sábado, 1 de outubro de 2011

História & Literatura - Edição I

A cabeça de Maria Antonieta
A revolução francesa foi extremamente violenta, com nuances de incivilidade e barbarismo. A Guilhotina virou símbolo daqueles tempos, uma máquina feita para decapitar os assim denominados "inimigos da revolução". Uma das pessoas que foram mortas pela guilhotina foi a Rainha Maria Antonieta. Ele era a filha austríaca da grande imperatriz Maria Teresa da Áustria. Numa série de acordos políticos acabou se casando com o futuro Rei Luís XVI. E morreu alguns dias após a morte do marido.

Maria Antonieta foi guilhotinada pela revolução francesa. Sua cabeça foi então enviada para Madame Anna Maria "Marie" Tussaud, que fez uma réplica perfeita dela, para exposição em seu museu de bonecos de cera. O curioso é que Madame tinha conhecido pessoalmente Maria Antonieta, gostava dela, achava uma pessoa agradável no convívio social. Ter que segurar a cabeça da monarca deposta em suas mãos e ainda ter que fazer uma réplica de cera foi um verdadeiro terror para ela. Porém Madame tinha medo de também ser morta pelos revolucionários, a tal ponto que ela fez várias réplicas de cabeças decapitadas, de vários nobre e até de revolucionários como Robespierre. Eram tempos de terror absoluto.

Os restos mortais da Rainha Maria Antonieta foram jogados em uma vala comum. O coverio jogou uma pá de cal sobre eles, para acelerar a decomposição e evitar contaminações. Foi um triste fim para uma das monarcas mais marcantes da história da Europa absolutista. Já a réplica da cabeça da monarca ficou com Madame Tussaud até o fim de seus dias. Infelizmente essa peça de arte histórica se perdeu em um incêndio de seu museu durante o começo do século XX. Só sobraram fotos da peça original. Uma pena, ainda hoje teria sido um artefato muito importante para historiadores em geral. 

Napoleão – Uma Biografia Literária
Que Alexandre Dumas foi um grande escritor, disso ninguém tem dúvidas. Porém esse livro, até bem pouco conhecido da bibliografia do autor, revela uma outra face, bem mais humana, mostrando um lado dele que não era necessário chegar ao conhecimento de seus leitores. Estou me referindo ao lado bajulador. Isso mesmo que você leu. Durante todos os capítulos, Dumas não esconde o que na realidade está fazendo. Ele escreveu um livro que é pura bajulação do imperador Napoleão Bonaparte.

E da essência do ser humano muitas vezes bajular algum homem poderoso para receber favores em troca. Ao que me pareceu, lendo esse livro, foi que Dumas exagerou na dose. Ficou parecendo um reles puxa-saco, algo que fica feio na biografia de alguém tão celebrado.

As páginas se enchem de elogios descabidos ao imperador, ora o retratando como um novo César, ora o pintando com cores exageradas, tentando convencer ao leitor que ninguém mais tinha tantas qualidades como Napoleão Bonaparte. Em alguns trechos chega a ser vergonhosa a bajulação do autor para com o imperador francês. Assim o livro como um todo perde em termos de qualidade literária pura. Do jeito que foi publicado mais se pareceu mesmo com um mera propaganda política. 

A filha do imperador
Ela foi filha do homem mais poderoso de seu tempo, o Imperador Augusto. Era uma jovem rica e mimada, tinha tudo o que queria em seus mãos, mas mesmo assim não conseguiu a felicidade. Estamos falando de Júlia que passaria a ser conhecida por historiadores como Júlia, a velha. Ela era a filha única do imperador Otávio, que passou para a história como o primeiro imperador romano. Augusto, título que lhe foi dado posteriormente, significando "divino" foi considerado um ótimo administrador do Império, aquele que organizou todas as fronteiras, o exército e a grande rede de funcionários imperiais.

Quando sua filha Júlia atingiu a idade de se casar Augusto começou a interferir pesadamente na vida de sua filha. Ele a fez se casar com Agripa, braço-direito e grande amigo de Augusto. O problema é que Agripa era um homem muito mais velho, um militar da velha escola. Com mais de 50 anos de idade não tinha nada a ver com a filha de seu amigo, que era uma jovem de apenas 16 anos de idade. Porém na cabeça de Augusto não poderia haver escolha melhor. Esses meninos, seus futuros netos, iriam se tornar os futuros imperadores do Império Romano. Era necessário que tivessem a mesma lealdade e prudência de seu amigo Agripa.

E assim foi feito. Júlia e Agripa tiveram dois filhos, só que por infortúnio do destino ambos morreram bem jovens. Augusto também viu sua filha se rebelar contra ele. Júlia acreditava que ter tido filhos com um homem de quem não gostava já bastava. Ela ainda se casaria com Tibério, futuro imperador, mas esse foi também outro casamento fracassado. Dizia-se que Tibério era homossexual e pedófilo. Júlia não tinha espaço em suas preferências sexuais fora do padrão. Em determinado momento de sua vida ela não queria mais nada. Queria apenas aproveitar o resto de sua vida. Acabou fazendo uma orgia em um dos lugares mais sagrados de Roma. Augusto que também era a maior autoridade religiosa do império ficou horrorizado com a heresia e o escândalo. Baniu sua filha de Roma, a expulsou do continente. Júlia acabou seus dias isolada e esquecida numa ilha distante. Morreu triste e infeliz, mesmo sendo a filha única de um dos homens mais poderosos da história.

O Faraó do Exodus
Quem era o Faraó durante o período histórico retratado na Bíblia, onde os judeus deixaram os anos de escravidão no Egito para trás? Eis uma pergunta que nem os historiadores e nem muito menos os arqueólogos sabem responder. Faltam evidências para determinar com precisão. Muitos acreditam que Ramsés II, o grande, provavelmente fosse o faraó do Egito antigo durante o exodus, mas isso não é confirmado nem pelo velho testamento e nem por inscrições do povo do Egito antigo.

Aliás é bom salientar que os hieróglifos nada dizem sobre o Exodus. Silencia completo. Moisés não é citado em lugar nenhum, embora na Bíblia ele fosse associado, no começo de sua juventude, a uma família nobre do Egito. Não há ou pelo menos até hoje, nunca foi encontrado nada sobre Moisés nos textos do Egito antigo. Isso, claro, levanta dúvidas. Seria Moisés apenas um personagem de literatura ou teria sido um homem que realmente existiu? Mais uma pergunta sem resposta precisa.

Se Ramsés II era o faraó do Egito antigo durante a era de Moisés ele teria presenciado a abertura do Mar Vermelho por Deus, ele teria ido atrás do povo judeu pelo deserto, tal como foi registrado no Velho Testamento. Porém nos milhares de hieróglifos escritos sobre Ramsés II em templos e palácios do Egito, nada foi encontrado sobre esses eventos. E se existissem tais inscrições elas seriam sem dúvida um dos maiores achados arqueológicos de toda a história. Algo comparado ao descobrimento da tumba do Rei Tutsi. Porém, infelizmente, nada nesse sentido foi encontrado até os dias atuais. Quem sabe esteja enterrado nas areias do deserto, esperando pelo dia de seu descobrimento. 

