segunda-feira, 9 de março de 2009

Elvis Presley - Unchained Melody

Elvis Presley estava tão deteriorado em 1977 como lemos em algumas biografias? Essa é uma pergunta chave e começo meu texto justamente com ela. Hoje os registros de Elvis nesse fatídico ano estão à disposição de todos. Praticamente cada show do cantor está devidamente documentado em áudio, seja em gravações realizadas por seus próprios fãs, seja por espertos engenheiros de som que não deixaram passar a oportunidade de registrar os concertos do cantor, além é claro de todas as gravações ao vivo feitas pela própria RCA Victor na época. Ao ouvir todo esse grande acervo musical, que teve a grandeza de plastificar para a eternidade o trabalho desenvolvido por Elvis em seus anos finais, chego a conclusão que, no que diz respeito a aspectos puramente profissionais, existe muito exagero nas descrições de um Elvis mal se contendo em pé, praticamente se arrastando pelos palcos pelo qual passou em seu ano final. Não é bem por aí. Embora realmente existam concertos em que Elvis aparenta estar cansado ou até mesmo fora de ritmo, temos que reconhecer que, em grande parte do tempo ele se mostrava tão profissional quanto possível e procurava dar sempre o melhor de si, mesmo sob condições adversas de saúde. Muitos não levam em conta, por exemplo, a inacreditável maratona de apresentações a que ele submeteu, sendo claro que qualquer pessoa sentiria ou deixaria transparecer durante os shows certo cansaço e por que não exaustão! Então é isso, simplificações sempre devem ser evitadas. Diante das condições que sofria posso até mesmo afirmar que Elvis estava muito bem. Claro, havia toda a série de problemas que tão bem conhecemos, mas pense um pouco: Quantos profissionais conseguiriam manter sua capacidade de trabalho com tantos problemas de saúde e pessoais como os que Elvis vinha enfrentando? Certamente muito poucos. Por essa razão eu convido todos a ouvir com atenção esses últimos registros. Que tal tirarmos nossas próprias conclusões? Convite aceito, vamos ao CD, mais um belo lançamento do selo FTD.

O ano de 1977 começou para Elvis com compromissos em estúdio. Felton Jarvis planejava levar Elvis de volta à Nashville para novas gravações. O grupo foi reunido, o estúdio ficou pronto para as sessões mas Elvis nunca apareceu. Isso desapontou muito seu produtor pois ele estava convencido que gravar em Graceland era sempre uma má ideia. Além de não ser adequado e não contar com as condições técnicas necessárias o fato de se gravar canções em casa soava amador demais em sua visão. Gravar em Graceland era tão precário que bem no meio da música a gravação poderia ser arruinada pelo toque do telefone ou pelos latidos do cachorro como bem podemos ouvir no FTD "The Jungle Room Sessions". Felton Jarvis tinha plena razão, levar Elvis ao estúdio de Nashville era não só necessário como imperativo antes de se lançar um novo álbum. Para Jarvis as gravações de Graceland tinham de ser mescladas com gravações realmente profissionais feitas nos estúdios adequados daquela cidade. Porém, infelizmente, o tão sonhado álbum "profissional" idealizado por Felton Jarvis ficou apenas no projeto. Apesar de ter concordado com a RCA em ir gravar na cidade de Nashville logo após seu aniversário e ter garantido a Felton que estaria no estúdio para gravar novas canções, Elvis simplesmente não apareceu para cumprir suas promessas. Provavelmente Elvis não apareceu por estar realmente exausto. Em 1976 ele cumpriu uma maratona de shows impressionante. Apesar de realizar uma temporada apenas mediana em Las Vegas no final daquele ano o cantor não entrou férias durante as festas de fim de ano. Novamente se apresentou durante o réveillon e praticamente passou o dia de ano novo dentro de seu avião cruzando os céus dos EUA. Isso vem para reforçar ainda mais o que escrevi antes: o excesso de compromissos, um atrás do outro, debilitaria qualquer artista, tenha ele ou não problemas de saúde como os que Elvis vinha enfrentando em 1977. De qualquer forma as sessões foram canceladas por tempo indeterminado e Elvis saiu em turnê.

A grande maioria das canções desse CD foi gravada justamente em Charlotte na Carolina do Norte durante essa sua primeira turnê em 1977. Essa é uma típica cidade do interior dos EUA, sendo considerada naqueles anos de médio porte. Elvis assim pelo menos estaria um pouco fora da rota das pequeninas cidadezinhas no qual colocou seus sapatos de camurça azul durante os anos 70. Isso por si só já era um avanço. Aliás essa turnê, a primeira que Elvis realizou em 1977, foi bastante interessante. Apesar de ter sido um curto compromisso Elvis fez boas apresentações. Nessa cidade Elvis fez dois concertos, os últimos da turnê, com uma plateia estimada em 12.000 pessoas. Esse dado por si só já é bastante curioso. Isso porque essa foi uma turnê de altos e baixos em termos de bilheteria. Em Columbia, só para termos uma idéia, Elvis levou mais de 20 mil pessoas ao seu show. Em compensação em West Palm Beach Elvis levou apenas 5 mil pessoas ao seu concerto, sem dúvida um número nada razoável para Elvis fora de Las Vegas! [1]. Claro que temos inclusive de levar em consideração a estrutura física dos próprios locais onde os shows foram realizados, mas de qualquer forma não deixa de ser uma montanha russa em termos de vendas de ingressos. Numa noite Elvis levantava uma ótima bilheteria para já no dia seguinte receber uma plateia bem mais modesta. De qualquer forma seus dois últimos shows em Charlotte foram bem recompensadores nesse aspecto. Pois foi aqui que a maioria das canções desse CD foram gravadas há mais de trinta anos. As demais músicas que foram inseridas por Ernst, por sua vez, já era bem conhecidas dos fãs e colecionadores. O show em Charlotte do dia 21 de fevereiro, por exemplo, já tinha sido lançado antes no conhecido bootleg "Moody Blue & Other Great Perfomances".

Outro CD, "Cajun Tornado" do selo Madison, também já tinha trazido à tona algumas canções dessa mesma apresentação [2]. Enfim, podemos perceber claramente que essa "coletânea" de gravações ao vivo do selo FTD nem é assim uma grande novidade, mesmo trazendo grande parte do show do dia anterior nessa mesma cidade. A falta de novidades também fica bem nítida ao compararmos os dois concertos. As duas apresentações são extremamente semelhantes e carecem de grande diferença. Apesar de tudo isso, não podemos deixar de levar em consideração que lançamentos ao vivo com Elvis Presley nunca são em demasia, ainda mais para quem é fã de longa data. Devo confessar que sempre gostei muito dos CDs gravados em shows realizados por Elvis no ano de 1977. Deles, Spring Tours do selo FTD ainda é o melhor na minha opinião. Melhor até do que a trilha sonora do especial Elvis in Concert [3]. Por essa razão é um grande prazer tecer diversos comentários sobre mais um lançamento do selo FTD enfocando o trabalho de Elvis nos palcos durante seu último ano de vida. A primeira constatação é que, assim como sua vida pessoal, o concerto é uma montanha russa com altos e baixos e vamos percebendo isso com clareza durante toda a audição. Logo na primeira canção já temos uma pequena ideia do que estar por vir. O CD infelizmente começa com Love Me. Por que infelizmente? Simples. Essa é uma das mais fracas versões de Love Me que já ouvi. Elvis parece estar sem fôlego, cansado, desinteressado. Em certos momentos o cantor parece mesmo com preguiça de cantar os versos (realmente alguns passam em branco mesmo, com Elvis perdendo a deixa para sua parte!). O grupo vocal se esforça, tenta cobrir os buracos, mas não há como disfarçar. Ao ouvir essa primeira música ficamos com a impressão que o resto do concerto vai ser um desastre. Afinal se Elvis está tão mal assim no comecinho do show imagine o resto! Ainda bem que o concerto de Charlotte, onde as primeiras quatorze faixas desse CD foram gravadas, ainda tem muito a oferecer.

As coisas começam a melhorar exatamente na faixa a seguir. Fairytale é um country agradável, simples porém bastante interessante para Elvis, principalmente quando ele saía em turnê por pequenas cidades do Sul. Claro que em nenhuma hipótese seu público iria esquecer que estava diante de um grande pioneiro do Rock, porém quanto mais concessões fossem feitas para os sulistas, melhor. Esse aliás é um ponto pouco entendido por pessoas que escrevem sobre os anos finais de Elvis. Muito já foi escrito sobre o fato do cantor ter virado as costas para o ritmo que o consagrou mundialmente. É uma simplificação. Temos que ter em mente o contexto histórico de um intérprete sulista cantando para um público também sulista. Como ignorar Nashville e toda sua tradição country ainda mais quando a cidade foi tão marcante para Elvis em estúdio? Simplesmente impossível. Todos que afirmam que Elvis virou um cantor chato e country no fundo apenas desconhecem toda sua carreira. É fato que Elvis cantou canções da terra em todos os períodos de seu estrelado, até mesmo na sua fase mais rocker. De fato, a próxima canção apresentada por Elvis, You Gave Me A Mountain, de certa forma serviria muito mais de munição para os críticos do cantor. Afinal, onde já se viu um artista denominado "Rei do Rock" apresentar tamanho dramalhão? A canção, para muitos, é considerada extremamente dissonante do legado artístico do astro. Outra simplificação boba. Certamente ela realmente possui uma estrutura rítmica que evoca grandiosidade excessiva de arranjo (principalmente metais) para se impor e causar impacto! Clichê? Pode ser, porém seu grande mérito é sem dúvida o fato de proporcionar belíssimas oportunidades para que Elvis soltasse o vozeirão! "Mountain" é uma música barroca, vamos dizer assim. É excessiva, descabelada, despudorada, porém nunca irrelevante. Aqui temos uma bela versão do cantor, não há dúvidas. Bem executada com Elvis apresentando uma seriedade cada vez menos presente em seus últimos momentos.

E para os eternos "órfãos" dos anos 50, Jailhouse Rock vem logo a seguir. Interessante que "Jailhouse" acabou sendo muito presente no último ano de vida de Elvis. Certamente essas versões apresentadas por Elvis pouco, ou nada, tinham da mitológica gravação dos anos 50. Aliás Elvis demonstrava duas coisas quando apresentava Jailhouse Rock em seus últimos concertos. Primeiro que o pique e a forma original de interpretá-la tinham realmente ficado para sempre em um passado distante, para ser mais exato em 1957. Essa canção, que sempre foi considerada um dos maiores registros de Elvis em estúdio durante os mais gloriosos anos de sua carreira, acabou virando, infelizmente, apenas uma pálida lembrança nos palcos durante os anos 70. A segunda constatação a que chegamos é que esse novo arranjo, típico da última década da carreira de Elvis, de certa forma estragava seu ritmo e arranjo originais a deixando desfigurada. E por falar em estragar antigos clássicos, nada era mais equivocado do que a introdução inicial de Sherril Nielsen em O Sole Mio / It's Now Or Never. Interessante é o fato de saber que Elvis adorava a vocalização de seu cantor de apoio. Aliás o Voice, grupo exclusivamente vocal formado por músicos que estavam desempregados naquela época foi pensado, formado e arranjado inteiramente por Elvis. Então se alguém é culpado aqui é o próprio Rei do Rock. No tocante a interpretação de Elvis temos que constatar que ele aqui está mais desinteressado e entediado do que o habitual. Perceba como Elvis pouco se importa em disponibilizar uma boa interpretação, muito pelo contrário. Elvis perde a deixa várias vezes, resmunga alguns versos e solta risadinhas durante toda a execução, não se sabendo se ele está rindo de alguma piada ou da própria música em si. Esse tipo de comportamento, inofensivo de uma forma geral, acabava dando farta munição para seus críticos. Não era outro o argumento daqueles que atacavam Elvis em seus últimos anos ou que o chamavam de "uma paródia de si mesmo"! Para esses articulistas a atitude de Elvis em não levar alguns de seus antigos grandes sucessos como "It's Now Or Never" a sério, só servia mesmo para confirmar a tão falada "decadência" do cantor. Não chegaremos a tanto.

