quarta-feira, 1 de dezembro de 2021
A Lenda de Tarzan
Título Original: The Legend of Tarzan
Ano de Produção: 2016
País: Estados Unidos, Inglaterra
Estúdio: Village Roadshow Pictures
Direção: David Yates
Roteiro: Adam Cozad, Craig Brewer
Elenco: Alexander Skarsgård, Christoph Waltz, Samuel L. Jackson, Margot Robbie, Casper Crump, Mens-Sana Tamakloe
Sinopse:
Muitos anos após abandonar a África e voltar para a Inglaterra, assumindo o título de nobreza de Lord Greystoke, Tarzan (Alexander Skarsgård) é convidado pelo governo belga para voltar ao continente negro. Eles querem que ele veja com os próprios olhos tudo o que o país daquele governo está fazendo em prol das populações nativas. O que Tarzan não desconfia é que tudo se trata de uma cilada arquitetada por Leon Rom (Christoph Waltz) que deseja capturar Tarzan.
Comentários:
Gostei bastante dessa nova aventura do personagem Tarzan. Ao custo de 180 milhões de dólares eles conseguiram reconstruir o clima e a nostalgia das antigas aventuras desse herói, cuja trajetória sempre andou de mãos dadas com o cinema. Olhando para o passado, revisitando os antigos filmes de Tarzan, chegamos na conclusão que esse novo filme (dirigido pelo bom cineasta David Yates de "Harry Potter e a Ordem da Fênix", "Harry Potter e o Enigma do Príncipe" e "Harry Potter e as Relíquias da Morte") seguiu de perto as produções estreladas pelo ator Gordon Scott. Isso porque ao contrário dos primeiros filmes estrelados por Johnny Weissmuller esse aqui também não se preocupa em contar pela centésima vez as origens de Tarzan. Tudo é mostrado rapidamente em flashbacks, muito bem inseridos no enredo. O filme também não se preocupa em explorar muito o lado mais dramático do personagem como vimos, por exemplo, em "Greystoke:A lenda de Tarzan, o rei da selvas". Naquela ótima produção, dirigida pelo mestre Hugh Hudson, havia uma óbvia intenção de se abraçar o realismo. Aqui não, é mesmo uma aventura como nos velhos tempos. E isso certamente é o maior mérito desse filme. Uma ótima matinê, com roteiro redondinho e produção digna da fortuna que foi gasta em sua realização. Os pontos positivos porém não se limitam a isso. As escolhas tanto do protagonista (com o atlético Alexander Skarsgård, muito bem em cena) como do vilão (Christoph Waltz, novamente roubando a cena) se mostraram certeiras. Assim não há realmente do que reclamar. Esse "The Legend of Tarzan" é realmente uma excelente diversão.
Pablo Aluísio.
The Beatles - Get Back - Part 3
A terceira parte também é salva por causa da apresentação no terraço do prédio Apple. Você já viu isso no filme original "Let It Be", mas nunca de forma tão completa. Os detalhes são mais explorados. Coitados dos dois policiais que ficam lá embaixo enquanto os Beatles tocam no alto do prédio. Educados e polidos, eles esperam pacientemente os Beatles terminarem seu show. Se fosse os policiais brasileiros... Muitas críticas estão surgindo nas redes sociais afirmando que as músicas nunca aparecem na íntegra. Isso foi proposital, uma decisão da Apple. Eles acreditam que se as músicas surgissem completas aqui no documentário as pessoas deixariam de comprar o recente box de cinco CDs de "Let It Be". Faz sentido pensar assim? Bom, eles devem ter seus motivos, ainda mais atualmente com a indústria fonográfica em eterna crise. No geral, apesar de certos momentos cansativos, vela muito a pena assistir a tudo. Quase 8 horas de documentário! É uma maratona, sem dúvida, mas que vale a pena ser percorrida.
