sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016
The Beatles - Abbey Road Sessions
Como sabemos Paul fez um grande trabalho ao colocar várias canções compondo um grande medley, um verdadeiro carrossel sonoro, no lado B do disco. Todas aquelas canções surgem no disco oficial como momentos breves, quase links entre uma música e outra. O grande legado desse Anthology 3 é justamente resgatar a individualidade dessas canções. O maior exemplo é "She Came in Through the Bathroom Window" que aqui surge na íntegra. No Abbey Road ele é uma das mais completas, mas nada que se compare com esse ensaio (praticamente perfeito) com Paul nos vocais e os demais Beatles mandando muito bem nos arranjos. É uma gravação saborosa que infelizmente nunca foi aproveitada totalmente na discografia dita oficial. No final ainda temos uma pequena canja com Paul e John trocando ideias sobre a harmonia da música. Para um fã dos Beatles é um presente e tanto.
"Mean Mr. Mustard" é outra que foi despedaçada no medley do disco. Aqui temos a oportunidade de ouvir John cantando a canção com uma levada mais blues, menos apressada do que conhecemos da versão oficial. Praticamente temos John fazendo contra voz a si mesmo, apenas ele e sua guitarra com efeitos sonoros mínimos de estúdio (até porque é uma demo caseira de Lennon). Teria muito potencial se tivesse sido mais individualizada. O interessante é que " Polythene Pam", por outro lado, parece já ter nascida e criada como uma musiquinha ligeira, rápido no gatilho, para fazer parte mesmo de um medley maior e mais complexo. Essa certamente ficou muito bem colocada no medley original pois com poucas notas e letra sucinta provavelmente não chamaria a atenção se não estivesse envolta numa nuvem sonora diversificada. Composta por John foi certamente uma das que inspiraram Paul ao tecer aquela colcha de retalhos sonora que é o B Side do Abbey Road.
Já os takes 2 e 8 de ”Octopus's Garden” deixa claro para o ouvinte que a música já estava pronta desde as primeiras tomadas. Uma das melhores interpretações de Ringo - que precisava de canções assim para dar certo como vocalista - a faixa é até hoje uma deliciosa brincadeira de trocadilhos vocais e sonoros. George Harrison também se destaca em seus econômicos, mas eficientes solos (aqui ele sola em praticamente toda a faixa). O mesmo não acontece com o take 5 de ”Maxwell's Silver Hammer”. Fica claro desde os primeiros acordes que Paul ainda não havia encontrado o ritmo certo para a canção. Ela está sem vida, quase parando, excessivamente melancólica (o que definitivamente não combinava com a proposta da música em si). A alegria tão característica da versão oficial também se mostra ausente. Era preciso melhor e muito - e Paul, gênio como sempre foi, a trabalhou no fim de semana, tudo resultando na ótima faixa do disco que até hoje impressiona pela criatividade e imaginação.
"Come Together" de John é um marco. Até hoje soa atual, como se tivesse sido gravada ontem. Nesse CD temos o primeiro take. John surge com um vocal visceral, completamente diferente da versão oficial. Seu estilo, quase desesperado, de mastigar as palavras chegou até mesmo a me lembrar da versão de "Twist and Shout" do "Please Please Me". Pena que depois na gravação definitiva John tenha deixado esse estilo de interpretação de lado. Acredito que a garganta dele não aguentou a puxada mais forte. Já em termos de arranjo achei maravilhosa a guitarra mais pesada de George nesse take. Cheia de personalidade, se destaca completamente dos demais instrumentos. Era algo que deveria ter sido levado para a versão oficial. E por fim chegamos em uma versão muito louca e alucinada de "The End" (que no disco original surge daquela forma tão singela). Aqui nada de timidez, as guitarras estão explodindo, extremamente fortes. Na versão original tudo foi amenizado. Com apenas um verso, "The End" é uma daquelas criações singelas que serviam para deixar claro como os Beatles realmente foram geniais em estúdio durante sua carreira.
