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quarta-feira, 9 de novembro de 2011

The Beatles - Live at the BBC

Eu gosto de afirmar que esse é o melhor material já lançado dos Beatles após sua separação. Esqueça o Anthology que nada mais era do que uma jogada de marketing, aqui sim temos os Beatles, no começo da carreira, joviais e com muita vontade de tocar e agradar aos ouvintes da prestigiosa emissora britânica BBC. Todas as faixas foram gravadas ao vivo em programas que os Beatles se apresentavam na emissora. Isso durou de 1963 até 1965 quando os Beatles se tornaram tão imensos que até mesmo a famosa rádio começou a parecer acanhada diante da grandiosidade que a banda havia alcançado.

Duas coisas logo chamam a atenção nesse material. O primeiro é o fato da BBC dar um programa especial para os Beatles. A emissora, considerada a principal da Inglaterra, sempre primou por uma programação bastante culta e sofisticada, preferindo a execução de música clássica, deixando canções do gênero pop e rock fora de sua grade de programação diária. Isso até os Beatles se tornarem tão populares a ponto da rádio mudar seus próprios conceitos para se adaptar aos novos tempos. Assim nasceram programas como Saturday Club, Pop Go The Beatles, Teenager's Turn, Here We Go, From Us to You entre outros, mostrando que até nesse aspecto os Beatles também foram pioneiros.

A segunda característica marcante de “Live at The BBC” é o próprio repertório dos Beatles nesses programas. Eles não se limitaram a tocar as canções de seus discos, pelo contrário, os Beatles de forma maravilhosa destilaram ao longo de todos aqueles anos tudo o que tinham ouvido e venerado em seus anos iniciais. Uma verdadeira aula do que havia de mais significativo em termos de Rock ´n´ Roll na época. Assim o ouvinte era presenteado com os Beatles tocando canções de Elvis Presley, Fats Domino, Carl Perkins, Buddy Holly, Chuck Berry, Little Richard e todos os cantores e grupos que na época faziam parte da galeria de ídolos do conjunto.

Algumas versões são simplesmente de arrepiar como por exemplo "I'm Gonna Sit Right Down and Cry (Over You)" do primeiro álbum de Elvis pela RCA. Outras se destacam pela singeleza e harmonia que os Beatles deram a certas músicas como "Lonesome Tears in My Eyes" e "The Honeymoon Song", duas faixas que não foram obviamente escritas por Paul McCartney mas que eram a cara dele em tudo. No mundo dos bootlegs não oficiais o fã dos Beatles vai encontrar a íntegra de todas as músicas gravadas por eles na BBC mas isso é desnecessário. Esse CD duplo maravilhoso já traz o que de melhor havia da banda em seus anos na rádio inglesa. É um item charmoso, fino e que simplesmente não pode faltar em um coleção Beatle. Nota 10 com louvor!  

The Beatles - Live at the BBC (1994)
CD 1: Beatle Greetings / From Us to You / Riding on a Bus / I Got a Woman / Too Much Monkey Business / Keep Your Hands Off My Baby / I'll Be on My Way / Young Blood / A Shot of Rhythm and Blues / Sure to Fall (In Love with You / Some Other Guy / Thank You Girl / Sha La La La La! / Baby It's You / That's All Right, Mama / Carol / Soldier of Love (Lay Down Your Arms) / A Little Rhyme / Clarabella / I'm Gonna Sit Right Down and Cry (Over You) / Crying, Waiting, Hoping / Dear Wack! / You've Really Got a Hold on Me / To Know Her Is to Love Her / A Taste of Honey / Long Tall Sally / I Saw Her Standing There / The Honeymoon Song / Johnny B. Goode / Memphis, Tennessee / Lucille / Can't Buy Me Love / From Fluff to You / Till There Was You

CD 2: Crinsk Dee Night / A Hard Day's Night / Have a Banana! / I Wanna Be Your Man / Just a Rumour / Roll Over Beethoven / All My Loving / Things We Said Today / She's a Woman / Sweet Little Sixteen / 1822! / Lonesome Tears in My Eyes / Nothin' Shakin / The Hippy Hippy Shake / Glad All Over / I Just Don't Understand / So How Come (No One Loves Me) / I Feel Fine / I'm a Loser / Everybody's Trying to Be My Baby / Rock and Roll Music / Ticket to Ride / Dizzy Miss Lizzy / Kansas City/Hey-Hey-Hey-Hey! / Set Fire to That Lot! / Matchbox / I Forgot to Remember to Forget / Love These Goon Shows! / I Got to Find My Baby / Ooh! My Soul / Ooh! My Arms / Don't Ever Change / Slow Down / Honey Don't / Love Me Do

Pablo Aluísio

The Beatles - Love Songs

Coleção das melhores músicas românticas dos Beatles. Eu conheço esse álbum de muitos anos. Ele na realidade foi lançado ainda na época do vinil e nunca foi considerado um disco da discografia oficial do grupo, que se encerrou, como todos sabemos, em 1970 com "Let It Be". Curiosamente na época dos discos de vinil eu nunca tive interesse em comprá-lo, isso porque como já tinha todos os discos oficiais do grupo sua aquisição realmente não era necessário, afinal de contas é apenas uma coletânea, com ótima capa e encartes, mas era apenas isso mesmo, um coletânea e como sempre fui muito reticente com esse tipo de lançamento simplesmente deixei de lado.

Os anos passaram, o vinil morreu industrialmente, e voltei a esbarrar no disco, agora em CD numa loja de produtos populares. Como estava em promoção resolvi adquirir finalmente. É a tal coisa, muitas vezes o lado fã fala mais alto do que a do estudioso da história musical. No final das contas não me arrependi. Em termos históricos o disco é bem bagunçado, misturando faixas de épocas diversas sem muito critério. A seleção musical porém é de arrasar. Ao ouvir esse álbum me lembrei de uma das últimas entrevistas de John Lennon. Em 1980 ele declarou: "Olhando para trás e ouvindo os discos dos Beatles fiquei com a impressão que Paul sempre fazia belas músicas de amor enquanto eu só surgia nos discos cantando rocks estridentes".

É bem por aí meu caro Lennon! Paul McCartney foi realmente o grande compositor das canções românticas dos Beatles - basta ouvir esse disco para bem entender isso. Interessante notar que quando o grupo acabou, Lennon acabou adotando uma postura bem mais apaixonada em suas criações, compondo ele próprio belas baladas de amor - todos dedicadas a Yoko Ono, claro. Ao que me consta John Lennon, ainda tomado por uma postura juvenil de "Eu sou roqueiro", sempre procurava inserir rocks nos discos dos Beatles para contrabalancear o romantismo de Paul. De uma maneira ou outra, "Love Songs" prova que nesse campo eles foram realmente excepcionais.

The Beatles - Love Songs (1977)
Yesterday
I'll Follow the Sun
I Need You
Girl
In My Life
Words of Love
Here, There and Everywhere
Something
And I Love Her
If I Fell
I'll Be Back
Tell Me What You See
Yes It Is
Michelle
It's Only Love
You're Going to Lose That Girl
Every Little Thing
For No One
She's Leaving Home
The Long and Winding Road
This Boy
Norwegian Wood (This Bird Has Flown)
You've Got to Hide Your Love Away
I Will
P. S. I Love You

Pablo Aluísio.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

The Beatles – Rock ´n´ Roll Music

Quando essa coletânea surgiu nas lojas os Beatles nem mais existiam. Havia todo um clima de nostalgia no ar e a EMI resolveu aproveitar o momento para relançar um álbum duplo com aquelas que seriam as melhores gravações de Rock da carreira dos Beatles. Era obviamente um lançamento oportunista que foi do total desagrado dos ex-Beatles (que infelizmente já não podiam fazer mais nada pois não mais existiam como grupo). A EMI se defendeu das criticas afirmando que o lançamento era uma homenagem ao aniversário de 20 anos da parceria entre John Lennon e Paul McCartney (um erro já que Paul e John se conheceram em 1957 e esse álbum foi lançado em 1976).

No fundo a razão era puramente comercial já que a gravadora sentiu muito o fim dos Beatles pois seus álbuns eram os mais vendidos de toda a companhia. Sem material novo resolveram embalar canções antigas em uma nova capa! Lennon não quis maiores explicações e tão irritado ficou que mandou uma carta nada gentil ao presidente da EMI reclamando do lançamento pois ninguém do grupo havia sido previamente consultado. Ele chegou inclusive a ironizar falando que “o álbum mais parecia um lançamento dos Monkeys e não dos Beatles!”.

Aliás, para falar a verdade, nem o produtor George Martin foi consultado, tanto que também reclamou bastante da sonoridade do disco. A EMI havia simplesmente transformado as gravações Mono em um falso estéreo, sem qualquer capricho técnico nesse processo. George Martin que vinha já há algum tempo trabalhando caprichosamente nesse processo ficou realmente chateado com a EMI e a Capitol que lançaram o álbum com o processo ainda em andamento, sem finalização. Anos depois ele definiu o álbum como “medíocre”.

Mesmo assim “Rock ´n´Roll Music” vendeu bastante, tanto a ponto de competir com o próprio Paul McCartney nas paradas – ele havia acabado de lançar seu disco ao vivo “Wings Over América” e de repente se viu competindo com ele mesmo nas posições da Billboard. Pessoalmente gosto bastante da direção de arte da capa – tanto interna como externa. Embora na época Ringo Starr tenha reclamado disso (ele definiu o resultado como “barato – e os Beatles nunca foram baratos!” concluiu) temos que reconhecer que as imagens, relembrando a primeira fase do grupo, são bem charmosas e nostálgicas. Em relação à qualidade sonora do vinil original devo concordar com George Martin – tudo soa muito esquisito e sem nível técnico. Mesmo assim são os Beatles – o que dispensa maiores recomendações. PS: na edição em CD os problemas de mixagem foram sanados por isso caso queira ouvir o som que tanto desagradou George Martin procure pelos vinis originais de 1976.

