segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Oscar 2013

Foi uma cerimônia bem realizada mas também sem maiores surpresas. De fato todas as previsões que rondaram na semana anterior do prêmio se confirmaram. Não precisava ser vidente para acertar a maioria dos prêmios pois tudo já estava previamente esperado.  Inicialmente “Lincoln” era o mais cotado para vencer o Oscar de Melhor filme mas depois do Globo de Ouro a situação se inverteu e Argo virou o queridinho dos membros da Academia. Muitas pessoas ficaram indignadas pelo fato de Ben Affleck não ter sido indicado ao Oscar de Direção e essa situação acabou se revertendo a favor de “Argo”, um filme que já comentei aqui no blog, bem feito, bem roteirizado mas que ainda não considero melhor do que “Lincoln”. Aliás atribuo a derrota do filme de Spielberg ao seu resultado considerado pesado e enfadonho para quem não gosta particularmente nem de história e nem de política. Assim venceu o filme mais acessível aos membros da Academia. Some-se a isso também a campanha nos bastidores promovida por George Clooney, produtor do filme e muito bem relacionado no meio. Assim a vitória de “Argo” pode ser atribuída aos votos de protesto por causa de Affleck e aos votos de amizade captados por Clooney.

Nas demais categorias também não houve muitas surpresas. Os prêmios foram até que muito bem distribuídos entre todos os filmes principais, sendo que nenhum deles saiu de mãos vazias da noite. Jennifer Lawrence confirmou seu favoritismo e ganhou o Oscar de Melhor atriz por “O Lado Bom da Vida”. Ela levou uma tremenda queda quando subia para receber o prêmio mas isso até que era previsível já que é apenas uma jovem. Nervosa e com aquele vestido absurdo não era de se esperar outra coisa. Seu discurso de agradecimento foi atropelado e ansioso. O filme infelizmente não conseguiu levar mais nenhum prêmio mas diante da vitória da categoria atriz isso até que passou despercebido. Outro favorito absoluto que confirmou o que já se falava há tempos foi Daniel Day-Lewis. Em um discurso bem humorado (coisa que não é típico dele) o ator agradeceu a todos e dedicou o prêmio especialmente para a mãe. Infelizmente nas demais categorias “Lincoln” ficou a ver navios, só conseguindo mesmo apenas mais um Oscar por Direção de Arte (mais do que merecido).

Tarantino por outro lado ficou bastante satisfeito com o resultado de seu “Django Livre”. Além de faturar o Oscar por Roteiro Original (o que já era esperado) ainda abocanhou mais um prêmio de melhor ator coadjuvante para Christoph Waltz que assim repete o feito que havia conseguido no filme anterior de Tarantino, “Bastardos Inglórios”. Só não concordo com sua categoria coadjuvante pois em minha opinião o personagem interpretado por Waltz é um dos protagonistas do filme. Melhor para ele pois se tivesse sido indicado a ator não teria mesmo vencido Daniel Day-Lewis. No mais é sempre bom ver um western ganhando prêmios desse porte pois quem sabe assim a indústria se anime a realizar mais filmes do gênero. Os fãs do bom e velho faroeste agradecem. Como Ben Affleck não foi indicado ao Oscar de Melhor direção (uma aberração pois o filme levou o principal prêmio da noite) sobrou a Ang Lee levar o Oscar para casa por seu bonito “As Aventuras de Pi”. Nada mal para um sujeito que outro dia estava sendo considerado “carta fora do baralho” dentro da indústria americana. A produtora de Pi inclusive fechou as portas, falindo justamente no momento em que o filme recebia tantos reconhecimentos (também foi premiado por trilha sonora e efeitos visuais).

Na categoria animação talvez a maior surpresa de toda a noite pois “Valente” não era considerado um favorito. Animação caretinha conseguiu vencer o principal prêmio para espanto de todos. “Os Miseráveis” apesar do tema difícil venceu três estatuetas (atriz coadjuvante, maquiagem e mixagem de som). Um bom resultado sem dúvida. Anne Hathaway está muito bem no filme, embora não a considere uma boa cantora. De qualquer forma é sempre um prazer ver um musical sendo reconhecido pelo Oscar nos dias atuais. Por fim, nos 50 anos da franquia James Bond a Academia resolveu dar uma colher de chá ao agente premiando Skyfall nas categorias canção original e Edição de Som (onde ocorreu um raro empate entre os vencedores). Atribuo esses prêmios mais a uma homenagem e a um pedido de desculpas tardio do que qualquer outra coisa uma vez que Bond sempre foi desprezado pelo Oscar.