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016
The Beatles - Rubber Soul
Outro álbum que ando ouvindo com certa frequência ultimamente é Rubber Soul dos Beatles. Conheci o disco ainda na infância pois ele fora comprado por um dos meus irmãos mais velhos quando eu deveria ter entre seis ou sete anos de idade. Então estamos falando de um trabalho dos Beatles com quem tenho profunda ligação, até mesmo emocional e afetiva. Depois de alguns anos sem ouvir voltei a curtir esse que para mim é um dos trabalhos mais consistentes e únicos do grupo de Liverpool. É inegavelmente um álbum de transição onde os Beatles iam deixando para trás sua fase Yeah, Yeah, Yeah para entrar de cabeça nas experiências sonoras revolucionárias que iriam desenvolver na fase psicodélica da banda. Assim Rubber Soul é ao mesmo tempo a despedida aos anos iniciais do conjunto e o ponto de chegada numa nova era que os iriam consagrar para sempre no mundo da música. E também por essa razão você vai encontrar na seleção musical do álbum desde canções mais pueris até sons altamente bem trabalhados em estúdio, tanto do ponto de vista instrumental, como de letras. Não é à toa que Rubber Soul costuma ser um álbum que consegue agradar tanto aos fãs dos anos pioneiros como os que curtem Revolver e seus derivados da psicodelia. Certa vez assisti uma entrevista de George Harrison afirmando que Rubber Soul e Revolver deveriam ter feito parte de um único disco duplo e que isso havia sido cogitado na EMI durante as gravações. Na verdade Revolver é bem mais revolucionário, já é inegavelmente um disco da segunda fase dos Beatles enquanto Rubber Soul é bem mais pé no chão, já com inovações, mas sem ainda chutar o balde completamente.
Um exemplo é a faixa que abre o disco, "Drive My Car". Essa música poderia fazer parte tranquilamente de qualquer disco da fase primeira dos Beatles. Não é em nada inovadora, chega até mesmo a ser juvenil. A letra é uma brincadeira criada por Paul com John que só foi aprender a dirigir bem mais velho, justamente na época em que os Beatles gravavam esse disco. Como nunca havia dirigido um carro na adolescência e juventude, John sempre andou de ônibus. Quando os Beatles estouraram então ele comprou seu primeiro carro, mas não sabia dirigir! Só em 1965 John finalmente entrou na autoescola, mas mesmo após tirar sua carteira nunca mais conseguiu dirigir sem medo. Em meados dos anos 70 ele juraria nunca mais dirigir na vida após atropelar um gato! Talvez a canção mais conhecida do disco, pelo menos para os brasileiros, seja "Girl" que na época da jovem guarda ganhou versões em língua portuguesa. A suposta garota citada por Lennon na letra não era uma mulher real, mas sim uma idealização do que seria a garota perfeita para ele. Era um sonho, uma garota simplesmente maravilhosa e sem defeitos (ou em poucas palavras, puro platonismo romântico!). O interessante é que quando a compôs Lennon já era um homem casado, mas não sentia que tinha encontrado o grande amor da sua vida que viria a ser Yoko Ono. Aliás numa entrevista na década de 70 o próprio John Lennon diria justamente tudo o que escrevi aqui. "Girl" acabaria sendo mesmo Yoko Ono, a mulher de sua vida. Alguém para finalmente dividir sua vida, sem culpas ou arrependimentos.
Por falar em John Lennon aqui temos algumas das músicas mais autorais de sua carreira até aquele momento, algo que havia acontecido timidamente em "I´m a Loser" do "Beatles For Sale" voltava com força total nesse álbum. Lennon estava disposto a escrever músicas que falassem sobre sua vida, sem malabarismos ou artifícios. "Norwegian Wood (This Bird Has Flown)" era sobre um caso extraconjugal que John estava tendo na época e "In My Life" era uma viagem emocional ao passado, onde procurava lembrar dos amigos e amores que tinham ficado para trás. Essa música é certamente uma das mais significativas da história dos Beatles, sob qualquer ponto de vista que você venha a adotar. A única composição de Lennon que ele depois repudiaria seria a boa (mas nada excepcional) "Run for Your Life". O próprio John reconheceria que ela teria sido criada, meio às pressas e sem capricho, apenas para cumprir tabela, para completar cronologicamente o disco. Era um tanto vazia e sem alma em seu modo de pensar. Esse estilo de compor seria deixado para trás para sempre por Lennon a partir daqui. Ele queria acima de tudo expor o que pensava, da forma mais honesta possível.
E Paul McCartney? Com tantas faixas fortes era de esperar que ele ficasse ofuscado pela genialidade de John Lennon. Ao contrário de John, Paul praticamente nunca se expunha pessoalmente em suas criações. Ele escrevia sobre personagens de ficção, puramente imaginários. Um exemplo disso vem com a bela "Michelle". Paul havia ficado tão encantado com a melodia natural do idioma francês quando os Beatles estiveram se apresentando em Paris que resolveu compor uma música para uma linda dama francesa chamada Michele (que não era uma pessoa real, ao contrário do que muitos pensam). Ficou linda, apesar de ser puramente ficcional. Aliás Paul nesse disco contribuiu efetivamente nas criações de John, tanto que se empenhou muito para que "Nowhere Man" apresentasse aquele arranjo simplesmente fantástico. A letra, tipicamente Lenniana, encontrou o tom certo na melodia criada por Paul. Essa é verdadeiramente uma obra prima de Lennon e McCartney, feita face a face, sem enganações ou ressentimentos e mostra que Paul, ao contrário do que muitas vezes disse John, também podia ser muito generoso em relação ao trabalho dos demais Beatles.
