Esse álbum foi lançado bem no auge da Beatlemania. Para as fãs que gritavam pelo grupo nos shows foi um deleite ter à disposição 13 novas canções inéditas, todas elas escritas pela dupla Lennon e McCartney. De fato foi um dos álbuns mais vendidos dos Beatles, até porque as vendas foram impulsionadas pelo sucesso do filme. O público via os Beatles nas telas de cinema e depois comprava essa trilha sonora nas lojas de discos. Era a dobradinha comercial perfeita na visão do empresário Brian Epstein e da gravadora EMI.
E o disco vinha mesmo cheio de novidades interessantes, músicas que iam do mais puro rock, passando pelo pop, indo parar no lado mais romântico da banda. Na coleção de belas baladas nenhuma se comparava a "If I Fell", um dos grandes sucessos do álbum. Essa foi uma composição conjunta entre John e Paul. Essa balada ganhou bastante destaque no filme, em uma boa cena, bem elaborada pelo diretor Richard Lester. O cineasta quis trazer algo de casual, como se os Beatles ainda estivessem se preparando para a apresentação, numa espécie de ensaio, onde John ao violão dava os primeiros acordes enquanto Ringo ainda motava sua bateria. Funcionou, embora os Beatles não fossem atores profissionais conseguiram fazer a cena sem problemas, sem doses excessivas de canastrice.
Outra música escrita por Paul que fez muito sucesso foi "Can't Buy Me Love". Na edição original ela vinha como a última faixa do Lado A do disco, por isso não se esperava muito dela em termos de sucesso nas rádios. Só que nos Estados Unidos ela foi escolhida praticamente como o carro-chefe do disco, se tornando um dos grandes hits dos Beatles na terra do Tio Sam. Os executivos da Capitol (a gravadora americana que lançava os discos dos Beatles na América) tinham uma visão mais apurada de seu mercado do que os ingleses. John Lennon chegou a colaborar em sua criação, porém em pequenas doses, conforme ele mesmo diria anos depois numa entrevista. Para Paul foi gratificante ver seu sucesso no outro lado do Atlântico. Era a prova de que ele sabia fazer, mesmo sem querer, grandes sucessos, aquelas músicas que não cansavam de tocar nas rádios. Um hit perfeito.
E mostrando que Paul realmente dominou em termos de composições para esse álbum, vale destacar outra bela canção romântica chamada "And I Love Her". Era uma criação de Paul McCartney, o eterno romântico dos Beatles. A bonita letra foi escrita para Jane Asher, a namorada de Paul, a garota ruiva que todos pensavam iria se tornar sua esposa em poucos anos. É incrível que seu relacionamento com Jane, que serviu de inspiração para tantas músicas românticas dos Beatles, não tenha se transformado em casamento. Em algum momento a coisa desandou entre o casal, para decepção de muita gente que vivia ao lado deles naquela época. O próprio John Lennon (que já era casado) tinha certeza que isso iria acontecer. Outra composição que Paul McCartney fez praticamente sozinho, levando ela praticamente pronta para os estúdios de Abbey Road em Londres. Essa rotina de Paul levar novas músicas de amor já compostas integralmente levou John Lennon anos depois a pensar sobre esse período, essa fase dos Beatles. Ele disse: "Parecia que Paul sempre surgia como o Beatle romântico, com alma de veludo e que eu só tinha rocks vibrantes para apresentar ao grupo. Era alto natural que acontecia. Eu tinha que fazer um contrabalanço a Paul. Já que ele compunha muitas canções românticas eu tinha que cuidar do lado mais roqueiro dos discos. Por isso fiquei com essa imagem nos primeiros LPs dos Beatles".
Os Beatles gravaram esse álbum no meio de uma correria sem fim. Eles tinham turnês para fazer, cenas para filmar e além de tudo encontrar tempo para gravar as canções do disco que futuramente seria a trilha sonora original. E mais curioso de tudo é que todas as músicas seriam compostas pela dupla Lennon e McCartney. Mesmo que ainda fossem jovens eles já sabiam do valor de seu trabalho musical e por isso determinaram que não haveria músicas de outros nesse álbum.
E no meio de toda essa agitação eles ainda tinham fôlego para compor belas baladas como "I Should Have Known Better". Essa música seria usada como faixa 2 do lado A do disco original britânico, ou seja, os Beatles colocavam fé na música. Acertaram bem no alvo pois a música se tornou um hit, um sucesso instantâneo do grupo assim que chegou nas rádios inglesas e americanas. O tema era de arrependimento, porém obviamente numa levada mais juvenil, adolescente, afinal esse era o público dos Beatles na época. Jovens não pensam muito bem em seus atos, são impulsivos, mas era melhor pensar um pouco melhor antes de fazer alguma bobagem. Esse era o tema da música.
Embora George Harrison não tenha composto nenhuma música para esse disco, John Lennon o escalou para cantar a bucólica "I'm Happy Just to Dance with You". Tema simples, bem romântico, ideal para bailinhos, onde o sujeito apaixonado ficava feliz apenas por dançar com a garota que amava. A voz de George e sua conhecida timidez que lhe valeu o apelido de "O Beatle quieto" combinou bem com a letra e a melodia. Os Beatles porém pouco trabalharam em cima dessa canção, se tornando apenas um bom complemento para o disco de uma forma em geral.
E fechando o lado A do disco original britânico surgia a boa faixa "Tell Me Why" onde o destaque vinha dos vocais dos Beatles. Todo mundo cantando junto em Abbey Road. Imagine um casal de adolescentes em crise. Ele quer saber porque o relacionamento vai tão ruim, por que ela o trata tão mal. Afinal o que ele fez? Um tema ideal para as fãs que gritavam pelos Beatles na época, ou melhor dizendo, para os fãs, uma vez que a letra vinha em primeira pessoa, de um namorado perplexo pelo que vinha acontecendo nos últimos dias. Pelo visto o pobre coitado acabou mesmo sem respostas...
Esse álbum dos Beatles levou muito tempo para ficar pronto. Eles levaram praticamente seis meses para completar o disco. Não que os Beatles tivessem ficado todo esse tempo dentro do estúdio gravando as canções. Pelo contrário. Eles tiveram que cumprir tantos compromissos que ficou complicado para eles terminarem o álbum. Só para se ter uma ideia eles tiveram que interromper as gravações para sua primeira turnê americana, a mesma que deu origem à Beatlemania nos Estados Unidos e no mundo.
E a correria foi tão grande que quando as filmagens de seu primeiro filme terminaram eles não tinham sequer gravado a música título do disco, a canção "A Hard Day's Night". Por essa razão não existe nenhum cena no filme mostrando os Beatles tocando essa música. Eles simplesmente não tinham gravado a faixa durante as filmagens. Só depois de pronta é que os editores a colocaram no filme, mas apenas nos créditos iniciais. Uma loucura incrível. E como todos sabemos a música também foi composta meio às pressas, em quartos de hotel das turnês. Quem deu a dica foi Ringo, exausto de tantos compromissos. Ele apenas fez um trocadilho espirituoso em cima da maneira de falar e pensar de John Lennon. Deu certo.
