domingo, 3 de janeiro de 2010

Conan, o Bárbaro

O tempo passa, o tempo voa. Fazia muito tempo que tinha assistido "Conan O Bárbaro", tanto tempo que nem lembrava mais (pra falar a verdade me recordo muito mais de "Conan, o Destruidor" talvez por ter reprisado mais vezes na tv). Pois bem, rever Conan depois de tantos anos foi uma surpresa e tanto. O filme tem um tom bem mais sério e se leva mais a sério também do que sua continuação. Isso talvez se explique pela presença do sempre correto diretor John Milius (e que no fundo era mais um bom roteirista do que qualquer outra coisa). Aqui ele acaba juntando elementos de várias contos do personagem original e se sai muito bem no resultado final. Oliver Stone inclusive é um dos roteiristas o que mostra que nesse aspecto o filme realmente tem suas qualidades.

Conan aliás pode ser considerado o primeiro grande filme (em termos de popularidade) da carreira de Arnold Schwarzenegger, que na época era apenas um monte de músculos esforçado. Fica óbvio em cada cena que ele não sabia atuar mas seus pequenos dotes dramáticos são compensados pelas presenças de dois outros atores de peso na área: Max von Sydow (infelizmente muito pouco aproveitado) e James Earl Jones (no papel de um líder messiânico, meio homem e meio serpente). Claro que após tantos anos (o filme vai completar 30 anos de sua realização no ano que vem) os efeitos ficaram datados mas para falar a verdade ainda funcionam nos dias de hoje (principalmente o uso das pitons em cena). Enfim, foi bacana rever "Conan, o Bárbaro" para relembrar da infância. Bons tempos que não voltam mais.

Conan, o Bárbaro (Conan the Barbarian, Estados Unidos, 1982) Direção: John Milius / Roteiro: John Milius, Oliver Stone baseado na obra de Robert E. Howard / Elenco: Arnold Schwarzenegger, James Earl Jones, Max von Sydow / Sinopse: Conan (Arnold Schwarzenegger) é criado como escravo. Cresce em meio a um ambiente selvagem e brutal. Depois de adulto se envolve em inúmeras aventuras.

Pablo Aluísio.

Conan, O Destruidor

Conan (Arnold Schwarzenegger) faz um pacto com a rainha Taramis (Sarah Douglas): ele ajudará a recuperar um artefato mítico que trará de volta uma antiga divindade à vida e em troca a rainha ressuscitará sua antiga amada, Valéria, morta por inimigos no primeiro filme da saga. Em uma jornada de muitos perigos, feitiços e lutas, Conan se une à guerreira Zula (Grace Jones), ao mago Akiro (Mako) e ao ladrão Malak (Tracey Walter) para escoltar a princesa virgem na busca do chifre que ressuscitará o terrível Deus Dagoth. "Conan, o Destruidor" é a sequência do grande sucesso "Conan, o Bárbaro". O roteiro aqui é mais fantasioso do que no filme original. Conan recebe uma visão mais aventuresca, menos épica, com ênfase nas lutas contra monstros e seres mágicos. Não há a preocupação de se fazer um filme mais sério e adulto como vimos na produção anterior. Aqui o tom é bem mais juvenil, procurando obviamente alcançar um maior público, principalmente de jovens leitores das aventuras do famoso bárbaro. Isso porém não significa que o filme seja ruim, pelo contrário, ainda hoje funciona muito bem como aventura escapista.

Novamente na pele do guerreiro temos Arnold Schwarzenegger. Ele parece mais à vontade e mais maduro do que no filme anterior. Para quem gosta de halterofilismo indico a produção pois Arnold surge no auge de sua forma física. Provavelmente seja o filme em que esteja mais definido. A produção conta com bons e bem feitos cenários, uma trilha sonora evocativa e o mais curioso: seus efeitos não envelheceram tanto assim. Obviamente que não podemos comparar efeitos analógicos como os que vemos aqui com a tecnologia digital dos dias atuais mas temos que admitir que tudo funciona a contento nesse quesito. São várias as técnicas usadas no filme, sendo as principais o uso de Animação (com o ser alado que leva a princesa para a ilha) e de Animatronics (no Deus Dagoth). A direção foi entregue ao veterano Richard Fleischer com grande experiência em cinema de fantasia. O resultado revisto agora ainda soa satisfatório mostrando a superioridade desses dois primeiros filmes feitos com o personagem Conan e diga-se de passagem bem melhores do que seu recente, desastroso e medíocre remake lançado há pouco tempo.

Conan, O Destruidor (Conan The Destroyer, Estados Unidos, 1984) Direção: Richard Fleischer / Roteiro: Roy Thomas baseado no personagem criado por Robert E. Howard / Elenco: Arnold Schwarzenegger, Grace Jones, Olivia D´Abo, Mako, Tracey Walter, Will Chamberlain, Sarah Douglas / Sinopse: Conan (Arnold Schwarzenegger) faz um pacto com a rainha Taramis (Sarah Douglas): ele ajudará a recuperar um artefato mítico que trará de volta uma antiga divindade à vida e em troca a rainha ressuscitará sua antiga amada, Valéria, morta por inimigos no primeiro filme da saga. Em uma jornada de muitos perigos, feitiços e lutas, Conan se une à guerreira Zula (Grace Jones), ao mago Akiro (Mako) e ao ladrão Malak (Tracey Walter) para escoltar a princesa virgem na busca do chifre que ressuscitará o terrível Deus Dagoth.

Pablo Aluísio.

sábado, 2 de janeiro de 2010

O Selvagem da Motocicleta

Um dos melhores filmes já feitos sobre delinquência juvenil e isso não é pouco já que existem clássicos absolutos sobre o tema (vide O Selvagem, Juventude Transviada e Vidas Amargas, entre outros). Coppola novamente dá show de direção com imagens inovadoras em cada cena (o filme tem tiradas ótimas como os peixes coloridos em um filme totalmente preto e branco e as nuvens marcando a passagem do tempo etc). Embora seja estrelado pelo ídolo dos anos 80, Matt Dillon, quem se destaca mesmo, com uma interpretação a la Actors Studio, é Mickey Rourke.

Interpretando um personagem chamado apenas de "Motorcycle Boy", Rourke desfila todo seu talento, mostrando um jovem sem perspectivas, melancólico, introspectivo e completamente cool. Na época de lançamento do filme foi comparado aos grandes ídolos do passado como Marlon Brando e James Dean. Outro destaque fica com Dennis Hooper, fazendo um pai ausente, com problemas de alcoolismo e totalmente fracassado. Diane Lane, muito jovem e linda, e Nicolas Cage (com vasta cabeleira) completam o talentoso grupo de atores e de quebra demonstram como o tempo muda as pessoas. A trilha sonora é de Stewart Copeland, do The Police, o que traz uma ótima atmosfera própria para o filme.

O Selvagem da Motocicleta (Rumble Fish, Estados Unidos, 1983) Direção: Francis Ford Coppola / Roteiro: Francis Ford Coppola, S. E. Hinton / Trilha Sonora: Stewart Copeland / Elenco: Matt Dillon, Mickey Rourke, Diane Lane, Dennis Hopper, Diana Scarwid, Vincent Spano, William Smith, S. E. Hinton, Sofia Coppola, Chris Penn, Michael Higgins, Nicolas Cage, Tom Waits, Laurence Fishburne / Sinopse: Jovem motoqueiro desiludido (Mickey Rourke) tenta ajudar seu irmão e seu pai após se tornar um ícone dos jovens moradores do local.

Pablo Aluísio.