Morte na Cruz: Execução Romana
Os romanos provavelmente aprenderam a executar seus inimigos na cruz ao tomar conhecimento desse tipo de tortura e morte no norte da África, durante expedições de conquista. Depois disso os romanos copiaram esse tipo de execução para suas legiões. A morte na cruz era proibida para cidadãos de Roma, segundo as mais antigas leis da República e Império. Esse tipo de morte na cruz era reservada aos não romanos, aos escravos e aos condenados por rebelião contra o Estado romano e sua dominação.

Historicamente o mais conhecido crucificado pelo império romano foi Jesus de Nazaré. Judeu, de origem humilde, ele foi condenado à morte depois de problemas envolvendo seus seguidores e ele mesmo no Templo de Jerusalém. Jesus foi preso, torturado e depois crucificado fora dos portões da cidade. Segundo o texto do novo testamento ele foi sepultado e depois ressuscitou do mundo dos mortos, mostrando seu lado divino.

Para os historiadores essa é uma questão de fé. De modo em geral os que eram executados na cruz por Roma ali ficavam. Não eram sepultados. Possa ser que Jesus, por ser um líder religioso, tenha sido uma exceção. Porém para os demais não havia salvação. Eles morriam na cruz e ali ficavam por dias e dias. Aves de rapina comiam parte de seus corpos. Depois que os corpos entravam em decomposição e caíam da cruz, cães e outros animais famintos comiam os restos dos executados.

Era uma cena de puro barbarismo, violência e tortura extrema, mesmo para os padrões violentos do mundo antigo. Também era uma morte lenta e profundamente dolorosa. Segundo especialistas Jesus pode ter morrido de uma parada cardíaca ou então de uma hemorragia interna generalizada. A posição na cruz impedia a respiração, o que poderia ter causada sua morte também por essa razão. De uma forma ou outra a crucificação mostrava o lado mais opressar do mundo romano. Era uma forma vil de morrer e também uma maneira de passar uma mensagem para todos os que desafiavam o império romano.

Pablo Aluísio.

Beethoven - Bernard Fauconnier

Algumas vezes as pessoas se esquecem que até mesmo os maiores gênios da humanidade também foram seres humanos. Pessoas que tinham problemas com dívidas, brigas familiares, falta de emprego, incompreensão de seus financiadores, patrocinadores, etc. Por essa razão gostei bastante dessa biografia de Beethoven. Aqui surge seu lado mais humano, mais controverso. O músico que vemos nessas páginas não é o compositor magistral, genial, inalcançável. O que vemos aqui é acima de tudo uma história de um ser humano, com falhas, problemas, vitórias e derrotas, como todos nós.

E como Beethoven tinha problemas... Ele tinha problemas familiares, com um sobrinho que sempre estava lhe trazendo dores de cabeça. Tinha problemas financeiros pois nem sempre tinha dinheiro suficiente para saldar suas dívidas, afinal ele era um trabalhador como qualquer outro de seu tempo. Tinha problemas emocionais, pois não conseguia ter um relacionamento longo, firme e duradouro com nenhuma mulher e, como se tudo isso não fosse o bastante, ainda tinha problemas de saúde. O pior deles era a perda de sua audição. Criador de algumas das músicas mais belas de todos os tempos, em determinado momento de sua vida ele não conseguia mais ouvi-las.

Outro aspecto a se considerar é que o escritor Bernard Fauconnier escreveu uma biografia bem objetiva. Veja, não é um livro para se emocionar com o estilo da escrita. Não, longe disso. É um livro para reter informações sobre o compositor, tudo absorvido de forma rápida, sem maiores delongas. O conhecimento é passado ao leitor, mas sem rodeios, sem palavras desnecessárias. Assim se você estiver em busca de alguma biografia de Ludwig van Beethoven que vá direto ao ponto, não teria nenhuma outra recomendação melhor a lhe passar.

Por essa razão também sou defensor que biografias como essa sejam lançadas em formato de livro de bolso. Qualquer um, em seus pequenos momentos de folga, poderá folhear o livro, conhecendo sua história, absorvendo conhecimento histórico. Simples e prático. Por fim, uma pequena dica de leitura. Leia ao livro ouvindo a música de Beethoven em fones de ouvido. A imersão será muito boa e você irá receber cultura em dose dupla, tanto das páginas de literatura, como também da música clássica que estará absorvendo naquele momento. Algo muito gratificante, para engrandecer a alma.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Jim Morrison - Verdades e Mentiras

Como todo rockstar que se preze Jim Morrison, o vocalista do grupo The Doors, teve uma vida cheia de histórias mal contadas, fatos misturados com ficção e meias verdades. Visando separar o que realmente é verdade e o que é pura invenção resolvi escrever esse texto desmitificando algumas histórias que envolvem o nome de Jim Morrison.

Jim Morrison realmente mostrou seu pênis ao público?
Um dos fatos mais conhecidos da carreira de Morrison surgiu quando ele se apresentou escandalosamente em Miami na Flórida. Completamente narcotizado e alcoolizado o cantor subiu ao palco sem a menor condição de se apresentar ao vivo e no meio de várias frases desconexas e ofensivas dirigidos à plateia ele supostamente teria mostrado seu órgão sexual ao público. O fato escandalizou muito a sociedade americana e Morrison foi processado até seus últimos dias de vida por isso. Deixando todo o moralismo de lado ficou a pergunta: Houve mesmo exposição indevida por parte de Morrison? A resposta é não. Centenas de fotos foram tiradas naquele momento e nenhuma delas mostra o órgão sexual do cantor exposto ao público. O que existem são realmente poses provocativas por parte de Morrison, inclusive segurando seu pênis no palco mas esse estava devidamente dentro de suas calças. O fato de não se provar que Morrison mostrou sua genitália ou não acabou sendo deixado de lado já que se vivia naquela época uma verdadeira caça às bruxas contra grupos como The Doors. Morrison assim virou alvo fácil dos moralistas de plantão e bode expiatório para a camada mais conservadora da sociedade americana.

O Baterista dos Doors realmente odiava Morrison?
Certamente havia uma certa tensão entre Morrison e Densmore. A origem dos atritos não se resumiam apenas na irresponsabilidade por parte de Jim em relação aos compromissos do grupo mas também do ponto de vista musical. A tensão chegou ao auge durante as gravações do disco "LA Woman" quando o baterista qualificou as músicas do álbum como entediantes e sem pegada. Na ocasião ele afirmou: "Essas músicas de blues podem até ser interessantes para um vocalista como Jim, mas para um baterista como eu são entediantes demais". Depois que Jim se mandou para Paris, Densmore fo um dos principais incentivadores da gravação de um álbum completamente instrumental. Na ocasião chegou a dizer que os Doors não precisavam mais de Jim Morrison. Desnecessário lembrar que o tal disco instrumental foi um fracasso de crítica e de público.

