"Quanto Mais Quente Melhor" é considerado por muitos críticos de cinema como a melhor comédia já feita por Hollywood. É incrível que o filme tenha dado tão certo, uma vez que suas filmagens se deram em meio ao caos. O diretor Billy Wilder diria depois que nunca havia sofrido tanto para concluir um filme. Marilyn Monroe bateu todos os recordes de problemas que poderia se imaginar. Ela atrasava suas cenas, não decorava as falas e geralmente chegava atrasada por 3, 4 horas nos estúdios. Era um completo caos.
Ao mesmo tempo a estrela colecionou atritos e brigas com o resto do elenco ao ponto de Tony Curtis soltar uma frase infeliz para a imprensa. Ele declarou que beijar Marilyn era a mesma coisa que beijar Hitler! Muitos anos depois em seu livro de memórias o ator se diria completamente arrependido do que havia dito, porém justificava seu comentário mordaz dizendo que estava na época completamente farto de Marilyn e sua falta de profissionalismo. Numa das cenas, irritada com Curtis, ela teria inclusive jogado um copo de vinho em sua cara, o que era completamente impensável para uma atriz de seu porte. E isso tudo era apenas a ponta do iceberg.
O único que manteve a paciência, servindo como um pacificador durante as filmagens foi Jack Lemmon. Ele tinha mesmo essa personalidade amigável e bonachona, o que ajudou a aliviar o clima de tensão durante a produção do filme. Geralmente bem no meio de um bate boca ou de um quebra pau ele sentava-se tranquilamente ao piano do estúdio e começava a tocar, sem preocupação com as cadeiras que voavam ao seu redor. Era um sujeito completamente boa praça e gente fina, não importando o que acontecesse.
E o filme se tornou um clássico absoluto, apesar de tudo. Billy Wilder diria que não conseguia entender. Marilyn Monroe poderia ser considerada a pior profissional que ele já tinha trabalhado, mas ao mesmo tempo quando as cenas eram reveladas ela parecia perfeita na tela de cinema. Melhor do que seus dois parceiros de filme, melhor do que qualquer um. Era pura mágica na opinião de Wilder. Como uma pessoa tão neurótica, caótica e estranha como Marilyn conseguia parecer tão perfeita nos filmes? O velho Billy morreu sem saber dar a resposta. Apenas constatava que isso acontecia mesmo, sem a menor dúvida. Um mistério dos deuses da sétima arte.
Pablo Aluísio.
terça-feira, 25 de fevereiro de 2020
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020
Marlon Brando - Hollywood Boulevard - Parte 20
O sucesso de "A Streetcar Named Desire" abriu as portas do cinema para Marlon Brando. O roteiro escrito em cima da peça de Tennessee Williams foi um dos mais elogiados pela crítica na época. A produção recebeu uma enxurrada de indicações, principalmente no Oscar e no Globo de Ouro. Para o Oscar o filme foi nomeado aos prêmios de Melhor Filme, Ator (Brando), Direção, Roteiro, Fotografia, Figurino e Trilha Sonora, se saindo vencedor nas categorias de Melhor Atriz (Vivien Leigh), Ator Coadjuvante (Karl Malden), Atriz Codjuvante (Kim Hunter) e direção de arte.
No Globo de Ouro outra consagração com mais três importantes indicações. A fita também logo se tornou um grande sucesso de bilheteria. Algo grandioso estava surgindo na sétima arte mas Brando parecia não se importar, transparecendo um claro ar blasé sobre tudo o que estava acontecendo ao seu redor.
Embora tenha sido proibido de se manifestar publicamente o fato é que o ator estava furioso com os cortes que a Warner Bros havia feito para que a produção não fosse qualificada numa faixa etária mais elevada - o que no final das contas significaria perda considerável de receitas nas bilheterias. Ele só descobriu os cortes ao assistir o filme pela primeira vez no cinema. Sentiu falta de inúmeras cenas e ficou muito desapontado com isso. Na visão de Brando a simples questão comercial jamais poderia servir de desculpa para a mutilação de uma obra de arte. Pelo visto o idealismo de Brando ainda não havia sido colocado à prova pelas regras do jogo da indústria do cinema. Em Hollywood o lucro estava bem acima da arte.
Marlon Brando havia sido indicado ao Oscar de Melhor Ator e decidiu que se vencesse iria ler uma carta de desagravo pelos cortes que o filme havia sofrido. No final ele não venceu o prêmio o que foi um alívio para a Warner. Curiosamente a grande maioria das cenas cortadas do filme jamais apareceram. De fato o enredo original mostrava personagens bem mais doentios e neuróticos do que aquilo que se vê na versão oficial. Isso porém jamais tirou os méritos da produção que até hoje é considerada um dos grandes clássicos da história do cinema americano. No final das contas Brando só estava mesmo sendo Brando, um gênio da arte dramática que era muito complicado de se lidar nos bastidores.
Pablo Aluísio
No Globo de Ouro outra consagração com mais três importantes indicações. A fita também logo se tornou um grande sucesso de bilheteria. Algo grandioso estava surgindo na sétima arte mas Brando parecia não se importar, transparecendo um claro ar blasé sobre tudo o que estava acontecendo ao seu redor.
Embora tenha sido proibido de se manifestar publicamente o fato é que o ator estava furioso com os cortes que a Warner Bros havia feito para que a produção não fosse qualificada numa faixa etária mais elevada - o que no final das contas significaria perda considerável de receitas nas bilheterias. Ele só descobriu os cortes ao assistir o filme pela primeira vez no cinema. Sentiu falta de inúmeras cenas e ficou muito desapontado com isso. Na visão de Brando a simples questão comercial jamais poderia servir de desculpa para a mutilação de uma obra de arte. Pelo visto o idealismo de Brando ainda não havia sido colocado à prova pelas regras do jogo da indústria do cinema. Em Hollywood o lucro estava bem acima da arte.
Marlon Brando havia sido indicado ao Oscar de Melhor Ator e decidiu que se vencesse iria ler uma carta de desagravo pelos cortes que o filme havia sofrido. No final ele não venceu o prêmio o que foi um alívio para a Warner. Curiosamente a grande maioria das cenas cortadas do filme jamais apareceram. De fato o enredo original mostrava personagens bem mais doentios e neuróticos do que aquilo que se vê na versão oficial. Isso porém jamais tirou os méritos da produção que até hoje é considerada um dos grandes clássicos da história do cinema americano. No final das contas Brando só estava mesmo sendo Brando, um gênio da arte dramática que era muito complicado de se lidar nos bastidores.
