sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Onde Começa o Inferno

John T. Chance (John Wayne) é um xerife de uma pequena cidade do velho oeste. Ele tem como auxiliares Dude (Dean Martin), um sujeito com sérios problemas de alcoolismo e Stumpy (Walter Brennan) um velho manco que já não mete medo em ninguém. Juntos passarão por um teste de fogo ao prenderem Joe Burdette (Claude Akins), irmão de um perigoso fora da lei da região. Sitiados em sua própria delegacia eles tentam manter o bandido preso até a chegada do delegado federal que irá levar o facínora à julgamento por assassinato. "Rio Bravo" foi um dos maiores westerns da carreira de John Wayne e isso definitivamente não é pouca coisa. O filme tem um roteiro excelente que desenvolve de forma excepcional a crescente ansiedade dos três homens da lei que tentam manter atrás das grades um perigoso assassino que conta com a ajuda de uma grande quadrilha para tirá-lo de lá. A história fascinou tanto o diretor Howard Hawks que ele voltaria a realizar outro western famoso, "El Dorado", com praticamente o mesmo argumento, embora sejam filmes diferentes. Hawks realmente tinha especial paixão pelo conto que deu origem ao filme (escrito por BH McCampbel) por trazer vários temas caros à mitologia do faroeste como por exemplo a redenção, a dignidade dos homens da lei e a crescente tensão psicológica que antecede o confronto final.

O filme já começa inovando com uma longa sequência de mais de 4 minutos sem qualquer diálogo (algo que anos depois seria copiado por Sergio Leone em "Era Uma Vez no Oeste"). Quando Dude (Dean Martin) finalmente surge em cena logo ficamos chocados com sua aparência de alcoólatra, sujo, esfarrapado, lutando para manter o pouco de dignidade que ainda lhe resta. Aliás é bom frisar que a interpretação de Dean Martin para seu personagem é muito digna, passando mesmo uma sensação de dependência completa da bebida. Há inclusive uma ótima cena em que ele tenta sem sucesso enrolar um cigarro de fumo e não consegue por causa dos tremores em sua mão (curiosamente o único close de todo o filme). John Wayne mantém sua postura irretocável em um personagem tópico de seus westerns. Já o velhinho Stumpy (Walter Brennan) é um grande destaque. Servindo como alívio cômico ele acaba roubando várias cenas com sua simpatia e bom humor. Em suma, "Rio Bravo" merece todo o status que possui. É envolvente, tenso, bem escrito, com excelente desenvolvimento psicológico de seus personagens e acima de tudo diverte com inteligência. Um programa obrigatório para cinéfilos.

Onde Começa o Inferno (Rio Bravo, EUA, 1959) Direção: Howard Hawks / Roteiro: Jules Furthman, Leigh Brackett baseado na curta história de B.H. McCampbell / Elenco: John Wayne, Dean Martin, Ricky Nelson, Angie Dickinson, Walter Brennan, Ward Bond / Sinopse: John T. Chance (John Wayne) é um xerife de uma pequena cidade do velho oeste. Ele tem como auxiliares Dude (Dean Martin), um sujeito com sérios problemas de alcoolismo e Stumpy (Walter Brennan) um velho manco que já não mete medo em ninguém. Juntos passarão por um teste de fogo ao prenderem Joe Burdette (Claude Akins), irmão de um perigoso fora da lei da região. Sitiados em sua própria delegacia eles tentam manter o bandido preso até a chegada do delegado federal que irá levar o facínora à julgamento por assassinato.

Pablo Aluísio.