Na verdade Elvis, muitas vezes, nem mesmo se levava a sério. Era mais um aspecto de sua personalidade, tanto nos estúdios como no palco. Definitivamente era mais uma postura do que um sintoma de que algo estava seriamente errado com ele. De qualquer forma temos que reconhecer que essa é realmente uma versão muito fraca, tanto do ponto de vista do grupo Voice como de Elvis, sendo que o arranjo também nada acrescenta, haja vista o já tão reconhecido exagero por parte dos metais, o que levou um jornalista da época a perguntar de forma irônica em seu artigo se "as cornetas no show de Elvis estavam lá apenas para estourar nossos tímpanos ou exerciam alguma outra função?" Apesar da ironia não deixa de ser uma pequena verdade. Little Sister demonstra um Elvis à vontade no palco. Brincando e interagindo com a plateia ele até que disponibiliza uma boa versão da canção, praticamente completa e bem executada. Apesar de brincar muito antes de começar a cantar Elvis até que se segura e a canta bem. Aliás fazendo uma rápida comparação com duas outras versões bem conhecidas dos fãs chegamos facilmente a conclusão que essa realmente é uma das melhores. No álbum Elvis in Concert, por exemplo, temos uma versão gravada em Omaha no show do dia 19 bem mais inferior, pesada (no sentido de ser arrastada), sem fluidez e que dura pouco tempo. Aqui nem o som consegue soar melhor.[4] A outra versão bem conhecida é a do FTD Spring Tours 77. Embora seja melhor do que a do disco In Concert, essa versão peca por ter pouco pique, pouca garra. Enfim, a Little Sister desse álbum se mantém bem acima da média. Teddy Bear / Don't Be Cruel vem logo após para confirmar a saturação de seus antigos clássicos executados durante os anos 70. Embora as melodias fossem imortais e mantivessem o velho brilho o cantor nem sempre se esforçava. Elvis parece disperso, distraído, pouquíssimo envolvido. Em certos trechos novamente notamos toda sua má vontade: excesso de risinhos, trechos passando em branco, vocalistas de apoio tentando dar conta do recado e Elvis totalmente desinteressado. Nem os acordes mais do que clássicos de "Don't Be Cruel" conseguem animar o cantor. Como um fã incondicional dos anos 50 realmente fico muito chateado com o suposto desprezo que Elvis dispensava para todas essas canções que um dia mudaram o mundo e o transformaram no mito que ele foi.

Sinceramente acredito que se Elvis não estava mais no velho espírito roqueiro que as dispensasse de uma vez e se concentrasse mais em canções como My Way, que vem logo a seguir. Aqui temos uma bela versão, corretamente interpretada. De todas as canções essa talvez fosse a mais sintomática do que Elvis vinha passando em sua vida pessoal. O recado estava dado, Elvis certamente se identificou com o teor e conteúdo da letra, trazendo em sua interpretação certamente uma forte dose de verdade sobre o que pensava, sonhava e sentia o antigo ídolo de uma geração, agora prestes a enfrentar seu destino de uma vez por todas. Depois de seu final apoteótico caímos na faixa denominada Moody Blue (intro only). Sinceramente não entendo certas atitudes de Ernst, por exemplo. Já que o concerto não está completo por que afinal de contas apresentar um trecho como esse, que nada acrescenta e só depõe contra Elvis e seu estado? Aqui temos o cantor perdido, sem saber a letra de sua nova canção, levemente constrangido, insinuando uma piadinha atrás da outra para disfarçar o fato de não conseguir executar uma canção como Moody Blue. Enfim, totalmente desnecessária. Quer um conselho? passe adiante, direto para a faixa seguinte. Agindo assim não estarás perdendo absolutamente nada. How Great Thou Art e Hurt, as duas canções que vem logo a seguir, nos chama a atenção para um vício muito comum em certos intérpretes. É aquilo que denomino "Overact", um estrangeirismo que significa interpretar com extremo exagero, com a única finalidade de se causar impacto em quem ouve a música. Um leigo diria que seria o ato de um cantor "gritar" para impressionar a plateia ao invés de "cantar" com sentimento verdadeiro. Isso é muito comum hoje em dia, principalmente na nova geração de cantoras que estão por aí. É um vício muito comum, que só "impressiona os impressionáveis" como diria um grande amigo que tenho. Pois Elvis também peca em certos registros que ouvimos. De suas canções essas duas eram as que mais sofriam desse tipo de problema. Principalmente no final da vida percebemos que Elvis muitas vezes exagerava, estourando as caixas de som. Aqui até que temos uma certa moderação por parte do cantor, coisa que certamente não acontece quando ouvimos certos bootlegs em que Elvis realmente perde o tom certo.

Hurt está contida e bela, com Elvis dispensando risinhos na parte falada (o que já é um ponto positivo) e levando a canção até um final razoável com direito a um pequeno bis do verso final (com leve "overact", é bom frisar). Já How Great Thou Art sofre nesse aspecto um pouco mais. Até hoje não consegui achar uma versão melhor do que a que está no álbum oficial gravado ao vivo em Memphis em 1974. Algumas outras versões são ruins, outras exageradas, sendo que o tom certo, exato e líquido, foi realmente encontrado naquele disco (não me causa surpresa o prêmio Grammy por interpretação tão inspirada). Já essa versão que está presente nesse CD fica na média, nem medíocre e nem muito menos brilhante. Posso até mesmo afirmar que apesar do "grito" dado por Elvis na evocação divina ele claramente se poupa e se posiciona na defensiva, poupando a voz. Estaria a plateia bem mais apática do que costume aqui nessa apresentação? Complicado chegar a uma conclusão pois bem sabemos que o melhor tipo de CD para se saber com exatidão como estava o estado mercurial de um público são justamente aqueles gravados no meio do público (os já citados "audiences"). A próxima música apresentada, Hound Dog, é medíocre. Ponto final. Poderia exclamar ou desenvolver o tema, porém como avaliar uma interpretação tão preguiçosa e sem envolvimento como essa? O único mérito parte de seu grupo, visivelmente encobrindo as falhas de Elvis em sua descuidada performance. Felizmente Elvis se reabilita com Unchained Melody logo em seguida. Como sempre uma bela versão, mesmo que Elvis a interrompa de forma desnecessária. De qualquer forma ele recomeça sua famosa virtuose ao piano! Virtuose?! Será mesmo?! Temos que levar essa expressão em seus devidos termos. É certo que Elvis não era um grande instrumentista. Tocava violão e guitarra apenas razoavelmente, chegou a estudar baixo elétrico durante os anos sessenta e ao piano conseguia tirar algumas notas.

Não era um músico que dominava a técnica em graus elevados, era um instrumentista apenas amador para dizer a verdade. Em "Unchained" temos uma boa amostra de Elvis ao piano. Notas simples, com trechos repetitivos, nada muito espantoso. Se há um grande mérito nessas versões dessa canção ele se resume ao fato de Elvis realmente tentar apresentar algo de novo, algo inovador (mesmo que a música em si não fosse inovadora, haja vista ter sido lançada anos antes!). Certamente me refiro mais ao fato de Elvis quebrar um pouco a estrutura de seus concertos pois só o fato de se sentar para tocar piano já era uma grande novidade para quem acompanhava suas performances. Can't Help Falling In Love vem, como sempre, para encerrar a parte do CD que traz o concerto de Elvis Presley em Charlotte. Essa que talvez tenha sido uma das poucas reminiscências dos trágicos anos em Hollywood aparece em uma versão que pode ser qualificada de mediana para medíocre. Apesar de muitos alegarem problemas técnicos a verdade parece ser simplesmente o fato de ouvirmos um Elvis exausto e totalmente sem fôlego para sequer acompanhar seu grupo. A maior parte da canção traz um Elvis sufocado e ausente, sendo que dessa vez temos nitidamente um cantor fora de ritmo, enquadramento e sintonia. O grupo vocal tenta tapar os buracos, mas não há como encobrir o sol com uma peneira. Elvis parece que desperta no meio da música para novamente desaparecer depois. Um dos mais fracos momentos do artista que já ouvi em minha vida. Um triste epílogo para esse show, que quero frisar não é ruim, mas sim rotineiro. Fica na média do que Elvis vinha apresentando naquela turnê.

(Bonus Tracks - Other Shows on the Tour): Depois das versões do show em Charlotte chegamos finalmente nas versões pinceladas por Ernst para completar o CD. Aqui ele resgata canções de Elvis em outros concertos, todas já lançadas anteriormente em diversos bootlegs. Sem grandes novidades essa "salada" fica como um tira gosto para que o freguês corra atrás do restante do material em sua íntegra, pois como todos sabemos a "ocasião faz o colecionador". Também cumpre o papel de "oficializar" o que já estava por aí há anos nas mãos dos colecionadores conceituados. Para os marinheiros de primeira viagem certamente são pequenas pérolas perdidas que vão despertar grande emoção. Veja o caso de Moody Blue. Não é todo dia que o fã comum tem oportunidade de ouvir uma versão ao vivo dessa música. Gravada também em Charlotte, mas no show do dia 21 de fevereiro, ela já tinha sido lançada antes no CD "Moody Blue & Other Great Perfomances". Aqui, como se trata de uma nova música, Elvis pede desculpas e utiliza da letra no palco para não errar. Bom, não pega bem, mas como o que nos interessa mesmo é ouvir a gravação em si, isso realmente não tem a menor importância. Elvis se empenha e apresenta uma boa versão, sem grandes erros (exceto uma pequena falha na terça parte final da música!). Mas, mesmo errando com a letra em mãos (como pode acontecer uma coisa dessas?) Elvis consegue levar bem até seu final. É uma novidade dentro do cansado repertório e por isso leva todos os méritos, independente de falhas de execução e letra. Enfim desconsideremos tudo, mesmo que ela seja tocada um pouco fora de sua velocidade normal, isso também não importa, pois o que vale aqui é ouvir Moody Blue ao vivo e só. Blueberry Hill e Love Letters foram gravadas no mesmo concerto realizado em St. Petersburg (uma cidadezinha nos EUA e não a famosa cidade russa). A curiosidade sobre a primeira é o fato de Elvis tocar algumas notas ao piano de sua introdução. Detalhe: já tínhamos ouvido algo nesse estilo no CD "Electrifying" do selo Bilko em 1997 [5].

A segunda canção, Love Letters, foi umas das raras músicas gravadas duas vezes por Elvis em estúdio durante sua carreira. Definitivamente a primeira versão, dos anos 60, ainda é a melhor na minha visão. Mesmo que não tenha tanta fluidez, a melodia e a interpretação de Elvis nesse primeiro registro nunca foi superada depois. A versão dos anos 70, apesar de ter dado título a um disco de inéditas de Elvis, não consegue trazer maiores inovações ao da primeira versão. É apenas uma releitura tardia (e para muitos inútil) de uma música que já tinha encontrado a versão definitiva na voz de Presley. Nesse registro ao vivo Elvis promove estranhas entonações, que apesar de curiosas, não contribuem para enriquecê-la de qualquer forma. Não resta dúvidas que podemos encontrar outros registros de palco bem melhores do que esse. Nessa altura todos sabemos do apreço de Elvis por canções religiosas. Where No One Stands Alone aparece aqui em rara versão ao vivo apenas para confirmar esse fato. A canção surgiu na discografia de Elvis no disco How Great Thou Art em 1967. Esse trabalho sacro foi extremamente importante para Elvis por causa do contexto histórico em que foi lançado. Naquele ano Elvis vinha de um longo declínio artístico, em baixa, com todos os críticos questionando sua verdadeira relevância musical. Os filmes e suas trilhas sonoras tinham, sem dúvida, aberto uma fenda no prestígio de Elvis como artista. How Great Thou Art foi um oásis de qualidade em um período de deserto criativo dos projetos que Elvis vinha apresentando ao seu público. Com ele Elvis ganharia o Grammy, prêmio pelo qual já havia sido indicado muitas vezes, sem obter vitórias, porém. A canção "Where No One Stands Alone", na verdade uma releitura da original de Mosie Lister, de certa forma não se destacou tanto assim dentro do conjunto desse trabalho, porém parece que fincou raízes profundas no espírito religioso de Elvis. Algumas peculiaridades chamam nossa atenção na versão de 1967. A primeira é a qualidade dos arranjos, com destaque para uma bonita dobradinha "piano e órgão".

Além disso Elvis exibe um belo vocal, extremamente concentrado e entrosado com os vocalistas de apoio. Dez anos depois Elvis a relembrou, meio que por acaso, durante sua apresentação na cidade de Montgomery, nesse mesmo mês de fevereiro de 1977. Elvis avisa que "nunca apresentou essa música no palco antes em sua vida". Após falar algumas palavras sobre as canções gospel e apresentar os vocalistas J.D. Sunmer e Nielsen do Voice, Elvis inicia sua versão ao vivo. Infelizmente não temos aqui uma versão tecnicamente isenta de falhas. O registro apresenta a marca dos tempos. No quesito puramente de talento Elvis se supera. Percebemos nitidamente como Elvis está envolvido, a cantando de forma envolvente e carismática, mesmo que demonstrando, em certos trechos, uma pequena, mas perceptível, perda de fôlego. Infelizmente essa versão ao vivo não tem também a preciosa qualidade de arranjo do disco original de 1967, como por exemplo a ausência do órgão típico desse tipo de canção, sendo substituído apenas pelo piano. Mas isso não lhe tira seus inegáveis méritos musicais. Acredito inclusive que o CD deveria levar como título o nome dessa canção e não Unchained Melody, que era bem mais comum nos concertos durante essa fase. Aqui temos sem dúvida o melhor momento do CD, não só pela boa e bela interpretação de Presley como também pela raridade envolvida em se ouvir o cantor a apresentando em seu ano final. Release Me e Trying To Get To You foram gravadas em Columbia no dia 18 de fevereiro de 1977. Após mais um piadinha Elvis dá a deixa para o grupo, que meio desencontrado é certo, dá início a uma versão lenta demais e para falar a verdade muito preguiçosa e desanimada. Dessa vez a culpa talvez nem seja do cantor mas sim de seu grupo de apoio que está letárgico. Tente ouvi-la e depois compará-la com a versão do "On Stage - February 1970". A diferença é abissal, algo como comparar um arranjo cheio de energia e vitalidade com um momento de sonolência lírica. Bem abaixo da média, apesar de Elvis não errar a letra e não soltar nenhuma brincadeira em sua execução. Já Trying To Get To You está na média. Nem muito inspirada e nem muito menos medíocre. Apesar de ser uma canção dos anos 50 Elvis pelo menos demonstrava certo respeito quando a cantava ao vivo, coisa que quase nunca acontecia com seus rocks clássicos, por exemplo.

