sábado, 10 de abril de 2010

Elvis Presley - Something For Everybody - Parte 2

Eu gosto bastante de "Give Me the Right". Tem um certo sabor caribenho nessa música, muito embora provavelmente não tenha sido essa a intenção dos produtores da sessão. Outro destaque vem no vocal feminino, já bem presente nos primeiros segundos da canção. Quem canta essa parte é a talentosa Millie Kirkham. Curiosamente não era comum nas gravações de Elvis na época a presença de cantoras. Quem fazia o acompanhamento vocal de Elvis era quase que exclusivamente os Jordanaires.

É importante salientar que nessas mesmas sessões de gravação Elvis gravou a música "I Feel So Bad", mas a RCA decidiu que não iria encaixar essa faixa no álbum e sim lançá-la depois como single. Logo após esse blues excelente, cheio de energia e vibração, Elvis iria gravar a romântica "It's a Sin" em uma das mais belas vocalizações de sua carreira, naquele período, primeira metade dos anos 60. Ficou maravilhosa sua performance nos microfones nessa música. Definir tudo em apenas uma palavra? Magistral.

"I Want You with Me" chegou a ser escolhida para fazer parte da trilha sonora do filme "Coração Rebelde", mas na realidade foi gravada aqui nessas sessões de "Something For Everybody". Perceba como seus arranjos iniciais revelam bem esse lado mais voltado para a velha Hollywood. Depois a gravadora desistiu dessa opção e a canção acabou virando apenas uma das faixas do disco. Destaque para o solista dos Jordanaires que teve oportunidade de cantar em destaque com sua voz bem característica. O grupo de apoio, a banda, também estava em dia inspirado.

E se você me perguntar qual é a melhor música desse disco eu não teria problemas em dizer que esse título pertence a"There's Always Me". Que música, senhoras e senhores. Linda demais! Tão bela que os produtores da sessão logo entenderam isso, a colocando para abrir o álbum, no Lado A do vinil original. Esse é um daqueles registros que mostram como Elvis Presley foi um cantor talentoso, em todos os aspectos. O grupo vocal também se destaca, fazendo um fundo de coros que deu tanto trabalho que foi gravado à parte, para só depois ser adicionado à perfomance de Elvis. Obra-prima da discografia do Rei.

Pablo Aluísio. 

Elvis Presley - Something For Everybody - Parte 3

"Starting Today" é maravilhosa! Outra canção muito inspirada do compositor e pianista Don Robertson. Canção leve, com belo arranjo que se encaixava perfeitamente no lado mais romântico deste disco. Essa composição faz parte das quatorze músicas que o autor fez especialmente para Elvis. Isso era algo bem interessante para Presley pois o estilo mais sofisticado de compor de Robertson vinha bem de encontro com o que ele andava procurando para gravar. Faixas suaves, românticas, onde ele pudesse praticamente sussurrar as letras. Além disso o arranjo de piano criava um lindo fundo instrumental para sua voz. Enfim, temos aqui um dos pontos altos do álbum.

Depois dela vale citar outra bela canção romântica chamada "Sentimental Me". Outro cover de Elvis para uma canção antiga, também da década de 1940. A música estourou na versão do grupo The Ames Brothers. Na Europa ela ganhou uma interpretação linda e muito inspirada de Jackie Brown and his Quartet. As duas entraram nas paradas logo no começo de 1950. A versão de Elvis segue a tendência desse disco, ou seja, voz suave e terna, adicionando muito romantismo à sua interpretação. Sua versão mais recente é a de 2005 quando o cantor country David Slater a regravou para seu album "Nice And Easy".

"Put Blame On Me" tem o mesmo título de uma música antiga cantada no cinema pela diva Rita Hayworth. Porém se trata de uma outra composição. Gravação original que anos depois, em 1965, seria utilizada como parte da trilha sonora do filme "Tickle-me" (O Cavaleiro Romântico" no Brasil). Este filme dirigido por Norman Taurog, sem sombra de dúvida é um dos piores que Elvis realizou em seus anos de Hollywood, uma vez que não se teve nem ao menos a preocupação de se gravar um trilha sonora própria para a produção. Lamentável. Todas as músicas de sua trilha já tinham sido lançadas antes em outros álbuns do cantor.