Pablo Aluísio
domingo, 23 de fevereiro de 2020
Marlon Brando - Hollywood Boulevard - Parte 19
Como já era previsto Marlon Brando venceu o Oscar de Melhor Ator por sua atuação em "O Poderoso Chefão". E também como alguns esperavam Brando resolveu recusar o prêmio. Ele enviou uma atriz vestida de nativa americana (em figurinos pouco convincentes) para realizar um discurso de protesto sobre a forma como o cinema americano tratava os índios nas telas. A coisa toda pegou muito mal. Vários diretores, produtores e atores acharam a encenação um grande desrespeito. John Wayne liderou os que consideraram aquilo uma hipocrisia sem tamanho por parte de Brando. O ator republicano e conservador disparou em uma entrevista: "Brando deveria ter vergonha! Ele deveria homenagear os soldados americanos que morreram na colonização do velho oeste, isso sim!".
Longe da polêmica Brando procurou por novos projetos. Ele não queria o Oscar e isso não tinha volta. O que ele queria agora ela realizar mais um bom filme para consolidar a retomada em sua carreira. Inicialmente Brando desejou se afastar de Hollywood. Ele ficara enojado pela reação de alguns membros da Academia por causa do Oscar rejeitado e resolveu que seu próximo filme seria realizado na Europa. "Hollywood me despreza e eu a desprezo. É um lugar cheio de cretinos, não quero me misturar com esse tipo de gente!" - afirmou a um jornal de Los Angeles. Foi justamente nesse momento de intenso tiroteio e troca de farpas entre Brando a indústria americana de cinema que surgiu em suas mãos o roteiro de um filme chamado "Ultimo tango a Paris".
O roteiro era de Bernardo Bertolucci, que também iria dirigir o filme. Brando gostou muito do fato de que aquele script era um roteiro em aberto, que iria ser basicamente desenvolvido durante as filmagens, contando com a colaboração do elenco em sua construção. Imediatamente Brando convidou o cineasta italiano para vir em sua casa, para um jantar onde poderiam discutir a participação do ator naquele projeto. Assim que Bertolucci chegou em sua casa, Brando expôs seu ponto de vista. "Estou cansado de trabalhar com diretores burros e tiranos! Eu quero fazer o seu filme, mas também quero liberdade total e completa! Eu quero atuar sem amarras, sem marcações, até mesmo sem diálogos previamente escritos. Eu quero criar um personagem que seja uma mistura, metade com minha alma, metade como mera ficção!".
Bertolucci achou maravilhosa a proposta. Era justamente o que ele procurava e não poderia haver ator mais indicado para o papel, já que Brando era considerado um gênio da atuação. O ator também sugeriu que o diretor ficasse longe de grandes estrelas para escolher a atriz que iria contracenar com ele. "São todas umas idiotas estúpidas!" - resumiu Brando. Seguindo os conselhos de Brando, o diretor acabou escolhendo a jovem e inexperiente Maria Schneider, escolha que agradou ao ator. Marlon havia dito a Bernardo Bertolucci: "Escolha a atriz mais inexperiente que encontrar nos testes, prefira uma quase amadora. Vai ajudar bastante no filme". Com tudo acertado Brando fez as malas e deixou a cidade em direção a Paris. Uma obra prima estava prestes a ser filmada.
Pablo Aluísio.
Longe da polêmica Brando procurou por novos projetos. Ele não queria o Oscar e isso não tinha volta. O que ele queria agora ela realizar mais um bom filme para consolidar a retomada em sua carreira. Inicialmente Brando desejou se afastar de Hollywood. Ele ficara enojado pela reação de alguns membros da Academia por causa do Oscar rejeitado e resolveu que seu próximo filme seria realizado na Europa. "Hollywood me despreza e eu a desprezo. É um lugar cheio de cretinos, não quero me misturar com esse tipo de gente!" - afirmou a um jornal de Los Angeles. Foi justamente nesse momento de intenso tiroteio e troca de farpas entre Brando a indústria americana de cinema que surgiu em suas mãos o roteiro de um filme chamado "Ultimo tango a Paris".
O roteiro era de Bernardo Bertolucci, que também iria dirigir o filme. Brando gostou muito do fato de que aquele script era um roteiro em aberto, que iria ser basicamente desenvolvido durante as filmagens, contando com a colaboração do elenco em sua construção. Imediatamente Brando convidou o cineasta italiano para vir em sua casa, para um jantar onde poderiam discutir a participação do ator naquele projeto. Assim que Bertolucci chegou em sua casa, Brando expôs seu ponto de vista. "Estou cansado de trabalhar com diretores burros e tiranos! Eu quero fazer o seu filme, mas também quero liberdade total e completa! Eu quero atuar sem amarras, sem marcações, até mesmo sem diálogos previamente escritos. Eu quero criar um personagem que seja uma mistura, metade com minha alma, metade como mera ficção!".
Bertolucci achou maravilhosa a proposta. Era justamente o que ele procurava e não poderia haver ator mais indicado para o papel, já que Brando era considerado um gênio da atuação. O ator também sugeriu que o diretor ficasse longe de grandes estrelas para escolher a atriz que iria contracenar com ele. "São todas umas idiotas estúpidas!" - resumiu Brando. Seguindo os conselhos de Brando, o diretor acabou escolhendo a jovem e inexperiente Maria Schneider, escolha que agradou ao ator. Marlon havia dito a Bernardo Bertolucci: "Escolha a atriz mais inexperiente que encontrar nos testes, prefira uma quase amadora. Vai ajudar bastante no filme". Com tudo acertado Brando fez as malas e deixou a cidade em direção a Paris. Uma obra prima estava prestes a ser filmada.
Pablo Aluísio.
Marlon Brando - Hollywood Boulevard - Parte 18
Depois da fortuna recebida pela filme "Superman", Marlon Brando pensou em se aposentar. Dizia ele que já havia feito tudo o que um ator poderia fazer em Hollywood. Já havia subido os degraus do sucesso de público e crítica, assim como caído nas fossas do fracasso comercial. Não havia mais nada na indústria cinematográfica americana que o convenceria a sair de seu retiro em sua querida ilha Tetiaroa, localizada na distante Polinésia Francesa. Brando dizia que assim que seu avião pousava em Los Angeles sua pressão aumentava imediatamente. Era um reflexo do stress e da tensão que vivia quando chegava nos Estados Unidos. Já na sua ilha particular ele conseguia relaxar e ser feliz.
