sábado, 29 de setembro de 2007
A Morte de Marilyn Monroe
Ela então foi levado até o hospital, mesmo sabendo os paramédicos que já estava morta, sem sinais vitais. Dentro do hospital Marilyn Monroe ou Norma Jean (seu nome real) foi declarada morta por dois médicos de plantão, o que era uma exigência legal. Seu corpo então foi levado para o setor de autópsias do hospital onde se procurou pela causa, a razão de sua morte. Um fato triste aconteceu quando um funcionário do hospital foi subornado por dois jornalistas que tiraram duas fotos de Marilyn falecida. Uma foto foi tirada dela de frente, outra de lado. Uma clara falta de ética por parte da imprensa que já estava alucinada em busca de informações sobre a morte da atriz. Enquanto tudo isso acontecia os principais jornais do mundo noticiavam que Marilyn havia morrido de uma overdose acidental de pílulas para dormir, algo que depois seria confirmado pelos exames colhidos na autópsia. Ela morreu de uma combinação fatal de Nembutal (pentobarbital sódico) com Hidrato de cloral.
Após sua morte o corpo de Marilyn Monroe ficou por algumas horas à espera de algum familiar que cuidasse de seus documentos e funeral. Ninguém apareceu. Não era de se admirar. Marilyn praticamente não tinha mais parentes vivos e sua mãe estava internada em uma instituição para doentes mentais. Quando soube que ninguém havia reivindicado o corpo para o funeral, seu ex-marido Joe DiMaggio pegou o primeiro avião para Los Angeles. Ele assumiria os preparativos e o funeral de sua querida ex-esposa.
A primeira providência foi levar a equipe de maquiagem de Marilyn para a casa funerária. A autópsia pela qual havia passado tinha desfigurado a beleza de uma das mulheres mais belas da história do cinema. Seu cabelo estava queimado nas raízes e seu busto desaparecera após os procedimentos de necropsia. Marilyn havia pedido ao seu maquiador e amigo pessoal que quando morresse ele cuidaria de sua aparência. Whitey Snyder e sua esposa então começaram os trabalhos para trazer de volta à Marilyn Monroe que todos lembravam. Um peruca loira foi providenciada, a mesma que ela usara no filme "Os Desajustados", pois não havia mais como fazer nada em relação ao seu cabelo. Duas pequenas almofadas foram utilizadas para recriar o busto de que Marilyn tinha tanto orgulho. Marilyn então foi vestida com um modelo Pucci muito simples, que ela adorava em vida. Como toque final o maquiador enrolou em seu pescoço uma bonita echarpe de Chiffon.
Lá fora a confusão era enorme. A imprensa tentava tirar declarações de Joe DiMaggio mas esse se recusou a falar. Ao contrário disso providenciou uma cripta no cemitério Westwood Memorial Park, que tinha um sistema de urnas funerárias, ao contrário de covas. Marilyn tinha pavor de ser enterrada debaixo do chão e havia comentado com DiMaggio que gostaria de repousar após sua morte em uma urna como a de Westwood. Era um cemitério moderno para os anos 60, ao lado de uma avenida movimentada e uma loja de carros usados. Não se parecia em nada com um cemitério comum, pois tudo lembrava um lugar muito calmo, com amplas galerias, jardins e bancos brancos para os visitantes ficarem à vontade. Era uma cripta de parede de mármore, tudo com muito bom gosto. Ao lado havia um pequeno nicho para colocar flores. Enquanto esteve vivo Joe DiMaggio pagou a uma jovem senhora para levar flores todos os dias na urna da ex-esposa. Joe DiMaggio também soltou uma pequena nota para a imprensa que dizia: "O funeral de Marilyn Monroe será muito simples, de forma que ela possa ir para seu descanso final na paz que sempre procurou". Depois mandou avisar que qualquer doação deveria ser revertida para instituições de caridade de amparo a crianças carentes e órfãs, como a própria Marilyn Monroe havia sido em vida.