Um Certo Capitão Lockhart

Última parceria entre James Stewart e o diretor Anthony Mann, "The Man From Laramie" é um faroeste dos bons. O filme é uma adaptação do conto do escritor Thomas T. Flint que publicou originalmente seu texto nas páginas do Saturday Evening Post. Nos anos 50 era comum a publicação de textos com estórias do velho oeste nos grandes jornais americanos. O sucesso foi tão bom que eles depois começaram a publicar esses textos em forma de livros de bolso (até aqui no Brasil os livrinhos de faroeste de bolso foram extremamente populares). O roteiro também aproveita para se inspirar levemente na peça Rei Lear - o que fica evidente nas relações familiares em torno da família do rico fazendeiro Alec Waggoman (Donald Crisp). Idoso, extremamente rico e ficando cego, ele se preocupa sobre sua sucessão pois seu filho, Dave, é um mimado irresponsável que não sabe lidar com o poder que tem.

James Stewart novamente nos brinda com uma excelente interpretação. Seus personagens em faroestes sempre foram cowboys menos viris do que os interpretados pelo Duke (John Wayne) mas não eram menos éticos e virtuosos. Aqui ele faz um ex capitão do exército americano que acaba se envolvendo em um conflito contra Dave, o herdeiro do clã Waggoman. O curioso é que o roteiro, muito bem trabalhado, traz inúmeras reviravoltas e uma sub trama muito interessante envolvendo contrabando de rifles automáticos para a tribo Apache. O filme é bem cadenciado, com preocupação de se desenvolver todos os personagens e o resultado final é muito eficiente, o que surpreende pois a duração é curta, pouco mais de 90 minutos, o que demonstra que para se contar uma boa estória não é necessário encher a paciência do espectador com filmes longos demais.

Um Certo Capitão Lockhart (Man From Laramie, The, 1955) Direção: Anthony Mann / Roteiro: Philip Yordan, Frank Burt, Thomas T. Flynn / Elenco: James Stewart, Arthur Kennedy e Donald Crisp / Sinopse: Will Lockhart (James Stewart) chega a uma pequena cidade do Novo México para descarregar uma carga de mantimentos para o comércio local. Na volta resolve retirar de uma salina próxima um novo carregamento mas é impedido de forma violenta por Dave Waggoman (Alex Nicol), filho de um rico fazendeiro da região.

Pablo Aluúsio.

quinta-feira, 8 de setembro de 2022

As Vidas de Marilyn Monroe - Parte 24

Uma das histórias mais loucas da vida de Marilyn Monroe até hoje desperta dúvidas sobre sua veracidade. Até mesmo autores que vasculharam a fundo sua biografia ficaram sem saber se tudo não passou de um boato ou se foi mesmo verdade. É a famosa história do casamento mexicano de Marilyn, quando ela, aparentemente em uma farra de fim de semana que fugiu do controle, acabou se casando no México. O estúdio ficou apavorado porque naquele momento Marilyn Monroe era sua principal estrela e não iria cair nada bem a divulgação de que ela teria se casado em segredo, em um fim de semana de bebedeiras, com um desconhecido, numa cidadezinha do México. Robert Slatzer era um jornalista que ela conheceu durante as filmagens de "Torrente de Paixão". Ele conheceu Marilyn mais de perto e descobriu que tinha algo em comum com ela, pois gostava de diversão e festas. Os dois também gostavam muito de beber. Ir para o México para comemorar o fim das filmagens pareceu um convite interessante para Marilyn. Então em um fim de semana de 1952 eles atravessaram a fronteira. Era comum americanos exagerarem nas cidades mexicanas, era uma espécie de tradição entre os jovens. Então Marilyn e Slatzer resolveram fazer jus a isso.

