metal, mas nunca consegui gostar daquilo. Sempre fui um fã dos artistas clássicos do rock, em especial Beatles e Elvis Presley e toda a constelação de artistas que orbitavam ao redor deles.

Mesmo nos anos 80 quando o Heavy Metal se tornou a preferência entre os mais jovens, nunca me tornei ouvinte ou fã dessa vertente do rock. O Heavy Metal certamente produziu excelentes bandas como o próprio Iron Maiden, mas temos que reconhecer que muitas porcarias surgiram também na mesma época. É o efeito cascata, quando algum grupo de rock faz sucesso dentro de uma determinada linha, centenas de outras sem talento surgem ao mesmo tempo, sempre tentando faturar de forma rápida e fácil.

Houve uma infinidade de grupos sem qualquer qualidade musical. Como o Heavy Metal não valorizava tanto as melodias, mas sim o barulho, qualquer um poderia ostentar uma guitarra e com poucas notas e muita distorção fazer o barulho necessário para vender discos e bilhetes para seus concertos. Nem era necessário ser um bom músico, bastava apenas ter muita marra e cabelos cheios de laquê para fazer a alegria dos fãs. Hoje em dia isso é conhecido como rock farofa, mas nos anos 80, posso dizer por experiência própria, pessoal, eles eram levados bem à sério.

De certa maneira o Heavy Metal também colaborou a longo prazo para o declínio do rock. Não era todo mundo que topava curtir uma sonoridade tão excessivamente tribal, indo a shows onde tinha que dividir espaço com metaleiros balançando a cabeça como se fossem malucos. Virou assim um nicho muito específico e o público em geral, menos conhecedor de música, passou a associar diretamente o estilo rock com o Heavy Metal, sem perceber que essa era apenas uma espécie do amplo gênero chamado rock, mas não todo ele. Com isso o público passou a se distanciar, curtindo outros gêneros musicais. A marra juvenil do metal meio que afundou o rock como mainstream, o levando para guetos onde ainda hoje se encontra.

Pablo Aluísio.

sábado, 7 de maio de 2011

Os Beatles e o Punk!

Ringo disse recentemente numa entrevista que os Beatles, quando ele os conheceu, não passavam de uma bandinha punk! Ora vejam só... o movimento punk (recordando) só veio a surgir mesmo nos anos 1970, quando os Beatles nem mesmo existiam mais. Ringo apenas usou uma metáfora, fora do tempo e espaço, para dizer que o grupo era bem rústico em termos musicais em seus primeiros shows, sim, havia poucas notas musicais, mas muito barulho.

Os Beatles foram punks? Não, historicamente as datas não batem, porém a comparação é válida. Claro que eles estavam mais para uma banda rockabilly que tentava seguir os passos de Elvis Presley (de quem eles eram absolutamente fãs) do que qualquer outra coisa. De qualquer forma essa fase ainda muito crua e inicial dos Beatles não deixa de ter sua importância. Eram jovens, músicos ainda iniciantes, tentando fazer um sonho distante (o de emplacarem como banda de rock) se transformar numa realidade.

Registros sonoros são poucos. Na época a tecnologia ainda era muito rudimentar. Certa vez um amigo de John Lennon levou um gravador doméstico (lembra deles?) para colocar na borda do palco enquanto os Beatles tocavam em um inferninho de Hamburgo, na Alemanha. Esse registro tosco, de péssima qualidade sonora, ainda existe, mas é complicado ouvir alguma música no meio de tanto barulho e ruídos. De fato o grupo, com todos os seus membros vestidos com roupas de couro, poderiam se passar por uma versão precoce dos Ramones. Isso se os Ramones não viessem a surgir muitos anos depois, nos anos 70, com vinte anos de diferença.

Também não é demais lembrar que o punk rock nasce como um reação ao rock progressivo. Esse era absurdamente complicado de ser reproduzido por um bando de garotos numa garagem qualquer. O espírito do antigo rockabilly, da primeira geração roqueira, veio então para abençoar de certa maneira o punk como estilo musical. Poucas notas, muita energia e atitude. Esse era o diferencial. Nada de arranjos que só poderiam ser reproduzidos por grandes músicos. Para essa visão o rock progressivo era acima de tudo muito chato, metido a intelectual demais e sem energia. O punk vinha então para recuperar esse lado mais juvenil e rebelde do rock primitivo.

Pablo Aluísio.