Todos os grandes figurões de Hollywood queriam comparecer ao funeral de Marilyn, mas Joe DiMaggio fez uma lista de apenas 24 convidados. Qualquer outra pessoa seria barrada. Frank Sinatra ficou de fora e sentiu-se ofendido. Rumou ao cemitério e forçou sua entrada, mas foi barrado aos safanões por grandalhões italianos contratados por DiMaggio. Ele considerava Sinatra um cretino, um calhorda, que havia explorado Marilyn Monroe. Além disso o fato de Sinatra ter sido amigo dos Kennedy o deixava imediatamente na lista negra de DiMaggio. Sobre a família Kennedy o ex-marido de Marilyn foi firme e incisivo: "Certifiquem-se de que nenhum maldito membro da família Kennedy esteja por aqui no funeral!". Sammy Davis Jr e a cantora Ella Fitzgerald também foram barrados nos portões do cemitério. Dean Martin, que conhecia muito mais o temperamento de DiMaggio se limitou a enviar uma pequena coroa de flores, gesto que foi imitado por Marlon Brando.
A cerimônia foi breve. Ao som de "Over The Rainbow" o corpo de Marilyn foi encomendado. Ela era fã de Judy Garland e por isso DiMaggio pediu que a canção fosse tocada. Depois disso seu caixão foi aberto por alguns minutos. O último a se despedir foi o próprio DiMaggio que em prantos beijou a ex-esposa pela última vez declarando: "Eu te amo!". Marilyn tinha um pequeno buquê de flores nas mãos. Depois disso um pequeno cortejo levou Marilyn até seu local de descanso eterno. Na lápide ao invés de "Norma Jean", DiMaggio preferiu colocar o nome pelo qual ela sempre será lembrada com a singela inscrição "Marilyn Monroe - 1926 - 1962". Tudo muito simples, mas elegante.
O local de descanso eterno de Marilyn rapidamente virou ponto turístico em Los Angeles. Todos os dias havia muita gente indo até lá para fazer uma oração ou prestar as últimas homenagens à memória da atriz. Com os anos outros astros famosos também foram sepultados perto de Marilyn, como por exemplo Natalie Wood que jaz a poucos metros da cripta da colega e Dean Martin que comprou sua urna após visitar pela primeira vez o lugar onde sua amiga havia sido sepultada.
Em 2009 foi realizado um leilão para venda da cripta acima da Marilyn Monroe. O maior lance de 4,6 milhões de dólares foi o vencedor. O local estava ocupado por um homem morto em 1981, chamado Richard Poncher. A viúva do sujeito então resolveu exumar o marido para ganhar essa pequena fortuna com a venda de sua urna funerária. Isso demonstrou bem bem que apesar de todos os anos passados, o mito de Marilyn Monroe ainda sobrevive, tão forte como na época de sua morte, afinal o sol nunca se põe sobre os grandes mitos do cinema.
Pablo Aluísio.
Sean Connery (1930 - 2020)
Sean Connery (1930 - 2020)
O mundo do cinema teve uma grande perda. Morreu no último dia 31 de outubro, aos 90 anos de idade, o grande ator Sean Connery. Ao longo de sua carreira o ator foi admirado por gerações de cinéfilos. Foram 94 filmes no total, contando essa longa e produtiva lista com filmes que já são considerados clássicos modernos da sétima arte.
Segundo informações repassadas pela própria esposa, Sean Connery lutava contra problemas sérios de saúde em seus últimos anos. Ele estaria sofrendo de demência e falta de consciência de si mesmo, o que fez com que a esposa fizesse o seguinte comentário: "Essa não era mais uma vida para ele viver. Para um ator que passou a vida decorando textos e interagindo com as pessoas, ele tinha perdido as coisas mais preciosas de sua existência".
Isso explicaria o fato de que Sean Connery ficou longos anos afastado das telas. Seu último filme foi "A Liga Extraordinária", um filme aliás que ele não gostou de fazer, tendo diversos atritos com os produtores por causa dos rumos que o filme tomou durante as filmagens. Ao longo dos anos temos escrito bastante sobre os filmes de Sean Connery em todos os blogs. Ele está e sempre estará presente em nossos textos. Muito obrigado por tudo Sir Sean Connery.
Pablo Aluísio.
sexta-feira, 28 de setembro de 2007
Paul Newman
Outro fato curioso é que o ator, ao contrário de outros famosos de Hollywood, conseguiu manter por longos anos um casamento estável e aparentemente feliz. Ele foi casado com a atriz Joanne Woodward. Apesar dos problemas e até mesmo de uma grande tragédia pessoal, quando um de seus filhos sucumbiu ao mundo das drogas, morrendo de uma overdose, o casamento seguiu firme e forte ao longo das décadas.