Depois delas retornamos novamente ao concerto de Charlotte realizado no dia 21 para encerrar o CD com duas canções retiradas dessa mesma apresentação. A primeira delas, Reconsider Baby, nos chega em uma versão que já é bem conhecida, certamente. Considero esse blues, quando bem tocado e cantado, à prova de falhas. Aqui por exemplo temos um dos pontos altos desse CD. Se em Release Me temos um desempenho medíocre da banda de Elvis aqui temos um show do guitarrista James Burton que nos proporciona um excelente solo de seu instrumento, substituindo à altura o sax de Boots Randolph da versão original. Se tenho uma crítica a lhe fazer é o fato da música ter uma duração pequena, porém isso não importa no saldo final, pois a performance de Elvis fica aqui bem próximo de seus melhores momentos nos palcos durante 77. Após um blues visceral como Reconsider somos levados para o lado mais sacro da veia musical de Elvis Presley. Se em Where No One Stands Alone Elvis está visivelmente envolvido e concentrado, em Why Me Lord, a terceira versão gospel do CD, Elvis está mais disposto a brincar com J.D. Sunmer do que a cantar de forma extremamente profissional. As brincadeiras em Why Me Lord já vinham de longa data. Quase sempre Elvis aproveitava para se divertir um pouco. Aqui, apesar de se conter um pouco mais, Elvis a interrompe apenas para começar com suas conhecidas brincadeirinhas, fazendo uma vozinha fina, muito engraçada. J.D. não se contém e começa a rir. Quando pensamos que a versão está perdida Elvis a reconduz para um final precioso - o que só vem a demonstrar que mesmo nos momentos em que exibia seu ótimo bom humor Elvis podia passar sentimentos reais de fervor religioso. Até porque sua fé nunca foi motivo de controvérsia entre os autores.

Conclusão: Estamos na presença de mais uma coletânea de canções ao vivo. Assim como ocorreu em outros títulos (como por exemplo, Southern Nights) Ernst segue o mesmo esquema básico: grande parte de um show em particular, acrescidas de canções interessantes retiradas de outros concertos. O mais curioso é notar que, por simples raciocínio lógico, chegamos facilmente à conclusão de que temos material bastante farto desse período, até porque foram necessários pelo menos outros quatro soundboards para completá-lo. Assim cai por terra as afirmações que tudo o que havia de inédito sobre Elvis já foi lançado ou está prestes a chegar ao fim. Quem já ouviu obscuras versões de registros inéditos sabe do que estou falando. Mesmo que em sua estrutura Ersnt esteja chegando a um modelo básico notamos que novidades serão pinceladas gradualmente. De certa forma Unchained Melody segue o roteiro de outros lançamentos como já citei. Assim como Huntsville foi o tronco básico pelo qual foi erguido "Southern Nights" aqui temos a mesma função sendo exercida pelo concerto de Elvis em Charlotte no dia 20 de fevereiro de 1977. É um bom lançamento, indispensável para quem aprecia os anos 70 e o trabalho desenvolvido por Elvis nos palcos durante essa fase de sua carreira. Quanto mais registros tivermos acesso maior será nossa percepção do que realmente estava ocorrendo com o cantor, tanto do ponto de vista profissional quanto pessoal - até porque em se tratando de Elvis Presley estas duas vias convergiam sempre para o mesmo lugar. Agindo assim, sem a necessidade de sermos levados pelas opiniões de terceiros, como biógrafos e autores, formaremos nossas próprias convicções, o que sem dúvida é o fator mais relevante nesse tipo de experiência.

Notas:
[1] Esse show de Elvis pode ser ouvido no ótimo bootleg "Coming On Strong".
[2] O CD "Cajun Tornado" trazia Reconsider Baby, Moody Blue, Release Me e Can't Help Falling In Love, todas gravadas no dia 21 em Charlotte.
[3] Gravado respectivamente em Rapid City e Omaha para a CBS.
[4] Recomendo os bootlegs "Candid Elvis on Camera" e "Softly As I Leave You" com os shows na íntegra de Omaha.
[5] CD que traz vários ensaios e partes de shows de Elvis realizados em 1970.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Moody Blue & Other Great Performances

Hoje me peguei ouvindo esse Bootleg de Elvis Presley, um título de que gosto bastante. Aliás eu sempre fui particularmente interessado nas turnês que Elvis realizou em 1977. Durante muitos anos ouvimos falar dos últimos shows de Presley, de que ele estaria caindo pelo palco, dando ataques e coisas do tipo. Tudo bobagem. Claro que ele não era mais o garotão de 1956 mas sim um homem de 42 anos, então seria mais do que óbvio que havia diferenças de performances entre seus primeiros anos e agora. De qualquer modo ouvindo o cantor em registros como esse não há como negar que dentro de suas condições físicas e emocionais Elvis ainda era capaz de produzir e trabalhar com qualidade e respeito aos seus fãs. 

Eu certamente já ouvi centenas e centenas de registros como esse e sempre admiro a capacidade de Elvis em trabalhar sem trégua, atravessando os EUA de costa a costa para se apresentar nas mais distantes cidades (uma pena que não tenha saído do país para visitar outros povos mundo afora, pois certamente seria um sucesso sem precedentes, até porque estamos falando de Elvis Presley um dos maiores ícones da música mundial). Pois bem, aqui está Elvis se apresentando nas cidades de Charlotte e Montgomery em fevereiro de 1977. Ouvir essas faixas é fascinante pois podemos até mesmo visualizar o grande cantor trabalhando com a dignidade que lhe era peculiar. E como disse há muitas preciosidades aqui. Das faixas eu destaco logo uma divertida versão de “Are You Lonesome Tonight?” onde Elvis mais uma vez erra a letra e dialoga de forma muito engraçada com uma mulher na plateia que tenta lhe ensinar os versos certos da canção. Aqui temos uma prova do bom humor do astro que não perdia a chance de fazer uma piada.

Em seus concertos Elvis usava um repertório básico que estava sempre à mão mas em algumas circunstâncias ele procurava inovar trazendo canções novas para os shows.. É justamente isso que ocorre aqui quando Elvis resolve apresentar sua nova música, “Moody Blue”, recentemente gravada em estúdio (na verdade em Graceland), que inclusive daria nome ao seu último disco. Como a canção era muito recente em seu repertório Elvis logo trata de pedir desculpas ao público, avisando de antemão que vai ler a letra da música. “Moody Blue” como todos os fãs sabem era uma verdadeira raridade ao vivo e esse registro – em boa qualidade sonora – é uma preciosidade que não pode faltar em nenhuma coleção de fãs de Elvis. Inicialmente meio perdido, tentando se encontrar na melodia, Presley logo encontra o caminho certo e disponibiliza uma bela interpretação (não perfeita, não impecável, mas uma delicia para seus fãs). Outra raridade é o blues “Reconsider Baby” que aqui surge com ótimo arranjo, lembrando bastante a versão do disco "Elvis Is Back!" de 1960. James Burton inova em pequenos trechos em seu solo de guitarra mas isso em momento algum chega a descaracterizar esse blues que sempre foi um dos mais relevantes da discografia do cantor. 

Outra preciosidade é "Where No One Stands Alone", gospel muito raro em concertos ao vivo. É de conhecimento geral que Elvis amava gospel, provavelmente mais do que qualquer outro estilo musical, e isso se revelava completamente em suas inspiradas interpretações. Esse era o tipo de música em que Elvis não abria espaços para performances medianas, fazendo de tudo para dar o melhor de si no palco. Cada sílaba, cada frase era entoada com o coração. Simplesmente emocionante. "Unchained Melody" com Elvis no piano também é de arrepiar. Nessa canção o cantor sempre conseguia atingir notas que até hoje impressionam os analistas. Mas afinal esse era o Elvis Presley destruído que tanto se canta em prosa e verso por aí? Ah os leigos e suas impressões apressadas e equivocadas... Enfim, esse era Elvis Presley cantando sua fé em seus momentos finais ao lado de seu amado e querido público. Nada a ver com um artista desmaiando no palco como tanto se fala por aí aos quatro ventos. O que ouço aqui é um artista plenamente consciente de sua importância e seu talento, se apresentando muito bem em respeito a todos os admiradores de sua música que foram aos seus shows. Simplesmente essencial. 

Moody Blue & Other Great Performances (1995)
Are You Lonesome Tonight?
Reconsider Baby
Love Me
Moody Blue
You Gave Me a Mountain
Jailhouse Rock
O Solo Mio / It's Now Or Never
Little Sister
Teddy Bear / Don't Be Cruel
My Way
Release Me
Hurt
Why Me Lord
Polk Salad Annie
Where No One Stands Alone
Unchained Melody
Can't Help Falling in Love
Elvis Telephone Conversation

Pablo Aluísio.

domingo, 8 de março de 2009

Elvis Presley - Elv1s 30 #1 Hits (2002)

"Velharias, mas de ouro!", foi assim que John Lennon uma vez se referiu a algumas antigas canções dos Beatles. Sem dúvida essa frase se encaixa perfeitamente para definir essas músicas deste CD especial. Depois de anos ouvindo tudo sobre Elvis como takes alternativos, shows, bootlegs, versões inéditas, voltar para ouvir essas canções foi antes de tudo um momento de nostalgia. Todo fã de Elvis deve ter começado a gostar do cantor ouvindo justamente essas faixas, as mais conhecidas, as oficiais. E também as de maior sucesso. O público brasileiro vai sentir a ausência de músicas que fizeram enorme sucesso no Brasil e que não estão aqui, como "Kiss me Quick" ou "Sylvia". Mas acontece que esse CD traz apenas as mais tocadas nos EUA e Inglaterra. Um artista como Elvis, de fama internacional, não poderia e jamais poderá ser resumido em um único CD. Cada país tem suas faixas preferidas, cada povo elegeu músicas diferentes para amar e isso, é óbvio, aconteceu com o mais internacional de todos os cantores, Elvis Presley. Provavelmente o fã médio de Elvis no Brasil (digo o mais comum, não o mais ligado ao Rei, nem muito menos o expert) não conheça, nem nunca tenha ouvido "Cryng in The Chapel" ou "In the Guetto". Mas, sentiu a falta daquela ou de outra que não está aqui entre as trinta. Mas isso é inevitável. De qualquer forma, poderíamos imaginar mais uns dez CDs de Elvis apenas com seus momentos imperdíveis, pois o legado de Elvis Presley é imenso, nunca será resumido em uma caixa de CDs, ainda mais em apenas um título. Ouvir novamente Elvis, trazido de novo à tona pela tecnologia só vem confirmar uma coisa: Elvis é ótimo, seja em um vinil cheio de chiados, em um 78 RPM de cera ou em um CD tinindo de novo. A Arte de Elvis é que é relevante, em qualquer tempo e de qualquer forma. Mas chega de papo, vamos dissecar agora para você o CD "Elvis number one Hits" ou "As velharias douradas de um Rei":

Heartbreak Hotel (Axton / Durden / Presley) — O primeiro grande sucesso de Elvis em nível nacional foi lançado em Janeiro de 1956 com "I was the one" no lado B alcançando o primeiro lugar na parada americana e européia. A música foi escrita especialmente para ele e se tornou uma de suas marcas registradas. Foi gravada em 10 de janeiro de 1956 no estúdios da RCA em Nashville. Foi gravada na primeira sessão de Elvis na RCA. Para tentar reproduzir o som das gravações da Sun Records, o engenheiro Bob Ferris construiu uma câmara no prédio do novo estúdio, buscando eco de telhas e vidro. Inacreditáveis as guitarras acústica e elétrica de Chet Atkins e Scotty Moore na gravação. A companhia de discos a considerou "um desastre", imprópria para tocar no rádio. Cinco semanas depois, tornava-se seu primeiro hit número 1 Como ficou: A gravação ficou muito mais "limpa". Alguns fãs mais antigos afirmaram que o "eco da Sun", marca registrada das primeiras músicas de Elvis, também foi eliminado, de forma equivocada. Mas, de qualquer forma a canção ganhou mais nitidez, sem sombra de dúvida. (Nota 8,5)