The Beatles – Rock ´n´ Roll Music (1976)
Twist and Shout
I Saw Her Standing There
You Can't Do That
I Wanna Be Your Man
I Call Your Name
Boys
Long Tall Sally
Rock and Roll Music
Slow Down
Kansas City / Hey, Hey, Hey, Hey
Money (That's What I Want)
Bad Boy
Matchbox
Roll Over Beethoven
Dizzy Miss Lizzy
Any Time at All
Drive My Car
Everybody's Trying to Be My Baby
The Night Before
I'm Down
Revolution
Back in the U.S.S.R.
Helter Skelter
Taxman
Got to Get You into My Life
Hey Bulldog
Birthday
Get Back

Pablo Aluísio.

The Beatles - Hey Jude

Os Beatles já estavam praticamente destruídos como grupo musical quando a Capitol Records (dona dos direitos do grupo nos Estados Unidos) lançou esse álbum no mercado americano. Na verdade não é um disco oficial da discografia britânica. Os Beatles nunca pensaram em lançar algo assim mas os executivos da gravadora americana achavam um verdadeiro absurdo que um clássico como “Hey Jude” não estivesse em nenhum álbum oficial da banda. Assim acabaram criando um disco para a canção, uma das mais populares e conhecidas da história dos Beatles. Para completar o disco resolveram ainda unirem outros singles de sucesso que também seguiam até aquele momento inéditas em LP.

O resultado dessa tacada de marketing é realmente um álbum bem bolado, que une alguns dos maiores sucessos da banda pela primeira vez. Como dito “Hey Jude” (ou “Beatles Again” como é conhecido em alguns países) é na realidade um coletânea de canções que foram lançados em compactos simples. Obviamente que Hey Jude é o carro chefe. Embora assinada por Lennon e McCartney essa é na realidade uma canção composta exclusivamente por Paul McCartney. Fez tanto sucesso na época que até hoje é reconhecida por qualquer pessoa, de qualquer segmento social. Paul a compôs pensando em Julian Lennon durante a separação de seus pais, John e Cynthia. Inicialmente se chamou “Hey Jules” (de Julian) mas depois para ficar menos óbvia Paul mudou o título para a que a tornou célebre. Outra música 100% McCartney é a animada e alegre “Lady Madonna”, uma curtição de Paul com o som de New Orleans. Fats Domino era certamente uma inspiração para ele desde os tempos em que era um simples colegial em Liverpool.

Já do lado de John Lennon várias canções estão presentes. A mais autoral, como não poderia deixar de ser, era a baladinha com toques folk “The Ballad of John and Yoko”. Lennon ficou bastante chateado com a gravação dessa faixa. Para ele os Beatles a negligenciaram completamente, tanto nas gravações como em seu lançamento sem destaque algum. Para piorar o mal estar apenas Paul participou das gravações ao lado de John o que não era surpresa uma vez que George Harrison simplesmente odiava Yoko Ono e não gravaria algo assim louvando a musa de Lennon. Outra canção que embora clássica era considerada mal gravada por Lennon era “Revolution” (lado B do single Hey Jude, o primeiro do grupo no selo Apple).

Lennon sempre reclamava do pouco caso que os demais Beatles fizeram da música. Para ele sempre havia um clima de “preguiça e má vontade” com suas composições dentro dos estúdios. Não é de se admirar que o grupo estivesse tão tenso com tantas mágoas e rivalidades nas gravações das canções. Outra faixa excepcional da safra de John Lennon era “Don't Let Me Down” que seria muito executada após sua morte pela óbvia associação da letra com seu terrível assassinato. Com tantos clássicos juntos em um só álbum não há o que reclamar. Só a lamentar a mistura de canções da primeira e segunda fase dos Beatles em um mesmo disco. Não tem sentido colocar canções da trilha de “A Hard Day´s Night” em um álbum como esse, tão característico dos últimos momentos do grupo. Mesmo assim fica a recomendação. Os Beatles foram tão produtivos, tão talentosos, que até LPs que eram meras coletâneas de compactos perdidos eram simplesmente geniais.

The Beatles – Hey Jude (1970)
Can't Buy Me Love
I Should Have Known Better
Paperback Writer
Rain
Lady Madonna
Revolution
Hey Jude
Old Brown Shoe
Don't Let Me Down
The Ballad of John and Yoko

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

The Beatles - Abbey Road

Abbey Road (1969) - Fartos do projeto Get Back (que depois seria renomeado para Let It Be) os Beatles resolveram voltar aos estúdios para produzir um novo disco. Paul McCartney reuniu a todos nos estúdios Abbey Road, em Londres, para uma cartada final. Um dos grandes problemas do grupo era a falta de interesse por parte de alguns de seus membros no futuro do próprio conjunto. Lennon estava extremamente envolvido em seus projetos solo ao lado de Yoko Ono e não via mais os Beatles como um projeto interessante. O som que desenvolvia na época tinha mais a ver com a arte de Yoko do que com o som do grupo, tanto isso era verdade que a primeira música gravada nessa nova reunião deles foi justamente The Ballad of John & Yoko, que sairia com Old Brown Shoe logo depois em single. Outra canção das sessões, I Want You (She´s So Heavy), mostrava ainda mais o distanciamento de John de seus companheiros. A música, extremamente experimental, lembrava muito mais a terapia do Grito Primal de Ono do que qualquer outra coisa já gravada pelo quarteto britânico. Até mesmo Come Together revelava a individualidade de Lennon em detrimento do trabalho em conjunto dos demais.

Paul, por sua vez, fez o possível para manter o grupo unido. Apareceu com obras extremamente relevantes, embora bem menos experimentalista que seu amigo Lennon. Recuperou velhas ideias compostas no projeto Get Back, como Maxwell´s Silver Hammer e as colocou em prática, muito embora o excesso de produção em canções como essa tenham irritado John que acusou Paul de super produzir suas próprias composições em detrimento das canções dele, Lennon. Outro ponto de destaque do disco foi a presença extremamente marcante de George Harrison. Something, sua canção no disco, foi rapidamente imortalizada, se tornando uma das mais populares da carreira dos Beatles. Here Comes The Sun, abrindo o lado B do antigo vinil, foi outro ponto positivo, mostrando a todos que o talento de George não era mais apenas potencial mas real e concreto. Até Ringo Starr se arriscou ao apresentar sua simpática Octopus Garden e não fez feio. Este foi o último trabalho dos Beatles e se tornou o canto de cisne destes quatro cabeludos que um dia, em uma era distante mudaram o mundo. Vamos analisar agora canção a canção esse marco na história da música mundial:

1. Come Together (John Lennon / Paul McCartney) - Esqueça a dobradinha Lennon/McCartney. Esta é uma música 100% John Lennon. John sempre disse que o que lhe interessava era o Rock'n'Roll puro e simples, sem grandes produções. Aqui está um exemplo do que ele era capaz. Ele aproveitou o refrão da canção Let´s Get Together, que havia sido composta para a campanha eleitoral de Timothy Leary (o papa do LSD) ao governo da Califórnia e compôs um letra extremamente obscura e exótica. Embora só admitisse essa influência, Lennon acabou sendo processado por plágio anos depois por seu antigo ídolo de juventude, Chuck Berry, que alegava que o ritmo havia sido copiado de seu sucesso You Can´t Catch Me. John acabou sendo condenado na justiça e anos depois, em 1975, a gravaria no disco solo Rock´n`Roll. Come Together conta com os instrumentos tradicionais, que no estúdio ficaram com seus respectivos titulares, ou seja John na guitarra, Ringo na bateria e George na Slide-Guitar. Além disso o sempre versátil Paul também colaborou na percussão e George nos teclados. Anos depois o astro Michael Jackson lançaria sua própria versão no disco History, Present, past and Future.

2. Something (Harrison) - Este disco traz a prova incontestável do grande talento de Harrison como compositor. Foi esta música a primeira de George a ocupar o Lado principal de um single dos Beatles. Anteriormente todos os singles dos Fab Four contavam com composições de Lennon & McCartney como lado A dos compactos. Sem Dúvida George sentia-se colocado de lado pelo enorme talento de John e Paul. Embora seu reconhecimento tenha sido tardio dentro do grupo, Harrison mostrou a que veio, destilando grande talento como letrista e compositor, tanto que anos depois sua música seria imortalizada pelo dois maiores cantores do século XX, Elvis Presley (que a apresentou ao vivo no especial Aloha From Hawaii) e Frank Sinatra. Embora fosse destaque absoluto no disco Abbey Road, Something já vinha rondando os estúdios desde a época do Album Branco. George inclusive chegou a cogitar em usá-la no projeto Get Back mas não satisfeito com o resultado resolveu aprimorá-la um pouco mais. Finalmente quando se reuniram nas sessões de Abbey Road George sentiu-se confiante o bastante para finalizá-la e gravá-la com os demais colegas de banda. Aqui George está no vocal principal e toca piano e guitarra com Paul e John batendo palmas (velha fórmula dos Beatles para ocupar os espaços em branco de suas músicas).

3. Maxwell's Silver Hammer (John Lennon / Paul McCartney) - Uma das canções mais bem arranjadas dos Beatles. Se "Come Together" é uma música 100% Lennon esta é 100% McCartney, tanto que John Lennon nem sequer participou desta gravação. Paul não deixou por menos e tocou guitarra, baixo, fez os backings vocais e o vocal principal e ainda encontrou tempo para adicionar uma harmônica. Ufa! Ele faria o mesmo em seu primeiro projeto solo, McCartney, onde tocaria todos os instrumentos, atuando praticamente sozinho em todas as músicas. Embora a presença de Paul seja absoluta, George deu sua colaboração ao tocar sintetizador (a quatro mãos com George Martin) e guitarra base da música (trabalho que seria do ausente Lennon). Ringo por sua vez tocou sua bateria básica e bigorna.

4. Oh! Darling (John Lennon / Paul McCartney) - Outra de Paul. John Lennon por esta época estava profundamente envolvido com Yoko Ono e de certa forma deixou grande parte da responsabilidade do grupo nas mãos de Paul McCartney. Este fez de tudo para manter a união e o bom astral entre os Beatles (porém não foi bem sucedido). Aqui está outra canção romântica no estilo Macca de compor (que mais tarde seria satirizado por Lennon na Música "How do you Sleep?). Aqui Paul toca baixo e piano, George guitarra e Ringo batera. E onde está John? está com Yoko e também não participa desta música.

5. Octopus's Garden (Starkey) - Ringo aparece como compositor e prova que não é só "o cara mais sortudo do planeta". George Harrison contribuiu muito na composição porém sua coautoria não foi creditada. John dá o ar de sua graça e toca guitarra base. Paul toca baixo e piano e George guitarra solo além de fazer junto com McCartney os sons "marítimos" da canção.