Recentemente porém um autor desvendou um dos segredos mais bem guardados de Hollywood. Ao contrário do que muitos pensavam Paul Newman não era um homem fiel com sua esposa. Na biografia intitulada "Paul Newman: Uma Vida" de Shawn Levy, os seus fãs e admiradores descobriram que o ator era infiel, tinha amantes e até mesmo um relacionamento fixo fora do casamento que durou anos. Até sua morte se pensou que ele era um homem casado exemplar, que nunca tivera romances extraconjugais em sua vida. Era considerado um exemplo dentro da comunidade de Hollywood.
De qualquer forma, se estivesse vivo, o ator certamente estaria contente com as eleições americanas realizadas nesse ano. Ele foi um ativista do Partido Democrata nos Estados Unidos, sempre levantando bandeiras contra o preconceito racial, em favor dos direitos das minorias, dos homossexuais, imigrantes, etc. Certamente, se ainda fosse vivo, ele teria atuado de forma positiva em todos esses movimentos políticos até os dias de hoje. O ator, infelizmente, nos deixou em 2008, vítima de um câncer de pulmão.
Pablo Aluísio.
Tyrone Power - Mergulho no Inferno
Assim essa produção pode ser vista como parte do esforço de guerra que Hollywood promovia na época, numa clara tentativa de manter a moral e o empenho dos militares em alta. Power interpretava um personagem que servia na marinha dos Estados Unidos. Aliás a produção do filme só foi possível com a plena colaboração das forças armadas daquele país.
Um aspecto interessante é que todos os navios e embarcações que aparecem no filme são históricos, realmente lutavam na guerra naquele momento. Dessa forma o filme ganha um interesse extra para quem aprecia história militar, pois tem a chance de ver esses navios de guerra em seu auge, ainda funcionais e prontos para batalhas navais. Certamente esse atrativo vai despertar ainda mais a curiosidade de quem ainda não viu esse bom filme de guerra, estrelado por um dos mais populares galãs de cinema de Hollywood naquela época.
Abaixo segue parte do material promocional desse filme clássico de guerra "Mergulho no Inferno" com Tyrone Power. Esse tipo de poster era enviado para os cinemas, para ajudar na publicidade e divulgação dos filmes que chegavam nas telas. Um souvenir hoje em dia para quem aprecia material vintage dos tempos da II Guerra Mundial.
Pablo Aluísio,
quinta-feira, 27 de setembro de 2007
Quem matou Marilyn Monroe?
Teoria 1: No dia em que Marilyn morreu ela ligou e conseguiu falar com Bob por telefone. Kennedy deixou claro que tudo estava acabado e que ela não deveria mais lhe procurar pois era um homem casado! Marilyn foi à loucura com isso e deixou claro para Bob que iria contar tudo sobre seus romances com ele e o irmão JFK para a imprensa americana. Segundo essa teoria Bob, temeroso pelo que poderia acontecer, ligou para o FBI. O todo poderoso chefe da agência, J. Edgar Hoover, então resolveu agir. Mandou alguns de seus melhores agentes que foram até a casa de Marilyn. Chegando lá eles a teriam matado com uma overdose de drogas. Para não deixar rastros usaram um enema. A morte teria ocorrido entre 00:00hs e 3:30hs. Depois do trabalho feito eles teriam ido embora, sendo que Marilyn oficialmente só seria encontrada às 3:30hs por sua empregada que ouviu o som ligado e a luz acessa. Quando olhou pela janela viu Marilyn sem vida com a mão no telefone. Tudo não passaria de uma farsa para enganar a polícia de Los Angeles.
Teoria 2: No dia em que Marilyn morreu ela ligou e conseguiu falar com Bob por telefone. Kennedy deixou claro que tudo estava acabado e que ela não deveria mais lhe procurar pois era um homem casado! Marilyn foi à loucura com isso e deixou claro para Bob que iria contar tudo sobre seus romances com ele e o irmão JFK para os jornais que iriam acabar com eles no dia seguinte. Preocupado Bob então teria rumado para a casa da atriz, mas chegando lá já a teria encontrado em estado de overdose. Desesperado, ligou para o FBI que enviou agentes. Marilyn teria sido levada às pressas para um hospital mas morreu no caminho. Então os agentes retornaram, limparam seu quarto e montaram uma cena de suicídio. Bob tomou um avião para San Francisco para não despertar suspeitas. Nesse quadro Marilyn teria deixado uma carta contando porque se matara. O FBI sumiu rapidamente com o escrito pois comprometia Bob e seu irmão JFK.