Agora bem decepcionante mesmo foi a fraca performance de Seth MacFarlane como apresentador. Esperava-se que fosse bem mais ácido e picante nas piadas mas nada disso aconteceu, soltou algumas farpinhas inocentes e tentou agradar mas sem ousar. Qualquer episódio de “Family Guy” é bem mais engraçado e irônico do que aquilo. No fundo ele quer mesmo é ser escalado novamente no ano que vem (o que acho complicado acontecer). Enfim, esse foi o Oscar 2013. Não houve nada de muito marcante ou surpreendente. O show como não poderia deixar de ser foi muito bem realizado mas também não conseguiu encher os olhos de ninguém. No fundo foi apenas uma premiação de rotina e nada mais. Parabéns aos vencedores e até ano que vem!

Oscar 2013 – Os vencedores da noite:
Filme: "Argo"
Direção: Ang Lee, por "As Aventuras de Pi"
Ator: Daniel Day-Lewis, "Lincoln"
Atriz: Jennifer Lawrence, "O Lado Bom da Vida"
Ator coadjuvante: Christoph Waltz, "Django Livre"
Atriz coadjuvante: Anne Hathaway, "Os Miseráveis"
Roteiro original:  "Django Livre"
Roteiro adaptado: "Argo"
Animação: "Valente"
Filme estrangeiro: "Amor" (Áustria)
Trilha sonora: "As Aventuras de Pi"
Canção original: "Skyfall", de Adele, "007 - Operação Skyfall"
Fotografia: "As Aventuras de Pi"
Figurino: "Anna Karenina"
Documentário:  "Searching for Sugar Man"
Curta de documentário: "Inocente"
Edição: "Argo"
Maquiagem: "Os Miseráveis"
Direção de arte: "Lincoln"
Curta de animação: "Paperman"
Curta-metragem: "Curfew"
Edição de som: empate entre "A Hora Mais Escura" e "007 - Operação Skyfall"
Mixagem de som: "Os Miseráveis"
Efeitos visuais: "As Aventuras de Pi"

Pablo Aluísio.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Batman: O Cavaleiro das Trevas - Parte 2

Sempre que posso estou recomendando essas animações da DC Comics que estão sendo lançadas nos Estados Unidos no mercado de venda direta ao consumidor. São todas produções extremamente bem realizadas, com ótimos roteiros e tecnicamente perfeitas. Sobre esse “Batman: The Dark Knight Returns” já tive a oportunidade de tecer comentários aqui em nosso blog na ocasião do lançamento do primeiro DVD. Agora chega sua conclusão, a parte 2, e para alegria dos fãs de Batman tudo continua no mesmo nível, ou seja, tudo continua excelente. Aliás o enredo dessa segunda parte consegue ser até mesmo mais interessante e marcante do que o primeiro, uma vez que dois personagens ícones da DC surgem na trama: o Coringa e o Superman. O maior vilão do universo de Batman tenta convencer a todos que está finalmente reabilitado e pronto para voltar para a sociedade. Ao lado de seu psiquiatra (que vê nele um modelo de cura) o Coringa aceita participar de um programa de entrevistas popular na TV. Obviamente que tudo terminará numa grande tragédia até porque seu lado psicótico e insano logo volta a se manifestar com mais intensidade do que nunca.

Já o Superman vem como um super-herói do sistema, um joguete do governo americano que não hesita em utilizar seus poderes em prol de seus interesses imperialistas. Logo no começo da trama vemos o homem de aço completamente envolvido em uma guerra de colonialismo em um país perdido no meio do nada. É obviamente uma crítica – e muito bem feita – ao jogo político que os Estados Unidos patrocinam mundo afora. Outro fato curioso é que o Presidente surge como a figura de Ronald Reagan que era o líder da nação na época do lançamento da Graphic Novel original. Presidente de linha ultra-direita, intervencionista e republicano, o político acabou virando uma caricatura nada lisonjeira nas mãos de Frank Miller. E o Batman? Bom, ele é um sujeito envelhecido, doente e recluso que vê, deprimido, sua cidade virar um caos completo, dominada por crimes e convulsões sociais de todos os tipos. Para piorar a antiga gangue dos Mutantes o venera e o segue com fervor por causa de seu ideal de se fazer justiça pelas próprias mãos. Após resolver retornar às ruas para capturar novamente o Coringa, Batman se vê envolvido em um luta mortal com seu antigo colega Superman. Ambos estão em lados opostos e certamente vão se enfrentar para defender aquilo que acreditam ser o certo no meio daquele caos reinante. As cenas de luta entre os dois super-heróis acabam se tornando a melhor coisa da animação que é toda muito boa – realmente diferenciada e obrigatória para os fãs desse universo. Assim “Batman: The Dark Knight Returns, Part 2” está mais do que recomendado, não deixe de assistir.   