"You Can't Do That" também foi gravada na pressa. A EMI queria lançar um single o mais rapidamente possível. Já que o disco não conseguia ficar pronto era necessário colocar alguma coisa nova no mercado para faturar em cima da imensa popularidade dos Beatles. Assim eles se reuniram de forma urgente dentro da EMI e gravaram essa música que seria colocada como Lado B de "Can't Buy Me Love". Como se pode perceber a pressão em cima do grupo era grande, principalmente por parte da gravadora. Eles tinham que compor e gravar em ritmo quase industrial. Manter o pique para tantas solicitações de material era complicado.
Quando chegou em junho de 1964 o filme estava praticamente pronto, mas o disco ainda não. Os Beatles precisavam gravar ainda cinco ou seis faixas para o lado B do disco. John e Paul tinham decidido não colocar nenhum cover no álbum, mas apenas composições próprias. Então eles correram para criar um lado inteiro para o que seria a trilha sonora do filme. "Things We Said Today" foi composta dentro dos estúdios da BBC, onde os Beatles tinham seu próprio programa musical, onde tocavam e conversavam com os ouvintes e o DJ. Enquanto estavam esperando sua vez de entrar, eles apressadamente fizeram a música. Depois foi uma questão de tempo para finalizá-la em Abbey Road, poucos dias depois.
Um aspecto curioso desse disco dos Beatles é que no Brasil resolveram fazer algumas modificações na capa do LP. Nos Estados Unidos e Europa a trilha sonora chegou com aquela direção de arte que todos conhecemos, com várias fotos dos Beatles, com expressões diferentes e ao fundo uma bela tonalidade de azul. No Brasil o fundo foi mudado para vermelho, seguindo a mesma cor de um EP (compacto duplo) que foi lançado na Inglaterra. Por que razão mudaram a cor? E por qual razão continuaram a insistir no disco vermelho, até mesmo nas versões reeditadas, como a dos anos 80? Complicado de entender.
Já a seleção de faixas foi mantida, pelo menos isso. Até porque não havia como ser diferente já que o disco era lançado no mercado como a trilha sonora oficial do filme "Os Reis do Ié, Ié, Ié". Aliás, devo dizer, esse título nacional nunca me desceu pela garganta. É muito ruim, muito tosco. Melhor seria ou manter o nome original em inglês mesmo, ou então algo mais criativo, que não fosse tão ruim, não é mesmo? Infelizmente os distribuidores de cinema e as representantes das companhias cinematográficas no Brasil tinham tradição em criar títulos nacionais medonhos de ruim. Os Beatles foram apenas mais uma de suas vítimas.
Pois bem, o Lado B do disco "A Hard Day's Night" trazia uma boa coleção de composições de Lennon e McCartney. Essas canções não faziam parte do filme, para falar a verdade. Foram gravadas apenas para completar o disco, encher o LP original. Não foram usadas no filme e tampouco ganharam os palcos depois. Apesar de belas faixas os próprios Beatles apenas a gravaram em estúdio e depois meio que se esqueceram delas. Uma pena, pois como já escrevi, são boas criações de John e Paul. Mereciam melhor sorte.
Veja o caso de "Any Time at All" que abria o Lado B do vinil original. Sempre considerei uma faixa forte, com um marcação de ritmo bem singular e característica. Poderia ser até mesmo lançada como single que não faria feio para os Beatles na época. Um aspecto curioso dessa letra é que ela pode ser interpretada tanto do ponto de vista romântico, como uma letra que fala de um casal, em que um namorado diz para sua garota que ela pode lhe ligar a qualquer hora caso precisasse de apoio, que ele estará a disposição, como também sob um ponto de vista de pura amizade. Um amigo que precisa do outro para que esse lhe dê uma força. Quem escreveu essa letra? Penso que pelo otimismo em suas palavras pode ter sido Paul McCartney. Afinal não vejo o estilo ácido de John nessa mensagem poética.
Por fim, para finalizar essa análise da trilha sonora do filme "A Hard Day's Night" cabe tecer alguns comentários sobre duas canções do lado B do disco de vinil original. "I'll Cry Instead" tem um arranjo muito bom, um pouco puxado para o country norte-americano. Não sei como não deram essa para o Ringo Starr cantar. O vocal principal ficou com John Lennon e alguns instrumentos extras foram adicionados à gravação. Os Beatles praticamente nunca usaram essa canção em seus shows, demonstrando que era uma música gravada especialmente para completar o LP com a trilha sonora do filme, embora essa faixa também não tenham sido aproveitada em nenhuma cena da produção cinematográfica.
Embora a letra e a música tenham sido assinados por Lennon e McCartney, acredito que grande parte da letra tenha sido escrita exclusivamente por John Lennon. Há um toque de "vingança" daquele que é abandonado e que diz claramente que vai se vingar em outras garotas, decidido a destruir os sentimentos delas, como o seu próprio sentimento foi destruído, que sempre me soou muito Lennon. Que coisa não? Penso que algo tão mordaz assim só poderia ter sido escrito por John Lennon que tinha mesmo esse lado mais ácido.
"I'll Be Back" era a última música do disco original, lá no finalzinho do lado B do vinil. Novamente um belo arranjo, o que demonstra um capricho maior da banda em seu execução. Aqui George Harrison foi ao violão para executar seus famosos solos, todos bem pontuais, bem colocados dentro da música. O vocal principal novamente ficou com John Lennon, mas também com bastante ênfase em coro ao lado de Paul McCartney por toda a faixa. Ficou bonito, sem dúvida.
Essa é uma letra do namorado persistente. Ele diz claramente que mesmo que o romance chegue ao fim, ele retornará. Rapaz insistente esse, vou te contar. É o apaixonado resistente, que está disposto a fincar o pé e tentar de todas as formas segurar um caso amoroso. Tem cara de Paul McCartney, o eterno romântico dos Beatles. Embora não concorde em nada com a letra, pois acredito que quando um caso chega ao fim, não se deve insistir, a letra é adequada para os namoros adolescentes da época. Só não precisa forçar ao limite essa situação, vamos ser sinceros. Nem sempre é o ideal voltar, forçar uma barra. Muitas vezes o fim é o melhor caminho mesmo. Coisas da vida.
Pablo Aluísio.
quarta-feira, 16 de dezembro de 2015
terça-feira, 15 de dezembro de 2015
The Beatles - Magical Mystery Tour
Título no Brasil: Magical Mystery Tour
Título Original: Magical Mystery Tour
Ano de Produção: 1967
País: Inglaterra
Estúdio: Apple Studios.