Teoria 3: No dia em que Marilyn morreu ela ligou e conseguiu falar com Bob por telefone. Kennedy deixou claro que tudo estava acabado e que ela não deveria mais lhe procurar pois era um homem casado! Marilyn foi à loucura com isso e deixou claro para Bob que iria contar tudo sobre seus romances com ele e o irmão JFK para a imprensa no dia seguinte. Nesse quadro Bob manda o ator Peter Lawford para a casa de Marilyn. Ao chegar lá encontra a atriz em coma. Desesperado chama o FBI. Eles limpam o cenário de sua morte, sumindo com qualquer evidência que comprometa os Kennedys. Isso acontece entre às 00:00hs e 3:30hs quando finalmente a polícia de Los Angeles é chamada ao local. Fatos parecem comprovar que alguém esteve na casa de Marilyn. Seu diário pessoal desapareceu e um cofre onde ela guardava documentos foi violado. O sumiço dos números discados por ela na noite de sua morte também desapareceram misteriosamente. Anos depois Peter Lawford teria confirmado tudo para uma de suas ex-esposas.
Teoria 4: No dia em que Marilyn morreu ela ligou e conseguiu falar com Bob por telefone. Kennedy deixou claro que tudo estava acabado e que ela não deveria mais lhe procurar pois era um homem casado! Marilyn foi à loucura com isso e deixou claro para Bob que iria contar tudo sobre seus romances com ele e o irmão JFK. Bob vai até sua casa e acalma a atriz. Promete que vai repensar sua vida sentimental e suplica para que Marilyn se controle. Por voltas das 22:00hs, após jantar com ela, vai embora mais aliviado. Nessa teoria a máfia resolve agir. Ela monitora a casa de Marilyn e registra com fotos o encontro de Marilyn e Bob. Quando Sam Giancana sabe do ocorrido manda seus homens para matarem Marilyn naquela mesma noite. A intenção é incriminar Bob e seu irmão JFK pela morte. Eles conseguem seus objetivos mas depois que vão embora o FBI entra na casa de Marilyn para destruir todas as provas deixadas pelos mafiosos, provas essas que ligariam Bob e seu irmão presidente John aos crimes. Esse jogo de plantação de provas e sumiço com elas acontece nas horas que vão da morte da atriz, às 00:00hs até às 3:30hs quando finalmente a polícia de Los Angeles é chamada ao local pela empregada de Marilyn.
Como se pode ver teorias não faltam. Até hoje pairam dúvidas sobre o que aconteceu naquela noite. O que se sabe com alguma certeza é que Marilyn entrou em um jogo perigoso, que envolvia ameaças aos irmãos Kennedys de que ela revelaria tudo para a imprensa. O romance entre Marilyn e os irmãos Kennedys, homens casados que posavam de bons maridos para a imprensa, era incendiário por si só. Agora, a verdade absoluta, acredito que essa nunca saberemos ao certo.
Pablo Aluísio.
Entrevista: Robert Mitchum
Ele está aqui no Festival de cinema de Virgínia, diz o programa, porque ele encarna "a alma do filme noir". Sim. Isso é certamente correto. Em suas inflexões irônicas, em seus olhos sonolentos cínicos, na forma lacônica como ele lida com uma arma ou uma dama, ele encarna a essência de um dos mais obscuros gêneros cinematográficos norte-americanos.
Tudo isso é verdade e Mitchum se diverte com o título que lhe deram. "Nós chamávamos aquilo de cinema B, filmes B", disse ele . "Simplesmente porque a pura verdade era que nós não tínhamos dinheiro para uma grande produção, não tínhamos os equipamentos, não tínhamos as luzes, nós não tínhamos nem tempo. A única coisa que nós realmente tínhamos eram algumas boas histórias para contar."
É o meu trabalho estar no palco com Mitchum, e entrevistá-lo depois da exibição do filme "Out of the Past" (1947), um dos maiores filmes noir já feitos, aquele em que Jane Greer diz para Mitchum: "Você não é bom, e eu não sou boa. Nós fomos feitos um para o outro". E o filme onde, brinca Mitchum, todos morrem, mais cedo ou mais tarde. "Mas bem que eu queria viver mais naquele filme" - sorri o ator.
Assim que chega e se senta para a entrevista no palco, Robert Mitchum agradece todos os aplausos. Sorrindo ele diz: "Que maravilhosa recepção! Muito obrigado. A última vez que vi algo assim foi quando Rin Tin Tin, o cachorro, você sabe, foi apresentado para a imprensa no salão de convenções da MGM. O totó foi uma das maiores estrelas do cinema! E pensar que Rin Tin Tin não passava de um truque de câmera!..." Os jovens estudantes de cinema morreram de rir com a ironia cínica de Mitchum.
