domingo, 2 de outubro de 2022

Goosebumps: Monstros e Arrepios

Goosebumps foi bem popular nos Estados Unidos. É uma série de livros que foi lançado nos anos 80. Todos escritos pelo mesmo autor. Mais de 50 títulos diferentes. Esses livros fizeram muito sucesso na América do Norte, mas no Brasil foram ignorados. Nunca emplacou por aqui, embora alguns títulos tenham sido lançados. E do que se trata? São livros de terror para um público-alvo, os adolescentes. As histórias são meio bobinhas porque, afinal de contas, elas reaproveitam apenas os antigos monstros, monstros clássicos da literatura. Tudo colocado em uma roupagem nova para os jovens daquela década. Esse filme procura de certa forma homenagear esses livros temáticos juvenis. Nada de muito espetacular. 

A estrutura do roteiro segue basicamente a estrutura dos próprios livros originais. Jovens que chegam em cidades novas e precisam se adaptar. E acabam enfrentando monstros terríveis, como o abominável homem das Neves, vampiros, insetos gigantes, esse tipo de coisa. Esse filme é apenas razoável, mas é bem produzido. Eu não estou dentro do público-alvo desse tipo de produto. Assim como os livros, ele também foi produzido para os jovens, para os adolescentes. Mesmo assim o resultado me soou bem agradável. Acredito que os jovens realmente gostaram desse filme. Tanto isso é verdade que ele acabou dando origem a uma continuação alguns anos depois. Não é nenhuma maravilha, mas diante de seu nicho, até que não desagrada.

Goosebumps: Monstros e Arrepios (Goosebumps, Estados Unidos, 2015) Direção: Rob Letterman / Roteiro: Darren Lemke / Elenco: Jack Black, Dylan Minnette, Odeya Rush / Sinopse: Jovem que acabou de se mudar para uma nova cidade descobre que tem um vizinho bem esquisito. Ele é um escritor de livros para adolescentes que mora sozinho com sua filha. O que o rapaz nem desconfia é que, dos livros escritos por esse escritor, podem surgir monstros terríveis.

Pablo Aluísio.

A Hora do Descarrego

Eu realmente gostaria de conhecer o sujeito que criou esse título nacional para esse filme norte-americano de terror. É bem absurdo! Ficou parecendo comercial de igreja vagabunda. Isso de certa forma, já traz uma certa comicidade, um toque de humor para quem vê esse filme. Ou como aconteceu no meu caso, foi justamente o título absurdo que me fez assistir a essa película. Na história um padre fajuto, tipo padre de Festa Junina, promove falsas sessões de exorcismo para serem transmitidas pela internet. Tudo para ganhar likes, visualizações e, obviamente, dinheiro. É um charlatão sensacionalista, um mau-caráter. Ele contrata pessoas para fingirem que estão sendo possuídas pelo demônio. Uma tremenda vigarice. As coisas mudam quando o Diabo realmente resolve aparecer em um desses rituais. E aí o bicho (ruim) pega mesmo, literalmente. 

Esqueça teologia, as coisas aqui se resolvem com muita porrada! O negócio aqui é porrada pura! E obviamente que a live onde tudo está acontecendo se torna um sucesso absoluto de audiência na net! Milhares de pessoas passam a assistir pelo mundo afora. Acontece de tudo neste exorcismo, pessoas pegando fogo, estranhas criaturas surgindo do inferno. Eu confesso que o filme é tão absurdo que ele tem um certo humor involuntário. Isso o salva da mediocridade total. Não é assumidamente um terrir, um filme de terror feito para rir, mas isso se torna consequência. Nem me arrependi de ter assistido esse trash movie, para falar a verdade. Acabei me divertindo muito!

A Hora do Descarrego (The Cleansing Hour, Estados Unidos, 2019) Direção: Damien LeVeck / Roteiro: Damien LeVeck / Elenco: Ryan Guzman, Kyle Gallner, Alix Angelis / Sinopse: Picareta se faz passar por padre em exorcismos falsos na internet. Tudo corre bem para ele, até que um dia, o Diabo resolve aparecer de verdade nestas sessões de pura vigarice!