Direção: Bernard Knowles
Roteiro: Paul McCartney, George Harrison, John Lennon
Elenco: John Lennon, Paul McCartney, Ringo Starr, George Harrison
Sinopse:
Um grupo de pessoas dos mais variados tipos compra uma passagem para participar de uma viagem mágica e misteriosa em um ônibus. No caminho encontram todos os tipos de situações fora do comum, como uma competição de velocidade, um teatro de atrações bizarras, uma corrida de anões e um show de cantores canastrões ao lado de garotas de strip-tease, tudo embalado com o som dos Beatles e sua música psicodélica.
Comentários:
Especial produzido pelos Beatles para a TV britânica em 1967. Antes de mais nada é importante avisar a quem for assistir que não adianta procurar muito sentido no roteiro. A linguagem é de psicodelismo, com várias sequências sem lógica. De certa forma pode-se até lembrar das comédias do grupo Monty Python mas isso seria simplificar demais. Na verdade a ideia partiu de Paul McCartney que se inspirou em um programa que era muito popular entre moradores pobres de Liverpool. Eles alugavam um ônibus e iam ida e volta até a cidade vizinha de Blackpool. Com que finalidade? Nenhuma. Tudo não passava de um pretexto para que todos enchessem a cara durante a viagem que por si só também não tinha muito sentido. Partindo disso Paul pensou em algo mágico, fantástico, uma viagem realmente psicodélica. Funcionou? Apenas em termos. Há gags engraçadas como a de Lennon vestido de garçom servindo toneladas de comida numa pá para uma mulher gorda mas mesmo essas cenas não são hilariantes, são apenas divertidas e curiosas. No geral tudo soa muito disperso, sem rumo, mostrando que no final das contas a única coisa que presta realmente é a música dos Beatles, essa de fato especial e mágica. Destaco "I Am The Walrus" um dos sons mais alucinados escritos por John Lennon e "The Fool on The Hill", bela balada composta por Paul. Ringo interpreta um sujeito que viaja com sua tia gorda e tem problemas com ela enquanto essa flerta com um senhor idoso que pensa ser uma ave de rapina (Não disse que nada faz sentido?). O único que não parece participar ou ter qualquer entusiasmo com tudo ao redor é George Harrison que apresenta uma canção solo e nada mais. Em resumo "Magical Mystery Tour" é isso, um pequeno tropeço maluco na gloriosa carreira dos Beatles.
Pablo Aluísio.
Título Original: Magical Mystery Tour
Ano de Produção: 1967
País: Inglaterra
Estúdio: Apple Studios.
Direção: Bernard Knowles
Roteiro: Paul McCartney, George Harrison, John Lennon
Elenco: John Lennon, Paul McCartney, Ringo Starr, George Harrison
Sinopse:
Um grupo de pessoas dos mais variados tipos compra uma passagem para participar de uma viagem mágica e misteriosa em um ônibus. No caminho encontram todos os tipos de situações fora do comum, como uma competição de velocidade, um teatro de atrações bizarras, uma corrida de anões e um show de cantores canastrões ao lado de garotas de strip-tease, tudo embalado com o som dos Beatles e sua música psicodélica.
Comentários:
Especial produzido pelos Beatles para a TV britânica em 1967. Antes de mais nada é importante avisar a quem for assistir que não adianta procurar muito sentido no roteiro. A linguagem é de psicodelismo, com várias sequências sem lógica. De certa forma pode-se até lembrar das comédias do grupo Monty Python mas isso seria simplificar demais. Na verdade a ideia partiu de Paul McCartney que se inspirou em um programa que era muito popular entre moradores pobres de Liverpool. Eles alugavam um ônibus e iam ida e volta até a cidade vizinha de Blackpool. Com que finalidade? Nenhuma. Tudo não passava de um pretexto para que todos enchessem a cara durante a viagem que por si só também não tinha muito sentido. Partindo disso Paul pensou em algo mágico, fantástico, uma viagem realmente psicodélica. Funcionou? Apenas em termos. Há gags engraçadas como a de Lennon vestido de garçom servindo toneladas de comida numa pá para uma mulher gorda mas mesmo essas cenas não são hilariantes, são apenas divertidas e curiosas. No geral tudo soa muito disperso, sem rumo, mostrando que no final das contas a única coisa que presta realmente é a música dos Beatles, essa de fato especial e mágica. Destaco "I Am The Walrus" um dos sons mais alucinados escritos por John Lennon e "The Fool on The Hill", bela balada composta por Paul. Ringo interpreta um sujeito que viaja com sua tia gorda e tem problemas com ela enquanto essa flerta com um senhor idoso que pensa ser uma ave de rapina (Não disse que nada faz sentido?). O único que não parece participar ou ter qualquer entusiasmo com tudo ao redor é George Harrison que apresenta uma canção solo e nada mais. Em resumo "Magical Mystery Tour" é isso, um pequeno tropeço maluco na gloriosa carreira dos Beatles.
Pablo Aluísio.
The Beatles - This Boy
Artista: The Beatles
Música: This Boy
Compositores: Lennon / McCartney
Álbum: Past Masters
Selo: Emi Odeon
Ano de Lançamento: 1963
Produção: George Martin
Comentários:
Linda balada romântica escrita por John Lennon, embora tenha sido creditada, como sempre, para a dupla Lennon e McCartney. Durante anos John Lennon sustentou que teria sido responsável pelos rocks dos Beatles, enquanto Paul escrevia as músicas românticas. Pois bem, faixas como essa provavam que John também era um grande letrista e compositor de belas baladas de puro romance e sentimento.
Curiosamente a faixa nunca chegou a ser lançada em um álbum oficial dos Beatles (só muitos anos depois foi colocada na coletânea Past Masters). A razão é que na época dos Beatles ela foi lançada juntamente com o hit "I Want to Hold Your Hand" em compacto simples. Como vendeu milhões de cópias a gravadora nunca mais chegou a utilizá-la novamente. Não importa, essa canção é certamente uma das melhores no estilo baladas românticas que os Beatles lançaram em sua discografia.
Pablo Aluísio.
Música: This Boy
Compositores: Lennon / McCartney
Álbum: Past Masters
Selo: Emi Odeon
Ano de Lançamento: 1963
Produção: George Martin
Comentários:
Linda balada romântica escrita por John Lennon, embora tenha sido creditada, como sempre, para a dupla Lennon e McCartney. Durante anos John Lennon sustentou que teria sido responsável pelos rocks dos Beatles, enquanto Paul escrevia as músicas românticas. Pois bem, faixas como essa provavam que John também era um grande letrista e compositor de belas baladas de puro romance e sentimento.