Completam ainda "Rubber Soul" as canções "Think for Yourself" de George Harrison, onde se nota que ele ainda não havia amadurecido completamente como compositor; a excelente "The Word" com uma das melhores letras do disco; "What Goes On", a faixa obrigatória onde Ringo cantava e soltava o vozeirão e "I'm Looking Through You", outra que poderia fazer parte de qualquer álbum Yeah, Yeah, Yeah da primeira fase dos Beatles. Enfim, basta ouvir "Rubber Soul" para entender bem a força da música dos Beatles. Muitas pessoas ainda não entendem porque eles foram considerados a melhor banda de rock de todos os tempos! Sério mesmo?! Basta ouvir um álbum desses, uma verdadeira preciosidade do Rock, para tirar todas as dúvidas! Cinquenta anos depois de ser gravado o álbum ainda soa jovial e perfeito. Impossível não adorar!
Pablo Aluísio.
The Beatles - Help!
O álbum é uma maravilha. É a tal coisa, certa vez John Lennon resumiu tudo muito bem isso ao dizer:"Os Beatles são músicos, não atores!". Um exemplo que deveria ter sido passado para o colega Elvis que ficou dez anos perdendo tempo em Hollywood. Mas enfim... voltemos ao disco. Esse álbum é, em minha visão, o último grande disco dos Beatles em sua fase Ié, ié, ié (que muitos preferem chamar apenas de primeira fase). É uma coleção magnífica de grandes composições, aliados a um trabalho primoroso de produção por parte de George Martin, um trabalho digno de todos os aplausos. Ele introduziu novos instrumentos, novas sonoridades, sem nunca descaracterizar o som único dos Beatles. Isso fica óbvio logo na primeira faixa, "Help!", uma composição de Lennon com um refrão forte e marcante. Como John sempre gostou de analisar sua própria vida ele anos depois diria que a música era realmente um pedido de socorro pois ele se sentia sufocado com o sucesso absurdo que os Beatles tinham alcançado. Os gritos, as turnês e a pressão quase o levaram a ter um colapso nervoso.
"The Night Before" de Paul já era um pouco mais amena. Gosto bastante do ritmo dessa música - perceba que ela já começa numa tonalidade única que vai até o fim da canção, sem variações. O vocal de Paul está dobrado, o que traz uma ótima sensação ao ouvinte. McCartney na letra está obviamente falando da vida noturna de Londres, de suas boates e amores fugazes. Imagine conhecer uma bela garota numa sexta à noite e no dia seguinte descobrir que nada daquilo significou alguma coisa. Aliás Paul e John eram grandes frequentadores de clubes noturnos desde os tempos de Hamburgo. Quando ficaram famosos a coisa toda ficou maior e mais agitada. Na letra Paul então escreveu uma pequena crônica sobre isso, sobre as noites nas baladas e as manhãs seguintes. E para manter a dobradinha entre Lennon e McCartney logo após entra Lennon em tom de leve melancolia na ótima "You've Got to Hide Your Love Away", A letra é de um pessimismo e uma sinceridade que chegaram a assustar as adolescentes fãs dos Beatles da época. Lennon soava até mesmo depressivo. Esse tipo de atitude certamente não combinava com os gritinhos das jovens (algo que Lennon particularmente detestava!).
Depois de um momento tão surpreendente como esse, eis que o ouvinte é convidado a dar uma chance a George Harrison em "I Need You". Essa é uma composição menor de uma fase em que George ainda tentava respirar no meio de dois gênios que eram Paul e John. A música é sincera, com boa letra e uma guitarra sempre solando uma nota só (o que se torna a grande característica da faixa). Para suavizar ainda mais o disco, a música "Another Girl" de Paul vem logo a seguir e propõe acertar contas com um velho amor do passado, deixando claro que superou tudo e está de novo amor, numa boa. Decepções amorosas são dolorosas, mas precisam ser superadas. Chega o momento de seguir em frente, ter novas paixões, viver novas emoções. Paul assim propõe deixar a tristeza de lado de uma vez por todas e partir para outra. Belo conselho.