Eu sempre gostei muito de "Judy". Um belo momento deste trabalho musical é representado por esta ótima balada de nome tão singelo: "Judy". Este era um truque dos primeiros compositores de Rock'n'Roll: utilizar nomes de pessoas ou cidades para sensibilizar os moradores destes mesmos lugares ou que tivessem o nome destas canções para que elas comprassem o disco! "Judy" foi ainda lado B de um single lançado em 1967, (seis anos depois!?) com "There's Always Me" no lado principal. Single fora de época que não fez qualquer sucesso nas paradas.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Elvis Presley - Flaming Star - Parte 1

Muita gente se decepcionou com a trilha sonora desse filme. Os fãs queriam uma trilha sonora completa, aos moldes de "Saudades de um Pracinha", um álbum completo, com dez ou doze faixas para colecionar. Só que ao invés disso a RCA apresentou um minguado compacto duplo com poucas canções. Foi decepcionante. Esse tipo de coisa iria levantar a atenção do Coronel Tom Parker que a partir daí iria sempre pressionar a RCA Victor a lançar discos inteiros de trilhas de seus filmes.

Acontece que a trilha sonora de "Estrela de Fogo" só contava com apenas 5 músicas, sendo que uma delas nada mais era uma versão diferente, com outra letra, pouco modificada da música tema. Assim, se formos pensar bem, só havia mesmo 4 canções gravadas em estúdio para esse filme. Não havia material nem mesmo para completar um dos lados do LP, caso ele fosse programado realmente.

Depois de "G.I. Blues" Elvis colocou na cabeça que queria ser um grande ator de cinema, ao estilo Marlon Brando e James Dean, seus grandes ídolos. E músicas não faziam parte desse menu. Elvis só esqueceu que seu grande talento pessoal era para a música e não para a arte de atuar, algo que exigia dele outros talentos, completamente diferentes de ter uma bela voz e saber cantar bem.

Como o tempo iria provar ele estava errado nesse tipo de pensamento. "Estrela de Fogo" certamente foi um dos bons filmes de sua carreira, mas não fez muito sucesso. Nada comparado com o hit de "Saudades de um Pracinha", esse sim um projeto que valorizava seu lado superstar, de cantor de sucesso. De qualquer maneira uma coisa era certa, essa trilha sonora de "Flaming Star" era apenas uma trilha sonora incidental, praticamente. O que foi uma tremenda decepção para quem queria comprar os discos de Elvis naquela época.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Flaming Star - Parte 2

Uma enorme bagunça. Assim poderia definir tudo o que fizeram com a trilha sonora do filme “Flaming Star”. Para inicio de conversa mais da metade das canções do filme não foi lançada na época. Apenas “Flaming Star” e “Summer Kisses, Winter Tears” saíram regularmente em um compacto duplo chamado “Elvis by Request”, o resto das músicas foram esquecidas, arquivadas e ficaram inéditas por anos a fio. E afinal qual teria sido a melhor decisão? Ora, não é preciso ir muito longe para perceber que a RCA deveria ter lançado um EP (compacto duplo) com as cinco canções – algo que faria depois em trilhas sonoras com “Kid Galahad” e “Follow That Dream”. Isso seria em um mundo perfeito mas nada disso aconteceu. 

Elvis gravou as canções do filme (ele não queria pois em seu entender precisava apenas atuar bem no filme) e a RCA praticamente nada fez com elas no mercado. Provavelmente “Flaming Star” tenha sido a trilha sonora de Elvis Presley mais negligenciada de sua carreira. As músicas que chegaram ao mercado não fizeram sucesso e as que foram arquivadas ficaram no limbo por anos, esquecidas completamente.
   
Fazendo uma rápida retrospectiva: “Britches” só chegou ao mercado fonográfico muitos anos depois no álbum “A Legendary Performer, Volume 3”. “A Cane and a High Starched Collar”não teve melhor sorte. Apesar de aparecer no filme e ter um bom embalo também nunca foi lançada na época, só sendo colocada timidamente no disco “A Legendary Performer, Volume 2”. Por fim a estranha e desnecessária "Black Star" arranjou um espaço no LP “Collectors Gold”. Pra falar a verdade a trilha sonora só foi reunida de fato pela RCA na série Double Features, que nos anos 90 conseguiu trazer alguma organização para a extremamente bagunçada discografia de Elvis nos anos 60. 