Curiosamente a faixa nunca chegou a ser lançada em um álbum oficial dos Beatles (só muitos anos depois foi colocada na coletânea Past Masters). A razão é que na época dos Beatles ela foi lançada juntamente com o hit "I Want to Hold Your Hand" em compacto simples. Como vendeu milhões de cópias a gravadora nunca mais chegou a utilizá-la novamente. Não importa, essa canção é certamente uma das melhores no estilo baladas românticas que os Beatles lançaram em sua discografia.
Pablo Aluísio.
segunda-feira, 14 de dezembro de 2015
The Beatles - Hey Jude / Revolution
Esse foi provavelmente o maior single da carreira dos Beatles. Eles tinham acabado de criar seu próprio selo, a Apple, e estavam empolgados de ter uma empresa que seguisse a filosofia do grupo. A música título do single havia sido composta por Paul. A letra era obviamente inspirada em Julian Lennon que ficara para trás após John abandonar sua primeira esposa para viver ao lado da japonesa Yoko Ono. A parte final da canção também lembrava os mantras indianos que os Beatles tinham tido contato quando estavam na ìndia estudando meditação (por isso a repetição tipicamente budista na parte em que se repete na, na, na...). Melodia maravilhosa, aliado a um arranjo inspirado tornaram "Hey Jude" um clássico eterno dos Beatles. Curiosamente durante a promoção do single Paul mandou que o nome da canção fosse pintado nas janelas da Apple.
O problema é que o nome "Hey Jude" pintado em janelas de vidro logo despertou a atenção da comunidade de judeus de Londres que achou aquilo tudo muito parecido com o que os nazistas faziam nas lojas comercias de judeus deportados para campos de concentração. Os nazistas pintavam a palavra Judeu nos vidros dessas lojas fechadas. Além disso a palavra "Jude" parecida propositalmente ofensiva. Paul McCartney ficou chocado com o mal entendido, mandou apagar as frases promocionais e pediu desculpas publicamente aos judeus londrinos. Obviamente aquilo nunca havia sido sua intenção mas de uma forma ou outra os judeus ficaram ofendidos.
Já o lado B com "Revolution" era puro John Lennon. Durante anos o empresário dos Beatles, Brian Epstein, havia proibido o grupo de se manifestar politicamente sobre qualquer coisa. Para Brian isso poderia desgastar a imagem dos Beatles. Com sua morte o quarteto ficou livre para dizer o que bem entendesse. Harrison foi o primeiro a falar mal do sistema tributário inglês em "Taxman". Lennon em particular estava ansioso em lançar alguma canção com teor político e foi justamente com "Revolution" que ele finalmente desabafou. A música acabaria se tornando um preview do que viria a acontecer com John nos anos seguintes pois ele adotaria uma atitude ativista, panfletária e desafiadora que futuramente lhe causaria muitos problemas políticos (principalmente em relação ao presidente Nixon).
Anos depois em entrevistas Lennon confidenciaria que "Revolution" tinha sido de fato muito mal gravada. Para John os Beatles trabalhavam por dias em cima das criações de Paul mas quando chegava a hora de gravar as suas músicas um clima de preguiça e má vontade imperava dentro da banda. Para John isso era fruto das próprias atitudes de McCartney que queria tomar o controle do conjunto, tanto do ponto de vista administrativo como artistico. Verdade ou paranoia de John? Nunca saberemos ao certo. O que sabemos com certeza é que tanto "Hey Jude" como "Revolution" são obras primas imortais da história do rock mundial.
Pablo Aluísio.
O problema é que o nome "Hey Jude" pintado em janelas de vidro logo despertou a atenção da comunidade de judeus de Londres que achou aquilo tudo muito parecido com o que os nazistas faziam nas lojas comercias de judeus deportados para campos de concentração. Os nazistas pintavam a palavra Judeu nos vidros dessas lojas fechadas. Além disso a palavra "Jude" parecida propositalmente ofensiva. Paul McCartney ficou chocado com o mal entendido, mandou apagar as frases promocionais e pediu desculpas publicamente aos judeus londrinos. Obviamente aquilo nunca havia sido sua intenção mas de uma forma ou outra os judeus ficaram ofendidos.
Já o lado B com "Revolution" era puro John Lennon. Durante anos o empresário dos Beatles, Brian Epstein, havia proibido o grupo de se manifestar politicamente sobre qualquer coisa. Para Brian isso poderia desgastar a imagem dos Beatles. Com sua morte o quarteto ficou livre para dizer o que bem entendesse. Harrison foi o primeiro a falar mal do sistema tributário inglês em "Taxman". Lennon em particular estava ansioso em lançar alguma canção com teor político e foi justamente com "Revolution" que ele finalmente desabafou. A música acabaria se tornando um preview do que viria a acontecer com John nos anos seguintes pois ele adotaria uma atitude ativista, panfletária e desafiadora que futuramente lhe causaria muitos problemas políticos (principalmente em relação ao presidente Nixon).
Anos depois em entrevistas Lennon confidenciaria que "Revolution" tinha sido de fato muito mal gravada. Para John os Beatles trabalhavam por dias em cima das criações de Paul mas quando chegava a hora de gravar as suas músicas um clima de preguiça e má vontade imperava dentro da banda. Para John isso era fruto das próprias atitudes de McCartney que queria tomar o controle do conjunto, tanto do ponto de vista administrativo como artistico. Verdade ou paranoia de John? Nunca saberemos ao certo. O que sabemos com certeza é que tanto "Hey Jude" como "Revolution" são obras primas imortais da história do rock mundial.
Pablo Aluísio.
The Beatles - Eleanor Rigby / Yellow Submarine
Ótimo single dos Beatles lançado em agosto de 1966. As duas músicas fizeram parte dos trabalhos do álbum Revolver. Como se sabe esse disco foi bastante revolucionário na sonoridade do grupo inglês pois eles procuravam romper com as amarras da música comercial jovem. De repente os Beatles procuraram por novos caminhos, com canções mais trabalhadas, arranjos complexos e letras com temas mais significativos e importantes. "Eleanor Rigby" é um exemplo disso. Paul McCartney e George Martin escreveram um lindo arranjo de cordas para a música. Não parecia em nada com uma faixa de um grupo de rock.
Era uma clara ruptura e das mais talentosas. A letra também fugia do velho estigma do "Ela ama você" e abraçava um tema mais soturno, triste até, mostrando o fim da vida das pessoas mais solitárias. Na verdade em "Eleanor Rigby" Paul narra o enterro da personagem que dá nome à música. Em seu último adeus ninguém apareceu - afirmava o talentoso Beatle. O curioso é que por muitos anos Paul afirmou que Eleanor jamais existiu, que era uma personagem puramente ficcional. Há alguns anos porém o túmulo de uma Eleanor Rigby foi encontrada em um cemitério inglês, trazendo de volta a velha polêmica se tudo era algo de ficção ou se aconteceu de verdade.
