O filme Exodus, lançado em 1960, trata da delicada questão da criação do Estado de Israel. É uma obra cinematográfica de fôlego com três horas e trinta minutos de duração, dividida em três atos distintos que tentam no fundo dar um rosto (ou rostos) ao povo judeu no momento de nascimento de sua nação. No primeiro ato somos apresentados a um campo de refugiados (na realidade prisioneiros) administrado pelos britânicos na ilha de Chipre. O local era utilizado pelos ingleses para abrigar temporariamente grupos de judeus que tentavam chegar até a Palestina de navio.
Nesse primeiro ato logo somos apresentados ao personagem Ari Ben Canaan (interpretado por Paul Newman), cuja principal função na ilha é retirar uma parcela desses judeus em cativeiro para levá-los até a Palestina, para que com isso crie pressão sobre a ONU na aprovação da criação de Israel. O segundo ato já se desenvolve nos assentamentos judeus na Palestina e tenta mostrar o cotidiano dessas famílias empenhadas em ficar no país e assim começar uma nova nação. Finalmente no terceiro ato temos a criação de Israel e as reações (algumas vezes violentas) que esse fato gerou, principalmente por parte da população palestina, que naquela altura sentiu que simplesmente estavam tomando sua nação e seu país e a entregando aos recém chegados judeus. O tema é melindroso e até hoje repercute. O filme, é claro, toma partido ao lado do povo judeu e sua causa, até porque não seria diferente haja visto que os grandes estúdios de Hollywood são administrados e comandados por judeus.
E justamente por isso talvez Exodus não seja uma obra completa. O ponto de vista é unilateral, focado apenas na visão judia da questão. Tirando um único personagem (um palestino que nutre amizade e simpatia por um personagem judeu) nada mais nos é mostrado sobre o outro lado da questão, sobre a forma de agir e pensar do povo palestino naquele momento. O roteiro não esconde e nem tenta disfarçar de que lado realmente está. Como a questão Israel - Palestina é muito mais complexa do que isso ficamos com a sensação pouco confortável de estarmos assistindo na realidade um grande e pomposo manifesto político em prol de Israel.
Já sobre o filme em si, tecnicamente falando, a produção apresenta alguns problemas. O maior deles talvez seja a duração excessiva. O filme em alguns momentos se arrasta, cenas sem grande importância ganham um destaque desproporcional. O filme poderia sem problemas ter duas horas de duração sem perda de conteúdo. A direção de Otto Preminger por sua vez comete alguns erros primários (em certos momentos podemos perceber a sombra da câmera e do cameraman se projetando sobre os atores). São coisas menores mas que em certos momentos incomodam. Já a trilha sonora, ainda hoje lembrada, é um destaque. O compositor Ernest Gold foi inclusive premiado com o Oscar por seu trabalho. Enfim, Exodus é um bom filme e só peca pela tentativa de fazer propaganda política sem dar chance à outra parte de se manifestar, fora isso é um bom passatempo, isso claro se você tiver disposição de assistir uma película com uma duração tão excessiva como essa.
Exodus (Exodus, Estados Unidos, 1960) / Direção: Otto Preminger / Roteiro: Dalton Trumbo / Elenco: Paul Newman, Eva Marie Saint, Ralph Richardson, Peter Lawford, Lee J. Cobb / Sinopse: O filme mostra diversos eventos que deram origem à criação do Estado de Israel ao mesmo tempo em que o mesmo luta para sobreviver diante da hostilidade das nações vizinhas.
Pablo Aluísio.
terça-feira, 13 de novembro de 2007
segunda-feira, 12 de novembro de 2007
A Deusa: As Vidas Secretas de Marilyn Monroe
A ótima biografia "A Deusa - As Vidas Secretas de Marilyn Monroe" de autoria de Anthony Summers é uma excelente dica de leitura para esse fim de ano. Temos aqui, em pouco mais de 500 páginas, um ótimo retrato de um dos maiores ícones da história do cinema americano. Marilyn aparece nas páginas desse livro sem retoques, com sua real faceta, mostrando como era uma pessoa atormentada, carente, complexa e confusa. Nascida sem uma estrutura familiar sólida (sua mãe enlouqueceu e foi internada em um asilo e seu pai sumiu) a pequena Norma Jean abriu caminho na vida de uma forma surpreendente, se tornando até hoje no maior símbolo sexual feminino que se tem notícia. Ao longo de capítulos curtos o autor vai revelando os detalhes da vida de Marilyn, fatos esses que foram coletados por inúmeras entrevistas que realizou ao longo de uma extenso período de pesquisa. Ele entrevistou atores, diretores, empregados e ex namorados da atriz para formar um mosaico de sua personalidade.
