sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Hitman - Agente 47

Título no Brasil: Hitman - Agente 47
Título Original: Hitman: Agent 47
Ano de Produção: 2015
País: Estados Unidos, Alemanha
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Aleksander Bach
Roteiro: Skip Woods, Michael Finch
Elenco: Rupert Friend, Hannah Ware, Zachary Quinto
  
Sinopse:
No passado o governo americano desenvolveu um projeto genético ambicioso que procurava criar o assassino perfeito, sem emoção, sem remorso e sem culpa, apenas eficiência completa na execução de ordens. Com o cancelamento do programa o seu criador, o cientista Litvenko, simplesmente desapareceu, sem deixar vestígios. Agora dois grupos inimigos lutam para descobrir onde ele está se escondendo. A chave para achá-lo é sua filha, Katia (Hannah Ware), que pode saber onde ele vive.

Comentários:
No ano passado a indústria de games divulgou seu resultado financeiro anual. Para surpresa de muitos o mercado de videogames gera atualmente mais dinheiro do que o mundo do cinema. Uma verdadeira fortuna todos os anos. E dentro do universo dos games "Hitman" é um dos jogos mais populares. Basicamente o game é sobre um assassino profissional perfeito. Como as adaptações de quadrinhos e games andam em alta em Hollywood a Fox comprou os direitos de Hitman e produziu esse filme. Eu já havia assistido um filme anterior com o mesmo universo de Hitman, mas esse aqui é bem mais produzido. Até porque os estúdios da Twentieth Century Fox não colocariam sua marca em uma produção fraca ou mal feita. Realmente em termos de efeitos especiais, produção, etc não há o que reclamar. O filme conta com várias locações ao redor do mundo, entre elas Berlim na Alemanha e a exótica e distante Singapura. Tudo muito bem produzido. O problema é que assim como acontece nos games não há muito enredo para contar. São cenas e mais cenas de ação em sequência, sem qualquer perda de tempo para o espectador recuperar seu fôlego. A trama se resume a dois grupos inimigos tentando chegar no criador do programa Hitman. Ele está em algum lugar do mundo, escondido. Colocar as mãos em sua filha significa ter um passo à frente nessa caça. E termina por aí. Talvez os gamers venham a gostar do resultado final, quem sabe. Como cinéfilo o filme não me pareceu grande coisa. Na verdade é um produto bem vazio e sem substância.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Vingança & Castigo

Faroeste da Nefflix. Um Black Western. E o que significa esse termo? Basicamente um faroeste com personagens e atores negros. Um bom filme, com uma história bem escrita que faz o espectador manter o interesse no desenrolar de todos os acontecimentos. No enredo dois criminosos do velho oeste precisam acertar as contas com um passado sangrento. O pistoleiro de armas douradas Rufus Buck (Idris Elba) matou o pai e a mãe de Nat Love (Jonathan Majors) quando ele era apenas uma criança. O tempo passa e Nat forma seu próprio bando de criminosos especializados em roubos a bancos. Só que ele é surpreendido pela notícia de que Rufus está em liberdade novamente após ficar longos anos na prisão. Seus comparsas o libertam quando ele viajava de trem ao ser transferido para uma nova prisão em outro estado. Livre das correntes, Rufus reorganiza sua quadrilha e começa a espalhar o terror novamente no velho oeste. E Nat está disposto a matá-lo para vingar a morte de seus pais anos antes.

O ator Jonathan Majors que interpreta o ladrão de bancos Nat parece ser um tipo dócil demais para enfrentar o vilão Rufus de Idris Elba. Esse sim está ótimo em cena pois capturou muito bem o que o roteiro exigia dele. Seu vilão é um tipo desalmado, que mata uma pessoa como se esmaga uma mosca que está incomodando. O plot twist da cena final também me soou bem idealizado, fazendo uma ponte de ligação ainda mais forte entre os dois personagens. O filme tem ótimas sequências de ação e uma ambientação muito boa, ora lembrando em certos momentos do estilo do western spaghetti. A trilha sonora também é um ponto positivo, com temas que fogem um pouco do estilo tradicional de músicas que você esperaria ouvir nesse tipo de filme, mas que no final se encaixam bem no que vemos na tela. Enfim, um bom western contemporâneo, mostrando que esse gênero cinematográfico tão tradicional ainda vive.