The Beatles - Get Back - Part 3 (Inglaterra, 2021) Direção: Peter Jackson / Roteiro: Peter Jackson / Elenco: John Lennon, Paul McCartney, George Harrison, Ringo Starr, Yoko Ono, Linda Eastman, Mal Evans, George Martin, Michael Lindsay-Hogg, Glyn Johns, Neil Spinall / Sinopse: Terceira e última parte do documentário. Os Beatles continuam seus ensaios na Apple e decidem finalizar o filme tocando no alto do prédio de sua gravadora. A apresentação de poucas canções gera protestos e reclamações dos vizinhos que chamam a polícia. Paul McCartney tem finalmente o clímax que tanto esperava.
Pablo Aluísio.
terça-feira, 30 de novembro de 2021
The Beatles - Get Back - Part 2
Entretanto ainda fica sem solução a questão do show que iria encerrar o filme. Eles tinham ouvido várias propostas, algumas bem estranhas, mas no final de tudo eles decidem simplesmente subir no telhado do prédio da própria Apple para encerrar o filme. Definitivamente não era a melhor solução, mas diante das circunstâncias, o que poderia se fazer? Paul sobe no telhado e faz uma checagem. Será que aquilo aguentaria o peso dos Beatles, da equipe de filmagem e dos equipamentos de som? Olhando para o passado fico até perplexo por eles terem decidido algo tão fora do script. Porém era a tal coisa, ou faziam o show no telhado ou o filme ficaria sem um clímax, um dinal adequado. Esse show obviamente ficou para a terceira e última parte do documentário. Então que venha mais algumas horas desse excelente filme.
The Beatles - Get Back - Part 2 (Inglaterra, 2021) Direção: Peter Jackson / Roteiro: Peter Jackson / Elenco: John Lennon, Paul McCartney, George Harrison, Ringo Starr, Yoko Ono, Linda Eastman, Mal Evans, George Martin, Michael Lindsay-Hogg, Glyn Johns, Neil Spinall / Sinopse: Segunda parte do novo documentário sobre os Beatles dirigido por Peter Jackson. Os Beatles deixam o Twickenham Studios para trás e voltam para o prédio da Apple onde as coisas começam a dar certo novamente. Eles gravam as primeiras faixas do novo álbum e decidem fazer um show no telhado da Apple para finalizar o documentário "Let It Be".
Pablo Aluísio.
segunda-feira, 29 de novembro de 2021
Paul Newman - Rocky Graziano
No meio do caminho, na estrada deserta de Salinas, espatifou seu carro Porsche em um cruzamento. Ali mesmo James Dean, o ator que simbolizava toda a rebeldia jovem do mundo, morreu. A Metro-Goldwyn-Mayer que já havia investido bastante na realização do filme ficou em um dilema. Por alguns meses os executivos ficaram sem saber o que fazer - tentaram convidar Marlon Brando mas esse recusou ao dizer que já havia assinado contrato para a realização de uma outra produção da Fox. A outra boa opção seria Montgomery Clift, mas o sensível ator achou que não seria adequado para o papel.
Foi então que o diretor Robert Wise sugeriu o nome de Paul Newman. Muitos produtores tinham receio de escalar Newman por causa de seu primeiro filme, o tão criticado "O Cálice Sagrado". Além disso naquela altura ele não tinha um nome forte o suficiente para garantir uma boa bilheteria. Havia porém pontos a favor de Newman, o mais forte deles é que ele também fazia parte da brilhante geração de atores de Brando e Dean e tal como eles era cria do famoso Actor´s Studio. Certamente poderia ser uma ótima solução.
Some-se a isso o fato de que Paul estava esperando há tempos por uma boa oportunidade e aquele script parecia ser uma ótima opção para ele recomeçar tudo de novo, como se fosse do zero. De uma forma ou outra, em uma tarde de setembro de 1955 Newman finalmente foi até a MGM assinar o contrato. Tudo estava certo e ele faria Rocky Graziano em "Somebody Up There Likes Me" que no Brasil receberia o título de "Marcado pela Sarjeta". Seria o começo de uma nova fase de sua carreira no cinema.