Batman: O Cavaleiro das Trevas - Parte 2 (Batman: The Dark Knight Returns, Part 2, EUA, 2013) Direção: Jay Oliva / Roteiro: Bob Goodman baseado na obra de Fank Miller / Elenco (Vozes): Peter Weller, Ariel Winter, Michael Emerson / Sinopse: Para capturar novamente seu antigo inimigo, o Coringa, um envelhecido Batman volta às ruas. Sua presença porém passa a incomodar as autoridades americanas que pedem ajuda ao Superman, o único que poderá encarcerar definitivamente o Homem Morcego.

Pablo Aluísio.

Ação Violenta

Steven Seagal está de volta – ou quase isso! Esse “Ação Violenta” acaba de chegar nas locadoras brasileiras mas na realidade não se trata de um novo filme do ator. Trata-se sim da junção de dois episódios da nova série estrelada por Seagal chamada “True Justice”. Assim como aconteceu com seu colega de filmes de ação, Chuck Norris, Seagal encontrou um novo espaço na TV após sua carreira no cinema chegar em um impasse. “True Justice” é a segunda incursão do ator em séries, a primeira foi “Steven Seagal: Lawman” que chegou a ter uma certa repercussão. Ambas são bem parecidas, com o ator interpretando policiais durões em cidades infestadas por criminosos. A ação de “True Justice” se passa na sempre chuvosa Seattle. É lá que um grupo de bandidos encurralam um carregamento da máfia mexicana e roubam toda a carga – alguns milhões de dólares. Esse roubo acaba desencadeando uma série de retaliações por diversas organizações criminosas e apenas Elijah Kane (Seagal) pode conter a violência.

A série e o personagem Elijah foram criados pelo próprio Seagal que apostou em um seriado policial que não se limitasse apenas ao velho esquema bandidos versus tiras. O papel de Seagal é bem representativo disso pois ele é também um ex-agente da CIA e por isso todas as tramas começam de certa forma banais para depois se desenrolarem em organizações criminosas maiores envolvendo lavagem de dinheiro internacional, tráfico de drogas e terrorismo. Essa fórmula é repetida aqui nesses dois episódios. Steven Seagal continua o mesmo. Agora mais velho e um pouco fora de forma (que esconde usando um figurino escuro) o ator certamente vai agradar aos fãs de seu estilo “poucas palavras e muitas porradas”. São várias as seqüências de lutas marciais, tiroteios e ação. Ele já não tem a velha velocidade e habilidade dos anos de juventude mas até que não faz feio nas lutas de que participa. A boa notícia é que a série é bem produzida, dentro dos padrões das séries americanas e não chega a aborrecer. Acompanhando Seagal há toda uma equipe de tiras treinados por ele mas nem se preocupe muito com esses personagens pois nenhum deles chega a ser devidamente desenvolvido. No final das contas o que vale mesmo para os fãs do ator é realmente matar as saudades de seu velho ídolo.

Ação Violenta (True Justice, Estados Unidos, 2012) Direção: Lauro Chartrand / Roteiro: Richard Beattie, Keoni Waxman / Elenco: Steven Seagal, Priscilla Faia, Adrian Holmes, Jesse Hutch, Nelson Leis, Lochlyn Munro, Zak Santiago, Darren Shahlavi, Bradley Stryker / Sinopse: Após um roubo de dinheiro da máfia mexicana, um policial de um grupo de elite da polícia de Seattle tenta desvendar o que há por trás do crime. Não tarda para que uma grande conspiração surja envolvendo lavagem de dinheiro e tráfico de drogas internacional.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Sempre ao Seu Lado

Richard Gere foi por décadas um grande astro, chamariz de bilheteria. Uma estrela realmente. Infelizmente a profissão de ator não é muito diferente das demais, a idade chega e o mercado muda. Assim o antigo status também se vai. Um exemplo é esse “Sempre ao Seu Lado”. Não que o filme seja ruim, muito longe disso, mas sim que é uma produção modesta, simples, algo que seria impensável para Gere estrelar em seus dias de glória e sucesso. Nos Estados Unidos o filme foi direto para o mercado de vídeo e não ganhou espaço nos cinemas o que é uma pena pois a película tem seus méritos. Uma velha máxima em Hollywood afirma que um ator inteligente nunca deve fazer um filme com crianças ou cães porque invariavelmente eles acabam roubando o show. É verdade. Um exemplo perfeito temos aqui. A estória narra a singela amizade que nasce entre um professor de música e um cão sem dono que ele encontra na rua. Os dois simpatizam e como acontece há milênios na história da humanidade, o cão e seu dono se tornam os melhores amigos. Infelizmente após vários anos juntos o professor vem a falecer, o que não impede o cão de ir todos os dias à estação de trem para esperar por ele – ano após ano, sob chuva, sob neve ou embaixo de sol forte. É a materialização da chamada fidelidade canina.