6. I Want You (She's so Heavy) (John Lennon / Paul McCartney) - John ressurge no disco com esta verdadeira tijolada naqueles que o criticavam por seu relacionamento com Yoko. Aqui uma música feita especialmente para a japonesa que virou a cabeça do mais rebelde dos Beatles. Com a palavra Mr.Lennon: "um crítico escreveu dizendo que 'She's so Heavy' era a prova que eu tinha perdido meu talento para fazer letras, que era uma música chata e simples. Quando a gente está se afogando a gente não diz 'Por favor me salve'(...) você simplesmente Grita". Este era o grito de John Lennon ao mundo em 1969.

7. Here Comes the Sun
(Harrison) - Depois do "grito primal" de Lennon as coisas se acalmam um pouco com esta linda música de George Harrison. Esta é a prova definitiva do enorme talento de George como compositor. A Música é excepcionalmente bem executada e demonstra um ótimo resultado final. Aqui George toca violão, sintetizador e canta (com sua voz dobrada em alguns trechos); Paul comparece tocando baixo e Ringo bateria. John apenas dá uma força tocando palmas junto com Paul e George.

8. Because (John Lennon / Paul McCartney) - Uma das obras primas de John Lennon. Aqui ele dá um tempo nos "sons experimentais" e demonstra todo seu maravilhoso talento para compor. Novamente com a palavra John Lennon: "Estava deitado no sofá em casa, ouvindo Yoko tocar a 'Sonata ao luar' de Beethoven. Aí eu pedi: Você pode tocar os acordes de trás pra frente? Ela tocou e eu fiz Because a partir daí. A letra é clara, nenhuma merda, nenhuma referência obscura". Puxa como é fácil para os gênios hein? Aqui John, George e Paul fazem o vocal. Lennon toca guitarra e harpsichord (um instrumento exótico); George toca guitarra e sintetizador e Paul toca baixo.

9. You Never Give Me Your Money (John Lennon / Paul McCartney) - Música de Paul McCartney que traz em sua letra uma clara mensagem para Alain Klein que estava passando a mão nos bolsos dos Beatles quando ele se tornou o responsável pela Apple. Paul toca piano e baixo; John na guitarra; George Harrison no piano, pandeiro e em duas guitarras e finalmente Ringo toca bateria. George Martin ainda arranjou espaço para acrescentar um piano.

10. Sun King (John Lennon / Paul McCartney) - Mais uma de John Lennon. Aqui ele participa efetivamente da gravação tocando maracas, guitarra e providenciando junto com George Martin a inclusão do melotron. Paul comparece no baixo e na harmônica, Ringo na bateria e bongôs e George na guitarra. John quis chegar a um resultado diferente na vocalização da música e por isso as vozes foram dobradas dando a impressão de um pequeno coral de seis pessoas (na realidade foram usados três: Paul, John e George)

11. Mean Mr Mustard (John Lennon / Paul McCartney) - Outra contribuição importante de John. Esta música foi composta por Lennon quando os Beatles estavam na índia e por isso quase foi incluída no disco "The Beatles" (mais conhecido como Album Branco). Aqui além dos instrumentos normais tocados por cada um, Paul aparece nos sinos John maracas e George pandeiro.

12. She Came in Through the Bathroom Window (John Lennon / Paul McCartney) - A música foi composta por McCartney quando os Beatles estavam formando sua gravadora Apple. John Lennon disse em uma entrevista sobre esta canção: "Foi escrita por Paul quando estávamos em Nova Iorque formando a Apple e ele conheceu Linda. Talvez fosse ela que entrou pela janela do banheiro. só pode ter sido ela. não sei. Alguém entrou pela janela do banheiro".

13. Golden Slumbers (John Lennon / Paul McCartney) - A intenção de Paul na arte final deste disco era unir diversas canções diferentes numa "maratona musical". Assim esta música está intimamente ligadas com todas as outras sendo até difícil saber onde termina uma e começa outra. Aqui Paul toca baixo, piano e faz o vocal principal. Foi acrescentada ainda uma orquestra como fundo musical.

14. Carry that Weight (John Lennon / Paul McCartney) - Mais uma de Macca. A melhor parte da música é os solos musicais de George, Paul e John. Aqui os Beatles começam a dar adeus aos seus fãs. Esqueça as bobagens de marketing como o projeto "Anthology", o fim dos Beatles está aqui. Longa vida ao verdadeiro Rock'n'Roll.

15. The End (john Lennon / Paul McCartney) - Pedacinho de música onde os Beatles cantam a bonita mensagem: "E no fim o amor que você recebe é igual ao amor que você faz". perfeito e definitivo.

16. Her Majesty (John Lennon / Paul McCartney) - Muita gente boa confunde pensando que esta canção é na realidade "The End", isto foi causado porque no antigo vinil esta música não foi creditada na capa. Aqui Paul McCartney toca violão e canta sozinho sem os demais Beatles. Por quê? Porque para John Lennon: "Paul McCartney sempre foi um egomaníaco".

Pablo Aluísio

The Beatles - Let It Be

Fruto do projeto fracassado chamado Get Back o disco Let It Be foi o último disco oficial a ser lançado pelos Beatles (embora não fosse o último a ser gravado como muita gente pensa) e foi produzido por Phil Spector. A ideia inicial de Paul McCartney era filmar um grande documentário mostrando os Beatles dentro dos estúdios, criando e gravando a trilha sonora do filme para depois todos saírem em uma grande turnê em vários países. Deu com os burros n´água. Antes de mais nada as gravações dentro dos estúdios se tornaram um verdadeiro inferno, com os integrantes se ofendendo entre si a todo o tempo. Além do constante confronto entre Paul, George e John este ainda inventou de trazer a japonesa Yoko Ono para dentro de Abbey Road, causando mais aborrecimentos ainda ao resto do grupo e aos produtores do filme.

Para completar de afundar os planos de Get Back a ideia de sair novamente em turnê foi logo descartada pelos demais membros do grupo que não tinham mais a menor intenção de ter de arcar com toda a histeria da estrada, como nos tempos da Beatlemania. George Harrison odiou a idéia assim como John Lennon que não tinha mais nenhum interesse no grupo. Assim Get Back acabou afundando e sendo arquivado. Tudo o que restou foi um vasto material de cenas dos Beatles dentro do estúdio, ensaiando em uma Jam Session sem fim (e sem direção).  Quando o grupo finalmente rachou em 1969 a Apple resolveu ressuscitar o projeto. Trocaram o nome de tudo para Let It Be, contrataram uma boa equipe de cineastas para salvar o documentário e Lennon jogou nas mãos de Phil Spector os pedaços da sessões para que ele desse um jeito naquela bagunça sem fim.  Spector então arregaçou as mangas para encontrar em metros e metros de gravações, material suficiente para compor um disco que fosse comercialmente viável.

O resultado é irregular. Embora haja clássicos absolutos como Get Back, Let It Be, Across The Universe (pessimamente gravada na opinião de Lennon) e Long and Winding Road, a opção de Spector em dar um clima de descontração ao conjunto do disco - com bobagens ditas pelo próprio grupo entre as faixas, pedaços dispersos de músicas e piadinhas - não trouxe um produto à altura de um álbum dos Beatles. Do jeito que ficou mais parece um bootleg do que um disco oficial da gravadora do grupo. Certamente todo fã do conjunto britânico deve ter o álbum em sua discoteca mesmo que passe o resto da vida se lamentando que músicas tão belas não tenham sido lançadas em um disco ideal. Enfim é a vida...

The Beatles - Let It Be (1970)

Lado A:
1. Two of Us
2. Dig a Pony
3. Across the Universe
4. I Me Mine
5. Dig It
6. Let It Be
7. Maggie Mae

Lado B:
1. I've Got a Feeling
2. One After 909
3. Long and Winding Road
4. For You Blue
5. Get Back

Pablo Aluísio.

domingo, 6 de novembro de 2011

The Beatles - The White Album

Todos os especialistas na história dos Beatles concordam que o álbum branco foi o começo do fim para a banda. A maioria das músicas foram compostas quando os Beatles estavam na índia. Essa fase foi particularmente complicada para o conjunto porque enquanto estavam meditando no oriente o empresário e amigo Brian Epstein morria de uma overdose de remédios na Inglaterra. Como ele cuidava de todos os detalhes da carreira do grupo sua morte significou o começo da implosão do quarteto. A verdade é que nenhum deles entendiam de negócios e mal compreendiam os diversos empreendimentos que juntos formavam a parte comercial da banda. Lennon declarou que não tinha a menor ideia do que significavam todas aquelas empresas que faziam partes de outras empresas que por sua vez faziam parte de grupos e que juntos formavam os Beatles do ponto de vista comercial.

Junte-se a isso a eterna tensão envolvendo Paul e John e John e George. Por essa época Lennon começou a levar sua namorada Yoko Ono para dentro do estúdio. Ela não era simpática e nem de fácil convívio. Nenhum Beatle tinha levado uma garota antes para dentro do estúdio, o local que eles consideravam sagrado até aquele momento. Isso era algo bem desconcertante e constrangedor. A presença de Yoko era incômoda para os demais Beatles e em particular George, que a antipatizava abertamente. O problema é que John  Lennon era um sujeito brigão e pagou pra ver. Mesmo sabendo que Yoko não era bem-vinda durante as gravações começou a radicalizar, chegando ao ponto de levar uma cama para dentro de Abbey Road. Claro que era um absurdo. George confrontou John sobre o ocorrido e a discussão terminou em socos e pontapés, com ofensas sendo gritadas a plenos pulmões! Paul procurou ser bem mais diplomático mas sabia que isso iria aos poucos destruir o pouco bom relacionamento que ainda existia entre eles. Na verdade os Beatles tinham se transformado numa enorme panela de pressão prestes a explodir!