Quando os Jovens se Tornam Adultos

Assisti Diner há muitos anos. Hoje resolvi assistir de novo. Engraçado mas muitas vezes esquecemos os filmes, mesmo quando gostamos deles. É mais ou menos o que aconteceu comigo em relação a esse filme. Nada como uma revisão para refrescar a memória. O elenco é muito bom com vários atores que estavam quase "chegando lá" (todos eles acabariam fazendo uma ou outra coisa marcante em suas carreiras nos anos que viriam). Dentre eles Steve Gutemberg (creditado como o principal ator do elenco e que estrelaria duas franquias de sucesso, Loucademia de Policia e Cocoon), Kevin Bacon (antes de estourar nas bilheterias com Footloose) e até Paul Reisner (que iria fazer sucesso anos depois na série de TV "Louco por Você").

Embora todos eles sejam talentosos o destaque principal do elenco é mesmo Mickey Rourke. Fazendo um jovem que se mete em apuros por dever a um apostador, Mickey rouba literalmente todas as cenas em que aparece. Com nuances à la James Dean, Rourke (na época apenas um jovem promissor vindo do Actors Studio) faz jus ao seu talento de bom ator. O roteiro é centrado em diálogos bem bolados do grupo de amigos que estão numa fase em que não são mais jovens demais e devem decidir o rumo de suas vidas (o título nacional resume bem a situação). Além disso é semi biográfico por parte do diretor Barry Levinson, que aqui narra histórias de sua juventude na sua querida Baltimore. Enfim, é um filme excelente para quem quiser conferir boas atuações, tudo com leveza e um fino bom humor

Quando os Jovens se Tornam Adultos (Diner, Estados Unidos, 1982) Direção: Barry Levinson / Produção: Jerry Weintraub / Roteiro: Barry Levinson / Fotografia: Peter Sova / Trilha Sonora: Bruce Brody, Ivan Kral / Elenco: Steve Guttenberg, Daniel Stern, Mickey Rourke, Kevin Bacon, Tim Daly, Ellen Barkin, Paul Reiser, Kathryn Dowling, Michael Tucker / Sinopse: Cinco amigos na década de 50 em Baltimore passam pelas dificuldades e dramas típicos de suas idades.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Filmografia Comentada: Mickey Rourke

Mickey Rourke estourou nos anos 80. Na época foi indicado como o mais promissor sucessor da geração de Brando, Dean e Clift. Sua filmografa naquela década foi realmente formada por excelentes filmes como "Coração Satânico", "Barfly", "O Ano do Dragão" e tantos outros. Após abandonar o cinema para se dedicar ao boxe a carreira de Rourke entrou em parafuso nos anos 90. Apenas recentemente o ator deu a volta por cima por seu papel em "O Lutador" ao qual venceu o Globo de Ouro e concorreu ao Oscar. Segue abaixo algumas resenhas sobre filmes de Mickey Andrew Rourke.

O Selvagem da Motocicleta
Um dos melhores filmes já feitos sobre delinquência juvenil e isso não é pouco já que existem clássicos absolutos sobre o tema (vide O Selvagem, Juventude Transviada e Vidas Amargas, entre outros). Coppola novamente dá show de direção com imagens inovadoras em cada cena (o filme tem tiradas ótimas como os peixes coloridos em um filme totalmente preto e branco e as nuvens marcando a passagem do tempo etc). Embora seja estrelado pelo ídolo dos anos 80, Matt Dillon, quem se destaca mesmo, com uma interpretação a la Actors Studio, é Mickey Rourke. Interpretando um personagem chamado apenas de "Motorcycle Boy", Rourke desfila todo seu talento, mostrando um jovem sem perspectivas, melancólico, introspectivo e completamente cool. Na época de lançamento do filme foi comparado aos grandes ídolos do passado como Marlon Brando e James Dean. Outro destaque fica com Dennis Hooper, fazendo um pai ausente, com problemas de alcoolismo e totalmente fracassado. Diane Lane, muito jovem e linda, e Nicolas Cage (com vasta cabeleira) completam o talentoso grupo de atores e de quebra demonstram como o tempo muda as pessoas. A trilha sonora é de Stewart Copeland, do The Police, o que traz uma ótima atmosfera própria para o filme.

Quando os Jovens se Tornam Adultos
Assisti Diner há muitos anos. Hoje resolvi assistir de novo. Engraçado mas muitas vezes esquecemos os filmes, mesmo quando gostamos deles. É mais ou menos o que aconteceu comigo em relação a esse filme. Nada como uma revisão para refrescar a memória. O elenco é muito bom com vários atores que estavam quase "chegando lá" (todos eles acabariam fazendo uma ou outra coisa marcante em suas carreiras nos anos que viriam). Dentre eles Steve Gutemberg (creditado como o principal ator do elenco e que estrelaria duas franquias de sucesso, Loucademia de Policia e Cocoon), Kevin Bacon (antes de estourar nas bilheterias com Footloose) e até Paul Reisner (que iria fazer sucesso anos depois na série de TV "Louco por Você"). Embora todos eles sejam talentosos o destaque principal do elenco é mesmo Mickey Rourke. Fazendo um jovem que se mete em apuros por dever a um apostador, Mickey rouba literalmente todas as cenas em que aparece. Com nuances à la James Dean, Rourke (na época apenas um jovem promissor vindo do Actors Studio) faz jus ao seu talento de bom ator. O roteiro é centrado em diálogos bem bolados do grupo de amigos que estão numa fase em que não são mais jovens demais e devem decidir o rumo de suas vidas (o título nacional resume bem a situação). Além disso é semi biográfico por parte do diretor Barry Levinson, que aqui narra histórias de sua juventude na sua querida Baltimore. Enfim, é um filme excelente para quem quiser conferir boas atuações, tudo com leveza e um fino bom humor

O Ano do Dragão
Um dos grandes sucessos de Mickey Rourke no mercado de VHS que naquele momento estava invadindo todos os lares aqui no Brasil e lá fora. A fita, um policial movimentado e com ares de fita de ação, caiu bem em cheio no gosto popular. O Ano do Dragão foi dirigido pelo cineasta Michael Cimino que já havia trabalhado com Mickey Rourke em um dos maiores fracassos de sua carreira: o caro e mal sucedido O Portal do Paraíso. O roteiro é de Oliver Stone, na época apenas um roteirista de sucesso que iria em breve estourar com o grande sucesso Platoon que mostrava as vísceras da Guerra do Vietnã. Curiosamente o policial interpretado por Rourke aqui também é veterano do Vietnã e odeia asiáticos em geral. Numa das cenas mais famosas ele desdenha de um oriental que tenta lhe explicar a importância da cultura milenar do oriente. Mickey Rourke surge em cena com os cabelos pintados de branco e seu personagem se chama Stanley White (branco) - seria mais uma reafirmação implícita do poder da raça branca sobre a amarela proposta discretamente por Oliver Stone em seu texto? Quem sabe o que se passava afinal na cabeça dele, só podemos mesmo deduzir sobre todas essa mensagens subliminares presentes no roteiro.