Nessa edição além da trilha completa de “Flaming Star”, o fã de Elvis ainda teria acesso às trilhas de “Wild In The Country” e “Follow That Dream”. Gosto muito dos CDs Double Features, pois além do bom gosto (com excelentes encartes e direção de arte bonita), o fã ainda tinha acesso a todas as informações como datas de gravação, autores, etc. Já para quem esteja a fim de realmente radicalizar em termos de “Flaming Star” eu recomendo o bootleg “Master and session - Flaming Star” que traz as canções oficiais e muito mais como takes e versões alternativas. Demorou décadas mas “Flaming Star” finalmente chegou ao fã de Elvis como era esperado.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Elvis Presley - Flaming Star - Parte 3

As sessões de gravação da trilha sonora do filme "Estrela de Fogo" (Flaming Star, em seu título original) se deram nos estúdios Radio Recorders, em Hollywood, na Califórnia. A sessão foi coordenada e produzida pelo produtor Urban Thielmann, acompanhado do engenheiro de som Thorne Nogar. Tudo foi praticamente gravado em poucas horas em agosto de 1960. Elvis já entrava no estúdio com as músicas decoradas, uma vez que a RCA enviava para ele fitas demos com as canções gravadas por cantores da própria gravadora.

Curiosamente a primeira música gravada foi "Black Star". Aliás o filme de faroeste iria ter esse título, mas depois os executivos e produtores da 20th Century Fox pensaram melhor e entenderam que o uso do termo "Black" poderia causar alguma polêmica. Não podemos nos esquecer que a questão racial estava na ordem no dia naqueles tempos. A luta pelos direitos civis da população negra dos Estados Unidos ocupavam todas as manchetes de jornais. E para potencializar ainda mais algum tipo de problema nessa questão o personagem de Elvis no filme era um mestiço. Então para não criar problemas a Fox resolveu mudar o nome do filme para "Flaming Star".

E com essa decisão Elvis precisou voltar ao estúdio para gravar outra faixa título "Flaming Star" que tinha praticamente o mesmo arranjo, a mesma letra, só mudando os termos. Saiu o "Black" e entrou o "Flaming". A versão "Black Star" ficou anos arquivada pela RCA e todo o trabalho que Elvis teve para gravá-la (foram providenciadas até três versões dela) ficaram perdidos.

Outra música que foi gravada para fazer parte dos trabalhos desse filme foi "Summer Kisses, Winter Tears". A grande maioria dos fãs de Elvis, principalmente aqui no Brasil, só veio a conhecer essa gravação quando ela foi lançada no álbum "Elvis for Everyone" de 1965. Sou da opinião de que a RCA Victor deveria ter produzido um álbum desse filme. Uma trilha sonora em LP. Bastava gravar mais cinco músicas para o lado B, o que não seria nada complicado para Elvis na época e pronto, havia um disco de verdade para acomodar todas as faixas desse filme. Infelizmente não foi isso que decidiram e a maioria das músicas de "Flaming Star" simplesmente se perderam e foram desperdiçadas dentro de sua discografia.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Flaming Star - Parte 4

Apesar dos esforços de Elvis, que não queria aparecer cantando de jeito nenhum nesse filme "Estrela de Fogo", o estúdio Fox conseguiu convencer ele a cantar pelo menos uma canção. A escolhida foi a baladinha country "A Cane and a High Starched Collar". Eu gosto dessa música, apesar de ser das mais simples. Basicamente apenas um arranjo acústico, para que soasse verdadeira na cena do filme, pois era um faroeste, onde o personagem contava apenas com um violão.

"Britches" era igualmente simples. Também foi cogitada para ser usada no filme, em outra cena, mas Elvis se recusou com firmeza. Ele queria que esse filme fosse apenas de atuação, não de cantoria. O resultado foi outra faixa gravada e completamente desperdiçada. Ficou anos e anos arquivada, se tornando muito rara. Se nos Estados Unidos passou em brancas nuvens, imagine no Brasil. Os fãs brasileiros nem sabiam que essa canção existia.

"Flaming Star" contou com um grupo musical bem diferente do que Elvis estava acostumado a trabalhar em estúdio. Nada de Scotty Moore e seus músicos da banda usual e tradicional que Elvis usava regularmente em seus discos e singles. Como era um western da Fox, o próprio estúdio cinematográfico escolheu a banda que iria tocar com Elvis na trilha sonora. Só músico contratado da própria companhia.

