terça-feira, 20 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 39

Olhando para trás Rick Stanley, como uma das últimas pessoas que viram Elvis com vida, tem sua própria teoria sobre os últimos momentos do cantor. Ele relembra: "Muitas vezes eu tinha visto Elvis fora de si quando ia ao banheiro, ficava sentado e caía. Eu tinha que levantá-lo quando aquilo acontecia. Muitas vezes. E esta é a minha teoria sobre a morte de Elvis. Veja, aquele tapete grosso amarfanhado. Grande, grosso. Naquela noite, quando ele caiu para frente, sendo tão pesado, e estando fora de si, não conseguiu levantar-se com suas próprias forças. E sufocou no tapete. Se voltasse lá eu o teria encontrado e salvo sua vida. Mas ele estava abusando muito das drogas. Eu penso que posso dizer que tinha comigo Demerol suficiente para topar Whitehaven (um subúrbio de Memphis) inteiro. Mas em vez de voltar eu fui para meu quarto e afundei. Daí em diante fiquei meio entorpecido. Para o meu padrasto, quando Elvis morreu, era o fim de nosso relacionamento. Bem depressa eu recebi um pedido para deixar a mansão. "Nós não precisamos mais de você!" foi o que Vernon disse. Ele avisou que me daria o salário de duas semanas e que eu podia ir embora de uma vez. Alguém disse uma vez que as três palavras que ele mais ouviu no mundo civilizado eram Jesus, Elvis e Coca-cola. Hoje dou palestras para jovens que sofrem de problema de dependência química e lhes conto a história de Elvis. Quando você pára e pensa em usar toda a fama de Elvis para algo nesse sentido, bem aí está um final feliz. Eu penso que ele gostaria disso".

Voltemos no tempo. Manhã de 16 de agosto de 1977. O sol do amanhecer já está alto, a luz solar entra pela pequena fresta da janela do banheiro e desliza suavemente sobre um corpo que jaz no chão do pequeno ambiente. O corpo está retorcido, em posição fetal. O rosto está congestionado de sangue, a expressão é de intensa dor, com o semblante registrando o exato momento em que seu organismo sofreu o ataque fulminante, o instante final congelado no tempo em sua hora fatídica. Não há reação aparente, não há som, nada se ouve, apenas a doce e suave vibração do último suspiro. O último grito abafado de socorro não foi ouvido. Tragicamente e ironicamente o ambiente luxuoso em que aquele homem sempre viveu abafou o barulho de sua queda ao sofrer o colapso cardíaco. Nenhum som fora do normal foi notado, ninguém percebeu, ninguém saiu de seus afazeres cotidianos para lhe socorrer, sua queda final passou despercebida. Assim como muitos de sua idade o sujeito caído no chão encontrou sua hora final ao sofrer um ataque do coração fulminante, que sequer lhe deu a chance de lutar por sua vida. Em questão de segundos ele perdeu a consciência e foi ao chão, retorcido de dor. A língua trincada entre os dentes é apenas a manifestação física de um colapso do qual quase nunca se volta. O último segundo de vida lhe fugiu de forma fugaz, efêmera. O Tempo deixa de existir e não tem mais sentido. Era o fim.

Tudo seria banal se aquele homem que acabara de sofrer um ataque não fosse uma das pessoas mais famosas do século XX: Elvis Presley. Sim, aquele corpo que lutava pela sobrevivência e que agora sentia o último sopro de vida lhe escapar em questão de segundos era o do outrora afamado Rei do Rock. O silêncio reinante só foi quebrado quando a namorada de Elvis na ocasião, Ginger Alden, bateu levemente na porta do banheiro. "Elvis?" - perguntou ela. Sem resposta abriu a porta e se deparou com a cena adversa. Em um primeiro momento ela não entrou em pânico. Apesar de Elvis estar estendido no chão Ginger teve uma reação típica de quem já havia passado por essa situação antes. Para aqueles que conviveram com Elvis em seus anos finais, o fato dele perder a consciência em razão do uso abusivo de remédios já não significava nenhuma novidade. Apesar de ser uma situação aflitiva e fora do normal, para Elvis em sua última etapa de dependência química, isso havia virado uma macabra rotina. "Será que bateu com a cabeça?" - perguntou a si mesma Ginger enquanto tentava virar o corpo inerte do cantor. Quando finalmente ela conseguiu visualizar seu rosto congestionado, roxo, sem nenhuma reação ou sinal de vida, percebeu finalmente a gravidade da situação e saiu em busca de socorro.

A partir daí a confusão foi generalizada como bem relembra Joe Esposito: "Estava em Graceland naquele dia 16 de agosto de 1977. Me lembro perfeitamente quando Ginger nos chamou no andar de cima. Eu entrei imediatamente na suíte e encontrei Ginger já bastante abalada. Entrei no banheiro e me deparei com Elvis no chão, caído. A posição sugeria que ele havia perdido a consciência e caíra pra frente de onde estava sentado. Quando o toquei senti um frio percorrer minha espinha. Percebi que não havia mais o que fazer, a impressão que tive foi que Elvis já estava morto por um bom tempo. Mesmo assim resolvi agir imediatamente. A primeira providência foi chamar uma ambulância a Graceland, urgentemente!". Quando a ligação chegou ao conhecimento dos paramédicos eles pensaram seriamente que Vernon, o pai de Elvis, sofrera mais um ataque cardíaco.

