quinta-feira, 3 de junho de 2010

Elvis Presley - From Elvis Presley Boulevard, Memphis, Tennessee - Parte 1

Esse álbum foi gravado em circunstâncias únicas na carreira de Elvis. Há tempos ele vinha ausente dos estúdios. A RCA Victor vinha sucessivamente marcando datas para Elvis comparecer em estúdio na cidade de Nashville, porém ele sempre desmarcava na última hora, alegando uma desculpa qualquer. O problema é que a RCA precisava colocar no mercado algum disco novo de Elvis com músicas inéditas. A fórmula de se lançar discos ao vivo já havia se esgotado, já não vendia mais tanto como antes. Ele tinha que voltar para novas gravações.

O produtor Felton Jarvis então encontrou uma saída inusitada. Já que Maomé não iria à montanha, que a montanha fosse até Maomé. Assim uma unidade móvel de gravação foi levada até Graceland. Inicialmente o produtor pensou em realizar as sessões na quadra de raquetebol, mas a acústica não favorecia em nada, apesar do ambiente ser amplo, onde todo o grupo poderia ser alojado. Assim que desistiu ele foi em busca de outro lugar na mansão. Pensou em gravar na sala de estar, mas também não daria muito certo, não era o lugar ideal.

A solução foi encontrada na chamada "Sala das Selvas". O nome desse ambiente era bem propício. Elvis havia adquirido todos aqueles móveis após seu pai Vernon comentar um dia que havia visto a mobília mais feia de sua vida numa loja de Memphis. Um monte de cadeiras e sofás que tentavam imitar o estilo tropical, mas com resultados sofríveis. Algo de muito mau gosto. Era tudo muito brega na opinião de Vernon. Isso acendeu uma luzinha na cabeça de Elvis. Ele que não perdia uma piada e estava sempre mostrando um humor à toda prova decidiu ir até a loja e comprar todos aqueles móveis feios. Colocou tudo na sala de TV de Graceland e passou a chamar o lugar de "A Sala das Selvas". Aquela imitação falsa de ambientação da Polinésia não passava mesmo de uma grande brincadeira por parte de Elvis, imaginem vocês! E foi nesse lugar de móveis com gosto bem duvidoso que Felton Jarvis decidiu colocar todo o equipamento de gravação da RCA Victor.

Porém isso seria apenas o começo dos problemas que viriam. Após tanto esforço o produtor Felton Jarvis descobriu que mesmo estando todos em Memphis não seria tão fácil assim colocar Elvis na frente de um microfone para gravar músicas novas. Ele geralmente descia as escadas, dava uma olhada nos equipamentos montados na Sala das Selvas e voltava a se desculpar, dizendo que sua garganta não estava boa, que sua voz não estava em um dia bom e por aí vai. Era sempre a mesma coisa, com Elvis dizendo a Jarvis que "Amanhã seria um dia melhor" ou então que "Amanhã a gente começa a gravar". Só que esse dia parecia nunca chegar. Realmente Elvis não parecia ter nenhum ânimo para gravar algo novo. Até mesmo a chegada de novas motos que ele havia comprado era desculpa para não gravar nada. O pobre Jarvis já estava com a paciência acabando!

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - From Elvis Presley Boulevard, Memphis, Tennessee - Parte 2

Gosto bastante de "For The Heart". É um country alta astral, algo que contrasta positivamente com as demais músicas, todas mais na linha melancólica. Essa canção foi composta por Dennis Linde. Ele já havia criado um dos grandes sucessos de Elvis nos anos 70, a ótima "Burning Love". Por isso acabou sendo natural para Elvis gravar essa faixa.

Durante um tempo a RCA Victor pensou em colocar essa canção como Lado A do single extraído desse álbum, mas na última hora a deslocaram para o Lado B, colocando "Hurt" como a faixa principal do compacto. A letra é simples. Sentimento country por excelência. O que se sobressai mesmo é o ritmo, bem agradável.

"Danny Boy" é uma música histórica. Faz parte da tradição, da cultura irlandesa. Por isso alguns historiadores de arte afirmam que sua origem segue sendo desconhecida. Claro, algumas versões mais recentes foram gravadas, porém todas elas partindo de uma fonte centenária desconhecida. Um dos primeiros registros dentro da indústria musical veio do começo do século XX, mais precisamente de 1910. Essa veterana gravação foi assinada por Frederic E. Weatherly, Muito em voga entre imigrantes irlandeses que moravam nos Estados Unidos, acabou entrando também dentro da cultura do país que se tornava o seu novo lar.