Vingança & Castigo (The Harder They Fall, Estados Unidos, 2021) Direção: Jeymes Samuel, Boaz Yakin / Roteiro: Jeymes Samuel / Elenco: Jonathan Majors, Idris Elba, LaKeith Stanfield, Zazie Beetz / Sinopse: Dois pistoleiros precisam acertar as contas no velho oeste. Rufus Buck (Idris Elba) matou os pais de Nat Love (Jonathan Majors) na sala de jantar de sua própria casa. Agora que Rufus está novamente em liberdade, Nat planeja finalmente sua vingança de sangue.

Pablo Aluísio. 

Diablo

Título no Brasil: Diablo
Título Original: Diablo
Ano de Produção: 2015
País: Estados Unidos, Canadá
Estúdio: Orion Pictures
Direção: Lawrence Roeck
Roteiro: Carlos De Los Rios, Lawrence Roeck
Elenco: Scott Eastwood, Walton Goggins, Danny Glover
  
Sinopse:
Após o fim da guerra civil o soldado Jackson (Scott Eastwood) finalmente retorna para casa. Ele resolve levar em frente o rancho de sua família. O problema é que o lugar é atacado por uma quadrilha de bandoleiros mexicanos que levam sua jovem esposa como refém. Desesperado e com sede de vingança Jackson resolve seguir o bando, enfrentando os perigos e desafios de uma natureza hostil e selvagem. Filme premiado no San Diego Film Festival na categoria de Melhor Direção (Lawrence Roeck).

Comentários:
Apesar desse western ser estrelado pelo filho de Clint Eastwood (o que supostamente daria maior crédito a ele, já que Eastwood pai poderia muito bem opinar sobre a produção) o fato é que não há nada demais nesse faroeste. O roteiro é sem maiores novidades, reaproveitando o tema da busca obsessiva pela mulher raptada por bandoleiros mexicanos. O personagem interpretado por Scott Eastwood assim parte pelo oeste afora para salvar sua esposa, numa jornada ao molde tradicional, com toques de obsessão. Em sua jornada encontra ladrões, assassinos e nativos que o salvam da morte certa. O filho de Clint Eastwood, Scott Eastwood, procura seguir os passos de seu pai, um dos maiores ícones do western de todos os tempos. Em termos de elenco porém quem se destaca mesmo é o ator Walton Goggins. A primeira vez que vi Walton em cena foi na série Justified onde interpretava o criminoso alucinado Boyd Crowder. Depois ele foi ganhando cada vez mais papéis interessantes por causa de seu talento, até se tornar mais conhecido do público de cinema no filme "Os Oito Odiados" de Tarantino como o Xerife Chris Mannix. Ele é aquele tipo de profissional que realmente rouba as cenas em que atua. Pior para Scott Eastwood que embora seja muito parecido com seu pai quando jovem, não tem o mesmo talento para atuação. Além disso outro ponto que acaba se sobressaindo nessa produção é a linda fotografia. O diretor Lawrence Roeck resolveu filmar algumas tomadas de cima, nas alturas, com o uso de drones. Isso deu uma perspectiva bonita para as cenas, aproveitando toda a beleza natural daquelas florestas nevadas de pinheiros da região de Alberta, Canadá, onde foram filmadas. Em certos aspectos me lembrou de filmes de faroeste do próprio Clint Eastwood nos anos 70 como "O Estranho Sem Nome". Tecnicamente bonito (temos que admitir), contando com a boa atuação de Walton Goggins, o filme só peca mesmo pelo roteiro, sem novidades e derivativo demais. Se tivessem caprichado um pouco mais nesse aspecto as coisas certamente teria se saído melhor do que vemos. Do jeito que está é apenas um western ok, sem muita originalidade.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