Um dos motoristas ao saber que se tratava de Graceland comentou com seu amigo ao lado: "Deve ser o pai de Elvis!". Enquanto o socorro médico não chegava em Graceland Esposito tentava em vão prestar os primeiros socorros em Elvis, como ele mesmo relembra: "Em poucos segundos as pessoas começaram a chegar no quarto de Elvis. Seu pai veio correndo, subindo as escadas e chegou ao quarto ofegante. 'Onde está meu filho?' - gritou o pobre Vernon. Nesse momento pedi para que dessem espaço pois estava tentando fazer algo por Elvis. Vi que Lisa entrava no quarto e pedi que Ginger a tirasse de lá imediatamente, para que assim ela não visse seu pai estendido no chão de seu banheiro. A confusão era muito grande, pessoas indo e vindo, tive que tirar muitos de dentro do local, precisava ajudar Elvis. Eu tentei dar alguns CPR no coração de Elvis, porque eu não conseguia abrir sua boca e fazer um procedimento de respiração boca a boca, pois ela estava fechada e congelada. Então resolvi girar o corpo de Elvis, o vesti e continuei trabalhando nele até a ambulância chegar. Apesar de lutar muito logo percebi que era tarde demais."

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 38

A noite em que Elvis, abatido e deprimido, leu as últimas páginas de sua biografia não autorizada ficaram cristalizadas para a história através da memória de Rick Stanley, que compartilhou esses tensos momentos de agonia e profunda tristeza ao lado de Elvis. Foi justamente nesse momento crucial, na noite do dia 15 para 16 de agosto de 1977, que seu meio irmão Rick Stanley (filho de Dee, segunda esposa de Vernon Presley) entrou nos aposentos do cantor e o encontrou pensativo e complementado, absorvido em seus próprios pensamentos, com o olhar vago, impreciso, disperso. Segundo as memórias de Rick, Elvis pediu que ele se sentasse ao seu lado.

Com o famigerado livro em mãos Elvis fez duas perguntas cruciais, como bem relembra Rick: "Na última noite de sua vida, eu acabara de desligar o telefone. Falava com minha namorada, Robyn. Através dos anos ela me encorajava a largar as drogas, e, quando estava pendurado no telefone, ia dizer que alguma coisa precisava acontecer para trazer minha vida de volta. Subi as escadas e sentei na cama com Elvis. Ele puxou os óculos sobre o nariz - tinha aquela espécie de olhar que parece cortado ao meio - e encostou o canto dos óculos na boca. Realmente pareceu frio. Suas costeletas estavam ficando grisalhas. Estava muito maduro. Parecia estar muito, muito cansado, não fisicamente, mas emocionalmente gasto. Enquanto sentávamos e conversávamos um pouco, ele me entregou um pedaço de papel, uma parte do livro escrito por seus ex guarda costas. Falava do uso de drogas. Fez duas perguntas. Disse: "O que Lisa Marie vai pensar disso?" e eu não tive muito o que responder. Apenas disse: "Bem, ela é sua filha. Estou certo que ela te ama"

Então ele perguntou sobre os fãs. "O Que os fãs vão pensar disso tudo?", e mesmo sem pensar eu fui capaz de dizer: "Bem, eles te amam incondicionalmente". Conversamos um pouco mais e eu lhe falei sobre a conversa com Robyn. Como eu estava para me livrar das drogas, você sabe, endireitando minha vida, esse tipo de coisa. Devo dizer que ele iria querer sua pílulas, seus remédios para dormir, bem depressa. Uso a palavra remédio porque se você disser a palavra drogas as pessoas pensam em crack e heroína, que nós nunca usamos. Eu trouxe um embrulho de remédios, que estavam exatamente no caminho (para o quarto de dormir) no armário. Havia embrulhos que Elvis chamava de "pacotes de ataque", porque era o que ele queria fazer, atacar-se, nocautear-se. Nós estamos sentados lá e eu falando e contando a ele sobre Robyn e os conselhos que ela vinha me dando através dos anos. Elvis a tinha encontrado e gostado dela, pois era uma criança adorável.

"Eu penso realmente que ela está lhe dando um bom conselho, Rick", ele me disse. "Penso que ela é uma pessoa que realmente se importa". Ele falou muito tempo. Uma viagem começaria no dia seguinte e ele não estava exatamente excitado sobre isso. Quando eu ia embora, Elvis me disse: "Não quero ser aborrecido, não quero ser perturbado". Para qualquer um que trabalhasse com Elvis, você sabia que isso significava uma ou duas coisas. Queria passar algum tempo com a namorada Ginger, ou queria dormir. Mas ele me fez saber que não queria ser perturbado, e com Elvis aquilo era um firme comando. Sem maiores perguntas resolvi me retirar de seu quarto, fechei a porta e fui até os fundos de Graceland e desliguei completamente. Mal sabia que em poucas horas iria acontecer algo que mudaria minha vida para sempre".