Pablo Aluísio.
domingo, 28 de novembro de 2021
The Beatles - Get Back - Part 1
Pressionados, eles começaram os ensaios. Tudo muito disperso, sem foco. Paul McCartney tenta o tempo todo organizar aquela bagunça, muitas vezes sem êxito. Em determinado momento desabafa dizendo que os Beatles precisavam de disciplina. Algo complicado, ainda mais vendo que George Harrison estava em um clima de confronto com Paul e John Lennon parecia anestesiado, apático. O próprio Lennon realmente parecia sem novas ideias. Uma das forças criativas do grupo, John só tinha a apresentar algumas linhas de músicas inacabadas. Uma decepção. Conforme o tempo vai passando o clima começou a ficar mais tenso. Esse primeiro episódio termina quando George Harrison decide ir embora, deixar os Beatles. Cansado do perfeccionismo de Paul, ele simplesmente comunicou aos demais membros da banda que estava fora! O auge ocorre quando John Lennon sugere que os Beatles chamem Eric Clapton para subsituir George. O abraço dos três nos momentos finais sugere que eles tentavam salvar um navio que estava inegavelmente afundando.
O que mais me impressionou nessa parte 1 foi a capacidade de criação de Paul McCartney. Em apenas uma manhã ele vai ao piano sozinho e cria praticamente do nada alguns dos maiores clássicos dos Beatles como "Let It Be" e "The Long And Winding Road". Ele também criou, bem na base do improviso, a própria "Get Back", com isso salvando as sessões de um ostracismo impressionante. Confesso que para gostar desse novo documentário o espectador tem que necessariamente gostar muito dos Beatles. São horas e horas de ensaios, muitos deles sem qualquer foco ou direção. No meio de tanta dispersão porém os clássicos iam surgindo meio ao acaso. Somente os Beatles conseguiam criar no meio de uma situação como aquela. Coisa de gênios mesmo.
The Beatles - Get Back - Part 1: Days 1-7 (Inglaterra, 2021) Direção: Peter Jackson / Roteiro: Peter Jackson / Elenco: John Lennon, Paul McCartney, George Harrison, Ringo Starr, Yoko Ono, Linda Eastman, Mal Evans, George Martin, Michael Lindsay-Hogg, Glyn Johns, Neil Spinall / Sinopse: Primeira parte do documentário dos Beatles dirigido pelo cineasta Peter Jackson. Nessa primeira parte vemos os Beatles ensaiando no Twickenham Studios.
Pablo Aluísio.
sábado, 27 de novembro de 2021
Em Busca da Justiça
Após uma matança eles conseguem fugir, mas Bishop não perdoa o que ele considera uma traição vil. Para completar o quadro ainda há o veterano de guerra Dan Frost (Joel Edgerton), primeiro marido de Jane. Uma boa pessoa que viu sua esposa ir embora com outro homem. Mesmo magoado, ele resolve ajudar Jane, principalmente agora que o bando de Bishop está prestes a chegar, prontos para tudo. O roteiro é basicamente construído em cima desse momento de tensão com Jane, Dan e Bill encurralados em seu pequeno rancho enquanto Bishop e seus homens partem para a vingança. Para contar o passado de todos os protagonistas o diretor usa de flashbacks, todos muito bem encaixados na estória. Assim o que temos aqui é um faroeste classe A, com excelente elenco e direção de Gavin O'Connor, jovem cineasta que se destacou com "Guerreiro", um bom filme sobre lutas. Esse novo "Jane Got a Gun" é certamente seu melhor trabalho. Se você gosta do gênero faroeste não deixe passar em branco pois o resultado, como escrevi, é realmente muito bom.
Em Busca da Justiça (Jane Got a Gun, Estados Unidos, 2015) Direção: Gavin O'Connor / Roteiro: Brian Duffield, Anthony Tambakis / Elenco: Natalie Portman, Ewan McGregor, Joel Edgerton, Noah Emmerich / Sinopse: Jovem mulher e seu marido são encurralados em seu próprio rancho por uma quadrilha de bandidos e criminosos. O líder deles quer se vingar de Jane, a dona do rancho, a qualquer custo.