Pablo Aluísio.

sábado, 1 de outubro de 2022

Memória de um Crime

Quadrilha assalta um banco e rouba milhões de dólares. Na fuga, eles acabam sob fogo cerrado, não apenas da polícia, mas também de uma quadrilha rival. Um dos criminosos leva um tiro na cabeça, mas não morre. Ele apenas perde a memória completamente dos fatos. E ele justamente foi o responsável por esconder o dinheiro roubado. Assim, um plano de fuga da prisão é orquestrado. Ele consegue sair da cadeia. Só que precisará relembrar onde escondeu o dinheiro, o que trará enormes prejuízos para si e para os outros. Sylvester Stallone interpreta o policial encarregado de resolver o caso. Um caso que ficou em aberto durante 7 anos sem solução. E ele agora parece empenhado mais do que tudo em finalmente chegar no dinheiro roubado e na prisão de todos os envolvidos.

Sylvester Stallone foi um dos atores mais bem pagos do cinema americano durante os anos 80. Só que o tempo passou e as coisas mudaram. Hoje em dia, ele surge no elenco de filmes B como esse. Não existe mais nem a sombra do grande astro que ele foi no passado. Ainda mais agora, quando está enfrentando um divórcio milionário de uma ex-esposa que está na justiça tentando ter direito à metade de sua Fortuna. Então não é de se espantar que ele venha a parecer cada vez mais em filmes B como esse. No geral, este "Memória de um Crime" é bem fraco. É fraco na produção, é fraco na atuação e é fraco no roteiro. Para falar a verdade, o Stallone parece pouco interessado no que acontece. Apenas cumpre seu papel por tabela. Está acima de tudo defendendo o seu cachê e nada mais.

Memória de um Crime (Backtrace, Estados Unidos, 2018) Direção: Brian A. Miller / Roteiro: Mike Maples / Elenco: Sylvester Stallone, Matthew Modine, Ryan Guzman, Meadow Williams / Sinopse: Ao fugir da prisão, criminoso tenta relembrar onde escondeu uma fortuna em dinheiro roubado na sua última empreitada no mundo do crime.

Pablo Aluísio.

Os Renegados

Um famoso ladrão de jóias é contratado por um grupo de jovens para executar um plano ousado. Ele teria que participar do roubo de 20 milhões de dólares em barras de ouro. E isso não é tudo. O ouro pertenceria a um grupo terrorista do Oriente médio. Toda essa fortuna estaria escondida dentro de uma prisão de segurança máxima localizada em um país árabe controlado por uma ditadura sanguinária. Esse ladrão de casaca é interpretado pelo ator Pierce Brosnan. O filme começa até muito bem. Eu costumo dizer que filmes sobre planos de roubos geralmente são bons. Infelizmente, essa é a exceção que confirma a regra. Um filme que começa interessante, mas que rapidamente desaba e afunda. E é bem fácil entender por que isso acontece. 

Em determinado momento o roteiro deixou a execução do plano de roubo em segundo plano, optando por um humor sem graça. Piadinhas constrangedoras surgem a todo momento. E o próprio plano é mal editado. Nunca vi sequências tão ruins de roubo como aqui. Que edição pavorosa! O final também não é nada interessante, muito mal escrito. E essa falta de qualidade vai se expressar até mesmo na atuação de Pierce Brosnan. No começo do filme ele parece empenhado em atuar bem. Algo que depois se transforma em desânimo. Isso vai ficando bem claro para quem assiste. Em suma, temos aqui algo que era potencialmente interessante, mas que foi desperdiçado. Um filme que pode ser definido como ruim no final das contas.