Elvis gostava muito da música. Já no final dos anos 50 houve algumas gravações informais com ele. Elvis estava na Alemanha, cumprindo serviço militar. Por isso arriscou algumas notas ao piano. Ficou muito bom., Se você tiver interesse em ouvir esse registro procure pelo CD do selo FTD intitulado "In a Private Moment". Outra dica é ouvir o CD "Tucson 76" que traz uma rara versão ao vivo da música. Acredito inclusive que Elvis deveria ter explorado mais a canção em seus concertos. Pena que isso efetivamente não aconteceu. O público certamente teria apreciado essas inspiradas performances do cantor.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Elvis Presley - From Elvis Presley Boulevard, Memphis, Tennessee - Parte 3

Esse disco tem uma sonoridade bonita. Muitos aproveitaram para criticar o álbum por ele ter sido gravado em Graceland, na sala das selvas, mas discordo desse tipo de ponto de vista. Penso que gravar em casa trouxe uma certa paz de espírito para Elvis. Ele se sentiu confortável e tranquilo e isso resultou em boas faixas para o disco. "Blue Eyes Crying In The Rain" me passa exatamente esse tipo de sensação. Ao ouvir a canção podemos perceber que Elvis estava completamente à vontade.

É uma canção antiga, gravada por Hank Williams, muito embora ele não a tivesse composto. Quem a gravou pela primeira vez foi o cantor country Roy Acuff. Ele era natural de Maynardville, Tennessee, uma cidade relativamente próxima de Memphis. Assim era algo muito próximo de Elvis Presley. O single original chegou nas lojas e começou a tocar nas rádios em 1951. Na época Elvis tinha apenas 16 anos e era apenas um colegial. Porém ele apreciou batante a canção. Por isso a gravou em Graceland décadas depois. É interessante saber que essa canção quase foi gravada nas sessões de "Elvis is Back!" de 1960. Ele fez parte da lista de músicas sugeridas a Elvis naquele momento. O cantor porém não chegou nem a ensaiar a melodia com sua banda.

"Hurt" foi a principal faixa desse álbum. Foi lançada como lado A do único single extraído do disco e virou a "música de trabalho" para promover o LP durante os concertos de Elvis realizados em 1976. Um crítico de Nova Ioirque comentando sobre o "From Elvis Presley Boulevard" chegou a escrever em sua coluna que estava surpreso, pois Elvis estava próximo de virar um cantor de ópera. Apesar da fina ironia seu comentário não estava mesmo muito longe da verdade. Em seus anos finais Elvis passou a adotar um tom mais forte nas músicas, mostrando todo o seu potencial vocal. Devo dizer inclusive que essa foi uma das grandes gravações de Elvis em seus anos finais. Ele foi perfeito na sala das selvas.

"Hurt" foi originalmente lançada em 1954. A primeira gravação foi de Roy Hamilton, talentoso cantor negro que começou sua carreira no estilo gospel. Só depois de alguns anos é que ele finalmente começou a gravar R&B e soul. É interessante notar que por essa época de sua vida Elvis estava com várias músicas de Roy na sua mente. Tanto que iria gravar ainda "Unchained Melody", que Hamilton também havia gravado anos antes. Sua gravação resultou numa belíssima versão dessa canção. Além disso a proximidade de Elvis com ele não era recente. Basta lembrar do clássico "You'll Never Walk Alone". Muitos lembram de Hurt por causa da versão de Timi Yuri em 1961. Porém temos que dar também todos os créditos para Hamilton, já que Elvis simplesmente adorava seus discos antigos.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - From Elvis Presley Boulevard, Memphis, Tennessee - Parte 4

"Solitaire" é certamente a música mais melancólica desse álbum. Essa bela canção foi gravada e lançada originalmente em 1972 por Neil Sedaka. Depois disso a música ganhou uma série incrível de regravações, dando origem a novas versões, nas vozes dos mais diferentes artistas da época. Nos Estados Unidos a versão que alcançou maior sucesso foi a dos Carpenters, em 1975. Ela fez parte da seleção de canções do álbum "Horizon" e se transformou em um grande sucesso, chegando aos primeiros lugares da parada Billboard.