Don't be Cruel (Presley / Blackwell) - Lançado em um single juntamente com "Hound Dog". Elvis em diversas entrevistas nos anos cinqüenta afirmou ser esta a sua música preferida. Seu produtor na Sun Records, Sam Philips, declarou: "...Não gostei de Heartbreak Hotel, mas quando ouvi Don't be Cruel eu pensei comigo mesmo: Agora eles descobriram o que fazer com o talento de Elvis". Foi lançada em julho de 1956 atingindo o primeiro lugar rapidamente. Foi durante a apresentação desta música que Elvis foi censurado no Ed Sullivan Show pois os produtores do programa resolveram só o mostrar da cintura para cima! Sem dúvida este ato simbolizou todo o moralismo da sociedade americana dos anos 50. "Don't be Cruel" foi gravada em 2 de julho de 1956 em Nova Iorque. Finalmente o single Hound Dog / Don´t Be Cruel foi lançado em 13 de julho de 1956 e ganhou ouro quase na mesma semana Como ficou: A nova mixagem não acrescentou muito, pois a gravação original sempre foi muito boa, felizmente eles não mexeram no equilíbrio Elvis x banda. (Nota 9,0)

Hound Dog (Jerry Leiber / Mike Stoller) — Sem dúvida uma das mais conhecidas músicas de Elvis. Originalmente foi lançada por Willie "Big Mama" Thornton em 1953. A Versão de Elvis surgiu como lado B do single "Don't Be Cruel" alcançando o primeiro lugar nas paradas em julho de 1956. Foi uma das mais difíceis de gravar levando Elvis e seu grupo a produzir mais de trinta takes!. Finalmente Elvis se deu por satisfeito escolhendo uma das versões como definitiva. Elvis a apresentou no programa de Milton Berle na TV americana numa das melhores performances de sua vida. Foi gravada em 2 de julho de 1956 nos estúdios da RCA em Nova Iorque. Anos depois Stoller se manifestou: "Hound Dog foi feita para ser cantada por uma mulher...mas a versão de Elvis ficou tão legal que ninguém se tocou sobre isso. Elvis conhecia a versão original de Big Mama Thornton, mas só optou por cantá-la após ouvir a versão de Freddie and The Bellboys em Las Vegas, em maio de 56. Antes de gravar a canção, Elvis já a havia cantado duas vezes na TV. Quando chegou a hora de gravá-la, precisaram executá-la 31 vezes para obter a versão perfeita" Como ficou: O mesmo comentário feito a "Don't be Cruel" se aplica aqui, até mesmo porque ambas as canções foram gravadas nas mesmas sessões. A Master original foi respeitada, enfim. (Nota 9,0)

Love Me Tender (Presley / Matson) - Música título de seu primeiro longa Metragem que no Brasil recebeu o nome de "Ama-me Com Ternura". O titulo original do filme era "The Reno Brothers" mas com a ascensão do Rei resolveu-se mudar o titulo para aproveitar o sucesso do cantor. A estória se passa durante o final da guerra civil norte americana e trata da delicada disputa de uma mulher por dois irmãos. A trilha foi lançada em um compacto duplo com "We're Gonna Move", "Let Me" e "Poor Boy" todas de autoria de Elvis Presley e Vera Matson. Era o inicio de uma carreira cinematográfica que iria contar com mais de trinta filmes. "Love Me Tender" foi gravada em Agosto de 1956 nos estúdios I da 20th Century Fox em Hollywood. Ele não contou com sua banda tradicional e sim músicos determinados pelo estúdio cinematográfico da Fox. Elvis produziu Love me Tender durante sua primeira sessão de gravações na Costa Oeste, em agosto de 1956. Ele apresentou a canção no The Ed Sullivan Show, em 9 de setembro. Provavelmente, este foi o primeiro disco da história a ter 1 milhão de cópias pré vendidas, graças à expectativa gerada em torno de seu lançamento. Como ficou: Para falar a verdade esperava muito mais de "Love Me Tender" neste CD. Eles não conseguiram deixar a música 100% límpida. Um incômodo chiado permanece, o mesmo de todas as outras versões anteriores. A música é clássica, acima de todas esses percalços, mas sua média cai por causa das expectativas não realizadas. (Nota 7,0)

Too Much (Rosenberg / Weinman) - Música título de um single lançado em janeiro de 1957 com "Playing for Keeps" alcançando o primeiro lugar nas paradas americanas. O disco foi lançado num momento em que Elvis estava sendo muito visado pela mídia norte americana por causa das polêmicas apresentações dele no Ed Sullivan Show e nos programas de Milton Berle e Steve Allen. Foi gravada em 2 de setembro de 1956 juntamente com as músicas que fizeram parte do segundo disco do cantor "Elvis". Como ficou: Melhora sensível, mas sem surpreender. Felizmente novamente não colocaram a voz de Elvis na frente de sua banda, o que é muito errado com essas remixagens. Elvis queria que sua voz fosse envolvida pelo conjunto e não que fosse destacada. Pelo respeito leva uma boa nota. (Nota 9,0)

All Shook Up (Elvis Presley / Blackwell) — Esta canção alcançou tamanho sucesso quando lançada que se tornou parte do vocabulário da juventude norte americana da época. Elvis alcança uma das mais brilhantes interpretações de sua vida resultando num dos singles mais vendidos de sua carreira. A canção chegou a Elvis através de Steve Sholes, seu produtor na RCA Victor. O single alcançou o primeiro lugar da parada da revista Billboard em março de 1957 tendo sido gravada em 12 de janeiro do mesmo ano nos estúdios Radio Recorders em Hollywood. Esta canção foi gravada primeiramente como I´m All Shook Up por David Hill, na Aladdin Records. Elvis gravou fazendo percussão na parte de trás do violão. O single ficou durante nove semanas no topo das paradas dos EUA, seu maior tempo consecutivo como número 1. Também foi seu primeiro número 1 na Inglaterra. Como ficou: A melhora aqui é bem sentida, pois a gravação de All Shook Up sempre foi problemática, com muito "abafamento". É sem dúvida a melhor mixagem dessa canção, a equalização foi mantida e os chiados retirados. A melhor do disco, nos faz redescobrir toda a beleza da música. (Nota 10)

Teddy Bear (Mann / Lowe) - No auge do sucesso de Elvis correu um boato que ele adorava ursinhos de pelúcia, apesar de não ser verdade o boato ganhou força e de um momento para o outro o cantor se viu num mar de bichinhos dados pelos seus fãs. Para aproveitar esta história foi composto este grande sucesso que alcançou o primeiro lugar da parada de singles da Revista Billboard com "Loving You" no lado B. Este compacto simples foi lançado em junho de 1957. "Teddy Bear", por sua vez, foi gravada nos estúdios Radio Recorders em 24 de janeiro de 1957. O "Teddy" do ursinho é uma homenagem ao presidente americano Theodore Roosevelt. Ainda é uma das mais queridas músicas de Elvis principalmente pelas mulheres. É a representante no CD da trilha do filme "Loving You" (a mulher que eu amo, 1957). Como ficou: A master sempre foi muito bem gravada, por isso nem toda a tecnologia do mundo iria melhorá-la. Não se melhora o que por si já é perfeita. No mais é outro bom momento desse CD. (Nota 9,0)

Jailhouse Rock (Jerry Leiber / Mike Stoller) - Música título do terceiro filme estrelado por Elvis que no Brasil recebeu o nome de "O Prisioneiro do Rock", sendo que sua trilha foi lançada em um Compacto Duplo em outubro de 1957. Foi ainda lançada como single em setembro de 1957 com "Treat Me Nice" no lado B. O Sucesso foi imediato e o single chegou ao primeiro lugar na parada americana. A cena do filme em que Elvis apresenta esta canção é considerado o melhor momento do cantor no cinema. Leiber e Stoller afirmaram posteriormente que sua intenção era "...imitar o som de pedras quebrando" o que de certa forma foi conseguido. Foi gravado em 30 de abril de 1957 nos estúdios Radio Recorders em Hollywood. Assim Elvis ignorou a intenção satírica dos autores (Jerry Leiber e Mike Stoller) e interpretou a canção com fúria. Jailhouse Rock foi o primeiro single da história a ir direto para o topo das paradas no Reino Unido. Como ficou: Ficou bem melhor com essa nova "roupagem". As melhoras foram sensíveis e em muitos casos imperceptíveis, mas que no conjunto se revela superior às anteriores. (Nota 9,0)

Don't (J.Leiber/M.Stoller) - Esta é especial! Uma das melhores baladas românticas de todos os tempos escrita pelos maravilhosos Leiber e Stoller. Elvis sem dúvida se superou nestas sessões pois ao lado de seus músicos gravou os maiores sucessos da época. "Don't" foi gravada em 6 de Setembro de 1957 nas mesmas sessões que deram origem ao disco "Elvis Christmas Album". Foi lançada como título de um single em Janeiro de 1958 atingindo rapidamente o primeiro lugar nas paradas. É desta forma considerada uma das grandes baladas de Elvis, com temática adolescente. Como ficou: Outra canção que sempre trouxe problemas, principalmente por ser muito mal equalizada. Mas aqui eles melhoraram todas as nuances e corrigiram seus defeitos. Novamente a tecnologia veio para melhorar outra obra prima. Destaque que vale o preço do CD. (Nota 10)

Hard Headed Woman (Claude DeMetrius) - Esta foi lançada em single junto com "Dont Ask me Why" em Junho de 1958 atingindo o segundo lugar na parada da revista Billboard e o primeiro na Inglaterra. Trata-se de um Rock'n'Roll rápido com um acompanhamento de metais que se sobressaem no conjunto. Foi gravada no dia 15 de janeiro de 1958. Aqui está um caso raro no mundo da música, um exemplo perfeito de "Jazz-Rock". Como ficou: Como faz parte de "King Creole" (Balada sangrenta, 1958) o número de instrumentos é bem maior que o normal. Mas a remixagem foi bastante correta. Nem mexeu e muito menos a estragou. Ficou básica e na média o que em se tratando de algumas outras versões aqui é um mérito respeitável. (Nota 8,5)

One Night (Bartholomew/King) - A Versão original desta canção foi lançada por Smiley Lewis em 1956 pelo selo Imperial. A Versão de Elvis se tornou um grande sucesso. Ele a utilizou também dez anos depois no memorável NBC Special em 1968 (Comeback Special). A letra mais uma vez foi considerada ofensiva o que fez a produção mudá-la de forma a torná-la mais aceitável. A versão com a letra completa foi lançada muitos anos depois como "One Night a Sin". "One Night" chegou ao quarto lugar nas paradas em Outubro de 1957 nos EUA e ao topo na terra dos Beatles. Para aplacar a sanha dos censores, essa música teve um verso mudado. Em vez de "One night of sin is what I´m not praying for" (Uma noite de pecado é para o que não estou pagando), ele cantou "One night with you is what I´m now praying for" (Uma noite com você é pelo que estou rezando agora). Ainda assim, foi considerada escandalosa. Como ficou: Não era bem o que eu esperava, esperava bem mais na verdade. Mas ficou ok. Nada demais e no geral seguiu as diretrizes básicas da master. (Nota 8,5)

A Fool Such As I (B.Trader) - Lançada originalmente em 1952 por Hank Snow pela RCA. Balada romântica excepcional que marcou toda uma época! A vocalização dos Jordanaires se faz presente de forma maravilhosa pois ecoa em harmonia com a voz do Rei. Elvis chegou a concorrer a um Grammy de "Melhor canção do ano" por esta música. Ela foi gravada no dia 10 de junho de 1958 contando com as preciosas colaborações de Chet Atkins na guitarra (Ele iria se tornar o produtor de Elvis nos anos sessenta), Floyd Cramer no piano e Buddy Harmon nos bongôs. Como ficou: Houve uma mudança significativa aqui, e não para melhor. Para falar a verdade a nova mixagem pode ser classificada como "desastrosa". A primeira versão foi produzida pelo próprio Elvis, com clara intenção de instrumentos e voz bem misturados, sem predominar nenhum deles sobre os demais. E o que fizeram? colocaram a voz de Elvis em destaque, os instrumentos, principalmente a guitarra de Scotty Moore sobressair sobre o resto da banda e o acompanhamento vocal dos Jordanaires praticamente sumiu, o que na versão original era destaque aqui simplesmente ficou inaudível. Exemplo de como não se mexer em algo que não se domina. (nota 2,0)