"You're Going to Lose That Girl" tem ótimos solos de guitarra e um arranjo diferenciado onde Ringo deixou a bateria de lado para investir em velhos bongôs cubanos. Essa foi uma sugestão de George Martin. Casualmente ele foi informado que o filme teria cenas filmadas nas Bahamas. Nada melhor do que dar um pequeno toque caribenho ao álbum. A composição é de John e ele novamente se mostra um grande letrista. Depois de "Help!" o grande sucesso desse disco foi "Ticket to Ride". Poucos sabem, mas essa canção foi composta por Paul e John na Alemanha, em Hamburgo, quando eles ainda formavam uma banda desconhecida de jovens ingleses. A expressão "Ticket to Ride" era usada em prostíbulos da cidade, era o nome que era dado aos ingressos para entrar nesses cabarés localizados no porto de Hamburgo. Traduza a expressão e entenda o sentido malicioso das palavras! Essa piada interna por parte dos Beatles só seria revelada muitos anos depois por John em uma entrevista. Até aquele momento todos pensavam que os Beatles estavam sendo apenas "poéticos"! Não, eles estavam sendo vulgares mesmo! Coisas de jovens da idade deles.
Já "Act Naturally" foi colocada para abrir o Lado B do antigo vinil. Era a sempre reservada faixa para Ringo Starr exercitar seus limitados dotes vocais. Em faixas como essa, animadinhas e nada complexas, ele até que se saía muito bem - vamos reconhecer. Nada importante, nada mais do que um momento divertido do disco. Pura diversão mesmo. Encerrada ela vem os primeiros acordes de "It's Only Love", outro momento cortante de John Lennon. A canção foi escrita para sua esposa da época. Ele tentava de alguma forma reacender seu amor por ela - algo que não daria muito certo pois o casamento estava praticamente arruinado. Em um dos versos ele pergunta: "Brigamos todas as noites?". Estava mesmo complicada a vida do casal Lennon.
"You Like Me Too Much" é a segunda faixa composta e cantada por George Harrison. Essa é bem melhor do que a anterior. John está nos teclados, o que dá um sabor diferente para os arranjos da canção. George Harrison também pediu a George Martin que dobrasse seu vocal, assim ele faz dueto consigo mesmo. Ficou bonita, principalmente os solos do meio. Não é nenhuma obra prima, mas é bonita e tem bela harmonia. "Tell Me What You See" que vem logo a seguir talvez seja a única composição realmente de Lennon e McCartney do disco, já que na época eles já procuravam escrever seus próprios trabalhos, sem necessariamente contar com a ajuda do outro. A letra é basicamente de Paul, com pequenos toques de Lennon. É engraçado porque fica até fácil descobrir quem escreveu cada linha. Geralmente Paul surgia com alguma frase mais otimista, enquanto John respondia com sua acidez habitual.
"I've Just Seen a Face", por outro lado, foi escrita apenas por Paul. Ele inclusive se esmerou em escrever um belo arranjo, com um belo dedilhado em seu começo. Essa melodia inclusive me passa um sabor country - não sei se apenas eu penso assim. Aquele violão solando, aquele ritmo, parece até que foi gravada em Nashville. Ecos dos pioneiros do sul dos Estados Unidos que inspiraram os Beatles. Depois dela vem o grande clássico do disco, a imortal "Yesterday", a música que mais ganhou versões na história. Esqueça os Beatles. Essa é uma criação de Paul McCartney, única e exclusivamente. O próprio Lennon dizia que as pessoas sempre o estavam parabenizando por essa canção, mas que ela era na verdade "filha de Paul". Em entrevista John Lennon reconheceu isso ao dizer: "Nunca pensei em escrever nada parecido com aquilo". Os Beatles não participam da sessão de gravação da faixa oficial. Apenas Paul toca violão, acompanhado de um quarteto de cordas providenciado por George Martin. O resultado ficou inesquecível. Clássico absoluto!
Talvez para contornar a extrema doçura e ternura de "Yesterday", John Lennon resolveu encerrar o disco com a paulada de "Dizzy Miss Lizzy", um cover estridente de Larry Williams. A guitarra, no último volume, vai estourar seus tímpanos - por isso tenha cuidado! A razão da gravação dessa canção seria explicada por John na entrevista que deu na Playboy no começo dos anos 80, pouco antes de sua morte. Na ocasião ele desabafou: "As pessoas sempre me viram como o roqueiro dos Beatles. Enquanto Paul escrevia belas baladas de amor eu sempre aparecia com as faixas ao estilo pauleira. Talvez elas tenham razão. Eu sou assim. Uma velha orquestra de Rock ´n´Roll".