Os Renegados (The Misfits, Estados Unidos, 2021) Direção: Renny Harlin / Roteiro: Kurt Wimmer / Elenco: Pierce Brosnan, Tim Roth, Nick Cannon / Sinopse: Grupo contrata um famoso ladrão Internacional de joias para executar um ousado plano de roubo no Oriente Médio. O objetivo é colocar as mãos em 20 milhões de dólares em ouro, que pertence a terroristas fundamentalistas.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Rock Hudson e o Western - Parte 3

Depois de mais esse fracasso Rock tinha que procurar por gêneros mais populares que resgatassem seu prestígio junto aos produtores. Voltou aos filmes de guerra no correto "Tobruk" e depois veio o que tanto esperava desde os tempos em que havia trabalhado ao lado de Kirk Douglas: um convite para atuar ao lado do mito John Wayne. O filme se chamava Jamais Foram Vencidos. O roteiro explorava as feridas deixadas pela sangrenta guerra civil tanto do lado da União como dos confederados. 

Rock interpretava esse derrotado Coronel confederado chamado James Langdon que após o fim da guerra juntava seus últimos resquícios de orgulho pessoal para recomeçar sua vida. Em sua autobiografia o ator Rock Hudson relembrou que inicialmente ficou um pouco receoso de trabalhar ao lado de Wayne, afinal o velho ator era considerado um símbolo do conservadorismo mais reacionário do Partido Republicano. Embora nunca tivesse assumido ser gay até aquele momento muita gente em Hollywood sabia de sua opção sexual. Rock tinha receios de que isso se tornasse uma barreira entre ele e Wayne durante as filmagens. Para sua agradável surpresa John Wayne foi um colega gentil e agradável durante todo o tempo em que trabalharam juntos.

Logo que foram apresentados John Wayne disse que havia sabido que ele, Rock, era um bom jogador de Bridge (um popular jogo de cartas da época). Rock confirmou sorrindo a informação. Aquele era um excelente gancho para iniciar uma boa amizade com John Wayne. E assim foi. Poucos sabem, mas a realização de um filme significa também muitas horas de espera para os atores. Enquanto tudo é preparado o elenco fica na espera, muitas vezes por horas a fio. Rock e Wayne aproveitavam esse tempo ocioso para jogar cartas ou xadrez, já que Wayne era um verdadeiro viciado do tabuleiro. Bom jogador, Rock acabou vencendo várias partidas de Wayne, o que o deixou surpreso já que o velho cowboy se considerava um bom jogador. O mais importante de tudo isso porém foi o fato de que ambos se deram bem, mesmo estando em lados opostos em termos políticos e ideológicos. Rock se considerava de certo modo um liberal, enquanto Wayne era o símbolo do conservadorismo americano. Ele era gay e Wayne representava o máximo da masculinidade em Hollywood. Nada disso impediu de serem bons amigos durante todo o período de filmagem.

A despedida de Rock Hudson dos faroestes se daria alguns anos depois com Inimigos à Força. Corria o ano de 1973 e a carreira do ator já começava a dar claros sinais de desgaste. Como havia sido um galã por toda a vida, agora Rock enfrentava problemas de arranjar filmes por causa da idade e da perda de um de seus maiores atributos: a beleza. Isso levaria Rock para o mundo da TV. Sem trabalho em Hollywood a solução foi entrar no mercado de séries televisivas. E até que ele não se saiu mal. A série policial McMillan & Wife fez sucesso e apresentou Rock para toda uma nova geração. Assim Hollywood resolveu capitalizar mais uma vez em cima justamente dessa popularidade trazida pela TV. Rock surgia com o mesmo visual que tinha na série, com um longo bigode. Ao seu lado outra estrelinha da TV, Susan Clark, integrava o elenco. Dividindo o estrelado do filme havia também outro veterano, o cantor e ator Dean Martin, naquela altura já meio debilitado por causa de seu conhecido alcoolismo. Era um bom faroeste para a época, porém não marcou muito dentro do gênero. Um adeus um tanto opaco de Rock ao mundo do Western. Mesmo assim pelos filmes que fez ao longo de todos os anos é inegável que Rock deixou sua marca nesse gênero cinematográfico tão amado e querido pelos fãs de cinema em geral.