Eles beberam por vários dias seguidos, saíram pelas ruas atrás das festas populares das vilas mexicanas e chegando numa localidade afastada resolveram procurar um padre local para se casarem, bem ao meio-dia, depois de uma noite de excessos. Eles se casaram e depois de alguns dias voltaram para Los Angeles. O produtor Zanuck ficou irado quando soube de tudo. Mandou Marilyn e Slatzer de volta ao México para que eles anulassem o casamento por lá. Tudo isso teria acontecido em menos de um mês, mostrando como era caótica a vida de Marilyn Monroe na época. O que era verdade e o que era mentira nesse boato? Robert Slatzer morreu afirmando que havia se casado com Marilyn. Ele até escreveu um livro chamado "A Vida e a Curiosa Morte de Marilyn Monroe", onde também defendia que Marilyn havia sido assassinada por um complô conspiratório liderado pela família Kennedy. Ao longo dos anos surgiram inúmeros artigos publicados em revistas e jornais, ora desmentindo completamente o suposto casamento mexicano de Marilyn, ora confirmando tudo com testemunhas e documentos obtidos além da fronteira. Talvez a verdade esteja no meio termo, talvez tudo tenha um fundo de verdade, muito embora não da forma tão exagerada como Robert Slatzer contou em seus textos. O escritor Anthony Summers, autor de "A Deusa", biografia sobre a atriz, afirmou no livro que o casamento mexicano de Marilyn Monroe pode ter acontecido de verdade. Ele não foi a fundo na questão, não viajou ao México em busca de documentos que provassem tudo, mas conversou com pessoas que eram próximas da Marilyn Monroe naquela época. Uma de suas assistentes nos estúdios da Fox lhe contou que certo dia Marilyn chegou muito preocupada para trabalhar e confessou que havia "feito uma grande besteira". Depois ela teria sido chamada até o escritório de Zanuck, naquele tempo praticamente o dono da Fox e que uma vez lá a conversa tinha sido tensa. 

Segundo as informações Marilyn Monroe se casou em Tijuana. Por acaso ela se encontrou com um ator americano nas ruas, um velho conhecido, pedindo que ele fizesse um "favor especial". Esse favor era nada mais, nada menos, do que ser sua testemunha de casamento. A cerimônia, rápida e apressada, aconteceu numa igreja católica da cidade. Depois Marilyn e o novo marido foram para um pequeno hotel chamado Rosarita Hotel, onde passaram a lua de mel que durou apenas dois dias. Robert Slatzer disse que tirou muitas fotos nesses dias, mas os "capangas" da Fox a teriam tirado dele. Muito provavelmente todas as fotos foram queimadas a mando do chefão do estúdio. De uma forma ou outra o casamento teria durado apenas três dias! O tempo suficiente para Marilyn chegar em Los Angeles e ser mandada de volta para desfazer o que tinha feito.

Isso foi em uma época em que os estúdios de cinema controlavam toda a vida de seus astros e estrelas. Elas não podiam fazer nada, nem em suas vidas pessoais, sem a autorização dos executivos. Uma estrela como Marilyn Monroe era considerada um "produto" da Fox e cabia ao estúdio zelar para que sua vida pessoal não se tornasse um escândalo de grandes proporções. Só alguns anos depois é que os produtores iriam entender que isso não funcionava com Marilyn Monroe. Ela mesma produzia seus próprios escândalos públicos, muitas vezes para não sair das páginas de revistas e jornais, afinal tudo isso também era uma publicidade para sua carreira. Assim depois de algum tempo o casamento mexicano de Marilyn acabou se tornando uma espécie de piada dentro da Fox, um exemplo das loucuras que sua própria estrela conseguia fazer. Afinal o que seria mais louco do que um casamento de fim de semana no México? 

Pablo Aluísio. 

Marlon Brando - Hollywood Boulevard - Parte 23

"Sindicato de Ladrões" foi de certa maneira uma forma que o diretor Elia Kazan encontrou de se justificar aos seus colegas de profissão após ter dedurado uma série de profissionais do cinema e teatro para o comitê de atividades anti americanas. Parte dessas pessoas tinham participado do Partido Comunista americano e isso era algo muito sério naquela época. Para escapar da prisão ou talvez até mesmo de ser banido de Hollywood, Kazan resolveu entregar todos aqueles que ele sabia serem membros do Partido. Obviamente que aquilo tudo pegou muito mal e da noite para o dia Kazan passou a ser um nome a ser evitado. Como contornar uma situação dessas? A resposta caiu no colo de Kazan poucas semanas depois.