9 1/2 Semanas de Amor
Mickey Rourke foi um dos maiores símbolos sexuais do cinema nos anos 80. Sabia disso? Hoje ele está com sua aparência prejudicada por várias cirurgias plásticas mal realizadas mas há vinte anos o ator era considerado um sex symbol absoluto. Ele inclusive ditou moda no jeito de se vestir, andar, se comportar, sempre surgindo com barba por fazer dando aquele toque desleixado que as mulheres adoravam. Ninguém era mais cool do que Mickey Rourke em Hollywood. Esse "9 1/2 Semanas de Amor" foi feito para capitalizar em cima dessa imagem. Basicamente o filme não possui muita substância ou conteúdo, sendo mesmo uma produção que apela para a sensualidade, para o instinto do espectador. O roteiro tem ecos de "O Último Tango em Paris" pois as situações são muito parecidas entre si. Duas pessoas se conhecem, se envolvem e ignoram todos os demais fatores como convenções sociais, tabus e preconceitos. Eles se bastam a si mesmos. No fundo somos levados a presenciar apenas o encontro avassalador entre um homem e uma mulher que levam a paixão até suas últimas consequências. É em essência a adoração do corpo, do prazer sexual, sem culpa, sem mancha, sem medo. A paixão se bastando a si mesma. Como é um filme sensorial não existem grandes falas ou teses em debate, nada disso. A paixão não precisa ser intelectual, bastando a química funcionar entre os dois corpos e nada mais. Nada de conversas intelectuais ou algo do tipo. É de pele, calor, sensualidade, que o filme trata. Nesse ponto o diretor Adrian Lyne foi muito feliz pois realizou uma metáfora do desejo sexual livre de tabus ou sentimentos de culpa. Tudo muito simples. Um homem, uma mulher e a paixão que dura exatamente nove semanas e meia de amor. Tudo tão simples (e definitivo). Quem nunca passou por uma paixão assim? Essas geralmente são justamente as que mais duram pois a aventura traz um sabor todo especial para o libido tanto masculino quanto feminino. Casamentos são chatos e aborrecidos. Relacionamentos sérios demais também. Bom mesmo é se entregar de corpo e alma a momentos assim, sem se preocupar com o dia de amanhã! Depois desse filme Mickey Rourke fez filmes bem melhores como "Coração Satânico" ou "Barfly", por exemplo, mas nunca mais conseguu repetir o fenômeno comercial e social de "9 1/2 Semanas de Amor " que ficou em cartaz em São Paulo por anos a fio, se tornando o maior cult movie de sua carreira. As cenas viraram referências e influenciaram comercias de tv, videoclips e muito mais. Kim Basinger também nunca mais esteve tão bela e sensual como aqui. É aquela coisa, certos filmes se tornam a cara de uma geração justamente por terem sido realizados em determinada época. Esse é um caso típico. Amado por uns, odiado por outros, o fato é que a áurea de cult permanece intacta. Em sua simplicidade viril e instintiva o filme conseguiu atingir o público de forma muito especial. Era um reflexo da cultura sexual de sua época. Só isso já é o bastante para transformar a produção em um marco do cinema dos anos 80.

Coração Satânico
O filme definitivo de Mickey Rourke na década de 1980. Aqui ele interpreta o detetive de New Orleans Harry Angel que é contratado pelo misterioso Louis Cypher (Robert De Niro) para localizar um músico chamado Johnny Favorite que lhe deve algo (não se sabe o quê exatamente). Ao longo da investigação Angel vai descobrindo um sórdido mundo de feitiços, bruxarias e mortes. Sem entender exatamente o que está acontecendo ao seu redor ele cai em uma complicada teia de mentiras e falsas pistas que acabará o levando a descobrir um terrível segredo sobre si mesmo. Esse é seguramente um dos melhores filmes de Mickey Rourke onde tudo funciona excepcionalmente bem. O roteiro é um primor e a ambientação em New Orleans é simplesmente perfeita. A cidade, uma das mais interessantes dos EUA pois tem um cultura bem peculiar e própria, acaba virando também um dos principais elementos que rondam o mistério que o detetive Angel tenta desvendar. As cenas em que Rourke e De Niro contracenam são maravilhosas e ficaram marcadas como algumas das melhores do cinema dos anos 80. Robert De Niro inclusive colocou por conta própria vários elementos para a caracterização de seu personagem. Seu figurino, maquiagem, cabelos e trejeitos são criações do próprio ator. Aqui fica provado de uma vez por todas o excepcional talento do diretor Alan Parker em construir filmes marcantes e edificantes. Um cineasta bastante autoral que enfrentou ao longo de sua carreira vários problemas com os estúdios. Na época do lançamento o filme teve que lidar com a classificação etária por causa de cenas consideradas violentas ou explícitas demais. Há inclusive uma cena de sexo ardente onde as paredes começam a sangrar em profusão. O estúdio então ordenou a Parker que realizasse um novo corte para que o filme não se tornasse proibido a menores de 18 anos. Para evitar que isso acontecesse então Parker promoveu algumas alterações mas nada que maculasse o filme em si. Mesmo assim o resultado nas bilheterias não foi muito satisfatório. O tempo porém consagrou "Angel Heart" é hoje o filme é considerado uma obra prima, uma das melhores produções ao estilo noir feitas na era moderna. Cult por excelência, "Coração Satânico" é uma preciosidade, não deixe de assistir ou rever sempre que possível.

Prece Para um Condenado
Um dos melhores filmes da carreira de Mickey Rourke também é um de seus mais subestimados. Nesse excelente filme o ator interpreta um terrorista do IRA (Exército Revolucionário Irlandês) que entra em crise existencial após um atentado mal sucedido aonde pessoas e crianças inocentes morreram. Rourke ficou tão comovido pela luta dos irlandeses contra os ingleses que acabou tatuando a sigla do grupo em seu próprio braço. Nas filmagens deu entrevistas corajosas defendendo a causa do IRA mesmo sabendo que tais declarações iriam mais cedo ou mais tarde se voltarem contra ele. As filmagens não foram simples. Logo no primeiro dia de trabalho Rourke entrou numa série briga com um dos produtores executivos. Acontece que Mickey aceitou realizar o filme baseado em um roteiro que o estúdio queria mudar de última hora. Com medo de perdas financeiras os produtores queriam deixar a crise existencial do personagem de Rourke de lado para investir em mais ação. O ator ficou possesso. Numa das entrevistas que deu para a agência Reuters atacou o produtor do filme: "Esse cara pousou de pára quedas no primeiro dia de gravação e disse que o roteiro estava muito introspectivo e sem movimento. Então quis mudar tudo, tirando o drama para colocar cenas de tiroteio e ação. Era atroz! Ele queria um filme de Chuck Norris! Eu falei que se mudassem iria embora naquele mesmo dia. Se você estiver lendo essa entrevista saiba que você não passa de um imbecil!". A briga de Rourke pareceu surtir algum efeito mas os problemas com o filme continuaram. Pelo tema polêmico a produção enfrentou sérios problemas com o estúdio antes de seu lançamento. Foi proposta uma mudança de edição, numa tentativa de amenizar o tom provocativo do roteiro. Rourke entrou na briga novamente e foi aos jornais denunciar o que estavam fazendo com o filme. No meio da confusão o filme foi mal lançado e distribuído, o que talvez explique o fato de ser tão pouco conhecido. Rourke também ficou revoltado com o corte final dado pelos produtores. Em sua forma de pensar muito do potencial do filme foi simplesmente jogado fora. De qualquer forma a fita chegou ao mercado de vídeo no Brasil na época e alcançou um relativo sucesso em nossas locadoras no encalço de "Coração Satânico". Hoje é um filme complicado de se achar mas merece ser conhecido pelo tema importante e pela ótima atuação de Rourke, em um de seus momentos mais inspirados. Certamente poderia ter sido melhor se não tivesse enfrentado tantos problemas mas pela coragem de Rourke vale muito a pena ser redescoberto.

