quarta-feira, 13 de abril de 2005
Elvis Presley - Blue Christmas / Wooden Heart
No lado B o single trazia a figurinha carimbada "Wooden Heart" do filme "Saudades de um Pracinha" (G.I. Blues, 1960). Essa música, provavelmente a única desse filme que realmente criou um vínculo emocional com o grande público, seria muitas vezes relançada dentro da carreira de Elvis, principalmente na Alemanha onde virou um dos grandes sucessos de Presley naquele país (uma espécie de "Kiss Me Quick" da Bavária). Especulando, seria uma das canções inevitáveis para Elvis caso ele fizesse alguma turnê naquele país. Simpática, com bela melodia e uma letra meramente bonitinha mas terna e uma cena muito ternura no filme, não é de se admirar que tenha cativado tantas pessoas ao longo do tempo. Por falar nela a RCA Victor na contracapa desse single cometeu um terror estético ao colocar literalmente uma imagem de um coração feito de madeira, misturado com bonecos de neve natalinos, ou seja, um atentado kitsch para qualquer pessoa de bom gosto. Era uma tentativa de trazer alguma personalidade própria a um produto que não passava de uma colcha de retalhos oportunista. Enfim, coisas de uma gravadora desesperada por ter um dos maiores nomes da música sob contrato que não conseguia mais trazer tanto lucro como antigamente.
Pablo Aluísio.
terça-feira, 12 de abril de 2005
Elvis Presley - Ain't That Loving You Baby / Ask Me
Já "Ask Me" não acho tão marcante. Seu arranjo é daqueles que ficaram extremamente, profundamente datados. É interessante notar que arranjos de sax e guitarra (que eram comuns em gravações de Elvis por essa época) até hoje soam bem agradáveis de ouvir mas aqueles baseados em órgãos musicais (como aqueles que eram usados em igrejas) não soam nada bem hoje em dia. Esse tipo de arranjo inclusive foi bem usado em artistas nacionais durante o advento da jovem guarda. Os Beatles também flertaram com esse tipo de instrumentação mas em poucas canções. De uma forma ou outra foi algo que em minha opinião envelheceu bastante, deixando as canções com ares de coisa velha, ultrapassada. A letra também é banal demais para ser levada muito à sério. No geral é um típico lado B com tudo o que isso significa em termos de importância dentro de um single. De uma forma ou outra a boa notícia foi que pela primeira vez em bastante tempo Elvis tinha finalmente um single de sucesso. Também pudera o Elvis que surgia nesse compacto quando o sujeito ligava a vitrola em casa era o mesmo que havia incendiado a América com seus rocks viris - algo que constratava enormemente com o Elvis dos filmes Made in Hollywood. A fera do rock havia se transformado em uma Doris Day de calças, para desapontamento de todos os que admiravam seu enorme talento. A pergunta que fica no ar é a seguinte: se os rocks blues de Elvis sempre faziam sucesso quando lançados porque o Coronel Parker e o próprio Elvis viraram as costas para o gênero nos anos 60? Além do mais se as primeiras colocações eram todas do bom e velho Rock, agora nas gravações de grupos britânicos como os Beatles, por que diabos Elvis não aproveitou o bom momento e voltou ao velho estilo? São perguntas que jamais teremos as respostas, infelizmente.
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - Such A Night / Never Ending
De duas uma, ou a pessoa responsável pelos lançamentos de Elvis Presley na gravadora não entendia nada de sua discografia ou então a própria RCA considerava "Never Ending" uma música tão sem expressão que resolveu não investir nada nela no momento de seu lançamento. A segunda hipótese é um pouco improvável pois apesar de "Never Ending" não ser nenhuma obra prima passa longe de se comparar com as bobagens que Elvis vinha gravando para seus filmes. É uma boa baladinha, com letra interessante, fugindo um pouco dos padrões. O tom suave que Elvis imprime em sua interpretação também a salva de cair na vala comum de coisas sem importância dentro de seus últimos trabalhos em estúdio. Agora se você acha que isso já seria bagunça suficiente que tal dar uma olhada na capa? Ela trazia uma foto de Elvis no filme "Love Me Tender" de 1956 (algo completamente nada a ver com as músicas do single) e para completar a confusão o disquinho ainda era qualificado como um "Lançamento especial de verão"!