A Marilyn que emerge de suas páginas é uma mulher cheia de problemas pessoais, afetivos, psicológicos mas ao mesmo tempo dona de um raro talento para surpreender em cena. Embora fosse uma atriz extremamente problemática nos sets de filmagens, Marilyn sempre conseguia se superar em seus filmes, mostrando muita presença e glamour. As histórias de bastidores de seus filmes já valem por si só o valor da compra da biografia. A atriz era a antítese do profissionalismo. Sempre causava algum tipo de confusão durante as produções: nunca chegava no horário certo, brigava com outros atores e atrizes, infernizava a vida dos diretores e levava sempre uma professora de interpretação a tiracolo. Também tinha um pavor patológico de gravar suas cenas, causando atrasos e mais atrasos por causa de sua insegurança fora do normal. Não raro abandonava os estúdios e sumia por dias, sem ninguém saber ao certo seu paradeiro. Apesar disso, como bem recorda o grande ator Lawrence Olivier, quando o filme era finalmente exibido a grande presença na tela sempre era dela, de Marilyn, que roubava as cenas dos demais atores.
A vida pessoal também era bastante conturbada. Marilyn casou oficialmente três vezes, embora haja até hoje a suspeita de que tenha casado uma quarta vez no México, em uma noite de loucuras. Casou-se pela primeira vez aos 16 anos em um casamento arranjado por sua tutora que queria se livrar dela. Depois que o marido foi para a marinha, Marilyn tratou de correr atrás de seu sonho de virar atriz em Hollywood. Ao mesmo tempo em que começava a despontar como modelo e atriz seu casamento ia por água abaixo. O segundo casamento foi com o mito do beisebol americano Joe DiMaggio, um descendente de italianos, casca grossa, ciumento e truculento que chegou a bater nela, causando o inevitável divórcio. Por fim se uniu ao intelectual Arthur Miller em sua última tentativa de ser feliz no matrimônio. Foi um casamento marcado pela indiferença e frieza por parte dele e de infidelidade por parte dela.
Outro ponto interessante do livro é aquele que trata sobre o envolvimento de Marilyn com os irmãos Kennedy (John, o presidente e Bobby, o procurador geral). O autor analisa as diversas teorias de que Marilyn teria sido morta em uma conspiração envolvendo o alto escalão do governo americano no começo da década de 60. Embora não se possa chegar na verdade absoluta dessa questão o escritor faz uma análise bastante interessante dos eventos e mistérios que cercam a morte da atriz. O uso abusivo de drogas e os problemas mentais dela também são enfocados de uma maneira lúcida e coerente. A única conclusão que podemos tirar após ler essa biografia é que apesar de ter alcançado os picos da fama, ter conquistado dinheiro e poder dentro da indústria cinematográfica, Marilyn Monroe morreu solitária e infeliz. Como todo mito que se preze, Marilyn também foi sepultada em sua incrível fama.
Pablo Aluísio.
Marilyn Monroe - A Nudez da Deusa
A cidade de Paris vai receber nos próximos dias uma nova exposição de fotos originais da atriz Marilyn Monroe. Intitulada “Marilyn, The Last Sitting” a amostra será realizada na galeria DS World Paris. Será uma celebração dos 55 anos do famoso ensaio de Marilyn Monroe com o fotógrafo Bert Stern que foi realizado apenas um mês antes da morte de Marilyn. As fotos estarão abertas ao público a partir de 6 de junho e ficará em exposição até dezembro. No total são 59 fotografias originais, trazidas pela primeira vez dos Estados Unidos à Europa. A exposição será aberta conjuntamente com outra que também é bem aguardada pelos parisienses, “Yves Saint Laurent, dans l’intimité du créateur”.
As fotos de Marilyn porém já estão chamando bastante atenção da imprensa francesa. Isso porque fazem parte das últimas sessões de Marilyn. Na época em que foram tiradas o fotógrafo Bert Stern trabalhava para a famosa revista de moda Vogue. Quando Marilyn recebeu o convite para as fotos ela disse a Bern que só as faria se fosse algo completamente novo e inovador. Aceitou inclusive ousar nas poses, aparecendo nua em diversas tomadas. Também expôs pela primeira vez uma cicatriz que tinha bem abaixo do abdômen, fruto de uma cirurgia que havia sido submetida na década anterior. Marilyn Monroe se expôs como poucas vezes na carreira nessa ocasião.
Para o curador da mostra, Julien Faux, essa será uma oportunidade única para os parisienses tomarem contato com as fotografias originais e não meras reproduções. Ele explicou: "Marilyn Monroe foi um ícone do século XX, um mito, uma mulher excepcional, muito à frente de seu tempo. Ela foi uma modelo e uma atriz que se tornou o ápice da vanguarda em sua época, tanto no mundo da moda como do cinema". O ingresso para a exposição estará à venda já nos primeiros dias de junho e custará 10 Euros.