Só que foi a própria ilha que o fez retornar ao cinema. Brando havia gasto muito dinheiro na construção de um hotel e um resort turístico. Assim que tudo estava terminado, um furacão passou e destruiu com tudo. Todo o investimento foi perdido. Brando ficou sem recursos para seguir em frente com seus sonhos paradisíacos. Assim precisou telefonar para seu agente em Hollywood para avisar que ele aceitasse ofertas de trabalho, que ele ainda estaria no jogo, pronto para atuar. Seus planos de aposentadoria foram deixados de lado. Ele ainda precisava ganhar dinheiro para levantar tudo de novo em Tetiaroa.
Uma vez a cada quatro ou cinco meses Brando voltava para os Estados Unidos. Recebia os roteiros de propostas de novos filmes e avaliava se algum lhe interessava. Eram pilhas e pilhas de roteiros ruins, muitos deles eram apenas variações do seu personagem mafioso de "O Poderoso Chefão". Marlon Brando não tinha a menor intenção de fazer um filme sobre gangsters novamente. Era muito limitado e sem imaginação, em sua opinião. Como um ator que sempre primou por apenas trabalhar naquilo que interessava, ele não estava mais disposto a encarar produções apenas por motivos puramente comerciais.
Demorou quase um ano até que viesse a surgir algo que valesse a pena. O diretor Francis Ford Coppola, com quem Brando havia trabalhado em "O Poderoso Chefão" lhe telefonou numa manhã. Disse que tinha um papel em mãos em que apenas ele, Marlon Brando, poderia atuar. Era uma adaptação de um livro de autoria do escritor Joseph Conrad chamado "Heart of Darkness", lançado em 1902. Brando conhecia o trabalho original. Esse livro quase virou filme nas mãos de Orson Welles nos anos 1950. Só que Coppola queria adaptar tudo para uma realidade passada na Guerra do Vietnã. O nome do personagem de Brando seria Walter E. Kurtz, um Coronel americano que havia enlouquecido nas selvas do continente asiático. Coppola chamaria o filme de "Apocalypse Now". Tudo parecia estar no lugar certo. Brando praticamente aceitou na mesma hora o convite. Aquele sim era um projeto que valia a pena se envolver.
Pablo Aluísio
Só que foi a própria ilha que o fez retornar ao cinema. Brando havia gasto muito dinheiro na construção de um hotel e um resort turístico. Assim que tudo estava terminado, um furacão passou e destruiu com tudo. Todo o investimento foi perdido. Brando ficou sem recursos para seguir em frente com seus sonhos paradisíacos. Assim precisou telefonar para seu agente em Hollywood para avisar que ele aceitasse ofertas de trabalho, que ele ainda estaria no jogo, pronto para atuar. Seus planos de aposentadoria foram deixados de lado. Ele ainda precisava ganhar dinheiro para levantar tudo de novo em Tetiaroa.
Uma vez a cada quatro ou cinco meses Brando voltava para os Estados Unidos. Recebia os roteiros de propostas de novos filmes e avaliava se algum lhe interessava. Eram pilhas e pilhas de roteiros ruins, muitos deles eram apenas variações do seu personagem mafioso de "O Poderoso Chefão". Marlon Brando não tinha a menor intenção de fazer um filme sobre gangsters novamente. Era muito limitado e sem imaginação, em sua opinião. Como um ator que sempre primou por apenas trabalhar naquilo que interessava, ele não estava mais disposto a encarar produções apenas por motivos puramente comerciais.
Demorou quase um ano até que viesse a surgir algo que valesse a pena. O diretor Francis Ford Coppola, com quem Brando havia trabalhado em "O Poderoso Chefão" lhe telefonou numa manhã. Disse que tinha um papel em mãos em que apenas ele, Marlon Brando, poderia atuar. Era uma adaptação de um livro de autoria do escritor Joseph Conrad chamado "Heart of Darkness", lançado em 1902. Brando conhecia o trabalho original. Esse livro quase virou filme nas mãos de Orson Welles nos anos 1950. Só que Coppola queria adaptar tudo para uma realidade passada na Guerra do Vietnã. O nome do personagem de Brando seria Walter E. Kurtz, um Coronel americano que havia enlouquecido nas selvas do continente asiático. Coppola chamaria o filme de "Apocalypse Now". Tudo parecia estar no lugar certo. Brando praticamente aceitou na mesma hora o convite. Aquele sim era um projeto que valia a pena se envolver.
Pablo Aluísio
sábado, 22 de fevereiro de 2020
Marlon Brando - Hollywood Boulevard - Parte 17
Em 1977 a Warner Bros convidou Marlon Brando para participar da primeira grande adaptação do personagem dos quadrinhos Superman para o cinema. O estúdio queria Brando para interpretar Jor-El, o pai do super-herói em Kripton, um planeta com uma civilização altamente avançada que vivia seus últimos dias de existência. No começo Brando hesitou já que era algo completamente fora dos padrões para sua carreira. Ele ficou semanas pensando se iria ou não aceitar o convite.
A Warner porém parecia decidida a contratar o grande Marlon Brando para o filme. A razão era simples de entender. O estúdio queria trazer publicidade e prestigio para essa produção e nada melhor do que ter um gênio da atuação, um mito da história do cinema, em um papel coadjuvante, mas central da história. No final o estúdio deu uma proposta irrecusável, um cachê de 3.7 milhões de dólares por apenas 20 dias de trabalho. Era algo inédito na época, uma soma fabulosa que acabou convencendo o ator a entrar no elenco. Anos depois o próprio Brando explicou que havia deixado o receio de lado muito antes, quando grandes nomes como Glenn Ford e Gene Hackman também foram contratados. Curiosamente o papel de Superman foi dado a um ator que embora talentoso ainda era considerado um novato no meio de tantos astros de Hollywood, Christopher Reeve.
Para consolidar a contratação Brando mandou inserir em seu contrato uma cláusula de que receberia mais um percentual caso sua imagem fosse utilizada em continuações do filme (algo que no final das contas lhe renderia 5 milhões de dólares por seu trabalho). Ele queria esse dinheiro para investir em sua ilha particular, que estava enfrentando problemas após um furacão passar por lá, destruindo completamente o hotel que Brando havia construído no local.
O curioso é que essa seria a primeira vez em sua longa carreira que Brando iria desempenhar um personagem saído diretamente dos quadrinhos. Para se sair bem ele mandou dois assistentes em uma loja especializada em gibis de Los Angeles. Brando mandou que fossem compradas todas as edições de Superman do estabelecimento. E assim foi feito seu "laboratório" para atuar. Durante duas semanas Brando leu tudo o que lhe caiu em mãos sobre o personagem. Ele percebeu que o pai kriptoniano do Superman surgia quase sempre nos quadrinhos como um fantasma, uma sombra do passado que se comunicava com seu filho através da fortaleza da solidão. Assim, por conta própria, Brando pintou seus cabelos, se tornando completamente brancos, para lhe dar a imagem de um homem do passado, um ancestral do super-herói. Anos depois Brando confessaria que no final de tudo havia gostado bastante do filme e ficado orgulhoso por ter dado tanta dignidade em cena para Jor-El.