Barfly
"Barfly" (literalmente "mosca de bar") foi baseado nos escritos do autor maldito Charles Bukowski. Seu foco se concentra nos chamados "losers" da sociedade americana, os pobres, os marginalizados, os alcoólatras, as prostitutas e os moradores de rua. Ele própria definiu Barfly como uma crônica de muitas de suas noites de bebedeiras na juventude. Aqui Mickey Rourke encarna o próprio alter ego de Bukowski em uma caracterização brilhante que injustamente não foi indicada ao Oscar! Ele se despe de qualquer inibição e surge em cena barbado, gordo, decadente, bêbado. Contracenando com ele a grande atriz Faye Dunaway em delicada atuação. O filme tem um clima de melancolia e falta de esperanças que incomoda mas ao mesmo tempo consegue criar lirismo e afeição do espectador com os personagens, por mais complicados que eles sejam. Rourke para melhor atuar passou a frequentar o submundo de Los Angeles bem antes do começo das filmagens. Também procurou conhecer o autor. Em entrevista Mickey explicou que teve um certo receio em encontrar-se pessoalmente com Bukowski pois podia não ir com sua cara e isso prejudicaria sua atuação e o filme em si. Mas depois ponderou e decidiu que seria melhor o encontrar cara a cara. Depois de apresentações formais Rourke então o chamou para tomar todas num boteco perto do set de filmagens e assim acabaram se aproximando. Não demorou para que uma simpatia mútua surgisse entre eles. O filme foi dirigido pelo mestre Barbet Schroeder que já havia mostrado seu grande talento em vários filmes de grande sensibilidade emocional. Sua direção é concisa mas marcante. "Barfly" é uma produção indispensável para quem admira o trabalho de Mickey Rourke, um filme que é uma das maiores obras primas de sua filmografia. Imperdível.

Homeboy
Lutador fracassado de boxe tenta se redimir em sua vida profissional e afetiva participando de uma última luta decisiva em sua vida. "Homeboy" é provavelmente o filme mais pessoal da carreira de Mickey Rourke mas é pouquíssimo conhecido entre o público em geral. O roteiro foi escrito por ele usando de um pseudônimo (Eddie Cook). Quem apreciou "O Lutador" com o ator vai certamente apreciar também "Homeboy". Eu tenho uma entrevista antiga do ator feita no lançamento de "Coração Satânico" em que ele diz que seu próximo filme seria a realização de um de seus sonhos, um roteiro que mostrava a vida de um lutador de boxe fracassado que queria mostrar seu valor mas ao mesmo tempo era manipulado por um sujeito que queria ganhar as apostas das lutas que ele fazia. Pois bem era justamente de "Homeboy" que Rourke se referia naquela ocasião. Porque Mickey Rourke teve tanto interesse em filmar "Homeboy"? Ora. por causa da própria vida do ator. Ele tinha sido lutador de boxe antes de estourar como intérprete e tinha esse desejo de ter vencido no esporte que adorava. Infelizmente os palcos trouxeram a Rourke um meio de vida que o boxe não lhe proporcionava. Interessante é que após filmar "Homeboy" ele ficou tão influenciado pelo personagem que resolveu voltar aos ringues na vida real, volta essa que só durou algumas lutas já que sua idade não permitia continuar. O ritmo de "Homeboy" é lento, bastante contemplativo. Rourke desfila seu estilo próprio numa caracterização bem sutil. O filme foi dirigido por Michael Seresin, que havia trabalhado como diretor de fotografia de "Coração Satânico". O curioso é que esse aliás foi o único filme dirigido por Seresin pois ele na verdade sempre preferiu trabalhar como diretor de fotografia. Talvez essa falta de intimidade com a direção de atores tenha deixado "Homeboy" um pouco mais lento do que seria adequado mas mesmo assim nada que comprometa o resultado final. O elenco de apoio conta com a sempre interessante participação de Christopher Walken. Debra Feuer, a atriz que contracena com Rourke era sua namorada na época. Enfim fica a dica para os fãs de Rourke."Homeboy", um filme que diz muito sobre a vida e a personalidade do próprio ator. Uma produção pouco conhecida que merece ser redescoberta.

Francesco
Uma ideia no mínimo inusitada: colocar o ator outsider Mickey Rourke para interpretar São Francisco de Assis. O mais interessante é que tudo acaba dando certo. Rourke se mostra dedicado em cena encarnando um dos personagens mais importantes do Cristianismo, um homem rico de família influente que na Idade Média resolve largar tudo isso para se dedicar aos fundamentos mais profundos dos ensinamentos de Cristo: o amor ao próximo, a caridade, o despojamento do mundo material e a busca pela elevação espiritual. Seja você católico ou não o fato é que a história desse homem realmente impressiona. Na época Mickey Rourke foi bastante elogiado pela sua sensível atuação, principalmente na cena final quando o santo finalmente recebe os sinais de consagração que tanto almejava em vida.

Um Rosto Sem Passado
Um bom thriller de suspense e ação aonde Rourke interpreta Johnny Handsome (algo como Johnny "bonitão") um sujeito que muda seu rosto para fugir de seu passado de crimes e contravenções. Aqui Rourke foi dirigido pelo correto cineasta Walter Hill. Contracenando com ele a linda e muito sensual Ellen Barkin, na época no auge de sua carreira. A produção não fez muito sucesso nos cinemas mas conseguiu um relativo sucesso no mercado de vídeo quando lançado depois. Não é um filme com a mesma qualidade que Rourke vinha mantendo em sua carreira mas pelo menos é digno, não chegando a comprometer.

Orquídea Selvagem
Tentativa muito mal sucedida de reprisar o sucesso de Nove Semanas e Meia de Amor. Aqui Rourke se une ao roteirista do filme de Adrian Lyne para voltar ao velho argumento que tentava trazer para as telas uma sensualidade à flor da pele. Rodado no Brasil onde Rourke criou todo tipo de atrito com a imprensa local o filme não se traduziu em um bom produto. O roteiro é sem foco, disperso e cheio de furos. Não há uma boa estória e o personagem de Rourke é vazio e sem propósito. Nem a bonita presença de Jacquelne Bisset salva o filme de ser o primeiro grande abacaxi da carreira de Mickey Rourke. Esse pelo menos parece ter gostado das filmagens pois se apaixonou por Carré Otis, a modelo que era sua partner nas cenas mais sensuais. Anos depois se casaria com ela. No final Wild Orchid não fez o menor sucesso, apesar de que no Brasil conseguiu uma melhor repercussão em termos comerciais.

Horas de Desespero
Refilmagem de um antigo sucesso com Humphrey Bogart. No filme Rourke interpreta um dos assaltantes que invadem uma casa e fazem seus moradores de reféns. Contracenando com ele o grande Anthony Hopkins. Dirigido pelo cineasta Michael Cimino (o mesmo de O Ano do Dragão) o filme tentava repetir o bom resultado do anterior. Apesar da boa produção e dos diálogos bem trabalhados o filme não conseguiu alcançar um bom resultado comercial. Além disso em decorrência dos constantes atritos de Rourke com a imprensa ele acabou sendo "premiado" com uma indicação ao Framboesa de Ouro por sua atuação aqui. Certamente uma injustiça pois sua atuação é correta, sem máculas. O que pareceu mesmo foi tudo não passar de um ato de vingança dos jornalistas contra Rourke por algumas de suas atitudes fora das telas.

