Marlon Brando esperou bastante tempo para estrear no cinema americano. Ator talentoso de teatro em Nova Iorque, ele via Hollywood com desconfiança pois achava que a grande maioria dos filmes não tinham nada de relevante para passar ao público. Só em 1950 Brando resolveu assinar com a Columbia Pictures para a realização de sua estreia na sétima arte. O roteiro escolhido foi “The Men” que tocava em um tema explosivo na época. Após a Segunda Guerra Mundial muitos foram os filmes que louvavam o sentimento patriótico da nação americana, geralmente mostrando seus combatentes na Europa como heróis acima do bem e do mal, em visões muitas vezes superficiais e ufanistas. “The Men” era muito mais realista se comparado aos filmes de guerra na época. Saíam de cena os soldados invencíveis para mostrar o lado mais cruel e dramático de um conflito de grandes proporções como aquele. O filme mostra a dura realidade dos que voltaram do campo de batalha com graves lesões, feridos em combate, paralíticos, tetraplégicos, muitos deles na flor da idade, com vinte e poucos anos.
Marlon Brando interpretava um jovem soldado, veterano de guerra, que volta para casa paraplégico após ser ferido gravemente em combate, na coluna. O tom da mensagem transmitido pelo ótimo roteiro escrito por Carl Foreman era nitidamente pacifista pois mostra um lado que sempre era varrido para debaixo do tapete por filmes bem mais patrióticos. A produção foi toda filmada em um hospital de veteranos de Nova Iorque com feridos reais interpretando os personagens secundários. Brando em sua autobiografia relembrou os momentos em que viveu ao lado desses homens. A grande maioria deles jamais voltaria a andar novamente e o ator ficou impressionado pela força e a luta de todos eles em relação ao que passavam. Eram homens jovens, que viam sua vida mudar literalmente da noite para o dia. De jovens atletas, fortes e praticantes de esportes, eles passavam a viver numa cadeira de rodas. Um dos aspectos que mais chamou a atenção do ator foi a recusa deles em serem tratados como “coitadinhos” ou algo parecido. Não queriam a pena de ninguém. Assim Brando os tratou como iguais, usando a cadeira de rodas todo o tempo, mesmo quando não havia cenas sendo filmadas. “Espíritos Indômitos” é uma obra importante pois lida com um tema relevante, de impacto social. A direção de Fred Zinnemann procura ser a mais realista possível. Seus diálogos e situações mostram muito bem a irracionalidade das guerras e seus efeitos nefastos. Sem dúvida é um dos melhores clássicos já feitos sobre o tema.
Espíritos Indômitos (The Men, EUA, 1950) Direção: Fred Zinnemann / Roteiro: Carl Foreman / Elenco: Marlon Brando, Teresa Wright, Everett Sloane, Jack Webb, Richard Erdman / Sinopse: Após sofrer uma terrível lesão em combate, veterano de guerra retorna do front completamente paraplégico. Produção que procura conscientizar o público ao mostrar as amarguras e lutas daqueles que voltam incapacitados de conflitos armados. Ótima estreia de Marlon Brando no cinema. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Roteiro Original.
Pablo Aluísio.
Cinema Clássico
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Pablo Aluísio.