Pablo Aluísio.
A Warner porém parecia decidida a contratar o grande Marlon Brando para o filme. A razão era simples de entender. O estúdio queria trazer publicidade e prestigio para essa produção e nada melhor do que ter um gênio da atuação, um mito da história do cinema, em um papel coadjuvante, mas central da história. No final o estúdio deu uma proposta irrecusável, um cachê de 3.7 milhões de dólares por apenas 20 dias de trabalho. Era algo inédito na época, uma soma fabulosa que acabou convencendo o ator a entrar no elenco. Anos depois o próprio Brando explicou que havia deixado o receio de lado muito antes, quando grandes nomes como Glenn Ford e Gene Hackman também foram contratados. Curiosamente o papel de Superman foi dado a um ator que embora talentoso ainda era considerado um novato no meio de tantos astros de Hollywood, Christopher Reeve.
Para consolidar a contratação Brando mandou inserir em seu contrato uma cláusula de que receberia mais um percentual caso sua imagem fosse utilizada em continuações do filme (algo que no final das contas lhe renderia 5 milhões de dólares por seu trabalho). Ele queria esse dinheiro para investir em sua ilha particular, que estava enfrentando problemas após um furacão passar por lá, destruindo completamente o hotel que Brando havia construído no local.
O curioso é que essa seria a primeira vez em sua longa carreira que Brando iria desempenhar um personagem saído diretamente dos quadrinhos. Para se sair bem ele mandou dois assistentes em uma loja especializada em gibis de Los Angeles. Brando mandou que fossem compradas todas as edições de Superman do estabelecimento. E assim foi feito seu "laboratório" para atuar. Durante duas semanas Brando leu tudo o que lhe caiu em mãos sobre o personagem. Ele percebeu que o pai kriptoniano do Superman surgia quase sempre nos quadrinhos como um fantasma, uma sombra do passado que se comunicava com seu filho através da fortaleza da solidão. Assim, por conta própria, Brando pintou seus cabelos, se tornando completamente brancos, para lhe dar a imagem de um homem do passado, um ancestral do super-herói. Anos depois Brando confessaria que no final de tudo havia gostado bastante do filme e ficado orgulhoso por ter dado tanta dignidade em cena para Jor-El.
Pablo Aluísio.
Marlon Brando - Hollywood Boulevard - Parte 17
O livro "The Godfather" (O Poderoso Chefão) de Mario Puzo ficou por mais de 60 semanas na lista dos mais vendidos do The New York Times. Era um sucesso absoluto, um best-seller. Em 1971 o produtor Robert Evans, da Paramount Pictures, negociou os direitos de adaptação para o cinema do romance com o próprio escritor. Após as negociações concluídas o estúdio foi atrás de um diretor. A escolha recaiu em Francis Ford Coppola que apesar de não ter nenhum grande sucesso no currículo, tinha boa fama de ser um verdadeiro artesão da sétima arte. Além disso ele tinha origem ítalo-americana, um dos requisitos que a Paramount considerava ser primordial para para uma boa adaptação.
A primeira questão que surgiu veio da escalação de um bom elenco. Coppola queria Ernest Borgnine ou Rod Steiger para o papel principal, a do patriarca Don Vito Corleone. O produtor Bob Evans não achava nenhuma das escolhas a adequada. Para ele Borgnine não tinha a imagem e nem a personalidade ideal para encarnar um tipo tão marcante. Faltava um certo ar de autoridade para o ator. Além disso quem iria associar o bondoso Ernest com um chefe da máfia siciliana? Já Steiger também não iria servir pois ele já havia interpretado outro gangster famoso, Al Capone. Evans não queria que o público associasse Capone com Corleone. "Eram personagens bem diferentes" - na opinião do experiente produtor. Quem acabou colocando fim à dúvida foi o próprio autor Mario Puzo. Ele telefonou para Coppola e lhe disse: "Só existe um ator para interpretar Vito Corleone no cinema e o seu nome é Marlon Brando!".
A Paramount não gostou da sugestão. Brando tinha um histórico de problemas com o estúdio. Ele havia criado muitos problemas no passado. Era considerado um ator genioso, explosivo, complicado de se lidar. A Paramount iria investir milhões de dólares em um filme estrelado por Marlon Brando novamente? Ninguém queria saber disso na diretoria. Outro problema segundo os executivos da Paramount vinha da própria idade de Marlon Brando. Na época ele tinha 47 anos e Vito Corleone, o personagem, já havia passado dos 60. Tudo bem, uma maquiagem bem feita poderia superar isso, mas como alguém poderia esquecer que Brando vinha de uma década de fracassos de bilheteria? Será que ele ainda tinha força para atrair o público para os cinemas? Em uma tensa reunião na Paramount o diretor Coppola ficou horas tentando convencer os executivos a contratarem Brando. Foi uma luta.
E qual era a posição de Brando sobre tudo o que estava acontecendo? Para falar a verdade o ator não parecia muito preocupado. Ele não tinha lido o livro de Mario Puzo e parecia indiferente ao projeto do filme, ao contrário de seus colegas de profissão, que estavam tentando de tudo para entrar no elenco do filme. Duas coisas porém fizeram Brando mudar de ideia. A primeira é que ele precisava urgentemente de dinheiro. Os diversos processos que tinha enfrentado em relação a divórcios e guardas de seus filhos o fez gastar verdadeiras fortunas com advogados. Ele estava na pior, financeiramente falando. A outra questão que fez Brando começar a brigar pelo papel era o fato do ator estar desesperado por um sucesso. Todos diziam que "O Poderoso Chefão" seria um grande campeão de bilheteria, justamente o que Brando procurava. Além disso sua carreira precisava muito de um impacto. Tudo certo, só havia mais um problema a superar: a Paramount exigiu que Marlon realizasse um teste. Algo que ele não fazia desde os anos 40. Era um tipo de humilhação para um ator tão consagrado como ele, era coisa de iniciantes. No fundo a Paramount queria testar mesmo era a personalidade do ator. Será que ele toparia fazer algo assim? Estaria mais humilde do que no passado? Brando engoliu seu orgulho pessoal, sua vaidade e topou fazer o tal teste em sua casa em Mulholland Drive. Se esse era o preço a se pagar para estar no filme, Brando estava disposto a encarar o primeiro teste em sua carreira nos últimos 30 anos!