Como estavam muito tensos uns com os outros as faixas foram sendo gravadas de forma muito isolada. John cuidava de seu material, Paul do dele e George também. Pouco trocavam idéias e não compartilhavam mais como antes. Cada um se empenhava em suas próprias criações e desprezava a dos demais. Nesse estado de coisas o disco acabou saindo com uma individualidade muito incômoda para um disco que deveria ser fruto de um trabalho coletivo. Cada faixa trazia as características mais pessoais de cada membro. As faixas de John Lennon eram autorais, viscerais, de letras incisivas. As de Paul eram bem produzidas, românticas e com belas melodias. Já George surgia tentando ocupar algum espaço da melhor forma possível. No meio de tanto egoísmo o disco ficou desigual, bagunçado e sem identidade.

O fato é que Lennon estava cansado dos álbuns super produzidos de Paul como Sgt Pepper´s e procurava por algo mais direto, cru, sem enfeites demais. Até a capa do disco refletia isso, branca, com o nome do grupo em relevo. O disco aliás nem nome tinha, se chamando simplesmente The Beatles – o apelido “The White Album” veio depois, dado pelos fãs por motivos óbvios. Anos depois Lennon diria que o clima nas gravações era a pior possível e por isso o som saiu diferente de todos os outros discos dos Beatles. Some-se a isso a crise interna que explodiu quando John resolveu incluir uma faixa de “sons experimentais”, com gritos, ruídos e barulhos sem nexo, chamada “Revolution 9”. Paul tentou até o último momento tirar aquilo da seleção musical mas não conseguiu. McCartney tinha razão, aquilo não era Beatles pois tinha muito mais a ver com o trabalho de Yoko Ono e Lennon (de fato eles lançariam depois um álbum inteiro assim, com ambos nus na capa chamado “Two Virgins”).

Com tantas canções no meio o disco saiu duplo (o único da discografia dos Beatles), e demorou para ser entendido e compreendido. Foi logo criticado por sua falta de coesão, sua bagunça, sem uma linha clara de organização. De qualquer modo fez enorme sucesso mostrando que os Beatles conseguiam acertar até mesmo sob condições tão adversas como aquelas. Quem resumiu muito bem tudo depois foi o próprio Paul McCartney que anos mais tarde diria: “É o álbum branco dos Beatles, do que estão reclamando?! É um clássico, e isso é tudo!”. Palavras definitivas.

O White Album (Álbum Branco) foi um disco bem singular dentro da discografia dos Beatles. Nesse trabalho cada um dos Beatles, de forma bem individual, compôs o que quis e gravou o que bem entendeu. Poucas músicas foram de autoria coletiva. De forma em geral John trouxe suas canções, Paul idem e George, que sempre compôs praticamente sozinho, também trouxe seu lote de músicas. Houve uma liberdade individual nesse disco como nunca antes havia acontecido em um álbum dos Beatles. A simplicidade parecia dar o tom, algo que veio expresso até mesmo em sua capa, onde não havia nada, apenas o nome do conjunto em relevo.

A maioria dessas composições foram criadas na Índia, onde os Beatles tinham ido naquela sua fase de seguir gurus. Segundo John as músicas em geral soaram diferentes porque foram compostas em violão. Geralmente há uma diferença entre canções compostas em violão e em piano. Para John essa foi uma característica marcante em termos de sonoridade. Assim o White Album acabou parecendo como pequenos e isolados discos solos de cada um dos membros da banda. Em uma faixa o ouvinte tinha John Lennon e uma banda de apoio, que por acaso eram os Beatles, na seguinte Paul e seus colegas de grupo e por aí vai. Criações bem individuais em um disco de grupo.

Um exemplo marcante disso veio em "Julia". Essa linda balada foi composta por John Lennon em homenagem a sua mãe que faleceu em 1958, após ser atropelada por um policial embriagado. A morte de Julia Lennon marcou demais a vida de John. Ele não gostava de seu pai, um marinheiro que mal conheceu em sua infância e juventude, mas tinha grande afinidade com a mãe. Ele herdou em grande parte o espírito livre dela. A gravação oficial de Julia acabou saindo tão simples como a versão que John compôs na Índia. Praticamente apenas voz e violão, com o vocal duplicado de John fazendo contraponto a ele mesmo. Os versos são lúdicos, envolvendo lembranças emocionais de John em sua infância, quando ia ao lado de Julia em pequenos passeios na praia. Tudo muito bonito e sentimental. Um dos grandes momentos do disco.

O curioso é que John podia ir do sentimentalismo à galhofa em questão de segundos. Assim ao lado da bela e cândida Julia, ele também trouxe para os estúdios a divertida "Everybody's Got Something to Hide Except Me and My Monkey". Esse era um rock mais visceral, com claras influências de Chuck Berry. John estava sempre dizendo que no final o que lhe interessava mesmo em termos de música era o bom e velho rock ´n´ roll dos anos 50, de sua fase de juventude. Essa criação demonstra bem isso. John voltando aos tempos da brilhantina e casacos de couro de forma bem humorada e divertida. Além disso John vivia tentando lembrar a Paul que os Beatles eram em essência um grupo de rock ´n´ roll, como explicou depois em uma entrevista dos anos 60. "Eu sou uma velha banda de rock, os Beatles eram puro rock! Eu não poderia deixar isso morrer nunca enquanto estivesse na banda" - resumiu Lennon, com sua conhecida franqueza.

John Lennon queria colocar Yoko Ono nos Beatles! Era um absurdo, mas Lennon gostava desse tipo de ideia nonsense. E ele parecia disposto a prova seu ponto de vista, mesmo com as negativas de Paul McCartney sobre a entrada de Yoko na banda. Para provar que Yoko Ono tinha talento musical, John a levou para a gravação de "The Continuing Story of Bungalow Bill". Essa estranha composição havia sido criada na Índia, quando os Beatles estavam meditando com o guru Maharishi Mahesh Yogi em Rishikesh. A letra era uma sátira contra turistas ocidentais que iam até a Índia caçar animais selvagens (como tigres) e depois iam aos templos religiosos em busca de um encontro espiritual elevado! Lennon criticava essa postura hipócrita daquele que matava de dia e à noite ia atrás de elevação espiritual.

Yoko Ono foi colocada para cantar e... com todo respeito a quem gosta da "Yoko música" (seja lá o que isso queira dizer) o fato é que como cantora ela era uma excelente artista plástica. Yoko deu então seus gritos estridentes e praticamente destruiu a gravação. George Harrison tentou convencer John a apagar a participação de sua "patroa", mas sua sugestão foi recebida com insultos. John se sentiu ultrajado com a opinião de George! Foi se criando um clima ruim entre eles dentro dos estúdios Abbey Road, a tal ponto que quase chegaram às vias de fato! Faltou pouco para não se agredirem. Paul McCartney também não gostou nem da música em si e nem da participação de Yoko, mesmo assim ainda colaborou nos arranjos, tocando baixo e fazendo vocais de apoio (para melhorar o coro e disfarçar um pouco a falta de talento de Yoko nos microfones).

Outra gravação que trouxe problemas entre John Lennon e os Beatles foi "Revolution 9". Não era uma música, mas uma coleção de sons experimentais sem nexo. Era algo que fazia a cabeça de John e Yoko, mas que no fundo não tinha nada a ver com o som dos Beatles. Esse tipo de ideia seria levada à exaustão no LP solo de John chamado "Two Virgins". Tudo fazia parte da terapia do grito primal que John vinha seguindo há tempos. Durante muito tempo, até quase na véspera do lançamento do álbum, Paul tentou de todas as formas convencer John a tirar "Revolution 9" do álbum. Ele recusou até o fim a sugestão de Paul, dizendo com firmeza: "A música fica!". Quando o disco finalmente chegou nas lojas a crítica não soube lidar muito bem com aquele tipo de (falta) de musicalidade. Parecia algo maluco que John havia colocado no disco por pura birra e arrogância. Algo do tipo "Eu posso fazer isso e o farei!".

Felizmente nem tudo era feito de sons estranhos e falta de notas musicais. John ainda era capaz de compor belas melodias. "I'm So Tired" era um exemplo da delicada mistura de gêneros musicais que John fazia muito bem. A música tinha um estilo blues, aliado a uma interpretação bem inspirada de John, cantando como se realmente estivesse cansado de tudo. Como havia efetivamente música ali, Paul resolveu também se empenhar, escrevendo algumas linhas da melodia. George Martin também foi essencial, criando um belo arranjo para servir de fundo à performance de Lennon. Durante algum tempo John pensou em lançar a faixa como single na Inglaterra, para promover o álbum. A canção seria lançada antes, justamente para divulgar o LP que viria. Depois, com as brigas e atritos com Paul e George, tudo foi deixado de lado. Mesmo assim, por sua beleza melódica, essa bela balada acabou se destacando dentro do álbum branco. Ela foi encaixada no Lado B do disco 1, bem depois da também bela balada "Martha My Dear" de Paul McCartney.

Quando o Álbum Branco pintou nas lojas muitas pessoas quiseram saber quem era Martha da canção "Martha My Dear". Especulações de todos os tipos foram feitas. Para alguns era uma antiga namorada de Paul que ele não via há muitos anos. Estavam todos enganados. A coisa era bem mais simples. Martha era a cadela de Paul. Era a velha companheira de Paul de muito tempo, um pet adorado não apenas por ele, mas por todos os demais Beatles. Há inclusive muitas fotos de Paul ao lado de Martha e da namorada Jane Asher. Igualmente há registros interessantes de John Lennon levando a cachorrinha para dar um passeio nos arredores da casa de Paul em Londres.

Sobre ela Paul contou um caso curioso. Certa vez John a viu junto com Paul. Para Lennon só havia uma ocasião em que Paul parecia mesmo relaxado e feliz, era quando estava brincando com Martha. Era um momento de completo relaxamento e diversão. "Nunca vi você assim antes!" - teria dito um surpreso John quando encontrou Martha pela primeira vez na casa de Paul. Para a música McCartney trouxe uma melodia bem agradável, numa canção composto no piano. "As notas foram surgindo naturalmente. Martha estava aos meus pés e a letra surgiu de uma vez, sem problemas. A presença dela sempre me deixava em um ótimo astral." Em termos de melodia e ritmo, além da pueril letra, a música contribuiu bastante para o disco de uma forma em geral, no conjunto. É sem dúvida um bom momento do disco.