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 37

Durante muito tempo Elvis pensou nas possibilidades do que iria fazer após a publicação do livro bomba de Red West. As dúvidas eram muitas. Ele deveria fazer uma declaração oficial desmentindo tudo? Mas isso não iria trazer uma tremenda publicidade para o lançamento? Ignorar tudo e seguir em frente, como se nada tivesse acontecido? Processar todos eles e correr o sério risco de transformar tudo em um circo da mídia no tribunal, com sua vida sendo ainda mais exposta perante seu público e seus fãs? Mas afinal...que decisão ele deveria tomar? Nessa altura de sua vida essa era apenas mais uma péssima notícia que Elvis tinha que enfrentar.

Em seus últimos meses de vida o cantor podia contar nos dedos de uma única mão as coisas que ainda lhe traziam algo positivo. Eram cada vez mais raros os momentos de verdadeira felicidade para ele durante sua caminhada final. Um sorriso sincero, por exemplo, dado em um momento de extrema descontração e alegria, era algo tão raro para o envelhecido astro nessa época que certamente nem ao menos ele se lembrava de algo parecido assim acontecer em sua memória recente. Em aspectos pessoais sua única filha, Lisa Marie, ainda conseguia proporcionar momentos de amenidades e real contentamento.

Mas até nesses pequenos momentos Elvis sentia-se culpado, a ponto de um de seus homens de confiança o flagrar em prantos, sozinho, lamentando consigo mesmo o fato de não ter sido um bom pai para sua família. Elvis jamais conseguiu superar o choque do fim de seu casamento e esse pesadelo só aumentou de proporção ao longo dos anos que se passaram. No aspecto puramente profissional Elvis também ia, aos poucos, perdendo o prazer de se apresentar ao vivo. Durante anos esse contato direto com seus fãs havia proporcionado a ele muitos e muitos momentos realmente especiais. Como bem afirmou Priscilla Presley o amor de seus fãs e o carinho despejado por Elvis durante seus longos anos na estrada, tinha se transformado no único grande momento de felicidade do artista em seus últimos meses de vida. A veneração e a fidelidade de seus mais estimados fãs clubes havia se concretizado numa verdadeira muleta emocional para o Rei do Rock. Porém até nesses aspectos Elvis vinha sentindo dificuldades. Se apresentar à altura do amor e do carinho de seus admiradores lhe era agora cada vez mais difícil. Elvis enfrentava diversas dificuldades decorrentes de seu estado físico e de sua vertiginosa queda de saúde.

Fazer jus à imagem que existia no subconsciente de todos era agora um desafio a se vencer em cada novo concerto e isso definitivamente não era fácil quando se sofria de tantos problemas pessoais, tanto físicos como, e principalmente, emocionais. Somando-se a tudo isso havia ainda a crítica, quase sempre implacável com o astro, sempre colocando em destaque cada mínimo erro ou cada pequeno descompasso surgido em suas turnês. Tudo isso, somado a seu constante estado depressivo, tornava a jornada muito mais penosa de se cumprir. Infelizmente Elvis não poderia parar, ele havia entrado numa engrenagem que iria sugar até o fim sua capacidade de trabalho. Envolvido em enormes dívidas, enrolado em problemas judiciais que lhe custavam muito em termos financeiros e em desgaste emocional, Elvis virou escravo de sua própria lenda.

Pablo Aluísio.

domingo, 18 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 36

A única coisa que não contavam era o fato de que seus antigos "amigos", empregados ou seja lá o que fossem, iriam colocar a boca no trombone e contar todos os mais guardados segredos da vida pessoal de Elvis Presley! Aquela imagem impecável, de um bom pai de família, filho amoroso, cidadão cumpridor de seus deveres cívicos, um típico norte-americano acima do bem e do mal, seria maculada para sempre pelo teor altamente explosivo contido no livro "Elvis, O Que Aconteceu?" escrito pelos irmãos Sonny e Red West! Nada ficaria de pé após sua publicação! Bom cidadão? Elvis seria retratado como uma pessoa altamente manipulada que só serviu o exército por ordens diretas de seu tirânico empresário! Ele, Elvis, definitivamente não queria ir para o U.S. Army de jeito nenhum! Bom pai de família? Elvis seria retratado como um marido relapso, ausente, que traía sistematicamente sua esposa e que quando traído partiu, sem pensar duas vezes, para ameaças de morte contra sua ex-esposa e seu amante!

Imagem impecável? Os irmãos West iriam demolir a imagem de Elvis para sempre. Ele seria retratado como um viciado em drogas, paranóico e armado até os dentes. Uma pessoa que usava de sua fama e dinheiro para manipular as mulheres de sua vida, as tratando como meros objetos de domínio, sem valor algum! Um típico cidadão norte-americano acima do bem e do mal? Elvis teria anos depois sua imagem manchada pelos arquivos secretos do FBI que o retratavam como um reacionário de direita, que estava a favor da guerra do Vietnã e contra os movimentos pacifistas, que conspirava contra outros artistas, citando nominalmente ao próprio presidente Nixon os efeitos nocivos de pessoas como os Beatles e Jane Fonda! Quando Elvis soube que sua imagem seria tão atacada dessa forma entrou em desespero! Ele, que sempre zelou para manter uma imagem pública impecável, agora via ruir seu castelo de cartas pela publicação de um único livro! O Que fazer agora? Elvis tinha que virar o jogo e sair da defensiva de qualquer maneira. Logo lembrou do velho conselho de Tom Parker: "A melhor defesa é o ataque!". Ele tinha que começar a mandar no jogo novamente, voltar a dar as cartas urgentemente! Porém como ele faria isso agora? Teria tempo para uma reação?