Como era o relacionamento de Jim com sua família?
Jim sempre foi rebelde além do que seria tolerado dentro da família de um oficial da marinha dos EUA. Seu pai estava sempre em pé de guerra com Jim desde a adolescência. Não era para menos, uma vez que Morrison estava sempre envolvido em problemas (chegou inclusive a ser preso ainda na menoridade por um delito menor). Embora fosse considerado inteligente e bom aluno, Jim foi criando ao longo dos anos uma grande aversão à autoridade, principalmente em relação a seu pai. Quando foi para a universidade Morrison finalmente encontrou a liberdade que tanto buscava. Se matriculou em várias disciplinas no campus mas não mostrou qualquer interesse em levar adiante seu curso. Ao invés disso preferia ficar vagando pelas praias de Venice Beach, interagindo com a estranha fauna local. Depois que o grupo estourou nas paradas Jim chegou ao ponto de informar para a imprensa que seus pais estavam mortos. Mais tarde eles acabaram indo a um show do grupo mas Jim se recusou a encontrá-los nos bastidores. Depois disso nunca mais entrou em contato ou falou com eles novamente.

Morrison realmente virou um mendigo na Califórnia antes do sucesso?
Não, muito embora sua situação não fosse muito diferente da de um "sem teto" na época. Morrison foi morar em um depósito abandonado perto de Venice Beach mas só o usava esporadicamente. O resto do tempo passava como um errante nas praias da região. Sempre à vontade, sem camisa, Morrison vagava pelas redondezas atrás de drogas e qualquer tipo de diversão, seja na praia, seja fora dela. Foi sua fase de maior liberdade pessoal. Embora matriculado na universidade não frequentava as aulas e não demonstrava qualquer interesse em se formar em qualquer curso. Foi assim, andando a esmo, que ele acabou conhecendo Ray Manzarek, que iria formar ao seu lado o grupo The Doors. O resto é história.

Jim forjou sua própria morte?
Muito provavelmente não. O que existem são teorias da conspiração - cada uma mais imaginativa do que a outra. Para quem acredita a mais conhecida é a de que ele forjou sua própria morte em Paris e fugiu para a África por dois motivos: queria seguir os passos de seu ídolo, o poeta maldito Rimbaud e procurava também fugir da lei americana, pois estava condenado por atentado ao pudor e exibição indecorosa nas cortes daquele país após o infame show da Flórida. Muito provavelmente por causa dessas condenações não escaparia da prisão, mesmo que sua pena não fosse muito longa. Esse tipo de teoria não merece maior atenção. É por si só muito imaginativa e criativa mas longe da realidade dos fatos. O primeiro problema seria explicar como as autoridades francesas entrariam dentro da conspiração pois seu corpo seguiu todos os procedimentos burocráticos determinados por lei após sua morte (expedição de atestado de óbito, exame da causa mortis, etc). Assim seu falecimento foi atestado oficialmente, sem possibilidade de qualquer alteração. Além disso praticamente todas as mortes de pessoas famosas nos EUA acabam gerando algum tipo de teoria da conspiração como ocorreu com Elvis, JFK, Marilyn Monroe e James Dean. Com Morrison também não seria diferente o que tira qualquer credibilidade de histórias como essa.

Por que Morrison foi enterrado em Paris?
Ao falecer Jim estava em Paris com sua namorada Pam. Queria escrever e absorver o clima artístico local. Alguns autores afirmam que Jim estava em Paris com receio de ser decretada sua prisão definitiva nos EUA. Como a França não teria tratado de extradição com os EUA ele procurava uma forma legal de não ir parar atrás das grades. O fato é controverso e ainda paira muitas dúvidas sobre as reais intenções de Jim em relação a sua estadia em Paris. Muito provavelmente apenas sua namorada Pamela sabia o que ele realmente desejava com essa viagem.

O que aconteceu com Pamela Courson após a morte de Jim Morrison?
Pamela morreu de overdose de drogas em 25 de abril de 1974. Sobre as reais circunstâncias de sua morte paira uma série de dúvidas no ar. Sua família fez o possível para manter a imprensa longe dos acontecimentos mas pelo que se sabe (inclusive por relatórios oficiais da polícia) Pam teria morrido realmente de uma overdose de heroína no sofá de seu apartamento em Los Angeles. Na ocasião, sem muitos recursos financeiros, ela resolveu dividir os custos do aluguel com dois colegas que havia conhecido algum tempo antes. Ela foi sepultada em Santa Ana, Estado da Califórnia.

Como Jim Morrison é visto hoje pela crítica literária em relação aos seus poemas?
Jim não é unanimidade entre os críticos, principalmente aqueles especializados em poesia moderna e contemporânea. Muitos afirmam que Jim seria apenas um herdeiro tardio da geração beatnik e que teria herdado muito dos traços desses escritores e poetas. Dessa forma não haveria muita originalidade em seu trabalho literário.

Jim desertou da Guerra do Vietnã?
Filho de pai militar da marinha, Jim se matriculou em um número excessivo de cursos no semestre em que deveria se apresentar no serviço militar. Agindo assim conseguiu escapar de uma convocação para servir o exército, o que fatalmente lhe colocaria no front da guerra do Vietnã. Anos depois chegou a confidenciar a amigos mais próximos que teria até mesmo insinuado ao recrutador que era gay para fugir do serviço militar.

Morrison era satanista? Ele se casou em um culto de magia negra?
Jim Morrison chegou a se envolver com mulheres que gostavam desse tipo de seita mas para falar a verdade nunca levou nada muito à sério. Como certa vez disse Ray Manzarek, Jim era maconheiro e vivia rindo e se divertindo com as situações, assim muito provavelmente até mesmo seu suposto casamento em um culto de magia negra com uma de suas admiradoras não passou de uma grande piada pelo cantor.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

The Doors - When You're Strange: Um Filme sobre The Doors

Tive o prazer de assistir esse ótimo documentário ontem. Claro que não seria em apenas um filme que iriam esgotar o assunto, principalmente em se tratando de Jim Morrison, um artista que pode ser visto sob diversos pontos de vista (poeta, músico, popstar, louco, drogado, dândi etc). O que When You´re Strange consegue é dar uma ótima síntese sobre o cantor, algumas vezes de forma muito resumida e rápida, tenho que reconhecer, mas que serve como um válido ponto de introdução ao rockstar enfocado. Sempre é muito bem-vindo rever imagens históricas que capturaram Morrison nos palcos, nos bastidores e gravando em estúdio. Cantor e poeta, Morrison levava bem à sério a filosofia de viver com intensidade da geração sessentista. Aqui ele surge de forma visceral, alucinado, sem freios, tentando romper as portas da percepção.

Não gostei muito das cenas intercaladas com atores - como as sequências do suposto Jim dirigindo no deserto. Preferia que todas as imagens fossem genuínas, sem artifícios desse tipo até porque a simples presença de cenas reais com Jim já seriam mais do que suficientes. E são justamente essas imagens reais que fazem o documentário valer muito a pena. Algumas delas são bastante raras, como aquela em que Jim se junta aos fãs para comprar material promocional do The Who! Incrível esse tipo de coisa ter sobrevivido após tantos anos. Por fim, como bônus, temos a narração em off de Johnny Depp. Achei sua "atuação" um pouco sonolenta, mas nem isso prejudica o resultado final. Indico esse filme a todos os fãs dos Doors (e aos não fãs também, caso eles queiram saber um pouco mais sobre o rock dos anos 60).