Por isso quando Elvis a gravou em 1976 a música já não tinha mais potencial em se tornar de novo hit em sua interpretação. Mesmo assim, para seus fãs, era sempre interessante ouvi-la na voz de Elvis Presley. E a versão de Elvis Presley não deixou a desejar. Ele interpretou a canção de forma bem intimista, acompanhado de poucos músicos de sua banda. Nada de arranjos exagerados. Apenas o essencial, o básico, dando destaque para sua voz. Ficou bonita de se ouvir.

No meio de tantas músicas românticas e lentas, "Love Coming Down" era um bom country que animava um pouco mais a audição do  From Elvis Presley Boulevard. Essa canção foi escrita por Jerry Chesnut, excelente compositor, especializado em música country. Elvis já tinha escolhido outras canções dele para gravar, com destaque para "T-R-O-U-B-L-E" do álbum "Elvis Today". Sempre que Elvis ia atrás de material novo, inédito no mercado, Chesnut surgia como uma opção. A RCA Victor enviava muitas canções compostas por ele para os estúdios, quando Elvis tinha gravações programadas. Provavelmente ele a ouviu pela primeira vez nas sessões do "Elvis Today", mas resolveu gravá-la apenas em Graceland, nas sessões da Jungle Room.

Jerry Chesnut havia nascido em  Harlan County, no Kentucky e tinha as mesmas raízes culturais de Elvis, por isso a identificação vinha quase que imediatamente. E Elvis Presley não seria o único popstar a gravar seu material. Depois dele outros grandes astros da country music como Alan Jackson e George Jones também gravariam seu repertório. Até mesmo Elvis Costello traria parte da obra de Chesnut para sua discografia. Foi uma carreira longa, de mais de cinquenta anos de música. Infelizmente depois de anos compondo belas canções de countru music, ele veio a falecer em dezembro de 2018.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Elvis Presley - From Elvis Presley Boulevard, Memphis, Tennessee - Parte 5

Já no fim da vida Elvis costumava dizer que não queria mais gravar músicas que não acreditava. Ele estava farto, depois de anos e anos, de gravar material de que não gostava. Principalmente na era dos filmes em Hollywood ele teve mesmo que fazer muitas concessões. No final de sua carreira, quando o fim já se aproximava, Elvis poderia finalmente dizer que só gravava o que bem queria e quando queria.

E nessa fase ele adorava cada vez mais o country de seus anos de infância em Memphis. Havia material novo? Certamente sim. Porém ele sempre sondava e flertava com o passado. Era uma maneira de revisitar sua própria vida. Não podemos condenar Elvis por isso. Claro que não! De certa maneira isso lhe trouxe de volta o prazer de cantar ao vivo e de gravar material de que pessoalmente gostava.

Em 1967 Tom Jones havia gravado com sucesso a balada "I'll Never Fall In Love Again". Chegou inclusive a se apresentar na TV, soltando o vozeirão. O público gostou do que viu e ele ganhou uma excelente audiência. Elvis, que era muito amigo de Tom Jones, deve ter sentido uma pontinha de inveja porque nessa época ele estava preso com contratos de Hollywood. Não tinha poder de escolher aquilo que queria cantar. Tudo já vinha imposto pelos estúdios de cinema e pela RCA Victor. E como ele havia gostado muito da música surgiu mesmo aquela vontade de fazer sua versão que só iria chegar ao mercado em 1976 com esse disco "From Elvis Presley Boulevard, Memphis, Tennessee". Curiosamente Elvis seguiu os arranjos da versão de Tom Jones sem mudar em quase nada. A única diferença veio justamente da performance vocal. Tom Jones era bom cantor, isso era inegável, mas não tinha a mesma potência vocal de Elvis que na sua versão não poupou emoção e poderio vocal. Quase a balada sentimental virou uma ópera, principalmente no último verso. Ficou bem bonita a versão de Mr. Presley. Tom Jones foi superado, algo que ele próprio reconheceu na época.