Apesar de seus esforços o livro acabou sendo lançado. Elvis imediatamente providenciou uma cópia e ficou chocado com o teor do texto. E depois de pouco tempo o livro finalmente chegou em suas mãos. Ele se isolou. No canto mais reservado de seu quarto, Elvis, sentado em uma grande poltrona, passou lentamente seus dedos sobre as páginas daquele livro que prometia destruir sua imagem. Ele pareceu querer se esconder, fugir para algum lugar. Sua leitura se tornou penosa, sofrida. Seu semblante era de extrema preocupação. O espírito ficou visivelmente estarrecido e o corpo deixou transparecer esse estado de perplexidade em pequenos e mínimos detalhes: na testa franzida, no olhar vidrado, na pupila dilatada. Suas mãos foram virando todas as páginas, lentamente. O cantor não conseguia tirar seus olhos do texto e praticamente devorou cada capítulo de uma só vez. Sua fisionomia ficou abatida, pesada, sofrida, como alguém que carregava o peso do mundo em suas costas. Cada minuto pareceu uma eternidade e essa realmente não parece mais ter fim. Elvis nesse momento de extrema solidão e desespero terminou finalmente as últimas palavras do mais demolidor livro já escrito sobre ele: "Elvis, What Happened?".

Aquilo que mais temia e que acreditava piamente que não iria acontecer estava agora ali materializado em suas mãos. Sua vida privada exposta finalmente ao grande público de maneira cruel, explícita e nada lisonjeira. O Elvis Presley que emerge de suas letras era a antítese de tudo o que artista tentou construir ao longo de tantos anos de carreira. Sua tão intocável imagem perante o público agora era violentamente agredida. Ao final da leitura Elvis o colocou de lado e passou a refletir sobre o que deveria fazer dali em diante. O estrago realmente já estava feito, agora Elvis pensava numa forma de contornar toda essa delicada situação. Como combater a traição de seus antigos amigos e "guarda-costas", que em troca de dinheiro venderam ao primeiro interessado os maiores segredos de uma das pessoas mais famosas do mundo? Como combater a difamação que estava sendo feita a ele? Como contestar algo dessa magnitude?

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 35

O jogo estava acabado? Será que Tom Parker, um dos maiores apostadores de Las Vegas, iria perder mais uma rodada? Logo ele que se considerava um excelente jogador? E Elvis? Estaria definitivamente morto artisticamente? Quem acompanhou toda a carreira deles não apostaria muito nisso. Se um rótulo lhes servia bem, esse era o de "sobreviventes". A morte da carreira de Elvis já havia sido anunciada várias vezes ao longo dos anos. Quando ele foi servir o exército em 1958, por exemplo, todos acreditavam que ele seria facilmente esquecido por seus fãs adolescentes. Que o Rock'n'Roll era apenas uma moda estúpida ouvida por jovens sem cérebro, que era apenas uma música selvagem que só servia para incentivar a delinqüência juvenil ou como decretou Sinatra o Rock seria apenas "a música de todo delinqüente com costeletas da face da terra!". Elvis não só voltou como demonstrou que ainda tinha várias cartas na manga. Comandado pelo Coronel Parker Elvis teve sua imagem limpa e devidamente empacotada para a típica família WASP norte-americana. Ele gravou discos excelentes como "Elvis is Back!" e "Something For Everybody" mostrando que não apenas continuava a ser um astro como também poderia ainda produzir material musical de excepcional qualidade artística.

E esse pacote até que serviu bem aos propósitos de Parker durante um bom tempo. Porém como tudo em excesso é prejudicial o "Elvis embalado, pasteurizado e plastificado para seu consumo familiar" começou a virar uma peça de museu rapidamente, totalmente dissociado do que estava acontecendo no mundo nos anos 60. Nada era mais absurdo do que um roqueiro posando de bom moço durante os anos da contra cultura sessentista. Os filmes eram limpos demais, infantis demais, bobinhos demais, e o pior, as musiquinhas eram ruins demais, de doer. De símbolo revolucionário Elvis passou para símbolo reacionário, uma mudança drástica demais. Quem iria ter como ídolo um cara que cantava para cachorros dentro de um helicóptero sobrevoando o Hawaii? Nenhum "bicho grilho" iria dar bola para tamanha caretice. Elvis ainda era um artista extremamente talentoso, porém o material que lhe era dado pelos estúdios de cinema para compor as trilhas sonoras de seus filmes começaram a perder gradativamente a qualidade e por volta de 1964 Elvis começou a gravar bobagens vergonhosas. Depois de passar dez anos em Hollywood estrelando os mais estúpidos filmes musicais já realizados, todos também concordavam que ele já era, que estava liquidado.