No roteiro desse filme também havia um sujeito que fora forçado pela situação para entregar os nomes de pessoas que tinham se envolvido em esquemas de corrupção. Quando Marlon Brando foi convidado para o papel de Terry Malloy ele imediatamente disse não, mas depois acabou sendo convencido que seria mais uma boa oportunidade de realizar um grande filme - e isso era a mais absoluta verdade. As filmagens se concentraram entre Nova Iorque e Hoboken, New Jersey e foram muito duras. Com baixas temperaturas Brando precisou aprender parte da manha dos trabalhadores braçais do porto da cidade. Acabou fazendo amizades entre eles e em pouco tempo estava completamente à vontade em seu papel.

Por ser uma obra delicada que serviria a um propósito maior, Kazan queria seguir o script à risca, mas isso definitivamente não aconteceria com Marlon Brando no elenco. Numa cena com Rod Steiger e ele, o diretor sugeriu uma determinada situação de confronto no banco de trás de um carro. Brando achou que duas pessoas tão próximas como eram os personagens deles nunca se tratariam daquele jeito e por isso sugeriu mudanças. Ao invés de acontecer uma luta insana e feroz, o personagem de Brando apenas olharia com rosto chocado quando Steiger lhe apontasse uma arma. Era uma reação mais natural. Após um longo combate criativo Kazan finalmente se convenceu que Brando estava mesmo com a razão. Para Brando a resposta positiva por parte de Kazan confirmava o que ele pensava do diretor: que ele era de fato um dos cineastas mais brilhantes da história de Hollywood. De uma forma ou outra Brando estava fantástico em cena, mais uma vez e acabou sendo indicado ao Oscar de Melhor Ator.

Hoje em dia, depois que Brando recusou seu Oscar por "O Poderoso Chefão", todos conhecem a extrema ojeriza que o ator sentia pela Academia, mas naquela época, ainda um jovem talento em ascensão, Brando decidiu que compareceria à premiação. Para sua surpresa seu nome foi anunciado e ele, pela primeira vez em sua carreira, seria premiado com a estatueta mais cobiçada do cinema americano. Usando um comportado terno, todo sorrisos, Brando subiu ao palco e recebeu seu Oscar das mãos de uma princesa, Grace Kellly. Estaria o mais famoso selvagem de Hollywood devidamente domado? Pelo menos naquela noite memorável sim. Brando foi um perfeito gentleman. Agradeceu até emocionado pelo reconhecimento e depois fez um discurso bem nos moldes que todos esperavam, sem atropelos ou escândalos. Anos depois o Oscar de Brando foi parar numa casa de leilões. Em seu livro o ator reconheceu não se lembrar mais onde ele havia ido parar, mas depois de um ou dois minutos reconheceu que o havia dado de presente - só não lembrava direito a quem! Imagine, o prêmio mais desejado de Hollywood indo parar nas mãos de qualquer um... coisas de Marlon Brando.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Elvis Presley - Love Me Tender

Toda a trilha sonora do filme "Ama-me com Ternura" (Love Me Tender, EUA, 1956) foi lançada originalmente em compacto duplo. Todas as faixas foram providenciadas pelos estúdios Fox e depois repassadas para a RCA Victor, a gravadora que tinha contrato de exclusividade com Elvis na época. O interessante é que praticamente todo o material foi composto pelo diretor musical do estúdio Fox, o maestro e arranjador Ken Darby (que não aparecia nos créditos).

Como o filme era um faroeste ao velho estilo, todas as canções tiveram de uma maneira ou outra um sabor Country and Western. Claro, esse tipo de sonoridade não soava estranha a Elvis. Afinal ele vinha de Memphis, cidade próxima a Nashville, considerada a capital da country music nos Estados Unidos. Ele estava mais à vontade do que nunca com as canções, embora soubesse também que aquele tipo de música era no fundo apenas a visão de Hollywood sobre o estilo musical que tanto conhecia. Elvis porém era um cantor profissional e resolveu dar o melhor de si para o material previamente produzido pelos estúdios da Fox.