Pablo Aluísio. 

quinta-feira, 29 de setembro de 2022

James Dean - Hollywood Boulevard - Parte 18

Depois da decepção amorosa com Pier Angeli, Dean resolveu voltar à sua velha rotina. Acabaram-se os dias de ternos engomadinhos e cabelos penteados. Ele estava de volta ao seu modo Rebelde. Para esquecer a ex-namorada resolveu cair de cabeça em coisas que gostava de fazer. Uma delas era correr. Nos anos 1950 havia uma série de corridas amadoras em pistas profissionais realizadas geralmente nos fins de semana, principalmente no circuito de Los Angeles. Dean se achou nessas competições. Ele imediatamente se inscreveu em duas corridas, comprou um carro esporte novinho e se preparou para seu primeiro grande teste.

James Dean chamou logo a atenção, mas não pelos motivos certos. Os demais corredores se assustaram com seu estilo ousado demais, quase suicida de competir. Dean se mostrou um adversário ferrenho, que não se intimidava diante de ultrapassagens perigosas e quase impossíveis. Para ele a segurança na pista vinha em segundo lugar pois o que ele almejava mesmo era vencer, acima de tudo.  Sujo de graxa, roupa suada e imunda, Dean achou o máximo o clima que rolava nesse tipo de corrida esporte. Decidiu que iria participar sempre que fosse possível e iria investir em carros melhores e mais velozes, principalmente os da sua marca preferida, a alemã Porsche.

Também resolveu que era hora de reunir sua turma. Durante seu namoro com Pier Angeli, Dean ficou meio isolado pois sua namorada não conseguiu gostar muito de seus amigos. A turminha de Jimmy Dean realmente era formada por jovens fora dos padrões. A maioria deles era de bissexuais que estavam dispostos a se envolver com homens e mulheres, de acordo com seus desejos, fugindo das amarras moralistas de sua época. Certamente não era o tipo de gente que uma católica tradicional como Angeli estava acostumada a frequentar. Nos fins de semana esse grupo de jovens atores se reunia na badalada praia de Malibu para divertidas e extravagantes festas à beira da piscina. Era um meio onde tudo parecia valer, mas Dean conseguiu ultrapassar todas as barreiras, afinal ele era competitivo e não queria ficar atrás de ninguém. Nessas festinhas ele começou a criar o hábito de práticas masoquistas. Dean, sabe-se lá o porquê, começou a associar prazer sexual com dor física. Assim pedia para que seus amantes apagassem seus cigarros em seu peito. A prática bizarra acabou dando a James Dean um apelido no mínimo curioso entre a turma: O cinzeiro humano!

Também começou a sair com outras atrizes de seu interesse. Uma delas foi a loira Ursula Andress. Nascida em Ostermundigen, Suíça, ela era mais uma atriz européia exótica que Hollywood tentava transformar em estrela. O relacionamento de James Dean com ela porém foi bem diferente do que ele teve com Pier Angeli. Com Andress, Dean conseguiu ser ele mesmo, o que não foi lá muito bom para o namoro. Ursula começou a achar que seu novo namorado era bem estranho e nada fiel. A um jornalista deixou subentendido o bissexualismo do ator ao declarar: "Dean se relaciona com tudo... com qualquer um!". Como estava sendo cotado para ser um dos futuros astros da Warner tudo foi logo abafado para esconder maiores escândalos. Aos amigos Dean confidenciou que Andress não era "uma mulher para ser levada à sério, pois não passava de uma companheira de farras". Como nenhum deles estava disposto a abaixar a cabeça para o outro, o breve romance logo chegou ao fim.

Além das corridas e festas, James Dean também criou uma outra paixão por essa época: as touradas! Tudo começou em Nova Iorque quando ele foi presenteado com uma capa de um famoso Matador mexicano, um conhecido toureiro das arenas espanholas. Dean achou o máximo aquele presente e começou a pesquisar sobre sua vida. Logo estava fascinado pelo violento esporte. Todo fim de semana Dean procurava cruzar a fronteira até o México para assistir algumas competições. Acabou inclusive encontrando outro apreciador delas dentro do mundo do cinema ao conhecer o diretor Budd Boetticher, que havia dirigido vários faroestes de sucesso com Randolph Scott. Dean e Budd tinham gostos parecidos e se envolviam em longas conversas relembrando os grandes toureiros da história. A capa, ainda com sangue do último touro trucidado na arena, era levada por Dean a todos os lugares. Ele a colocava sobre os ombros e ia com ela para onde quer que fosse, mesmo que em hotéis sofisticados de Hollywood. Era um dos privilégios de ser uma celebridade na capital mundial do cinema.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Elvis Presley - All Shook Up / That's When Your Heartaches Begin