Pablo Aluísio.
As fotos de Marilyn porém já estão chamando bastante atenção da imprensa francesa. Isso porque fazem parte das últimas sessões de Marilyn. Na época em que foram tiradas o fotógrafo Bert Stern trabalhava para a famosa revista de moda Vogue. Quando Marilyn recebeu o convite para as fotos ela disse a Bern que só as faria se fosse algo completamente novo e inovador. Aceitou inclusive ousar nas poses, aparecendo nua em diversas tomadas. Também expôs pela primeira vez uma cicatriz que tinha bem abaixo do abdômen, fruto de uma cirurgia que havia sido submetida na década anterior. Marilyn Monroe se expôs como poucas vezes na carreira nessa ocasião.
Para o curador da mostra, Julien Faux, essa será uma oportunidade única para os parisienses tomarem contato com as fotografias originais e não meras reproduções. Ele explicou: "Marilyn Monroe foi um ícone do século XX, um mito, uma mulher excepcional, muito à frente de seu tempo. Ela foi uma modelo e uma atriz que se tornou o ápice da vanguarda em sua época, tanto no mundo da moda como do cinema". O ingresso para a exposição estará à venda já nos primeiros dias de junho e custará 10 Euros.
Pablo Aluísio.
domingo, 11 de novembro de 2007
Paul Newman e o seu Tempo
Quando Paul Newman surgiu no mundo do cinema muitos o compararam com James Dean, o ídolo rebelde. Afinal eles tiveram praticamente as mesmas origens, estudaram nas mesmas escolas, moraram nos mesmos lugares e até mesmo se conheceram pessoalmente, se tornando amigos. Dean gostava de Newman e acreditava que ele um dia iria se tornar um astro. Estava mais do que certo. Havia um espírito de camaradagem e amizade entre eles porque afinal de contas ambos eram ex-alunos da principal escola de arte dramática de Nova Iorque: o Actors Studio.
Fundado por Elia Kazan, essa pequena escola fincada no 44th Street do bairro de Hell's Kitchen, formou uma geração de grandes atores como Marlon Brando, Al Pacino e os próprios James Dean e Paul Newman. Kazan queria que a arte dramática atingisse um novo patamar de excelência, tanto nos palcos como nas telas de cinemas. Paul Newman acreditava nesse ideal e seus primeiros trabalhos nos palcos de Nova Iorque foram maravilhosos. Ele surpreendeu a crítica não apenas por causa de seu ótimo visual, mas também pelo talento que demonstrava ao interpretar seus personagens.
Como Paul Newman estava se destacando nas peças teatrais e também em aparições na TV americana, onde interpretava personagens épicos em grandes adaptações de autores consagrados para o mundo da televisão, ele logo chamou a atenção dos grandes estúdios de Hollywood. Era o mais forte candidato a substituir James Dean. Claro que o tempo iria demonstrar que Paul Newman não era apenas o sucessor de Dean. Ele era um artista completo, com suas próprias peculiaridades, qualidades e personalidade. E Newman também não queria ser visto apenas como uma espécie de herdeiro de James Dean. Isso o limitaria demais como ator. Ele obviamente queria ter o seu próprio espaço.
A estreia de Newman em Hollywood porém foi bem decepcionante. Sem ter experiência, ele sucumbiu aos interesses dos executivos da Warner Bros. Ele imediatamente foi escalado para atuar na produção "O Cálice Sagrado", filme dirigido pelo cineasta Victor Saville. Era um épico sobre as origens do cristianismo. Um filme de época, que para falar a verdade não era o mais adequado para Newman naquele momento de começo em sua carreira no cinema. O roteiro tinha problemas, sendo reescrito a todo tempo, enquanto se filmava às pressas. A direção de arte também era bem estranha, com cenários e ambientação fugindo demais do que era esperado de um filme como aquele. O clima de tensão e stress não ajudou em nada e anos depois o próprio Paul Newman reconheceu que sua atuação havia deixado muito a desejar. Logo ele, que tanto primava por atuar bem. Quando o filme surgiu nas telas, Newman decidiu fazer algo inédito na história de Hollywood, publicando uma carta nos jornais pedindo desculpas por sua fraca atuação. Ele prometia melhorar nos próximos filmes em que iria atuar.
Pablo Aluísio.
Fundado por Elia Kazan, essa pequena escola fincada no 44th Street do bairro de Hell's Kitchen, formou uma geração de grandes atores como Marlon Brando, Al Pacino e os próprios James Dean e Paul Newman. Kazan queria que a arte dramática atingisse um novo patamar de excelência, tanto nos palcos como nas telas de cinemas. Paul Newman acreditava nesse ideal e seus primeiros trabalhos nos palcos de Nova Iorque foram maravilhosos. Ele surpreendeu a crítica não apenas por causa de seu ótimo visual, mas também pelo talento que demonstrava ao interpretar seus personagens.