Eu conheci Mitchum muitos anos antes. Em 1967, em Dingle, Irlanda, durante as filmagens de "A Filha de Ryan". Passei a noite em sua casa de campo à beira-mar, bebendo, e ele observou: "David Lean filmou por um dia inteiro hoje e olha que ele está oito dias atrasado nos cronogramas de filmagens. Daqui uns sete anos ele termina o filme!". Mitchum implicava com a data de seu aniversário onde, segundo ele, tudo dava errado. "Uma vez peguei uma carona no meu aniversário para ir até Pittsburgh e fui parar em Steubenville, Ohio!" Depois de beber mais uns goles completa: "Marilyn Monroe morreu no dia do meu aniversário. Gostava dela, assim toda vez que completo anos, lembro da loira". Depois observa: "Nasci no dia errado. No meu aniversário jogaram a bomba atômica sobre Hiroshima! Não falta mais nada para acontecer nesse dia!" - Depois disso o velho Mitchum soltou uma gargalhada sonora.
O que eu aprendi durante esses tempos em que convivi com Robert Mitchum foi que ele era um cara de ótimo papo, muito descontraído e certamente daria uma ótima entrevista, desde que você não fizesse nenhuma pergunta que lhe aborrecesse. Afinal Mitchum tem seu próprio ritmo, sua própria melodia. No palco, na Virgínia, ele acendeu um cigarro da marca Pall Mall sob aplausos, soprou a fumaça, e suspirou. Mitchum nunca fez média.
- "Você tem sido um ator de cinema por 50 anos" - eu disse.
Silêncio. Um encolher de ombros.
- "Bem, fazer caretas e falar linhas de textos escritos por outra pessoa não é realmente uma cura para o câncer, você sabe, mas eu sei fazer isso. Se você pode fazer com alguma graça, então melhor. Eu tive sorte. Fiz bons filmes por aí nesses anos todos. No final do dia você fica satisfeito com tudo"
- "Em "Out of the Past" você co-estrelou ao lado de Kirk Douglas. Você sempre foi muito descontraído e relaxado. Ele parecia ser mais focado, intenso"
- "Bem, Kirk era muito sério sobre tudo. Pouco antes de "Out of the Past", Betty Jane Greer e eu vi um roteiro que veio da Paramount chamado "O Estranho Amor de Martha Ivers". Kirk ficou muito interessante nele. Assim nós dissemos: "vamos deixar ele fazer esse filme, o estúdio tinha oferecido aquilo para nós mas eu disse, deixe pra lá, aparecerá outro texto bom". Ele passava o tempo todo com um lápis sobre o ouvido fazendo anotações em suas falas no script. Eu não estava nem aí para isso!" - afirma rindo bastante o ator.
- Você acha que houve alguma competição entre vocês?
- "Sim. Mas ele era um tipo diferente de ator. Eu era apenas um cara. É a tal coisa, por parte dele talvez. Eu era apenas o cara contratado"
O público em Virginia estava planejando assistir filmes noir durante todo o fim de semana: "The Big Sleep" (1946), "Detour", "Sunset Boulevard", "Ace in the Hole", "Os Imorais", "Gilda", "Chinatown" e outro filme com Robert Mitchum chamado "Farewell, My Lovely". Muitos dos filmes foram feitos há 40 ou 50 anos mas o interesse era enorme, o que comprovava que o filme noir não tem idade.
O público adorou as convenções sociais da época - como o hábito de fumar o tempo todo dos personagens. Sobre isso Mitchum não perdeu a piada: "Out of the Past (Fuga ao Passado, no Brasil) é talvez o maior filme já feito sobre o cigarro, eu fumo o tempo todo, Kirk também. Eu nem o via direto atrás de tanta fumaça" - o público cai na gargalhada.
- "Eu ainda fumo demais. A minha geração fumou muito. Pedir um cigarro era uma boa forma de puxar uma conversa." - resume sobre aqueles tempos o velho Mitchum.
- "Será que vocês tem alguma idéia de como fazer uma piada envolvendo o consumo de cigarros hoje em dia?" Eu perguntei.
- "Não, não... " - foi logo cortando Mitchum.
- "Porque há mais tabagismo neste filme do que em qualquer outro filme eu já vi" - completei.