No material promocional a RCA tentou justificar o single afirmando que seria a primeira vez que "Such a Night" seria lançada em 45 RPM. Também disse que estava atendendo a pedidos do público mas jamais deu maiores explicações sobre as suas afirmações. No fundo não era nada disso. A gravadora simplesmente não tinha mais material convencional de qualidade para lançar no mercado. Tudo o que sobrava para ela era tentar vender as trilhas sonoras de Elvis, o que andava bem complicado com a concorrência forte que estava por aí. Curiosamente o single trouxe resultados comerciais contraditorios. Naquela época a Billboard não classificada o single como uma entidade única mas sim com as canções separadas. Nesse sistema o Lado A conseguia uma classificação dentro das paradas e o Lado B outra posição. Algo ao meu ver sem muito sentido pois quem comprava o single acabava levando as duas canções simultaneamente. Uma questão de pura lógica. Se uma música era vendida a outra também.
Pois bem, na Billboard a canção "Such A Night" mesmo sendo uma reprise sem maiores atrativos conseguiu alcançar uma surpreendente décima sexta posição entre os mais vendidos! Já a música que era inédita, "Never Ending", sequer conseguiu classificação! Esse fato foi ruim porque a RCA desistiu de lançar as gravações de maio de 1963 - havia várias faixas arquivadas - em um álbum próprio. Ao invés disso a gravadora começou a utilizar essas faixas como "tapa buracos" ou "Bonus Songs" nas famigeradas trilhas sonoras que estavam por vir. Só nos anos 1990 as músicas seriam finalmente reunidas e lançadas como inicialmente tinha sido planejada. Isso deu origem ao CD "The Lost Album" (o álbum perdido), um título que recomendo aos fãs de Elvis pois mostra um dos últimos suspiros de relevância musical de Elvis Presley nesse momento tão conturbado de sua carreira.
Pablo Aluísio.
segunda-feira, 11 de abril de 2005
Elvis Presley - Double Features - Viva Las Vegas / Roustabout
Não consegui até hoje ouvir nada melhor do que o trabalho de restauração que foi feito nas gravações que compõem esse lançamento. Um primor realmente - tanto que mesmo após vários anos, e mesmo tendo outros CDs com essas mesmas faixas, ainda priorizo ouvir esse "Double Features" do que qualquer outro item que faça parte de minha coleção. Além disso foi o primeiro da era digital que trouxe todas as músicas da trilha de "Viva Las Vegas". Como se sabe as canções foram lançadas de forma equivocada na época, em single e em um EP, compacto duplo, sem maior impacto no mundo musical. Com esse CD foram reunidas definitivamente. Tudo bem que as canções não fazem muito sentido tiradas de seu contexto cinematográfico mas certamente são preciosas para o verdadeiro fã que deseja ouvir tudo que seu ídolo lançou. Além da qualidade de "Viva Las Vegas" ainda temos como brinde todas as faixas de "Roustabout" que também considero uma boa trilha sonora, livre de chatices. No saldo final é uma preciosidade em CD que o fã de Elvis não pode deixar de ter em sua coleção. "Double Features" nesse aspecto é realmente essencial.
Elvis Double Features (Viva Las Vegas / Roustabout)
1. Viva Las Vegas
2. If You Think I Don't Need You
3. I Need Somebody To Lean On
4. You're The Boss
5. What'd I Say
6. Do The Vega
7. C'mon Everybody
8. The Lady Loves Me
9. Night Life
10. Today, Tomorrow And Forever
11. The Yellow Rose Of Texas / The Eyes Of Texas
12. Santa Lucia
13. Roustabout
14. Little Egypt
15. Poison Ivy League
16. Hard Knocks
17. It's A Wonderful World
18. Big Love Big Heartache
19. One Track Heart
20. It's Carnival Time
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - Kiss Me Quick / Suspicion
Em 1964 alguns compactos que seguiam essa filosofia no mercado foram lançados. "Kiss Me Quick / Suspicion", "Such A Night / Never Ending" e "Blue Christmas / Wooden Heart" tentaram a sorte no disputado mercado de singles. Nenhum desses produtos se destacaram nas paradas, sendo praticamente ignorados, virando mercadoria sem expressão nas lojas. As músicas tinham sido gravadas há anos, algumas da volta de Elvis aos Estados Unidos em 1960, sem nenhuma novidade digna de nota. As capas eram simples, os próprios disquinhos eram feitos de material sem nenhum luxo. Na realidade nada trouxeram para a carreira de Elvis e em pouco tempo estavam pegando poeira no fundo das lojas americanas. Não demorou muito e estavam na seção de "promoções", vendidos a um terço do preço normal de um single de sucesso. Se nos Estados Unidos os kamikases nada trouxeram de bom para a carreira do cantor em países de terceiro mundo (como o Brasil) alguns deles acabaram caindo no gosto do povão. Um exemplo é "Kiss Me Quick" que vendeu muito em nosso país. Em lojas populares os disquinhos eram vendidos em bacias e cestas, onde eram misturados com outros compactos populares em promoção. Elvis disputava espaço com música caipira, samba, forró ou boleros. Em valores atuais custavam uma mixaria, algo em torno de R$ 2,00 ou um pouco menos. Com esses preços irrisórios acabaram atraindo o consumidor brasileiro que os levava para casa - geralmente os singles ficavam posicionados perto dos caixas, assim eram usados como brindes ou troco para as compras do mês. Quando chegavam em casa obviamente as pessoas tocavam os disquinhos em animados churrascos com a vizinhança e assim "Kiss Me Quick" acabou virando um tremendo sucesso (mas apenas no Brasil mesmo). Afinal, se é para ser popular então que se lance produtos popularescos. Elvis nos anos 1960 provou a veracidade dessa afirmação.