É óbvio que as pessoas que gostam de cachorros vão gostar muito mais da produção. Realmente o roteiro é muito tocante, ainda mais quando sabemos que foi baseado em uma história real ocorrida no outro lado do planeta, no Japão. Lá a história ganhou os jornais e ficou conhecida de norte a sul do país. O cão Hachiko verdadeiro ganhou inclusive uma estatua na estação onde ficou por anos a fio esperando por seu querido dono. Depois virou um filme muito sensível chamado de “Hachiko Monogataria” (A  história de Hachiko) que foi dirigido pelo talentoso Seijiro Koyama. Assim “Sempre ao Seu Lado” nada mais é do que um remake americano onde a ação sai de uma pequena cidade japonesa para uma comunidade no interior dos EUA. O professor original era um senhor de idade avançada que ia até a estação para pegar um trem até a cidade mais próxima onde ensinava música a jovens talentos. No filme americano a profissão de professor do personagem principal foi mantida mas o roteiro foi modificado para encaixar Richard Gere no papel, surgindo assim um músico bem mais jovem (o professor real tinha 80 anos quando veio a falecer). Apesar das modificações e do fato de ser um remake, “Sempre ao Seu Lado” não deixa de ser um belo filme. Vai tocar especialmente os que já tiveram um grande amigo canino que partiu e funciona muito bem para contar essa bela história de amizade e dedicação entre um homem e seu animal de estimação. Ah e não se esqueça dos lencinhos pois algumas lágrimas serão inevitáveis.

Sempre ao Seu Lado (Hachiko: a Dog´s Story, Estados Unidos, 2009) Direção de Lasse Hallstrom / Roteiro: Stephen P. Lindsey baseado no texto de Kaneto Shindô do filme original "Hachiko Monogatari"  / Elenco: Richard  Gere, Joan Allen, Jason Alexander, Cary Hirouki Tagawa, Sarah Roemer, Erick Avari / Sinopse: O filme narra a emocionante história de amizade entre um homem e seu cão Hachiko.

Pablo Aluísio. 

Amelia

Nos primórdios da aviação muitos heróis foram formados, geralmente quando conseguiam realizar grandes feitos, como ir da Europa aos Estados Unidos atravessando o Oceano Atlântico ou então quando conseguiam dar a volta ao mundo. É o caso de Amelia Earthart (1897- 1937) que se tornou notória ao tentar ser a primeira mulher a dar a volta ao mundo em seu pequeno avião. Em uma época em que as mulheres lutavam pelos direitos mais básicos de igualdade, Amelia conseguia se sobressair ao tentar provar com seus feitos que não havia grandes diferenças entre homens e mulheres no final das contas. Sua celebridade foi tão marcante nas décadas de 1920 e 1930 que chegou inclusive a ser tema de um filme clássico, sendo interpretada nas telas por outro mito, Katherine Hepburn. Eram tempos mais românticos e a aviadora despertava admiração por ser destemida e aventureira, não recuando nem diante dos maiores desafios. Infelizmente quem se propõe a viver uma vida de aventuras como Amelia também se propõe a viver eternamente em riscos. A tragédia pode estar inclusive na próxima curva. É justamente a vida dessa mulher muito especial que esse “Amelia” se propõe a contar. Embora esteja um tanto esquecida (o que é de certa forma natural por causa do longo tempo em que morreu) a heroína despertou o interesse da Fox que já andava atrás de um bom roteiro de aventuras há algum tempo. O fato de sua história ser conhecida talvez atrapalhasse um pouco mas os executivos entenderam que fazia tanto tempo que ela havia morrido que as novas gerações provavelmente nem sequer a conheciam de fato. Infelizmente é verdade. Tão esquecida que inclusive não despertou o interesse do público.