Harley Davidson & Marlboro Man
Depois de vários anos revi esse filme cujo nome mais parece comercial de empresas: Harley Davidson & Marlboro Man. Curiosamente não parece ser o caso pois as próprias empresas colocaram um aviso logo no começo do filme explicando que não se tratava de marketing disfarçado. Na realidade o uso dessas marcas vem de encontro à proposta de se criar personagens de estilo. Tanto o Cowboy (Don Johnson) quanto o Motoqueiro (Mickey Rourke) são apenas estereótipos na realidade. O mesmo vale para os bandidos, em casacos de couro à la Matrix eles também são puro design, sem qualquer tipo de profundidade por trás. O filme foi dirigido por Simon Wincer que havia se destacado pelo estranho filme "DARYL" e que curiosamente iria dirigir seu maior sucesso após esse aqui, o filme sessão da tarde "Free Willy". "Harley Davidson & Marlboro Man" é uma fita assumidamente simples (apesar de todo o estilo) e investe basicamente em várias cenas de ação - com destaque para o salto na piscina em um hotel de Las Vegas e o tiroteio em um cemitério de aviões da força aérea americana. Mickey Rourke e Don Johnson estão em seus tipos habituais. Na verdade fizeram o filme porque a carreira de ambos começava a declinar e tentavam emplacar um sucesso de bilheteria. Não conseguiram. O filme rendeu pouco e não conseguiu se pagar nos cinemas (a coisa só melhorou um pouco depois no mercado de vídeo). Enfim é isso, apesar de ter sido rodado nos anos 90 o filme mais parece um produto da década de 80. Se você gosta de filmes daqueles anos pode se divertir sem problemas.

Areias Brancas
Depois de alguns fracassos de bilheteria Mickey Rourke tentou recuperar o antigo sucesso com mais um thriller de ação e suspense. O filme foi dirigido pelo bom cineasta Roger Donaldson. Mickey Rourke interpreta um perigoso traficante de armas e drogas que é caçado por um xerife feito por Willem Dafoe. O elenco ainda contava com Samuel L. Jackson em boa atuação como um agente federal também em busca de Rourke. O filme tem bom ritmo e excelentes tomadas de ação. É um policial dos bons mas infelizmente não conseguiu alcançar bom resultado comercial. Chegou a ser lançado nos cinemas brasileiros mas também repetiu o resultado morno das bilheterias norte-americanas.

FTW
Produção classe B com Rourke no meio do universo country norte-americano. O título do filme, as iniciais FTW (Fuck The World), foram consideradas de extremo mal gosto na época. O roteiro foi escrito pelo próprio Mickey Rourke que trouxe para dirigir o filme o desconhecido Michael Karbelnikoff. Não conseguiu espaço nos cinemas brasileiros sendo lançado diretamente no mercado de vídeo. O argumento não é dos melhores. Rourke interpreta Frank Wells que após um período na prisão tenta reerguer sua vida como peão de rodeios. Apesar de curioso por explorar esse mundo de competições de rodeio o filme não consegue decolar, não conseguido atingir qualquer repercussão, seja do público, seja da crítica.

Brincando com o Perigo
Mais uma tentativa de Rourke em voltar a realizar bons filmes. A produção B tem jeito de telefilme e Rourke aceitou trabalhar por um cachê bem abaixo do que ele vinha recebendo desde então. Apesar das boas intenções o filme não funciona. Lidando com roubos a bancos, quadrilhas de assaltantes e muita ação a fita não consegue convencer. Apesar disso até que conseguiu um modesto resultado nas bilheterias americanas embora no Brasil não tenha conseguido espaço no circuito comercial ficando inédito por aqui.

Bullet
Outro filme que segue praticamente desconhecido do público brasileiro. É uma modesta produção rodada em Nova Iorque. No filme Rourke interpreta um ex presidiário (de novo?) que se torna joalheiro no Brooklin, um bairro negro da cidade. O que vale mesmo aqui é o elenco de apoio que conta com os bons Adrien Brody e o rapper Tupac Shakur que depois seria assassinado se tornando um ídolo do gênero musical que o consagrou. Tupac era amigo pessoal de Rourke e esse sentiu bastante sua morte.

Traído Pela Paixão
Péssimo filme que Rourke só topou fazer por causa do cachê mesmo. Na trama ele interpreta o psiquiatra Ed Altman que se vê envolvido em uma teia de conspirações de assassinato e morte envolvendo seus pacientes. O roteiro chato e confuso não leva a lugar nenhum. O filme ainda tenta extrair alguma sensualidade de algumas cenas mais sensuais mas tudo é em vão. Um dos piores momentos de Rourke em sua carreira. Essa é outra produção com Mickey Rourke que permaneceu inédito no Brasil sendo desconhecido do grande público.

A Colônia
Com a carreira em frangalhos Mickey Rourke aceitou dar uma força ao amigo Jean Claude Van Damme participando desse filme. Ser vilão em filmes de pancadaria com Van Damme não era bem o que se esperava do "ex-futuro Marlon Brando" mas como ele vinha de uma sucessão de filmes sem expressão até que trabalhar nesse tipo de filme, que era muito popular na época, não parecia assim uma má idéia. De qualquer forma a Colônia tem seus méritos pois foi dirigido pelo cineasta Hark Tsui um mestre no gênero. A produção fez relativo sucesso e serviu para lembrar aos produtores que Rourke ainda era um nome a se levar em conta na escalação de elenco de filmes populares, pelo menos.

9 1/2 Semanas de Amor 2
Em uma tentativa desesperada de emplacar algum sucesso em sua cambaleante carreira, Mickey Rourke aceitou fazer essa continuação de um de seus maiores sucessos. O projeto soava como oportunismo puro e tirando Rourke nenhum membro do filme original estava envolvido. Nenhum sinal de Kim Basinger ou Adrian Lyne. Como era de se esperar de um filme assim tudo deu errado. Foi massacrado pela crítica e um tremendo fracasso de bilheteria. Mesmo que a produção procurasse ser de bom gosto, com finas locações em Paris nada conseguiu salvá-la do desastre completo. Rourke continuava sem sorte e com o nome associado a filmes que não conseguiam fazer sucesso nos cinemas.

O Homem Que Fazia Chover
Nessa altura da carreira Mickey Rourke tinha duas opções a seguir: continuar a estrelar produções B em que seu nome aparecia como o astro principal ou aceitar fazer personagens coadjuvantes em filmes melhores. Felizmente ele tentou o segundo caminho aqui. Fazendo um papel secundário nesse excelente drama de tribunal dirigido pelo grande diretor Francis Ford Coppola. O personagem de Rourke é um presente após tantos filmes sem expressão. Aqui ele interpreta um advogado "tubarão" chamado Bruiser Stone. Um profissional nada ético que vive de dar golpes em seguradoras. O Homem Que Fazia Chover foi um oásis no meio dos filmes de segundo escalão que Rourke vinha participando. Um de seus melhores momentos em anos nas telas.

O Implacável
Mickey Rourke volta a ser vilão em um filme de ação. Aqui ele é o antagonista para o astro Sylvester Stallone. O filme é um remake de um antigo filme estrelado por Michael Caine. O personagem de Rourke, Cyrus, não é muito relevante. Na realidade a produção foi uma tentativa de levantar a carreira de Stallone que parecia ter perdido o brilho para excelentes bilheterias. Aqui ele está em cena com um cavanhaque fora de moda em atuação muito fraca. O filme não fez sucesso e foi mal recebido pela crítica. Como o personagem de Rourke não era central ele pelo menos foi poupado de ser acusado de ser o culpado por mais esse fracasso em sua filmografia.