Mas Elvis renasceu em 1968 e 1969 e ganhou uma sobrevida naquela que para muitos foi sua fase mais inspirada e relevante. A nova "ressurreição" do astro durou até 1973. Seu pico aconteceu com o "Aloha From Hawaii", mas depois de sua exibição o cantor novamente estagnou. Voltou para Las Vegas e começou a sua velha rotina de concertos. E agora? Elvis ressuscitaria uma terceira vez? Seria ele o verdadeiro Lázaro do século XX?... Bem, os dados ainda estavam rolando na mente de Tom Parker. O jogo ainda não chegara ao seu final. Em vista disso o velho astuto chegou a conclusão que era hora de trazer um novo desafio para Elvis. Pensando no seu especial da NBC o Coronel achou que certamente a TV poderia ser a resposta. Só havia um problema em encarar um novo projeto como esse e tentar transformá-lo em um novo renascimento de Elvis: não havia mais nenhuma novidade envolvida em sua realização. Em 1968 todos estavam aguardando ansiosamente em assistir Elvis novamente cantando ao vivo, com jagueta de couro e repertório selvagem, mas em 1977 todos já sabiam que Elvis estava cansado, esgotado em turnês praticamente sem interrupção em seus últimos oito anos de estrada.

Que novidade haveria em mais um show de Elvis Presley a ser transmitido pela TV? Além disso o roteiro do especial seria por demais rotineiro e sem nenhuma inovação. Nem ao menos foi preparada uma nova lista de canções para Elvis apresentar na TV. Enfim, não seria um novo especial de televisão (que acabou sendo o Elvis in Concert) que iria alavancar a carreira debilitada de Elvis naquela ocasião. Mas todos os problemas que Elvis vinha enfrentando em sua vida profissional não se comparariam com o que ele estava prestes a enfrentar: a traição daqueles que sempre foram considerados grandes companheiros e amigos, que estavam ao seu lado desde os tempos de escola. Elvis não sabia, mas havia criado várias cobras ao longo do anos que iriam dar o bote sem pensar duas vezes, sem dó e nem piedade. Tudo aconteceu porque, no final de sua vida, Elvis despediu grande parte da chamada Máfia de Memphis. A razão oficial foi corte de despesas. Não seria nenhuma novidade pois Elvis vinha eternamente em luta para colocar suas contas em ordem e o gasto excessivo de pessoal deveria ser contido. Vernon Presley, notório pão duro, foi o grande incentivador desse ato. Tom Parker, que nunca gostou da inutilidade deles, também assinou embaixo. O que Elvis não antecipou foi que eles iriam assinar contratos milionários para revelar ao público os segredos mais bem guardados do cantor. A tempestade estava próxima...

Pablo Aluísio.

sábado, 17 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 34

Ao invés de viajar até Nashville para gravar seus novos álbuns em estúdios de última geração, Elvis decidiu que não viajaria mais, pois estava mesmo farto de tudo. Ao invés de se deslocar até o estúdio B, a RCA deveria os equipamentos de sua estrutura móvel para Graceland para registrar canções em um ambiente de amadorismo impensado para um artista de seu porte. Se Maomé não vai até a montanha, então que a montanha venha até Maomé! Meses depois da morte de Elvis, Felton Jarvis confidenciou a amigos do ramo que tinha muitos projetos para o cantor, entre eles o velho sonho de gravar um LP apenas com canções ao estilo de Mario Lanza (um dos grandes ídolos de Elvis) ou então gravar um novo disco apenas de Rocks clássicos dos anos 50, como bem fez John Lennon em 1975 com seu disco "Rock'n'Roll". Infelizmente nada disso foi adiante. Elvis parecia bem mais preocupado em colecionar armas, distintivos, pílulas e garotas (não necessariamente nessa ordem) do que investir em um projeto sério para levantar sua carreira, que vinha patinando desde 1974. Concentrado em shows que nada tinham de inovador no aspecto artístico, preso a um eterno repertório repetitivo Elvis foi se transformando ao longo dos anos em um artista tipicamente "nostálgico", "Revival", sem conseguir abrir uma linha de diálogo com os jovens dos anos 70. Em vista disso seu papel de grande pioneiro da revolução musical ocorrida nos anos 50 foi ficando cada vez mais ofuscado.