Pablo Aluísio.
A primeira questão que surgiu veio da escalação de um bom elenco. Coppola queria Ernest Borgnine ou Rod Steiger para o papel principal, a do patriarca Don Vito Corleone. O produtor Bob Evans não achava nenhuma das escolhas a adequada. Para ele Borgnine não tinha a imagem e nem a personalidade ideal para encarnar um tipo tão marcante. Faltava um certo ar de autoridade para o ator. Além disso quem iria associar o bondoso Ernest com um chefe da máfia siciliana? Já Steiger também não iria servir pois ele já havia interpretado outro gangster famoso, Al Capone. Evans não queria que o público associasse Capone com Corleone. "Eram personagens bem diferentes" - na opinião do experiente produtor. Quem acabou colocando fim à dúvida foi o próprio autor Mario Puzo. Ele telefonou para Coppola e lhe disse: "Só existe um ator para interpretar Vito Corleone no cinema e o seu nome é Marlon Brando!".
A Paramount não gostou da sugestão. Brando tinha um histórico de problemas com o estúdio. Ele havia criado muitos problemas no passado. Era considerado um ator genioso, explosivo, complicado de se lidar. A Paramount iria investir milhões de dólares em um filme estrelado por Marlon Brando novamente? Ninguém queria saber disso na diretoria. Outro problema segundo os executivos da Paramount vinha da própria idade de Marlon Brando. Na época ele tinha 47 anos e Vito Corleone, o personagem, já havia passado dos 60. Tudo bem, uma maquiagem bem feita poderia superar isso, mas como alguém poderia esquecer que Brando vinha de uma década de fracassos de bilheteria? Será que ele ainda tinha força para atrair o público para os cinemas? Em uma tensa reunião na Paramount o diretor Coppola ficou horas tentando convencer os executivos a contratarem Brando. Foi uma luta.
E qual era a posição de Brando sobre tudo o que estava acontecendo? Para falar a verdade o ator não parecia muito preocupado. Ele não tinha lido o livro de Mario Puzo e parecia indiferente ao projeto do filme, ao contrário de seus colegas de profissão, que estavam tentando de tudo para entrar no elenco do filme. Duas coisas porém fizeram Brando mudar de ideia. A primeira é que ele precisava urgentemente de dinheiro. Os diversos processos que tinha enfrentado em relação a divórcios e guardas de seus filhos o fez gastar verdadeiras fortunas com advogados. Ele estava na pior, financeiramente falando. A outra questão que fez Brando começar a brigar pelo papel era o fato do ator estar desesperado por um sucesso. Todos diziam que "O Poderoso Chefão" seria um grande campeão de bilheteria, justamente o que Brando procurava. Além disso sua carreira precisava muito de um impacto. Tudo certo, só havia mais um problema a superar: a Paramount exigiu que Marlon realizasse um teste. Algo que ele não fazia desde os anos 40. Era um tipo de humilhação para um ator tão consagrado como ele, era coisa de iniciantes. No fundo a Paramount queria testar mesmo era a personalidade do ator. Será que ele toparia fazer algo assim? Estaria mais humilde do que no passado? Brando engoliu seu orgulho pessoal, sua vaidade e topou fazer o tal teste em sua casa em Mulholland Drive. Se esse era o preço a se pagar para estar no filme, Brando estava disposto a encarar o primeiro teste em sua carreira nos últimos 30 anos!
Pablo Aluísio.
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020
Os Pássaros
Agora o curioso de tudo é saber que essa história toda, que algumas vezes pode parecer irreal para determinados espectadores, aconteceu mesmo, de fato! "Os Pássaros" foi baseado em fatos reais ocorridos numa cidade do litoral da Califórnia durante a década de 1940. Até hoje os biólogos não sabem explicar com certeza científica absoluta o que levou essas aves a atacarem seres humanos com tanta fúria. Para Alfred Hitchcock porém o que lhe importava nem era a explicação do evento propriamente dito, mas sim as diversas maneiras que ele iria arrancar suspense e terror desas situações. Para quem apreciava tanto enredos estranhos e bizarros, esses fatos que deram origem ao filme eram um prato cheio para o diretor.
Porém naquela época havia um problema: como tornar os ataques dos pássaros plenamente convincentes? Já que os especialistas em efeitos visuais nunca tinham feito nada parecido com aquilo antes no cinema. Indo ao limite, Alfred Hitchcock então decidiu que apenas com o uso de aves reais as cenas iriam se tornar plenamente realistas. E assim foi feito, a produção utilizou aves marinhas da costa da Califórnia nas cenas de ação. Claro que isso criou situações complicadas, para o elenco e principalmente para a atriz Tippi Hedren, que nesse ponto acabou tendo que enfrentar o tipo mais visceral de papel já presente em um filme de Hitchcock. Dizem as más línguas também que o diretor ficou apaixonado por ela e não sendo correspondido, acabou jogando as aves em cima de sua atriz principal! Claro, algumas aves empalhadas e mecânicas também foram utilizadas, mas em menor número que as reais. A maioria das cenas foram feitas com bichos de verdade. Seria uma vingança de Hitchcock contra sua estrela? Verdade ou mentira? Nunca saberemos ao certo. De qualquer modo não deixou de ser algo bem peculiar do humor negro que Alfred Hitchcock sempre cultivava.
Depois das complicadas filmagens, veio então o sucesso de público tão esperado. Desde seu lançamento "Os Pássaros" se tornou um dos grandes sucessos de bilheteria do diretor. Por todo o mundo o tema do roteiro se tornou um imã para a plateia. Aliás em termos de sucesso comercial o filme rivalizou com o maior hit de Hitchcock, o clássico "Psicose", lançado três anos antes. Some-se a isso as deliciosas histórias de bastidores e você certamente terá um dos mais marcantes momentos da carreira de seu criador. Vários livros e até filmes já enfocaram as manias que Hitchcock teve nas filmagens de "The Birds". Anos depois a atriz diria que inicialmente ele a convenceu que não haveria aves de verdade, apenas efeitos com bichos mecânicos. Só depois no set de filmagens é que ela descobriu como o filme seria feito de verdade! Com bichos reais, dando picadas nela! Não se admire da "grande interpretação" de Tippi Hedren nas cenas pois no fundo ela está apavorada de verdade com os métodos de seu diretor! Com tantos fatos e factoides não foi à toa que "Os Pássaros" se tornou esse ícone da cultura pop em todo o mundo.
