quarta-feira, 3 de julho de 2019
O Imperador de Paris
Não é a primeira vez que fazem um filme sobre François Vidocq. Ele chegou inclusive a ser o protagonista de um filme americano, "Vidocq, Um Escândalo em Paris", de Douglas Sirk em 1946. Obviamente era uma versão bem fantasiosa de sua vida. Nesse novo filme as coisas são mais de acordo com os registros históricos que existem sobre ele. Inclusive o verdadeiro Vidocq viveu em um período muito interessante da história francesa, quando a revolução mandava milhares de pessoas para a guilhotina. Seu auge porém aconteceu quando Napoleão Bonaparte subiu ao poder. Seu título de "Imperador das ruas de Paris", dado por um jornal da época, era praticamente uma sátira à figura de Napoleão. Enquanto esse conquistava nações no exterior, o criminoso François Vidocq era o homem que realmente mandava na capital francesa, com seu modo de agir baseado na violência e na justiça com as próprias mãos. Enfim, um filme realmente muito bom, com ótima reconstituição de época e a brilhante interpretação do ator Vincent Cassel, um dos melhores do atual cinema francês. Se você gosta de cinema europeu não deixe de conferir essa nova versão da vida de um homem que ao seu próprio modo também entrou para a história da França.
O Imperador de Paris (L'Empereur de Paris, França, 2018) Direção: Jean-François Richet / Roteiro: Éric Besnard / Elenco: Vincent Cassel, Olga Kurylenko, Freya Mavor, August Diehl / Sinopse: Baseado em fatos históricos reais o filme conta a história do criminoso procurado François Vidocq (Vincent Cassel). Após ser capturado de novo pela polícia de Paris ele faz um trato informal com o chefe de polícia da cidade. Ele ajudará a eliminar os principais criminosos em troca de um indulto por seus crimes no passado. E tudo se passa durante o período imperial com Napoleão Bonaparte no poder. Filme indicado ao César Awards nas categorias de melhor figurino (Pierre-Yves Gayraud) e melhor design de produção (Emile Ghigo).
Pablo Aluísio.
Gauguin: Viagem ao Taiti
E uma vez no Taiti, Gauguin cairia na real. As pessoas de lá não viviam sem dinheiro e nem aquele lugar era o paraíso que ele imaginou. Logo precisou vender seus quadros e esculturas nas feiras locais, completamente miserável, sem dinheiro nenhum para sobreviver. Para piorar ainda teve mais filhos com uma nativa chamada Tehura. Mais filhos, mais bocas para alimentar, mais miséria. Era uma repetição do que ele havia passado em Paris. Para ganhar dinheiro então começa a trabalhar como estivador no porto da região, tudo para alimentar a esposa e as crianças. O filme, obviamente, não conta uma história com final feliz. Gauguin tinha uma visão romântica e idealista da vida e pagou para ver. Claro que em um mundo como o nosso o preço foi alto, porém a despeito de tudo isso ele foi um artista que viveu em seus próprios termos, que viveu como bem quis. Nesse ponto temos realmente uma história de coragem e luta pelo direito de existir como um artista. O filme é, como já escrevi, belíssimo. Além de contar uma história edificante, ainda traz uma interpretação inspirada do sempre competente ator Vincent Cassel. Sua transformação física e psicológica como Paul Gauguin realmente impressiona o espectador.
Gauguin: Viagem ao Taiti (Gauguin - Voyage de Tahiti, França, 2017) Direção: Edouard Deluc / Roteiro: Edouard Deluc, Etienne Comar / Elenco: Vincent Cassel, Tuheï Adams, Malik Zi / Sinopse: O filme conta a história real do pintor Paul Gauguin (Vincent Cassel). Em determinado momento de sua vida ele decidiu que queria deixar Paris e o mundo civilizado para trás, para viver uma vida simples de artista, onde o dinheiro não teria mais importância. Assim viaja ao distante Taiti, onde logo suas esperanças se tornam pesadelo.