Como Paul Newman estava se destacando nas peças teatrais e também em aparições na TV americana, onde interpretava personagens épicos em grandes adaptações de autores consagrados para o mundo da televisão, ele logo chamou a atenção dos grandes estúdios de Hollywood. Era o mais forte candidato a substituir James Dean. Claro que o tempo iria demonstrar que Paul Newman não era apenas o sucessor de Dean. Ele era um artista completo, com suas próprias peculiaridades, qualidades e personalidade. E Newman também não queria ser visto apenas como uma espécie de herdeiro de James Dean. Isso o limitaria demais como ator. Ele obviamente queria ter o seu próprio espaço.
A estreia de Newman em Hollywood porém foi bem decepcionante. Sem ter experiência, ele sucumbiu aos interesses dos executivos da Warner Bros. Ele imediatamente foi escalado para atuar na produção "O Cálice Sagrado", filme dirigido pelo cineasta Victor Saville. Era um épico sobre as origens do cristianismo. Um filme de época, que para falar a verdade não era o mais adequado para Newman naquele momento de começo em sua carreira no cinema. O roteiro tinha problemas, sendo reescrito a todo tempo, enquanto se filmava às pressas. A direção de arte também era bem estranha, com cenários e ambientação fugindo demais do que era esperado de um filme como aquele. O clima de tensão e stress não ajudou em nada e anos depois o próprio Paul Newman reconheceu que sua atuação havia deixado muito a desejar. Logo ele, que tanto primava por atuar bem. Quando o filme surgiu nas telas, Newman decidiu fazer algo inédito na história de Hollywood, publicando uma carta nos jornais pedindo desculpas por sua fraca atuação. Ele prometia melhorar nos próximos filmes em que iria atuar.
Pablo Aluísio.
sábado, 10 de novembro de 2007
Paul Newman
Quando Paul Newman faleceu em setembro do ano passado muitos jornalistas escreveram que ele seria o último membro da geração de Marlon Brando e James Dean. Não era bem assim. Newman pode ser considerado no máximo uma espécie de caçula daquele grupo fantástico de atores que despontaram nas telas de cinema nos anos 50. Embora no começo de sua carreira o ator tenha sido fortemente influenciado pelo estilo de interpretação de Brando e cia, ele só se firmou e criou identidade na segunda metade daquela década. Foi com "Marcado pela Sarjeta" que Newman finalmente encontrou o seu próprio estilo, criando a imagem que todos conhecemos. Esse tenso drama havia sido escrito inicialmente para ser estrelado por James Dean, que chegou inclusive a elogiar o personagem em entrevistas antes do trágico acidente que o vitimou. Com o falecimento de Dean, o papel foi parar nas mãos de Newman que não desperdiçou a grande oportunidade.
Seu segundo grande papel porém só veio após três outros longas, em Mercador de Almas. Essa é a primeira grande interpretação do ator. O personagem em si é um presente, um sujeito sem qualquer tipo de valor moral, que quer apenas subir na vida, não importando em nenhum momento os meios para atingir seus objetivos. Com ele Newman foi premiado no prestigioso Festival de Cannes e consolidou-se como um dos mais talentosos astros de Hollywood. Depois disso foi uma sucessão de grandes momentos: Desafio a Corrupção, O Doce Pássaro da Juventude. Rebeldia Indomável e o famoso filme em que foi dirigido por Hitchcock, o drama de espionagem Cortina Rasgada. No final da década de 60 estrelou ainda o grande sucesso de toda a sua filmografia: Butch Cassidy, onde ao lado do parceiro Robert Redford recriou um dos grandes mitos da história do western americano. A parceria inclusive renderia outro grande sucesso, Golpe de Mestre, delicioso filme que foi merecidamente consagrado pelo Oscar.
Elencar a longa lista de grandes filmes soa desnecessário. Newman foi um caso raro de astro que não perdeu o pique ao longo dos anos. Mesmo quando já estava com uma certa idade nunca deixou de estrelar boas produções. Também foi singular em sua vida pessoal. Foi casado por longos anos com a atriz Joanne Woodward, tendo inclusive estrelado vários filmes ao seu lado ao longo da carreira. Quando perguntado como conseguia ser fiel em Hollywood, Newman se saía com uma tirada bem humorada: "Para que fazer besteira com hambúrgueres se tenho um filé de primeira em casa?" Porém como nenhuma história é perfeita, Newman também sofreu sua cota de tragédias pessoais, sendo a mais marcante a morte de seu filho Scott, por overdose de drogas, na década de 70.