Outra música que fugia do comum era o country "Rocky Raccoon". Os Beatles, como músicos ingleses, não tiveram em sua formação a country music, um gênero tipicamente do sul dos Estados Unidos. Mesmo assim eles tiveram contato com o gênero musical através dos discos que atravessaram o Atlântico, indo parar no porto de Liverpool. Por essa razão um crítico inglês escreveu na época de lançamento do disco que a faixa soava superficial, até mesmo fake. Paul deu de ombros. Para ele isso era um mero detalhe. "Não éramos cowboys, ok! Isso não impedia de tocarmos country. Talvez a falta de uma raiz musical tenha deixado a música com um estilo de música de filme de western, mas não me importo". Essa no final das contas seria uma das poucas gravações do estilo country da discografia dos Beatles. Realmente não era a praia deles.

Já George Harrison trouxe uma estranha composição para o disco chamada  "Long, Long, Long". Com uma melodia que subia e descia em cascata, tinha uma harmonia fora dos padrões. John Lennon não gostou. E ele disse isso abertamente a George, criando mais um foco de tensão para o grupo dentro do estúdio. Sobre a música de George, John foi mordaz: "Não vai para lugar nenhum! É um tédio!". Paul também não deixou por menos dizendo que a música era chata, mas resolveu que não iria comprar briga com George. Deixou pra lá. A música só não ficou de fora do disco porque havia muito espaço disponível (era um álbum duplo) e também porque depois de "Revolution 9", Lennon já não tinha moral de vetar nenhuma gravação dentro do estúdio. Nada seria mais bizarro do que aquela coleção de sons esquisitos e bizarros, que não faziam nenhum sentido.

The Beatles - The White Album (1968)
Back in the USSR
Dear Prudence
Glass Onion
Ob-La-Di, Ob-La-Da
Wild Honey Pie
The Continuing Story of Bungalow Bill
While My Guitar Gently Wee[s
Happiness is a Warm Gun
Martha My Dear
I'm So Tired
Blackbird
Piggies
Rocky Raccoon
Don't Pass Me By
Why Don't We Do It In the road?
I Will
Julia
Birthday
Yer Blues
Mother Nature's Son
Everybody's Got Something to Hide Except Me and My Monkey
Sexy Sadie
Helter Skelter
Long, Long, Long
Revolution 1
Honey Pie
Savoy Truffle
Cry Baby Cry
Revolution 9
Good Night

Pablo Aluísio.

The Beatles – Yellow Submarine

Os Beatles  tinham de realizar mais um filme por obrigação contratual. Depois de “A Hard Day´s Night” e “Help” era pouco provável que naquela altura de suas carreiras eles voltassem para fazer mais uma produção daquelas. O próprio John Lennon já havia dito publicamente que os Beatles não eram atores e nem tinham o menor interesse nisso (bem ao contrário de Elvis Presley que tentou emplacar uma carreira no cinema americano por anos). Assim embora estivessem obrigados por contrato a fazer mais um filme não tinham a menor intenção de atuar novamente.

Para resolver o impasse surgiu uma ideia original e salvadora: se não havia obrigação de ser um filme convencional por que não realizar uma animação, um desenho animado? Assim os Beatles cumpriam seu contrato e não precisavam dar duro dentro do novo projeto. Assim que a ideia surgiu, John, Paul, George e Ringo a abraçaram instantaneamente. Um desenho animado com os Beatles para o cinema parecia ser uma grande sacada! Um estúdio de animação foi contratado e os trabalhos começaram. Em relação a trilha sonora ficou decidido que seriam aproveitadas canções já gravadas pelos Beatles, incluindo a música título, “Yellow Submarine” do álbum Revolver. A EMI porém não ficou muito contente com a solução. Uma trilha sonora seria obviamente lançada mas sem material novo suas chances de vender bem caíam consideravelmente.

Para contornar mais uma vez o impasse os Beatles concordaram em gravar algumas canções inéditas – não a ponto de completar um disco inteiro mas como forma de atrair os fãs dos Beatles nas lojas, comprando o álbum. Paul então compôs uma música infantil muito bonitinha e carismática chamada “All Together Now”, que imitava o estilo de aprender cantando das canções dos canais educativos ingleses. John, imerso em uma rotina pesada de uso de drogas, se virou como foi possível e trouxe "Hey Bulldog" para a gravação. Tudo foi meio mal gravado, com muita zoação dentro do estúdio mas George Martin decidiu lançar assim mesmo. Para completar Harrison trouxe a estranha "It´s All Too Much" que longa demais logo se tornava maçante.

O Lado B do vinil original seria completado com as canções incidentais compostas por George Martin. Paul e John ainda ajudaram na faixa instrumental "Yellow Submarine in Pepperland" e por essa razão foram creditados. Quando o filme foi lançado a crítica de forma em geral elogiou bastante. Já a trilha recebeu sua dose de resenhas desfavoráveis. O grupo chegou ao ponto de ser chamado de “preguiçoso” por não ter se esforçado mais na gravação de material inédito para o disco. Embora a parte de George Martin tenha sido elogiada os Beatles foram criticados por não terem composto mais canções para a animação. No final os Beatles ficaram tão satisfeitos com o desenho que resolveram gravar uma pequena participação para ser usada na cena final do filme. Hoje "Yellow Submarine" é considerado uma pequena obra prima do cinema, isso apesar de todos os problemas enfrentados em sua produção. Um final feliz para um projeto que nasceu da conveniência mas que se superou por suas próprias qualidades cinematográficas.

The Beatles - Yellow Submarine (1968)
Yellow Submarine
Only a Northern Song
All Together Now
Hey Bulldog
It's All Too Much
All You Need Is Love
Pepperland
Sea of Time
Sea of Holes
Sea of Monsters
March of the Meanies
Pepperland Laid Waste
Yellow Submarine in Pepperland

Pablo Aluísio.

sábado, 5 de novembro de 2011

The Beatles - Magical Mystery Tour

Esse cara nunca vai se dar mal?” – foi com essa frase que Lennon resumiu a situação dos Beatles na época em que o conjunto estava entrando em mais um projeto idealizado por Paul McCartney chamado “Magical Mystery Tour”. John estava obviamente se referindo ao colega de banda que parecia nunca se dar mal mesmo com as idéias mais estranhas para os discos dos Beatles. Depois de Sgt Pepper´s (outra idéia de Paul), ele surgiu com esse conceito que unia novamente fantasia e música. A ideia era colocar várias pessoas dentro de um ônibus com pintura psicodélica para ir filmando as reações delas conforme a viagem acontecia. Não haveria roteiro e nem script, apenas o acaso. Era algo fora dos padrões e isso era justamente o que Paul queria. O projeto seria depois exibido na TV inglesa em um programa especial. Os Beatles surgiriam como se fossem mágicos, bruxos, comandando essa turnê misteriosa e mágica. Lennon achou tudo exagerado e excessivo, uma tremenda bobagem, mas preferiu manter seu descontentamento só para si. Ele também tinha curiosidade em saber até onde Paul iria antes de se dar mal.

Conforme Lennon explicou anos depois em entrevistas essa foi sua pior fase nos Beatles. Não conseguia mais contribuir como antes e se sentia sufocado com a concorrência de Paul que parecia ter uma força de produção sem paralelos. Enquanto Paul surgia em estúdio com dez, doze novas canções, John passava sufoco para surgir com duas ou três, todas inacabadas. A verdade dos fatos revelava um Lennon perdido, desinteressado pelos rumos que os Beatles tomavam e o pior, abusando muito de drogas pesadas o que comprometia seu trabalho nas composições e nas gravações de estúdio. Quando chegou para trabalhar no álbum de Magical Mystery Tour, por exemplo, ele não tinha nada além de esboços que foi aprimorando dentro do estúdio. Um exemplo é “I Am The Walrus”, que ele escreveu às pressas. A letra não tinha sentido nenhum e fazia a linha mais psicodélica que imperava na década de 60. Era uma sucessão de imagens sem sentido, como o “Eggman” e o “Leão Marinho”. Para disfarçar a falta de novas ideias John simplesmente colocou tudo sob uma penumbra de versos obscuros. Já Paul era bem diferente. Ele havia composto a boa canção título e uma bela balada que se tornaria um de seus clássicos absolutos, “The Fool On The Hill”.

A trilha sonora saiu em um compacto duplo na Inglaterra mas os americanos da Capitol, sempre mais espertos e inteligentes em termos de marketing, resolveram lançar um álbum completo com canções de outros singles para completar cronologicamente o LP. Assim no lado B do antigo vinil a Capitol colocou alguns clássicos que só tinham sido lançados em compactos como “Hello, Goodbye", “Strawberry Fields Forever" e "Penny Lane". Sábia decisão uma vez que a morte do vinil também significou a morte desses compactos simples e o álbum idealizado como foi acabou se revelando uma idéia tão boa que depois foi lançado na própria Inglaterra, se tornando assim o disco oficial desse trabalho. Já o filme não teve a mesma sorte. Exibido na TV britânica em 1967 não conseguiu agradar a ninguém. A crítica caiu em cima e massacrou o resultado final. Adjetivos como “imbecil”, “estúpido” e “ridículo” foram usados para qualificar “Magical Mystery Tour”. Lennon assistiu tudo de camarote. O fracasso provava que Paul McCartney não era infalível. Agora talvez os demais Beatles o ouvissem com mais atenção. John queria que o grupo voltasse a uma sonoridade mais básica, dos velhos tempos, sem todas essas superproduções concebidas por Paul. Ele queria que os Beatles voltassem a ser uma banda de rock, simples assim. De fato isso seria o tom dos próximos álbuns dos Beatles. A era dos chamados discos “mágicos” tinha se encerrado definitivamente na história do grupo. 

The Beatles - Magical Mystery Tour (1967)
Magical Mystery Tour
The Fool on the Hill
Flying
Blue Jay Way
Your Mother Should Know
I Am the Walrus
Hello, Goodbye
Strawberry Fields Forever
Penny Lane
Baby, You're a Rich Man
All You Need Is Love

Pablo Aluísio.

The Beatles - Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band

Muita coisa já foi dita sobre Sgt Pepper´s. Muito provavelmente esse seja o disco mais analisado, comentado e destrinchado trabalho musical da história. Rotular o álbum de revolucionário, impactante seria redundante. Nem os Beatles tinham plena consciência no gigante que esse disco iria se tornar. Depois de tantos anos essa obra ainda continua sendo citada com frequência. Mas afinal de contas o que a torna tão especial? Uma obra de arte não consegue ser totalmente compreendida sem se levar em conta o contexto histórico em que foi produzida. Sgt Pepper´s só é entendido em essência se o ouvinte entender que quando o álbum chegou nas lojas havia todo um clima psicodélico no ar, toda uma busca e um sentimento que hoje muitos associam ao velho chavão hippie “Paz e Amor”.