Em 1973 Larry Gatlin soltou sua versão intimista de "Bitter They Are, Harder They Fall". Pessoalmente gosto muito desse seu trabalho original. Mais uma vez, ele não tinha o poder vocal de Elvis, por isso optou por adotar uma postura bem mais contida, quase lacrimejante. Os violinos ao estilo country pontuavam toda a gravação e até pequenos sinos foram acrescentados. Com Elvis esse arranjo ficou mais grandioso. A TCB Band aqui foi por outra direção, deixando a voz de Elvis assumir o centro do palco. Afinal o que faltava em Larry Gatlin, sobrava no Elvis quarentão dos anos 70. E ele realmente caprichou. Em termos de comparação não há o que comentar. Elvis se impôs mais uma vez e o que era intimista e mais calmo, virou novamente uma explosão de voz nas notas alcançadas por Elvis Presley. Ouvindo esse tipo de gravação chegamos em uma conclusão óbvia. Ele foi um artista grandioso, não há como negar.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - From Elvis Presley Boulevard, Memphis, Tennessee - Parte 6

"Never Again" tem um dos melhores arranjos do disco. Começa com um belo dedilhado de dois violões, criando uma atmosfera intimista, lembrando até mesmo baladas de gêneros mais introspectivos, como a nossa conhecida "Bossa Nova". Curiosamente a estrutura da melodia segue uma linha que agradava muito Elvis nessa época, com aquele estilo de ir sempre crescendo ao longo de sua execução. Começa quase sussurrada, vai subindo o tom, até ganhar ares de grandiosidade. Um tipo de estilo musical em que Elvis poderia mostrar todo o seu potencial vocal. E o coro também não fica atrás, principalmente nas últimas notas quando eles (Elvis e seus grupos vocais de apoio) levam tudo para uma espécie de explosão emocional coletiva.

A letra é interessante. Ela mostra a história de um homem que amou demais, se entregou demais a uma paixão avassaladora do seu passado, mas acabou magoado, traído, ferido por aquela que ele considerava ser o amor de sua vida. Não quero passar a imagem de alguém que se repete, mas essa letra é bem óbvia em relação ao que Elvis passou em seu casamento com Priscilla. A mágoa que sofreu, por ter sido traído pela sua própria esposa e mãe de sua filha, a enorme fossa que ele entrou depois disso, a depressão que teve que passar, tudo isso o fez jurar que nunca mais iria passar por algo assim novamente. A primeira parte da letra já deixa isso muito claro, principalmente quando Elvis canta versos como esse: "Espero nunca amar alguém tanto assim de novo! Eu não quero mais suportar isso, pois já estive ferido antes". Recado mais claro do que isso, impossível.

"The Last Farewell" é outro bom momento desse álbum cheio de baladas tristes, mas ao mesmo tempo relevantes. Esse é outro bom trabalho de arranjo do produtor Felton Jarvis, mas ao contrário de outras canções como "Never Again" que começa calma e vai crescendo, aqui a introdução é um tanto épica, para depois as coisas irem acalmando aos poucos. A melodia é agradável aos ouvidos, com Elvis cantando quase a meia voz, como se estivesse curtindo bastante a melodia junto ao ouvinte, criando com isso um sentimento de cumplicidade com seus fãs. A música em si foi muito trabalhada depois por Felton Jarvis pois ele acrescentou muitos instrumentos posteriormente à gravação. Antes do lançamento os acréscimos foram levados para aprovação de Elvis e ele gostou do resultado final.

Essa letra é quase cinematográfica. Ela leva o ouvinte a imaginar uma determinada situação, onde um marinheiro se despede de sua amada no porto, prestes a ir para a "velha Inglaterra". Mesmo Elvis não tendo sido da marinha e nem ter qualquer ligação com isso (a não ser pelo fato de ter interpretado um marinheiro em "Girls, Girls, Girls") a mensagem da canção é que provavelmente gerou interesse em Elvis. É praticamente um roteiro de cinema, com começo, meio e fim, explorando a dor da despedida de alguém que vai para o mar, mas deixa seu grande amor para trás - imagine aí em sua mente Elvis vestido de marinheiro dando um abraço final na sua amada para ir embora para a Inglaterra. Ficou estranho? Um pouquinho, mas devo dizer que no final o resultado ficou muito bom, criando um clima bem diferente nos discos de Mr. Elvis Presley.