No mês passado completou-se um ano de sua morte. Paul Newman deixou sua marca certamente. Ao contrário da introspecção de um Montgomery Clift, dos dramas pessoais de um James Dean ou da paixão de um Marlon Brando, Newman preferiu abraçar personagens menos profundos e atormentados, fazendo geralmente sobreviventes do dia a dia, pessoas que tentavam vencer as adversidades da vida da melhor forma possível e com os meios que tinham ao alcance das mãos. Foi reconhecido tardiamente pela academia ao ganhar o Oscar por "A Cor do Dinheiro", filme que estrelou ao lado de Tom Cruise. De qualquer forma antes tarde do que nunca. No fim da vida anunciou sua aposentadoria com muita dignidade ao afirmar: "Eu não sou capaz de trabalhar mais, não no nível em que eu quero. Você começa a perder sua memória, você começa a perder sua confiança, você começa a perder sua invenção. Então eu acho que o livro fechou para mim". De qualquer forma uma coisa é certa, o ciclo de sua obra jamais se fechará pois certamente sempre será renovada no interesse das novas gerações de cinéfilos que conhecerão sua extensa e rica filmografia nos anos que virão.
Pablo Aluísio.
Seu segundo grande papel porém só veio após três outros longas, em Mercador de Almas. Essa é a primeira grande interpretação do ator. O personagem em si é um presente, um sujeito sem qualquer tipo de valor moral, que quer apenas subir na vida, não importando em nenhum momento os meios para atingir seus objetivos. Com ele Newman foi premiado no prestigioso Festival de Cannes e consolidou-se como um dos mais talentosos astros de Hollywood. Depois disso foi uma sucessão de grandes momentos: Desafio a Corrupção, O Doce Pássaro da Juventude. Rebeldia Indomável e o famoso filme em que foi dirigido por Hitchcock, o drama de espionagem Cortina Rasgada. No final da década de 60 estrelou ainda o grande sucesso de toda a sua filmografia: Butch Cassidy, onde ao lado do parceiro Robert Redford recriou um dos grandes mitos da história do western americano. A parceria inclusive renderia outro grande sucesso, Golpe de Mestre, delicioso filme que foi merecidamente consagrado pelo Oscar.
Elencar a longa lista de grandes filmes soa desnecessário. Newman foi um caso raro de astro que não perdeu o pique ao longo dos anos. Mesmo quando já estava com uma certa idade nunca deixou de estrelar boas produções. Também foi singular em sua vida pessoal. Foi casado por longos anos com a atriz Joanne Woodward, tendo inclusive estrelado vários filmes ao seu lado ao longo da carreira. Quando perguntado como conseguia ser fiel em Hollywood, Newman se saía com uma tirada bem humorada: "Para que fazer besteira com hambúrgueres se tenho um filé de primeira em casa?" Porém como nenhuma história é perfeita, Newman também sofreu sua cota de tragédias pessoais, sendo a mais marcante a morte de seu filho Scott, por overdose de drogas, na década de 70.
No mês passado completou-se um ano de sua morte. Paul Newman deixou sua marca certamente. Ao contrário da introspecção de um Montgomery Clift, dos dramas pessoais de um James Dean ou da paixão de um Marlon Brando, Newman preferiu abraçar personagens menos profundos e atormentados, fazendo geralmente sobreviventes do dia a dia, pessoas que tentavam vencer as adversidades da vida da melhor forma possível e com os meios que tinham ao alcance das mãos. Foi reconhecido tardiamente pela academia ao ganhar o Oscar por "A Cor do Dinheiro", filme que estrelou ao lado de Tom Cruise. De qualquer forma antes tarde do que nunca. No fim da vida anunciou sua aposentadoria com muita dignidade ao afirmar: "Eu não sou capaz de trabalhar mais, não no nível em que eu quero. Você começa a perder sua memória, você começa a perder sua confiança, você começa a perder sua invenção. Então eu acho que o livro fechou para mim". De qualquer forma uma coisa é certa, o ciclo de sua obra jamais se fechará pois certamente sempre será renovada no interesse das novas gerações de cinéfilos que conhecerão sua extensa e rica filmografia nos anos que virão.
Pablo Aluísio.
O Humor de Jerry Lewis
Sem exageros, Jerry Lewis foi certamente um dos humoristas mais populares e queridos do cinema americano. O curioso é perceber que sua ida para as telas foi quase um acaso do destino. Jerry era comediante de palco, fazia apresentações em hotéis, cassinos e restaurantes. Sua grande sacada foi se unir ao cantor Dean Martin. Jerry interpretava o pateta da dupla, enquanto seu colega era o galã, o conquistador. Desse choque de diferenças nascia a maioria das situações de humor.