Pablo Aluísio.
terça-feira, 2 de julho de 2019
Os Demônios de São Petersburgo
Esse filme me deixou intrigado porque apesar de não ser uma excelente obra cinematográfica mantém o interesse. Todo filmado na Rússia, a fotografia ficou muito bonita, principalmente porque captou todo o gelo e a neve da natureza, um clima da frio eterno do qual só conseguimos ver o alto dos prédios e das igrejas ortodoxas. Tudo o mais fica envolto no meio de toda aquela neblina congelante. A direção não é grande coisa, nem a edição, mas o elenco é muito bom, em especial o ator sérvio Predrag 'Miki' Manojlovic. Ele interpreta o velho escritor marcado pelos anos vividos. Com longa barba e semblante pensativo, ele convence plenamente em seu papel. Enfim, o filme, apesar de alguns erros pontuais, não deixa de ser uma boa oportunidade para conhecermos a atual produção italiana de cinema.
Os Demônios de São Petersburgo (I demoni di San Pietroburgo, Itália, 2008) Direção: Giuliano Montaldo / Roteiro: Andrey Konchalovskiy, Giuliano Montaldo / Elenco: Predrag 'Miki' Manojlovic, Carolina Crescentini, Roberto Herlitzka / Sinopse: Durante o império russo, dos tempos dos czares, o famoso escritor Fyodor Dostoyevsky acaba se envolvendo com um grupo de jovens socialistas que desejam a revolução comunista em seu país. Ele tenta aconselhar os rebeldes a não usarem da violência em seus objetivos, mas acaba tendo que se contentar em ver tudo o que lhe aconteceu no passado, acontecendo de novo na vida de todos aqueles jovens idealistas de esquerda.
Pablo Aluísio.
Casamento Grego
Título Original: My Big Fat Greek Wedding
Ano de Produção: 2002
País: Estados Unidos, Canadá
Estúdio: Gold Circle Films, Home Box Office (HBO)
Direção: Joel Zwick
Roteiro: Nia Vardalos
Elenco: Nia Vardalos, John Corbett, Michael Constantine, Christina Eleusiniotis, Kaylee Vieira, John Kalangis
Sinopse:
O filme conta a história da solteirona Toula (Nia Vardalos). Com mais de 30 anos ainda não encontrou o homem certo para se casar. Até que um dia encontra o seu príncipe encantado. Em pouco tempo decide se casar com ele, que para surpresa de sua família, não é grego!
Comentários:
O nome original desse filme poderia ser traduzido como "O Meu grande e exagerado casamento grego" e isso resume bem seu roteiro. O filme é bem isso aí. Na realidade é um filme que começou pequeno, sem nenhuma pretensão, mas que aos poucos foi ganhando a simpatia do público e da crítica. Chegou inclusive a ser indicado ao Oscar na categoria de melhor roteiro original que foi escrito pela própria atriz Nia Vardalos. Com trilha sonora cheia de músicas do grupo ABBA (o suprassumo para casamentos bregas) o filme se mantém pelo bom humor e por uma certa melancolia disfarçada que vai passando sobre a vida da protagonista. Porém o mais curioso de tudo é saber que esse filme acabou dando origem a um boom de filmes sobre casamentos. A maioria dessas "imitações" eram comédias românticas ruins de doer. De qualquer maneira, por ter sido uma espécie de pioneiro nesse subgênero irritante, vale a pena conferir para saber onde tudo começou. Teve uma continuação em 2016, mas essa sequência não tive vontade nenhuma de conferir.
Pablo Aluísio.
segunda-feira, 1 de julho de 2019
Sobibor
O elenco é todo formado por jovens atores, muitos desconhecidos, mas competentes em seu ofício. O único rosto mais conhecido é a do veterano Christopher Lambert. Ele interrpeta um oficial do campo, um sujeito com doses de psicopatia que o torna temido até pelos outros nazistas. Em uma das cenas ele surta e confessa que no passado havia se apaixonado por uma judia, mas que fora impedido pelo pai de casar com ela, se tornando essa bagunça psicológica que ele se tornou. Pior para os judeus do campo pois ele além de violento também era extremamente desequilibrado, muitas vezes matando a esmo, fazendo dos pobres prisioneiros apenas alvos ambulantes. Enfim, gostei dessa nova versão e a recomendo, principalmente para as novas gerações. A história existe para se aprender com o passado, para que coisas como o nazismo não mais se repitam em nosso mundo.