When You're Strange: Um Filme Sobre The Doors (When You're Strange, Estados Unidos, 2009) / Direção de Tom DiCillo / Roteiro: Tom DiCillo / Elenco: Jim Morrison, John Desnmore, Robbie Krieger e Ray Manzarek./ Sinopse: Documentário sobre o grupo musical de rock The Doors. Liderados por Jim Morrison o grupo se tornou um dos mais importantes da segunda metade dos anos 1960 nos EUA.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Pink Floyd - Delicate Sound Of Thunder

Com o sucesso do disco A Momentary Lapse Of Reason, David Gilmour resolveu colocar o pé na estrada ao lado de seus companheiros de banda. Para fazer jus ao nome mitológico do Pink Floyd, Gilmour não mediu esforços e resolveu trazer para os shows ao vivo do grupo o que de melhor havia no mercado em termos de aparatos técnicos e sonoros. A volta do conjunto aos palcos deveria acontecer em grande estilo e ele estava completamente concentrado em provar que o Floyd funcionaria bem, mesmo sem a presença de Waters. A ideia ganhou grandes dimensões conforme as apresentações iam acontecendo e Gilmour então resolveu transformar tudo em um grande projeto multimídia trazendo os novos lançamentos do Pink Floyd ao mercado em todas os segmentos culturais possíveis (na época Delicate foi lançado não apenas como álbum duplo, mas também em filme VHS para venda direta e K7). A idéia era não só ressuscitar a banda mas também conquistar uma nova legião de fãs entre os mais jovens, que apenas conheciam o Floyd de nome. Para isso os concertos ao vivo deveriam ser marcantes. E acredite, Gilmour conseguiu alcançar todos os objetivos que havia traçado.

Delicate Sound of Thunder foi gravado em Long Island, Nova Iorque, numa série de cinco concertos que o grupo fez no Nassau Coliseum. No repertório David Gilmour resolveu não arriscar muito e investiu nos maiores sucessos do Pink Floyd da década anterior. Três das maiores obras do conjunto serviram de referência no projeto ao vivo: Dark Side Of The Moon, Wish You Were Here e The Wall. As novas canções do último disco também foram lembradas, para dar um toque de contemporaneidade aos shows em si. O álbum abre com uma das melhores versões ao vivo de Shine On You Crazy Diamond, canção do disco Wish You Were Here. Como todos sabem essa música havia sido composta em homenagem ao ex-líder Syd Barrett. Depois desse pequeno momento revival somos apresentados ao novo material do disco A Momentary Lapse of Reason. Interessante notar que Gilmour não se fez de rogado e levou as novas faixas em peso para os concertos. Isso prova que ele não teve nenhum receio ou medo com as críticas e comparações que poderiam ser feitas após a saída de Waters. Seguro de si, Gilmour apresentou com orgulho praticamente todo o repertório novo do recém lançado trabalho do Pink Floyd. O destaque fica mais uma vez com On The Turning Away, extremamente bem executada por Gilmour e o grupo de apoio (que contava não apenas com Wright e Mason, mas com uma verdadeira equipe de músicos talentosos que em muito acrescentaram na sonoridade dos novos arranjos).

O ciclo se fecha com as canções da época de ouro do Pink Floyd: Money e Time fazem uma dobradinha deliciosa, lembrando seu maior sucesso, Dark Side of The Moon (que depois seria levado na íntegra ao vivo no disco PULSE, outro marco da era David Gilmour). One of These Days por sua vez ganha um nova roupagem sonora, mudança que pode ser sentida também no hit Another Brick in the Wall (Part 2). De todas as releituras porém nenhuma se compara a Comfortably Numb, faixa impecável onde David Gilmour demonstra sem rodeios porque é considerado um dos maiores guitarristas da história do Rock. Um fantástico momento de êxtase sonoro. Delicate Sound of Thunder veio coroar o incrível trabalho de renascimento do Pink Floyd promovido por David Gilmour. Uma iniciativa que merece todos os nossos aplausos. Através de seu esforço pessoal Gilmour mostrou que o Pink Floyd não havia morrido e que ainda era capaz de emitir um delicado som de trovão por onde passasse.

Pink Floyd - A Momentary Lapse of Reason - Parte 1
Dos escombros de uma briga judicial que parecia nunca ter fim o Pink Floyd finalmente ressuscitou na segunda metade dos anos 80. Agora liderados única e exclusivamente por David Gilmour, o novo grupo tinha a proposta de levantar o nome da banda, tão desgastada por causa das brigas entre Gilmour e Roger Waters. Esse último tentou impedir nos tribunais ingleses o uso do nome "Pink Floyd" pelos demais membros do conjunto. Assim David Gilmour precisou lutar muito para que ele e seus companheiros Nick Mason e Richard Wright tivessem o direito de usar o nome em um novo álbum. Esse disco acabou sendo chamado de "A Momentary Lapse of Reason". Apesar de todas as críticas, inclusive de Waters que jamais reconheceu esse LP como sendo do Pink Floyd realmente, devo dizer que gostei bastante da nova proposta. David Gilmour, um dos maiores instrumentistas da história do rock, realmente realizou um trabalho bem sofisticado, muito bom de se ouvir. Não era em absoluto revolucionário, ou qualquer outra coisa do tipo, porém era digno de se usar o mitológico nome da maior banda de rock progressivo da história. O resto são lágrimas ao vento de um ressentido Roger Waters, que deveria ter ficado mesmo calado.

Pink Floyd - A Momentary Lapse of Reason - Parte 2
Poucas coisas podem ser mais chatas do que aquele grupo de fãs do Pink Floyd que vivem de ridicularizar a fase anos 80 de David Gilmour. Eu acho a opinião dessas pessoas completamente bizarra, uma vez que alguns dos meus discos preferidos da banda são dessa época. Aqueles que dizem não haver uma sonoridade genuína do Pink Floyd nesses discos precisa reavaliar urgentemente seus conceitos. "Signs of Life" que abre o álbum "A Momentary Lapse of Reason" é um exemplo disso. É uma música puramente instrumental, que começa com sons de um remo de barco. O que estaria por trás disso. Simples de explicar. Esse disco foi gravado em um estúdio flutuante mantido por Gilmour chamado Astoria. Foi uma forma que o guitarrista e novo líder do Pink Floyd encontrou de trabalhar em paz, longe das pressões do público e da crítica. A melodia foi escrita por Gilmour e o produtor Ezrin e as vozes ao fundo são as do baterista Nick Mason. A voz dele foi duplicada, como se ele estivesse conversando com ele mesmo. Essa faixa me lembra muito a sonoridade de "Atom Heart Mother". É uma lembrança óbvia dos tempos em que o Pink Floyd criava trilhas sonoras incidentais para filmes. Uma ligação com o passado mais do que pertinente.