A fórmula deu tão certa que a dupla foi convidada pelo produtor Hal Wallis (de "Casablanca") para aparecer no filme "A Amiga da Onça" (My Friend Irma, 1949). Era uma comédia romântica bem bobinha (mas igualmente divertida) estrelada pela atriz Diana Lynn. Era verdade que não havia muito espaço dentro do roteiro para Martin e Lewis, mas isso acabou se revelando uma vantagem e não um problema. Isso porque nas poucas cenas que tiveram para mostrar seu trabalho eles conseguiram se destacar. Mais do que isso, muitos críticos foram além, dizendo que eles tinham roubado o show, o filme, só para si.
Havia ficado meio óbvio para Hal Wallis e os executivos da Paramount Pictures que ali poderia haver uma grande oportunidade de ganhos e lucros. Afinal muitas duplas cômicas tinham feito sucesso antes no cinema como, por exemplo, O Gordo e o Magro e Abbott & Costello. Curiosamente Wallis também logo percebeu que a cabeça pensante da dupla não era Dean Martin, como muitos poderiam pensar. O verdadeiro talento para negociar contratos e impor cláusulas e condições para novos filmes vinha de Jerry Lewis. Basicamente ele havia criado aquele número e não estava disposto a abrir mão do controle artístico dos filmes em que iria atuar.
No começo Jerry Lewis abriu espaço para vários diretores, mas depois de um tempo ele mesmo assumiu a direção dos filmes, aumentando seu controle sobre tudo. Dean Martin era um sujeito bem cool, que parecia não se importar e nem se preocupar muito. Para ele o importante era que a dupla estava fazendo cinema em Hollywood, ganhando bem e com enorme potencial de sucesso nos anos que viriam. Era um sonho realizado. Já Lewis não era tão tranquilo assim. Mesmo no começo da carreira ele fazia questão de discutir os roteiros dos filmes com os diretores, sempre colocando "cacos" em sua interpretação. Nesses primeiros filmes ele ainda não havia mostrado toda a sua sede de controle, mas era apenas questão de tempo para tudo isso acontecer.
Pablo Aluísio.
A fórmula deu tão certa que a dupla foi convidada pelo produtor Hal Wallis (de "Casablanca") para aparecer no filme "A Amiga da Onça" (My Friend Irma, 1949). Era uma comédia romântica bem bobinha (mas igualmente divertida) estrelada pela atriz Diana Lynn. Era verdade que não havia muito espaço dentro do roteiro para Martin e Lewis, mas isso acabou se revelando uma vantagem e não um problema. Isso porque nas poucas cenas que tiveram para mostrar seu trabalho eles conseguiram se destacar. Mais do que isso, muitos críticos foram além, dizendo que eles tinham roubado o show, o filme, só para si.
Havia ficado meio óbvio para Hal Wallis e os executivos da Paramount Pictures que ali poderia haver uma grande oportunidade de ganhos e lucros. Afinal muitas duplas cômicas tinham feito sucesso antes no cinema como, por exemplo, O Gordo e o Magro e Abbott & Costello. Curiosamente Wallis também logo percebeu que a cabeça pensante da dupla não era Dean Martin, como muitos poderiam pensar. O verdadeiro talento para negociar contratos e impor cláusulas e condições para novos filmes vinha de Jerry Lewis. Basicamente ele havia criado aquele número e não estava disposto a abrir mão do controle artístico dos filmes em que iria atuar.
No começo Jerry Lewis abriu espaço para vários diretores, mas depois de um tempo ele mesmo assumiu a direção dos filmes, aumentando seu controle sobre tudo. Dean Martin era um sujeito bem cool, que parecia não se importar e nem se preocupar muito. Para ele o importante era que a dupla estava fazendo cinema em Hollywood, ganhando bem e com enorme potencial de sucesso nos anos que viriam. Era um sonho realizado. Já Lewis não era tão tranquilo assim. Mesmo no começo da carreira ele fazia questão de discutir os roteiros dos filmes com os diretores, sempre colocando "cacos" em sua interpretação. Nesses primeiros filmes ele ainda não havia mostrado toda a sua sede de controle, mas era apenas questão de tempo para tudo isso acontecer.
Pablo Aluísio.
sexta-feira, 9 de novembro de 2007
Frank Sinatra, JFK e a Máfia
Um dos aspectos mais curiosos da história de Frank Sinatra foi sua aproximação ao senador John Kennedy (futuro presidente dos Estados Unidos) e a ligação que ele acabou exercendo entre o clã de JFK e a máfia italiana durante a década de 1960. Inicialmente tudo foi fruto de uma série de coincidências que foram acontecendo. Não havia um plano por parte de Sinatra em aproximar a máfia de John Kennedy, nada disso, foi algo que apenas aconteceu.