Pablo Aluísio.
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016
Stallone Rambo
Em pouco tempo Sylvester Stallone, sempre de olho em boas histórias para roteiros, descobriu o livro. Como era pouco conhecido, cujo lançamento praticamente passou despercebido, Stallone comprou os direitos para o cinema por uma quantia realmente ridícula. Depois de Rocky III ele sabia que tinha que emplacar outra série de sucesso para ficar no topo das bilheterias. Assim quando escreveu o roteiro do primeiro filme Sly modificou o destino de Rambo. Ele não morria mais nas mãos dos policiais da pequena cidadezinha. Stallone sabia que tinha um potencial campeão de bilheteria em mãos e não iria matar a franquia logo no primeiro filme, lançado em 1982."Rambo - Programado Para Matar" foi a grande influência para os filmes de ação que iriam dominar as telas na década de 1980. Excessivamente violento, apostando no sujeito que fazia o estilo "Exército de um Homem Só" o filme realmente criou todo um novo estilo de se fazer filmes em Hollywood. Até então os filmes de guerra investiam em equipes, como "Os Selvagens Cães de Guerra". Stallone estava visando outro tipo de produção. Ele queria encarnar o soldado perfeito que apesar dos traumas desenvolvidos na frente de batalha, conseguia se tornar uma verdadeira máquina de guerra.
E foi justamente o que o público viu no melhor filme da franquia, "Rambo II - A Missão". Havia várias modificações em relação ao primeiro filme. Ao invés de mostrar o drama da volta de Rambo aos Estados Unidos o roteiro (também escrito por Stallone) levou o personagem de volta aos campos do Vietnã para um último acerto de contas. Claro que Rambo só deveria ir lá para confirmar a existência de prisioneiros americanos vivos, mas como era de esperar ele resolveu tocar o terror naqueles vietcongues malditos. Até o presidente americano da época, Ronald Reagan, adorou o filme. Um aspecto interessante desse segundo (e melhor filme da série) é que Stallone chamou James Cameron (o futuro diretor de "Titanic" e "O Exterminador do Futuro") para escrever o roteiro ao seu lado. Assim Rambo II é praticamente o filme de ação perfeito dos anos 80. Uma verdadeira obra prima dentro de seu gênero. Se Rambo II foi tão bom e bem feito, não podemos dizer o mesmo de "Rambo III". Rodado em 1988 o filme acabou se tornando uma sucessão de erros, principalmente políticos. Stallone elegeu como mocinhos os afegãos que lutavam contra o exército Soviético na época. O problema é que esses mesmos combatentes iriam dar origem com o tempo ao movimento Talibã, tudo culminando com os atentados de 11 de setembro. Revisto hoje em dia não poderia haver roteiro mais equivocado do que esse. Realmente um tiro no pé dado pelo próprio Stallone.
Com tantos problemas era de se esperar que tudo acabasse com Rambo III. A década de 80 se foi e não havia mais sentido para o velho Rambo. Não era bem isso que Stallone pensava. Em 2008 (vinte anos depois do terceiro filme) ele ressurgiu com "Rambo IV". Foi algo sem razão de ser. Stallone, já com o peso da idade nas costas, não conseguia mais alcançar o nível de preparo físico que o personagem sempre exigiu. Ao contrário disso desfilou seu ar cansado com uma grande camisola preta durante todo o filme que definitivamente não empolga em nenhum momento. Com roteiro melancólico e sem graça, Rambo IV deve ser a despedida final de Stallone ao papel, a não ser que ele de algum modo queira ressurgir em cena para um improvável Rambo V. Afinal de contas em se tratando de Sylvester Stallone tudo é realmente possível.
Pablo Aluísio.
Malena
Título Original: Malèna
Ano de Produção: 2000
País: Estados Unidos, Itália
Estúdio: Medusa Film, Miramax
Direção: Giuseppe Tornatore
Roteiro: Giuseppe Tornatore, Luciano Vincenzoni
Elenco: Monica Bellucci, Giuseppe Sulfaro, Luciano Federico
Sinopse:
O enredo se passa pelos olhos do jovem Renato Amoroso (Giuseppe Sulfaro). Quando a Segunda Guerra Mundial chega finalmente em seu país, a Itália, ele passa a acompanhar a mudança na vida de todos os seus vizinhos e em especial da bela Malena (Monica Bellucci). O garoto tem uma paixão platônica por ela que é bem mais velha. Ao longo dos anos ele vai acompanhando sua vida de longe, suas dores, privações e sofrimentos. A vida de uma mulher linda, mas pobre e explorada de todas as formas por aqueles que deveriam apenas lhe ajudar por uma questão puramente humanitária. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Fotografia (Lajos Koltai) e Melhor Trilha Sonora Original (Ennio Morricone). Também indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme Estrangeiro.