Artistas coadjuvantes, como Chuck Berry e Little Richard, que nos anos 1950 sequer poderiam ser comparados a Elvis em termos de importância, foram crescendo em prestígio e fama, enquanto que Presley nitidamente descia a ladeira em seus momentos finais, seguindo um caminho bem oposto aos dos demais pioneiros da primeira geração roqueira. Também pudera, como convencer um jovem dos anos 70 que Elvis era um dos pais do Rock'n'Roll com canções como "Solitaire", "The Last Farewell" e "Hurt"? Nada mais anacrônico, certamente. Eram músicas bonitas, mas não tinham nada a ver com o bravo Rock´n´Roll. "Minha intenção era dar uma sacudidela em Elvis no final de sua carreira. Voltar aos mesmos pontos revolucionários de 1956 ou 1969 mas não houve como fazer isso, sinceramente" - afirmou depois Felton Jarvis. Certamente não havia mais como fazer isso em 1976 ou 1977, por exemplo. Elvis não tinha mais nenhuma intenção em mudar nada, enquanto houvesse público em seus shows e seus discos pagassem o custo de suas produções e deixasse uma pequena margem de lucro à RCA, para Elvis tudo estaria bem. Comodismo? Certamente, porém seria mais correto afirmar que Elvis abraçava cada vez mais um sentimento de resignação em seus últimos momentos. Se Elvis não estava nem aí para nada, isso não poderia ser dito em relação aos demais membros das organizações Presley. O Coronel estava preocupado pois sua fonte estava secando lentamente aos olhos de todos. Já que não fazia mais filmes e como seus discos já não atingiam as primeiras posições nas principais paradas a renda de Elvis agora se resumia em suas apresentações ao vivo. Para Parker isso era preocupante. Em reunião com executivos da RCA, Parker tentou convencê-los de que Elvis iria efetuar mudanças significativas em suas futuras gravações.

Com sua conhecida lábia levou todos na conversa e convenceu os chefões da multinacional que Elvis iria novamente se tornar um grande vendedor de discos, que ele tinha grandes planos envolvendo mudança de estilo e repertório. Essa última parte de suas promessas era certamente a mais complicada de se cumprir. Era óbvio que os discos de Elvis não empolgavam mais nem a crítica e nem muito menos ao público. Alguns de seus álbuns tiveram vendas bem desanimadoras nos últimos anos. Para contrabalancear o pessimismo dos contadores da gravadora e seus números desabonadores, o Coronel tentou demonstrar muito otimismo em relação ao futuro. Tudo não passaria de uma fase passageira. A época de vacas magras iria passar, segundo o Coronel. Mas apesar dessa postura demonstrada aos executivos Parker estava realmente bastante preocupado em seu íntimo. Ele foi notando que a maré estava virando contra Elvis (e contra ele, por tabela!). De uma hora para outra todas as empresas que compraram o passe de Elvis agora tinham queixas e reclamações a fazer. Eles tinham pago caro pelo produto Elvis e agora queriam o retorno concretizado em muitos lucros, coisa que não vinha ocorrendo. Depois de se reunir com a descontente RCA, Parker teve que enfrentar a cadeia Hilton, que tinha uma longa série de reclamações contra Elvis Presley. O próprio dono do Hotel Hilton agora demonstrava desinteresse e muita má vontade em renovar o contrato de Elvis. Suas atitudes fora do comum, chegando ao ponto de proferir ofensas em pleno palco à própria administração da cadeia de Hotéis, havia pegado muito mal. Além disso havia muitas críticas sobre Elvis e seu pouco empenho durante os concertos.

Certamente, nos últimos anos as críticas ruins estavam em todas as partes. Para alguns Elvis não se comportava com profissionalismo, se apresentando apenas para a banda, ignorando o público, fazendo monólogos sem fim e sem sentido e contando piadas sem graça em demasia, isso quando conseguia acabar as canções pois o esquecimento das letras havia se tornado um problema bem mais sério. Enfim, o contexto não era nada positivo para Elvis naquele momento em sua carreira. Para completar o que por si só já era muito ruim havia ainda uma série de boatos sobre atitudes nem um pouco convencionais em sua vida pessoal. Tudo isso levou Elvis a um impasse sobre sua situação no Hilton. Muito provavelmente se não tivesse morrido em 1977 Elvis teria recebido cartão vermelho de seus patrões de Las Vegas e sido demitido. Numa de suas últimas temporadas na cidade o Las Vegas Hilton fez o Coronel Parker assinar um termo de responsabilidade sobre as coisas ditas por Elvis no palco. Isso ficou bem claro após uma apresentação onde Elvis ameaçou arrancar a língua de um funcionário do hotel pela raiz após ele supostamente ter espalhado fofocas sobre o uso de drogas por parte do cantor. Era uma ameaça pública e o Hilton não iria assumir processos criminais em nome de Elvis. Esse fato inclusive foi bem desgastante para Presley e sua equipe. Tudo aconteceu porque esse funcionário do hotel entrou em sua suíte para recolher a sujeira do local. Uma vez chegando lá se deparou com Elvis no sofá da sala principal de seus aposentos. Presley parecia fora de si, estava mal e inconsciente. Como o sujeito era um linguarudo ele logo começou a espalhar para outros funcionários os boatos de que havia flagrado Elvis chapadão, cheio de cocaína na cabeça, completamente viajado em seu quarto. Chegou a ponto de dizer que suas narinas estavam cheias de pó branco! Quando Elvis soube da fofoca (afinal elas sempre vão e voltam às suas origens) ele explodiu de raiva! Elvis ficou tão nervoso que chegou a pegar suas pistolas para ir atrás do rapaz - e só foi convencido a desistir disso após muita conversa com os caras da máfia de Memphis. Quando subiu ao palco naquela noite ele estava enfurecido e começou a soltar palavrões e ameaças contra o tal sujeito fofoqueiro. Um fato lamentável que só trouxe ainda mais publicidade para os rumores. Sem querer Elvis acabou alimentando ainda mais as fofocas, infelizmente.