A Promessa
Curiosamente um filme que apesar de seus méritos segue pouco conhecido e comentado. Em "A Promessa" o diretor Sean Penn mostra que tem bastante talento em contar enredos edificantes. Jack Nicholson está excelente na pele do policial Jerry Black, um sujeito que em plena aposentadoria resolve solucionar o último caso de sua carreira, custe o que custar. O filme lida com um serial killer pedófilo especializado em assassinar garotinhas de nove anos. Seu modus operandi é sempre o mesmo e com base nisso o personagem de Nicholson não medirá esforços para pegar o verdadeiro assassino. Sua caça beira às raias da obsessão pessoal e o diretor joga muito bem com essa dualidade, deixando o espectador sem saber se o tira está realmente chegando perto do verdadeiro psicopata ou se está simplesmente enlouquecendo! O elenco é excepcionalmente bom. Jack Nicholson deixa seus personagens de sorriso maluco para trás e aqui interpreta um sujeito sério, um tanto angustiado e pouco amistoso. Seu trabalho é contido e na minha opinião de excelente nível. Já o elenco coadjuvante conta com nomes especiais. O principal deles é Mickey Rourke. Contracenando pela única vez ao lado de Jack em uma cena muito tocante (embora de curta duração). Vanessa Redgrave, Helen Mirren, Harry Dean Stantom e Benicio Del Toro também marcam presença, com participações pequenas mas importantes dentro da trama. É isso, "A Promessa", dez anos após seu lançamento, merece ser revisto mais uma vez pois funciona tanto como policial como drama existencial. Assista!

Spun - Sem Limites!
Filme com edição alucinada que retrata a vida de um grupo de viciados em drogas pesadas como Metanfetamina. Mickey Rourke faz o papel de um "cozinheiro" da droga que acaba tendo problemas com o "cozimento" da mesma. Spun é uma produção estranha, com personagens bizarros em excesso. Talvez por isso tenha chamado certa atenção da crítica especializada. Era para ser um documentário mas o diretor acabou optando por criar uma filme ao estilo convencional. Produção independente feita com doações de amigos do cineasta Jonas Åkerlund, Spun acabou permanecendo inédito no Brasil mas conseguiu espaço na TV a cabo sendo exibido pelos canais HBO.

Sin City
Muitos atribuem o renascimento da carreira de Mickey Rourke ao filme O Lutador. Antes disso esquecem que Rourke fez esse Sin City, filme que teve grande repercussão, levantando a carreira de Mickey de uma forma muito positiva. Baseado em famosa Graphic Novel, Sin City mostra várias estórias paralelas, uma delas focada em Marv (Mickey Rourke) um sujeito durão mas de bom coração. Sob forte maquiagem o ator realizou uma excelente caracterização de seu personagem. Ao lado de outros astros (Bruce Willis, Clive Owen) contribuiu para o grande sucesso de público e crítica da produção. O filme rendeu mais de 250 milhões de dólares e reconciliou Rourke com os grandes sucessos de bilheterias após vários anos de vacas magras nesse aspecto.

O Lutador
O filme que marcou o verdadeiro renascimento artístico do ator Mickey Rourke. Com roteiro sensível e humano e direção do talentoso cineasta Darren Aronofsky, O Lutador se tornou um dos filmes mais badalados de 2008. Aqui Mickey Rourke interpreta o tocante papel de Randy 'The Ram' Robinson, um decadente lutador de luta livre cuja glória há muito passou em sua vida. Vivendo de empregos medíocres Randy tenta reencontrar a felicidade e o caminho do sucesso de outrora. O argumento obviamente trazia muitas semelhanças com a própria vida de Mickey Rourke que conheceu ao longo de sua vida tanto a glória como o fracasso completo. Desprezado ousou manter sua dignidade intacta mesmo quando todos o abandonaram. A interpretação de Mickey Rourke aqui foi realmente fenomenal e valeu a ele indicações aos principais prêmios do cinema. Venceu o Globo de Ouro de Melhor Ator mas perdeu o Oscar para Sean Penn apesar de ter sido apontado como o favorito. Não faz mal, O Lutador é uma obra prima que trouxe de volta ao primeiro time esse ator tão especial.

Homem de Ferro 2 
Depois de vários dias hoje finalmente consegui assistir Homem de Ferro 2. Não tive nenhuma surpresa. O filme é praticamente igual ao primeiro com apenas algumas inovações, algumas bem desperdiçadas. O mais gritante foi a falta de aproveitamento de Mickey Rourke no filme. Veja, geralmente em filmes baseados em quadrinhos os vilões acabam roubando o show. Foi assim em Batman e por isso eu esperava que algo parecido acontecesse aqui. Me enganei. Mesmo tendo no elenco um ator de primeira fazendo o vilão nada ou muito pouco foi aproveitado. Mickey tem poucas cenas onde teria oportunidade real de mostrar seu talento. Infelizmente nem mesmo seu confronto com Robert Downey Jr na cena da cela é aproveitada. Enfim, um tremendo desperdício. Se as cenas são tão escassas e vazias não precisava chamar um ator do quilate de Mickey Rourke, qualquer ator comum daria conta do recado. Além disso não gostei de Robert Downey Jr. Esse ator anda extremamente repetitivo em suas atuações, cheio de maneirismos pessoais o que não acrescenta em nada ao filme. Talvez tenha sido os anos de abuso em drogas mas o fato é que Robert não consegue sair do tipo estressadinho, nervosinho, prestes a dar um chilique. Ele já foi bom ator no passado mas depois que saiu a fazer um blockbuster atrás do outro virou um intérprete vazio, repetitivo e o que é pior, muitas vezes ignorando completamente o personagem que está interpretando. No fundo ele só faz um papel sempre, o dele mesmo em cena. Não importa se é o Homem de Ferro ou o Sherlock Holmes, Robert Downey Jr sempre surge como Robert Downey Jr em qualquer filme que faça. Achei que o filme também não cumpriu as expectativas no quesito Efeitos Especiais. Todas as principais cenas com o Homem de Ferro são mostradas à noite onde pouca ou quase nada se vê (geralmente só se consegue visualizar pontos de luz indo de lá pra cá). Os robôs vilões também são outra decepção. Seu visual é completamente ultrapassado e retrô, nada originais. Em relação ao restante do elenco não há muito o que dizer: Gwyneth Paltrow está patética, dando gritinhos nervosos a todo momento, se tornando aborrecida e irritante e Scarlett Johansson entra muda e sai calada (sua dublê até que luta direitinho). Enfim, o diretor Jon Favreau realizou um filme burocrático, quase uma cópia fiel do primeiro (com efeitos especiais inferiores) De maneira geral achei um filme bem clichê, sem nenhum traço de personalidade.

Os Mercenários
Stallone não desiste. Já prestes a entrar na terceira idade o ator não se rende ao peso dos anos, sempre procurando se reinventar. Quem diria que nessa altura de sua vida ele conseguiria emplacar uma nova franquia de sucesso? Pois é, ele conseguiu. Se não já bastassem as franquias Rocky e Rambo, o idoso astro emplaca agora mais esse "Os Mercenários". De certa forma o grande problema aqui é o atraso. Essa produção deveria ter estreado há 25 anos pelo menos, em pleno anos 80. Se tivesse sido lançado naquela época seria um estouro certamente. Maior do que foi agora. Claro que na época seria impossível reunir tantos astros de ação em apenas um filme pois na década de 80 eles ganhavam cachês milionários (algo que hoje em dia não se repete mais). Lançado agora o filme soa apenas como uma aventura retrô, com muita testosterona mas pouquíssima qualidade cinematográfica. De certa forma ele só funciona como produto de nostalgia para quem era jovem ou criança na década de 80 e cresceu assistindo aqueles filmes violentos de ação de Stallone e cia. É curioso porque naqueles tempos Stallone lutava muito para trazer melhores roteiros para seus filmes que sempre eram criticados severamente nesse aspecto. Em uma atitude quase de mea culpa Stallone literalmente jogou o balde aqui e resolveu assumir esse tipo de defeito em "Os Mercenários" pois o roteiro é tão fraquinho! Basicamente se trata de uma premissa bem básica para servir de estopim para a pancadaria e as pirotecnias habituais. Praticamente não há atuação ou qualquer argumento mais trabalhado. O único ator que traz alguma coisa próxima de uma "atuação" é Mickey Rourke (em determinada cena ele mostra seu grande talento e declama o texto mais longo do filme enquanto Stallone fica olhando com cara de bobão). Há ainda a reunião tão falada dos três maiores ícones dos filmes de ação dos anos 80: Sylvester Stallone, Arnold Scharzenegger e Bruce Willis. Para quem é fã do estilo isso era algo esperado há muitos anos. A cena em si é até bacaninha mas menos engraçada ou marcante do que poderia ser. O resto do filme é pura action movie ao estilo anos 80 (muito tiro, chute, explosões e inimigos morrendo a atacado). Quando o personagem de Stallone resolve matar ele detona uns 400 caras de uma vez só! Me lembrou até de "Comando Para Matar" o mais exagerado filme daquela década. É aquele tipo de coisa que todo já viu e reviu muitas e muitas vezes, então sem surpresas. Senti falta também de vilões melhores. Eric Roberts é muito sem expressão e o general do terceiro mundo (obviamente uma caricatura) não consegue ser marcante. No mais uma curiosidade: nos últimos 25 minutos de filme quase não há diálogos - só porrada. É isso, "Os Mercenários" é um filme da década de 80 que não foi produzido nos anos 80. Vale como nostalgia mas com cara de prato requentado. E que venha a continuação agora, com o Chuck Norris! Pelo menos promete ser bem mais divertido do que esse primeiro.