Os Pássaros (The Birds, Estados Unidos, 1963) Estúdio: Universal Pictures / Direção: Alfred Hitchcock / Roteiro: Daphne Du Maurier, Evan Hunter / Elenco: Tippi Hedren, Suzanne Pleshette, Rod Taylor / Sinopse: Durante um passeio numa cidade do litoral da Califórnia uma mulher chamada Melanie Daniels (Tippi Hedren) é atacada por pássaros de todos os tipos e tamanhos. A cidade também entra em pânico com o estranho fenômeno da natureza. Filme indicado ao Oscar na categoria Melhores Efeitos Especiais. Vencedor do Globo de Ouro na categoria Melhor Revelação Feminina (Tippi Hedren).
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020
Disque M Para Matar
Fingindo não saber de absolutamente nada, ele então planeja uma forma de matar a esposa infiel para de quebra se tornar o único herdeiro de sua fortuna. Para colocar em prática sua artimanha criminosa, resolve chantagear um antigo colega de universidade, Swan (Anthony Dawson), que agora vive de explorar mulheres idosas, ricas e solitárias. Enquanto se garante com um álibi, em um evento social, seu comparsa deve entrar em sua casa para asfixiar sua esposa, tentando passar a ideia de que tudo foi apenas um roubo mal sucedido. No começo tudo ocorre bem até que algo acaba não saindo como havia sido inicialmente planejado.
Que Alfred Hitchcock foi um dos grandes gênios do cinema ninguém mais duvida. O diretor tinha um talento incomum para contar enredos sórdidos de uma maneira toda especial. Na superfície, seus personagens viviam em uma espécie de conto de fadas moderno, onde todos eram ricos, felizes e bonitos. Por debaixo dessa aparente normalidade se escondia os mais terríveis sentimentos mesquinhos. Veja o caso do casal formado por Mary (Kelly) e Tony (Milland). Ela é uma bem sucedida mulher, loira e linda, que não desperta suspeitas. Todos pensam ser a esposa ideal. Ele é um ex-tenista, agora aposentado, que se diz muito feliz em se dedicar completamente à esposa e seus caprichos. Um casal realmente perfeito a admirável. Isso é o que a sociedade pensa ser a verdade.
Por debaixo de tudo se esconde uma mulher infeliz com seu casamento de fachada, a ponto de nutrir um amor secreto e inconfessável. Na verdade ela não sente nenhum carinho ou afeição pelo marido e morre mesmo de amores por um antigo amor, um escritor de tramas policiais. Como não pode assumir esse seu sentimento proibido publicamente, começa a ter encontros escondidos com o amante. O marido, que sempre aparentou ser um homem muito educado e fino, um verdadeiro gentleman, acaba descobrindo a traição de sua jovem esposa, mas ao invés de se divorciar em um escandaloso rompimento perante a sociedade ele resolve ir por um caminho mais sutil e... fatal. Ele entra em contato com um antigo conhecido da universidade, um sujeito que não conseguiu se dar bem na vida, vivendo de pequenos e grandes golpes, explorando mulheres velhas e ricas. Um verdadeiro escroque.
A intenção é clara, o sujeito deve matar sua esposa infiel, em sua própria casa, enquanto ele, o marido, surge numa festa, na frente de todos, o que o livraria de uma eventual acusação de tê-la matado. Para atrair ela até um quarto escuro de sua casa, onde o assassino cometerá o crime, Tony usa o telefone. Assim que Margot o atender deverá ser assassinada. Aqui Hitchcock expõe todos os detalhes do plano e depois dos acontecimentos que vão surgindo em decorrência de vários imprevistos. O personagem Tony (Ray Milland) é extremamente inteligente e consegue armar contra todos, inclusive enganando os experientes inspetores da polícia. Tudo acaba caminhando muito bem, mesmo que por linhas tortas, até um pequeno, quase invisível detalhe, colocar tudo a perder. Esse roteiro pode ser descrito como um intrigado caso criminal, baseado muitas vezes em um tipo de suspense mais intelectual, apelando quase sempre para a perspicácia do espectador, que deve ficar bem atento para não perder nenhum detalhe. Nesse aspecto é certamente um dos grandes filmes da carreira do mestre. É um clássico absoluto do suspense na história da sétima arte.
Disque M Para Matar (Dial M for Murder, Estados Unidos, 1954) Estúdio: Warner Bros / Direção: Alfred Hitchcock /Roteiro: Frederick Knott / Elenco: Grace Kelly, Ray Milland, Robert Cummings, John Williams, Anthony Dawson / Sinopse: Marido planeja matar a esposa infiel contando com a colaboração de um amigo. Tudo é minuciosamente planejado. Porém dar certo como previsto já seria uma outra história completamente diferente. Filme indicado ao BAFTA Awards na categoria de Melhor Atriz (Grace Kelly).
Pablo Aluísio.
O Terceiro Tiro
“O Terceiro Tiro” é um filme bem diferente da carreira do diretor Alfred Hitchcock. A impressão que o espectador tem ao assistir a essa produção é a de que o cineasta estava acima de tudo se divertindo muito, o que não é de se admirar uma vez que o enredo – em tom de humor negro – brincava o tempo todo com uma situação bem inusitada e bizarra. O título original do filme, “The Trouble with Harry” (O Problema com Harry), era bem mais explicativo do que o equivocado nome nacional que o distribuidor brasileiro arranjou. Provavelmente acreditaram que ninguém iria assistir ao filme, caso seu título fosse uma tradução literal. Bobagem, o nome de Alfred Hitchcock já garantia o interesse dos cinéfilos em qualquer parte do mundo. No Brasil não seria diferente.
Pois bem, e qual seria esse problema com Harry? E afinal, quem diabos era Harry?! Ora, Harry era um cadáver abandonado em um bosque. Isso mesmo que você leu. O roteiro se baseava justamente nisso. Um corpo era encontrado sucessivamente por várias pessoas em ocasiões diferentes e todas elas procuravam esconder o fato dos demais. Isso porque nenhum deles tinha exatamente certeza sobre as circunstâncias da morte de Harry e algumas até pensavam ter alguma culpa no cartório sobre isso. Achou tudo muito bizarro? Estranho? Claro que sim. O roteiro brinca de forma até mórbida com a inusitada situação. Quem teria matado Harry? O que levou ele a esse trágico fim? E quem seria o verdadeiro assassino?