Praticamente tudo foi gravado em apenas uma sessão de gravação realizada no dia 24 de agosto de 1956. As músicas não foram produzidas por Steve Sholes, o produtor de Elvis na RCA, mas sim por Lionel Newman, outro contratado da Fox. Esse dispensou a banda de Elvis e ele teve que gravar pela primeira vez sem estar ao lado de seus músicos habituais. Scotty Moore, Bill Black e cia, ficaram de fora. Ele não gostou dessa mudança, porém não quis criar problemas. Mais tarde Elvis iria impor sua vontade, determinando que sua banda o acompanhasse nas trilhas sonoras, mesmo em Hollywood.

A primeira música gravada foi "We’re Gonna Move". Para surpresa de muitos a canção, embora simples, acabou criando uma certa dificuldade para Elvis. Ele precisou de 10 takes para chegar onde queria. Em se tratando de Elvis Presley nos anos 50 isso era algo até incomum de acontecer. "Poor Boy" deu menos trabalho. Em apenas 3 takes a música estava finalizada. Elvis veria essa faixa ser relançada alguns anos depois no álbum "For LP Fans Only" enquanto ele servia o exército americano na Alemanha. Era um country bem simplório, tipicamente mais bobinho do que Elvis estava acostumado a lidar.

As duas músicas anteriores mais pareceram um aquecimento quando Elvis finalmente se concentrou para gravar o tema principal, "Love Me Tender". A melodia era conhecida desde os tempos da guerra civil americana. Aqui Elvis tinha como principal instrumento sua voz, uma vez que a música, que iria se tornar uma das mais conhecidas e famosas de sua carreira, contava apenas com voz e violão. A versão original ficou belíssima e em pouco tempo estava pronta para se tornar um hit absoluto nas paradas de sucesso. Elvis só retornaria ao estúdio da Fox em Hollywood em setembro para gravar algumas versões das mesmas músicas que seriam utilizadas apenas no filme. De inédita ele só completou "Let Me" . já que o compacto duplo tinha que ter quatro músicas e ele só havia gravado três em agosto.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Ama-me com Ternura

Elvis entrou em "Love Me Tender" sem nunca ter atuado antes na vida. Nem um curso de arte dramática, nem aulas de teatro, nada. Hollywood queria saber se ele conseguia segurar as pontas, se conseguia pelo menos não decepcionar em cena. O resultado acabou sendo melhor do que esperavam. Elvis foi ajudado pelos atores e atrizes do elenco, além da sempre presença do diretor Robert D. Webb, que estava sempre ao lado do novato, lhe dando instruções, mostrando a marcação da cena, etc. Foi mesmo um aprendizado na prática, sem teoria, sem preparação técnica nenhuma.

E o roteiro até tinha sua carga dramática. Claro, o filme poderia ser enquadrado tranquilamente como um faroeste B da Fox, mas isso era apenas uma visão um pouco limitada de tudo. O enredo era até muito bom. Dois irmãos. Um mais jovem ficava no rancho da família, cuidando das mulheres e do trabalho do dia a dia. O outro ia para o campo de batalha, lutar na guerra civil americana. Depois de alguns meses chegava a notícia de sua morte. O irmão mais jovem então se casava com a noiva do irmão mais velho, agora dado como morto. Só que essa era uma informação falsa. Ele ainda estava vivo. O que fazer quando ele retornasse da guerra? Como se vê é um bom ponto de partida dramático. Elvis interpretava o jovem Reno e  Richard Egan o irmão mais velho que retornava. A noiva era a bela Debra Paget.