Passion Play
Acabei de conferir esse bizarro, para dizer o mínimo, filme. Eu sinceramente gostaria de conhecer o produtor que teve a coragem de investir tempo e dinheiro em uma coisa tão idiota como essa! O argumento não tem a menor lógica: Garota com asas, Megan Fox (que atriz péssima, vou te contar), é resgatada de um circo de quinta categoria por um músico fracassado (Mickey Rourke, totalmente deformado e com um figurino de assustar de tanto mal gosto). Juntos iniciam um romance de meia tigela que não convence ninguém - e pra piorar são perseguidos por um criminoso local (Bill Murray, em péssima atuação - será que o sujeito tá falido pra entrar em um mico desses?). A produção é ridícula - totalmente fake, com uso de pavorosos efeitos (ou seria defeitos) especiais. Lamento por nomes como Mickey Rourke e Bill Murray estarem no meio desse abacaxi. Mickey inclusive já soltou farpas contra o filme em algumas entrevistas dizendo que é uma bomba. Devo discordar dele, o filme não é apenas uma bomba mas sim uma bomba nuclear! Já a Megan Fox é uma coisa mesmo. Provavelmente seja a atriz mais medíocre do mundo - não consegue fazer uma expressão convincente - a mulher é uma pata!. Ver ela ao lado de Mickey Rourke é uma coisa mais bizarra que o próprio filme. Em poucas palavras: Passion Play é um pavor de ruindade. Lixo!

13
Vamos aos fatos: quando esse filme foi anunciado eu pensei sinceramente que fosse uma tremenda porcaria. Bom, as aparências enganam. Como fui com expectativas baixas acabei me surpreendendo de forma positiva. Eu pensei de forma equivocada que a simples presença de Jason Statham no elenco já qualificaria o filme como mais uma de suas fitas de pura ação sem cérebro. Estava errado. O filme é um thriller rápido mas envolvente que mostra um tenebroso torneio de roleta russa no submundo de Chicago. Grande parte do filme realmente gira em torno da tal "competição" e por isso muitos bons atores que estão no filme realmente não tem grande coisa a fazer em cena. Mickey Rourke, por exemplo, pouco acrescenta, não passando de um coadjuvante de luxo. Mais deformado do que o habitual o ator novamente desfila sua coleção de roupas e acessórios bizarros e apesar de seu personagem prometer muitos nas cenas iniciais não se desenvolve, desaparecendo sem alarde no terceiro ato do filme, o que não deixa de ser algo decepcionante do roteiro. Para quem gosta de seriados, duas surpresas: as presenças de David Zayas (de Dexter) e Alexander Skarsgård (o vampiro de True Blood). Ben Gazarra, muito envelhecido, também dá o ar da graça assim como o rapper 50 Cent (que é péssimo ator). Enfim, o filme é bom apesar disso e tem um final realista e cruel que acrescenta muitos pontos em seu saldo final. Vale a pena conferir.

Imortais
Fui assistir a esse filme com o fiasco de "Fúria de Titãs" na cabeça. Por isso não tinha a menor fé em nada - pensei que seria mais um lixo Hollywoodiano. Para minha surpresa acabei achando interessante. Talvez por estar com expectativas quase a zero acabei ao final achando um blockbuster decente. Obviamente não aconselho aos estudiosos de mitologia grega, esses ficarão desapontados. O roteiro toma enormes liberdades com os mitos originais. Teseu, por exemplo, virou um rebeldinho revoltado, sem consistência. Monstros famosos como o Minotauro foram relegados a um simples grandalhão com máscara de touro feito de gravetos e por aí vai. O que salva "Imortais" do desastre é em primeiro lugar a linda direção de arte do filme e em segundo a presença sempre muito bem-vinda do ator Mickey Rourke. O filme é o que gosto de chamar de produção de luxo. Claro que praticamente todo ele foi gerado digitalmente mas mesmo assim achei tudo de muito bom gosto, sua fotografia em tons dourados, as cores gritantes das capas e uniformes. Até mesmo o figurino, que foi tachado de brega e excessivo em algumas resenhas, acabou me agradando. Já Mickey Rourke é um capítulo à parte. Esse é o tipo de ator forjado no Actors Studio que consegue sobreviver a (quase) tudo. Não escondo de ninguém que sou admirador de carteirinha dele. Aqui temos o típico caso de ator maior que o filme. Seu personagem, o rei Hyperion, não é nem melhor e nem pior que outros vilões que enchem os blockbusters americanos todos os anos, a diferença é que Rourke declama até os mais simples diálogos com cuidado, capricho, e isso é sem dúvida uma grande diferença com os canastrões de hoje em dia. E por falar em canastrão o tal de Henry Cavill (que faz Teseu) é de uma nulidade gritante. Sem carisma, mono facial e sem graça quase leva tudo a perder. Se não fosse Rourke segurando as pontas o quesito atuação do filme seria simplesmente desastroso. Enfim, gostei de Rourke, da direção de arte e do bom gosto. Desgostei do Cavill, dos deuses (medíocres) e dos Titãs (esses últimos parecem zumbis de quinta categoria). Apesar de tudo no fim das contas vale uma espiadinha.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Morte na Ravina - Parte 2

Morte na Ravina - Parte 2
Era muito cansativo ser da cavalaria dos Estados Unidos. Além do risco de levar uma flecha em qualquer lugar, havia ainda as longas cavalgadas. Isso destruía a coluna de qualquer mortal, mesmo que você fosse jovem e com boa saúde. O ser humano simplesmente não nasceu para ficar tantas horas na sela de um cavalo, no meio daquele deserto horrível, onde só viviam as cobras e os lagartos. E o calor era infernal. O suor descia em cascatas por trás do chapéu azul da cavalaria. As mãos, dentro das luvas, ficavam ensopadas com aquele clima horrível! 

Por isso quando a oitava cavalaria foi designada para um território longe demais, nenhum dos soldados comemorou. Era mais uma cavalgada infernal, mais uma viagem rumo ao deserto infame. Só que dessa vez eles tiveram uma surpresa. Foram parar em um lugar até muito bonito. A fronteira entre o território onde os apaches foram levados e o território do homem branco que a cavalaria deveria defender, não era muito distante.