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 25 de maio de 2010

Elvis Presley - Elvis Today - Parte 1-2

Vamos começar pelo pior. Se eu tivesse que escolher a canção mais fraca desse disco certamente minha escolha seria a balada romântica "Woman Without Love", O que levou Elvis a gravar essa faixa segue sendo um mistério. Não era uma canção conhecida no meio e nem tinha nada a ver com o tipo de sonoridade que Elvis vinha desenvolvendo nessas sessões. Muito piegas, tinha uma mensagem que nos dias de hoje poderia ser qualificada como "embaraçosa".

A letra é bem antiquada, nada condizente com a nova mulher que surgia no mundo, principalmente a partir dos anos 60. Há um trecho na letra que diz que um homem sem amor seria apenas a metade de um homem, porém uma mulher sem amor seria absolutamente nada! Que coisa mais cafona! Elvis poderia passar sem essa. Mensagem totalmente fora de moda. Se fosse nos dias atuais, com esse texto politicamente incorreto, as feministas iriam pedir a cabeça de Elvis em uma lança!

"I Can Help" tem até um bom refrão, porém sua repetição à exaustão cansa um pouco o ouvinte. No meio de tantas letras tristes e melancólicas, que tinham se tornado uma espécie de padrão dentro da discografia de Elvis, essa ia pela contramão, trazendo algo de positivo, com o autor em primeira pessoa dizendo que sim, ele poderia ajudar. Em certos aspectos me lembrou até mesmo de "Bridge Over Troubled Water", porém sem ser dramática em excesso. A mensagem que Elvis passava aqui era bem direta, do tipo "Você tem um problema? Não precisa se preocupar! Seja lá o que for, bom, eu posso ajudar!". Bacana, ponto positivo no disco, afinal uma mensagem para cima, alto astral, sempre seria muito bem-vinda - principalmente para Elvis que parecia ter entrado numa roda viva de depressão e auto piedade destruída.

Do country "Susan When She Tried" eu particularmente gosto bastante. É um som bem Dixieland, próprio para os sulistas (do sul dos Estados Unidos, obviamente). Penso até que a letra, levemente truncada, não faria muito sentido para os nortistas, nova-iorquinos, etc. É uma coisa bem milho, bem campo. Claro há um subtexto compreensível, porém se formos pensar bem essa forma de falar era típica mesmo dos "confederados" do sul. E Elvis como um típico homem do sul, captou muito bem essa mensagem, diríamos, "cifrada". Dizem que Elvis cogitou promover mais a música em concertos pelas cidades sulistas, mas se isso for verdade tudo ficou mesmo apenas na intenção pois ele definitivamente não fez qualquer esforço para cantá-la em suas longas, estafantes e cansativas turnês pelas terras de Dixie.

O álbum "Elvis Today" não foi um sucesso de vendas. Na realidade ele passou meio ignorado pelo mercado. Naquela época a sonoridade que fazia sucesso era a da discoteca e o próprio Rock que ainda sobrevivia nas paradas era muito diferente do tipo de som que Elvis vinha apresentando em seus álbuns. O cantor havia optado por cantar baladas ao estilo country and western de Nashville, além de se concentrar em baladas românticas dolorosas, de dor de cotovelo. Dificilmente um jovem que curtia Pink Floyd ou Led Zepellin nos anos 70 iria se interessar por um material desses.

Assim Elvis entrou numa espécie de mundo próprio, onde ele cultivava suas dores emocionais. O repertório das músicas escolhidas por ele mesmo refletiam esse estado de espírito em que ele vivia. Cada gravação, cada letra, tinha algo em comum com o que ele sentia. Algumas músicas eram claros recados indiretos que Elvis insistia em mandar para sua ex-esposa Priscilla. Com isso Elvis foi se tornando cada vez mais pessoal em seus discos, ao mesmo tempo em que as vendas iam piorando. Apenas um seleto grupo de fãs de sua carreira seguiram fiéis aos seus álbuns. O resto do público tinha a tendência de ignorar o que ele vinha produzindo em estúdio.

"Elvis Today" por isso não foge do tipo de disco que Elvis vinha apresentando nos últimos anos. Há muito country, bastante baladas românticas e um ou outro momento que podemos chamar de rock, só para lembrar que ele ainda era o aclamado "Rei do Rock", embora na prática fosse venerado à distância pela nova geração de roqueiros. Todos o elogiavam pelo seu passado, pelo que tinha feito no surgimento da popularização do rock, mas não estavam mais interessados nas viagens de ego ferido do cantor. Era tão pessoal que parecia importar apenas a Elvis e seu público sulista country mais próximo.