O interesse de Sinatra em relação a Kennedy era algo natural de acontecer. O cantor sempre foi ligado ao Partido Democrata, sendo um eleitor e um partidário até bastante animado. Sinatra não tinha nenhuma razão para ser republicano, uma vez que ele nasceu em uma família de imigrantes, teve um começo difícil e não era um riquinho ou algo do tipo. Assim Sinatra se identificava basicamente com a classe trabalhadora.
O senador John Kennedy (que todos chamavam de Jack na intimidade) era um jovem político, representando uma brisa de inovação na saturada e envelhecida classe política americana. Assim que Sinatra conheceu Kennedy pessoalmente ele ficou animado para colaborar. Frank tinha mesmo uma forte convicção que JFK era a solução para os problemas do país, um homem que iria marcar para sempre caso conseguisse ganhar a eleição.
Sua opinião porém não era compartilhada por seus amigos mafiosos. A família Kennedy era velha conhecida da máfia. Os principais chefões conheciam bem o pai de JFK, considerado por eles como um velho escroque irlandês. Um homem que passava longe das ideias de Sinatra. O velho patriarca Kennedy havia inclusive se envolvido no contrabando de bebidas ilegais durante a Lei Seca. Ele passava longe de ser um exemplo para quem quer que seja. Depois de casar com a rica herdeira do banco Fitzgerald, ele obviamente ficou muito rico e deixou suas trambicagens de lado, mas a Máfia sabia muito bem de onde vinha Kennedy e seu passado. Assim não havia nenhuma surpresa sobre aquela família. O próprio John não era bem visto pela Cosa Nostra. O chefão Salvatore Giancana, por exemplo, costumava dizer que JFK era um verme, resumindo a questão numa frase: "Dê uma mulher a esse cara e ele fará o que você quiser!"
Frank Sinatra soube que o presidente John Kennedy havia sido assassinado em Dallas quando estava bem no meio das filmagens de "Robin Hood de Chicago", uma comédia musical com toques pontuais de filmes policiais que ele estava filmando ao lado de seus amigos Dean Martin e Sammy Davis Jr. O cantor estava bem no meio de uma cena que estava sendo rodada em um cemitério quando foi chamado de lado por Dean Martin. Ele então falou para Sinatra que John Kennedy estava morto, que ele havia sido baleado na cabeça durante uma parada e que ninguém sabia ainda ao certo o que havia acontecido. Ao ouvir aquilo Sinatra ficou branco como uma parede!
Frank Sinatra ficou devastado com aquela notícia. Ele havia trabalhado ao lado do jovem senador para elegê-lo presidente dos Estados Unidos. Havia uma certa mágoa por parte de Sinatra porque uma vez eleito JFK se afastou dele por causa das suas ligações com chefões mafiosos, mas mesmo essa pequena "traição" não havia abalado muito sua admiração por Kennedy. "Como isso é possível?! Como isso foi acontecer?!" - repetia as mesmas perguntas aos seus amigos no set de filmagens. Embora não falasse isso no choque do momento o fato é que Sinatra pensou em Salvatore Giancana, o chefão da máfia de Chicago, quando soube que JFK estava morto!
Giancana também havia trabalhado pela eleição de JFK na campanha, mas sentia-se completamente traído por ele após seu irmão, Bobby Kennedy, iniciar uma verdadeira cruzada contra as famílias mafiosas nos Estados Unidos. Sinatra se via numa situação delicada pois havia pedido o apoio de Sam Giancana e depois ele passara a ser perseguido pelo FBI e pelo procurador geral, cargo ocupado justamente por Bobby. Foi uma saia justa delicadíssima para Sinatra. Assim quando foi informado que Kennedy havia levado um balaço certeiro na cabeça, Sinatra pensou no chefe mafioso. Depois se acalmou um pouco ao descobrir que o assassino do presidente era um ex-fuzileiro naval chamado Lee Harvey Oswald, sem ligações com o submundo do crime de Chicago.
As suspeitas porém voltaram alguns dias depois quando Oswald foi apagado por Jacob Rubenstein, alcunha de Jack Ruby, esse sim um sujeito que tinha ligações com a máfia. Sinatra ficou intrigado com aquilo. Ele já ouvira falar de Ruby, inclusive de encontros com Sam Giancana! O que havia por trás de tudo aquilo? Um dos problemas que Sinatra tinha que enfrentar era que o FBI estava começando a pegar no seu pé por causa desse tipo de ligação do cantor com chefes mafiosos. O FBI andava desconfiando que Sinatra não passava de um laranja de Giancana em seu empreendimento do Cal Neva Lodge & Casino, que muitos diziam ser na verdade do chefão da máfia e não de Sinatra. Afinal qual era a verdade no meio de tantos mistérios não resolvidos?
Pablo Aluísio.