- "Nunca pensei sobre isso. Era charmoso fumar naqueles tempos. Algumas atrizes tinham hálito de fumo! Para falar a verdade nem me lembro mais desse filme...mas me lembro dos cigarros, eram muito bons" - pisca o ator!
- "Você nunca reviu o filme?
- "Eu vi no cinema na época no dia de estreia, depois acho que o revi alguma vez, mas já faz tanto tempo que eu não sei... "
Depois de mais algumas perguntas, ele finalmente saiu para jantar com sua esposa, Dorothy, durante a exibição de mais alguns filmes noir. Depois, no restaurante, perguntei-lhe sobre "The Night of the Hunter" (O Mensageiro do Diabo, 1955), o grande filme dirigido por Charles Laughton, no qual interpretou o pregador sinistro que tinha em suas mãos tatuadas as palavras "Amor" tatuado de um lado, e "ódio" na outra.
- "Charles (Laughton) me ligou" - lembra Mitchum - "... e disse: Robert? Aqui quem fala é Charles. Ontem recebi um script horrível. Uma porcaria. Mas podemos fazer algo completamente diferente com ele. Com o dinheiro do estúdio faremos um grande filme. Deixem eles pensarem que estamos fazendo o filme que eles querem. Faremos algo nosso!. Então marcamos um encontro para discutir o projeto. Ele queria filmar em West Virginia ou Ohio mas o orçamento não permitia. Depois disse que chamaria Shelley Winters pois seu cachê era baixo, pouco mais de 25 mil dólares. Foi um filme feito com pouco dinheiro. Charles não era só diretor, às vezes era figurinista e até sonoplasta. Em compensação era um cineasta fantástico. Ele era como John Huston ou pessoas assim. Ele não lhe dizia o que fazer ou o que seu personagem estaria pensando. Alguém como Cukor diria: 'Agora, ele está pensando isso, e isso ...' E eu respondia: 'É Sério isso?!' Mas Charles era um cineasta sutil. Ele ajudava a montar a cena, junto com o ator, e depois agradecia pelo resultado. Era muito gratificante. As pessoas sempre querem saber por que ele nunca dirigiu outro filme. O que posso dizer? Ele morreu cedo demais, foi por isso"
Na volta da entrevista diante do público no festival Mitchum percebeu que já tinha o público na palma da sua mão. Ele contou sobre sua afeição por Charles Laughton, mas todos queriam saber sobre outros grandes diretores com que ele trabalhou.
David Lean, por exemplo. Então Mitchum relembrou o estilo do cineasta no set: "David iria sentar lá na cadeira, pensando, pensando e pensando um pouco mais. Ficava sentado, olhando o horizonte, pensando por horas e horas no set. Soube que quando estava filmando Lawrence da Arabia ele ficou tanto tempo na cadeira que pegou uma insolação! Depois tiveram que levar ele de lá às pressas porque uma guerra havia estourado perto do local das filmagens" - diz, divertindo-se Mitchum sobre o famoso diretor - "E ele estava na cadeira quando a guerra começou..." - mais uma vez o público caiu na gargalhada.
Perguntado sobre o que havia achado da refilmagem de seu filme de 1962 com Robert De Niro em seu antigo papel, Mitchum desconversou afirmando que não havia ainda assistido o filme de Martin Scorsese.
Alguém na plateia perguntou-lhe sobre de Marilyn Monroe e seu rosto se suavizou.
"Eu a amava" - disse ele - "Eu a conhecia desde quando ela tinha uns 15 ou 16 anos de idade. Era colega de trabalho de seu primeiro marido na linha na fábrica da Lockheed em Long Beach. Foi quando eu a conheci. E eu a conhecia muito bem. E ela foi uma linda menina.... muito, muito tímida. Ela teve o que hoje é reconhecido como agorafobia, tinha pavor de sair no meio das pessoas. Naquela época eles formavam um casal comum, como qualquer outro. Ela era muito doce e feliz. Mas daí o marido foi servir na Marinha longe de casa e o casamento acabou. A revi no estúdio, por acaso, anos depois. Fizemos filmes juntos e gostávamos de rir muito. Sei que muitos a exploraram em seus anos em Hollywood. Isso é triste".
E o que dizer de Humphrey Bogart? - alguém perguntou. Como ele era?