Sobibor (Alemanha, Rússica, Polônia, 2018) Direção: Konstantin Khabenskiy / Roteiro: Michael Edelstein, Anna Tchernakova / Elenco: Konstantin Khabenskiy, Christopher Lambert, Mariya Kozhevnikova, Michalina Olszanska / Sinopse: O filme mostra o campo de concentração de Sobibor, semanas antes da maior fuga em massa de prisioneiros da II Guerra Mundial. História baseada em fatos reais.
Pablo Aluísio.
A Maldição da Chorona
O alvo dela agora é uma assistente social. O enredo desse filme se passa na década de 1970. Essa personagem central atende uma senhora que tranca os filhos em um pequeno cubículo de sua casa. Ela alega que se não fizer isso a Chorona vai pegar seus dois filhos. Então a senhora obviamente perde a guarda das crianças que pouco depois são afogadas em um rio próximo. Pior do que isso, a tal maldição acaba passando para essa assistente social que também tem dois filhos. E assim a trama desse filme se desenvolve com muitos sustos (todos provocados usando uma velha fórmula) e um pouquinho de suspense que logo se dissipa quando a presença da Chorona começa a se tornar mais rotineira. Aliás a exploração em demasia dessa vilã estraga mesmo alguns momentos que poderiam ser bem assustadores em certas cenas. Muitas vezes o "não mostrar" se torna mais importante do que mostrar demais. Lição antiga em filmes de terror clássicos que os roteiristas aqui parecem desconhecer.
Esse é o primeiro filme do diretor Michael Chaves a ter uma maior repercussão. Ele inclusive foi escalado para dirigir "Invocação do Mal 3" no próximo ano, até porque esse "A Maldição da Chorona" faz parte da mesma franquia de filmes de terror. O que podemos dizer de seu trabalho? Ele realizou um filme correto, porém comum demais, sem maiores surpresas. Diria que cumpriu o que foi determinado pelo estúdio, sem imprimir qualquer marca autoral na obra. Assim temos um filme apenas regular, que não vai surpreender quem é fã do estilo terror. Ficou bem mediano. Poderiam ter desenvolvido melhor a história dessa entidade espiritual vingadora, mas não foi isso que aconteceu. Ela se tornou apenas uma figura de assustar crianças no escuro, nada mais, tal como a Freira no filme da mesma série. Vamos ver se a franquia melhora nos próximos filmes que estão chegando porque ultimamente tudo tem sido feito de forma muito convencional.
A Maldição da Chorona (The Curse of La Llorona, Estados Unidos, 2019) Direção:Michael Chaves / Roteiro: Mikki Daughtry, Tobias Iaconis / Elenco: Linda Cardellini, Raymond Cruz, Patricia Velasquez / Sinopse: Uma entidade espiritual maléfica do folclore mexicano conhecida como "A Chorona" retorna do inferno para levar embora crianças, tais como seus próprios filhos que ela matou em vida, séculos atrás, dando início a essa maldição.
Pablo Aluísio.
quarta-feira, 26 de junho de 2019
Marlon Brando - Hollywood Boulevard - Parte 11
Na realidade o ator queria mesmo relaxar. Ele tinha atuado em filmes fortes, verdadeiros clássicos e estava de certa forma exausto da repercussão que essas obras tinham provocado. Era impossível para Brando encarar mais uma obra de grande magnitude pela frente. Assim ele optou por algo mais comercial, mas simples, menos estressante. Some-se a isso o fato de Brando ter a chance de atuar ao lado de seu amigo e vizinho Jack Nicholson, um sujeito de quem ele gostava bastante, algo raro dentro da comunidade de cinema em Los Angeles, onde todos pareciam competir ferozmente entre si.
Um fato curioso aconteceu durante as filmagens desse filme. O estúdio começou a atrasar os depósitos dos pagamentos de Brando em sua conta corrente. Isso irritou o ator. Nada parecia menos profissional do que atrasar o cachê de um astro de seu porte. Assim Brando começou a jogar também. Ele de repente começou a esquecer sua falas, atrasando completamente o cronograma de filmagens. Os dias iam passando e nada de Brando acertar suas cenas. O amigo Jack Nicholson logo entendeu as intenções de Marlon e se divertiu muito com o fato. O impasse durou até o produtor Elliott Kastner resolver ir pessoalmente até o trailer do ator. Brando, com aquele seu jeito único, explicou a situação então ao produtor: "Sabe Elliot, talvez se não esquecerem mais de me pagar, eu consiga me lembrar das minhas falas!". Recado dado e entendido, a Paramount nunca mais atrasou os pagamentos de Marlon.
