Um dos sonhos de vida do ator Laurence Olivier era levar a obra de William Shakespeare para as grandes massas. De formação Shakesperiana ele começou a tentar colocar sua ideia em prática no teatro londrino. O ator abriu mão de faturar mais alto nas bilheterias para que escolas e colégios de Londres levassem seus alunos para apresentações vespertinas de Olivier e sua companhia. Aos poucos ele foi percebendo que seria mais complicado do que pensava. O texto, extremamente rico e rebuscado de Shakespeare, soava de complicado entendimento para o público mais jovem. Não era de se admirar. Shakespeare escreveu para as pessoas de sua época, em uma linguagem tão rica que muitos historiadores ainda hoje cultivam uma certa dúvida se todas as peças atribuídas a Shakespeare teriam sido escritas por ele realmente, uma vez que era difícil aceitar que tanta riqueza cultural teria vindo de apenas uma pessoa!
Assim Olivier se debruçou sobre "Hamlet" e escreveu uma nova versão, procurando usar uma linguagem mais moderna, que soasse mais compreensível para aqueles alunos. Sua real intenção era apresentar Shakespeare aos mais jovens para que eles criassem curiosidade sobre o famoso escritor, indo assim atrás de suas peças no original. Como a experiência deu certo e deu ótimos frutos Laurence procurou ir além. Ele quis levar para o cinema seu texto adaptado. Afinal de contas uma coisa era se apresentar para um determinado grupo de estudantes ingleses, em número limitado, outra completamente diferente seria levar isso para o mundo inteiro através do grande meio que estava à sua disposição: o cinema!
Sobre essa atitude corajosa de Laurence Olivier o grande ator Marlon Brando comentaria: "Certa vez encontrei Laurence e ele me disse que eu deveria me dedicar a Shakespeare já que tinha talento para tanto! Fiquei lisonjeado com sua opinião e de certo modo ele tinha razão em me falar aquilo. Eu só seria um grande ator se me dedicasse a interpretar Shakespeare no teatro. O problema é que eu tinha que viver, tinha contas a pagar, pois qualquer ator americano que se dedicasse completamente aos textos de Shakespeare ficaria extremamente pobre. Os americanos não possuem esse tipo de cultura. Na verdade os britânicos são os únicos a cultivarem a riqueza da língua inglesa justamente por causa de Shakespeare. A cultura americana é a da TV e a do cinema. Não temos cacife cultural para tornar Shakespeare popular em nossa sociedade".
Brando tinha razão. O americano médio é de certo modo um simplório que mal conhece o nome de outros países. Ele não tem a sutileza e a sofisticação cultural para tornar uma obra desse nível popular. Mesmo com tantas coisas contras Laurence foi em frente. Conseguiu financiamento e em 1948 lançou sua versão cinematográfica de "Hamlet". Ele ficou tão obcecado com sua atuação que resolveu também dirigir o filme. Era sua obra mais cativante e ele certamente não estava disposto a dividir isso com absolutamente ninguém. Para sua alegria e realização o filme se tornou um sucesso e acabou sendo consagrado no Oscar um ano após quando foi premiado com os prêmios de Melhor Direção de Arte, Melhor Figurino e os dois mais importantes Oscars da noite: Melhor Filme e Melhor Ator (onde o grande premiado seria ele mesmo, Laurence Olivier). Não haveria maior consagração para ele do que esse reconhecimento histórico. O Bardo certamente teria ficado orgulhoso de Laurence.
Pablo Aluísio.
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