Certamente havia esse sentimento mas também havia mais, existia uma efervescência nas artes em geral e mudanças estavam na ordem do dia. Os Beatles nunca foram ingênuos, eram rapazes inteligentes e antenados com o que acontecia ao redor. Foi assim que o disco nasceu. Em essência era algo que todos esperavam mas que ninguém realmente havia ainda colocado em prática. Havia uma série de pressões comerciais e de estilo em cima de grupos que vendiam muito como os Beatles. O grande mérito deles foi realmente darem a cara à tapa e arriscar. Isso porque Sgr Pepper´s tanto poderia ser um marco como um fracasso monumental. O grupo assumiu uma postura, teve coragem e lançou o álbum e o mundo musical nunca mais foi o mesmo.

Na época muitos críticos e analistas musicais classificaram o disco como “conceitual”, uma denominação que os próprios Beatles desconheciam. Na verdade não foi bem assim. O próprio Paul McCartney, que teve a idéia original do disco, jamais o arquitetou dessa forma. De fato como o próprio Paul explicou mais tarde apenas as 2 primeiras faixas tem algo em si, inclusive são interligadas. Depois disso Lennon apresentou suas canções ao grupo, músicas que tinham sido compostas em separada, sem a idéia do álbum em mente. O curioso é que em termos de sonoridade e avanço realmente havia uma tênue linha ligando todo o material mas isso surgiu de forma bem espontânea, pois John ao compor temas como “A Day in The Life” jamais havia pensado na ideia de Paul para o disco em si. Foi de certa forma um feliz encontro de ideias que resultou em um disco realmente genial, que resistiu a tudo, inclusive ao tempo.

Recentemente promovi mais uma audição atenta do conjunto da obra. Realmente as canções, todas psicodélicas, soam seguindo uma proposta, algo indefinido entre o mundo circense, a grande arte da Londres da década de 60, peças de vaudeville, nostalgias dos anos 20 e muito mais. É um caleidoscópio de influências que os Beatles receberam ao longo da vida. O diferencial aqui é que eles jogaram tudo de uma vez, numa só obra musical. Por isso assustou, por isso revolucionou tanto.

Entre as faixas novamente se sobressai o talento de John Lennon como compositor. Não se sabe ao certo a razão, se foram as drogas, se foi seu encontro com Yoko, não sei, o que se pode perceber nitidamente é que ele está numa fase extremamente inspirada por essa época. As três canções mais marcantes do álbum levam sua assinatura pessoal, de digital mesmo. "Lucy in the Sky with Diamonds" não é uma música psicodélica como cantam em prosa e verso por aí. Vou mais além e afirmo que ela é o psicodelismo. Como todos sabem Lennon foi acusado de estar promovendo o ácido lisérgico com a canção pois suas inicias formavam a sigla LSD.

Lennon rebateu as acusações dizendo que era mera coincidência pois a letra havia sido inspirada em um desenho de seu filho Julian. Será mesmo? Quem tem a razão? Não importa, LSD, digo, "Lucy in the Sky with Diamonds", é realmente fantástica. Outra faixa forte e marcante é a já citada "A Day in the Life", na verdade uma coleção de músicas inacabadas de Lennon que resolveu unir tudo sob um arranjo extremamente inovador. Paul dá sua contribuição nos arranjos orquestrais. Por fim temos a circense "Being for the Benefit of Mr. Kite!". A letra foi toda inspirada em um velho cartaz que Lennon comprou em um sebo. Vejam como ele era criativo. Compôs toda uma canção apenas utilizando os nomes e eventos que estavam nesse velho comercial de um circo do século passado. O arranjo é um primor e nesse aspecto temos que bater palmas para George Martin, o talentoso maestro que tanto contribuiu para o sucesso do quarteto britânico.

Deixei para falar de Paul por último porque queiram ou não ele é o grande nome por trás desse projeto. Ele concebeu essa idéia de os Beatles surgirem no disco como se fossem um outro grupo musical, justamente o que dá nome ao álbum. Em sua cabeça Paul queria que o consumidor levasse para casa um disco do "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" e não dos Beatles. Essa metalinguagem desse trabalho eu realmente acho genial. Também é importante frisar que ao contrário de Lennon, sempre instigante, ácido e mordaz, McCartney trazia belas melodias aos discos do conjunto. Aqui não foi diferente. De fato as melhores linhas melódicas levam sua marca registrada. "She's Leaving Home", por exemplo, é belíssima. Evocativa e nostálgica a canção é beleza rara em notas musicais. "When I'm Sixty-Four" segue seus passos. O som lembra o melhor das antigas big bands americanas das décadas de 20 e 30.

Paul com nostalgia de um tempo não vivido. Genial. George Harrison, mais envolvido do que nunca com a religião e cultura indianas surge com "Within You Without You". Eu confesso que essa é a única música do disco que não me agrada muito. É um tipo de musicalidade muito específica, não digo que é ruim, apenas que não faz o meu estilo. Enfim, eu poderia ficar dias e noites escrevendo sobre as qualidades de "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" mas isso é realmente desnecessário. A obra fala por si mesma. Não adianta ficar procurando o conceito ou a falta dele entre as faixas. O importante é ouvir seu som atemporal. É isso que faria o Billy Shears. Quem é o Billy Shears? Bom, essa é uma outra estória que depois a gente conta por aqui...

The Beatles - Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (1967)

Lado 1
1. Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band
2. With a Little Help from My Friends
3. Lucy in the Sky with Diamonds
4. Getting Better
5. Fixing a Hole
6. She's Leaving Home
7. Being for the Benefit of Mr. Kite

Lado 2
1. Within You Without You
2. When I'm Sixty-Four
3.. Lovely Rita
4. Good Morning Good Morning
5. Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (Reprise)
6. A Day in the Life

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

The Beatles - A Collection of Beatles Oldies

Primeira coletânea da carreira dos Beatles. Por essa época o grupo estava em uma verdadeira maratona de shows ao redor do mundo, sem tempo para praticamente nada. Há muitos anos que as turnês já tinham se transformado em um aborrecimento, principalmente para John Lennon que não agüentava mais o assédio sem medidas das fãs. Para Lennon os concertos tinham virado uma atração de circo, com muita gritaria e histeria, com pouca coisa a ver com musicalidade. Para piorar o que já era ruim os Beatles também deixaram de se importar com a qualidade dos shows. Segundo Lennon eles aceleravam as músicas para terminarem logo os concertos com receios de que algo mais sério pudesse acontecer – ou até mesmo alguém sair ferido no meio daquele delírio coletivo.

Assim quando a EMI cobrou por novas gravações em estúdio Lennon e Harrison disseram um sonoro não! Eles estavam fartos, emocionalmente desgastados e fisicamente muito cansados. Para não criar um atrito com a gravadora o empresário dos Beatles, o sempre cordial Brian Epstein, sugeriu a edição de uma coletânea com os maiores sucessos da banda até aquele momento. Além disso não podia se desprezar o fato de que muitos desses hits jamais tinham sido reunidos antes em um álbum, sendo lançados apenas em singles, compactos simples. Como eram bons os argumentos a EMI enfim comprou a idéia.

Nasceu assim “The Collection of Beatles Oldies” Na contracapa John Lennon mandou colocar uma frase muito espirituosa que dizia: “Oldies... But Goldies” (“velharias... mas douradas”). Os próprios Beatles foram consultados para a elaboração da seleção musical. Foram escolhidas 15 faixas e George Martin os convenceu a gravar mais uma para ser encaixada no disco como canção bônus inédita. Apesar da preguiça o grupo então se reuniu em Abbey Road para a gravação da canção “Bad Boy”, um cover de Larry Williams (um dos preferidos de Lennon). O restante do repertório iria ser completado apenas com clássicos absolutos, entre eles os grandes sucessos “She Loves You”, “Yesterday”, “Can´t Buy Me Love” e “I Want To Hold Your Hand”. “Yellow Submarine” também foi incluída para agradar Ringo e manter a tradição dos discos dos Beatles que sempre saiam com uma faixa cantada por seu baterista.

John Lennon ainda opinou sobre a capa, pois ele não queria uma daquelas capas óbvias de coletâneas e sim algo mais artístico. Por essa razão fez questão de mandar um telegrama a George Martin dizendo que a EMI deveria caprichar na direção de arte da nova capa! O curioso sobre “Beatles Oldies” é que ele foi lançado entre os discos “Revolver” e “Sgt Pepper’s” se tornando assim o verdadeiro divisor entre a primeira e a segunda fase do grupo. Infelizmente como toda coletânea o disco ficou obsoleto em poucos anos. Hoje em dia apenas colecionadores mantém o álbum em sua coleção uma vez que os discos da série “Past Masters” vieram para ocupar seu espaço (tinham mais canções e eram mais completos, fechando assim a discografia oficial dos Beatles, inclusive com a inclusão das versões em alemão que o grupo gravou no começo de carreira). De qualquer modo fica a lembrança, principalmente para quem começou a colecionar Beatles na era do vinil e sabia que ter o disco era a única forma de ter alguns dos maiores clássicos da banda no formato LP. Velharias?! Jamais...
 

The Beatles - A Collection of Beatles Oldies (1966)
She Loves You
From Me to You
We Can Work It Out
Help!
Michelle
Yesterday
I Feel Fine
Yellow Submarine
Can't Buy Me Love
Bad Boy
Day Tripper
A Hard Day's Night
Ticket to Ride
Paperback Writer
Eleanor Rigby
I Want to Hold Your Hand

Pablo Aluísio.

The Beatles - Revolver

Revolver é um disco fenomenal. O primeiro trabalho realmente revolucionário do conjunto britânico, o LP abriu portas no mundo da música que nunca mais foram fechadas. Seu resultado foi tão extraordinário na época que nem os próprios Beatles acreditavam que um dia iriam conseguir superá-lo. De repente os quatro rapazes de Liverpool mostravam ao mundo que o Rock não era apenas um gênero musical bobo falando sobre namoricos, corações adolescentes partidos e versinhos de caderno. O rock poderia se transformar em grande arte e seguramente Revolver foi o primeiro grande trabalho da história do Rock a atravessar essa fronteira.