- "Sim, eu o conhecia. Bogey e eu éramos bons amigos. Uma vez ele me disse: 'Você sabe, a diferença entre você e eu e os outros caras, não sabe?... - o jeito dele falar isso foi muito engraçado. Bebia do café da manhã ao jantar e não ficava embriagado, impressionante. Lá pelas três da tarde eu já estava caído no chão, bêbado, quando ia na casa do Bogey e ele, que havia bebido tanto quanto eu, estava lá, sóbrio, com copo na mão e o terno impecável. Nunca vou entender aquilo!" - brinca Mitchum.
Havia um monte de alunos da Universidade de Virgínia na plateia, e um deles perguntou: " Ah, o Sr. Mitchum, dada a sua atitude despreocupada em direção de cinema, o que você acha de um festival como este, que estuda cinema de forma crítica e analiticamente? "
- "Minha o quê?"
- " Sua atitude ocasional ... "
- "Sim, sim, eu consegui o papel casual. Qual foi a outra parte?"
Todos riram.
- "O que você acha dos festivais de cinema?"
- "Eles são freak shows. É como um show de aberrações de um parque de diversões de quinta categoria. Assim que uma estrela de Hollywood confirma a presença as estações locais de TV são avisadas. É como se uma girafa fosse solta no seu quintal. As pessoas nunca vêem uma girafa tomando banho na piscina da sua casa, então todo mundo vai lá ver. Com os atores de cinema é a mesma coisa!"
Depois disso a plateia veio abaixo com palmas e risos. Robert Mitchum é muito simpático e brincalhão. Um dos grandes atores do cinema clássico que nunca se levou muito à sério. Foi um prazer entrevistar ele. Melhor do que ver uma girafa no quintal.
quarta-feira, 26 de setembro de 2007
Marilyn Monroe - Contradições de uma Estrela
Medo de ser aceita e exigências descabidas para essa mesma aceitação. Essa era a Marilyn. Um produtor que conviveu muito com a triz em seus anos na Fox chegou a declarar: "Marilyn Monroe era o médico e o monstro. Isso mesmo. Ela poderia ser a melhor profissional do mundo em um dia e a pior de todos os tempos no dia seguinte! Muitos diretores se recusaram a trabalhar ao seu lado por causa disso. Não havia segurança nenhuma que ela terminaria um filme! Era roleta russa!"
Em seus casamentos a mesma coisa. Seus maridos sentiram na pele o que era tentar manter um relacionamento estável com uma estrela de cinema loira, linda e... neurótica! Marilyn se casava muitas vezes por impulso, para logo depois, em poucas semanas, perder o interesse pelo marido. Quando ignorada, ela tentava de todas as maneiras conquistar um homem, mas logo que ele se revelava apaixonado, ela perdia o interesse por ele. Caso se tornasse submisso, como aconteceu com seu último marido, o escritor e dramaturgo Arthur Miller, a coisa toda desandava para a pura humilhação. No final desse casamento Marilyn passou a ter desprezo pelo marido. Ela odiava homens fracos, sem personalidades fortes. Ao mesmo tempo não conseguia se ver como submissa dentro de nenhum casamento. Uma equação que levou todos os seus casamentos para o fracasso completo.
Pablo Aluísio.
A Morte de Judy Garland
Com tanta cobrança ela acabou se viciando em pílulas dadas pelos próprios executivos da MGM. As tais bolinhas eram consumidas em grandes quantidades. Até porque Judy tinha que cantar, dançar e atuar de forma impecável. O tempo passou, inúmeros casamentos fracassaram e suas finanças quebraram. Quando passou dos trinta anos de idade ninguém mais queria contratá-la em Hollywood. A outrora estrela da MGM começou a cantar em pequenos bares por cachês irrisórios, coisa de 150 dólares por noite.
No final de sua vida ela estava falida, endividada, tentando fazer seu quinto casamento dar certo. Foi a Londres em busca de uma proposta. Uma rede de cinemas queria usar seu nome, mas depois desistiu. Foi um baque para a pobre Judy pois ela estava contando com esse dinheiro para pagar suas dívidas. Pior do que isso, ela estava magra demais, frágil, sem estrutura física ou psicológica para enfrentar tanto stress. O relacionamento com os filhos era complicado. Nenhum deles compareceu ao seu último casamento. Nenhum dos filhos mais fazia parte de sua vida pois havia muitas brigas no passado a se superar.