O filme tinha pretensões de ser ao menos indicado ao Oscar mas sua má repercussão de público e crítica atrapalhou os planos da Fox. E o que há de errado com o filme? A direção de Mira Nair perdeu o foco. Ao invés de se concentrar nos feitos mais heróicos e aventureiros da vida da aviadora (o que era de se esperar) a diretora preferiu mostrar muito mais seu relacionamento com o marido (Richard Gere, em papel coadjuvante de luxo). O que era um filme de aventuras virou um romance açucarado demais. Some-se a isso o fato da atriz Hilary Swank não estar bem no papel. Vacilante, não consegue convencer ao espectador que é uma mulher á frente de seu tempo (no máximo ela passa a impressão de que é uma criadora de casos, uma encrenqueira). Tecnicamente não há o que se criticar – o filme é muito bem realizado, com efeitos digitais que se encaixam perfeitamente na proposta da história. O problema é que infelizmente o tempo é o senhor de tudo e Amelia Eckhart e seus feitos parecem datados demais para os dias altamente tecnológicos em que vivemos. Mesmo com esses problemas pontuais recomendo Amelia, não só em respeito a essa mulher que perdeu sua vida por uma boa causa como também pelo fato de ser um filme de memória, que visa resgatar sua figura, a tirando da obscuridade das páginas amareladas do tempo.

Amelia (Amelia, Estados Unidos, 2009) Direção: Mira Nair / Roteiro: Ronald Bass,  Anna Hamilton Phelan baseados nos livros "East To The Dawn: The Life of Amelia Earhart" de Susan Butler e "The Sound of Wings: The Life of Amelia Earhart" de Mary S. Lovell / Elenco: Hilary Swank, Ewan McGregor, Richard Gere, Christopher Eccleston, Joe Anderson, Cherry Jones, Mia Wasiwoska / Sinopse: O filme narra a história de Amelia Earhart, aviadora pioneira que tinha um sonho: ser a primeira mulher a dar a volta ao mundo em um avião.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Rocky, Um Lutador

Sylvester Stallone era apenas um jovem aspirante a ator, desempregado e em sérias dificuldades financeiras quando criou seu mais célebre personagem, o boxeador Rocky Balboa. Na época Sly estava casado, com filho pequeno em casa, mas sem nenhuma perspectiva de crescer na carreira e na profissão. Muitos estúdios tinham simplesmente batido a porta em sua cara, afirmando que ele definitivamente não tinha boa aparência e nem vocação para ser um astro de primeira linha. Foi nessa fase difícil de sua vida que casualmente Stallone viu um fato que lhe trouxe inspiração imediata. Naquele mês Nova Iorque não comentava outra coisa: no fim de semana haveria uma luta entre o campeão mundial de pesos pesados e um boxeador de segunda linha, completamente desconhecido e sem expressão. Na vida real o campeão colocou o novato a nocaute logo nos primeiros minutos de luta, mas Stallone pensou diferente. Que tal escrever um roteiro onde o pequeno lutador saísse consagrado ao derrotar o arrogante e vaidoso campeão do mundo? Nasceu assim Rocky Balboa. Foi certamente uma idéia genial. Não é surpresa para ninguém que Stallone tenha levado ao seu texto vários aspectos de sua própria vida pessoal. As humilhações, as negativas, as piadinhas debochando de seu velho sonho de se tornar um ator de sucesso, tudo está lá na estória de seu personagem mais famoso. Misturando fatos reais com ficção Stallone realmente criou um personagem muito humano, cuja estória tocava fundo na vida de muitas pessoas. Era um grande script e certamente alguém se interessaria em produzi-lo.

De fato muitos mostraram interesse. Os estúdios viram ali uma excelente estória mas queriam realizar o filme com um astro famoso e não com Stallone no papel principal, afinal ele era naquele momento um perfeito Zé Ninguém. Passando necessidades financeiras o ator teve que ter muita personalidade para bater de frente com os estúdios. Ou ele faria Rocky Balboa ou ninguém mais teria os direitos de filmagem daquele roteiro. Após uma verdadeira queda de braço, Stallone conseguiu vencer e foi escalado para interpretar o próprio personagem que criara. Foi a virada definitiva de sua carreira artística. Assim que chegou aos cinemas o filme estourou nas bilheterias. A estória muito tocante da vida de um boxeador desconhecido que conseguia vencer o grande campeão mundial de pesos pesados caiu no gosto de público e crítica. A própria vida de Stallone, aquele ator que ninguém conhecia, também serviu para abrilhantar ainda mais a promoção do filme. Todos queriam saber a história de sua vida pessoal. De certa forma o filme era também a história de sua vida, adaptada para o mundo dos esportes com um personagem de ficção. “Rocky, Um Lutador” se tornou um campeão de bilheteria em seu ano de lançamento e aclamado pela crítica conseguiu abocanhar os principais Oscars da Academia. Venceu nas categorias Melhor Filme, Melhor Diretor (John G. Avidsen) e Melhor Edição. O próprio Sylvester Stallone foi indicado ao Oscar de Melhor Ator mas não venceu (foi sua única indicação na carreira). No saldo final “Rocky,  um Lutador” se tornou aquele tipo de filme onde fatos reais e ficção se misturam maravilhosamente bem, tudo resultando em um filme inesquecível na história do cinema.