Pablo Aluísio.
domingo, 10 de abril de 2005
Elvis Presley - EP Viva Las Vegas
Mas o fato é que os jovens pareciam mais interessados em outras novidades, principalmente dos grupos de rock da chamada invasão britânica. Tudo era novidade, os cabelos lisos em franjas, as canções compostas pelos próprios membros da banda, o fato de serem jovens como seu público, de terem personalidades cativantes e diferenciadas, tudo prendia a atenção da juventude, enquanto que Elvis estava mesmo virando um ator convencional de Hollywood, bem longe dos palcos e do contato direto com o público. Até seu cabelo estava numa fase ruim, engomadinho e mais parecendo um capacete cheio de laquê! Foi muito comentado que certos cinemas de grandes cidades americanas investiam mais no nome de Ann Margret nas marquises do que no de Elvis. Afinal ela era jovem, bonitona e sensual. Certamente atrairia mais um garoto de seus 15, 16 anos do que o próprio Elvis. Isso refletia diretamente um certo desinteresse das pessoas da época sobre os filmes do cantor nos cinemas. Tudo parecia meio estagnado, quadrado, antigo e até mesmo cafona! E não havia nenhuma boa novidade no ar pois Elvis havia acabado de assinar um contrato de sete anos com a MGM... Tempos negros começavam a surgir no horizonte da carreira de Elvis Presley.
Elvis Presley - EP Soundtrack Viva Las Vegas (1964)
If You Think I Don't Need You
I Need Somebody To Lean On
C'mon Everybody
Today, Tomorrow and Forever
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - What'd I Say / Viva Las Vegas
"Viva Las Vegas", por outro lado, era considerada muito Hollywoodiana, com estilo de musical de cassino e não teria qualquer chance diante do concorrido hit parade da época. Afinal os Estados Unidos já viviam a febre da Beatlemania e da invasão britânica com tudo. Elvis cantando sobre coristas de Las Vegas não seria muito interessante para a garotada da época. Assim os críticos acharam que sim, o filme seria um sucesso no mundo do cinema (como foi realmente) mas no mundo puramente musical as coisas seriam um pouquinho diferente. A falta de sucesso acabou convencendo a RCA do não lançamento de um LP com a trilha sonora do filme, apostando apenas no lançamento de apenas mais um EP - compacto duplo. Absurdo? Claro que sim! Um dos maiores erros da discografia de Elvis que se viu privado de um álbum que seria essencial para os fãs. Mais uma burrada daqueles que comandavam a carreira do mais popular cantor de todos os tempos.
Pablo Aluísio.