E a banda era formada pelos seguintes músicos: Howard Roberts no violão, Hilmer J. "Tiny" Timbrell na guitarra (esse iria trabalhar em outras ocasiões com Elvis), Michael "Meyer" Rubin no baixo, Bernie Mattinson na bateria e no acordeão James Haskell pois eram músicas de faroeste. Da turma de Elvis mesmo só compareceu na sessão o pianista Dudley Brooks e o grupo vocal The Jordanaires, contando com os vocalistas Gordon Stoker, Hoyt Hawkins, Neal Matthews e Ray Walker. A formação clássica dos Jordanaires, como se pode perceber.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Elvis Presley - His Hand in Mine - Parte 1

Elvis gravou esse primeiro álbum gospel em 1960. A RCA Victor, sua gravadora, não achou uma boa ideia. Elvis era um rockstar, um cantor jovem pop. Não tinha nada a ver com músicas religiosas. Ele já havia gravado gospel antes, em um compacto duplo, nos anos 50, mas um álbum inteiro só com canções de teor religioso era algo que fugia dos padrões da gravadora. Só que Elvis já estava decidido. Ele queria gravar um álbum em homenagem à sua mãe. E nada era mais adequado do que gravar um LP gospel em memória da alma de Gladys Smith.

Não é demais lembrar também que um dos sonhos de Elvis era fazer parte de um quarteto gospel. Isso desde os tempos em que era apenas um adolescente que ouvia música religiosa nas estações de rádio de Memphis. A família de Elvis era religiosa, mas não era fanática. Eram crentes comuns, que gostavam de ir aos cultos aos domingos e principalmente ouvir músicas religiosa no rádio, um dos poucos eletrodomésticos que existia em sua casa. Assim não é de se admirar que Elvis tenha criado um vínculo emocional nostálgico com todas essas músicas que ouvia quando era garoto. Era uma lembrança muito presente de sua mãe também, que ouvia ao seu lado todos esses programas.

Assim Elvis cresceu ouvindo gospel. Fazia parte de sua formação musical e cultural. As faixas de "His Hand in Mine" foram selecionadas pelo próprio Elvis. Ele teve que engolir todas aquelas músicas de "G.I. Blues", sem ter poder de veto sobre elas, recebendo um pacote fechado do estúdio e da gravadora, para apenas colocar sua voz. Porém em se tratando desse álbum ele iria ter controle completo. Iria escolher as músicas, cantando aquilo que realmente desejasse cantar. Era um material que ele acreditava.

Eu considero um belo trabalho da carreira de Elvis. Curiosamente não gosto muito da faixa título "His Hand in Mine" que tem uma introdução muito estranha, embora melhore muito depois, em sua melodia bonita. Essa é uma antiga canção religiosa, que apenas pessoas como Elvis conheciam. Sim, ele tinha um vasto conhecimento de gospel music. E também era um colecionador de discos religiosos desde muito jovem. Ao longo dos anos Elvis estava sempre comprando discos desse gênero musical. Também adorava assistir programas religiosos nas manhãs de domingo. Esse era um lado de Elvis que realmente poucos conheciam na época.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - His Hand in Mine - Parte 2

Elvis gravou esse álbum no RCA Studio B, em Nashville, Tennessee. O produtor escolhido pela gravadora para essas sessões foi o bom e velho Steve Sholes. O escolhido para ser o engenheiro de som foi Bill Porter. Esse disco mostrou bem como Elvis era "rápido no gatilho". Em praticamente apenas dois dias (30 e 31 de outubro de 1960) ele finalizou sua participação no álbum. Gravou todas as doze faixas previstas. Sem perda de tempo e dinheiro. Contribuiu para isso o fato de que Elvis conhecia a maioria das músicas desde a adolescência. Então foi apenas questão de acertar o take certo.

A primeira música gravada foi "Milky White Way", que não por acaso também era uma das melhores canções do álbum. Aqui Elvis caprichou mesmo naquele estilo de voz de veludo que seria a característica mais lembrada dessa fase de sua carreira, ali no comecinho dos anos 60. Elvis adotou um estilo de cantar mais suave, mais terno, como bem foi definido por um crítico da época. O velho estilo musical mais áspero e rasgante, de seus anos de roqueiro, nos anos 50, pareciam distantes agora.