Pablo Aluísio.
sexta-feira, 26 de novembro de 2021
Marlon Brando e Elia Kazan
Apesar de profissionalmente se darem muito bem, na vida pessoal Marlon Brando acabou criando sérias divergências com Elia Kazan. Acontece que o diretor foi membro do Partido Comunista durante os anos 30 e anos depois caiu na malha fina do Macartismo, que naquela altura estava em uma verdadeira caça às bruxas contra comunistas dentro do cinema americano e do mundo das artes em geral. Convocado para depor Elia Kazan não pensou duas vezes e entregou todos os seus antigos companheiros de partido. Isso obviamente arruinou a vida desses profissionais que ficaram sem ter onde trabalhar ou arranjar emprego pois nenhum estúdio de Hollywood os contrataria após seus nomes estarem na lista negra. Alguns inclusive não aguentaram a pressão e se mataram. Foi uma atitude feia, vergonhosa e lamentável por parte de Kazan. O ato de ser um dedo duro covarde acompanharia e mancharia a biografia de Elia Kazan até o fim de sua vida.
Para completa surpresa de Marlon Brando ele também entrou na lista negra, só que por um ato menor, que no final das contas não o prejudicou em sua carreira. Anos antes Brando havia assinado um abaixo-assinado contra o enforcamento de um negro numa prisão do sul. Isso bastou para colocar seu nome entre os possíveis "vermelhos" de Hollywood! Pior aconteceu com sua irmã, Jocelyn Brando, que também foi incluída a lista negra por um erro absurdo: ela tinha o mesmo sobrenome de um infame roteirista comunista, só que na verdade ela nem conhecia o sujeito! Isso a prejudicou e ela ficou um tempo sem conseguir arranjar emprego em Hollywood e teve que ir para Nova Iorque para trabalhar em peças de teatro na cidade. Brando ficou indignado com as acusações. Ele nunca havia sido comunista e se tivesse sido teria assumido tudo de peito aberto. Era uma mentira e uma calúnia contra ele e sua irmã.
Esses fatos por si só já tinham convencido Brando de que nunca mais trabalharia ao lado de Elia Kazan. Assim foi com muita resistência que aceitou fazer um último filme ao lado do diretor, "Viva Zapata!", uma cinebiografia do famoso revolucionário mexicano Emiliano Zapata. O roteiro lhe interessava particularmente e o fato de Kazan filmar algo com aquela proposta lhe soava como uma doce ironia do destino. O presidente da Fox achava que o projeto tinha poucas possibilidades de ser bem sucedido comercialmente e por isso disponibilizou um orçamento bem limitado. A fotografia também seria em preto e branco para economizar custos. Obviamente o filme hoje é considerado um clássico absoluto, para surpresa de muitos da época que diziam que seria uma bomba nas carreiras de Brando e Kazan. Sua qualidade cinematográfica porém acabou provando que se em sua vida pessoal e política Elia Kazan tinha do que se envergonhar, como cineasta ele continuava tão brilhante como antes.
Pablo Aluísio.
O Primeiro Casamento de Marilyn Monroe
Assim numa tarde de sábado de um dia quente de 1942 Norma Jean se casou com Jim Dougherty. Com o casamento Marilyn se tornava emancipada e não haveria mais necessidade de ficar indo de lar adotivo em lar adotivo, morando com pessoas desconhecidas em lugares que ela nem sabia que existia. Como tinha apenas 16 anos ela não tinha consciência do que era ser casada e nem das obrigações que isso implicava. Em relação a ter uma vida sexual com o marido as coisas eram ainda mais complicadas pois Marilyn, por ser uma adolescente dos anos 1940, nunca havia falado sobre sexo antes com quem quer que seja. Anos depois lembrando de seu primeiro casamento ela dizia ironicamente que era "como viver em um zoológico".