Como a RCA Victor estava sem material para lançamentos, Elvis entrou em estúdio logo em janeiro de 1957 para novas sessões. As gravações aconteceram no Radio Recorders, o preferido de Elvis na costa oeste. Desde quando começou a trabalhar na RCA, Elvis sempre escolhia o local por ter bom equipamento de gravação e acomodações acolhedoras. Dessa vez o principal objetivo era gravar novas músicas para um single a ser lançado o mais rapidamente possível. Elvis chegou com sua turma e começou a ouvir as sugestões do produtor. As músicas de demonstração eram passadas para ele escolher as que mais lhe agradava. 

Essa acabaria sendo a sua forma de trabalhar até o fim de sua carreira. As músicas eram reproduzidas para sua audição, caso Elvis gostasse de alguma, mandava separar e ao final com seis ou oito canções escolhidas ele se dirigia ao microfone e dava seu sinal de OK. Os microfones eram ligados e as sessões começavam de fato. Geralmente Elvis ouvia as demos sentado em uma confortável cadeira no centro do estúdio com um refrigerante em mãos, geralmente uma Pepsi, sua marca preferida. Nesse dia em particular Elvis resolveu tentar algo diferente. Iniciou com a canção gospel “I Believe”. Depois tentou a balada "Tell Me Why". Só no final da sessão é que se mostrou disposto a gravar a canção "All Shook Up". Era o que os produtores da RCA queriam.

A música escrita por Otis Blackwell caía como uma luva para o gosto dos jovens da época. Tinha um excelente ritmo, com muito swing, e uma letra que certamente criaria uma identificação imediata com a juventude. Era praticamente uma gíria que logo cairia na boca dos fãs de Elvis. Embora o cantor fosse creditado depois como um dos autores da música, a verdade é que novamente pouco participou da criação da canção. Apenas deu uma ideia para o que seria um bom refrão, daqueles bem pegajosos, que grudam na cabeça do ouvinte. Sugeriu a expressão “All Shook Up” se referindo obviamente a um estado de excitação, movimento, inquietação. O próprio cantor inclusive explicou depois em uma entrevista que só havia dado ideia para uma única música em toda sua vida e era justamente essa, “All Shook Up”. Ele havia tido um sonho estranho, onde não parava quieto e quando acordou imaginou que poderia sair uma música dali. Alguns historiadores porém acham que embora não estivesse mentindo a música já existia desde 1956 e tinha apenas sido retocada por Blackwell para que Elvis a gravasse depois.

Um fato curioso é que "All Shook Up" iria mudar com os anos. A versão original do compacto tem uma melodia com levada de jazz e swing, mas quando Elvis a levou para os palcos a partir de 1969 ela ganharia muito mais velocidade, se transformando em um rock vibrante, com pouca identidade com a gravação original. O lado B do single veio com a baladona “That's When Your Heartaches Begin”. A canção foi incluída praticamente como “tapa buraco” pois a RCA não tinha a menor intenção de trabalhar em cima dela. Era uma velha balada romântica, sem muito potencial comercial, que só foi gravada por Elvis porque ele a tentava gravar adequadamente desde os tempos da Sun. Como lado B de All Shook Up já estava bem posicionada. All Shook Up virou um tremendo sucesso em seu lançamento e seria o primeiro de quatro singles campeões nas paradas que Elvis iria emplacar de forma consecutiva. De fato esse foi um de seus períodos mais bem sucedidos em termos comerciais. Seus singles eram dados como certos no topo das paradas e tinham pré vendas de mais de um milhão de exemplares. Algo inédito para a RCA. All Shook Up chegou ao primeiro lugar na Billboard Top 100 em abril de 1957 tirando a canção “Round and Round” de Perry Como da primeira posição. No saldo final deu a Elvis Presley mais dois discos de platina. Um êxito comercial absoluto. Nada mal para o que era apenas um sonho agitado de fim de noite.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 27 de setembro de 2022