A Lenda de Tarzan

Título no Brasil: A Lenda de Tarzan
Título Original: The Legend of Tarzan
Ano de Produção: 2016
País: Estados Unidos, Inglaterra
Estúdio: Village Roadshow Pictures
Direção: David Yates
Roteiro: Adam Cozad, Craig Brewer
Elenco: Alexander Skarsgård, Christoph Waltz, Samuel L. Jackson, Margot Robbie, Casper Crump, Mens-Sana Tamakloe
  
Sinopse:
Muitos anos após abandonar a África e voltar para a Inglaterra, assumindo o título de nobreza de Lord Greystoke, Tarzan (Alexander Skarsgård) é convidado pelo governo belga para voltar ao continente negro. Eles querem que ele veja com os próprios olhos tudo o que o país daquele governo está fazendo em prol das populações nativas. O que Tarzan não desconfia é que tudo se trata de uma cilada arquitetada por Leon Rom (Christoph Waltz) que deseja capturar Tarzan.

Comentários:
Gostei bastante dessa nova aventura do personagem Tarzan. Ao custo de 180 milhões de dólares eles conseguiram reconstruir o clima e a nostalgia das antigas aventuras desse herói, cuja trajetória sempre andou de mãos dadas com o cinema. Olhando para o passado, revisitando os antigos filmes de Tarzan, chegamos na conclusão que esse novo filme (dirigido pelo bom cineasta David Yates de "Harry Potter e a Ordem da Fênix", "Harry Potter e o Enigma do Príncipe" e "Harry Potter e as Relíquias da Morte") seguiu de perto as produções estreladas pelo ator Gordon Scott. Isso porque ao contrário dos primeiros filmes estrelados por Johnny Weissmuller esse aqui também não se preocupa em contar pela centésima vez as origens de Tarzan. Tudo é mostrado rapidamente em flashbacks, muito bem inseridos no enredo. O filme também não se preocupa em explorar muito o lado mais dramático do personagem como vimos, por exemplo, em "Greystoke:A lenda de Tarzan, o rei da selvas". Naquela ótima produção, dirigida pelo mestre Hugh Hudson, havia uma óbvia intenção de se abraçar o realismo. Aqui não, é mesmo uma aventura como nos velhos tempos. E isso certamente é o maior mérito desse filme. Uma ótima matinê, com roteiro redondinho e produção digna da fortuna que foi gasta em sua realização. Os pontos positivos porém não se limitam a isso. As escolhas tanto do protagonista (com o atlético Alexander Skarsgård, muito bem em cena) como do vilão (Christoph Waltz, novamente roubando a cena) se mostraram certeiras. Assim não há realmente do que reclamar. Esse "The Legend of Tarzan" é realmente uma excelente diversão.

Pablo Aluísio.

The Beatles - Get Back - Part 3

Terceira e última parte do documentário "Get Back". Realmente as coisas começam a ficar cansativas para o espectador. São horas e horas de ensaios, geralmente com as mesmas músicas. Cada detalhe, cada nota, é discutida. Os Beatles de fato repetiam uma mesma canção até a exaustão para que ficasse perfeita. Para quem ouvia os discos era uma maravilha. Entretanto assistir a esse trabalho todo fica mesmo um tanto cansativo. As coisas só melhoram quando surge a garotinha Heather, filha de Linda. Ela vai ao estúdio e como toda menina de seis anos está a todo vapor na energia. Ela cria algumas baguncinhas que animam o ambiente. John contando a história do gatinhos para ela é bem divertida. Igualmente engraçada é a cena em que ela canta no microfone, imitando a Yoko e seus gritos. Todo mundo ri no estúdio, mas ninguém explica a piada para não ofender John Lennon, é claro!

A terceira parte também é salva por causa da apresentação no terraço do prédio Apple. Você já viu isso no filme original "Let It Be", mas nunca de forma tão completa. Os detalhes são mais explorados. Coitados dos dois policiais que ficam lá embaixo enquanto os Beatles tocam no alto do prédio. Educados e polidos, eles esperam pacientemente os Beatles terminarem seu show. Se fosse os policiais brasileiros... Muitas críticas estão surgindo nas redes sociais afirmando que as músicas nunca aparecem na íntegra. Isso foi proposital, uma decisão da Apple. Eles acreditam que se as músicas surgissem completas aqui no documentário as pessoas deixariam de comprar o recente box de cinco CDs de "Let It Be". Faz sentido pensar assim? Bom, eles devem ter seus motivos, ainda mais atualmente com a indústria fonográfica em eterna crise. No geral, apesar de certos momentos cansativos, vela muito a pena assistir a tudo. Quase 8 horas de documentário! É uma maratona, sem dúvida, mas que vale a pena ser percorrida.