Outro aspecto muito interessante é que muitos anos depois John Lennon afirmou em entrevistas que a canção havia sido uma composição feita face a face. Paul discordou completamente da afirmação, dizendo que na verdade a contribuição de John na canção não chegou nem a uma linha de melodia sequer. Paul explicou: "Penso que John (cuja memória podia ser extremamente falha) tomou os créditos, em uma de suas últimas entrevistas, por muitas das letras, mas na minha memória 'Eleanor Rigby' foi uma 'Lennon-McCartney' clássica na qual a contribuição de John foi virtualmente nula".
Para o ouvinte de longa data não resta muitas dúvidas pois "Eleanor Rigby" é de fato uma composição que soa 100% de Paul McCartney. Já para o lado B o grupo trouxe uma faixa muito simpática, com claras tendências psicodélicas, mas com teor infantil, a conhecida " Yellow Submarine". Como em todos os discos dos Beatles eles faziam uma música para ser cantada por Ringo Starr, essa foi o presente de Paul e John para ele durante os trabalhos do disco "Revolver". Enfim, esse é um single maravilhoso, que consegue até hoje tocar nossa alma de uma forma completamente singular. Trabalho de gênios certamente.
Pablo Aluísio.
domingo, 13 de dezembro de 2015
The Beatles - Live at Shea
Anos depois Lennon diria em entrevistas que o concerto no Shea Stadium foi o ápice da carreira dos Beatles em seus shows ao vivo. Como eram jovens e destemidos ignoraram todos os conselhos de que não deveriam se expor a um risco tão grande e pagaram para ver no que aquilo tudo iria dar. Pois bem, foi um sucesso sem igual. Como se não bastassem terem batidos todos os recordes de audiência da TV americana (que pertenciam até aquele momento a outro roqueiro famoso, Elvis Presley) eles também fizeram aquele que seria o maior show da história até então, o de maior público, o mais megalomaníaco. Claro que naqueles primórdios tudo era ainda muito primitivo. Ninguém sabia, por exemplo, como fazer com que o som do show chegasse a toda aquela multidão com a qualidade desejável. Em vista disso o show foi feito usando do sistema de som do próprio estádio (que era péssimo, por sinal). Os Beatles também ficaram receosos durante a apresentação, com medo de que alguém fosse morto no meio da histeria do público (muitos fãs pularam as cercas, correndo pelo gramado em frente a eles). Por isso ao se ouvir a gravação do Shea Stadium hoje em dia podemos notar que a velocidade das músicas está muito acelerada! O próprio John reconheceu o nervosismo geral e chegou ao ponto de dizer que "Paul estava se borrando de medo naquela noite". Mesmo com tantos problemas não há como negar que o concerto dos Beatles no Shea Stadium foi realmente um marco na história da música. Se alguém ainda tinha dúvidas da extensão da fama e do sucesso do grupo elas acabaram naquela noite em que os Beatles provaram que o impossível era apenas uma questão de ponto de vista.
Pablo Aluísio.
sábado, 12 de dezembro de 2015
The Beatles - The Ballad of John and Yoko
Os Beatles estavam caminhando rapidamente para o rompimento completo quando esse novo single chegou nas lojas em maio de 1969. Nem era precisa ser expert em Beatles para entender que o grupo havia virado apenas uma fachada. Cada Beatle compunha e gravava seu próprio material sem que isso necessariamente envolvesse todo o grupo. Um dos grandes exemplos aconteceu justamente na gravação de "The Ballad of John and Yoko". A canção tinha sido escrita apenas por John Lennon já que era extremamente autoral e pessoal. Embora McCartney aparecesse como co-autor ele jamais pensaria em participar na composição de algo assim, afinal escrever sobre casos amorosos envolvendo nomes de namoradas reais (como Yoko) era algo bem ousado, uma vez que traria muita notoriedade para ela. George Harrison nunca gostou de Yoko e acabou dando uma desculpa qualquer para não participar das sessões na EMI. Ringo também caiu fora alegando estar ocupado nas filmagens de um filme (ele tencionava na época se tornar um ator em um trabalho fora dos Beatles). Assim sobrou para Paul gravar aquela estranha faixa, com letra enorme, ora muito pessoal e romântica, ora ácida e corrosiva, como convinha à personalidade de Lennon. Era na realidade uma narrativa de seu casamento com Yoko e tudo o que girou ao redor como seu protesto pela paz na cama e as repercussões na imprensa durante toda aquela loucura. De quebra John provocava mais uma vez a religião ao usar o refrão "Eles vão acabar me crucificando"!
Na falta dos outros Beatles, John e Paul se viraram para gravar a canção. Lennon ficou nos vocais e tocou violão, guitarra e pandeiro. Já Paul se virou para tocar baixo, piano, bateria e maracas. Não há como negar que apesar de não ser uma gravação dos Beatles propriamente dita a música ficou muito bem gravada, com ótimo pique e arranjo. Afinal a dupla Lennon e McCartney sempre foi a verdadeira espinha dorsal da banda. Para o lado B Harrison surgiu com a canção "Old Brown Shoe" que acabou virando alvo das piadas de Lennon que a considerava uma "verdadeira porcaria". No fundo era apenas um ato de revanche pela ausência de Harrison na gravação do lado A do single. Para mostrar indiretamente seu descontentamento com George, Lennon só colaborou na faixa participando do coral de apoio, sem se esforçar em nada, chegando ao ponto de dizer que não iria tocar guitarra na gravação "porque estava com preguiça". Assim quem acabou tocando guitarra foi Paul que além disso fez um belo arranjo ao piano para a música. Basta saber dessas histórias internas dos Beatles para entender como o ambiente estava tenso dentro do grupo. Também é importante notar como foi um single que não contou com nenhuma música de Paul, que apesar disso colaborou e muito com as composições de John e George, mostrando que McCartney não era apenas o egocêntrico que Lennon insistia em dizer, muito pelo contrário. Afinal ele também poderia ser um ótimo carregador de piano dos Beatles quando isso era realmente necessário.
Pablo Aluísio.
Na falta dos outros Beatles, John e Paul se viraram para gravar a canção. Lennon ficou nos vocais e tocou violão, guitarra e pandeiro. Já Paul se virou para tocar baixo, piano, bateria e maracas. Não há como negar que apesar de não ser uma gravação dos Beatles propriamente dita a música ficou muito bem gravada, com ótimo pique e arranjo. Afinal a dupla Lennon e McCartney sempre foi a verdadeira espinha dorsal da banda. Para o lado B Harrison surgiu com a canção "Old Brown Shoe" que acabou virando alvo das piadas de Lennon que a considerava uma "verdadeira porcaria". No fundo era apenas um ato de revanche pela ausência de Harrison na gravação do lado A do single. Para mostrar indiretamente seu descontentamento com George, Lennon só colaborou na faixa participando do coral de apoio, sem se esforçar em nada, chegando ao ponto de dizer que não iria tocar guitarra na gravação "porque estava com preguiça". Assim quem acabou tocando guitarra foi Paul que além disso fez um belo arranjo ao piano para a música. Basta saber dessas histórias internas dos Beatles para entender como o ambiente estava tenso dentro do grupo. Também é importante notar como foi um single que não contou com nenhuma música de Paul, que apesar disso colaborou e muito com as composições de John e George, mostrando que McCartney não era apenas o egocêntrico que Lennon insistia em dizer, muito pelo contrário. Afinal ele também poderia ser um ótimo carregador de piano dos Beatles quando isso era realmente necessário.
