quarta-feira, 12 de outubro de 2011
The Beatles - 10 Opiniões de Paul McCartney
1. John Lennon: "Era um gênio mas não um santo"
2. Inglaterra: "É o país que eu amo, nasci aqui e morrerei aqui. Muitos artistas foram embora da Inglaterra por causa dos impostos. Eu preferi ficar"
3. O Fim dos Beatles: "Na época não tinha essa consciência mas hoje, como homem de negócios que também sou, posso dizer que perdemos muito dinheiro com a separação. Foi muito prematuro"
4. Wings: "Nunca havia tocado sozinho. Sempre fiz parte de uma banda, fiz o Wings basicamente por isso. O John também com sua Plastic Ono Band"
5. Magical Mystery Tour: "Dias melhores virão. Acho que daqui alguns anos vai finalmente virar um cult"
6. Suas habilidades musicais: "Faço o que posso. Quando os Beatles precisaram de um baixista fui lá aprender a tocar aquele instrumento. Modestamente eu sou bom!"
7. Ter sido convidado a posar na Playboy: "Não sei de onde tiraram essa ideia. Eu não tenho as habilidades necessárias. Provavelmente estivessem atrás de meus dotes intelectuais. rs"
8. Liverpool: "Vou sempre a Liverpool. Meu irmão ainda mora lá e meus filhos adoram a cidade. Nunca deixarei de ir em minha cidade querida"
9. Yoko Ono: "Nunca tivemos um bom relacionamento mas hoje posso dizer que nossa relação é civilizada, não próxima, nem constante, mas civilizada, acima de tudo".
10. George Harrison: "Meu irmão. Eu coloquei ele em minha banda quando George tinha apenas 14 anos! Era meu amigo de escola, íamos juntos às aulas de ônibus, ida e volta. Meu irmão, assim eu me sinto em relação a ele".
Pablo Aluísio.
terça-feira, 11 de outubro de 2011
The Beatles - 10 Perguntas sobre John Lennon
1. Como ficou a amizade de John Lennon com Paul McCartney depois do fim dos Beatles? Ficou bem distante e fria e não por culpa de Paul. Ele tentou manter uma linha de amizade, chegando inclusive a visitar regularmente o apartamento de Lennon, sem avisar. Isso aborreceu John que certa noite o chamou de lado e disse: "Não apareça mais sem avistar por aqui. Não estamos mais em 1956 e abrir a porta para você já não é mais a mesma coisa". Paul entendeu o recado e nunca mais visitou Lennon. Ficou anos sem ver o velho colega de banda.
2. Como era o relacionamento de Lennon com seu primeiro filho? Era bem ruim. E isso foi mantido em segredo por anos até que recentemente Julian Lennon abriu o jogo para um amigo em um vídeo que foi postado no Youtube. Julian disse que passou por dificuldades financeiras quando era garoto pois sua mãe pediu apenas que John pagasse sua escola e nada mais. Para Julian houve ocasiões em que faltou dinheiro até para mesmo para comprar sapatos. Para piorar Julian esclareceu que passou anos sem ver John e quando o via ele era indiferente, rude e frio com ele. Uma imagem bem distante do humanista que Lennon vendia para a imprensa.
3. O que aconteceu com o corpo de John Lennon após sua morte? Foi cremado. Lennon teria dito a sua esposa Yoko que tinha pavor de que sua tumba virasse um local de peregrinação ou veneração como iria acontecer com Elvis Presley e seus fãs em Graceland. Assim Lennon decidiu pouco antes de sua morte que queria ser cremado e suas cinzas espalhadas (até hoje não se sabe ao certo onde as cinzas de Lennon foram jogadas pois Yoko se recusa a falar sobre isso). Para alguns ela teria guardado um pequeno pote com algumas cinzas de Lennon em seu apartamento de Nova Iorque mas isso não é algo confirmado com certeza.
4. Por que John Lennon foi morar em Nova Iorque? Perguntado sobre isso Lennon disse que todas as pessoas deveriam ir em direção ao centro do mundo que para ele era a cidade de Nova Iorque. John até ironizou dizendo que quando morava em Liverpool achava que Londres fosse o máximo mas que depois descobrira que a Inglaterra não era nada e que o ideal era morar em Nova Iorque onde poderia desenvolver melhor sua arte. Depois que fixou residência em Nova Iorque jamais voltou à Liverpool.