Depois de gravar a faixa título do disco, Elvis se concentrou em "I Believe in the Man in the Sky". Essa era uma velha conhecida de Elvis. Um gospel tradicional, muito utilizado nos cultos da Assembleia de Deus, que era a igreja frequentada pela família de Elvis quando ele era apenas um garotinho. Foi uma lembrança nostálgica de seus anos de convivência ao lado de sua mãe Gladys, ainda nos tempos duros de Tupelo. Interessante citar também que a RCA Victor iria utilizar esse mesma música em um single, mas somente alguns anos depois.

Nessa mesma noite de inspiração nos estúdios da RCA, Elvis ainda emplacou sua versão de "He Knows Just What I Need". Esse gospel deu um pouco mais de trabalho para Elvis e seu grupo de apoio pois foi preciso gravar 10 takes para que Elvis se sentisse finalmente satisfeito. Depois que ela foi gravada Steve Sholes sugeriu que Elvis desse um tempo nas músicas religiosas para que eles gravassem a faixa título de seu novo single, "Surrender". Mais complicada de gravar do que era esperado, Elvis levou 17 takes para finalizá-la. Havia uma parte final que cobrou seu preço na voz de Elvis. Ele precisou se empenhar bastante para que ficasse realmente boa a gravação. Ficou excelente. Essa música iria se tornar um hit em sua carreira.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Elvis Presley - His Hand in Mine - Parte 3

"Joshua Fit The Battle" foi baseada em um evento narrado no velho testamento quando Josuè (Joshua) derrubou os muros de Jericó durante uma batalha. Essa vitória foi creditada pelos antigos judeus ao seu Deus único. Essa canção tem ótimo ritmo, bem animada, poderia ser considerado até mesmo um bom rockabilly se não fosse sua letra religiosa. Elvis parece bem empolgado com sua vocalização. É uma das faixas que mais aprecio nesse álbum. Pura energia positiva.

Outra que se destaca por seu excelente ritmo, bem pra cima, bem agitada, é a canção "Swing Down, Sweet Chariot". Um fato curioso é que essa faixa seria regravada por Elvis em 1969, para fazer parte da trilha sonora do filme "Lindas Encrencas, as Garotas" (The Trouble With Girls). No filme Elvis representava um personagem que gerenciava um daqueles parques itinerantes que viajavam de cidade em cidade com seu show.

Na época chegou-se a dizer que o enredo do filme era baseado na vida do Coronel Tom Parker antes dele encontrar Elvis, para se tornar seu empresário. De qualquer maneira entre as duas versões prefiro muito mais a desse disco do que a trilha sonora, que embora inferior também era muito boa. E a cena no filme também ficou excelente, com Elvis em seu terno branco e chapéu de cowboy, figurino inclusive que usa em praticamente todas as cenas do filme, que também considero bom, até acima da média do que ele vinha fazendo em Hollywood.

Outra faixa que merece destaque nesse disco "His Hand in Mine" é  "Working On The Building". Tem um excelente arranjo, mais voltado para o acústico. O violão é o grande destaque e muitos dizem que foi tocado pelo próprio Elvis no estúdio. Não seria uma surpresa. Se houve um álbum em que Elvis fez questão de se envolver nesse ano de 1960 foi justamente esse, que inclusive seria o seu último disco do ano a chegar nas lojas. Assim Elvis esperava fechar seu ano de retorno com belas mensagens cristãs. Nesse aspecto ele foi definitivamente bem sucedido em suas pretensões.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - His Hand in Mine - Parte 4

O gospel  "I'm Gonna Walk Dem Golden Stairs" atualmente é bem associada a Elvis Presley, mas esse hino religioso, ou pelo menos seus primórdios, suas primeiras versões, são bem antigas. Segundo algumas pesquisas os pioneiros já cantavam versões rudimentares dessa música religiosa já por volta de 1750. Esse tipo de gospel vai mudando ao sabor dos tempos, afinal é uma música composta e criada para ser cantada em cultos. Conforme mudam as igrejas, novas versões vão surgindo.

"Known Only To Him" é o que os americanos gostam de chamar de spiritual. E o que seria isso? É uma subdivisão da música gospel. Essa denominação de spiritual era usada para canções mais introspectivas, mais centradas em si mesmo, mais reflexivas, algo como se fosse uma oração interior, um diálogo bem pessoal com Deus. Geralmente esse tipo de song era mais lenta, melancólica até. Feita para se ouvir em grandes crises pessoais.