Tirando poucos momentos medianos do ponto de vista artístico (como Yellow Submarine e I Want To Tell You) Revolver traz uma série incrível de sonoridades diversificadas que se traduzem em canções antológicas. Taxman, que abre o disco, é uma parceria entre Lennon e Harrison (só creditada ao segundo) que mostra claramente o rompimento do grupo com seu antigo som. Paul McCartney apresenta duas músicas maravilhosas, a melancólica e linda Eleanor Rigby e For No One, que apesar de subestimada é até hoje uma das melodias mais bonitas da carreira dos Beatles (e isso meu amigo não é pouca coisa); O velho Macca ainda nos brinda com a deliciosa Got to Get You Into My Life, canção cheia de charme e suingue bebendo diretamente da fonte da herança musical negra americana, estilo Motown e cia. Seu legado no disco termina com Here, There and Everywhere. Canção excepcionalmente bem escrita e arranjada resultando num momento simplesmente irretocável.

Embora McCartney tenha sido genial nesse disco com suas ternas melodias o legado mais revolucionário do álbum pertence mesmo a John Lennon. Desde a primeira faixa Lenniana, I´m Only Sleeping, com escala musical incomum, John deixa claro que veio para testar os limites do Rock na época. Sua She Said, She Said é uma pedrada no formato convencional (e careta) que predominava na música da década de 60. Dr. Robert, por sua vez, é um manifesto com referências ao movimento psicodélico que nascia naquele momento e Good Day Sunshine, com sua linha saudosista, vinha para satirizar com muito bom humor o comodismo da classe média e seus valores quadrados. Mas foi com Tomorrow Never Knows que Lennon realmente chutou o balde. Essa canção pode ser considerada, sem a menor hesitação, como uma das mais influentes do rock mundial moderno.

Não existe sequer uma única banda da atualidade que não beba de sua fonte maravilhosamente enlouquecida e sem freios. Tomorrow Never Knows até hoje soa extraordinariamente criativa, imaginativa e acima de tudo revolucionária. Não importa qual seja a sua banda favorita e nem a época, de Radiohead a Oasis, nenhum grupo conseguiu sequer chegar aos pés dessa doce alucinação. Não há como duvidar, Lennon realmente era um gênio musical. Revolver retrata o momento em que os Beatles romperam com tudo o que se fazia na época, inclusive com seu próprio modelo, que definitivamente a partir desse momento era deixado para trás. Apenas pela coragem de romper tabus musicais Revolver já teria garantido seu lugar na história da música do século XX, mas o álbum é muito mais do que isso, é uma obra simplesmente indispensável para se entender a arte de nosso tempo.

"Revolver" foi um disco essencial para os Beatles porque eles descobriram que certos limites poderiam ser rompidos. Até aquele momento a indústria da música limitava muito o que poderia ou não fazer parte de um álbum de uma banda tão comercial como os Beatles. E de certa forma eles se mantiveram dentro dessas linhas até aquele momento.

Os Beatles tinham contratos a cumprir com a EMI e como sempre quem reunia todos era Paul McCartney. Era ele quem ligava para os demais Beatles para informar o dia em que haveria gravação no Abbey Road Studios. Paul não deixava a bola cair, tanto que ele já chegou no primeiro dia de gravação com pelo menos três grandes canções, baladas que tinham sido bem trabalhadas por ele em seu pequeno estúdio caseiro que mantinha em Londres. "For No One", "Here, There and Everywhere" e "Eleanor Rigby" estavam praticamente prontas, embora Paul quisesse ainda trabalhar melhor nos arranjos deles ao lado de George Martin.

Esse tipo de situação criava uma certa tensão, principalmente em relação a John Lennon, que se via diante de um trabalho maravilhoso de Paul. Canções lindas, com excelentes melodias, enquanto ele não tinha praticamente nada a mostrar, apenas alguns esboços inacabados. Esse tipo de desnível em termos de produção fez com que Paul passasse a liderar os Beatles, algo que criava um certo ressentimento e mágoa em John, que se considerava o verdadeiro líder da banda e o seu fundador.

As canções de John eram bem pessoais, retratando aspectos do que aconteciam em sua vida naquele momento. Ele disponibilizou para o disco músicas como "I'm Only Sleeping", "She Said She Said", "Doctor Robert" e principalmente "Tomorrow Never Knows" que naquele momento era apenas uma ideia, algo a ser criado coletivamente ao lado de Paul e George Martin. Conforme confidenciaria anos depois John também compôs grande parte de "Taxman" ao lado de George Harrison, mas resolveu deixar os créditos apenas para ele. Assim já havia quase dez músicas para gravação, um bom número que já justificava o começo dos trabalhos.

The Beatles - Revolver

Lado A
1. "Taxman"
2. "Eleanor Rigby"
3. "I'm Only Sleeping"
4. "Love You To"
5. "Here, There and Everywhere"
6. "Yellow Submarine"
7. "She Said She Said"

Lado B
1. "Good Day Sunshine"
2. "And Your Bird Can Sing"
3. "For No One"
4. "Doctor Robert"
5. "I Want to Tell You"
6. "Got to Get You into My Life"
7. "Tomorrow Never Knows"

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

The Beatles - Rubber Soul

O disco que marca o começo da virada na carreira dos Beatles. Não restam dúvidas que até determinado ponto da carreira os Beatles seguiram uma linha comercial onde pouco ou quase nada era permitido em termos de ousadia. Havia essa fórmula certa de sucesso que os Beatles seguiram em todos os seus primeiros discos. Letras falando de amores juvenis, nada de muito ousado ou desafiador. De fato falando sinceramente o grupo seguiu direitinho a cartilha imposta pela gravadora Odeon. “Rubber Soul” não sai muito dessa linha é verdade mas já podemos perceber nitidamente espasmos de criatividade. Isso se torna perceptível logo na segunda faixa do disco na canção "Norwegian Wood (This Bird Has Flown)" de autoria de John Lennon. Nela ouvimos um arranjo bem original com uso de vários instrumentos orientais, indianos, algo que realmente fugia do esquema Guitarra, baixo, violão e bateria. Além disso a música era muito autoral onde Lennon recordava de um encontro extra conjugal que havia tido com uma garota. Na ocasião ela acabou elogiando os próprios móveis de seu apartamento e Lennon usou isso como tema da canção pois o tipo de madeira era bem comum, ordinário, nada sofisticado como a própria moça que sequer havia se apercebido disso. Esse jogo de ideias seria a tônica de John em suas futuras composições, algumas tão herméticas que muitas vezes apenas John e pessoas próximas compreendiam totalmente do que se tratava.

Outra faixa de “Rubber Soul” digna de nota é a própria “Girl”. Sob uma fachada comercial a baladinha tinha muito mais a dizer do que muitos percebiam. Era sobre a “garota perfeita”, idealizada, que todos nós um dia sonhamos ter como namorada. “Nowhere Man” é outro ponto marcante dessa lista de canções. Novamente Lennon escreve sobre si mesmo numa linguagem à la Bob Dylan (como ele gostava de se referir). John tinha essa personalidade angustiada, com toques depressivos que geravam ótimas letras. De fato ele aqui em “Rubber Soul” realmente começa a se soltar como compositor e criador. Seu lado mais centrado em si mesmo começa a dominar suas criações. A sucessão de clássicos de Lennon se fecha com a linda, maravilhosa mesmo, “In My Life”. Se havia algumas dúvidas sobre os rumos que sua poesia tomavam a partir dessa fase de sua vida “In My Life” vinha para esclarecê-las definitivamente. Aqui Lennon em tom de nostalgia lembra de seus tempos de infância e juventude, em um jogo de palavras muito lírico e evocativo que no final das contas consegue se comunicar com todos. É incrível como John Lennon conseguia escrever sobre si mesmo mas falando sobre temas universais, inerentes a todos nós. Impossível ouvir “In My Life”, por exemplo, sem ficar com imediato sentimento de nostalgia e saudade.

Paul McCartney curiosamente acabou seguindo um caminho bem oposto ao de seu colega de banda. Paul aparece em Rubber Soul com canções genéricas, de personagens criados como “Michelle”, que é meramente ficcional. Sua letra parcialmente em francês é uma curtição de Paul para com o romantismo descabelado das músicas românticas francesas. O resultado certamente ficou muito bonito mas como disse é mais um produto de Paul visando objetivos comerciais em essência. Harrison não produz nada de muito marcante no álbum assim como Ringo que se limita a participar cantando o simpático country "What Goes On". Em suma é isso. “Rubber Soul” é certamente uma mudança de rota, não tão radical quanto o sucessor “Revolver” mas mesmo assim já mostrando mudanças de ares significativas. Nos anos que viriam Paul faria mais canções de personagens e John ficaria cada vez mais autoral e egocêntrico e nesse processo os Beatles acabariam se tornando a maior banda de rock de todos os tempos.

The Beatles - In My Life

John Lennon nunca foi necessariamente um sujeito nostálgico. Na verdade ele pouco ligou para seu passado em Liverpool, tanto que depois que ficou rico e famoso praticamente não voltou mais para sua cidade natal. Quando sua tia Mimi se mudou de lá acabou-se mesmo qualquer motivo para Lennon voltar para o lugar onde nasceu. Ao invés disso ele procurou preservar em sua memória os anos de juventude e infância. Como o próprio John explicou em uma entrevista a canção "In My Life" surgiu dessa necessidade de se olhar um pouco mais para trás, relembrando os velhos tempos. Inicialmente John escreveu a letra, procurando colocar nela lugares e pessoas de seu passado, mas em pouco tempo percebeu que a ideia, embora fosse muito boa, não estava fluindo bem. A primeira versão tinha ficado "chata" em sua opinião.

Assim ele sentou-se com seu amigo Paul para reescrever a canção, que depois seria lançada no disco "Rubber Soul". Paul, que era um mestre em escrever sobre temas ficcionais, sem ligação direta com a realidade (como em "Eleanor Rigby", por exemplo), sugeriu que John seguisse essa linha mais imaginativa em sua letra. Seria como recordar dos velhos tempos para a pessoa amada, deixando claro para ela que que tudo aquilo não significava mais nada perante a importância de a ter encontrado em sua vida. De certa maneira era algo distante da ideia inicial de Lennon, mas como ele próprio havia reconhecido a coisa tinha ficado ruim e era necessário tomar um outro caminho.