Pablo Aluísio. 

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 33

Quando voltou do exército em 1960 Elvis estava convencido de que deveria desenvolver e promover uma carreira no cinema. Para isso até mesmo sua carreira musical deveria ser deixada de lado, afinal, como o próprio Elvis declarou certa vez: "Cantores surgem e desaparecem. Mas se você for um bom ator pode ficar por aí durante muitos anos!". É isso mesmo, Elvis não colocava mais tanta fé em seu fantástico talento musical e resolveu investir em seus opacos talentos melodramáticos. O resultado dessa forma de pensar foi terrível e o artista pagou caro por tentar seguir por esse equivocado caminho. Em pouco tempo o astro viu sua estrela se apagar lentamente. Estrelando um filme ruim atrás do outro Elvis foi facilmente substituído no gosto musical pelos jovens. Grupos musicais como os Beatles surgiram e dominaram completamente o cenário musical enquanto que Elvis, com suas infantis trilhas sonoras, patinava e sofria para atingir o topo das paradas.

Apesar do sucesso de seus primeiros filmes durante os anos 1960 o público logo se cansou dos roteiros repetitivos e das músicas sem valor artístico. A partir de 1967 os discos de Elvis passavam vergonha nas listas das paradas norte-americanas. Sua última trilha sonora, Speedway, conseguiu atingir um vexatório 82º lugar na lista dos mais vendidos. Uma posição nada digna de um cantor que era considerado o "Rei do Rock". Era o fim, a carreira de Elvis como ator havia fracassado miseravelmente. Além de ter que lidar com a frustração de nunca ter conseguido desenvolver uma carreira sólida em Hollywood, Elvis ainda teve que arcar, nos últimos momentos de sua carreira, com uma série de decisões erradas tomadas por seu empresário, o que o fez ficar tristemente preso em contratos que o posicionavam como um cantor de cassinos em Las Vegas.

Nem seu velho sonho de cantar em outros países se concretizou e até mesmo seus mais recentes discos de estúdio não conseguiam uma boa resposta em termos de vendas nas paradas. Com tantos infortúnios, Elvis se isolou. Segundo Rick Stanley apenas a química do Dr. Nick conseguia trazer o astro de volta à vida. Para encarar uma nova sessão de estúdio ou fazer uma nova maratona de apresentações, Elvis tinha que ser medicado para segurar o pique e o ânimo. O próprio Rick relembra: "A alegria de Elvis após tomar tantas pílulas não era natural mas sim artificial. Muitas vezes notávamos que Elvis estava 'alto' um pouco além da conta! Ele não se resumia a rir mas a dar sonoras gargalhadas, qualquer piada o fazia desabar de rir! Ele não ficava apenas 'alegre' mas extremamente 'feliz', além do ponto, me entendem? Bem essa não é uma atitude de alguém realmente feliz e sim um reflexo do que ele estava tomando!"

Traição, drogas, fracassos na carreira, problemas com peso, enfim. Os fatores são muitos. De qualquer forma tudo levou o cantor Elvis Presley a um estado depressivo constante do qual nunca mais se recuperou. Talvez a fama tenha se transformado numa grande armadilha. Talvez o fato de ser famoso o tenha inibido de procurar a ajuda médica correta de que tanto necessitava. Talvez o fato dos fãs idealizarem uma pessoa acima do bem e do mal, perfeita e divina, tenha feito com que Elvis tivesse que enfrentar os diversos problemas que acompanham um estado depressivo de forma completamente solitária. Afinal sua doença jamais deveria vir à tona publicamente! Além disso aquela pessoa que aparecia nas capas dos discos e filmes jamais poderia ser uma pessoa acometida de uma doença tão estigmatizada! Isso, claro, na ótica da indústria que tanto o explorou em vida. Quem sabe se todos os seus mais graves problemas não tenham tido apenas uma única gênesis? A verdade porém nunca saberemos ao certo. De qualquer forma toda essa situação acabou levando Elvis inexoravelmente para aquele amanhecer em 16 de agosto de 1977

No final de sua vida Elvis estagnou artisticamente. Não havia mais nenhum traço do grande revolucionário cultural que um dia ele foi. O artista Elvis Presley deliberadamente colocou sua carreira no piloto automático e deitou sobre suas glórias passadas. Felton Jarvis, seu produtor desde os anos 60, tentava de todas as formas levar Elvis à frente, impulsionar mudanças mas tudo ia por água abaixo durante as sessões de gravação. Elvis demonstrava desinteresse em promover mudanças, apatia na escolha do repertório e falta de ânimo em gravar material novo e desafiador. Ao invés disso Elvis começou a apostar apenas no certo e seguro e seguiu gravando suas baladas chorosas e seus countrys tradicionalistas que certamente iriam cair no gosto do sulista americano médio. Rock'n'Roll? Elvis só se lembrava deles para cantar versões medíocres em seus concertos, com a clara finalidade de não deixar as apresentações caírem na monotonia. Certamente essa atitude era decepcionante para quem ostentava o pomposo título de "Rei do Rock". Na visão de Jarvis o cantor Elvis não tinha mais nenhuma motivação em sua trajetória artística e sua função agora era de alguma forma motivá-lo, incentivá-lo, levantar a poeira de sua outrora lustrosa carreira... Infelizmente a animação de Felton Jarvis esbarrava na apatia de Elvis. Ele nem ao menos se dava ao trabalho de ir a um estúdio de gravação profissional, seja em Nashville, seja em Memphis.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 32