A Big Hunk O'Love (Schroder/Wyche) - Primeiro lugar em Junho de 1959. Esta acabou se tornando parte do repertório fixo do cantor nos anos setenta, porém como sempre a sua versão "anos 50" é bem superior a seu arranjo "70s", ouça a versão no LP "Aloha From Hawaii" de 1973. Elvis Presley a gravou em 10 de junho de 1958 em Nashville. Gravada durante o engajamento de Elvis na campanha militar, na Alemanha, quando estava de passagem por Nashville de licença. Como ficou: Não entendo. Porque detonaram "A Fool Such As I" e fizeram tudo certo aqui? As gravações foram das mesmas sessões e no entanto aqui foi respeitado a versão "clássica" e na anterior simplesmente destruíram o equilíbrio vocal x banda. Vai merecer boa nota por ter mantido o devido respeito. (nota 9,0)

Stuck On You (Schroder/McFarland) - Canção título do primeiro single lançado por Elvis após seu retorno aos Estados Unidos em 1960. Elvis a apresentou no especial de TV "welcome Elvis" apresentado por Frank Sinatra, mais conhecido como "the voice". Na ocasião Presley fez um dueto com Mr.Sinatra no medley "Witchcraft / Love Me Tender". Interessante salientar que nos anos 50 Sinatra afirmara "O Rock'n'Roll é um ritmo cantado e escutado por cretinos". Bem, Sinatra nunca foi conhecido por sua eloqüência mesmo, mas pelo talento dele a gente perdoa. Na volta a Nashville, em 1960, ele gravou essa canção num estilo diferente, mas que, em apenas alguns dias vendeu 1,4 milhão de discos. Como ficou: Esse é um caso em que a nova mixagem melhorou e muito a versão master original. Ficou muito mais presente a parte instrumental, assim como o acompanhamento vocal dos Jordadnaires. Excelente. (Nota 10)

It's Now Or Never (Schroder/Gold) - Versão em língua inglesa para a conhecida canção napolitana "O Sole Mio" (que fez parte da trilha da novela "Terra Nostra"). "O Sole Mio" foi gravada por inúmeros artistas ao longo da história, sendo que em 1899 ela ganhou o festival Napolitano Piedigrota, considerado um dos mais importantes da Europa. A Primeira versão em língua inglesa foi gravada por Tony Martin em 1949 com o título de "There's no Tomorrow". Em 1960 Elvis Presley gravou sua versão que se tornou um de seus maiores sucessos alcançando o primeiro lugar em Agosto de 1960. Gravada pouco mais de uma semana após Stuck on You, vendeu 10 milhões de discos do single mundo afora. É um dos maiores sucessos do cantor. Como ficou: It's Now or Never sempre foi uma gravação muito boa. Como regra geral as melhoras daqui em diante são altamente relevantes, até porque desse ponto em diante as masters originais foram produzidas nos anos 60, com melhor qualidade técnica. (Nota 10)

Are You Lonesome Tonight? (Turk/Handman) - Outra versão de Presley para uma música do início do século XX. "Are you Lonesome Tonight ?" foi grande sucesso na era do cinema mudo com o cantor Al Jolson (Que iria estrelar o primeiro filme falado da história "O Cantor de Jazz") em 1926. Em 1959 surgiria outra versão com Jaye P. Morgan pela própria RCA. Finalmente a versão de Presley foi gravada no dia 4 de Abril de 1960 e lançada em Novembro do mesmo ano se tornando mais uma música de "the pelvis" a atingir o Primeiro lugar entre os mais vendidos. Bela balada gravada originalmente por Vaughn DeLeath, em 1927, cuja versão definitiva e mais famosa acabou sendo mesmo a de Elvis. Como ficou: A voz de Elvis realmente recebeu um tratamento altamente digno. As mais significativas mudanças são percebidas na parte falada, onde realmente se nota a grande qualidade técnica realizada pela RCA BMG. (Nota 10)

Wooden Heart (adapt:Kaempfert/Wise/Weisman) - A melhor música de todo o disco "G.I.Blues". É baseada na canção folclórica Alemã "Muss I Denn". A cena que Elvis a apresenta no filme (com as marionetes) é a melhor parte de toda a película. A canção foi lançada em compacto na Alemanha e no restante da Europa alcançando um tremendo sucesso. O Single norte-americano com "Wooden Heart" só foi lançado no final de 1964, ou seja, quatro anos depois!!! É digno de nota a ótima adaptação do maestro alemão Bert Kaempfert e o acordeonista Jimmie Haskiell. Ela foi gravada no dia 27 de Abril nos estúdios Radio Recorders em Hollywood. Como ficou: Que Pena! O que fizeram com Wooden Heart? A versão do CD da trilha de "G.I.Blues" (saudades de um pracinha, 1960) é bem melhor, sem nenhuma mixagem nova. Aqui se nota, com tristeza, a má qualidade desta versão, abaixo de qualquer expectativa, esperava mais, bem mais. Em uma palavra: decepção. (Nota 2,0)

Surrender (Pomus/Schuman) - Outra versão de uma canção italiana vencedora do Festival Napolitano de Piedigrotta no ano de 1909. "Torna a Sorriento", seu título original, foi gravada pelo cantor Mario Lanza em 1951 pela RCA. Presley era grande Fã de Lanza o que justifica a gravação desta música. Assim como aconteceu com "It's Now or Never" esta canção se tornou líder das paradas quando foi lançada em Fevereiro de 1962. Elvis aqui esbanja seu poderio vocal numa interpretação que deixaria o velho Lanza orgulhoso. Assim como It´s now or never, foi reescrita de uma canção italiana para um grande sucesso, Torna a Sorrento, que até Dean Martin havia gravado. Como ficou: "Surrender" está linda, acima de qualquer crítica. Altamente bem equilibrada, principalmente na parte final onde Elvis Lanza nos brinda com seu poderio vocal. (Nota 10)

(Marie's the Name) His Latest Flame (Pomus/Schuman) - Priscilla Presley relata em seu livro "Elvis & Eu" (Elvis and Me, Ed. Rocco, 1985) que pensou seriamente que Elvis estava envolvido com uma garota chamada "Marie" quando esta canção foi lançada. Isto reflete bem o pensamento juvenil da garota de 14 anos que se apaixonou por Presley em 1958 e que iria se casar com ele em 1967. Priscilla, que era filha de um oficial da Força Aérea, conheceu Elvis quando ele servia o exército Americano na Alemanha. Foi uma paixão avassaladora entre ambos, tanto que Elvis nunca iria se recuperar de seu divórcio em 1973 quando Priscilla o abandonou. Foi o lado A de um single com Little Sister e as rádios dos EUA tiveram problemas em promover as duas canções, que competiam entre si e acabaram alcançando apenas as 4ª e 5ª posições, respectivamente, nas paradas americanas. Mas alcançou o topo no Reino Unido. Como ficou: Outra que sempre foi muito bem gravada. É o típico caso em que tudo o que os engenheiros da gravadora deveriam fazer é nada fazer. "Se mexer piora". (Nota 10)

Can't Help Falling In Love (Peretti/Creatore/Weiss) -- Canção baseada em "Plaisir d'Ámor" do compositor francês de origem alemã Jean Paul Martini. A versão de Presley foi muito feliz pois foi muito bem adaptada. O maior sucesso do filme. Quando foi lançada em Single em Novembro de 1961 alcançou um enorme sucesso de vendas. Nos anos setenta ela seria utilizada como desfecho de todos os seus shows. Nos anos 90 o grupo UB40 faria uma nova versão de grande sucesso. Parte da trilha sonora do filme Blue Hawaii. O álbum ficou durante incríveis 20 semanas no nº 1 e vendeu mais de 2 milhões de exemplares. Como ficou: Linda, dispensa maiores comentários, muito superior a qualquer outra versão. Essa é a versão oficial da trilha de "Blue Hawaii" (Feitiço Havaiano, 1961) em minha opinião sempre foi insuperável, principalmente por seu arranjo primoroso. (Nota 10)

Good Luck Charm (Schroder/Gold) - Esta canção foi a última de Elvis até "Suspicious Minds" a alcançar o primeiro lugar entre os singles mais vendidos da parada americana. Isto reflete de certa forma a dificuldade no qual Elvis iria passar até 1969 quando ele voltaria de novo ao topo. Entre as causas desta "maré baixa" enfrentada por Elvis estavam a má qualidade de suas trilhas de filmes aliados à crescente concorrência da invasão britânica (Beatles e Rolling Stones). Gravado em Nashville, este pop típico dos 60 foi finalizado em apenas quatro tentativas. A última tornou-se um single, com Anything That´s Part of You no lado B Como ficou: Exemplo de boa mudança. A guitarra de Scotty Moore, antes bastante ofuscada, aqui se faz mais presente. Os vocais idem. Em suma, mudança para melhor. (Nota 8,0)

She's Not You (Pomus/Stoller/Leiber) - Uma rara parceria entre Leiber & Stoller e o compositor Pomus. O Resultado infelizmente não fez jus ao talento das partes envolvidas. Esta é uma canção de Presley que envelheceu o que de certa forma não aconteceu com a maioria das canções de Elvis. Ela foi lançada em Agosto de 1962 com "Just tell Her Jim Said Hello" no lado B. Como ficou: Interessante. Essa música sempre foi considerada mal gravada. Mas agora ganha sua chance de ter uma versão melhor. E é o que acontece, renasceu de anos de descuido. Agora está bastante modificada e melhorada. (Nota 8,0)

Return To Sender (Blackwell / Scotty) - O grande sucesso do filme "Girls, Girls, Girls" (Garotas e mais garotas, 1962). Foi lançado como lado principal de um single de grande sucesso. Chegou ao segundo lugar nas paradas americanas e ao topo nas britânicas. Aqui Elvis homenageia o estilo do cantor de soul Jackie Wilson. Inclusive na cena em que ele canta esta música ele faz questão de usar os mesmos movimentos de Wilson. Um fato curioso e engraçado: Uma vez em Las Vegas um sujeito jogou um sapato no palco, Elvis que não perdia uma piada, pegou o sapato e jogou de volta cantando "Return to Sender" (de volta ao remetente). A plateia foi ao delírio. Em tempo: a música é de autoria do guitarrista Scotty Moore. Como ficou: Dançante, essa é a prova de falhas. A voz de Elvis ficou um pouco destacada demais, mas não chega a comprometer o resultado final. (Nota 8,5)

(You're The) Devil In The Disguise (Giant / Baum / Kaye) - Sempre foi considerada meio bobinha e tal, foi gravada em uma sessão em 1963, como uma forma do cantor se afastar um pouco das trilhas sonoras. Apesar de tudo fez sucesso, chegando ao terceiro lugar nos Estados Unidos e ao primeiro na Inglaterra. Fez parte do disco "Elvis Gold Records vol.4". Foi usada este ano para o filme "Lilo & Stitch" e se adaptou muito bem aos planos da Disney. Um fato curioso sobre essa música: depois de 11 de setembro, um grupo de rádios dos EUA resolveu retirar certas canções de suas programações por serem ofensivas ao momento que o país enfrentava, por mais incrível que possa parecer essa estava na lista pela simples razão de ter "devil" em seu título! absurdo total. Como Ficou: Já havia sido restaurada antes e por isso não houve mudanças significativas, praticamente ficando na mesma. (Nota 8,0)

Crying In The Chapel (Artie Glenn) - Escrita por Artie Glenn em 1953 com apenas 16 anos de idade. Chegou ao primeiro lugar nas paradas R&B com o obscuro grupo Sonny Till and the Orioles. Em 1953 esta música explodiu nas paradas nas vozes de Rex Allen e June Valli. A versão de Elvis foi gravada em 1960. Se tornou um single de enorme sucesso em 1965. O sucesso foi tamanho que o single com "I believe in the man in the Sky" (canção do disco "His Hand In Mine") no lado B chegou ao primeiro lugar na parada britânica. Devido a toda esta repercussão a canção foi incluída no disco para ajudar em sua promoção. Como ficou: Ficou bom demais. Quem conhece a canção através do "His Hand In Mine" não sabe o que está perdendo. A voz de Elvis está excelente, dá para ouvir os mínimos detalhes. 10 com louvor! (Nota 10)

In The Guetto (Mac Davis) - Em meio ao furacão que foi os anos sessenta Elvis lançaria esta música que trazia um conteúdo político em sua letra. A Guerra do Vietnã, a revolução sexual e a luta dos negros contra o preconceito racial (luta pelos direitos civis) eram alguns dos fatos que estavam na ordem do dia. Elvis Presley não poderia ficar à margem de tudo isso. Em uma entrevista coletiva o repórter perguntou a Elvis: "Está tentando mudar sua imagem com temas tipo "In The Guetto"? Elvis respondeu: "Não. 'Guetto' é uma grande música e simplesmente não poderia dispensá-la após tê-la escutado". "In The Guetto" foi lançada em abril de 69 como single alcançando o terceiro lugar das paradas dos EEUU e topo no Reino Unido. Sem dúvida a mais política das canções de Elvis, escrita por Mac Davis. Como ficou: Melhorou muito, principalmente em sua introdução. O dedilhado do violão está mais presente e vivo, assim como o coro feminino. Destaque também para o arranjo de orquestra. (Nota 10)