Rocky, Um Lutador (Rocky, Estados Unidos, 1976) Direção: John G. Avildsen / Roteiro: Sylvester Stallone / Elenco: Sylvester Stallone, Talia Shire, Burt Young, Carl Weathers, Burgess Meredith, Thayer David, Joe Spinelli, Jimmy Gambina / Sinopse: Rocky Balboa (Sylvester Stallone) é um boxeador desconhecido que ganha a grande chance de sua vida ao enfrentar o campeão mundial de pesos pesados, Apollo Creed (Carl Weathers).

Pablo Aluísio.

A Fúria de Simuroc

Um grupo de jovens decide fazer turismo no interior da Irlanda durante as férias escolares. Após alugarem um veículo adequado para esse tipo de jornada colocam o pé na estrada. Tudo corre muito bem, com brincadeiras e paqueras, até que decidem parar para abastecer em um posto no meio do nada. Lá encontram alguns tipos esquisitos, moradores locais completamente estranhos, que os avisam que é perigoso transitar sozinhos por aquela região. Após se desentenderem com alguns caipiras no local eles tentam sair rapidamente do posto mas na pressa atropelam uma velha cigana que em seus últimos momentos de vida os amaldiçoam com a “fúria de Simuroc” – algo que inicialmente não entendem mas que depois vão compreender perfeitamente quando passam a ser caçados e atacados por uma ave de rapina monstruosa e gigante que não parece desistir do objetivo de devorar  cada um dos jovens turistas.

Bom, pela sinopse já deu para perceber do que se trata esse filme. Aliás você sabe o que Criptozoologia? O nome é complicado mas a definição é simples, pois se trata do estudo de seres mitológicos, folclóricos e místicos. O tal monstro alado desse filme se enquadra bem nisso. Nada contra filmes de monstros e tudo mais. O problema é quando eles não se tornam divertidos e nem assustadores. É o caso desse “A Fúria de Simuroc”. No começo você até fica interessado em saber quando o tal bicho vai começar a atacar e tudo mais. Infelizmente as expectativas vão logo para o ralo. O tal Simuroc é um monstrengo digital muito desengonçado e desarticulado que mais causa risos do que medo. Além de mal feito o filme faz mal uso dele. Seus ataques são em plena luz do dia, sem clima de terror nenhum e completamente risíveis.  O roteiro é puro clichê com todos aqueles jovens sendo mortos um a um sem qualquer traço de criatividade em suas mortes. O elenco é todo desconhecido do grande público com exceção de Stephen Rea que deve estar passando por alguma dificuldade financeira para aceitar trabalhar numa coisa dessas. A produção é do canal Syfy que tem realizado cada coisa ruim que vou te contar. Enfim, se ainda não viu não perca seu tempo com isso. Melhor rever “Os Pássaros” do velho e bom Hitchcock, aquele sim era um filme de verdade.

A Fúria de Simuroc (Roadkill, Estados Unidos, Irlanda, 2011) Direção: Johannes Roberts / Roteiro: Rick Suvalle / Elenco: Stephen Rea, Oliver James, Eliza Bennett  / Sinopse: Grupo de jovens começam a ser atacados por um monstro alado durante uma viagem de turismo pela interior da Irlanda.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Rasputin

Grigori Yefimovich Rasputin (1869 – 1916) foi uma das figuras mais marcantes da Rússia czarista. De origem camponesa caiu nas graças da nobreza ao se tornar próximo da família Romanov. Acontece que o filho herdeiro do Czar Nicolau II sofria de hemofilia, o que colocava em risco o futuro da dinastia. O menor ferimento poderia levar o garoto à morte. Além disso sofria enormes dores que deixavam sua mãe, Alexandra, em completo desespero. Foi nesse momento de agonia e aflição que Rasputin surge no palácio imperial. Dono de uma imagem marcante (barbas longas, roupa de monge religioso e olhar vidrado) ele acabou impressionando Alexandra que, sem saber o que fazer, deixou Rasputin fazer uma oração aos pés da cama do pequeno Alexei. De um jeito ou outro o fato foi que o garoto realmente se recuperou da crise pela qual passava. Alexandra era uma mulher mística que acreditava em poderes sobrenaturais e esotéricos. Logo avisou a Nicolau que não deixasse mais Rasputin ir muito longe pois o jovem herdeiro Alexei precisava de sua presença para superar seus problemas de saúde. Após ganhar a confiança da família Romanov, o estranho Rasputin passou a ser cortejado por diversos nobres ansiosos para gozarem de favores da monarquia. Não tardou para o antes anônimo e sinistro religioso da Sibéria começasse a desfrutar de um prestigio e influência sem precedentes na corte do Czar.