The Beatles - Get Back - Part 3 (Inglaterra, 2021) Direção: Peter Jackson / Roteiro: Peter Jackson / Elenco: John Lennon, Paul McCartney, George Harrison, Ringo Starr, Yoko Ono, Linda Eastman, Mal Evans, George Martin, Michael Lindsay-Hogg, Glyn Johns, Neil Spinall / Sinopse: Terceira e última parte do documentário. Os Beatles continuam seus ensaios na Apple e decidem finalizar o filme tocando no alto do prédio de sua gravadora. A apresentação de poucas canções gera protestos e reclamações dos vizinhos que chamam a polícia. Paul McCartney tem finalmente o clímax que tanto esperava.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 30 de novembro de 2021

The Beatles - Get Back - Part 2

Fiquei surpreso com a duração dessa segunda parte. São quase 3 horas de filme! Realmente havia muito material para Peter Jackson trabalhar. O resultado como sempre é muito bom. Aqui os Beatles decidem ir embora de Twickenham. Não foi uma boa experiência. Aquele grande estúdio mais parecia um velho galpão. Era frio e nada acolhedor. A solução eles encontram em casa. Decidem gravar o resto do disco nos próprios estúdios da Apple, no porão do prédio de seu selo. Geprge Harrison retorna ao grupo e a chegada do pianista Billy Preston melhora bastante o clima entre eles. Na Apple as coisas começam a melhorar. Os Beatles começam a acertar e as faixas começam a ser gravadas. Tudo parece ter voltado aos eixos.

Entretanto ainda fica sem solução a questão do show que iria encerrar o filme. Eles tinham ouvido várias propostas, algumas bem estranhas, mas no final de tudo eles decidem simplesmente subir no telhado do prédio da própria Apple para encerrar o filme. Definitivamente não era a melhor solução, mas diante das circunstâncias, o que poderia se fazer? Paul sobe no telhado e faz uma checagem. Será que aquilo aguentaria o peso dos Beatles, da equipe de filmagem e dos equipamentos de som? Olhando para o passado fico até perplexo por eles terem decidido algo tão fora do script. Porém era a tal coisa, ou faziam o show no telhado ou o filme ficaria sem um clímax, um dinal adequado. Esse show obviamente ficou para a terceira e última parte do documentário. Então que venha mais algumas horas desse excelente filme.

The Beatles - Get Back - Part 2  (Inglaterra, 2021) Direção: Peter Jackson / Roteiro: Peter Jackson / Elenco: John Lennon, Paul McCartney, George Harrison, Ringo Starr, Yoko Ono, Linda Eastman, Mal Evans, George Martin, Michael Lindsay-Hogg, Glyn Johns, Neil Spinall / Sinopse: Segunda parte do novo documentário sobre os Beatles dirigido por Peter Jackson. Os Beatles deixam o Twickenham Studios para trás e voltam para o prédio da Apple onde as coisas começam a dar certo novamente. Eles gravam as primeiras faixas do novo álbum e decidem fazer um show no telhado da Apple para finalizar o documentário "Let It Be".

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Paul Newman - Rocky Graziano

A história do famoso lutador de boxe Rocky Graziano foi adaptada para o cinema para ser estrelada pelo ícone jovem James Dean. Ele inclusive estava empolgado por começar a filmar, a tal ponto de, em uma de suas últimas entrevistas, dizer que via aquele roteiro como um dos melhores já escritos em Hollywood. Era uma grande oportunidade de se desenvolver ainda mais como ator. Dean inclusive lutara para que a Warner o cedesse para fazer o filme na MGM. Quando tudo estava pronto, com a pré produção completamente finalizada, o ator resolveu participar de uma corrida na Califórnia. Seria sua despedida das férias para logo após começar os trabalhos no novo filme.