"Mansion Over The Hilltop" apresenta uma melodia bem mais agradável em meu ponto de vista. O arranjo apresenta uma bela combinação entre o violão (que os americanos gostam de chamar de "guitarra acústica") e o piano, aqui dando o tom de todo o gospel, do começo ao fim. Destaque também, como não poderia de ser, ao grupo vocal The Jordanaires. Aqui eles estavam em casa, em seu habitual, pois nasceram como quarteto gospel, desde seu surgimento. Cantar ao lado de Elvis música pop, rock e comercial, havia sido quase um acidente em sua carreira.

Um aspecto que acho interessante em um álbum como esse é que não é segredo para ninguém o desejo que Elvis tinha, desde que era apenas um adolescente, em se tornar membro de um quarteto vocal gospel. E ao longo de sua carreira ele pareceu nunca desistir de um dia realizar esse tipo de sonho. Tanto que sempre foi acompanhado em suas gravações por grupos vocais que tinham surgido dentro do universo gospel americano. Não importava o tipo de música que gravava, sempre havia um grupo vocal desse estilo ao seu lado fazendo os vocais de apoio.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - His Hand in Mine - Parte 5

Elvis gostava muito dos discos de um pastor batista chamado Thomas Mosie Lister. Tinha em sua coleção particular de discos todos os álbuns e singles desse pregador. Tão admirador do gospel de Mosie Lister se tornou que gravou várias versões de músicas dele, muitas delas presentes nesse seu primeiro LP de músicas religiosas, "His Hand in Mine".

Era até engraçado quando Elvis entrava em alguma loja de discos naquela época. Os vendedores pensavam que ele iria comprar discos de rock ou pop, mas Elvis ignorava completamente a seção desses discos. Ele ia direto para a sessão de gospel music. Inclusive passando os olhos sobre a lista de sua discoteca particular vemos que a grande maioria dos discos era de gospel e country, seus dois ritmos musicais preferidos. Quase não havia nada de rock, a não ser alguns discos dos Beatles.

"In My Father's House", que em tradução livre poderia ser traduzido em nossa língua portuguesa como "Na casa de Meu Pai" era mais uma das músicas religiosas preferidas de Elvis. Aqui, como não poderia deixar de ser, se destacava em relevo as vocalizações de seu grupo de apoio, os bons e velhos membros dos Jordanaires, que poucas pessoas sabem hoje em dia, mas que nasceram como quarteto gospel.

E por falar em quartetos gospel, Elvis tinha verdadeira adoração por esse tipo de vocalização. Ele inclusive chegou a declarar em entrevistas que não havia nada no mundo da música mais belo de se ouvir do que quatro vozes masculinas, em perfeita harmonia, cantando gospel music. Isso talvez explique a inclusão da faixa  "If We Never Meet Again" na seleção musical do álbum. Muito embora a versão de Elvis tenha sido adaptada ao seu estilo. Afinal os fãs queriam ouvir Elvis quando comprava um de seus discos oficiais e não um quarteto gospel ao velho estilo.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Elvis Presley - GI Blues - Parte 1

A trilha sonora do filme "Saudades de um Pracinha" tem altos e baixos. Na época em que esse álbum foi produzido os produtores procuraram por uma sonoridade que lembrasse as marchas militares. Nem preciso dizer que Elvis odiou essa ideia. Dono de um senso musical único, Elvis achou essa uma péssima premissa, porém acabou no final aceitando, por livre e espontânea pressão de ter assinado um contrato leonino com a Paramount Pictures e a RCA Victor. Nesse tipo de contrato era estipulado que Elvis iria receber o pacote já fechado com as músicas dos filmes. Ele apenas teria que cantar as músicas, sem poder opinar ou recusar gravar qualquer uma delas.

O disco foi sucesso de público e crítica, fazendo com que Elvis resolvesse se calar pelo resto dos anos 60. O álbum com as músicas do filme se tornaram seu título mais vendido em 1960, superando e muito o "Elvis is Back!" que tinha maiores pretensões artísticas. A crítica também gostou. Achou o material criativo, lembrando inclusive de peças da Broadway em Nova Iorque. O disco foi até mesmo indicado ao Grammy, algo que não mais se repetiria em relação às trilhas sonoras de Elvis em Hollywood. Com tão boa receptividade, com tanto lucro, Elvis enfiou definitivamente suas opiniões no saco. Ele não mais reclamaria do material que lhe era enviado para gravar, por mais medíocres que fossem as músicas. Se estava fazendo sucesso, quem seria ele para contrariar?