Harry acaba sendo encontrado por um garotinho, por sua mãe, pela ex-esposa, por uma jovem e até por um capitão. Todos eles lidando com a situação de uma forma até inesperada, alguns com até uma certa indiferença ao fato do morto estar ali estendido no chão entre as folhas do bosque. O roteiro dessa maneira arma toda uma situação de puro humor negro para divertir o espectador. O velho Hitchcock costumava dizer que “O Terceiro Tiro” era um de seus filmes preferidos. Ele atribuía isso ao fato do argumento ser muito diferente de suas outras produções, com acentuado clima de morbidez cômica, por mais estranho que isso pudesse parecer. Some-se a isso a bela fotografia de Vermont, um dos lugares mais bonitos e pacatos dos EUA e você terá o clima perfeito.
Além de Alfred Hitchcock na direção, outro fato que chama a atenção no filme é a presença da jovem atriz Shirley MacLaine no elenco. Poucos lembram disso, mas esse foi seu primeiro filme! Jovem e bonita, ela interpretava Jennifer Rogers, uma das pessoas que também se deparavam com Harry na floresta! Naquela época ela já demonstrava todo o seu carisma que iria ajudá-la a construir uma das mais marcantes carreiras da história do cinema americano. Enfim, “O Terceiro Tiro” é indicado para os que desejam conhecer um outro lado do mestre do suspense. Seu humor definitivamente não era convencional e nem normal, mas certamente poderia ser considerado bem divertido. Que tal rir um pouco com Alfred Hitchcock?
O Terceiro Tiro (The Trouble with Harry, Estados Unidos, 1955) Direção: Alfred Hitchcock / Roteiro: John Michael Hayes, baseado no livro de Jack Trevor Story / Elenco: Shirley MacLaine, Edmund Gwenn, John Forsythe, Mildred Natwick / Sinopse: O corpo de um sujeito chamado Harry é encontrado em um bosque por várias pessoas. Todas elas o conheciam, mas ninguém queria se comprometer com aquela bizarra descoberta. Todas acabam pensando ter algo a ver com sua morte. Filme vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Revelação Feminina (Shirley MacLaine). Também indicado ao BAFTA Awards na categoria de Melhor Filme e Melhor Atriz (Shirley MacLaine).
Pablo Aluísio
Pois bem, e qual seria esse problema com Harry? E afinal, quem diabos era Harry?! Ora, Harry era um cadáver abandonado em um bosque. Isso mesmo que você leu. O roteiro se baseava justamente nisso. Um corpo era encontrado sucessivamente por várias pessoas em ocasiões diferentes e todas elas procuravam esconder o fato dos demais. Isso porque nenhum deles tinha exatamente certeza sobre as circunstâncias da morte de Harry e algumas até pensavam ter alguma culpa no cartório sobre isso. Achou tudo muito bizarro? Estranho? Claro que sim. O roteiro brinca de forma até mórbida com a inusitada situação. Quem teria matado Harry? O que levou ele a esse trágico fim? E quem seria o verdadeiro assassino?
Harry acaba sendo encontrado por um garotinho, por sua mãe, pela ex-esposa, por uma jovem e até por um capitão. Todos eles lidando com a situação de uma forma até inesperada, alguns com até uma certa indiferença ao fato do morto estar ali estendido no chão entre as folhas do bosque. O roteiro dessa maneira arma toda uma situação de puro humor negro para divertir o espectador. O velho Hitchcock costumava dizer que “O Terceiro Tiro” era um de seus filmes preferidos. Ele atribuía isso ao fato do argumento ser muito diferente de suas outras produções, com acentuado clima de morbidez cômica, por mais estranho que isso pudesse parecer. Some-se a isso a bela fotografia de Vermont, um dos lugares mais bonitos e pacatos dos EUA e você terá o clima perfeito.
Além de Alfred Hitchcock na direção, outro fato que chama a atenção no filme é a presença da jovem atriz Shirley MacLaine no elenco. Poucos lembram disso, mas esse foi seu primeiro filme! Jovem e bonita, ela interpretava Jennifer Rogers, uma das pessoas que também se deparavam com Harry na floresta! Naquela época ela já demonstrava todo o seu carisma que iria ajudá-la a construir uma das mais marcantes carreiras da história do cinema americano. Enfim, “O Terceiro Tiro” é indicado para os que desejam conhecer um outro lado do mestre do suspense. Seu humor definitivamente não era convencional e nem normal, mas certamente poderia ser considerado bem divertido. Que tal rir um pouco com Alfred Hitchcock?
O Terceiro Tiro (The Trouble with Harry, Estados Unidos, 1955) Direção: Alfred Hitchcock / Roteiro: John Michael Hayes, baseado no livro de Jack Trevor Story / Elenco: Shirley MacLaine, Edmund Gwenn, John Forsythe, Mildred Natwick / Sinopse: O corpo de um sujeito chamado Harry é encontrado em um bosque por várias pessoas. Todas elas o conheciam, mas ninguém queria se comprometer com aquela bizarra descoberta. Todas acabam pensando ter algo a ver com sua morte. Filme vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Revelação Feminina (Shirley MacLaine). Também indicado ao BAFTA Awards na categoria de Melhor Filme e Melhor Atriz (Shirley MacLaine).
Pablo Aluísio
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020
A Tortura do Silêncio
Outro grande clássico do mestre do suspense Alfred Hitchcock. Aqui o diretor decidiu lidar com um tema controverso, um dogma da igreja católica, o segredo da confissão. Na trama esse aspecto é muito bem explorado. Inesperadamente o empregado de uma paróquia resolve se confessar ao padre Michael Logan (Montgomery Clift) revelando que acabara de assassinar um advogado após um assalto mal sucedido. Para isso ele tinha até mesmo usado a própria batina do religioso, que havia sido roubada de seus aposentos. Como fruto de confissão, Logan agora não poderia mais contar a verdade para a polícia. O pior de tudo é que o inspetor Larrue (Karl Malden) começa a desconfiar que o próprio padre foi de fato autor do crime, afinal todas as pistas parecem apontar para seu lado, inclusive um complicado relacionamento dele com a bela Ruth Grandfort (Anne Baxter), uma mulher casada que estava sendo chantageada pelo mesmo advogado que foi morto. E agora, conseguirá o Padre Logan provar sua inocência sem romper seu juramento de nunca revelar as confissões de seus fiéis?
Provavelmente um dos mais bem elaborados filmes do mestre Alfred Hitchcock. Aqui ele coloca vários dogmas da fé católica na berlinda, ao mostrar um padre que não pode romper o segredo da confissão ao mesmo tempo em que tenta provar sua inocência em razão de um crime que nunca cometeu. Outro ponto interessante é a forma como Hitchcock lida com o celibato dos padres. Logan tem um amor em seu passado, quando era apenas um jovem prestes a ir para a guerra, justamente uma mulher casada que mesmo após tantos anos não consegue esquecer. A montagem do quebra-cabeças acaba levando o padre, um homem de grande fibra moral, ao desprezo público. Todos o consideram culpado, apenas pelo fato de ser um homem religioso que se encontrava com um antigo amor. Será que ele não merecia nem ao menos um voto de confiança? Como pode um homem tão bom e íntegro ser desacreditado assim, praticamente da noite para o dia?