A versão final que chegou até nós e que se tornou a gravação original é de uma singeleza ímpar! Lennon conseguiu captar com a melodia um claro sentimento de nostalgia, não apenas particular, referente ao próprio passado dele, mas sim universal, que diz respeito a todos nós. É o velho sentimento de que um dia todos encontraremos nossa alma gêmea que nos fará olhar para trás e reconhecer que apesar de tudo ela era aquilo tudo que todos estávamos buscando! Curiosamente embora estivesse casado há anos John Lennon não se sentia verdadeiramente no espírito da canção, já que ele ainda não havia encontrado a mulher definitiva de sua vida - que aliás acabaria sendo Yoko Ono, algum tempo depois. O mais crucial é que Lennon realmente acabou criando uma bela música, embalada por uma das mais bonitas melodias da carreira dos Beatles e isso, senhoras e senhores, definitivamente não é pouca coisa! 

The Beatles - Rubber Soul (1965)
Lado 1
1. Drive My Car
2. Norwegian Wood (This Bird Has Flown)
3. You Won't See Me
4. Nowhere Man
5. Think for Yourself"
6. The Word
7. Michelle

Lado 2
1. What Goes On
2. Girl
3. I'm Looking Through You
4. In My Life
5. Wait
6. If I Needed Someone
7. Run for Your Life

Pablo Aluísio.

The Beatles - Help!

Esse foi um dos discos mais vendidos dos Beatles. Assim aproveito para tecer alguns comentários sobre o álbum "Help!" dos Beatles (que inclusive está tocando nesse momento, enquanto vou escrevendo o texto). Antes de mais nada é importante deixar um conselho: fique longe do filme que é definitivamente bem fraco. A única coisa que se salva são os momentos em que os Beatles tocam - todo o resto (roteiro, direção, elenco) é um completo desperdício! Se você vive reclamando dos filmes de Elvis Presley espere para ver essa "obra" cinematográfica. Enfim, esqueça! Ouça a trilha sonora e esqueça do cinema!

O álbum é uma maravilha. É a tal coisa, certa vez John Lennon resumiu tudo muito bem isso ao dizer:"Os Beatles são músicos, não atores!". Um exemplo que deveria ter sido passado para o colega Elvis que ficou dez anos perdendo tempo em Hollywood. Mas enfim... voltemos ao disco. Esse álbum é, em minha visão, o último grande disco dos Beatles em sua fase Ié, ié, ié (que muitos preferem chamar apenas de primeira fase). É uma coleção magnífica de grandes composições, aliados a um trabalho primoroso de produção por parte de George Martin, um trabalho digno de todos os aplausos. Ele introduziu novos instrumentos, novas sonoridades, sem nunca descaracterizar o som único dos Beatles. Isso fica óbvio logo na primeira faixa, "Help!", uma composição de Lennon com um refrão forte e marcante. Como John sempre gostou de analisar sua própria vida ele anos depois diria que a música era realmente um pedido de socorro pois ele se sentia sufocado com o sucesso absurdo que os Beatles tinham alcançado. Os gritos, as turnês e a pressão quase o levaram a ter um colapso nervoso.

"The Night Before" de Paul já era um pouco mais amena. Gosto bastante do ritmo dessa música - perceba que ela já começa numa tonalidade única que vai até o fim da canção, sem variações. O vocal de Paul está dobrado, o que traz uma ótima sensação ao ouvinte. McCartney na letra está obviamente falando da vida noturna de Londres, de suas boates e amores fugazes. Imagine conhecer uma bela garota numa sexta à noite e no dia seguinte descobrir que nada daquilo significou alguma coisa. Aliás Paul e John eram grandes frequentadores de clubes noturnos desde os tempos de Hamburgo. Quando ficaram famosos a coisa toda ficou maior e mais agitada. Na letra Paul então escreveu uma pequena crônica sobre isso, sobre as noites nas baladas e as manhãs seguintes. E para manter a dobradinha entre Lennon e McCartney logo após entra Lennon em tom de leve melancolia na ótima "You've Got to Hide Your Love Away", A letra é de um pessimismo e uma sinceridade que chegaram a assustar as adolescentes fãs dos Beatles da época. Lennon soava até mesmo depressivo. Esse tipo de atitude  certamente não combinava com os gritinhos das jovens (algo que Lennon particularmente detestava!).

Depois de um momento tão surpreendente como esse, eis que o ouvinte é convidado a dar uma chance a George Harrison em "I Need You". Essa é uma composição menor de uma fase em que George ainda tentava respirar no meio de dois gênios que eram Paul e John. A música é sincera, com boa letra e uma guitarra sempre solando uma nota só (o que se torna a grande característica da faixa). Para suavizar ainda mais o disco, a música "Another Girl" de Paul vem logo a seguir e propõe acertar contas com um velho amor do passado, deixando claro que superou tudo e está de novo amor, numa boa. Decepções amorosas são dolorosas, mas precisam ser superadas. Chega o momento de seguir em frente, ter novas paixões, viver novas emoções. Paul assim propõe deixar a tristeza de lado de uma vez por todas e partir para outra. Belo conselho.

"You're Going to Lose That Girl" tem ótimos solos de guitarra e um arranjo diferenciado onde Ringo deixou a bateria de lado para investir em velhos bongôs cubanos. Essa foi uma sugestão de George Martin. Casualmente ele foi informado que o filme teria cenas filmadas nas Bahamas. Nada melhor do que dar um pequeno toque caribenho ao álbum. A composição é de John e ele novamente se mostra um grande letrista. Depois de "Help!" o grande sucesso desse disco foi "Ticket to Ride". Poucos sabem, mas essa canção foi composta por Paul e John na Alemanha, em Hamburgo, quando eles ainda formavam uma banda desconhecida de jovens ingleses. A expressão "Ticket to Ride" era usada em prostíbulos da cidade, era o nome que era dado aos ingressos para entrar nesses cabarés localizados no porto de Hamburgo. Traduza a expressão e entenda o sentido malicioso das palavras! Essa piada interna por parte dos Beatles só seria revelada muitos anos depois por John em uma entrevista. Até aquele momento todos pensavam que os Beatles estavam sendo apenas "poéticos"! Não, eles estavam sendo vulgares mesmo! Coisas de jovens da idade deles.

Já "Act Naturally" foi colocada para abrir o Lado B do antigo vinil. Era a sempre reservada faixa para Ringo Starr exercitar seus limitados dotes vocais. Em faixas como essa, animadinhas e nada complexas, ele até que se saía muito bem - vamos reconhecer. Nada importante, nada mais do que um momento divertido do disco. Pura diversão mesmo. Encerrada ela vem os primeiros acordes de "It's Only Love", outro momento cortante de John Lennon. A canção foi escrita para sua esposa da época. Ele tentava de alguma forma reacender seu amor por ela - algo que não daria muito certo pois o casamento estava praticamente arruinado. Em um dos versos ele pergunta: "Brigamos todas as noites?". Estava mesmo complicada a vida do casal Lennon.

"You Like Me Too Much" é a segunda faixa composta e cantada por George Harrison. Essa é bem melhor do que a anterior. John está nos teclados, o que dá um sabor diferente para os arranjos da canção. George Harrison também pediu a George Martin que dobrasse seu vocal, assim ele faz dueto consigo mesmo. Ficou bonita, principalmente os solos do meio. Não é nenhuma obra prima, mas é bonita e tem bela harmonia. "Tell Me What You See" que vem logo a seguir talvez seja a única composição realmente de Lennon e McCartney do disco, já que na época eles já procuravam escrever seus próprios trabalhos, sem necessariamente contar com a ajuda do outro. A letra é basicamente de Paul, com pequenos toques de Lennon. É engraçado porque fica até fácil descobrir quem escreveu cada linha. Geralmente Paul surgia com alguma frase mais otimista, enquanto John respondia com sua acidez habitual.

"I've Just Seen a Face", por outro lado, foi escrita apenas por Paul. Ele inclusive se esmerou em escrever um belo arranjo, com um belo dedilhado em seu começo. Essa melodia inclusive me passa um sabor country - não sei se apenas eu penso assim. Aquele violão solando, aquele ritmo, parece até que foi gravada em Nashville. Ecos dos pioneiros do sul dos Estados Unidos que inspiraram os Beatles. Depois dela vem o grande clássico do disco, a imortal "Yesterday", a música que mais ganhou versões na história. Esqueça os Beatles. Essa é uma criação de Paul McCartney, única e exclusivamente. O próprio Lennon dizia que as pessoas sempre o estavam parabenizando por essa canção, mas que ela era na verdade "filha de Paul". Em entrevista John Lennon reconheceu isso ao dizer: "Nunca pensei em escrever nada parecido com aquilo". Os Beatles não participam da sessão de gravação da faixa oficial. Apenas Paul toca violão, acompanhado de um quarteto de cordas providenciado por George Martin. O resultado ficou inesquecível. Clássico absoluto!

Talvez para contornar a extrema doçura e ternura de "Yesterday", John Lennon resolveu encerrar o disco com a paulada de "Dizzy Miss Lizzy", um cover estridente de Larry Williams. A guitarra, no último volume, vai estourar seus tímpanos - por isso tenha cuidado! A razão da gravação dessa canção seria explicada por John na entrevista que deu na Playboy no começo dos anos 80, pouco antes de sua morte. Na ocasião ele desabafou: "As pessoas sempre me viram como o roqueiro dos Beatles. Enquanto Paul escrevia belas baladas de amor eu sempre aparecia com as faixas ao estilo pauleira. Talvez elas tenham razão. Eu sou assim. Uma velha orquestra de Rock ´n´Roll".

The Beatles - Help! (1965)

Lado A
1. Help!
2. The Night Before
3. You've Got to Hide Your Love Away
4. I Need You
5. Another Girl
6. You're Going to Lose That Girl
7. Ticket To Ride

Lado B
1. Act Naturally
2. It's Only Love
3. You Like Me Too Much
4. Tell Me What You See
5. I've Just Seen A Face
6. Yesterday
7. Dizzy Miss Lizzy

Pablo Aluísio.