"The Dogs of War" continuava dividindo opiniões. Eu pessoalmente considero uma faixa forte, lembrando os bons tempos do auge da criatividade do rock progressivo inglês. Muitos a consideram um momento de fragilidade de David Gilmour nesse álbum. Que tolice! A música se revelou ótima para ser tocada ao vivo por causa de sua introdução de impacto. Composta ao lado de Anthony Moore, a letra não era uma referência aos advogados que trabalharam nos inúmeros processos envolvendo Gilmour e Roger Waters como muitos disseram na época de lançamento. Na verdade os tais cães de guerra são os políticos ingleses envolvidos em casos de corrupção. É assim uma composição mais política por parte de Gilmour. Imaginem se ele conhecesse o nível de corrupção da política brasileira! Aí sim ele veria o que é de verdade um mundo cão! Para os que reclamavam dessa nova sonoridade da banda, provavelmente "One Slip" era um prato cheio! Lançada no último single extraído do disco "A Momentary Lapse of Reason" a canção nunca foi uma unanimidade. Já ouvi todo tipo de crítica contra essa música, desde que ela seria um popzinho safado dos anos 80, até que seria "latina demais", principalmente em sua introdução! Provavelmente resolveram pegar no pé do compositor Phil Manzanera, pensando se tratar de algum músico latino. Não é! Phil é inglês e escreveu a música ao lado de Gilmour durante a pré-produção do disco. Enfim, de bobagens e tolices esse mundo de fãs mais radicais do Pink Floyd está realmente bem cheio!

Pink Floyd - Delicate Sound of Thunder
Quando os primeiros acordes de "Shine on You Crazy Diamond" ecoam nesse álbum você fica até mesmo em dúvida se está mesmo ouvindo uma versão ao vivo do clássico absoluto do Pink Floyd lançado originalmente no disco "Wish You Were Here" de 1975. É tão perfeita que ficamos em dúvida se ela foi executada ao vivo. David Gilmour que nunca foi bobo nem nada, só levou feras ao palco dessa turnê. Juntando isso ao fato dele próprio ser um dos maiores guitarristas da história da música, não poderia dar em outra coisa. O registro é perfeito e arrebatador. Essa canção é uma das mais importantes da discografia do grupo. Durante anos a versão oficial foi que ela foi composta após uma visita inesperada de "Syd" Barrett ao estúdio onde os demais membros do grupo estavam gravando um novo disco. O estado de Barrett era tão ruim nesse momento, com cabelos escorrendo uma espécie de óleo, que Gilmour e Waters teriam ficado chocados com o que viram. O uso de ácido lisérgico (LSD) e outras drogas destruíram Syd do ponto de vista psicológico. Logo ele, o fundador do grupo, aquele que havia idealizado todas as bases e fundamentos do Pink Floyd, ia sendo engolido pela loucura. Uma bad trip sem volta, sem retorno. O resto do grupo sabia da sua dívida impagável com Syd e por essa razão resolveu lhe prestar essa homenagem, o que resultou em uma das músicas mais imortais do Pink Floyd. Depois desse apogeu sonoro, as coisas se acalmam um pouco e o Pink Floyd aproveita para mostrar uma música nova, "Learning to Fly" do disco "A Momentary Lapse of Reason". As viúvas de Roger Waters nunca perdoaram o fato de David Gilmour continuar com a banda após a saída de Waters. Por isso gostam de malhar todas as faixas de álbum, afirmando que o álbum nunca foi um legítimo LP do Pink Floyd, mas sim um disco solo de David Glimour que apenas usou o nome comercial do Pink Floyd. Acho essa visão tão provinciana e boboca que me recuso até mesmo a perder tempo argumentando. Esse disco é um legítimo trabalho do Pink Floyd. Estavam lá além de David Gilmour, o baterista Nick Mason e o tecladista Richard Wright. Do quinteto só faltava Syd Barret que havia enlouquecido e que não estava lá por motivos óbvios e Roger Waters, por ser um egocêntrico incurável. Por isso os fãs dessa linha mais radical deveriam baixar a bola antes de criticar um disco tão bom!

"The Dogs of War" foi lançada no disco "A Momentary Lapse of Reason". Como sabemos esse álbum foi severamente criticado pelos fãs de Roger Waters. Para eles esse não é um verdadeiro trabalho do Pink Floyd, mas sim uma picaretagem de David Gilmour que apenas usou o nome do grupo em um trabalho solo. Verdade? Não, pura bobagem. Além de ser realmente um trabalho do Pink Floyd (sem Waters, obviamente), também tem grande qualidade sonora e artística. A música foi composta como uma crítica contra determinados políticos britânicos, absurdamente submissos à política externa dos Estados Unidos. Clamando para que os cães de guerra entrem em campo sempre que Tio Sam ordenasse. Onde estaria o velho orgulho do povo inglês? Os arranjos da música também se destacam porque Gilmour trouxe um clima épico, como se você, ouvinte, estivesse dentro de um calabouço, onde monstros caninos estivessem prontos para o ataque. Talvez por forçar um pouco essa barra, parecendo em certos aspectos com uma trilha sonora, a canção tenha sido acusada de chata e pretensiosa demais. Só esqueceram esses críticos que o Pink Floyd, por muitos anos, também se especializou em compor trilhas sonoras. Eles não estavam fugindo muito do que sempre fizeram ao longo de todos esses anos. Menos criticada e muito mais bonita do ponto de vista melódico é a bela baladinha "On the Turning Away". OK, poderia certamente fazer parte de algum trabalho solo de David Gilmour, mas isso é um pouco óbvio demais. Opiniões banais devem ser descartadas. Não foi de um disco solo de David, mas sim parte de um bom LP do Pink Floyd, lançado em plenos anos 80. Por falar em anos 80... Admito que aquela sonoridade comprometeu um pouco (só um pouquinho) o resultado final desse já citado disco, o "A Momentary Lapse of Reason". Há intervenções de sax ao estilo Kenny G, que fez muitos fãs do Pink Floyd arrancarem os fios de cabelo da cabeça. O que tenho a dizer a essas pessoas é que elas precisam, acima de tudo, relaxarem para curtir melhor essa bela composição de David Gilmour. Só assim vão entender e apreciar a beleza da música como um todo. Que tal ser menos chato e apreciar uma música apenas pelas suas qualidades musicais, sem preconceitos ou visões cimentadas?

A música "Yet Another Movie" é muitas vezes criticada por não ser "uma autêntica música" do Pink Floyd! O que exatamente seria isso? Ninguém sabe responder ao certo. O que me parece é que essa má vontade vem do fato da canção ter sido parte do álbum "A Momentary Lapse of Reason", que como sabemos não contou com Roger Waters. Sem Waters, sem Pink Floyd autêntico. Essa parece ser a conclusão dessas pessoas. Em minha opinião esse pensamento é pura bobagem e até mesmo um tanto infantil. Grupos de rock se modificam ao longo dos anos. É natural que sua sonoridade também sofra mudanças, algumas vezes para melhor e outras para pior. Processo natural e completamente esperado. Essa crítica de que não faz parte do verdadeiro Pink Floyd já não pode ser dirigida para o clássico "One of These Days". Originalmente essa música fez parte do repertório consagrado do disco "Meddle". Não foi uma música que o grupo levou com frequência para os palcos nos tempos de Roger Waters, mas tem sua importância inegável dentro da discografia da banda. No vinil original do "Delicate Sound of Thunder" foi usada para abrir o disco 2 do pacote, mostrando a importância dela como mola propulsora dos shows do Pink Floyd nessa era quase que exclusivamente David Gilmour. Em relação a "Time" do "The Dark side of the Moon" já tive fases de gostar muito da música e fases de saturação dela. Também é inegável que sua harmonia pode causar um certo cansaço no ouvinte, depois de ouvi-la por anos e anos. Cansaço vai bater, seguramente. Porém, é a tal coisa, nada que tenha feito parte do "Dark Side" pode ser relegado a um segundo plano. Disco mais vendido da banda, é até hoje reverenciado como uma obra prima absoluta. De certa maneira temos que respeitar esse status das músicas desse LP.