Entendendo completamente sua nova posição o “religioso” Rasputin começou a abusar de sua posição dentro da nobreza. Participava de orgias, festas mundanas e todo tipo de extravagância. No fundo muito provavelmente não passava de um charlatão mas sabia muito bem vender sua imagem messiânica para aquela nobreza decadente e obtusa. Obviamente começou também a colecionar muitos inimigos, reais e imaginários, até que nas vésperas da revolução comunista Russa sofreu um atentado a tiros, punhaladas e facadas. Era um homem tão robusto e forte que mesmo assim não conseguiu ser morto. Foi preciso que seus assassinos o jogassem em um rio congelado para que finalmente morresse afogado e de hipotermia. Como se pode se perceber a história de Rasputin tem todos os elementos para gerar um grande filme. Há intrigas palacianas, escândalos envolvendo a alta nobreza e fanatismo religioso, tudo em doses fartas. Esse filme “Rasputin” conta tudo isso mas infelizmente passou bem despercebido em seu lançamento (no Brasil o filme foi direto para o mercado de vídeo e não passou nos cinemas). É uma pena porque embora não seja em nenhum momento brilhante é uma produção muito eficiente e competente em contar a história do monge louco da Sibéria. Alan Rickman foi bem escolhido para viver Rasputin. Ele naturalmente já tem aquele tipo de olhar doentio e fanatizado que marcou tanto o personagem histórico. Além disso consegue ser plenamente convincente em sua atuação. O único problema é que o verdadeiro Rasputin era um gigante com quase dois metros de altura e Rickman tem um porte bem mais franzino. Não faz mal. Não deixarei de recomendar o filme por causa desses detalhes. Fica então a dica, “Rasputin”, a história que a dinastia Romanov gostaria que não fosse contada. 

Rasputin (Rasputin, Estados Unidos, 1996) Direção: Uli Edel / Roteiro: Peter Pruce / Elenco: Alan Rickman, Greta Scacchi, Ian McKellen / Sinopse: O filme narra a história do monge místico Rasputin (Alan Rickman) que na Rússia Czarista ganhou a confiança da família Romanov após amenizar o sofrimento do pequeno Alexei, herdeiro do trono.

Pablo Aluísio.

A Hospedeira

Atenção fãs da saga “Crepúsculo” chega agora aos cinemas mais um filme baseado na obra da escritora Stephenie Meyer. Saem os vampiros adolescentes e entra em cena um mundo futurista, nada animador para a humanidade em geral. A terra está sob o domínio de uma raça de alienígenas parasitas, que dominam os seres humanos de corpo e mente. Nesse ambiente hostil Melanie (Saoirse Ronan) e Jared (Max Irons) vivem uma história de amor improvável que logo entra em choque com os interesses dos ETs invasores. O casal faz parte de um movimento de resistência que combate os seres provenientes de outro planeta. Tudo começa a mudar quando Melanie é capturada por Peregrina (Diane Kruger), que pretende usar as lembranças de sua prisioneira para localizar os demais rebeldes mas o tiro acaba saindo pela culatra pois ela própria acaba se apaixonando por Jared também!

Bom, pela sinopse já deu para perceber que lógica não é o forte desse novo filme baseado em livro de Stephenie Meyer. Na verdade todo o mundo futurista, todos os problemas provenientes da invasão alienígena na Terra, todo esse contexto é mera desculpa para Meyer desfilar mais uma estória de amor que lembra bastante o romance que imperou em “Crepúsculo”. Aqui a adaptação se mostra mais complicada porque verdade seja dita, nem tudo que funciona na literatura se sai bem na tela de cinema. O enredo se desenvolve aos trancos e barrancos, com um contexto confuso, muitas vezes sem sentido nenhum, que acaba cansando o espectador na sua vã tentativa de entender tudo que se passa naquele universo. O roteiro também não explica praticamente coisa nenhuma – de onde veio os alienígenas, como foi a conquista do nosso planeta, o que de fato aconteceu – nada é explicado! Tudo é meio que jogado para o espectador e ele fica no dilema se compra ou não a estranha idéia. Na verdade pouca coisa é original, com idéias copiadas de vários e vários outros filmes do passado, entre eles “Invasores de Corpos”, “Vampiros de Almas”, “Eles Vivem” e produções semelhantes. Mas esqueça tudo isso, “A Hospedeira” nem é uma ficção de verdade, está mais para romance adolescente (como sempre em se tratando de Stephenie Meyer). Se faz seu estilo assista, caso contrário é melhor deixar pra lá.