Outra coisa que chamou a atenção foi o fato de Brando novamente resolver improvisar. Ele achava que o roteiro não era grande coisa, por isso começou a criar coisas absurdas para seu personagem. Em seu livro de memórias o ator explicou que seu personagem era um pistoleiro genérico, sem muitos atrativos. Então ele resolveu se vestir de mulher, ter um comportamento excêntrico e fazer coisas impensáveis para um assassino profissional no velho oeste. O diretor Arthur Penn gostou das inovações e assim Brando imprimiu sua marca autoral nesse faroeste que tinha tudo para ser mais uma fita banal do gênero.
Pablo Aluísio.
Marlon Brando - Hollywood Boulevard - Parte 10
As filmagens de "O Último Tango em Paris" foram mais complicadas do que todos poderiam prever. O diretor Bernardo Bertolucci não falava inglês, Marlon Brando não falava italiano e a atriz Maria Schneider era francesa. Por isso não havia como se comunicarem direito. Em seu livro de memórias Brando explica que na maioria das vezes se comunicava através de mímica com o diretor ou então nas poucas palavras em francês que ele dominava. Também não havia um script e o roteiro era completamente aberto.
Toda a liberdade que Brando procurou por anos lhe foi dada. Ele poderia dizer o texto que quisesse, falar o que bem entendesse, sem seguir nenhuma regra. Assim Brando improvisou praticamente em todas as cenas, revivendo antigas lembranças de sua infância, falando dos pais, da mãe alcoólatra, de seus primeiros anos em uma cidade rural do meio oeste americano. Isso acabou virando uma verdadeira terapia para o ator. Sua atuação foi a mais íntima e pessoal de toda a sua carreira. Algo inédito em sua vida profissional.
Isso levou Brando a também ter um esgotamento emocional nas filmagens. Tamanho esforço lhe deixou exausto a tal ponto que depois o próprio Brando acabou renegando o filme. Ele só o assistiu uma única vez, depois nunca mais quis rever a obra. Em seu livro ele chegou a admitir que jamais chegou a entender completamente a proposta de "O Último Tango em Paris" e creditou ao acaso o sucesso de crítica da produção. Resenhas altamente elogiosas, como a da famosa Pauline Kael, eram exageradas, na visão pessoal de Brando.
Recentemente o filme voltou a criar polêmica quando o diretor Bernardo Bertolucci declarou que as cenas de sexo tinham sido reais e sem a prévia autorização da atriz Maria Schneider. Por isso muitos jornalistas chegaram até a acusar Bertolucci e Brando de terem promovido um estupro durante as filmagens. Não era verdade. Em seu livro Brando deixou claro que não houve sexo real nas cenas, que tudo havia sido apenas simulado, encenado. Ele nunca teve relações sexuais com a atriz. Assim a tese de que teria havido um estupro nunca fez o menor sentido. De sua parte Marlon Brando deixou claro que depois desse filme jamais iria se despir emocionalmente como fez. Era doloroso demais, relembrar os traumas do passado e tudo mais. Dali em diante o próprio Brando só aceitaria participar de filmes com scripts devidamente escritos, em roteiros mais tradicionais. A liberdade completa, pelo visto, não lhe fez muito bem.
Pablo Aluísio.
terça-feira, 25 de junho de 2019
Marlon Brando - Hollywood Boulevard - Parte 9
Infelizmente a união passou longe de ser um casamento feliz. Marlon Brando não estava disposto a deixar suas inúmeras amantes. Nunca havia sido fiel em sua vida e não seria agora que as coisas mudariam. As traições viraram rotina. Brando estava sempre dando alguma desculpa para ficar longe de sua casa e se divertia a valer com as muitas mulheres (e dizem, homens) que frequentavam sua cama. Anna Kashfi ficou furiosa com seu comportamento. Mulher de gênio forte jamais iria aceitar esse tipo de humilhação pública (sim, Brando surgia com suas amantes em restaurantes e festas, na frente de todos, sem um pingo de arrependimento). Seu comportamento não iria dar em algo bom e realmente não deu.