Rock Hudson e o Western - Parte 2

Provavelmente o melhor momento de Rock Hudson no gênero western tenha acontecido no filme O Último Por-do-Sol de 1961. O ator estava saboreando o sucesso de suas comédias românticas ao lado de Doris Day e procurava por algo um pouco diferente, para não ficar tão estigmatizado por só fazer um tipo de filme. Os dramas de Douglas Sirk tinham ficado no passado e assim Rock decidiu que seria uma boa oportunidade de atuar em mais um faroeste. Além do mais o elenco contava com Kirk Douglas, um dos astros mais populares da época. 

Não haveria qualquer risco de insucesso com todas as peças no lugar. E tal como Rock previa o filme realmente logo se tornou um sucesso de público e crítica. Mais importante do que isso, ele se deu muito bem com o próprio Kirk no set de filmagens que logo se mostrou um excelente colega de trabalho. Um dos conselhos que Douglas deixou para Rock ele jamais esqueceu. "Não deixe de trabalhar ao lado de John Wayne" - aconselhou o astro. Rock guardou o conselho para si.

Depois do êxito do filme Rock voltou para sua velha rotina. Fez mais dois filmes ao lado de sua querida Doris Day, "Volta Meu Amor!" e "Não me Mandem Flores". Essas duas produções eram basicamente releituras muito semelhantes ao sucesso "Confidências à Meia Noite". Os roteiros eram praticamente iguais, sem inovações. A crítica percebeu isso e apesar do sucesso de público de ambos os filmes Rock entendeu que aquele tipo de comédia era uma página virada em sua filmografia. Duas outras comédias românticas mostravam bem a saturação desse tipo de personagem. "Quando Setembro Vier" ainda conseguiu uma bilheteria razoável, mas "Um Favor Muito Especial" foi um tremendo fracasso comercial.

Rock procurou por outros caminhos para reencontrar o sucesso. Fez um filme interessante sobre a Força Aérea dos Estados Unidos chamado "Águias em Alerta", cujo roteiro explorava bem as paranoias da guerra fria e uma estranha ficção chamada "O Segundo Rosto", um filme que Rock havia adorado fazer e que acreditava muito, mas que não foi bem recebido nem pelo público e nem pela crítica que o achou estranho e bizarro demais. Em busca do sucesso Rock começou a procurar novamente por roteiros de filmes de faroeste.

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

As Vidas de Marilyn Monroe - Parte 25

Marilyn Monroe tinha realmente problemas psiquiátricos? Como se sabe havia um extenso histórico de doenças mentais na família de Marilyn. Sua própria mãe foi internada em um hospício quando Marilyn era apenas uma criança. Levada para orfanatos ela definitivamente não teve uma infância feliz. Vivendo de lar provisório em lar provisório, muitas vezes sofrendo abusos psicológicos, Marilyn acabou criando uma personalidade cheia de traumas que ao longo dos anos só foram piorando. Uma coisa parecia certa, Marilyn não era uma pessoa fácil de conviver. Ela ia da doçura à fúria em questão de segundos. Também parecia demonstrar ter duas personalidades bem diferentes que se revezavam ao longo do dia. Uma delas era a da menininha órfã, que falava com uma voz de criança, parecendo muito vulnerável e indefesa. A outra personalidade era forte, decidida, dona de si e seu destino. Quem não a conhecia ficava realmente surpresa com essas mudanças.

Dorothy Manning, uma escritora que conviveu com Marilyn nos anos 1950 escreveu bem sobre essa dualidade do modo de ser de Marilyn Monroe em seu cotidiano. Dorothy relembra: "Marilyn era estranha. Quando a encontrei pela primeira vez tive a impressão de estar conhecendo uma menina em corpo de mulher. A vozinha de criança pequena era um tanto assustador. A falta de verbalização adulta, a mentalidade de uma menininha de nove anos! Ela parecia alguém com algum tipo de problema de retardo mental. Cerca de meia hora depois Marilyn surgia totalmente diferente! Ela parecia completamente dona de si, alegre, expansiva, independente, uma mulher moderna, de seu tempo, falando bem, uma diva do cinema. Suas percepções do mundo eram até mesmo brilhantes. Ela falava sobre política, os estúdios, a falta de credibilidade de certas pessoas... Era algo impressionante! Parecia duas pessoas completamente diferentes! Eu ficava sem saber como agir em sua presença!".