O filme foi produzido em preto e branco. Já havia cinema em cores na época, porém esse novo sistema era exclusivo para as grande produções. Para um faroeste de rotina como "Love Me Tender" isso era um luxo desnecessário. Esse e "King Creole" foram os únicos filmes de Elvis lançados em fotografia preto e branco, dos velhos tempos de Hollywood. Confesso que há um certo charme nostálgico envolvido, principalmente para quem aprecia as produções da era clássica do cinema americano. O filme de uma maneira em geral não decepciona. Obviamente ele jamais foi esquecido pelo simples fato de trazer um Elvis Presley jovem e no começo de sua carreira. Porém mesmo que não fosse esse o caso, "Ama-me com Ternura" também teria seus méritos próprios.

Ama-me com Ternura (Love Me Tender, Estados Unidos, 1956) Direção: Robert D. Webb / Roteiro: Robert Buckner, Maurice Geraghty / Elenco: Richard Egan, Debra Paget, Elvis Presley / Sinopse: Por um acaso do destino dois irmãos acabam disputando o amor de uma mesma mulher em uma nação devastada pela guerra civil americana.

Pablo Aluísio. 

 

terça-feira, 6 de setembro de 2022

Rock Hudson e o Western - Parte 1

Rock Hudson foi mais um dos milhares de atores que saíram da fábrica de astros da Universal. A intenção era criar novos campeões de bilheteria. Com um pouco de instrução dramática, promoção e marketing, era fácil transformar qualquer jovem boa pinta em uma nova estrela do panteão de Hollywood. Bastava ter carisma e o visual certo. Rock não foi pensado como um cowboy nas telas. Os diretores e produtores da Universal tinham outros planos para ele, entre eles o de transformar Hudson em um super galã das telas em dramas românticos ao velho estilo. Antes disso porém era importante trazer um pouco mais de experiência e popularidade para sua jovem carreira. Entre os diferentes instrumentos que estavam à disposição o estúdio podia contar com a linha de produção dos faroestes. A maioria deles eram produções B, sem grandes custos e riscos, que no final das contas trazia um grande lucro para a Universal. Assim ficou decidido que seu novo aspirante ao estrelato iria aparecer em diversos westerns, para que o público em geral se acostumasse com sua presença em filmes de forte apelo popular.

E a estréia de Rock no gênero veio em grande estilo. O filme era "Winchester '73" de Anthony Mann. Estrelado pelo grande James Stewart, o elenco ainda trazia coadjuvantes de luxo entre eles a estrela Shelley Winters. O papel de Rock era pequeno e de certa maneira quase inexpressivo, mas isso no fundo não importava. O mais importante é que Rock iria desembarcar em uma viagem de promoção do filme no meio oeste americano. Isso significava desfilar em carro aberto em pequenas cidades ao lado dos outros astros da fita. Em uma delas Rock foi ovacionado pelo público que começou a gritar seu nome com raro entusiasmo. Rock ficou ao mesmo tempo assustado e lisonjeado pela homenagem. Era óbvio que sua estampa se revelava irresistível para o público feminino em geral. Os executivos da Universal estavam atentos às reações e perceberam que Rock tinha potencial, muito potencial em seu futuro.

Essa transição de ator desconhecido para astro não se deu porém do dia para a noite. Rock iria ainda transitar por outros gêneros antes de voltar a usar um chapéu em cena. Isso voltaria a acontecer em "Coração Selvagem". Esse foi um típico bangue-bangue, com nativos, cavalaria, soldados confederados e muito ouro roubado sendo disputado por todos os gananciosos personagens. Ao contrário do faroeste anterior, até hoje considerado um dos melhores de sua época, "Tomahawk" (era seu nome original) foi recebido friamente por público e crítica. Também pudera, a fita não era muito expressiva, não tinha um roteiro consistente e tudo parecia falso em cena (para se ter uma ideia, nem a linda Yvonne De Carlo conseguia convencer muito com sua personagem mestiça). Embora tenha sido dirigido por um bom diretor, o experiente George Sherman, o faroeste caiu no limbo e foi logo esquecido após uma medíocre carreira comercial nos cinemas.