"Apesar de tudo temos a autópsia dele afirmando que certamente ele não morreu de uma overdose de drogas. Na verdade foi uma série de fatores, que juntos, causaram sua morte." - e prossegue Esposito - "Não estou dizendo que as drogas não tenham tido uma influência sobre sua morte ou que elas não contribuíram com o colapso de seu coração naquele dia. Tampouco estou dizendo que os remédios o mantinham saudável ou algo assim. Nada disso. Mas você tem que lembrar que ele morreu de uma doença no coração. Sim, ele estava tomando muitas pílulas em seus anos finais mas é errado afirmar que Elvis morreu de uma overdose de drogas. Não houve overdose, o seu coração apenas disse: 'É o bastante'".

Para Joe Esposito muitos fatos que aconteceram acabaram levando o cantor a um estado de depressão cada vez mais presente e forte, o que agravou ainda mais sua saúde, de uma forma geral, e cita exemplos de acontecimentos que de uma forma ou outra atingiam indiretamente Elvis: "Veja, acima de tudo eu quero que as pessoas entendam que Elvis era apenas outro ser humano com talentos dotados de Deus, que ninguém mais no mundo teve. Ele se machucava como você e eu. Ele tinha problemas como todos têm. As pessoas o colocaram em um pedestal. Certa vez Elvis fez uma declaração afirmando que a imagem de um artista e o verdadeiro ser humano atrás dessa fachada eram coisas distintas. É verdade, Elvis não era a imagem que mostrava nos palcos ou nos filmes. Ele se magoava quando o atingiam. Ele possuía sentimentos como todos nós. Ele ficava deprimido quando as pessoas comentavam seu estado físico. Você acha que alguém gostaria de ler uma crítica o humilhando por ter ganho um grande aumento de peso? De repente você vê as manchetes: 'Elvis, gordo e aos 40'. Isso vai machucar alguém, não importa quem seja. Todos nós temos um pouco de orgulho e ego para nós mesmos. Mas esse cara tem que tê-lo no ar, em volta do mundo. Tem que estar nas capas de revistas e isso machuca." Esse aliás é um dos consensos em torno da biografia de Elvis Presley. Tanto para Esposito como para todos os que viveram ao seu lado, tudo o que ocorreu de negativo em relação a Elvis no tocante a sua vida pessoal e profissional, acabou agravando ainda mais a sua já tão presente e crônica depressão.

Um dos mais graves problemas enfrentados por Elvis Presley em seus anos finais foi sua depressão crescente, tão bem retratada por Joe Esposito em seu depoimento. Nos últimos momentos de sua vida as pessoas que viviam ao lado do cantor testemunharam o longo declínio do artista nesse aspecto. Elvis, que nos anos 60 foi uma pessoa extremamente festiva e alegre entre os amigos, a ponto de promover praticamente uma festa por noite quando estava filmando em Hollywood, foi aos poucos se deixando dominar pela melancolia e angústia. Não era raro o cantor simplesmente se isolar do mundo quando estava em Graceland durante seus momentos de ócio. E se isolar não significava apenas não sair mais de sua mansão, mas sim nem ao menos sair mais de seu quarto para fazer suas refeições ao lado de seus amigos e familiares. Elvis, quando mergulhava profundamente em estado depressivo, não queria ver ou se socializar com mais ninguém.

Ele entrava em um estado tão enclausurado que chegava inclusive a espantar seus próprios empregados. Muitas vezes o prato de comida era simplesmente deixado na porta de seu quarto. Definitivamente Elvis não queria ver absolutamente ninguém! Vários são os fatores apontados pelos biógrafos que tentam justificar esse lamentável estado de espírito de Elvis nos derradeiros anos de vida. Para alguns o principal motivo de tanta depressão, angústia e tristeza, era o final decepcionante de seu casamento. Nada surpreendeu mais Elvis do que saber que sua amada esposa Priscilla Presley o havia simplesmente traído com seu próprio instrutor de Karatê, Mike Stone. Este fato deixou Elvis extremamente chocado e sem saber o que fazer! Em um primeiro momento e sem raciocinar de forma equilibrada, Elvis tentou resolver tudo ao velho estilo sulista, chegando inclusive a ameaçar de morte sua esposa e seu amante! Mas passado algum tempo desistiu da idéia após ser aconselhado por seu vocalista de apoio e amigo, J.D. Sumner. Esse fato por si só serviu apenas para deixá-lo ainda mais deprimido. Mas não era só em aspectos pessoais que podemos encontrar os vários motivos de Elvis a desenvolver uma depressão cada vez mais acentuada e crescente. Sua carreira também não ajudava. Vários de seus planos foram por água abaixo com o passar do tempo.

Pablo Aluísio.