Pablo Aluísio.
sexta-feira, 11 de dezembro de 2015
Jogos Vorazes: A Esperança - O Final
O texto contém spoiler. Assim se você ainda não assistiu ao filme aconselho que não siga lendo as linhas a seguir. Esse é o último filme da franquia "The Hunger Games" e desde já me pareceu ser também o melhor. A trama é bem mais objetiva, segue uma direção mais determinada e a conclusão de tudo me soou muito coerente. No começo "Jogos Vorazes" não me agradou. O primeiro filme é bem excessivo, kitsch e sem muita originalidade. A sorte é que esse é tipicamente o caso de franquia que vai melhorando com o passar do tempo, com o surgimento de novos filmes. O ápice dessa saga, tanto em termos de conclusão da história como em qualidade, acontece justamente aqui. Como eu escrevi a trama é simples e direta: os rebeldes finalmente chegam para conquistar a Capital Panem. Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) ainda é vista como um símbolo, uma imagem para inspirar as tropas rebeldes, mas ela quer mais do que ser apenas uma garota propaganda da causa. Ela quer ir para o front, enfrentar o inimigo. Contrariando ordens superiores e agindo de acordo com sua própria vontade ela segue em frente. Em pouco tempo se une às forças que vão invadir a Capital. No fundo o que ela mais deseja é encontrar o Presidente Snow (Donald Sutherland) para um acerto de contas final. Como era de se esperar as melhores cenas acontecem justamente durante essa invasão. O grupo de Everdeen precisa avançar pelas ruas da capital lidando com várias armadilhas dentro da cidade, algumas bem boladas que proporcionam ótimas sequências de efeitos especiais (a produção, como não poderia deixar de ser, é das melhores). Entre as cenas que se destacam há uma em particular que eleva bastante o nível do filme, justamente quando Katniss encontra um grupo de criaturas que os atacam no subsolo da cidade. Cheguei até mesmo a me lembrar vagamente dos monstros vampiros de "Blade".
Depois o grupo avança e finalmente chega nas portas da mansão do Presidente Snow. Os rebeldes surgem disfarçados de refugiados (embora não proposital, essa é uma interessante referência ao momento atual vivido na Europa). Uma vez lá acontece o massacre de inocentes que irá determinar todo o destino dos rebeldes e da tirania de Snow. Aqui há uma reviravolta interessante que vale pela franquia como um todo. Embora "Jogos Vorazes" seja um produto nitidamente adolescente aqui a autora Suzanne Collins teve um ótimo momento de inspiração ao colocar algo que é mais corriqueiro do que se pensa (e que, surpresa, vale como alegoria política até mesmo no que acontece em nosso país atualmente). Uma vez assumindo o poder a líder rebelde Alma Coin (Julianne Moore), portadora de tantas esperanças por mudanças por parte das populações oprimidas dos distritos, começa a agir justamente como o deposto presidente Snow. Ela ignora conselhos, promovendo execuções sumárias e propõe até mesmo a volta dos "Jogos Vorazes", um absurdo completo. A oposição ao colocar as mãos no poder muitas vezes acaba agindo mais cruelmente do que a própria tirania que ajudou a combater e derrubar! Sabendo muito bem disso o clímax acontece na praça central quando Katniss tem a oportunidade de executar o próprio presidente Snow ou até mesmo a agora empossada nova presidente Coin, que finalmente mostra a que veio, revelando suas verdadeiras intenções. Tudo se resume em escolher o alvo certo! É a melhor cena de toda a franquia e a mais representativa também. Traz uma bela lição de moral, para não esquecer. Por fim, nem a última sequência, bastante reforçada com pieguice sentimental, consegue estragar o que aconteceu momentos antes. Então é isso. O filme não foi o sucesso espetacular de bilheteria que o estúdio esperava, mas tampouco pode ser considerado como uma decepção ou algo assim. É de fato o melhor filme da franquia, fechando com chave de ouro uma série de filmes marcados pela irregularidade ao longo de todos esses anos.
Jogos Vorazes: A Esperança - O Final (The Hunger Games: Mockingjay - Part 2, Estados Unidos, 2015) Direção: Francis Lawrence / Roteiro: Peter Craig, Danny Strong, baseados na obra de Suzanne Collins / Elenco: Jennifer Lawrence, Donald Sutherland, Julianne Moore, Philip Seymour Hoffman, Woody Harrelson, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth / Sinopse: Os rebeldes dos distritos que lutam contra a tirania do Presidente Snow (Sutherland) finalmente conseguem entrar na capital Panem. A luta promete ser rua a rua, casa a casa, pelo controle do poder. Filme indicado ao prêmio da Broadcast Film Critics Association Awards na categoria de Melhor Atriz (Lawrence).
Pablo Aluísio.
Depois o grupo avança e finalmente chega nas portas da mansão do Presidente Snow. Os rebeldes surgem disfarçados de refugiados (embora não proposital, essa é uma interessante referência ao momento atual vivido na Europa). Uma vez lá acontece o massacre de inocentes que irá determinar todo o destino dos rebeldes e da tirania de Snow. Aqui há uma reviravolta interessante que vale pela franquia como um todo. Embora "Jogos Vorazes" seja um produto nitidamente adolescente aqui a autora Suzanne Collins teve um ótimo momento de inspiração ao colocar algo que é mais corriqueiro do que se pensa (e que, surpresa, vale como alegoria política até mesmo no que acontece em nosso país atualmente). Uma vez assumindo o poder a líder rebelde Alma Coin (Julianne Moore), portadora de tantas esperanças por mudanças por parte das populações oprimidas dos distritos, começa a agir justamente como o deposto presidente Snow. Ela ignora conselhos, promovendo execuções sumárias e propõe até mesmo a volta dos "Jogos Vorazes", um absurdo completo. A oposição ao colocar as mãos no poder muitas vezes acaba agindo mais cruelmente do que a própria tirania que ajudou a combater e derrubar! Sabendo muito bem disso o clímax acontece na praça central quando Katniss tem a oportunidade de executar o próprio presidente Snow ou até mesmo a agora empossada nova presidente Coin, que finalmente mostra a que veio, revelando suas verdadeiras intenções. Tudo se resume em escolher o alvo certo! É a melhor cena de toda a franquia e a mais representativa também. Traz uma bela lição de moral, para não esquecer. Por fim, nem a última sequência, bastante reforçada com pieguice sentimental, consegue estragar o que aconteceu momentos antes. Então é isso. O filme não foi o sucesso espetacular de bilheteria que o estúdio esperava, mas tampouco pode ser considerado como uma decepção ou algo assim. É de fato o melhor filme da franquia, fechando com chave de ouro uma série de filmes marcados pela irregularidade ao longo de todos esses anos.