A boa notícia, pelo menos para os fãs brasileiros, foi que o disco foi lançado em nosso país no mesmo ano de seu lançamento nos Estados Unidos. A filial da RCA no Brasil havia deixado de lançar vários LPs de Elvis nos anos 70. "Elvis Country", "Love Letters", "Good Times" e até mesmo o disco ao vivo em Memphis em 1974 não tiveram edições nacionais. Assim não deixou de ser uma boa surpresa encontrar esse álbum nas lojas brasileiras, onde finalmente o fã tinha acesso a material mais recente gravado pelo cantor.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Elvis Today - Parte 3

"T-R-O-U-B-L-E" abria o álbum em sua edição original. Uma bela faixa, bem movimentada, um rock com sabor dos bons clássicos do gênero. É interessante porque assim como Elvis abria o disco anterior, "Promised land", com a famosa canção escrita por Chuck Berry, no mais puro estilo roqueiro em seus primeiros anos, aqui ele repetia a dose, mandando ver em uma música muito bem gravada, com pique, fazendo jus ao seu título de "Rei do Rock". Seria uma resposta de Elvis a todos aqueles que o criticavam por ter deixado o gênero musical que o consagrou nos anos 50? É bem provável que sim.

Outro aspecto curioso sobre essa faixa é que ela acabava gerando confusão entre os que não conheciam muito bem a carreira e a discografia de Elvis. Muitos pensavam que era uma regravação da antiga "Trouble" do filme "King Creole" (Balada Sangrenta, no Brasil). Um erro absurdo, mas que muita gente cometeu na época. Quando chegavam em casa e colocavam o vinil para rodar tinham uma surpresa e tanto, pois era outra música, completamente diferente, nada tendo a ver com o clássico dos anos 50.

Outra canção que gosto desse disco é "Shake A Hand". Claro, nunca foi unanimidade entre os fãs de Elvis. Alguns acham que apesar do bom começo o uso excessivo do refrão a desgasta. Não penso assim. A música tem obviamente um claro sabor gospel. Afinal em cultos evangélicos americanos, principalmente no sul, a busca por um sentimento de comunhão entre os fiéis fazia com que todos batessem palmas e cantassem em coro. Era uma forma de todos os crentes se sentirem unidos numa só voz, em um sentimento forte de fé coletiva.

O diferencial é que a letra não era religiosa, mas sim romântica. Elvis aqui canta sobre um homem apaixonado que tenta acalmar sua mulher amada, trazendo palavras de apoio, dizendo que tudo ficará bem, que ela não precisa se preocupar, basta apenas dar as mãos. Elvis, o bom samaritano apaixonado, surgia claramente em versos como: "Basta deixar isso comigo / Nunca fique envergonhada / Basta me dar uma chance / Eu vou cuidar de tudo / Seus problemas vou compartilhar / Deixe que eu saiba e eu estarei lá / Eu vou ficar perto de você / Em qualquer lugar e em todo lugar". A cumplicidade apaixonada sugerida entre o casal ficava ainda mais clara em trechos como "Seja sincera comigo / Eu vou ser sincero com você / Eu estou tão apaixonado por você / Até não saber o que fazer". O ritmo é cadenciado, trazendo até um sentimento também do bom e velho blues. Ou seja, uma verdadeira mistura de ritmos e intenções. Nada mais típico em se tratando de Elvis Presley.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Elvis Presley - Elvis Today - Parte 4

Para muitos fãs de Elvis a melhor música desse álbum é a romântica "And I Love You So". Não tiro a razão de quem pensa assim. Certamente a canção é uma das melhores do álbum, uma gravação tecnicamente perfeita, com Elvis colocando toda a emoção em sua performance. O produtor Felton Jarvis também caprichou, colocando instrumentos adicionais, embelezando ainda mais a faixa. Também seguia sendo uma das preferidas de Elvis, a tal ponto que ele a cantou várias vezes no palco durante suas turnês dos anos 70.