Numa noite Brando chegou de madrugada em casa logo após uma noite de farras. Anna Kashfi o estava esperando na cozinha, fora de si, com uma faca na mão. Assim que Marlon entrou no recinto ela tentou lhe esfaquear. A agilidade salvou o ator da morte certa. Ele conseguiu se desviar no último segundo. Com a faca na mão Anna não desistiu e saiu correndo atrás de Brando que correu com toda a velocidade para a piscina. Agora imaginem a cena, o ator mais bem pago de Hollywood dando voltas em sua piscina com sua mulher enfurecida com uma faca na mão decidida a matá-lo! No outro dia empregados de Marlon e Anna abriram a boca e em pouco tempo o escândalo já tinha se tornado público e notório. O que ninguém sabia e nem Marlon é que Anna era bipolar, sofria de problemas mentais e em sua família várias mulheres tinham apresentado esse problema ao longo dos anos.
Depois disso Brando resolveu dar um basta, pediu divórcio e começou uma longa, custosa e penosa briga na justiça pela guarda do filho Christian Brando (anos depois seu filho seria condenado pela morte do marido da própria irmã e condenado, cumpriria uma longa pena de prisão por assassinato em primeiro grau). As custas judiciais pelo divórcio e pela guarda definitiva e exclusiva de seu único filho custaram muito a Brando. Ele gastou milhões com advogados e teve que conviver com o assédio implacável da imprensa. Para piorar a carreira começou a ir mal, a má publicidade nos jornais influenciou o público que deixou de ir conferir seus últimos filmes. De repente Brando via sua vida profissional e sentimental em frangalhos. Muito bem humorado o ator dizia que nada disso importava, o que mais lhe preocupava era o fato de estar ficando rapidamente careca! Pelo visto Brando jamais perdeu uma das coisas mais importantes de sua personalidade, o bom humor!
Pablo Aluísio.
Marlon Brando - Hollywood Boulevard - Parte 8
Em sua autobiografia Brando deu sua opinião sobre as duas atrizes. Para ele Jessica Tandy nunca se mostrou adequada para interpretar Blanche. Brando relembra que nas apresentações da peça ela adotava uma maneira muito caricata de dar vida ao confuso mundo interior de Blanche. Isso criava até mesmo um humor involuntário que era péssimo para a montagem. Já Vivien Leigh se mostrava muito mais sutil, elegante até! Brando foi além e afirmou que em certos aspectos Vivien Leigh era Blanche, pois tinha uma vida tão complexa e confusa do ponto de vista mental e emocional quanto à sua personagem que interpretava nas telas.
Outro aspecto interessante confessado pelo ator em seu livro foi o fato de reconhecer que muitas vezes ficava entediado com as várias apresentações de teatro. Obviamente nem sempre seu personagem estava em cena e quando isso acontecia Brando ficava nos bastidores tentando matar o tempo. Como estava muito preocupado em sua forma física ficava o tempo todo levantando peso até a hora de entrar no palco novamente. Certo dia resolveu fazer algo diferente e começou a treinar boxe. Má ideia. Em pouco tempo Brando havia sido colocado à nocaute por um funcionário do teatro, um negão de quase dois metros de altura. O pior é que tudo aquilo aconteceu bem no meio da apresentação da peça!
Como o show não podia parar, Brando resolveu entrar no palco mesmo assim, ferido. Com a camisa encharcada de sangue ele entrou na sua deixa e assustou Jessica Tandy que estava no palco! Curiosamente quem acabou não notando nada de diferente foi o próprio público que pensou estar vendo todo aquele sangue como parte da cena. Depois de terminar suas falas Brando se retirou e foi direto para o hospital onde os médicos diagnosticaram a quebra de seu nariz em vários pontos. Esse incidente convenceu Brando que o teatro já não era mais sua praia. Ele queria mesmo era ir para Hollywood onde os cachês eram enormes e o trabalho bem mais leve. Assim logo após ter alta o ator fez sua malas, pediu demissão, fechou seu apartamento em Nova Iorque e foi embora para Los Angeles. Uma nova carreira estava começando para ele! Hollywood era o caminho.
Pablo Aluísio.