Comentários:
Gostei muito desse filme. O assisti inicialmente em 2008, embora sempre tivesse ciência de sua existência já que a película foi bastante homenageada pela crítica desde o seu lançamento em 2000. Quando o vi na programação da TV a cabo não perdi a chance de finalmente assistir. Não me arrependi e a boa recepção da crítica especializada mostrou-se mais do que merecida. O grande trunfo desse roteiro é que ele parte de uma perspectiva bem pessoal, da vida e da visão de jovens adolescentes, sobre a vida de uma linda mulher numa Itália destroçada pela guerra. Malena (Bellucci, no auge de sua beleza) é uma jovem linda que fica completamente sem recursos justamente no período mais desastroso de seu país. Sem emprego ou meio de vida ela acaba se prostituindo, até mesmo para um advogado sem escrúpulos que aceita lhe ajudar em uma questão jurídica em troca de sexo. Até então Malena era vista como uma mulher honesta e íntegra, verdadeiro símbolo sexual na vila onde morava, objeto de desejo e amores platônicos dos adolescentes do bairro. Quando tudo isso cai por terra por causa da necessidade de sobreviver em meio àquele caos fica aquela sensação de melancolia desesperançada para o espectador. Giuseppe Tornatore assim mostra porque sempre foi considerado um dos grandes diretores italianos de todos os tempos. Sua sensibilidade social e seu grande humanismo sempre foi o grande diferencial em suas obras. Algo que inclusive já havia ficado mais do que claro em filmes essenciais como "Cinema Paradiso". Não deixe de conferir mais essa visão romântica e melancólica embasada em uma nostalgia e uma saudade de um tempo em que não havia ainda nenhum tipo de decepção com a vida.
Pablo Aluísio.
terça-feira, 2 de fevereiro de 2016
Anjo de Vingança
Título Original: Frenchie
Ano de Produção: 1950
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Louis King
Roteiro: Oscar Brodney
Elenco: Joel McCrea, Shelley Winters, Paul Kelly, Elsa Lanchester
Sinopse:
A corista Frenchie Fontaine (Shelley Winters) decide voltar para a sua cidade natal após ficar décadas longe dela. No passado, quando ainda era uma garotinha, ela viu seu pai ser covardemente assassinado por seu próprio sócio. Os anos passam, Fontaine precisou se virar para sobreviver e agora adulta, como bem sucedida empresária, dona de saloons em New Orleans, ela resolve retornar, tudo para acertar contas com os responsáveis pela morte de seu pai no passado. Sua sede de vingança porém terá que passar por cima do xerife local, Tom Banning (Joel McCrea), que está disposto a fazer prevalecer apenas a lei em sua jurisdição.
Comentários:
Aqui temos mais um bom western estrelado por Joel McCrea. O grande atrativo nem vem tanto de sua atuação, já que ele está apenas na média do que sempre apresentou em sua longa carreira. A grande novidade em termos de elenco vem mesmo na interpretação da grande Shelley Winters. Faroestes nunca foram seu forte, mas ela se sai excepcionalmente bem em seu papel. Também pudera, os roteiristas capricharam em sua composição, lhes dando uma personalidade forte e marcante. Assim Winters tem material de qualidade para trabalhar, o que resulta em uma bela atuação. Ela inclusive ofusca McCrea que está excessivamente contido em cena. Embora seja o xerife da cidade ele nunca parece se posicionar firmemente sobre a presença dela na pequenina cidade. Mal coloca os pés de volta ao lar de sua infância ela resolve comprar um saloon decadente, lhe dá outro nome, contrata novas coristas e levanta o lugar. A sua presença, com mulheres, jogos e bebidas, obviamente desperta o ódio da parte mais religiosa da população, mas ela tira de letra todo o mal estar. Numa das mais divertidas cenas sai na mão com uma mulher dita honrada e decente do lugar, que está francamente lutando pela proibição do jogo na cidade. Essa sequência mostra bem o que é o filme, um grande palco para Shelley Winters desfilar todo o seu talento e carisma. Nesse caso em especial não há como negar, o pobre Joel McCrea ficou inegavelmente ofuscado por sua presença, comendo poeira e ficando na sombra da atriz que definitivamente arrasa em cada momento.
Pablo Aluísio.