Havia duas colinas separando os dois mundos. No meio das duas colinas havia um lindo rio das águas mais limpas que você possa imaginar. Essas águas vinham direto das montanhas. O rio era formado do degelo da neve do alto dessas montanhas. Era uma coisa linda de se ver. O rio era azul feito o céu. Os soldados lhe deram o nome de Blue River. 

Como estavam cansados demais, tiveram autorização de seus oficiais para tirarem suas roupas, para nadar naquelas águas maravilhosas. Só uma coisa eles não deveriam fazer: beber diretamente do rio. Só podiam fazer isso depois de ferver a água. Precaução contra doenças, estava no manual do soldado americano. 

Nadar naquelas águas era uma maravilha e todos se renderam a elas. Quer dizer, todos não. O comandante ficou firme em seu cavalo. Depois desceu e se encostou preguiçosamente em uma pedra. E ele não conseguiu esconder o prazer de estar em um lugar tão bonito! Ainda mais para um sujeito que acabara de chegar de um lugar de morte e destruição. Não fazia muito tempo estava coordenando seus homens no enterro dos militares da sétima cavalaria, mortos na emboscada às tropas do General Custer. Ele mesmo havia participado do reconhecimento do cadáver do general. 

Sair daqueles campos da morte para depois ir parar em lugar de cartão postal como aquele era mais do que bem-vindo, era uma maravilhosa consolação. Ele então se deitou e relaxou. Parecia muito relaxado. Estava em paz consigo mesmo. Tirou as luvas cheias de poeira do deserto e as colocou de lado. Ele poderia morrer ali mesmo, nunca mais sair daquele paraíso, que para o velho militar estava tudo bem. Estaria tudo justificado. 

Para um homem de 50 anos, já sentindo o peso da idade, era mais do que agradável ficar ali vendo aquelas belas águas azuis. Só que nem ele e nem seus homens prestaram a devida atenção pois no alto da colina dos índios, começavam a chegar mais e mais guerreiros Apache. A coisa estava prestes a mudar. 

O único som que se ouviu foi a da flecha cortando o ar... 
Ela saiu do alto da colina e foi direto ao alvo, nas costas de um dos soldados...

O ataque havia começado...

Pablo Aluísio. 

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Clinton, o Rebelde - Parte 2

Clinton, o Rebelde - Parte 2
Clint ainda estava na escola. Ele odiava a escola. Não que fosse um cara burro, mas justamente o contrário. Achava tudo maçante. Ele era inteligente, mas parecer inteligente demais na escola poderia ser perigoso. Ele poderia apanhar por isso. Por isso fingia ser um cara burrão. Um cara forte, sempre pronto a fazer piadas estúpidas com outras pessoas. E como havia sido criado numa família tóxica ele não via nada de errado em detonar os menos afortunados. Ele era um cara escroto, tenha certeza disso. 

Tirava onda com as garotas gordas, os caras magros, qualquer um que não se enquadrasse em um certo padrão. Ele era muito mais alto do que os demais. Tinha quase dois metros de altura. Seu porte chamava a atenção. Um cara brutal, mas ao mesmo tempo com traços delicados no rosto. Poderia ser chamado de um baby face com corpo de brucutu. Isso o poupou de virar alvo de piadas na escola. Quem iria se meter com um grandalhão daqueles?

E no meio da tempestade que era a adolescência, ele se apaixonou por uma garota da escola. O nome dela era Anne. Olhando para o passado não poderíamos dizer que a Anne era uma beldade. Não era. Ela tinha um nariz de suíno e não curtia muitos hábitos de higiene. Era uma falsa loira. No fundo tinha sangue de índios, mas pintava o cabelo e se passava por loira. Clint tinha queda por loiras. Mesmo com as falsas...

Quando se está apaixonado não se vê bem a realidade. Como olhos de catarata você passa a ver tudo de forma embaçada e escura. A Anne não era nenhuma beleza. Tinha pés de crocodilo e não era das minas mais inteligentes da escola. Chegou a tirar um redondo zero na prova de química. Mas é a tal coisa, quando se está sem ninguém, qualquer uma passa a ser interessante. Clint não tinha muito jeito com garotas e ela não era muito inteligente. Mal sabia conversar direito. Por isso as chances de dar certo aquele relacionamento era zero. E terminou assim mesmo, no zero a zero! 

Por um tempo Clint ficou louco por cinema. Ele iria ser louco por cinema a vida toda, mas aquela era uma época especial tanto no mundo do cinema como no mundo da música. Ele curtia arte, acima de tudo. Adorava James Dean e Marlon Brando e era especialmente aficionado pelo tal de Elvis Presley. O cara era demais, unia a imagem dos rebeldes do cinema com a força de sua música. Quem não gostava de Elvis nos anos 50 não era boa praça. 

Clint adorava e mesmo sem ter muita grana procurava comprar todos os discos que encontrava. Tinha uma loja de discos no centro de sua cidade que se chamava Eletropieces e ele estava sempre procurando discos do Elvis na sessão de discos em promoção. Comprou quase toda a sua discografia por lá. Fez uma boa base. Depois foi comprando discos que surgiam do nada. Achou uma boa coleção de discos em caras que vendiam vinil nas ruas mesmo. Ele comprava tudo, embora com uma certa vergonha de comprar discos daquele jeito. Mas não importava, o legal era ter os discos. Colecionar algo lhe trazia grande prazer pessoal. Era um hobbie dos mais agradáveis para a alma. 

Pablo Aluísio.

Clinton, o Rebelde - Parte 1

Clinton, o Rebelde 
O ano é 1956. Em uma cidadezinha do meio oeste dos Estados Unidos vivia o jovem Clinton. Um cara normal, mas com problemas a mais do que um jovem comum que vivesse em uma família que não fosse tão disfuncional como a dele! 

Clinton não aguentava mais seus familiares. Ele era o mais jovem de dois irmãos. Esse não era realmente o problema. O problema era a família do pai dele. O pai era um dos doze filhos de um velho fazendeiro do interior. Um sujeito tosco, que cuspia no chão. Clinton sempre desconfiou que seu avô tinha algum problema mental. e pela histórias de abusos físicos e mentais que ele ouviu durante toda a sua vida, isso era bem provável de ser verdade. A questão é que por isso seu pai cresceu com problemas emocionais também. 

O pai de Clinton era um autêntico filho da puta! Era um sujeito que vivia do ódio. Ele podia ficar dias sem falar com sua esposa e nem seus filhos. Estava sempre ameaçando sair de casa, deixando todos na miséria. Ninguém realmente gostava daquele sujeito sórdido. Ele aprendeu a ser sórdido com o próprio pai, aquele miserável que estava morto, apodrecido em algum caixão. O velho vinha de uma tradição de miseráveis bastardos. Na pequena cidade onde cresceu todos diziam odiar aquela família. Ninguém gostava deles. Eram vilões, gente ruim, sangue ruim. Ninguém realmente prestava naquela família dos infernos. 

Clinton amava artes. Ele era tão diferente daqueles parentes nojentos dele. Ele queria ser escritor ou artista, mas vivia sendo massacrado. O pai estava morrendo de câncer. O pior é que apesar de estar no bico do corvo continuava sendo o mesmo desgraçado de sempre. A alma era podre. O corpo estava podre agora, também. Não havia salvação para aquele desgraçado filho de uma puta, neto de Lúcifer. Gente ruim, sangue ruim, nem o cemitério queria. Quando morresse era melhor jogar na caçamba de lixo. Era o adequado a fazer. Clinton sabia que seu pai e os parentes familiares eram apenas isso, lixo putrefato! 

- Malditos desgraçados, dizia rangendo os dentes...

Pablo Aluísio.