Teria Marilyn traços de esquizofrenia? Ou tinha um problema relacionado ao transtorno de personalidade esquizóide? Ninguém até hoje sabe ao certo qual era o problema de Marilyn. Ao longo da vida ela colecionou analistas. Em determinado momento Marilyn se convenceu que seus supostos problemas psiquiátricos poderiam ser curados com análise. Então ela virou uma cliente de inúmeros deles na Califórnia, não raro fazendo duas ou três sessões em um único dia! Nem todos esses analistas tiveram uma boa impressão sobre Marilyn. Como diria Dorothy Manning, Marilyn tinha mesmo problemas: "Todos que conheciam Marilyn tinham a sensação de que havia algo errado com ela. Havia uma sensação no ar de que Marilyn estava obviamente perturbada. Ela tinha ataques de ansiedade e insegurança. Lembrando do passado tenho a clara certeza de que Marilyn era uma pessoa bem estranha e confusa, cuja fraqueza psicológica nos atingia no coração."

O Dr. Milton Gottleb, que atendeu Marilyn, tinha opinião muito semelhante. Ele disse: "Marilyn era muito insegura, uma insegurança patológica. Era uma jovem mulher bem perturbada que tinha acima de tudo medo da vida. Não é errado dizer que tinha uma personalidade esquizóide. Muitos atores e atrizes acabam desenvolvendo algum tipo de neurose em algum momento de suas vidas.". Outro médico, o Dr. Elliot Corday, foi mais sombrio sobre sua avaliação sobre Marilyn: "Eu deixei de atender Marilyn porque ela não conseguia obter melhores resultados. As pessoas entenderiam melhor sobre sua morte se tivessem conhecimento das coisas que soube sobre Marilyn quando ela foi minha cliente. Marilyn havia tentado se matar inúmeras vezes, mais do que muitos pensam. Ela também começou a usar drogas pesadas e eu lhe disse que não seguiria sendo seu médico se aquilo continuasse. Marilyn também tinha ataques recorrentes de melancolia. Ela podia passar a tarde inteira, olhando pela janela, fitando o horizonte, sem falar nada ou pensar nada. Era um tipo de melancolia patológica que poderia levá-la a cometer atos insanos, como o suicídio, por exemplo",

Marilyn tinha muito medo de ficar louca como a mãe. Aliás a loucura não havia apenas atingido a mãe de Marilyn, mas também sua avó, suas tias, primas, etc. Estudos modernos já conseguiram provar que a depressão, por exemplo, pode por via genética, ser passada de mãe para filha. Então essa era uma possibilidade real. Por falar em depressão, Marilyn também sofria bastante com ataques dessa doença. Ela passava semanas trancada em seu quarto completamente escuro, com as portas fechadas, sem ver praticamente ninguém. Os inúmeros abortos a destruíam psicologicamente. Hoje em dia estima-se que Marilyn tenha feito ao longo da vida quatorze abortos. Em uma época em que a pílula anticoncepcional ainda não existia, o risco de surgir uma gravidez indesejada era algo constante na vida da atriz. Contraditoriamente o maior sonho de Marilyn era se tornar mãe. E isso foi apenas mais um fator para deixá-la ainda mais abalada do ponto de vista psicológico.

Pablo Aluísio.

Marlon Brando - Hollywood Boulevard - Parte 25

Quando Brando foi expulso da escola militar por indisciplina, ele resolveu voltar para a casa dos pais. Não demorou muito para que o tempo fechasse sobre ele, até porque seu pai era muito rígido e ver o filho fracassar assim nos estudos era demais para o velho. Por essa época a irmã de Marlon, Jocelyn Brando, tentava vencer como atriz em Nova Iorque. Não era fácil. Havia muitos atores e atrizes desempregadas e os papéis, quando surgiam, eram muito disputados. Ela era uma jovem bem talentosa e até bonita, algo que sempre era levado em conta na época, porém os trabalhos eram escassos. Não era um futuro promissor, como ela bem deixou claro para uma carta enviada ao irmão que estava morando com seus pais em Omaha.