Ele Nunca Morre
Título no Brasil: Ele Nunca Morre
Ano de Produção: 2015
País: Estados Unidos, Canadá
Estúdio: Alternate Ending Studios
Direção: Jason Krawczyk
Roteiro: Jason Krawczyk
Elenco: Henry Rollins, Jordan Todosey, Kate Greenhouse
Sinopse:
Jack (Henry Rollins) é um sujeito estranho que leva uma vida bem monótona. Ele mora em uma pequena pensão, dorme praticamente o dia todo e só sai para fazer refeições numa pequena lanchonete próxima onde parece atrair as atenções da garçonete Cara (Kate Greenhouse). O problema é que Jack não parece ter muitos interesses em seres humanos em geral. Sua vida sem novidades muda porém completamente com a chegada de sua filha Andrea (Jordan Todosey), fruto de um caso ligeiro que teve no passado. Filme indicado ao Fangoria Chainsaw Awards.
Comentários:
Bem fraco esse filme que tenta revitalizar esse tipo de gênero onde os personagens principais parecem ter alguma ligação com o mundo do além. Para não deixar tudo no escuro é bom ir esclarecendo que o roteiro passa o tempo todo insinuando que o personagem Jack (Henry Rollins) seria uma espécie de anjo! Isso mesmo. Ele tem duas enormes cicatrizes nas costas, apresenta um comportamento anti-social e fora dos padrões (para não dizer esquisito) e não parece se importar muito em ter relações sociais, mesmo quando uma filha surge em sua vida. Até que esse tipo de enredo poderia render alguma coisa a mais, o problema é que o tal de Jack é chato até dizer chega! Ele não tem qualquer carisma e passeia por todo o filme com cara de tédio e enfadonho. Com isso o espectador também acaba entediado. Em determinado momento vai ser complicado para você se manter acordado, mesmo que eventualmente surja alguma briga no meio do caminho de Jack. Infelizmente nem isso se salva. Se fosse definir de forma definitiva esse filme eu diria que ele é acima de tudo bem chato, coloca chato nisso. Melhor não perder seu tempo, a não ser que você esteja com problemas de insônia e queira dormir. Poucos minutos desse filme o derrubarão, pode ter certeza disso.
Pablo Aluísio.
Sexta-Feira 13 Parte 7 - A Matança Continua
Título Original: Friday the 13th Part VII The New Blood
Ano de Produção: 1988
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: John Carl Buechler
Roteiro: Daryl Haney, Manuel Fidello
Elenco: Jennifer Banko, John Otrin, Susan Blu
Sinopse:
O psicopata Jason Voorhees (Kane Hodder) retorna à ativa por causa dos poderes psíquicos de uma jovem com uma incrível capacidade sobrenatural. Agora, livre daquilo que o impedia de matar, Jason está de volta ao parque abandonado de Crystal Lake para novas mortes de jovens desavisados que andam pela região. Filme indicado ao prêmio da Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films na categoria de Melhor Lançamento em DVD / Blu-Ray.
Comentários:
O que fazer de novo após seis filmes onde Jason sofreu todos os tipos de tentativas de morte? Ele foi baleado, esfaqueado, afogado, esganado e enforcado! Acha pouco? Depois do filme 6 muitos pensavam que Jason finalmente iria se despedir de suas matanças nas telas, mas estavam todos enganados! A solução para ressuscitar Jason foi usar o personagem de um jovem com poderes especiais, algo tão incrível que seria capaz até mesmo de trazer de volta o velho e doente Jason, agora... pasmem... revitalizado em sua sede de mortes em série. Eu confesso que até gosto desse filme, isso porque os roteiristas procuraram sair da mesmice. Se não foram tão criativos como se esperava pelo menos fizeram algo um pouquinho mais diferente do habitual. O diretor John Carl Buechler era especializado em efeitos especiais e dirigiu poucos filmes, nenhum deles digno de nota.
Pablo Aluísio.
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016
Marlon Brando - Hollywood Boulevard - Parte 1
Quando estava na Big Apple seu passatempo preferido era cruzar as longas avenidas da cidade, naquele período histórico quase deserta. Isso porque, como Brando bem explicou, a imensa maioria dos homens americanos estavam servindo no exterior, na Segunda Guerra Mundial, O ator assim era um dos poucos de sua idade que tinham ficado para trás já que havia sido dispensado do serviço militar após quebrar seu joelho em um jogo de futebol na escola. Sobre a vida de motoqueiro naqueles tempos pioneiros o ator relembrou alguns macetes para ser um autêntico rebelde. Uma delas era encher o casaco de jornais para evitar o frio intenso do inverno da cidade. Outra dica era procurar por sinais escritos no chão por giz, onde outros motoqueiros deixavam mensagens que apenas outros motoqueiros conseguiriam entender. Uma seta poderia indicar que ali havia restaurantes com comidas baratas e boas ou então que a vizinhança era perigosa no período noturno. Curiosamente Brando adorava passar as noites dirigindo por Nova Iorque. Muitas vezes preferia dormir nas praças ou no Central Park. Encostava sua máquina e ia tirar um cochilo. Nova Iorque nas décadas de 1940 e 1950 era considerada extremamente segura e o ator não tinha receios de dormir ao ar livre, sem problemas.