Delicate Sound Of Thunder (1988)
01. Shine On You Crazy Diamond
02. Learning to Fly
03. Yet Another Movie
04. Round and Around
05. Sorrow
06. The Dogs of War
07. On the Turning Away
08. One of These Days
09. Time
10. Money
11. Another Brick in the Wall (Part 2)
12. Wish You Were Here
13. Comfortably Numb
14. Run Like Hell

Pablo Aluísio.

Pink Floyd - A Momentary Lapse of Reason

Quando o Pink Floyd lançou o disco The Final Cut muitos previram o seu fim. A obra não agradou ao público, encalhou nas lojas e foi impiedosamente criticada pela imprensa especializada. A mais pura verdade era que The Final Cut não era bem um projeto do Pink Floyd, mas sim de Roger Waters, naquela altura com a egomania completamente descontrolada. Com o sucesso de The Wall, Waters acreditou piamente que poderia fazer o que bem entendesse e que o restante do grupo deveria apenas seguir suas ordens cegamente. Demitiu Richard Wright do Floyd e levou até as últimas consequências sua megalomania galopante. Quando The Final Cut naufragou ele literalmente declarou à imprensa que o Pink Floyd havia chegado ao fim e ponto final.

Embora Roger Waters acreditasse nisso a ideia de colocar um fim na história do Floyd simplesmente não foi aceita pelos demais membros que começaram então uma longa batalha judicial pelo nome do grupo, para assim continuar o legado da banda britânica sozinhos, sem a presença egocêntrica de Roger Waters. Finalmente em 1987 eles conseguiram vencer a luta jurídica e liderados por David Gilmour resolveram arrumar a casa e retomar as redeas do Pink Floyd, sendo o primeiro projeto da era pós Roger Waters justamente a gravação desse belissimo LP, A Momentary Lapse of Reason. Antes de mais nada é bom avisar que Momentary não é unanimidade entre os fãs, muito menos entre as chamadas "viúvas" de Roger Waters. Para esse grupo o disco é totalmente ruim, falso, desprovido de alma, uma invenção completamente bastarda de David Gilmour para ganhar dinheiro em cima do nome mitológico do Pink Floyd. Besteira. Contando com três dos membros originais do grupo (Gilmour, Mason e Wright, reabilitado de seu vício em drogas e participante do disco como músico contratado) o LP é um sopro mais do que bem-vindo para o ressurgimento de um dos melhores conjuntos de rock da história.

Momentary Lapse or Reason abre com uma interessante colagem sonora na faixa Signs of Life. A tentativa aqui é óbvia. Gilmour tenta através de elaborada peça instrumental reviver os antigos bons momentos do Pink Floyd nos anos 70 (não faltou nem a parte de vozes ao fundo, como bem podemos ouvir em discos como Dark Side of The Moon). Learning To Fly mostra o que Gilmour tinha de melhor a oferecer ao grupo naquele momento: a sua tão conhecida habilidade em lidar com belas harmonias, fato amplamente consolidado na linda On The Turning Away. Claro que o disco não é isento de críticas: The Dogs of War, por exemplo, provavelmente não entraria nos melhores discos do Floyd na década de 70. De qualquer forma o disco conseguiu seu objetivo: fez sucesso e evitou que o Pink Floyd morresse após o lançamento de The Final Cut. Pela história e pela importância certamente o Floyd não merecia ter um fim tão inglório. Assim Momentary Lapse of Reason marca o nascimento da chamada fase Gilmour, com shows fantásticos ao redor do mundo, belos arranjos, revitalização do nome do grupo, muito sucesso comercial e consagração do grande público. Para ser sincero a única diferença realmente foi a ausência de Roger Waters, se bem que após The Final Cut poucos lamentaram sua saída. É isso, o momentâneo lapso de razão prevaleceu e nos legou mais um grande momento Floydiano. Obrigado por isso, David.
 
Pink Floyd - A Momentary Lapse of Reason - Parte 1
Dos escombros de uma briga judicial que parecia nunca ter fim o Pink Floyd finalmente ressuscitou na segunda metade dos anos 80. Agora liderados única e exclusivamente por David Gilmour, o novo grupo tinha a proposta de levantar o nome da banda, tão desgastada por causa das brigas entre Gilmour e Roger Waters. Esse último tentou impedir nos tribunais ingleses o uso do nome "Pink Floyd" pelos demais membros do conjunto. Assim David Gilmour precisou lutar muito para que ele e seus companheiros Nick Mason e Richard Wright tivessem o direito de usar o nome em um novo álbum. Esse disco acabou sendo chamado de "A Momentary Lapse of Reason". Apesar de todas as críticas, inclusive de Waters que jamais reconheceu esse LP como sendo do Pink Floyd realmente, devo dizer que gostei bastante da nova proposta. David Gilmour, um dos maiores instrumentistas da história do rock, realmente realizou um trabalho bem sofisticado, muito bom de se ouvir. Não era em absoluto revolucionário, ou qualquer outra coisa do tipo, porém era digno de se usar o mitológico nome da maior banda de rock progressivo da história. O resto são lágrimas ao vento de um ressentido Roger Waters, que deveria ter ficado mesmo calado.

Pink Floyd - A Momentary Lapse of Reason - Parte 2
Poucas coisas podem ser mais chatas do que aquele grupo de fãs do Pink Floyd que vivem de ridicularizar a fase anos 80 de David Gilmour. Eu acho a opinião dessas pessoas completamente bizarra, uma vez que alguns dos meus discos preferidos da banda são dessa época. Aqueles que dizem não haver uma sonoridade genuína do Pink Floyd nesses discos precisa reavaliar urgentemente seus conceitos. "Signs of Life" que abre o álbum "A Momentary Lapse of Reason" é um exemplo disso. É uma música puramente instrumental, que começa com sons de um remo de barco. O que estaria por trás disso. Simples de explicar. Esse disco foi gravado em um estúdio flutuante mantido por Gilmour chamado Astoria. Foi uma forma que o guitarrista e novo líder do Pink Floyd encontrou de trabalhar em paz, longe das pressões do público e da crítica. A melodia foi escrita por Gilmour e o produtor Ezrin e as vozes ao fundo são as do baterista Nick Mason. A voz dele foi duplicada, como se ele estivesse conversando com ele mesmo. Essa faixa me lembra muito a sonoridade de "Atom Heart Mother". É uma lembrança óbvia dos tempos em que o Pink Floyd criava trilhas sonoras incidentais para filmes. Uma ligação com o passado mais do que pertinente.