Jogos Vorazes: A Esperança - O Final (The Hunger Games: Mockingjay - Part 2, Estados Unidos, 2015) Direção: Francis Lawrence / Roteiro: Peter Craig, Danny Strong, baseados na obra de Suzanne Collins / Elenco: Jennifer Lawrence, Donald Sutherland, Julianne Moore, Philip Seymour Hoffman, Woody Harrelson, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth / Sinopse: Os rebeldes dos distritos que lutam contra a tirania do Presidente Snow (Sutherland) finalmente conseguem entrar na capital Panem. A luta promete ser rua a rua, casa a casa, pelo controle do poder. Filme indicado ao prêmio da Broadcast Film Critics Association Awards na categoria de Melhor Atriz (Lawrence).
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 10 de dezembro de 2015
Star Wars: O Despertar da Força
O texto contém spoiler. Assim se você ainda não assistiu ao filme aconselho que não siga lendo as linhas a seguir. Pois bem, o filme já começa no velho estilo tradicional da saga, com os letreiros explicativos e a trilha sonora de John Williams que qualquer cinéfilo reconhece já nos primeiros acordes. O último cavaleiro Jedi vivo, Luke Skywalker (Mark Hamill), está desaparecido. Seu paradeiro é desconhecido. A localização exata de onde se encontra passa a ser uma questão crucial para a resistência e a Primeira Ordem (uma espécie de herdeira do Império, a representação concreta e atual do lado negro da força). Um mapa mostrando onde ele estaria é colocado em um pequeno droide em uma nave rebelde. Quando essa cai em um planeta deserto tudo parece perdido. O robozinho denominado BB-8 porém consegue escapar e sai a esmo pelo meio do deserto, encontrando casualmente a jovem Rey (interpretada pela bonita atriz inglesa Daisy Ridley).
A partir daí sua vida mudará para sempre pois ela acaba se tornando alvo das tropas imperiais, ao mesmo tempo em que tenta entender tudo o que começa a acontecer em sua nova vida. Esse é o sétimo filme da série "Star Wars" e de maneira em geral tem sido muito bem recebido por público e crítica. Já no seu primeiro fim de semana o filme alcançou uma bilheteria histórica chegando perto de bater o meio bilhão de dólares arrecadados (isso em praticamente apenas três dias de exibição!). Pelo visto a franquia continua tão cultuada e popular mesmo após a fraca trilogia anteriormente lançada. O segredo do diretor e roteirista J.J. Abrams foi usar a trilogia original como referência, tanto em termos de roteiro como em efeitos especiais, direção de arte, figurinos, cenários, etc. Isso acabou agradando em cheio aos fãs mais antigos ao mesmo tempo em que abre portas para conquistar uma nova geração de seguidores da saga. Além disso não podemos ignorar o fato de que os personagens originais como Han Solo, Luke Skywalker, a Princesa Leia e tantos outros estão de volta, completando o ciclo de nostalgia dos espectadores mais veteranos. Claro que o tempo impôs sua marca em cada um dos atores, mas isso não chega a ser um problema, pelo contrário, acaba sendo algo muito charmoso até, mostrando as marcas do tempo também em relação aos personagens que nos primeiros filmes eram em sua maioria apenas jovens em busca de aventuras.
Dito isso devo dizer que também existem problemas em "Star Wars: O Despertar da Força". A impressão que tive em todo o desenrolar da trama foi que J.J. Abrams ficou tão obcecado com a trilogia original que esqueceu de trazer coisas novas para esse novo episódio. Na verdade se formos prestar bem a atenção veremos que esse roteiro não passa de um genérico dos roteiros de "Guerra Nas Estrelas" de 1977 e "O Império Contra-Ataca" de 1980. As semelhanças chegam a incomodar. Além do vilão ser uma espécie de imitação barata de Darth Vader, a própria personagem central, Rey, é na verdade uma versão moderna e feminina do Luke dos primeiros filmes. Até nos figurinos isso fica bem claro. Ela tem uma origem humilde (vive de retirar peças velhas de naves destruídas no meio do deserto) e não parece ter um destino promissor pela frente. Tudo muda quando encontra por acaso um pequeno droide que muda sua vida para sempre (em linhas gerais isso é basicamente o que acontece com Luke Skywalker no primeiro filme). Além disso embora o roteiro não deixe muito claro, fica meio óbvio que ela provavelmente seja a filha do próprio Luke. A força se faz presente nela da mesma maneira que fazia em seu pai. Ou seja, a estrutura do roteiro é praticamente a mesma do primeiro filme da franquia, quase sem mudanças.
Voltando ao vilão Kylo Ren (Adam Driver), ele não conseguiu me empolgar em nenhum momento. Fraco, indeciso e nada assustador, ele usa uma máscara genérica que nos remete ao velho Vader, esse sim um personagem que marcou para sempre. Ele é filho de Leia e Han Solo ou seja neto de Anakin Skywalker, mas não pense que tem a força de seu avô. Passa bem longe disso. Nem na cena crucial do filme, quando mata o próprio pai Han Solo, isso parece fazer alguma diferença. Outro fato que prova que o roteiro é muito derivativo de "Guerra nas Estrelas" de 77 é a própria existência de um planeta artificial com poderes de destruição de outros planetas (uma versão turbinada da Estrela da Morte). Será que os roteiristas não tinham mais nada de original para criar? Ficou uma sensação no ar de falta de novas ideias. O sentimento de Déjà vu se tornou inevitável. Mesmo assim, sendo excessivamente derivativo dos primeiros filmes, não podemos negar que o filme é muito divertido, referencial no bom sentido também (nos fazendo trazer uma sensação boa de nostalgia) e sem situações embaraçosas ou constrangedoras (como a presença de um Jar Jar Binks pelo meio do caminho para nos deixar com vergonha alheia). J.J. Abrams fez um belo trabalho e se pecou foi por ser fiel demais às origens de "Star Wars", algo que ele facilmente poderá superar nos futuros filmes. Em termos de comparação poderia dizer que o filme no final das contas fica em um plano intermediário dentro da saga. Consegue ser superior a todos os filmes da segunda trilogia (que não deixou saudades em ninguém), porém não consegue superar nenhum da trilogia original (nem mesmo "O Retorno de Jedi"). Mesmo assim é daqueles filmes que você não pode deixar de assistir no cinema. É um bom retorno de "Star Wars", acima de tudo.