Marlon Brando logo pressentiu que não havia nenhum futuro para ele em sua cidade no meio oeste, já que os empregos que existiam para jovens de sua idade eram horríveis, duros e mal remunerados. Assim ele tomou sua decisão. Entre ser desempregado ou subempregado no Nebraska ou ser desempregado em Nova Iorque, tentando uma carreira como ator, a melhor opção era seguramente a segunda. Informou aos seus desiludidos pais que iria para Nova York atrás de sua querida irmã e que uma vez lá tentaria arranjar algum meio de vida. Na época havia um preconceito contra homens atuando, pois isso era considerado um meio de vida em que apenas homossexuais trabalhavam. Para Marlon Brando essa era uma visão preconceituosa e babaca e ele não daria atenção a essas pessoas que pensavam desse jeito. Ele achava sinceramente que tinha algum talento para ser ator. Já havia se dado bem em peças escolares antes. Como não tinha nada a perder, só a ganhar, pegou o primeiro trem para Nova Iorque no dia seguinte.  

Os primeiros dias de Brando foram lembrados por ele em sua autobiografia. Marlon, que era um garoto do meio oeste dos Estados Unidos, obviamente ficou fascinado pela grande metrópole com seus prédios enormes e o grande movimento de pessoas por todos os lados. No começo Brando ficou um pouco inibido pelo gigantismo daquele lugar, mas não tardou muito a começar a amar aquela cidade de amplas possibilidades. Começou trabalhando em empregos eventuais e ao mesmo tempo deu início aos seus estudos de arte dramática. Nesse meio tempo seu pai lhe escreveu para avisar que ele poderia voltar para casa, pois a academia militar de Shattuck havia reconsiderado sua expulsão e o aceitaria de volta aos bancos escolares. Brando disse "não"! Ele jamais tencionaria retornar para aquele lugar, afinal ele odiava disciplina militar e estava amando a liberdade que agora desfrutava em Nova Iorque. Entre ser um oficial do exército e ser um ator ele preferia muito mais a segunda escolha.

Assim que arranjou algum dinheiro, trabalhando como mensageiro de hotel e garçom, Brando comprou uma moto de segunda mão. Com ela poderia ir aos testes de peças de teatro, às aulas de arte dramática ou simplesmente sair pelas ruas e bairros da "big apple" para passear. Brando adorava a noite e por essa época, não raras vezes, resolvia dormir em qualquer parque bonito que encontrasse pela frente. Como ele bem relembrou em seu livro, naqueles tempos não havia violência urbana e ninguém o incomodaria se resolvesse dormir debaixo de uma árvore e tampouco alguém iria tentar roubar sua moto enquanto estava tirando uma soneca. Para aguentar o frio Brando comprou uma jaqueta negra do mesmo tipo que pilotos de avião usavam. Também começou a colocar jornais dentro do casaco para espantar o frio - um velho truque que aprendera com vagabundos quando certa ocasião se aventurou a atravessar os Estados Unidos em vagões de trem de carga.

Assim a vida lhe parecia sorrir. Ao contrário de sua irmã, Brando não fazia de seu sucesso na carreira de ator uma obsessão. Ele queria vencer, é claro, mas caso nada disso desse certo, ele poderia viver com qualquer outro trabalho que estivesse à disposição na cidade. Sua sorte porém mudou rapidamente e Brando começou a ganhar alguns pequenos papéis em peças de teatro off-broadway. O cachê era fraco, mas só o fato dele ganhar dinheiro atuando já era uma conquista e tanto. E as coisas melhoraram ainda mais quando soube que havia passado no teste para entrar na prestigiada escola de atores do Actors Studio. Ele não sabia, mas sua vida estava prestes a mudar para sempre.

Pablo Aluísio.