"The Dogs of War" continuava dividindo opiniões. Eu pessoalmente considero uma faixa forte, lembrando os bons tempos do auge da criatividade do rock progressivo inglês. Muitos a consideram um momento de fragilidade de David Gilmour nesse álbum. Que tolice! A música se revelou ótima para ser tocada ao vivo por causa de sua introdução de impacto. Composta ao lado de Anthony Moore, a letra não era uma referência aos advogados que trabalharam nos inúmeros processos envolvendo Gilmour e Roger Waters como muitos disseram na época de lançamento. Na verdade os tais cães de guerra são os políticos ingleses envolvidos em casos de corrupção. É assim uma composição mais política por parte de Gilmour. Imaginem se ele conhecesse o nível de corrupção da política brasileira! Aí sim ele veria o que é de verdade um mundo cão! Para os que reclamavam dessa nova sonoridade da banda, provavelmente "One Slip" era um prato cheio! Lançada no último single extraído do disco "A Momentary Lapse of Reason" a canção nunca foi uma unanimidade. Já ouvi todo tipo de crítica contra essa música, desde que ela seria um popzinho safado dos anos 80, até que seria "latina demais", principalmente em sua introdução! Provavelmente resolveram pegar no pé do compositor Phil Manzanera, pensando se tratar de algum músico latino. Não é! Phil é inglês e escreveu a música ao lado de Gilmour durante a pré-produção do disco. Enfim, de bobagens e tolices esse mundo de fãs mais radicais do Pink Floyd está realmente bem cheio!

Pink Floyd - A Momentary Lapse of Reason (1987)
01. Signs of Life
02. Learning to Fly
03. The Dogs of War
04. One Slip
05. On the Turning Away
06. Yet Another Movie" / "Round and Around
07. A New Machine (Part 1)
08. Terminal Frost
09. A New Machine (Part 2)
10. Sorrow

Pablo Aluísio.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Nirvana - Nevermind

O tempo passa rápido demais. Parece que foi ontem que "Nevermind" chegou nas lojas mas lá se vão 20 anos desde o seu lançamento. A data comemorativa não poderia passar em branco por aqui. O Rock na época vinha em longo declínio, sem inovação, com o cenário musical lotado das chamadas bandas farofas - ou seja, muita pose, muito laquê no cabelo e pouca relevância sonora. Era um ambiente tão medíocre que o jovem que gostava de rock no começo dos anos 90 tinha mesmo que buscar no passado cantores e grupos de qualidade para ouvir. Era exatamente o que eu mesmo fazia naquela época pois ouvia não só os grandes clássicos (Elvis, Beatles, etc) como os chamados dinossauros do rock, grupos dos anos 60 e 70 como Pink Floyd e The Doors. E então no meio dessa pasmaceira eis que surgiu um novo grupo, realmente inovador e com um som forte, de pegada genuinamente roqueira, o Nirvana.

Na época o grupo foi relacionado ao chamado som de Seattle, uma feia, cinza e chuvosa cidade americana que nunca antes tinha se destacado mundialmente do ponto de vista cultural. Até um termo foi criado, Grunge (a imprensa adora mesmo rótulos). O mais curioso de tudo é que a maioria dessas informações eram equivocadas. O Nirvana não era de Seattle, mas sim de uma cidadezinha chamada Aberdeen e não fazia parte de movimento nenhum. Kurt Cobain, o vocalista, compositor e líder do grupo, não era e nunca foi parte de qualquer movimento cultural. Ele fazia uma música muito pessoal, refletindo aspectos de sua vida, sem se importar em fazer parte de qualquer tipo de rótulo inventado pela imprensa americana. "Nevermind" é a obra prima desse grupo que queiram ou não marcou época. Embora a frase possa causar polêmica o fato é que o Nirvana em essência foi uma banda de um disco só, já que o primeiro CD do grupo, "Bleach" nada mais era do que uma demo um pouquinho mais bem produzida. Da mesma forma seu último trabalho, "In Utero", foi severamente prejudicado pela decadência física e psicológica de seu mentor, já naquela altura totalmente corroído pelo forte vicio em heroína.

"Nevermind" por sua vez passa por cima de qualquer tipo de crítica que tente desvalorizar seu impacto na cultura roqueira dos anos 90. É um CD com faixas viscerais que a despeito de sua crueza rude e primitiva (como convém a um bom trabalho de punk rock) ainda mantém uma produção de excelente nível técnico, mérito é claro para o excelente produtor Butch Vig, um verdadeiro craque no setor. Kurt Cobain mostra ao longo da seleção que não bastava apenas posar de rebelde e usar roupas ridículas como os grupos que estavam na parada naquela época mas sim colocar sua alma em cada verso, em cada refrão. Nesse aspecto o cantor e compositor era realmente genial. Em suas músicas Kurt injetava aspectos reais de sua vida, sem pose, sem falsidades. Produtos culturais com tanta alma assim acabam virando ícones ou marcas e "Nevermind" de certa forma cumpre a regra que tanto conhecemos. Um disco que resume o melhor do que foi produzido na década de 1990. Quem viveu sabe perfeitamente do que estou falando.

Nirvana - Nevermind (1991)
1. Smells Like Teen Spirit
2. In Bloom
3. Come as You Are
4. Breed
5. Lithium
6. Polly
7. Territorial Pissings
8. Drain You
9. Lounge Act
10. Stay Away
11. On A Plain
12. Something in the Way

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Norah Jones - Stay With Me

Minha dica de CD hoje vai para Stay With Me de Norah Jones. Nem adianta procurar na discografia americana da cantora porque esse é um lançamento não oficial. Me fez lembrar as discografias dos cantores e bandas dos anos 60, onde a liberdade de lançamentos das filias em relação às majors americanas era tamanho que muitas vezes cada país lançava suas próprias discografias, com várias características próprias, muitas vezes misturando discos originais para dar origem a um título totalmente novo e diferente do que era lançado lá fora. Exemplos? Temos muitos. Quem não se lembra do bastardo "Beatlemania" da discografia brasileira dos Beatles (único no mundo), ou então o BKL 60, o primeiro álbum de Elvis Presley lançado no Brasil, que tinha como capa a mesma de um compacto duplo americano lançado nos anos 50! Interessante é que acredito que Stay With Me não tenha sido nem lançado em vários países (só achei referências de seu lançamento na Itália, Brasil e Espanha). Isso demonstra que a cantora tem ganhado cada vez espaço pois definitivamente bootlegs de uma forma em geral é coisa típica de grandes nomes. Ao restante dos artistas mortais só resta o limbo de sua discografia oficial, que muitas vezes nem sequer é suficiente para capturar o talento do cantor ou cantora.

O CD traz uma interessante e curiosa coleção de faixas daquela que para mim até agora é a melhor fase da Norah Jones. A Tônica é praticamente toda de baladas Jazz, com pequenas nuances folks e flertes rápidos com o cenário indie. Existe espaço até mesmo para uma faixa bem experimental que fecha o álbum, a estranha (mas bela) In a Whisper. Embora a cantora tenha passeado por alguns estilos ao longo da carreira, com resultados diversos, sua força vem do instrumental mais bem elaborado, dos arranjos sofisticados e da boa produção de suas faixas de estúdio. Tudo isso você vai encontrar nessa coletânea que vai desde os momentos mais manjados (Como Day Is Done, muito conhecida entre os fãs) até momentos bem mais discretos (e obscuros) de sua discografia como Wait (que tem uma batida bem anos 70). E que tal o balanço nitidamente latino de Mora Than This? Nada mal hein? Como a cantora tem poucos discos lançados oficialmente, Stay With me é uma boa pedida para conhecer esse tipo de faixa bem menos badalada. Confira e você não irá se arrepender.