No meio do caminho, na estrada deserta de Salinas, espatifou seu carro Porsche em um cruzamento. Ali mesmo James Dean, o ator que simbolizava toda a rebeldia jovem do mundo, morreu. A Metro-Goldwyn-Mayer que já havia investido bastante na realização do filme ficou em um dilema. Por alguns meses os executivos ficaram sem saber o que fazer - tentaram convidar Marlon Brando mas esse recusou ao dizer que já havia assinado contrato para a realização de uma outra produção da Fox. A outra boa opção seria Montgomery Clift, mas o sensível ator achou que não seria adequado para o papel. 

Foi então que o diretor Robert Wise sugeriu o nome de Paul Newman. Muitos produtores tinham receio de escalar Newman por causa de seu primeiro filme, o tão criticado "O Cálice Sagrado". Além disso naquela altura ele não tinha um nome forte o suficiente para garantir uma boa bilheteria. Havia porém pontos a favor de Newman, o mais forte deles é que ele também fazia parte da brilhante geração de atores de Brando e Dean e tal como eles era cria do famoso Actor´s Studio. Certamente poderia ser uma ótima solução.

Some-se a isso o fato de que Paul estava esperando há tempos por uma boa oportunidade e aquele script parecia ser uma ótima opção para ele recomeçar tudo de novo, como se fosse do zero. De uma forma ou outra, em uma tarde de setembro de 1955 Newman finalmente foi até a MGM assinar o contrato. Tudo estava certo e ele faria Rocky Graziano em "Somebody Up There Likes Me" que no Brasil receberia o título de "Marcado pela Sarjeta". Seria o começo de uma nova fase de sua carreira no cinema.

Pablo Aluísio.

domingo, 28 de novembro de 2021

The Beatles - Get Back - Part 1

O diretor Peter Jackson teve acesso a mais de 60 horas de gravação do filme "Let It Be" dos Beatles. Esse material estava arquivado há décadas em antigas latas de filmes. Ao começar a pesquisar esse farto acervo o diretor da franquia "O Senhor dos Anéis" percebeu que havia material de sobra para a elaboração de um novo documentário, algo maior, mais complexo, mais completo do que o próprio "Let It Be" de 1970. Surgiu então esse longo documentário com quase oito horas de duração que foi dividido em três partes. Atualmente está disponível para se assistir no Disney Plus. Ontem assisti a parte 1. Os Beatles chegam no estúdio Twickenham para o começo dos trabalhos. A ideia original era gravar de 10 a 12 novas músicas para um álbum de inéditas. Depois os Beatles iriam voltar aos palcos em um grande evento mundial. O problema é que eles praticamente não tinham nada e nem sabiam direito como seria feito esse grande show ao vivo.

Pressionados, eles começaram os ensaios. Tudo muito disperso, sem foco. Paul McCartney tenta o tempo todo organizar aquela bagunça, muitas vezes sem êxito. Em determinado momento desabafa dizendo que os Beatles precisavam de disciplina. Algo complicado, ainda mais vendo que George Harrison estava em um clima de confronto com Paul e John Lennon parecia anestesiado, apático. O próprio Lennon realmente parecia sem novas ideias. Uma das forças criativas do grupo, John só tinha a apresentar algumas linhas de músicas inacabadas. Uma decepção. Conforme o tempo vai passando o clima começou a ficar mais tenso. Esse primeiro episódio termina quando George Harrison decide ir embora, deixar os Beatles. Cansado do perfeccionismo de Paul, ele simplesmente comunicou aos demais membros da banda que estava fora! O auge ocorre quando John Lennon sugere que os Beatles chamem Eric Clapton para subsituir George. O abraço dos três nos momentos finais sugere que eles tentavam salvar um navio que estava inegavelmente afundando.