Uma das curiosidades desse novo lote de músicas que ele teria que gravar é que Elvis teria que fazer uma nova versão de seu próprio clássico 'Blue Suede Shoes" de 1956. Lançada inicialmente em seu primeiro disco na RCA Victor, ele precisou voltar aos microfones para cantar esse novo arranjo, bem mais acústico e menos cru do que a versão original. Eu particularmente gostei da sonoridade dessa nova versão. É bem melhor produzida, não há como negar, embora com menos energia do que a primeira gravação, quando Elvis, aos 21 anos, estava no pique da sua fase roqueira.

E se formos parar para pensar bem foi até bem desnecessária a produção dessa nova versão. Ela é usada numa cena do filme quando um soldado resolve interromper Elvis, que está cantando no palco de um night club. O pracinha liga o jukebox e dele sai justamente a nova "Blue Suede Shoes". Momento ideal para uma briga de Elvis e seu opositor. Praticamente todo filme de Elvis tinha uma cena de briga. Era padrão em seus filmes. Os roteiristas usavam uma determinada fórmula em seus roteiros. O público já chegava no cinema sabendo que haveria uma cena assim.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - GI Blues - Parte 2

"What's She Really Like" foi composta pela dupla Abner Silver e Sid Wayne e gravada no dia 28 de abril de 1960. Considerada uma boa balada do disco, diria até que é uma das melhores faixas da trilha sonora, com uma sonoridade agradável e relaxante aos ouvidos. A letra é interessante, onde um amigo conta ao outro sobre sua nova namorada. Só elogios, dizendo que ela é maravilhosa em todos os sentidos, que tem lábios excitantes! E vem também o orgulho em dizer ao amigo que "ela é minha". Pois é, orgulho de namorado em romance recente.

"Big Boots" foi um caso curioso dessa trilha sonora. Foram gravadas duas versões diferentes da música. A primeira e a principal, que acabou entrando no disco e sendo usada numa cena do filme, veio em ritmo de canção de ninar. Muito terna, muita doçura e fofura. A outra versão que foi arquivada vinha em ritmo de rock, ou melhor dizendo, em ritmo pop aceleradinho. Ficou ótima essa versão B, mas infelizmente os produtores da época acharam que não havia espaço nela no disco oficial. Coloque mais esse na longa lista de erros da RCA Victor.

"Didja' Ever" é uma marcha militar. Sim, uma marcha militar, mas com claro sabor pop music. Nada tão surpreendente assim, uma vez que o personagem de Elvis era um soldado americano na Alemanha, servindo por lá no pós-guerra, sendo um bom patriota e tudo mais. No filme a música ganhou certo destaque. A força aérea dos Estados Unidos até colaborou, cedendo um de seus caças para fazer parte do cenário. Afinal tanto o filme como o disco poderiam ser usados como propaganda para as forças armadas americanas. Algo meio trágico pois em pouco tempo os Estados Unidos iriam se envolver na Guerra do Vietnã e toda aquela tragédia humana e militar que foi aquela intervenção.

Não há como ignora a bela melodia da balada "Doin' the Best I Can". A letra é de resignação e também de decepção. O enamorado personagem canta em primeira pessoa a decepção de se fazer tudo pela amada e não ter reconhecimento nenhum por isso. Ele faz tudo por ela, mas não parece ser suficiente. Uma carta de sonhos não realizados, afinal quando elas agem dessa maneira, uma coisa parece certa, o romance está prestes a desmoronar. Boa faixa, sendo que em minha opinião não foi bem usada no filme, aparecendo muito timidamente.

Pablo Aluísio.

domingo, 4 de abril de 2010

Elvis Presley - GI Blues - Parte 3

O maior sucesso dessa trilha sonora de Elvis foi a canção "Wooden Heart". É a bela música que foi apresentada no filme quando Elvis contracenou com uma marionete, no show para crianças. Cena muito legal do filme. Dois aspectos curiosos rondam essa música. A primeira é que foi a única música gravada por Elvis com palavras da língua alemã, o que era natural acontecer pois a versão aqui que ouvimos é uma adaptação de uma antiga música do folclore da Baviera. Como Elvis havia servido na Alemanha e como o seu personagem também servia na Alemanha na história do filme era impossível ignorar a cultura alemã na seleção musical do disco.  Os produtores do disco então se apressaram em providenciar algo nesse sentido. O resultado ficou muito bom, acima do esperado. E Elvis caprichou em sua performance.