Sua sorte foi que seu marido Jim logo se alistou na marinha mercante e começou a fazer longas viagens. Na pior das hipóteses Norma ficava livre da obrigação de conviver diariamente com um quase estranho que agora tinha que chamar de marido. Para matar o tédio de uma vida sem objetivos (ela também tinha largado a escola após se casar), começou a ir ao cinema todos os dias. Os filmes eram naquela época a escolha natural de diversão para os mais pobres pois os ingressos custavam barato, principalmente nas matinês, uma quantia realmente irrisória que nem chegava a 1 dólar.
Marilyn ficou deslumbrada com todas aquelas atrizes bonitas, vivendo vidas nas telas que para ela mais pareciam um sonho distante. Como era jovem e inocente ainda, Norma foi aos poucos alimentando o sonho de ir para Hollywood para ser atriz. Quando contou para uma amiga que queria virar atriz de cinema ela riu e disse que isso era algo impossível de se conseguir. Norma porém não aceitou essa realidade. Assim quando seu jovem marido voltou de viagem tudo o que encontrou foi sua casa vazia e um bilhete de Marilyn dizendo que ela tinha indo embora para sempre e que mandaria os papéis de divórcio pelo correio. Emancipada, livre e dona do próprio destino, Norma nem pensou duas vezes e foi embora atrás de seus sonhos. No total o casamento sequer durou dois anos. O marido ficou para trás, literalmente a ver navios.
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 25 de novembro de 2021
Elizabeth Taylor e Montgomery Clift
A amizade de Montgomery Clift com Elizabeth Taylor foi longa e muito verdadeira. Isso porque não demorou muito para Liz se colocar na posição de conselheira pessoal e íntima de Clift, algo que os anos provariam não seria nada fácil. Monty tinha muitos problemas emocionais em sua vida privada. Não conseguia se acertar com nenhuma garota por longo tempo (o que daria origem a infundadas fofocas de que era gay) e tampouco conseguia superar seus problemas de alcoolismo e depressão. O relacionamento com o pai também era fonte de vários problemas. O estilo refinado e educado do ator também lhe trazia algumas dificuldades de relacionamento na terra do exibicionismo barato que era Hollywood.
Segundo várias biografias no começo de tudo Montgomery Clift realmente deu vazão a uma paixão platônica em relação a Elizabeth Taylor. Isso ficou bem evidente no set de filmagens de "Um Lugar ao Sol". Não é de se admirar pois Liz e Clift era jovens radiantes, estavam subindo os degraus do Olimpo em Hollywood e viviam negando para a imprensa que havia um romance entre eles. De fato não havia, muito por causa da falta de coragem por parte de Clift em avançar o sinal e tentar algo com sua parceira de cena. Liz poderia ceder, mas ela tinha uma personalidade tão ofuscante que Clift se viu na sombra dela rapidamente. Para não perder sua amizade resolveu não arriscar. Afinal de contas se tentasse consumar um romance com ela e não desse certo, certamente perderia sua amizade.
Com o passar dos anos Montgomery Clift foi ficando cada vez mais absorvido em si mesmo, em seus problemas. Liz foi testemunhando sua queda lentamente. Mesmo assim resolveu ficar o mais perto possível do ator, tentando colocar ele de volta ao bom caminho. E foi justamente após uma festa em sua casa que Clift sofreu um terrível acidente de carro, por estar dirigindo completamente embriagado. O acidente deformou parte de seu rosto e praticamente destruiu sua carreira em Hollywood. Foi justamente Liz que tentou escalar Clift em vários filmes seus após esse acidente, justamente para que ele não ficasse desempregado e nem deprimido em sua casa.