Norah Jones - Stay With Me
01. Day Is Done
02. Peace
03. What Am I to You
04. No Easy Way Down
05. More Than This
06. Something I Calling You
07. I'll Be Your Baby Tonight
08. Ruler of the Day
09. In the Dark
10. Butterflies
11. Wait
12. In a Whisper

Pablo Aluísio.

Norah Jones - Marian McPartland’s Piano Jazz

Esse CD, Norah Jones - Marian McPartland’s Piano Jazz, é um bootleg extremamente interessante. Para quem aprecia boa música o programa de Marian McParland, que pode ser ouvido inclusive pelo site da NPR Radio de Nova Iorque (http://www.npr.org) sempre traz grandes convidados para tocar e conversar sobre jazz music. Um show de sofisticação e bom gosto. Aqui nesse bootleg a ótima cantora Norah Jones esbanja talento e sofisticação. Curiosamente com ela se repete algo que aconteceu inclusive com cantores do passado como Elvis Presley e Johnny Cash, ou seja, alguns de seus bootlegs conseguem ser bem melhores do que alguns discos oficiais. Nesse CD em especial temos apenas nove faixas cantadas por Norah, pois as demais são apenas bate papos entre a cantora e a apresentadora do programa.

Uma conversação muito curiosa aliás, pois Jones mais uma vez se revela uma pessoa tímida, levemente nervosa e parecendo sempre pouco à vontade. Risinhos nervosos surgem aqui e acolá. Norah desfila entre as canções de seus discos oficiais e alguns outros standarts da música americana, arrasando inclusive em faixas completamente instrumentais (ela é uma pianista de mão cheia). Ultimamente tenho ouvido bastante esse Piano Jazz, mais até do que os últimos CDs oficiais da cantora. Fica a dica preciosa: se é fã e não ouviu ainda corra atrás (e aproveite para conhecer o excelente programa de Marian McParland no link que postei, vai valer muito a pena, tenho certeza).

Norah Jones - Marian McPartland’s Piano Jazz, New York City, NY
Conversation
September in the Rain
Conversation
In the Dark
Conversation
Comes Love
Conversation
For All We Know
Conversation
I Can’t Get Started
Conversation
Don’t Know Why
Conversation
Peace
Conversation
The Nearness of You
Conversation
A Beautiful Friendship
Conversation

Pablo Aluísio.

domingo, 25 de setembro de 2011

Stereophonics - Keep Calm and Carry On

O Stereohonics fecha o ano de 2009 com CD novo na praça. Intitulado Keep Calm and Carry On o novo trabalho do grupo tenta recuperar a velha garra dos primeiros trabalhos. Ficou na intenção. Certa vez John Lennon disse que os Beatles não poderiam voltar aos seus anos iniciais porque simplesmente aqueles jovens do começo da década de 60 não existiam mais. A mesma coisa acontece com o Stereophonics. Eles certamente buscam a garra que tanto os caracterizou em seus primeiros álbuns mas simplesmente não há como voltar no tempo, ainda mais em relação ao grupo que nem mais é formado pelas mesmas pessoas que gravaram o seu primeiro disco. Isso significa que o CD decepciona e não é bom? Absolutamente não. O Stereophonics sempre tem algo interessante a mostrar mesmo quando a fórmula se torna um pouco repetitiva.

Keep Calm and Carry On tem altos e baixos. A primeira faixa She’s Alright com sua percussão de primeira linha pega o ouvinte logo de cara. Como sempre as guitarras surgem nervosas, mostrando um pique que andava em falta nos trabalhos anteriores do grupo. É um bom momento inicial do CD e mostra que o som mais puro do Britpop continua vivo ainda nos dias de hoje. Innocent, com sua harmonia pra cima e vocalização alto astral talvez seja o maior candidato a hit do CD, uma faixa que foi especialmente escrita para fazer bonito nas rádios britânicas.O refrão é pegajoso, como todo sucesso tem que ser. Beerbottle, com seu som tecno soa fora de contexto. Alguns críticos já andaram dizendo por aí que o Stereophonics anda tendo crises de identidade, não se posicionando como banda de britpop, rock alternativo ou indie. Bem, no meio de toda essa esquizofrenia a última coisa que deveria aparecer era uma canção com uma batida assim tão tecno. Não gostei, espero que essa tenha sido apenas uma experiência isolada dentro do som do grupo.

Depois de ouvir três faixas finalmente ouvimos o primeiro Rock do CD. Trata-se de Trouble (nada a ver com o antigo sucesso de Elvis Presley). Aqui finalmente respiramos um pouco do clima do primeiro CD dos galeses. A pegada segue totalmente idêntica, o clima idem. Possivelmente tenha sido composta nos primeiros tempos da banda para só agora aparecer em sua discografia. Cold You Be The One que vem logo a seguir se mostra a grande balada indie do disco. Apesar de um certo clichê no arranjo (com o velho dedilhado no violão que tanto conhecemos das rodinhas indies) a harmonia e a estrutura bonita do refrão nos conquista de imediato. Ideal para ouvir acompanhado. Depois do momento relax o Stereophonics apresenta a faixa I Got Your Number. Embora estruturalmente interessante, com a mesma base seguindo toda a execução falta um certo clímax para a música nos conquistar completamente. Do jeito que está ficou no meio do caminho.

O Britpop volta com Uppercut. O velho refrão pegajoso para tocar na FM está lá, o vocal inconfundível de Kelly também. Vamos ver se essa canção consegue se destacar nas programações. Tem tudo para dar certo. Mas não pára por aí. A forte presença do som Britpop continua com Live ‘N’ Love, uma mistura mediana com guitarras em primeiro plano, refrão feito para grudar na cabeça e letra simples. 100mph provavelmente é o som mais fiel ao som que o grupo vem desenvolvendo desde seu primeiro CD. A harmonia nos remete imediatamente aos dias de Have a Nice Day. O CD fecha as cortinas com três bons momentos: Wonder (não chega a ser uma grande música mas mantém o interesse), Stuck In A Rut (onde o destaque fica para o vocal de Kelly que leva a canção nas costas) e Show Me How (momento lúdico para encerrar muito bem Keep Calm and Carry On). Se fosse para dar uma nota para o conjunto da obra me arriscaria a dar um 8,0. Seria merecido. Se não é o melhor trabalho do grupo pelo menos é bem superior ao último CD do Stereophonics. Pode comprar sem receios, vai valer a pena.

Keep Calm and Carry On
01. She’s Alright
02. Innocent
03. Beerbottle
04. Trouble
05. Cold You Be The One
06. I Got Your Number
07. Uppercut
08. Live ‘N’ Love
09. 100mph
10. Wonder
11. Stuck In A Rut
12. Show Me How

Pablo Aluísio.