Essa música romântica só não fez maior sucesso na voz de Elvis porque ela havia sido recentemente gravada por outro cantor da RCA, Perry Como, que inclusive deu seu nome como título para seu LP. Composta pelo cantor e compositor folk Don McLean, a música já havia de certa forma esgotado seu potencial de virar um hit nas rádios. Elvis sabia que ela não iria se tornar um sucesso na sua voz, mas a gravou simplesmente porque a considerava uma bela melodia. Melhor para seus fãs, pois o cantor legou para eles uma de suas melhores interpretações nessa fase final de sua carreira.

"Pieces Of My Life" também tinha um excelente arranjo. Essa música era seguramente uma das mais tristes do disco, por causa de sua harmonia e sua letra. Essa era uma conversa ou melhor dizendo, um momento de confissão, de um homem que olhava para seu passado e seu presente e não se orgulhava dele. O primeiro estrofe deixava bem claro que o autor está em uma espécie de bordel, bebendo e se lamentando da decadência moral de sua vida.

Os versos são de lamento e arrependimento, como no começo da canção onde Elvis canta frases como essas: "Um copo de vidro cheio de whiskey / E mulheres que eu nunca conheci muito bem /  Deus, as coisas que eu tenho visto e feito / A maioria delas eu ficaria envergonhado de dizer / Eu não sei como isto começou / Mas é isto que faz de um homem, "um homem" - eu acredito! / Agora eu estou agarrado ao "nada", tentando esquecer do resto". Provavelmente algum jornalista mais desavisado deve ter ouvido essa música e chegado na "brilhante" conclusão de que Elvis era um alcoólatra, como muitas vezes li em matérias publicadas por ai. Nada mais longe da verdade. Puro fruto de desinformação e ignorância da chamada "grande imprensa".

Pablo Aluísio. 

Elvis Presley - Elvis Today - Parte 5

"Fairytale" é o country do conto de fadas. Eu sempre considerei uma música agradável de se ouvir, onde Elvis incorporava mesmo o caipira do sul dos Estados Unidos. Um fato curioso é que segundo as pessoas mais próximas a ele, inclusive sua turma da máfia de Memphis, Elvis sempre sintonizava nas estações de música country quando estava em seu carro, saindo de um show ou então indo para algum hotel após seu avião pousar no aeroporto. Isso demonstrava que ele estava mais interessado no cenário da música country da época do que em rock.

Aliás Elvis parece ter parado de acompanhar os grupos de rock nos anos 60. Os discos dos Beatles tinham sido a última coisa que havia lhe chamado a atenção. Depois nos anos 70 ele passou a ouvir basicamente música religiosa e música country. Nada mais. Por isso não é de se admirar que seus discos quase sempre fossem nessa direção. Assim uma faixa como "Fairytale" soava muito natural em seu repertório de estúdio, muito embora fizesse os roqueiros torcerem o nariz quando ouviam esse tipo de sonoridade.

Um fato interessante sobre esse disco é que Elvis até demonstrou muita boa vontade em promover as faixas em seus shows, algo que não vinha acontecendo com LPs anteriores. A RCA Victor também decidiu se mover um pouco melhor, já que as vendas de cópias vinham caindo progressivamente nos últimos anos. Afinal Elvis sempre foi um dos grandes vendedores do selo, o seu maior astro comercial e não havia mesmo sentido em tratar com tanto descaso seus últimos lançamentos. Assim a faixa "Bringin' It Back" foi até bem trabalhada pela RCA, reforçando sua promoção nas estações de rádio. Só que todo o esforço foi em vão. Embora seja uma bela música ela nunca chegou a ser um sucesso, um hit.

E de todas as canções do estilo country desse álbum nenhuma era mais nostálgica e saudosista do que a bonita "Green Green Grass Of Home". Aqui Elvis não escondeu todo o seu sentimento de orgulho sulista. É curioso que mesmo após ficar rico e famoso, Elvis não abriu mão de continuar morando em Memphis, sua adorada cidade. Ele poderia ir morar em Nova Iorque, Los Angeles ou qualquer outra grande cidade dos Estados Unidos, mas não quis deixar de lado suas raízes. Sempre preferiu a suburbana e secundária Memphis de seus anos de infância e adolescência. Assim fica plenamente justificada a gravação de uma música como essa. Era o mais puro estilo do sul que Elvis tanto adorava.

Pablo Aluísio.