Depois disso Rock Hudson ganhou seu primeiro papel de destaque no drama esportivo "O Demolidor". Com a estrela em ascensão ele logo foi escalado para "E o Sangue Semeou a Terra", outro clássico absoluto do western americano, novamente dirigido por Anthony Mann e estrelado por James Stewart. Ao contrário de "Winchester '73" onde Rock teve uma pequena participação, aqui em "Bend of the River" as coisas pareciam bem melhores. Rock interpretava Trey Wilson, um personagem bem mais consistente com ótimas cenas para que Rock chamasse mais atenção do público. As oportunidades de atuar melhor deixaram Rock bem entusiasmado. Por essa época (o filme foi rodado em 1952) o ator foi entendendo melhor como rodavam as engrenagens do chamado Star System. Ele criou uma rede de amizades e relações no meio cinematográfico que iriam trazer ótimos frutos para sua carreira. Embora não estivesse focado em se tornar um novo astro cowboy, Rock sabia que os faroestes eram vitrines maravilhosas para que ele se tornasse mais popular a cada dia. E sua relação com esse tipo de filme não iria terminar por aí, pelo contrário, muitos outros filmes marcantes viriam nos anos seguintes...

Pablo Aluísio.

Os Filmes de Faroeste de John Wayne - Parte 5

O filme "A Grande Jornada" colocou John Wayne em primeiro plano em Hollywood. Esse filme porém não significou um pulo imediato rumo ao estrelato. Wayne ainda precisaria ralar mais um pouco para se tornar um verdadeiro astro do cinema americano. Assim seus filmes seguintes foram dramas e não faroestes. Em "Girls Demand Excitement" (sem título no Brasil, jamais lançado em nosso país), o ator voltou a interpretar um estudante, um jovem atleta da classe trabalhadora que enfrentava vários desafios em sua vida.

A diva Loretta Young seria a estrela do próximo filme de Wayne intitulado "Três Garotas Perdidas" (Three Lost Girls, 1931). Aqui John Wayne voltava aos personagens coadjuvantes nesse drama urbano sobre uma jovem mulher que se tornava vítima de um crime. Ela vinha do interior e alugava um pequeno apartamento para morar com outras duas jovens. Todas as suspeitas de autoria do crime apontavam para um arquiteto famoso que havia se envolvido com uma delas. John Wayne interpretava justamente o tal sujeito. Um filme que não teve muita repercussão, mas que serviu como aprendizado para o ator.

As coisas só melhoraram mesmo para Wayne no filme seguinte com "Estância de Guerra" (The Range Feud, 1931). Aqui ele retornava para os filmes de western nessa produção estrelada por Buck Jones, um ator que na época disputava o título de ator cowboy mais popular do cinema com Tom Mix, a quem Wayne procurava seguir os passos. O filme obviamente tinha um roteiro muito simples, com bandidos e mocinhos bem delimitados, o que era próprio para um faroeste de matinê. Depois dessa produção o ator chegou na conclusão que se continuasse a aparecer em papéis secundários jamais conseguiria atingir seus objetivos.

Por essa razão ele recusou várias propostas de trabalho que pareciam não colaborar muito para o avanço de sua carreira. O ator parecia firme no sentido de só aceitar novos filmes em que ele próprio fosse o protagonista. "Águia de Prata" (The Shadow of the Eagle, 1932) era o tipo de filme que ele procurava na época. Dirigido por Ford Beebe e produzido pelo estúdio Mascot Pictures, nessa película Wayne interpretava Craig McCoy, um piloto pioneiro, veterano da I Guerra Mundial, que decidia montar sua pequena companhia aérea. Aviador inteligente ele acabaria sendo o primeiro piloto da história a colocar um rádio de comunicação em sua aeronave. Um filme muito bom, com roteiro bem escrito e ótimas cenas de aviação. Justamente o que John Wayne estava buscando em sua carreira.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Taverna Maldita

Título no Brasil: Taverna Maldita
Título Original: Pete Kelly's Blues
Ano de Produção: 1955
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Jack Webb
Roteiro: Richard L. Breen
Elenco:  Jack Webb, Peggy Lee, Janet Leigh, Edmond O'Brien, Lee Marvin, Ella Fitzgerald

Sinopse:
Durante a lei seca, o músico Pete Kelly (Jack Webb) lidera uma banda de jazz. Seus problemas começam quando um gângster chamado Fran McCarg (O'Brien) exige dele e dos demais membros de seu grupo musical um valor de 25 por cento do que ganham. Ou pagam ou terão que arcar com a violência dos criminosos. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor atriz coadjuvante (Peggy Lee).