Isso sem esquecer as mulheres, sim as mulheres. Havia milhares delas pela cidade, todas sozinhas pois seus homens estavam na guerra. Para Brando não importava muito que fossem casadas ou comprometidas. Se estivessem dispostas a uma noite de aventuras ele certamente também estaria disposto. O ator adorava mulheres negras ou exóticas - ou como os americanos gostam de chamar, mulheres étnicas, latinas, orientais ou estrangeiras em geral. Não raro o ator conhecia uma mulher dessas durante a tarde e ia passar a noite ao seu lado. Algumas vezes as coisas não corriam muito bem, como naquela ocasião em que um dos soldados retornou à Nova Iorque bem na noite em que Brando desfrutava a companhia de sua esposa. Brando estava na cama com sua amante quando bateram na porta. Parecia um gigante dando murros na parede. Brando deu um pulo e descobriu que o sujeito era um negão com dois metros de altura, acostumado a virar carros com os próprios punhos. O jeito foi sair de mansinho pelas escadas de incêndio. Coisas de um jovem rebelde nos anos mais aventurescos de sua vida. Afinal de contas ser um rebelde selvagem não era coisa para qualquer um.
Pablo Aluísio.
Frank Sinatra - Só Ficou a Saudade
A espera acabou em 1958 com essa fita dirigida pelo cineasta Delmer Daves. Embora fosse mesmo especialista em faroestes, Daves aceitou o convite de Sinatra para dirigir essa adaptação da novela de Joe David Brown. As comparações com "A Um Passo da Eternidade" embora óbvias, são também injustas. Fica claro desde o começo que Sinatra está apenas preocupado em atuar bem, contar uma boa história (que foi parcialmente inspirada em fatos reais) e nada muito além disso. Para elevar um pouco as pretensões um ótimo elenco de apoio foi formado, mas mesmo assim podemos perceber bem que Sinatra não está pretendendo ganhar outro Oscar ou nada parecido com isso. Se sua intenção era apenas estrelar um bom filme de guerra, com toques dramáticos e romance, bom, ele certamente cumpriu aquilo que pretendia.
Quando o filme começa já encontramos o tenente Sam Loggins (Sinatra) e seus homens andando pelo interior da França que naquele momento estava sendo ocupada por forças aliadas após a dominação nazista. Eram soldados de libertação e por isso por onde passavam eram saudados pela população. A sorte para aqueles soldados era que eles foram designados para ocupar o sul do território francês, uma região em que já não havia mais tropas alemãs para combater. Um lugar realmente paradisíaco, com lindas praias e mulheres bonitas, todas prontas para se relacionarem com os militares americanos. Para Sam não poderia existir lugar melhor para se estar numa guerra daquelas. Entre uma volta e outra pelas bonitas paisagens ele acaba encontrando a bela Monique Blair (Natalie Wood), filha de pai americano, mas que mora na França desde que nasceu.
Não demora muito e o tenente interpretado por Sinatra logo se apaixona por ela. O romance porém terá suas dificuldades, principalmente por causa das origens da garota (algo que vai deixar muita gente de cabelo em pé nos dias de hoje) e uma insuspeita antipatia entre ele e o cabo Britt Harris (Tony Curtis), filho de um rico empresário, boa pinta e metido a galã, conquistando as garotas francesas locais por onde passa. Ele vem para ser o operador de rádio, mas isso não faz com que Sinatra tenha maiores simpatias por ele, muito pelo contrário.
Enfim, é justamente em cima desse trio de protagonistas que o roteiro se desenvolve. Tudo muito bem realizado, com ótimo entrosamento de todo o elenco. Sinatra, com seu estilo natural de interpretação, se encaixa muito bem na proposta do filme. Uma produção de sua carreira que prova mais uma vez que se ele não era um ator grandioso, pelo menos tinha o talento inegável de saber escolher bem os roteiros nos quais iria trabalhar.
Pablo Aluísio.