sábado, 9 de abril de 2005
Elvis Presley - Devil in Disguise / Please Don't Drag String Around
Ouvindo essas faixas hoje em dia, tanto "Devil in Disguise" como "Please Don't Drag String Around", podem ser definidas como canções pop de ótimos arranjos e melodias. A voz de Elvis estava em bom momento, onde ele conseguia imprimir numa mesma faixa grande poder vocal como suavidade extrema. "Devil" teve maior repercussão porque tinha um refrão ao estilo pegajoso que grudava na mente de ouvinte quando a ouvia na rádio e não saia mais de sua cabeça. Obviamente Elvis também estava em sua fase mais açucarada, com o repertório sendo selecionado cuidadosamente para não chocar com sua nova imagem de cantor para toda a família que havia sido cuidadosamente construída por Tom Parker após Elvis retornar do serviço militar. Assim até mesmo canções que ousavam citar "Devil" (diabo) em seus títulos eram em última análise inofensivas e nada ousadas. Rock n roll? Esqueça, por esses anos Elvis havia se transformado no "genro preferido da América". Se antes do exército ele encarnava o rebelde transgressor que aterrorizavam as mães de suas fãs, agora Elvis cantava para garotinhas chinesas em seus filmes, explorando todo o seu suposto bom mocismo. Mais cândido do que isso impossível. "Please Don't Drag String Around" vai pelo mesmo caminho, embora considero essa como uma das mais simpáticas melodias cantadas pelo cantor por essa época. Um single, como já escrevi, muito agradável, embora musicalmente sem grande impacto no mundo da música.
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - Elvis Golden Records vol 3
STUCK ON YOU
FAME AND FORTUNE
I GOTTA KNOW
SURRENDER
I FEEL SO BAD
ARE YOU LONESOME TONIGHT?
(MARIE'S THE NAME) HIS LATEST FLAME
LITTLE SISTER
GOOD LUCK CHARM
ANYTHING THAT'S PART OF YOU
SHE'S NOT YOU
Singles que deram origem a este disco:
Stuck on You / Fame and Fortune (1960)
It's Now or Never / A Mess of Blues (1960)
Are You Lonesome Tonight? / I Gotta Know (1960)
Surrender / Lonely Man (1961)
I feel So Bad / Wild in the Country (1961)
His Latest Flame / Little Sister (1961)
She's Not You / Just Tell Her Jim Said Hello (1962)
Nota: Durante muitos anos essa série "Elvis Golden Records" foi a única dedicada a compilar singles de sucesso de Elvis Presley no formato LP. Por essa razão ficavam mais tempo em catálogo nas lojas de discos do que os demais álbuns convencionais. De certa forma era uma materialização da velha tática da raposa Tom Parker em vender sempre as mesmas gravações por duas vezes pois quem era realmente fã de Elvis comprava os compactos simples (singles) para acompanhar o sucesso do momento e depois compravam também o LP álbum que reunia os principais hits. Curiosamente Elvis recebia apenas de 40 a 30% do valor que normalmente recebia por essas coletâneas pois eram reprises e contratualmente a RCA só lhe repassava essa percentagem. Como visto era um tipo de lançamento muito lucrativo para a gravadora.
Pablo Aluísio.
sexta-feira, 8 de abril de 2005
Elvis Presley - FTD Fun in Acapulco
Como as faixas oficiais já conhecemos vamos prestar atenção nos takes originais. O que mais chama atenção aqui nas várias tentativas de Elvis com as músicas é a sua falta de intimidade com a língua espanhola. Não raro Elvis se confunde, tem problemas de pronunciar corretamente as palavras. E isso se torna muito claro nos takes alternativos. Fico imaginando Elvis Presley tendo que lidar com todas aquelas palavras estranhas. Ele se enrola, ri bastante e muitas vezes deixa sua parte passar batida por simplesmente não saber direito como pronunciar aquele vocabulário. Em certos momentos de sinceridade apenas diz: "I Don´t Know" ("Eu não sei"), ou seja, ele definitivamente não sabia como pronunciar a palavra corretamente. Para um cara do sul dos Estados Unidos aquela língua soava mesmo de outro planeta.
Elvis também parece rir da qualidade do material, muitas vezes não conseguindo segurar o riso com as letras imbecis que tinha que cantar. Basta prestar atenção até mesmo na versão oficial de "No Room To Rhumba In A Sports Car" onde ele passa a impressão que vai cair na gargalhada a qualquer momento! E que ritmo horrível é aquele?! Meu Deus! Mas enfim. No geral Presley está mais solto e à vontade do que em relação ao que ouvimos em outras sessões de gravações de outras trilhas da época. De vez em quando ele solta alguma piadinha aqui e acolá, o que aumenta o interesse para o fã ouvir esse som de bastidores das gravações. O curioso é que por muitos anos se pensou que Elvis gravou "Fun in Acapulco" sobre um playback previamente produzido mas não é verdade. Elvis está lá ao lado de sua banda e dos grupos vocais de apoio. Para ele - assim como para todos nós - esse tipo de trilha sonora tem que ser encarada com leveza, quase como uma piada. Afinal é melhor rir do que chorar.
Pablo Aluísio.