Suspicious Minds (Mark James) - O grande sucesso de Elvis no final dos anos sessenta. O single "Suspicious Minds" ocupou a primeira posição no hit parade mundial quando foi lançado. A canção em si é muito bem arranjada e faz parte das maravilhosas sessões de Elvis em Memphis no American Studios. Elvis aqui conta com ótimo material composto por Mark James, que iria se tornar um de seus principais compositores nos anos 70 ao lado de Dennis Linde, Tony Joe White, Joe South, Jerry Reed e Mac Davis. Em 2001, depois de mais de 30 anos, esta canção voltou às charts da Inglaterra. Reconhecida como a mais bela balada de Elvis. O single estreou na 77ª posição e subiu 40 lugares em apenas uma semana. Depois de oito semanas, tornou-se o primeiro nº 1 de Elvis nos EUA, reconciliando-o com o sucesso. Como ficou: Essa, como todas as outras do CD é a versão oficial que saiu em single. "Suspicious Minds" é acima de qualquer juízo de valor que se possa fazer, é um desses momentos ímpares. Nada restou para melhorar, ela está aqui como foi concebida: simplesmente intocável e perfeita. (Nota 10)

The Wonder of You (Baker Knight) - Sucesso do cantor Ray Peterson em 1959. A versão de Elvis Presley foi título de um single lançado em Abril de 1970 junto com "Mama Like the Roses" (esta gravada em Memphis em 1969). O single chegou ao nono lugar nos EUA e primeiro na Inglaterra, resultando em mais um disco de ouro na carreira do cantor. Bela canção que representa muito bem o tipo de trabalho que Elvis Presley fazia em sua volta ao palcos no final dos anos 60 e começo dos anos 70. Foi muito utilizada em seus primeiros shows, mas depois foi deixada de lado pelo próprio Elvis, principalmente a partir de 1972. Como ficou: Essa é a versão do single, pouco conhecida no Brasil, onde todos tem mais afinidade com a versão do disco "On Stage". Prefiro também a versão do disco, mas aqui tudo está bem correto. (Nota 8,5)

Burning Love (Dennis Linde) - Um dos grandes sucessos de Elvis em sua carreira. Foi lançado inicialmente como single em agosto de 1972, com "It's a matter of Time" no lado B e se tornou o seu compacto simples mais vendidos dos anos 70. Tamanho o sucesso, que o coronel Parker, inventou o disco "Burning Love and Hits from his movies", que lançado em outubro de 72 se tornou também um êxito. Elvis, por sua vez, mandou confeccionar uma roupa especial, toda vermelha, chamada "Burning Love" que ele usou pela primeira vez na cidade de El Paso. O cantor estava na fossa, tinha acabado de se separar em março de 1972. Portanto, ele não queria gravar essa música alegre. Era o único a não acreditar no sucesso desse rock elétrico. Acabou virando o maior sucesso de Elvis nos anos 70. Como ficou: Ficou ótima, a mixagem deu uma geral e o resultado foi muito bom. A única diferença a se notar talvez seja em relação ao coro vocal, aqui mais discreto que nas outras versões. No mais é uma delícia queimar em seu embalo. (Nota 10)

Way Down (Martine) - Essa música fez parte do último disco de Elvis Presley, intitulado "Moody Blue". Gravada na "Sala das Selvas" em Graceland, quando Elvis já não tinha mais saco para ir para Nashville. Grande sucesso de Elvis que quando foi lançado como single em Julho de 1977 chegou ao primeiro lugar nas paradas britânicas. Conta com ótimo arranjo e maravilhoso acompanhamento do cantor J.D.Summer. Foi gravada no dia 29 de outubro de 1976 em Graceland. Como ficou: Rockabilly temporão, essa música foi gravada nos anos 70, em uma época já bastante avançada em termos técnicos, por isso nada a acrescentar, continua a mesma. Melhoraram um pouco no vozeirão de J.D. Summer. Divertida, acima de tudo. E pensar que ela foi gravada em Graceland... (Nota 8,0)

A Little Less Conversation (Mac Davis / Strange) - Uma canção obscura dentro da discografia de Elvis, fez parte do filme "Live a Little, Love a Little" (Viva um pouquinho, Ame um pouquinho, 1968) no final dos anos 60. No Brasil ela só foi lançada uma única vez, e mesmo assim em 1971 no também cavernoso disco "Almost in Love". Isso mudou radicalmente quando o DJXL resolveu fazer um remix em cima da música. Bingo! Com o apoio da Nike que a colocou em um de seus comerciais durante a Copa do Mundo 2002, a música se tornou um tremendo sucesso chegando ao primeiro lugar em inúmeros países. Foi a canção que comandou a verdadeira "Elvismania" que tomou conta do planeta em 2002. Como ficou: Um caso típico de "Frankestein Musical" no bom sentido. As alterações foram positivas, a canção apesar de não ter feito sucesso nenhum quando ela foi lançada em 1968, é muito boa. A essência básica foi mantida, ou seja, muita alegria e embalo. Mas, chega de papo, um pouco menos de conversa e um pouco mais de ação, por favor! Tá esperando o quê? Vai logo comprar o Elvis Number one Hits. Obs: As Notas dadas se referem às mudanças introduzidas pela nova tecnologia e não às canções em si.

Pablo Aluísio.

sábado, 7 de março de 2009

Elvis Presley - Caixa Vermelha

No final da década de 80 chegou nas lojas brasileiras uma caixa com 5 LPs intitulada simplesmente "Elvis Presley" (para alguns ela ficou conhecida apenas como "A caixa vermelha de Elvis"). Essa coleção era 100% brasileira e sua idéia partiu do presidente do fã clube SPEPS, Marcelo Costa. O box vinha ao mercado com o objetivo de suprir uma lacuna existente no Brasil na época. Embora em 1982 a RCA aqui em nosso país tenha relançado vários LPs de Elvis na série Pure Gold (com foco em discos dos anos 50 e trilhas sonoras) o fato era que muitos desses discos não ficaram em catálogo por muito tempo, sumindo rapidamente das lojas. Assim em 1989 havia uma escassez enorme de títulos de Elvis Presley à disposição do consumidor brasileiro. De fato não chegava nem a dez o número de títulos do cantor em nosso mercado e geralmente eram sempre os mesmos (Disco de Ouro, Elvis 10 anos de Saudades da Som Livre, Elvis in Concert, Moody Blue e alguns poucos outros que eram encontrados esporadicamente em lojas especializadas ou grandes magazines).

É bom lembrar que nessa época ainda não havia a Internet e o CD ainda era uma tecnologia disponível para poucos. Para falar a verdade a "caixa vermelha" foi o último suspiro do bom e velho vinil no Brasil. O formato já estava com os dias contados mas mesmo assim ainda respirava. A seleção musical era certeira e feita para agradar ao fã médio de Elvis Presley no Brasil. Dividido em cinco temas (anos 50, anos 60, anos 70, Inéditas no Brasil e Grandes Sucessos no Brasil) o caprichado trabalho acabou marcando época em nosso país. A direção de arte era bonita, com encarte interno explicativo sobre a importância de cada faixa com texto do próprio Marcelo Costa e o produto era muito bem acabado. Obviamente o preço era salgado o que fez muito fã juntar por alguns meses para adquirir esse pequeno sonho de consumo.

Para os fãs de longa data a caixa tinha pelo menos um grande atrativo, o LP 4 denominado "Inéditas no Brasil". Embora nem todas fossem inéditas mesmo, como por exemplo "High Heel Sneakers " que já havia sido lançada por aqui no álbum "Reconsider Baby" em 1985 o fato era que a intenção de agradar ao fã mais conceituado era muito bem-vinda. Aqui é bom abrir um parêntese para elogiar a atitude da BMG / RCA Brasil. Cientes de que ninguém conhece mais a história do ídolo do que seus próprios fãs a gravadora indicou um admirador do quilate de Marcelo para selecionar várias faixas que permaneciam fora de alcance do fã de Elvis no Brasil. Hoje em dia com a distância de um click de algumas dessas músicas fica até complicado para o jovem entender a importância dessas canções serem lançadas para o mercado nacional. Imaginar que músicas como "A Mess of Blues", lançada no começo dos anos 60, ainda permanecia inédita em nosso país era algo realmente espantoso. Na era do vinil não havia outra alternativa. E aí podemos perceber o grande legado de pessoas como o Marcelo que trouxeram esse tipo de material para o fã comum.

Porém contra o avanço da tecnologia não há defesa. O mundo avançou muito na virada da década de 80 para a 90. O CD se popularizou, ganhou o espaço do antigo disco de vinil e em pouco tempo a caixa vermelha se tornaria obsoleta. O vinil morreria e a Internet romperia com esse tipo de limitação, pois o fã de Elvis teria acesso a qualquer canção na hora que quisesse, sem rodeios. De qualquer forma deve-se reconhecer a importância desse box, único no mundo, dentro da discografia brasileira de Elvis Presley. Em tempos mais românticos ter uma coleção dessas em casa era seguramente uma grande aquisição do saudoso astro. No tempo da máquina de escrever e do disco de vinil "Elvis Presley" realmente reinou em nossas prateleiras. Bons tempos.

Elvis Presley (1989) - DISCO 01 ANOS 50 - That's All Right / Good Rockin' Tonight / Heart Break Hotel / Money Honey / Blue Sued Shoes / Tutti Frutti / Hound Dog / Don't Be Cruel (To A Hearth That's True) / Love Me / Readdy Teddy / (Let Me Be Yoyr) Teddy Bear / All Shook Up / (You're So Square) Baby, I Don't Care / Lawdy Miss Clawdy / I Got Stung / Loving You / King Creole / Hard Hearded Woman / A Big Hunk Of Love - DISCO 02 - ANOS 60 - Stuck On You / Can't Help Falling In Love / Return To Sender / Little Sister / C1mon Everybody / Guitar Man / Too Much Monkey Business / Big Boss Man / Almost In Love / U. S. Male / Edge Of Reality / Rubberneckin' / Memories / If I Can Dream / In The Ghetto DISCO 03 - ANOS 70 - Polk Salad Annie / The Wonder Of You / Let It Be Me (Je T'appartiens) / I've Lost You / Patch It Up / The Impossible Dream (The Quyest) / Raised On Rock / Always On My Mind / Promised Land / Trouble / Hurt / Way Down / Moody Blue - DISCO 04 - INÉDITAS NO BRASIL - Ain't That Loving You Baby / A Mess Of Blues / Fools Fall In Love / High Heel Sneakers / All I Needed Was The Rain / Wonderful WQorld / Let's Be Friends / Kentucky Rain / It's Only Love / Snowbird / The First Time Ever I Saw Your Face / Life / Vosom Of Abraham / Good Time Charlie's Got The Blues - DISCO 05 - GRANDES SUCESSOS NO BRASIL Love Me Tender / Jailhouse Rock / Are You Lonesome Tonight? / No More / It's Now Or Never / Kiss Me Quick / Suspicious Mind / Sweet Caroline / Bridge Over Troubled Water / Sylvia / Burning Love / My Boy / My Way.


Pablo Aluísio

Elvis Presley - The Great Performances (1990)

De tempos em tempos a imagem de Elvis Presley passa por manobras de marketing visando sua modernização e revitalização, tudo com o objetivo de torná-la mais adequada para as novas gerações. Uma dessas "modernizações" aconteceu no começo dos anos 1990. O projeto foi denominado "Elvis - The Great Performances" e incluía um álbum (com linda direção de arte), uma coleção de vídeos lançados em VHS e clips utilizando de todas as modernas linguagens típicas da MTV. Os vídeos eram bem corretos. Eram dois volumes (o terceiro só foi lançado posteriormente) e trazia imagens raras de Elvis na TV durante os anos 50. O conteúdo desses dois especiais (com narração de George Klein) mostrava bem a disposição da EPE (empresa que controlava a imagem de Elvis) em aproveitar ao máximo o visual e estilo do cantor em seus anos iniciais em detrimento das outras fases de Elvis (a saber, anos 60 e 70).