Star Wars: O Despertar da Força (Star Wars: The Force Awakens, EUA, 2015) Direção: J.J. Abrams / Roteiro: Lawrence Kasdan, J.J. Abrams / Elenco: Daisy Ridley, Harrison Ford, Mark Hamill, Carrie Fisher, Adam Driver, Andy Serkis, Anthony Daniels, Max von Sydow, John Boyega, Oscar Isaac / Sinopse: A Primeira Ordem e a Resistência Rebelde disputam um importante mapa que mostraria a exata localização onde estaria o último cavaleiro Jedi vivo, o lendário Luke Skywalker (Mark Hamill). Ele teria desaparecido após tentar treinar um novo cavaleiro Jedi, seu próprio sobrinho, e falhado em seus objetivos pois o rapaz teria sido seduzido pelo lado negro da força tal como seu avô, Anakin Skywalker. Sua localização é colocada como arquivo em um pequeno dróide que vai parar em um distante, isolado e deserto planeta onde acaba indo parar nas mãos da jovem Rey (Daisy Ridley) dando origem a uma grande aventura espacial.
Pablo Aluísio.
A partir daí sua vida mudará para sempre pois ela acaba se tornando alvo das tropas imperiais, ao mesmo tempo em que tenta entender tudo o que começa a acontecer em sua nova vida. Esse é o sétimo filme da série "Star Wars" e de maneira em geral tem sido muito bem recebido por público e crítica. Já no seu primeiro fim de semana o filme alcançou uma bilheteria histórica chegando perto de bater o meio bilhão de dólares arrecadados (isso em praticamente apenas três dias de exibição!). Pelo visto a franquia continua tão cultuada e popular mesmo após a fraca trilogia anteriormente lançada. O segredo do diretor e roteirista J.J. Abrams foi usar a trilogia original como referência, tanto em termos de roteiro como em efeitos especiais, direção de arte, figurinos, cenários, etc. Isso acabou agradando em cheio aos fãs mais antigos ao mesmo tempo em que abre portas para conquistar uma nova geração de seguidores da saga. Além disso não podemos ignorar o fato de que os personagens originais como Han Solo, Luke Skywalker, a Princesa Leia e tantos outros estão de volta, completando o ciclo de nostalgia dos espectadores mais veteranos. Claro que o tempo impôs sua marca em cada um dos atores, mas isso não chega a ser um problema, pelo contrário, acaba sendo algo muito charmoso até, mostrando as marcas do tempo também em relação aos personagens que nos primeiros filmes eram em sua maioria apenas jovens em busca de aventuras.
Dito isso devo dizer que também existem problemas em "Star Wars: O Despertar da Força". A impressão que tive em todo o desenrolar da trama foi que J.J. Abrams ficou tão obcecado com a trilogia original que esqueceu de trazer coisas novas para esse novo episódio. Na verdade se formos prestar bem a atenção veremos que esse roteiro não passa de um genérico dos roteiros de "Guerra Nas Estrelas" de 1977 e "O Império Contra-Ataca" de 1980. As semelhanças chegam a incomodar. Além do vilão ser uma espécie de imitação barata de Darth Vader, a própria personagem central, Rey, é na verdade uma versão moderna e feminina do Luke dos primeiros filmes. Até nos figurinos isso fica bem claro. Ela tem uma origem humilde (vive de retirar peças velhas de naves destruídas no meio do deserto) e não parece ter um destino promissor pela frente. Tudo muda quando encontra por acaso um pequeno droide que muda sua vida para sempre (em linhas gerais isso é basicamente o que acontece com Luke Skywalker no primeiro filme). Além disso embora o roteiro não deixe muito claro, fica meio óbvio que ela provavelmente seja a filha do próprio Luke. A força se faz presente nela da mesma maneira que fazia em seu pai. Ou seja, a estrutura do roteiro é praticamente a mesma do primeiro filme da franquia, quase sem mudanças.
Voltando ao vilão Kylo Ren (Adam Driver), ele não conseguiu me empolgar em nenhum momento. Fraco, indeciso e nada assustador, ele usa uma máscara genérica que nos remete ao velho Vader, esse sim um personagem que marcou para sempre. Ele é filho de Leia e Han Solo ou seja neto de Anakin Skywalker, mas não pense que tem a força de seu avô. Passa bem longe disso. Nem na cena crucial do filme, quando mata o próprio pai Han Solo, isso parece fazer alguma diferença. Outro fato que prova que o roteiro é muito derivativo de "Guerra nas Estrelas" de 77 é a própria existência de um planeta artificial com poderes de destruição de outros planetas (uma versão turbinada da Estrela da Morte). Será que os roteiristas não tinham mais nada de original para criar? Ficou uma sensação no ar de falta de novas ideias. O sentimento de Déjà vu se tornou inevitável. Mesmo assim, sendo excessivamente derivativo dos primeiros filmes, não podemos negar que o filme é muito divertido, referencial no bom sentido também (nos fazendo trazer uma sensação boa de nostalgia) e sem situações embaraçosas ou constrangedoras (como a presença de um Jar Jar Binks pelo meio do caminho para nos deixar com vergonha alheia). J.J. Abrams fez um belo trabalho e se pecou foi por ser fiel demais às origens de "Star Wars", algo que ele facilmente poderá superar nos futuros filmes. Em termos de comparação poderia dizer que o filme no final das contas fica em um plano intermediário dentro da saga. Consegue ser superior a todos os filmes da segunda trilogia (que não deixou saudades em ninguém), porém não consegue superar nenhum da trilogia original (nem mesmo "O Retorno de Jedi"). Mesmo assim é daqueles filmes que você não pode deixar de assistir no cinema. É um bom retorno de "Star Wars", acima de tudo.
Star Wars: O Despertar da Força (Star Wars: The Force Awakens, EUA, 2015) Direção: J.J. Abrams / Roteiro: Lawrence Kasdan, J.J. Abrams / Elenco: Daisy Ridley, Harrison Ford, Mark Hamill, Carrie Fisher, Adam Driver, Andy Serkis, Anthony Daniels, Max von Sydow, John Boyega, Oscar Isaac / Sinopse: A Primeira Ordem e a Resistência Rebelde disputam um importante mapa que mostraria a exata localização onde estaria o último cavaleiro Jedi vivo, o lendário Luke Skywalker (Mark Hamill). Ele teria desaparecido após tentar treinar um novo cavaleiro Jedi, seu próprio sobrinho, e falhado em seus objetivos pois o rapaz teria sido seduzido pelo lado negro da força tal como seu avô, Anakin Skywalker. Sua localização é colocada como arquivo em um pequeno dróide que vai parar em um distante, isolado e deserto planeta onde acaba indo parar nas mãos da jovem Rey (Daisy Ridley) dando origem a uma grande aventura espacial.
Pablo Aluísio.
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