A Hospedeira (The Host, Estados Unidos, 2013) Direção: Andrew Niccol / Roteiro: Andrew Niccol baseado na obra de Stephenie Meyer / Elenco: Diane Kruger, Saoirse Ronan, Frances Fisher, Max Irons, Jake Abel, William Hurt / Sinopse: Em um mundo dominado por uma estranha raça alienígena parasita um casal de namorados ousa viver uma grande estória de amor.

Pablo Aluísio.

King Kong

O personagem King Kong é um dos mais famosos da história do cinema. Surgiu pela primeira vez nas telas na década de 1930 em um filme dos estúdios RKO. Na sociedade americana imperava a grande depressão e o filme investia em um mundo de realismo fantástico, com muita aventura e ação, pautada por efeitos especiais de encher os olhos. Era a forma de trazer um alívio para aqueles anos de muito desemprego e falta de esperanças. A fórmula se tornou certeira e o gorilão caiu imediatamente no gosto do grande público que encheu as salas de cinemas. Muitas décadas depois King Kong voltaria às telas, com nova roupagem e efeitos especiais. Era a década de 70, quando os filmes de ficção e fantasia estavam em alta. Era um bom filme mas não escapou das criticas por causa da tentativa de modernizar demais a estória. Peter Jackson era apenas um jovem quando assistiu a esse segundo King Kong nas telas e por muitos anos cultivou o sonho de um dia dirigir algo realmente definitivo sobre o monstro. A chance finalmente lhe caiu nas mãos após o imenso sucesso de bilheteria da trilogia “O Senhor dos Anéis”.  Com carta branca e orçamento literalmente monstruoso (mais de 200 milhões de dólares), Jackson finalmente começou a tornar realidade seu velho sonho de trazer o rei Kong de volta à sua merecida grandiosidade.

O resultado final mostra um filme muito bom mas que não consegue ser excelente por causa de alguns equívocos do roteiro. É certo que há muitas coisas boas no texto como, por exemplo, trazer a estória do filme de volta à década de 30 (na mesma época em que o King Kong original foi lançado). Outro ponto positivo foi resguardar a aparição de Kong o máximo possível criando assim uma expectativa no público.  O problema porém surge logo após King Kong surgir em cena. A overdose de efeitos digitais (principalmente nas cenas em que o gorila entra em uma briga épica contra dinossauros) acaba desviando o foco principal do que é o mais importante nesse filme, a relação de amizade entre o enorme monstro e a delicada e bela heroína que acaba ganhando a afeição do gigante. Peter Jackson parece vacilar na direção, se garantindo numa série de cenas com muitos efeitos digitais que podem impressionar o público mais jovem mas que acabam soando desnecessários e gratuitos para os cinéfilos com mais bagagem. O saldo final é bom, não há como negar, mas perdeu-se a chance de realmente produzir a obra definitiva com King Kong. Claro que nada poderá superar o charme e o carisma do primeiro filme, o original. Poderiam ter realizado algo mais equilibrado e focado nas principais características da estória original mas isso infelizmente não ocorreu aqui nesse remake.

King Kong (King Kong, Estados Unidos, 2005) Direção: Peter Jackson / Roteiro: Peter Jackson, Fran Walsh, Philippa Boyens / Elenco: Naomi Watts, Jack Black, Adrien Brody, Thomas Kretschmann, Colin Hanks, Andy Serkis, Evan Parke, Jamie Bell, Lobo Chan, John Sumner, Craig Hall, Kyle Chandler, William Johnson / Sinopse: O diretor Carl Dehnam (Jack Black) lidera uma expedição até uma ilha remota perdida no meio do oceano para verificar se uma antiga lenda sobre um gorila gigante realmente tem algum fundo de verdade. Chegando lá ele finalmente consegue ver o monstro mitológico. Não satisfeito resolve capturar King Kong para levá-lo até os EUA onde pretende explorar comercialmente o animal, uma decisão de que ele se arrependerá amargamente depois.

Pablo Aluísio.