O papel do torturado e existencial Padre Logan se mostra ideal para Montgomery Clift. A fragilidade física do ator, aliada a uma grande fibra espiritual, se mostra perfeita para a proposta do enredo. Há uma cena em que Hitchcock faz um paralelo muito perspicaz sobre o verdadeiro calvário que seu personagem passa. Enquanto ele anda a esmo, na rua, em profundo conflito interior por tudo o que passa, surge em primeiro plano, no alto de uma igreja, uma imagem de Cristo e os soldados romanos durante sua penosa caminhada rumo ao calvário. Um efeito até mesmo simples, mas muito significativo do mestre do suspense. A imagem funciona assim como uma materialização de tudo aquilo que o pobre padre passa naquele momento. A vivência mais plena do que é ser cristão de verdade. A acusação infundada, o abandono por parte de seus próprios fiéis, o escárnio público e a condenação sem provas consistentes.
Por falar no diretor, ele é a primeira pessoa que surge em cena, no alto de uma grande escadaria logo na abertura do filme. Hitchcock sempre fazia essas pequenas aparições em suas produções e aqui o momento é mais do que divertido. Por trás da diversão também havia um aspecto sério a se considerar. A impressão que passa é que o cineasta tentava exorcizar mais um de seus conflitos internos com o filme. Como se sabe Hitchcock tinha uma relação de amor e ódio em relação ao catolicismo, algo que aqui ele acaba passando para a tela. Ao mesmo tempo em que martiriza seu personagem principal, o padre, também o enche de muita dignidade e honestidade. O transforma em um santo perseguido. Uma cristalina imagem do que ele próprio sentia em relação à Igreja de Roma. Assim fica a recomendação desse grande trabalho do genial diretor. Fé, conflito espiritual, tentação, injustiça, mentira e hipocrisia formam o núcleo de uma trama simplesmente brilhante. Assista e entenda porque Hitchcock foi um dos maiores gênios da história do cinema.
A Tortura do Silêncio (I Confess, Estados Unidos, 1953) Estúdio: Warner Bros / Direção: Alfred Hitchcock / Roteiro: George Tabori, William Archibald / Elenco: Montgomery Clift, Anne Baxter, Karl Malden / Sinopse: Jovem padre passa a ser o principal suspeito de um crime de assassinato. Ele é inocente e sabe quem foi o verdadeiro culpado, mas não pode contar para os policiais pois esse segredo lhe foi passado em confissão, ao qual ele tem que manter sigilo por causa de um dogma de fé da igreja católica. Filme indicado no Cannes Film Festival na categoria de Melhor Direção (Alfred Hitchcock).
Pablo Aluísio.
Provavelmente um dos mais bem elaborados filmes do mestre Alfred Hitchcock. Aqui ele coloca vários dogmas da fé católica na berlinda, ao mostrar um padre que não pode romper o segredo da confissão ao mesmo tempo em que tenta provar sua inocência em razão de um crime que nunca cometeu. Outro ponto interessante é a forma como Hitchcock lida com o celibato dos padres. Logan tem um amor em seu passado, quando era apenas um jovem prestes a ir para a guerra, justamente uma mulher casada que mesmo após tantos anos não consegue esquecer. A montagem do quebra-cabeças acaba levando o padre, um homem de grande fibra moral, ao desprezo público. Todos o consideram culpado, apenas pelo fato de ser um homem religioso que se encontrava com um antigo amor. Será que ele não merecia nem ao menos um voto de confiança? Como pode um homem tão bom e íntegro ser desacreditado assim, praticamente da noite para o dia?
O papel do torturado e existencial Padre Logan se mostra ideal para Montgomery Clift. A fragilidade física do ator, aliada a uma grande fibra espiritual, se mostra perfeita para a proposta do enredo. Há uma cena em que Hitchcock faz um paralelo muito perspicaz sobre o verdadeiro calvário que seu personagem passa. Enquanto ele anda a esmo, na rua, em profundo conflito interior por tudo o que passa, surge em primeiro plano, no alto de uma igreja, uma imagem de Cristo e os soldados romanos durante sua penosa caminhada rumo ao calvário. Um efeito até mesmo simples, mas muito significativo do mestre do suspense. A imagem funciona assim como uma materialização de tudo aquilo que o pobre padre passa naquele momento. A vivência mais plena do que é ser cristão de verdade. A acusação infundada, o abandono por parte de seus próprios fiéis, o escárnio público e a condenação sem provas consistentes.
Por falar no diretor, ele é a primeira pessoa que surge em cena, no alto de uma grande escadaria logo na abertura do filme. Hitchcock sempre fazia essas pequenas aparições em suas produções e aqui o momento é mais do que divertido. Por trás da diversão também havia um aspecto sério a se considerar. A impressão que passa é que o cineasta tentava exorcizar mais um de seus conflitos internos com o filme. Como se sabe Hitchcock tinha uma relação de amor e ódio em relação ao catolicismo, algo que aqui ele acaba passando para a tela. Ao mesmo tempo em que martiriza seu personagem principal, o padre, também o enche de muita dignidade e honestidade. O transforma em um santo perseguido. Uma cristalina imagem do que ele próprio sentia em relação à Igreja de Roma. Assim fica a recomendação desse grande trabalho do genial diretor. Fé, conflito espiritual, tentação, injustiça, mentira e hipocrisia formam o núcleo de uma trama simplesmente brilhante. Assista e entenda porque Hitchcock foi um dos maiores gênios da história do cinema.
A Tortura do Silêncio (I Confess, Estados Unidos, 1953) Estúdio: Warner Bros / Direção: Alfred Hitchcock / Roteiro: George Tabori, William Archibald / Elenco: Montgomery Clift, Anne Baxter, Karl Malden / Sinopse: Jovem padre passa a ser o principal suspeito de um crime de assassinato. Ele é inocente e sabe quem foi o verdadeiro culpado, mas não pode contar para os policiais pois esse segredo lhe foi passado em confissão, ao qual ele tem que manter sigilo por causa de um dogma de fé da igreja católica. Filme indicado no Cannes Film Festival na categoria de Melhor Direção (Alfred Hitchcock).
Pablo Aluísio.
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