O que mais me impressionou nessa parte 1 foi a capacidade de criação de Paul McCartney. Em apenas uma manhã ele vai ao piano sozinho e cria praticamente do nada alguns dos maiores clássicos dos Beatles como "Let It Be" e "The Long And Winding Road". Ele também criou, bem na base do improviso, a própria "Get Back", com isso salvando as sessões de um ostracismo impressionante. Confesso que para gostar desse novo documentário o espectador tem que necessariamente gostar muito dos Beatles. São horas e horas de ensaios, muitos deles sem qualquer foco ou direção. No meio de tanta dispersão porém os clássicos iam surgindo meio ao acaso. Somente os Beatles conseguiam criar no meio de uma situação como aquela. Coisa de gênios mesmo.

The Beatles - Get Back - Part 1: Days 1-7 (Inglaterra, 2021) Direção: Peter Jackson / Roteiro: Peter Jackson / Elenco: John Lennon, Paul McCartney, George Harrison, Ringo Starr, Yoko Ono, Linda Eastman, Mal Evans, George Martin, Michael Lindsay-Hogg, Glyn Johns, Neil Spinall / Sinopse: Primeira parte do documentário dos Beatles dirigido pelo cineasta Peter Jackson. Nessa primeira parte vemos os Beatles ensaiando no Twickenham Studios.

Pablo Aluísio.

sábado, 27 de novembro de 2021

Em Busca da Justiça

Dos filmes recentes de faroeste esse foi um dos que mais me agradaram. E qual é a história que esse filme nos conta? Após conseguir fugir das mãos de um criminoso sádico e violento chamado John Bishop (Ewan McGregor), a jovem Jane (Portman) consegue reconstruir sua vida ao lado de Bill Hammond (Noah Emmerich). Eles recomeçam como rancheiros numa propriedade distante, no meio do deserto. O que ela não poderia esperar era que Bishop conseguiria descobrir onde ela estaria vivendo. Agora ao lado de seus bandoleiros eles retornam para acertar contas com ela e seu marido Bill. Só os mais fortes conseguirão sobreviver. Como eu frisei esse filme é realmente um bom faroeste estrelado pela atriz Natalie Portman. Eu sinceramente não me lembro de ter visto ela em filmes desse gênero antes. O mais interessante é que o filme foi produzido pela própria Natalie ao lado dos irmãos Weinstein, os antigos donos do estúdio Miramax. O resultado é dos melhores. A protagonista é uma jovem que sofreu todos os tipos de abusos psicológicos e sexuais quando caiu na rede da quadrilha de John Bishop (interpretado por Ewan McGregor, ótimo, quase irreconhecível). Ela a forçou trabalhar como prostituta em seu bordel, sob a mira de uma arma. Pior do que isso, sumiu com sua pequena filha. O único que a defendeu foi Bill (Noah Emmerich), antigo membro da gangue de Bishop.

Após uma matança eles conseguem fugir, mas Bishop não perdoa o que ele considera uma traição vil. Para completar o quadro ainda há o veterano de guerra Dan Frost (Joel Edgerton), primeiro marido de Jane. Uma boa pessoa que viu sua esposa ir embora com outro homem. Mesmo magoado, ele resolve ajudar Jane, principalmente agora que o bando de Bishop está prestes a chegar, prontos para tudo. O roteiro é basicamente construído em cima desse momento de tensão com Jane, Dan e Bill encurralados em seu pequeno rancho enquanto Bishop e seus homens partem para a vingança. Para contar o passado de todos os protagonistas o diretor usa de flashbacks, todos muito bem encaixados na estória. Assim o que temos aqui é um faroeste classe A, com excelente elenco e direção de Gavin O'Connor, jovem cineasta que se destacou com "Guerreiro", um bom filme sobre lutas. Esse novo "Jane Got a Gun" é certamente seu melhor trabalho. Se você gosta do gênero faroeste não deixe passar em branco pois o resultado, como escrevi, é realmente muito bom.

Em Busca da Justiça (Jane Got a Gun, Estados Unidos, 2015) Direção: Gavin O'Connor / Roteiro: Brian Duffield, Anthony Tambakis / Elenco: Natalie Portman, Ewan McGregor, Joel Edgerton, Noah Emmerich / Sinopse: Jovem mulher e seu marido são encurralados em seu próprio rancho por uma quadrilha de bandidos e criminosos. O líder deles quer se vingar de Jane, a dona do rancho, a qualquer custo.
 