O segundo aspecto digno de nota é que essa foi a única música dessa trilha sonora que Elvis cantou ao vivo, em um palco, durante a década de 1970. Claro que foi apenas uma pequena versão, muito limitada, de poucos minutos, algo que Elvis sempre fazia em se tratando de suas antigas gravações, mas mesmo assim ela foi cantada. Nenhuma outra ganhou esse privilégio. Sucesso na Alemanha e nos demais países ali vizinhos, como Holanda e Suíça, "Wooden Heart", apesar de sua singeleza, segue sendo um dos maiores hits europeus do cantor.

"Pocketful of Rainbows" ganhou uma cena bem romântica entre Elvis e sua parceira Juliet Prowse. É a cena do teleférico. Essa cena foi rodada em estúdio, em Hollywood. As cenas das montanhas que aparecem nas costas do casal é apenas o velho método de black projection (alguns chamam de back projection) onde os atores atuavam na frente de uma grande tela de cinema, com cenas filmadas por uma segunda unidade de direção da Paramount que foi até a Alemanha para gravar as cenas que seriam usadas nos cenários do filme.

Já no estúdio da gravadora RCA Victor Elvis precisou gravar duas versões diferentes da música. A primeira foi utilizada pela RCA na trilha sonora oficial do filme. Apenas Elvis cantando, em solo. A segunda foi gravada alguns dias depois quando a atriz Juliet Prowse apareceu nos estúdios para gravar um dueto ao lado de Elvis. Embora a voz de Prowse fosse bonita sempre preferi a versão que contava apenas com a vocalização de Elvis. Muito mais perfeita do ponto de vista técnico. Outro aspecto digno de nota é que essa canção deu muito trabalho para Elvis, resultando em incríveis 28 takes! Em se tratando de Elvis isso era um verdadeiro absurdo!

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - GI Blues - Parte 4

"Frankfort Special" é a música que Elvis canta em um trem, no filme. Gosto bastante dessa canção, embora Elvis não tenha apreciado tanto assim. Ele inclusive pediu que mais da metade das músicas fossem retiradas do filme. Aquela velha coisa de querer ser um ator sério ao estilo Marlon Brando e James Dean. O produtor Hall Wallis recusou todos os seus pedidos. Experiente em Hollywood sabia muito bem o que os fãs de Elvis queriam ver em seus filmes. Queriam ver ele cantando, nada muito além disso. Assim as músicas ficaram no filme.

A música título do filme "G.I. Blues" divide opiniões. Tem que aprecie e tem quem não goste. Minha opinião é de que o ritmo é bom, um pop em ritmo de marcha militar. O que estraga um pouco é a letra, mais parecendo uma paródia dos anos em que Elvis viveu no serviço militar. De certa maneira desmerece quem serviu o exército americano naquele período, em tempos de paz. Acho que a melodia merecia uma letra melhor, menos metida a engraçadinha.

Caso semelhante ocorre com "Shoppin' Around". Excelente ritmo, letra fraquinha. Aqui Elvis foi creditado como instrumentista na ficha técnica da sessão de gravação. Ele teria tocado o violão. E como é uma faixa com forte vocação acústica essa teria sido, no final das contas, uma das melhores participações dele como músico nesse período de sua carreira. Ficou perfeito sua performance ao violão. Coisa rara de acontecer naqueles tempos.

"Tonight Is So Right for Love" é uma bela balada, mas trouxe problemas de direitos autorais para os produtores do disco e para a gravadora RCA Victor. Acontece que não havia os direitos para lançar essa música na Europa, então Elvis teve que gravar uma outra canção, no estilo "bem parecida, quase idêntica". O curioso é que esse mesmo problema aconteceu também no Brasil. Por isso a edição nacional do disco era semelhante ao europeu e não ao americano. Depois da morte de Elvis outras edições do álbum foram lançadas, já com a presença das duas faixas, agora sem problemas legais.

Pablo Aluísio.