Comentários:
Muito bom esse clássico filme que mistura dois gêneros cinematográficas, o musical e o estilo das produções contando a história de gângsters. O personagem principal vive de sua música. Não é fácil. O dinheiro é pouco e as horas tocando são muitas. Até que aparece um criminoso que passa a chantagear todo o grupo. O jovem baterista se recusa a pagar e é morto. Os demais tentam sobreviver. Um dos destaques desse clássico vem da atuação da cantora Peggy Lee. Ela interpreta uma vocalista decadente e envelhecida que passa a ser usada pelos criminosos. Sua atuação é excelente, o que lhe valeu uma indicação ao Oscar. Sua melhor cena é aquela em que já aparece mergulhada na insanidade, com uma boneca de pano nos braços. Comovente. E por falar em cantoras, há dois números musicais com a diva Ella Fitzgerald, um dos grandes nomes da história do jazz dos Estados Unidos. Enfim, uma excelente mistura de música de boa qualidade com filmes policiais, envolvendo gângsters. Fica mais do que recomendado para os apreciadores de filmes clássicos de Hollywood.

Pablo Aluísio.

A Sangue Frio

Baseado no incrível livro homônimo de Truman Capote, o filme, conta a história verídica de um crime bárbaro ocorrido em Holcomb no Kansas no ano de 1959. Dois amigos - Perry Smith (Robert Blake) e Richard "Dick" Hickock (Scott Wilson) - encontram-se depois de vários anos em que estiveram presos. Juntos, os dois presidiários - que estão em liberdade condicional - saem a procura de uma fazenda onde existe um suposto cofre com muito dinheiro. Para isto os dois lunáticos terão que atravessar angustiantes 700 quilômetros dentro de uma carro para realizar o sonho macabro. O preto e branco lúgubre confere ao longa um ar depressivo, pesado e sorumbático. Os dois amigos carregam cicatrizes indeléveis, não só no corpo, mas principalmente na mente e na alma. A medida em que o filme se desenrola essas cicatrizes vão se abrindo e revelando o pior de cada um.

Os seus traumas, os seus complexos e uma imensa revolta - que no meio do filme parece maquiada - mas depois revela-se deletéria e monstruosa. Este rosário de complexos só vem por completo à tona, após o massacre - os detalhes do crime ninguém vê pois o diretor Richard Brooks não mostra. Brooks no entanto, deixa como surpresa um dos maiores epílogos de todos os tempos em se tratando de cinema americano. Mostrado em flashback o terço final rompe com um quase marasmo da primeira parte, mostrando, em detalhes, todo o massacre da família Clutter, ao mesmo tempo em que revela a verdadeira alma demoníaca de cada um dos assassinos. Uma sequencia que ascende numa espiral inorgânica e aterradora. O corte final revela-se uma encruzilhada de sentimentos que mistura: resignação, tristeza e perturbação. Desembocando numa excruciante e emocionante execução. Um filme realmente arrebatador e rigorosamente digno de um ótimo diretor. Filmaço. Nota 10. 

A Sangue Frio (In Cold Blood, Estados Unidos, 1967) Direção de Richard Brooks / Elenco: Robert Blake, Scott Wilson, John Forsythe / Sinopse: A Sangue Frio é inspirado na história verdadeira e terrível de um crime sem piedade cometido por dois ex presidiários que vagam à deriva pelo meio oeste americano. Baseado no romance best-seller de Truman Capote.

Telmo Vilela Jr.