Esse ato fez com que Montgomery Clift ficasse tão próximo a ela que mais parecia um irmão mais jovem da atriz. Infelizmente nada disso evitou a morte precoce de Montgomery Clift em julho de 1966 em Nova Iorque. Ele tinha apenas 45 anos mas uma vida de excessos havia cobrado seu preço e Monty mais parecia um velho ao morrer. Tinha fortes dores de cabeça em decorrência da batida de seu carro e tentava controlar tudo com forte medicação e muita bebida. Essa mistura explosiva acabou com o restante de sua saúde. Para Clift a morte acabou sendo um alívio de seus demônios pessoais. A tragédia deixou a atriz abalada e ela procurou resumir o amigo de uma forma bem carinhosa ao se referir a ele como "uma alma bondosa e terna".
Pablo Aluísio.
Ilusão Perdida
Título no Brasil: Ilusão Perdida
Título Original: The Big Lift
Ano de Produção: 1950
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: George Seaton
Roteiro: George Seaton
Elenco: Montgomery Clift, Paul Douglas, Cornell Borchers
Sinopse:
Danny MacCullough (Montgomery Clift) é uma sargento da força aérea dos Estados Unidos que é enviado para Berlim, cinco anos após o fim da Segunda Guerra Mundial. Lá ele passa a fazer parte da tripulação de uma das centenas de aeronaves americanas cuja principal missão é enviar alimentos e provisões para o povo alemão, naquele momento histórico passando grandes dificuldades após seu país ter sido destruído pelo conflito. Em Berlim Danny acaba conhecendo a bela jovem e viúva alemã Frederica Burkhardt (Cornell Borchers) por quem se interessa. O problema é que o passado dela esconde segredos inconfessáveis. Filme indicado ao Globo de Ouro.
Comentários:
Para fãs de Montgomery Clift sem dúvida é um filme extremamente interessante. Aqui temos um jovem Monty, antes de virar um astro em "Um Lugar ao Sol" ao lado de Elizabeth Taylor, estrelando um filme que fica no meio termo entre o puro romance nostálgico e a pura propaganda patriota americana. Explico. O cenário é a Alemanha do pós-guerra. As cidades do país estão destruídas, pouca coisa ainda resta de pé. O antes todo orgulhoso povo alemão vive literalmente de sobras, vindas principalmente de programas humanitários das forças armadas americanas que distribuem gratuitamente comida para aquela nação ferida pela derrota no maior conflito armado da história. Hitler está morto e o nazismo sepultado, mas as feridas ainda parecem demorar a cicatrizar. Clift interpreta esse militar americano, um tipo até ingênuo, que acaba se interessando por uma jovem viúva da guerra. Apesar dos conselhos para ir com calma ele acaba entrando de cabeça em sua nova e avassaladora paixão. Para ele aquela garota representa todo o sofrimento daquele povo. Para não morrer de fome, por exemplo, Frederica (Borchers) precisa aceitar trabalhos pesados, na reconstrução da nação, como levantar pedras de prédios destruídos.
Isso acaba sensibilizando o personagem de Montgomery Clift. O problema é que o passado é um farto pesado demais. principalmente em relação à essa sua paixão alemã. A garota vista sob esse ponto de vista não parece tão encantadora, ainda mais ao se descobrir que ela teria sido esposa de um fanático oficial da SS. O roteiro desse filme se revela nos minutos finais surpreendentemente realista. O desfecho que todos acabam esperando não vem. Ao invés disso surge um leve gostinho de ressentimento, mesclado com amargura. A impressão que tive foi que os americanos queriam ajudar os alemães, o problema é que a guerra havia sido amarga demais. Não havia como enxergar aquelas pessoas apenas como vítimas, mas também como cúmplices. A fotografia é desoladora, filmado apenas cinco anos depois do fim da guerra a produção acabou imortalizando aquele triste retrato de um povo em ruínas. As cidades destruídas e as pessoas vagando em busca de alguma comida. Um fim trágico para todo uma nação que resolveu seguir os sonhos insanos de um louco. Assim "Ilusão Perdida" pode até ser considerado sem grandes novidades para alguns, já para outros, mais atentos, é um bela lição de história, tão real na tela como se todos estivéssemos lá.
Pablo Aluísio.