Pablo Aluísio.

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Marlon Brando e Elia Kazan

Em sua autobiografia o ator Marlon Brando foi enfático ao dizer que de todos os diretores com quem trabalhou Elia Kazan foi o melhor. Para Brando, Kazan tinha uma qualidade única ao dirigir atores pois ele próprio havia sido ator nos anos 30. Assim tinha plena confiança em seus intérpretes e fazia de tudo para que eles também fizessem parte do processo criativo de um filme. Por isso Kazan dava total liberdade ao seu elenco, algo que Brando admirava muito. Todos os detalhes de uma cena eram debatidos por Kazan e seus atores e juntos procuravam o melhor caminho para fazer o mais adequado para o filme. Essa forma de trabalhar deixava Brando completamente à vontade, muito concentrado em suas cenas, dando o melhor de si. O interessante é que Kazan ficava atrás das câmeras, recitando as falas, atuando como se estivesse em cena. Fazia gestos, poses e os atores se sentiam bastante desafiados a atuar da melhor forma possível para esse tipo de diretor tão engajado e emocionalmente comprometido com sua obra.

Apesar de profissionalmente se darem muito bem, na vida pessoal Marlon Brando acabou criando sérias divergências com Elia Kazan. Acontece que o diretor foi membro do Partido Comunista durante os anos 30 e anos depois caiu na malha fina do Macartismo, que naquela altura estava em uma verdadeira caça às bruxas contra comunistas dentro do cinema americano e do mundo das artes em geral. Convocado para depor Elia Kazan não pensou duas vezes e entregou todos os seus antigos companheiros de partido. Isso obviamente arruinou a vida desses profissionais que ficaram sem ter onde trabalhar ou arranjar emprego pois nenhum estúdio de Hollywood os contrataria após seus nomes estarem na lista negra. Alguns inclusive não aguentaram a pressão e se mataram. Foi uma atitude feia, vergonhosa e lamentável por parte de Kazan. O ato de ser um dedo duro covarde acompanharia e mancharia a biografia de Elia Kazan até o fim de sua vida.

Para completa surpresa de Marlon Brando ele também entrou na lista negra, só que por um ato menor, que no final das contas não o prejudicou em sua carreira. Anos antes Brando havia assinado um abaixo-assinado contra o enforcamento de um negro numa prisão do sul. Isso bastou para colocar seu nome entre os possíveis "vermelhos" de Hollywood! Pior aconteceu com sua irmã, Jocelyn Brando, que também foi incluída a lista negra por um erro absurdo: ela tinha o mesmo sobrenome de um infame roteirista comunista, só que na verdade ela nem conhecia o sujeito! Isso a prejudicou e ela ficou um tempo sem conseguir arranjar emprego em Hollywood e teve que ir para Nova Iorque para trabalhar em peças de teatro na cidade. Brando ficou indignado com as acusações. Ele nunca havia sido comunista e se tivesse sido teria assumido tudo de peito aberto. Era uma mentira e uma calúnia contra ele e sua irmã.

Esses fatos por si só já tinham convencido Brando de que nunca mais trabalharia ao lado de Elia Kazan. Assim foi com muita resistência que aceitou fazer um último filme ao lado do diretor, "Viva Zapata!", uma cinebiografia do famoso revolucionário mexicano Emiliano Zapata. O roteiro lhe interessava particularmente e o fato de Kazan filmar algo com aquela proposta lhe soava como uma doce ironia do destino. O presidente da Fox achava que o projeto tinha poucas possibilidades de ser bem sucedido comercialmente e por isso disponibilizou um orçamento bem limitado. A fotografia também seria em preto e branco para economizar custos. Obviamente o filme hoje é considerado um clássico absoluto, para surpresa de muitos da época que diziam que seria uma bomba nas carreiras de Brando e Kazan. Sua qualidade cinematográfica porém acabou provando que se em sua vida pessoal e política Elia Kazan tinha do que se envergonhar, como cineasta ele continuava tão brilhante como antes.

Pablo Aluísio.