Assim somos apresentados ao Elvis que virou a cultura popular ao avesso: jovem, rebolativo e revolucionário. Dos anos 60 o documentário apenas aproveita um pequeno trecho de Elvis cantando "Return to Sender". Um tanto quanto constrangido o texto informava que Elvis havia feito filmes nitidamente fracos naquela década mas que quando possível ele tentava trazer uma sonoridade melhor, aproveitando o estilo de seus ídolos da juventude, como Jackie Wilson, por exemplo. Depois disso o documentário dava um salto enorme pulando do NBC para algumas cenas esparsas do On Tour finalmente mostrando em clip Elvis ao piano executando "Unchained Melody". Certamente o material não era muito exaustivo no que se relacionava à biografia e carreira de Elvis Presley, mas em tempos de vacas magras era muito bem vindo, principalmente pela oportunidade de ter em casa cenas tão preciosas como Elvis dançando "Hound Dog" ou sendo censurado em sua performance de "Don´t Be Cruel"

Se a parte visual do material ficava um pouco a desejar o disco com a trilha sonora do documentário era bem melhor. A começar pela primeira canção, a tão falada (e tão pouco conhecida na época) "My Happiness". Foi através desse vinil inclusive que tive a oportunidade de ouvir pela primeira vez aquele que era considerado o primeiro registro da voz de Elvis em disco. A lenda todos conhecem: Elvis queria dar de presente para sua mãe um disquinho de presente por seu aniversário. A realidade claro não era bem essa. Elvis queria mesmo ser descoberto, a data de gravação do disco não coincide com o aniversário de Gladys Presley e afinal de contas o desapontamento por parte de Elvis ao não encontrar Sam Phillips durante a gravação do acetato demonstrava bem qual era sua real intenção. De qualquer forma não importa a veracidade da história mas sim que depois de longos anos desaparecida finalmente "My Happiness" chegava ao mercado americano em escala comercial. Hoje em dia obviamente esse título já não tem tanta relevância pois os futuros lançamentos foram paulatinamente superando sua importância mas de qualquer forma vale o registro de seu surgimento na discografia de Elvis Presley.

Elvis Presley - The Great Performances (1990)
1. My Happiness
2. That's All Right
3. Shake, Rattle & Roll/Flip, Flop & Fly
4. Heartbreak Hotel
5. Blue Suede Shoes
6. Ready Teddy
7. Don't Be Cruel
8. Teddy Bear
9. Got A Lot Of Livin' To Do
10. Jailhouse Rock
11. Treat Me Nice
12. King Creole
13. Trouble
14. Fame And Fortune
15. Return To Sender
16. Always On My Mind
17. American Trilogy
18. If I Can Dream
19. Unchained Melody
20. Memories

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Elvis Presley - Elvis 50th Anniversary (1985)

Outro álbum curioso lançado em 1985 foi esse "Elvis 50th Anniversary" que tem nome de disco gringo mas é brasileiríssimo. O disco na verdade nasceu da bem-vinda colaboração entre a representante da gravadora BMG em nosso país e fãs brasileiros do cantor. O disco teve a seleção musical e notas escritos por José Roberto Verta e a colaboração muito especial de Marcelo Costa. Para quem não sabe ou não conheceu o Marcelo foi um dos fãs mais ativos de Elvis no Brasil, sempre divulgando a obra do cantor em livros, revistas e na TV. Recentemente falecido ele foi durante muitos anos a pessoa que comandou um prestigiado fã clube brasileiro o SPEPS (São Paulo Elvis Presley Society) que além de prezar pelo bom nome de Elvis no Brasil também promovia eventos de caridade.

O disco em si não traz grandes novidades, basicamente é outra coletânea para iniciados muito embora tenha uma seleção musical bem mais rica que outras da mesma época. No lado A o álbum vinha com cinco grandes sucessos de Elvis e duas surpresas para os fãs. A primeira era um take raro e inédito em nosso país de "Blue Moon of Kentucky". Essa versão era curiosa pois trazia gravada a própria voz de Sam Phillips tentando corrigir e animar os "Blue Moon Boys" em estúdio. Na nota explicativa da contracapa do disco era informado aos consumidores que o take trazia "um tratamento mais lento do que a versão original lançada pela RCA". A segunda boa surpresa era outra versão inédita em nosso país, uma versão ao vivo em Las Vegas em que Elvis perdia o controle e ria se parar, dando gostosas gargalhadas. A nota do disco erra ao localizar a gravação no ano de 1970, pois sabemos que ela foi gravada em 1969 tendo inclusive o show completo sendo lançado pelo selo FTD no título "All Shook Up". É um pequeno deslize de informação mas plenamente justificado pelo fato do disco ter sido lançado há mais de 25 anos quando esse tipo de informação não era comum.

O lado B também seguia basicamente o mesmo estilo do lado A. Vários sucessos abrindo e no final duas canções inéditas em nosso país. Uma delas era "Separate Ways". Por que "versão inédita"? Porque a canção nunca havia sido lançada no Brasil até aquela data, issso havia acontecido porque o single original de 1972 (com "Always On My Mind") também havia passado batido em nosso país. Por essa razão a nota explicativa no álbum fazia questão de informar que ali estava uma autêntica canção "muito rara no Brasil". Em uma era pré-internet realmente só os colecionadores mais deslocados tinham conseguido comprar o compacto simples americano. Por fim o disco fechava com uma versão caseira de Suppose, Essa versão eu devo dizer que realmente era bem rara, uma verdadeira novidade até mesmo para os fãs mais conceituados. Para falar a verdade essa "Suppose" domiciliar (foi gravada em Graceland) segue bem inacessível até os dias de hoje pois saiu em pouquissimos títulos, mesmo americanos. Enfim, o álbum brasileiro que comemorou em nosso país os 50 anos de aniversário de Elvis Presley foi bem digno, bem interessante. Ele ficou pouco tempo em catálogo e não foi reeditado em versão digital (disc laser) mas mesmo assim celebrou dignamente essa data em nosso país, não a deixando passar em branco nas lojas de discos.

Elvis Presley - Elvis 50th Anniversary (1985)
1. Blue Suede Shoes
2. Love Me Tender
3. Jailhouse Rock
4. King Creole
5. Tutti Frutti
6. (You're So Square) Baby I Don't Care
7. Blue Moon Of Kentucky
8. Are You Lonesome Tonight
9. Bridge Over Troubled Water
10. Suspicious Minds
11. Burning Love
12. My Way
13. Sweet Caroline
14. Sylvia
15. Seperate Ways
16. Suppose

Pablo Aluísio.

Elvis Presley -The Best Of Elvis - Good Rockin´ Tonight

Mais um álbum exclusivo da discografia brasileira. Foi um LP importante para Elvis no Brasil pois na época havia poucos títulos em catálogo por aqui (Elvis Disco de Ouro e Elvis in Concert eram um dos poucos títulos que se encontravam facilmente nas lojas). Também teve sua seleção musical feita em colaboração com fãs clubes nacionais (em especial o SPEPS) e uma boa campanha de marketing vinculada no canal SBT. Em termos de direção de arte se trata realmente de um produto bem acabado e caprichado - capa bonita, dupla, com belas fotos de Elvis em seu interior e cuidado técnico mais detalhado do que de costume.

Pessoalmente o disco em si nunca chamou muito a minha atenção. Nessa época eu já tinha tido acesso a praticamente toda a discografia oficial americana de Elvis e por isso lançamentos como esse não me causavam maior interesse. Obviamente na época do mercado de vinis ter um disco assim à disposição dos consumidores era bem importante, tanto que acabou levando as músicas de Elvis para muitos admiradores novos. Com certeza alguns deles levaram à frente seu gosto pela música do cantor, indo, por exemplo, atrás de outros títulos nacionais. "The Best of Elvis", como o próprio nome sugere, procurava trazer o que havia de melhor na carreira do astro em todas as suas fases. Pelo menos isso era o que sugeria sua denominação aos consumidores. Olhando a lista das canções porém percebemos que os idealizadores do álbum não foram tão previsiveis como era de supor. Há sim vários medalhões da carreira de Presley, tais como "Love Me Tender", "Jailhouse Rock", "Always On My Mind" etc mas no meio delas também vamos encontrar várlos "Lados B", canções pouco conhecidos e nem um pouco manjadas por aqui. Nessa categoria estaria "Down in The Alley", "Never Ending" e outras músicas dos anos 60 e 70 que nunca sequer tinham sido lançadas no Brasil como "I´m Leaving".

Esse LP seria bem sucedido comercialmente, tanto que daria origem a outros da mesma série e ganharia também sua versão digital, em laser disc. De certa forma veio para ocupar o espaço do velho e cansado "Elvis Disco de Ouro" nas prateleiras das lojas de discos pelo Brasil afora. Obviamente não teve um reinado de tanta duração quanto o anterior, até mesmo porque com a chegada da internet a própria indústria musical sofreria forte abalo e a obra de Elvis em sua íntegra ficaria à disposição do internauta sem a necessidade de passar por títulos como esse, que em pouco tempo ficariam completamente obsoletos com o novo modelo. De qualquer forma fica como curiosidade de um tempo onde fãs e a indústria se uniram para tentar renovar o catálogo musical de Elvis Presley em nosso país.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Elvis Presley - Reconsider Baby (1985)

Depois que Elvis Presley morreu a gravadora que detinha seus direitos ficou meio à deriva, sem saber direito o que fazer com o catálogo que tinha em mãos. O maior exemplo disso são as muitas coletâneas de sucesso que chegaram ao mercado, sendo que 99% delas não tinham nada a oferecer em termos de material inédito ou de qualidade. Eram basicamente formadas por reprises dos grandes sucessos de Elvis, muitas delas sem nenhuma novidade. Eu que vivenciei esse período fui chegando na equivocada conclusão que não havia mais nada em arquivo que fosse relevante e muito provavelmente não tinha sobrado material inédito do cantor. Nem é preciso dizer o quanto isso me entristecia e me aborrecia. O fato porém é que a partir de meados dos anos 80 uma suave brisa de mudanças na discografia de Elvis foi chegando. Um exemplo é esse "Reconsider Baby" disco que comprei na época de seu lançamento, ainda em vinil (foi aliás esse título um dos primeiros a chegar em laser disc naquele mesmo ano no Brasil, uma novidade absoluta no nosso mercado).

Ao lado do material reprise de sempre, "Reconsider Baby" trazia algumas novidades bem interessantes aos admiradores, a começar pela inspirada direção de arte. É fato que muitos discos da velha guarda de Elvis não tinham um cuidado maior em termos de capa e arte final. Pois bem, esse Reconsider Baby não tinha apenas uma capa bonita e com feeling blueseiro (a tônica do disco em si) mas também uma contracapa rica em textos, fotos e informações, o que já deixava o fã comum com água na boca. Em termos de fotos duas imagens bem raras (na época) de Elvis em seus shows pelo vizinho Canadá nos anos 50. Mas não ficava por aí. Ao lado de cada canção um belo trabalho de pesquisa especificando data de gravação, versões originais (e seus cantores devidamente creditados), posição nas charts e os discos de Elvis nas quais as canções foram originalmente lançadas no mercado. Para o fã atual de Elvis isso pode até mesmo soar como banal mas não nos anos 80 onde todo tipo de informação técnica sobre Elvis era algo bem raro de se encontrar, principalmente nos próprios discos do cantor. Para completar o que por si já era muito bom O LP ainda trazia um ótimo texto do autor Peter Guralnick fazendo um estudo da influência do Blues na carreira de Elvis Presley. Simplesmente fantástico!

Reconsider Baby é um disco conceitual. Os idealizadores de seu lançamento resolveram juntar o que havia de mais relevante no gênero blues dentro da carreira de Elvis para compor uma coletânia diferente, bem organizada e coesa. Obviamente ausências são sentidas na seleção musical mas isso não tira o mérito do disco em si. A grande novidade para o fã de Elvis era a inclusão de versões inéditas no LP, algo muito bem vindo e que mostrava naquele momento que material inédito existia e o mais importante, de boa qualidade sonora! Havia no total quatro preciosidades no álbum. A primeira era a tão falada versão envenenada de "One Night" (creditada no disco com seu título original embora saibamos que depois seria rebatizada como "One Night a Sin"). A letra que havia sido mudada para não causar controvérsias aqui aparece em sua versão inicial (e sem censura); "Stranger In My Own Home Town" também surgia em uma versão bem mais crua do que a mais conhecida (e oficial). A intenção era óbvia: mostrar o lado mais visceral da vocalização de Elvis nesses blues arrasadores.

A versão que define o disco porém é "Ain't That Loving You Baby" gravada nas últimas sessões de Elvis antes de seguir rumo à Alemanha para cumprir seu serviço militar. Ao ouvir esse take pela primeira vez fiquei completamente surpreso e isso por várias razões mas a principal era tentar entender como uma versão tão excelente como essa foi simplesmente arquivada por anos e anos e nunca aproveitada pela RCA Victor! Muitas vezes superior à versão do single a música tinha pique e arranjo suficientes para arrasar nas paradas dos anos 50. Incrível como algo assim foi simplesmente desperdiçado pelo pessoal da RCA na época! Além disso a versão apresentada pela primeira vez aqui demonstrava aos fãs nos anos 80 que Elvis havia deixado verdadeiros tesouros arquivados dentro de sua gravadora. Era uma notícia maravilhosa certamente. Por fim, e não menos importante, o álbum trazia também uma versão completa e caprichada do clássico natalino de Blues: "Merry Christmas Baby"!