O interesse de Sinatra em relação a Kennedy era algo natural de acontecer. O cantor sempre foi ligado ao Partido Democrata, sendo um eleitor e um partidário até bastante animado. Sinatra não tinha nenhuma razão para ser republicano, uma vez que ele nasceu em uma família de imigrantes, teve um começo difícil e não era um riquinho ou algo do tipo. Assim Sinatra se identificava basicamente com a classe trabalhadora.
O senador John Kennedy (que todos chamavam de Jack na intimidade) era um jovem político, representando uma brisa de inovação na saturada e envelhecida classe política americana. Assim que Sinatra conheceu Kennedy pessoalmente ele ficou animado para colaborar. Frank tinha mesmo uma forte convicção que JFK era a solução para os problemas do país, um homem que iria marcar para sempre caso conseguisse ganhar a eleição.
Sua opinião porém não era compartilhada por seus amigos mafiosos. A família Kennedy era velha conhecida da máfia. Os principais chefões conheciam bem o pai de JFK, considerado por eles como um velho escroque irlandês. Um homem que passava longe das ideias de Sinatra. O velho patriarca Kennedy havia inclusive se envolvido no contrabando de bebidas ilegais durante a Lei Seca. Ele passava longe de ser um exemplo para quem quer que seja. Depois de casar com a rica herdeira do banco Fitzgerald, ele obviamente ficou muito rico e deixou suas trambicagens de lado, mas a Máfia sabia muito bem de onde vinha Kennedy e seu passado. Assim não havia nenhuma surpresa sobre aquela família. O próprio John não era bem visto pela Cosa Nostra. O chefão Salvatore Giancana, por exemplo, costumava dizer que JFK era um verme, resumindo a questão numa frase: "Dê uma mulher a esse cara e ele fará o que você quiser!"
Frank Sinatra soube que o presidente John Kennedy havia sido assassinado em Dallas quando estava bem no meio das filmagens de "Robin Hood de Chicago", uma comédia musical com toques pontuais de filmes policiais que ele estava filmando ao lado de seus amigos Dean Martin e Sammy Davis Jr. O cantor estava bem no meio de uma cena que estava sendo rodada em um cemitério quando foi chamado de lado por Dean Martin. Ele então falou para Sinatra que John Kennedy estava morto, que ele havia sido baleado na cabeça durante uma parada e que ninguém sabia ainda ao certo o que havia acontecido. Ao ouvir aquilo Sinatra ficou branco como uma parede!
Frank Sinatra ficou devastado com aquela notícia. Ele havia trabalhado ao lado do jovem senador para elegê-lo presidente dos Estados Unidos. Havia uma certa mágoa por parte de Sinatra porque uma vez eleito JFK se afastou dele por causa das suas ligações com chefões mafiosos, mas mesmo essa pequena "traição" não havia abalado muito sua admiração por Kennedy. "Como isso é possível?! Como isso foi acontecer?!" - repetia as mesmas perguntas aos seus amigos no set de filmagens. Embora não falasse isso no choque do momento o fato é que Sinatra pensou em Salvatore Giancana, o chefão da máfia de Chicago, quando soube que JFK estava morto!
Giancana também havia trabalhado pela eleição de JFK na campanha, mas sentia-se completamente traído por ele após seu irmão, Bobby Kennedy, iniciar uma verdadeira cruzada contra as famílias mafiosas nos Estados Unidos. Sinatra se via numa situação delicada pois havia pedido o apoio de Sam Giancana e depois ele passara a ser perseguido pelo FBI e pelo procurador geral, cargo ocupado justamente por Bobby. Foi uma saia justa delicadíssima para Sinatra. Assim quando foi informado que Kennedy havia levado um balaço certeiro na cabeça, Sinatra pensou no chefe mafioso. Depois se acalmou um pouco ao descobrir que o assassino do presidente era um ex-fuzileiro naval chamado Lee Harvey Oswald, sem ligações com o submundo do crime de Chicago.
As suspeitas porém voltaram alguns dias depois quando Oswald foi apagado por Jacob Rubenstein, alcunha de Jack Ruby, esse sim um sujeito que tinha ligações com a máfia. Sinatra ficou intrigado com aquilo. Ele já ouvira falar de Ruby, inclusive de encontros com Sam Giancana! O que havia por trás de tudo aquilo? Um dos problemas que Sinatra tinha que enfrentar era que o FBI estava começando a pegar no seu pé por causa desse tipo de ligação do cantor com chefes mafiosos. O FBI andava desconfiando que Sinatra não passava de um laranja de Giancana em seu empreendimento do Cal Neva Lodge & Casino, que muitos diziam ser na verdade do chefão da máfia e não de Sinatra. Afinal qual era a verdade no meio de tantos mistérios não resolvidos?
Pablo Aluísio.
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