Judy acabou sendo encontrada morta no banheiro de um apartamento, após o que se supõe ter sido uma overdose acidental de drogas prescritas. Ela não conseguia mais dormir direito e após anos e anos de abusos com drogas precisava sempre aumentar ainda mais as dosagens. Judy foi ao banheiro pela madrugada, mas perdeu a consciência e caiu para a frente. Seu marido não notou sua ausência e só no dia seguinte foi até lá, a encontrando morta. Segundo os peritos Judy já estava morta há horas, já apresentando sinais de rigidez cadavérica.
A autópsia revelou que ela tomou uma dose fatal de barbitúricos. Esse tipo de droga sempre foi extremamente prejudicial, viciante e perigosa pois até mesmo um pequeno erro na dosagem poderia ser fatal. Nos anos 60 ainda era receitada com certa regularidade, sendo que hoje em dia só é indicada em casos extremos. Também apresentou uma magreza extrema, pois provavelmente estava desnutrida. Amigos próximos disseram após sua morte que ela desenvolveu um trauma alimentar desde a adolescência, pois os produtores geralmente a acusavam de estar gorda. Com isso Judy passou a ter medo de comer, o que acabou arruinando seu organismo com o passar dos anos. Ela passava dias sem comer nada! Provavelmente sofria de uma bulimia não diagnosticada. Judy teve uma morte trágica, mas jamais será esquecida pelos amantes da sétima arte, pois ela estrelou alguns dos maiores clássicos da história do cinema.
Pablo Aluísio.
terça-feira, 25 de setembro de 2007
10 Curiosidades Sobre o Vampiro da Noite
2. Depois de 30 anos desaparecida a capa que Christopher Lee usou no filme apareceu numa loja de fantasias de Londres. Uma relíquia para a história do cinema inglês ela seria vendida em um leilão por 50 mil dólares. Antes da ser colocada à venda porém a casa de leilões contratou Lee para reconhecer a peça e marcar sua autenticidade.
3. Houve um acidente durante as filmagens. Numa cena que deveria ser ao mesmo tempo aterrorizante e sensual o ator caiu em um buraco no set de filmagens, atingindo a dublê da personagem Mina. Apesar do constrangimento e da dor não houve ferimentos mais graves.
4. Em sua autobiografia o ator confessou que recebeu apenas 750 libras por sua atuação como Drácula no filme. A Hammer alegou não ter maiores recursos para pagar um cachê melhor. Lee, por outro lado, estava precisando de trabalho e aceitou o pouco que lhe ofereceram. Nos filmes seguintes ele iria endurecer o jogo, pedindo cachês cada vez mais altos a cada sequência, além de privilégios que não havia tido, como um camarim próprio, por exemplo.
5. O filme foi dirigido por Terence Fisher, veterano cineasta inglês que morreu em 1980. Ele iria dirigir ainda "As Noivas do Vampiro" (1960) e "Drácula, o Príncipe das Trevas" (1966). Também assinaria outros clássicos do terror com monstros famosos como Frankenstein em produções como "A Vingança de Frankenstein" (1958) e "Frankenstein Tem que Ser Destruído" (1969).
6. O Vampiro da Noite recebeu três prêmios do Hugo Awards nas categorias de Melhor Direção (Terence Fisher), Melhor Roteiro Adaptado (Jimmy Sangster) e Melhor História (dado como homenagem a Bram Stoker, autor do livro original).
7. Quando o filme foi lançado no mercado americano a distribuidora daquele país resolveu mudar o título do filme para "Horror of Dracula" por questões envolvendo direitos autorais. Também pesou em favor da decisão o fato de que os americanos responsáveis pela distribuição tinham receios que o filme fosse confundido com o clássico estrelado por Bela Lugosi, que inclusive estava para ser exibido pela primeira vez na TV americana pelo canal CBS.
8. Uma sequência do filme ficou perdida por anos até que finalmente foi reencontrada do outro lado do mundo, no Japão. Uma cópia original preservada pela National Film center de Tóquio conseguiu salvar essa cena da destruição pois ela não era mais encontrada em cópias na Inglaterra.
9. As filmagens duraram praticamente três meses, começando em 11 de novembro de 1957 e terminando em 3 de janeiro de 1958. Curiosamente o filme estreou antes nos Estados Unidos numa exibição em Milwaukee, Wisconsin. Só uma semana depois é que o filme iria finalmente surgir nas salas de cinema britânicas (apesar do filme ser inglês)!
10. O filme foi incluído na lista "Os 1000 Filmes Que Você Precisa Assistir Antes de Morrer" escrita por Steven Schneider.
Pablo Aluísio.