Além das inéditas é bom frisar que naquela época muitas das músicas presentes no disco não eram fáceis de achar por aí, como por exemplo Down in The Alley e Hi Heel Sneakers que havia anos estava fora de catálogo aqui e nos EUA! Não devemos esquecer que estamos falando de 25 anos atrás, onde não havia internet e nem a facilidade de se conhecer a obra de Elvis que temos hoje! Por isso ao comprar o disco simplesmente o gastei de tanto ouvir por aquela época! Depois tive que comprar novamente em CD mas algumas mudanças não me agradaram na versão digital (como por exemplo a própria capa que foi desfigurada ao colocarem o nome do disco em destaque nada estético). Mas isso é uma outra história. Ouvir Elvis arrasando no Blues marcou muito naqueles distantes anos 80. Como diria Howlin Wolf quando perguntado se Elvis era realmente um bom cantor de Blues: "É claro que é, nunca ouviu as músicas do rapaz?" Pois é, ouça "Reconsider ao estilo Blues" e tire suas próprias conclusões.

Elvis Presley - Reconsider Baby (1985)
Reconsider Baby
Tomorrow Night
So Glad You're Mine
One Night
When It Rains, It Really Pours
My Baby Left Me
Ain't That Loving You Baby
I Feel So Bad
Down in the Alley
Hi-Heel Sneakers
Stranger In My Own Home Town
Merry Christmas Baby:

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Elvis By Request (Specially For Brazil)

Existem situações que nos deixam admirados. Nos anos 70 a discografia nacional de Elvis Presley se transformou após a morte do cantor em algo realmente disperso, sem organização, sem foco. Hoje ao termos acesso a tantas gravações raras e inéditas fico pensando porque não utilizaram esse material ainda naquela década. Certamente venderia muito uma vez que a morte de Elvis ainda era muito recente e o interesse na obra do cantor cada vez mais crescente. Ao invés disso porém discos e discos foram lançados sem muitos critérios e o pior, sem muito conhecimento por parte daqueles que trabalhavam na representante da RCA em nosso país. Felizmente alguém teve a feliz ideia de ouvir os fãs, os que acompanhavam a discografia de Elvis há muitos anos. Essa união entre fãs e a filial da RCA no Brasil rendeu bons frutos como já tive oportunidade de escrever aqui no blog.

Esse Elvis By Request (Specially For Brazil) apesar do nome em inglês é outro disco 100% nacional. A seleção das faixas foi escolhida diretamente por fãs que enviaram suas sugestões à RCA através de uma promoção da gravadora que foi realizada na época. O resultado das músicas escolhidas de certa forma surpreende pois algumas das músicas nunca foram populares por aqui como por exemplo "Sentimental Me" ou "Tell Me Why". Conversando com fãs da velha guarda alguns me confidenciaram que essas faixas foram incluídas porque eram extremamente raras de se encontrar no mercado (nem preciso lembrar que em 1979 ou você tinha o vinil em mãos ou não tinha nada, uma vez que o mercado pirata de LPs era extremamente raro e os discos originais há muito estavam fora de catálogo em nosso país),

Outro aspecto digno de nota é a presença significante de músicas dos anos 60, muitas de trilhas sonoras. Isso é até fácil de explicar de certo modo. Elvis foi um dos campeões de reprises na Sessão da Tarde. Praticamente toda semana um filme seu dos anos 60 era exibido e assim o cantor foi ficando cada vez mais conhecido pela população brasileira em geral justamente por esse tipo de repertório. Não me admira que canções títulos de filmes seus como "Viva Las Vegas" ou "Girls, Girls, Girls" entrassem na seleção final. Além disso hits com claro sabor latino também marcavam presença como "No More" e "It´s Now or Never". Para completar a sempre lembrada "Sylvia" também entrou na edição uma vez que a canção era extremamente popular por aqui.

Além das canções raras ou complicadas de se achar havia ainda as que simplesmente nunca havia sido lançadas antes. Nesse quesito se sobressai "America", que só havia sido lançada em single nos EUA na esteira de lançamento do álbum "Elvis in Concert". Não resta dúvidas que muitos fãs compraram o disco na época apenas para ter acesso a essa faixa, que pela primeira vez chegava ao mercado brasileiro. Para finalizar é importante informar que todas as demais canções são oficiais, sem nenhum traço da incrível avalanche de material inédito que chegaria ao mercado depois dos anos 1990. Por essa razão hoje em dia o interesse em discos como esse é apenas histórico, o que não deixa de ser bem interessante uma vez que ele traz o retrato de uma época no mercado brasileiro em que cada pequeno trecho inédito de Elvis Presley já era motivo suficiente para a elaboração de todo um disco a ser colocado á venda. O LP chegou nas lojas em julho de 1979 e vendeu excepcionalmente bem nos meses seguintes, principalmente em agosto quando se celebrou os dois anos da morte do cantor. Seu êxito de vendas fez com que novos volumes dessa franquia Elvis By Request fossem lançados nos anos seguintes mas essa é uma outra história.

Elvis By Request (Specially For Brazil)
Viva Las Vegas
It´s Now Or Never
No More
Sylvia
Sentimental Me
What a Wonderfull Life
Tell Me Why
Girls Girls Girls
Come What May
It Hurts Me
I Need You So
America
The Wonder of You
Memphis, Tennessee

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Elvis Presley - The Elvis Medley (1982)

Curioso mesmo é esse LP intitulado "The Elvis Medley". Lançado em 1982 e produzido por David Briggs o disco foi a primeira tentativa de modernizar o som de Elvis para as novas gerações. Como sabemos de tempos em tempos a RCA lança no mercado vários remixes do cantor, inclusive "A Little Less Conversation" que foi um enorme sucesso em seu lançamento. Aqui não podemos falar em remix, na realidade é apenas um medley bem elaborado, bem feito e caprichado, claro levando-se em conta a limitação da tecnologia da época. Eu tive o privilégio de acompanhar o sucesso do disco no Brasil em seu lançamento. Naquela ocasião estava morando no Rio de Janeiro e fiquei não menos do que surpreso com o elevado número de vezes que o Medley era tocado nas rádios FM de então. Não importava o local ou a hora, em plena praia de domingo podíamos ouvir Elvis Presley tocando nos carros, nas barracas à beira mar, nos carros de som. Algo muito gratificante para um fã desse artista.

O Medley era composto apenas de faixas fortes, mega sucessos do passado glorioso de Elvis: Jailhouse Rock / Teddy Bear / Hound Dog / Don´t Be Cruel / Burning Love e Suspicious Minds. O produtor Briggs não quis arriscar e resolver investir no certo e seguro. O mais interessante é que mesmo juntando faixas de períodos diferentes da carreira de Presley tudo transpareceu muito bem encaixado, como se realmente fossem da mesma fase de sua trajetória. Como seria impossível lançar um álbum apenas com esse Medley os produtores resolveram, para completar o disco, colocar mais hits, só que dessa vez em suas versões oficiais, tal como foram gravadas. Chamo inclusive a atenção para a inclusão de "Always On My Mind". Como sabemos a música não teve qualquer repercussão ou sucesso enquanto Elvis estava vivo. De fato foi relevada para um mero lado B do single "Separate Ways" em 1972. Presley nunca sequer a cantou ao vivo durante toda a sua carreira. Música obscura e deixada de lado que após a morte do cantor se tornou um megasucesso, sendo tocada insistentemente em rádios e programas, principalmente durante as décadas seguintes. Sobre sua inclusão em "The Elvis Medley" Briggs comentou: "Era uma grande gravação mas nunca havia se dado atenção a ela. Resolvi incluir no disco como uma forma das pessoas prestarem atenção nela". Acertou em cheio nas suas pretensões.

Outro aspecto a se considerar sobre o disco "The Elvis Medley": além da tentativa de tornar o som de Elvis em algo moderno o disco investiu muito bem no acabamento do produto. Capa de extremo bom gosto, com direção de arte trabalhada, era um LP de presença, ótimo para exibir nas lojas de disco em destaque. Houve inclusive intenso trabalho na promoção do LP, que não ficou restrito apenas às execuções do disco durante os programas mais populares nas rádios mas também através de promoções e sorteios, inclusive com viagens à Memphis - pois Priscilla naquele momento tomando as rédeas do nome Elvis dava cabo ao seu projeto mais ambicioso: a abertura de Graceland para visitação pública, algo que se mantém até os dias atuais. Em suma, "The Elvis Medley" é de certa forma um sinal dos novos tempos que viriam em relação ao nome do cantor, uma forma de tornar o produto Elvis mais atraente, jovem, atual. Um empreendimento que vamos ser sinceros deu muito certo, com certeza.

The Elvis Medley (1982)
The Elvis Medley
Jailhouse Rock
(Let Me Be Your) Teddy Bear
Hound Dog
Don't Be Cruel
Burning Love
Suspicious Minds
Always On My Mind
Heartbreak Hotel
Hard Headed Woman

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Our Memories Of Elvis (1979)

Lançado em fevereiro de 1979 esse disco (na realidade uma pequena série de dois LPs) é bem curioso, a começar pela capa. Nela vemos Tom Parker e Vernon Presley em frente à Graceland, a mansão de Elvis. É o único disco do cantor em que ele mesmo não está na capa e sim seu empresário, na época muito preocupado com a exploração em torno do nome de seu falecido cliente. Nesse ano inclusive ele havia contratado uma empresa de licenciamento exclusivamente para vender a imagem de Elvis em produtos e preservar a integridade de seus direitos autorais (e cujo maior beneficiário era justamente ele, Tom Parker, é claro!). Era uma clara tentativa de evitar ao máximo a exploração não autorizada do cantor.

O design desse projeto é pobre e acima de tudo bem apelativo. Ao lado de um selo de lembranças de "mais um ano sem Elvis" surge todo o oportunismo da velha raposa holandesa. Na realidade a maior exploração em torno da morte do cantor não veio de outros mas do próprio Parker que não se fez de rogado ao bolar um nome sentimentaloide ao LP e usar o próprio pai de Elvis para faturar mais uma grana. Incrível o nível a que chegou o sujeito. A contracapa do vinil ainda era pior: sem medo de parecer desleixada a RCA simplesmente repetiu a contracapa do recém lançado disco "Elvis in Concert". Além de ser constrangedor a falta de primor técnico revelou ainda mais a falta de capricho por parte da gravadora em torno do nome do cantor. Além do sentimentalismo barato "Our Memories of Elvis" mostrava bem como a gravadora RCA estava perdida na época. Sem uma pesquisa correta, a gravadora nem ao menos sabia o que tinha em mãos em relação a Elvis. Tudo o que conseguiram realizar foi um projeto apelativo e de sentimentalismo barato como esse, sem nenhuma preocupação em realmente vasculhar os arquivos da gravadora em busca de algo inédito (e como sabemos hoje havia muito material pegando pó nos extensos setores de conservação sonora da empresa).

Entre as faixas quase nenhuma novidade relevante, a não ser o fato das músicas (as mesmas versões oficiais dos últimos discos de Elvis) virem sem o chamado Overtub (a instrumentalização colocada após a música ter sido gravada em estúdio). A pergunta é: e isso faz alguma diferença? Em termos de novidade, nenhuma. Claro que hoje em dia existem fãs que não gostam muito dos arranjos de Felton Jarvis e preferem as versões mais "cruas", sendo o mais próxima possível do que Elvis gravou em estúdio, mas isso na realidade faz pouca ou quase nenhuma diferença. No meio de todo esse material requentado a única diferença substancial era a versão completa de "Don´t Think Twice It´s All Right" do volume 2 da coleção. Como havia sido editada ao máximo no LP original de 1973 o lançamento do take completo era muito bem-vindo. De resto o Coronel Parker ainda inventou dois singles* que foram lançados ao mercado mas não conseguiram nenhuma repercussão. Pelo menos dessa vez não caíram na Lábia do velho trambiqueiro.

Our Memories of Elvis vol 1
Are You Sincere
It's Midnight
My Boy
Girl Of Mine
Take Good Care Of Her
I'll Never Fall In Love Again
Your Love's Been A Long Time Coming
Spanish Eyes
Never Again
She Thinks I Still Care
Solitaire

Our Memories Of Elvis vol 2
I Got A Feelin' In My Body
Green Green Grass Of Home
For The Heart
She Wears My Ring
I Can Help
Way Down
There's A Honky Tonk Angel
Find Out What's Happening
Thinking About You
Don't Think Twice It's All Right (Complete Unedited Version)

* Singles lançados: "Are You Sincere / Solitaire" em março de 1979 e "I Got A Feelin' In My Body / There's A Honky Tonk Angel" em julho do mesmo ano.

Pablo Aluísio.