5. Quem controlava as finanças de Lennon após a saída dos Beatles? Yoko Ono tomou conta de tudo. O próprio Lennon esclareceu em entrevistas que havia jogado tudo nas mãos da mulher, e que ele próprio nem sabia direito o valor de sua fortuna, o que tinha em propriedades e cabeças de gado (um dos investimentos mais fortes da família Lennon). Em relação aos seus direitos autorais Lennon também abriu mão de grande parte deles, colocando tudo sob controle da editora Lennono. Segundo John ele passava o dia cuidando do filho, fazendo pães caseiros na cozinha de seu apartamento, enquanto Yoko administrava seus bens e investia seus milhões de dólares mundo afora.
6. O que John Lennon fazia em suas horas vagas? Lennon dizia publicamente que não fazia nada de especial, que tinha uma rotina banal e maçante em Nova Iorque. Acordava cedo, fazia o café da manhã de Sean, esperava ele chegar da escola por volta das doze horas da manhã e depois passava o dia inteiro ao lado do filho, assistindo TV ou fazendo atividades do dia a dia, afazeres domésticos e coisas banais. Já o autor Albert Goldman em seu livro sobre Lennon conta uma versão diferente contada por ex-empregados do Beatle. Para Goldman o cantor ainda não havia superado seu problema com drogas pesadas, o que o fazia ficar muitas horas chapado dentro de seu quarto no Dakota.
7. O que John Lennon achava dos primeiros discos dos Beatles? Assim que os Beatles acabaram Lennon definiu em entrevistas que os primeiros discos dos Beatles eram ruins, primários, mal gravados, verdadeiras porcarias. Curiosamente anos depois mudou de ideia e disse que estava contente com os dois primeiros álbuns, que os tinha ouvido novamente com atenção e que achava que eram realmente bons, embora poderiam ter sido melhores se eles tivessem experiência na época de sua gravação.
8. Quais foram as últimas palavras de Lennon antes de morrer? "Eu Sou John Lennon" - essas foram as últimas palavras de John antes de morrer. Ele estava no banco de trás de um carro da polícia de Nova Iorque após ser baleado por um lunático fã dos Beatles. O policial que o acompanhava pediu que ele falasse quem era pois assim teria uma noção de como estava seu estado de saúde - era uma forma de saber se ele ainda estava consciente. Após dizer isso Lennon perdeu seus sentidos e morreu no meio do caminho para o hospital. Sim, John Lennon morreu no banco de trás de um carro policial de Nova Iorque naquela noite.
9. O que Lennon achava do guru dos Beatles? Achava um farsante, um enganador. Enquanto estavam na Índia começaram os boatos de que o Maharishi Mahesh Yogi estaria abusando sexualmente de algumas seguidoras. Quando o boato se espalhou os demais membros do grupo de meditação indicaram Lennon para enfrentar o guru. John diria sobre isso depois que quando se tratava de alguém fazer o trabalho sujo dos Beatles ele era sempre o indicado! Após indagar ao Yogi se aquilo era de fato verdade, John percebeu que o antigo mestre e guru dos Beatles estava com ódio nos olhos, que teria partido para cima de John para lhe agredir fisicamente se isso não causasse um escândalo. Para Lennon: "Se ele fosse realmente cósmico saberia o que estava acontecendo".Depois disso Lennon e os demais Beatles arrumaram suas malas e foram embora da Índia para sempre.
10. Lennon foi perseguido pelo governo Nixon? Na época John denunciou que o governo de Richard Nixon o estava espionando, vigiando, e que suas linhas de telefone estavam todos sob monitoração do FBI. Depois que falou sobre isso para a imprensa o governo republicano de Nixon foi a público negar que tal vigilância existia. Recentemente documentos secretos comprovaram que sim, Lennon tinha razão, pois ele foi intensamente monitorado pelo governo enquanto estava em Nova Iorque envolvido com campanhas de paz, contra a guerra do Vietnã.
Pablo Aluísio.
The Beatles - O Fim
Na visão de Lennon os Beatles tinham sido criados e fundados por ele e apenas ele, como líder do grupo, cabia a prerrogativa de acabar com tudo. Com muita diplomacia Paul pelo menos convenceu John a esperar um pouco mais, havia dois discos dos Beatles que ainda seriam lançados no mercado ("Abbey Road" e "Let It Be") e não seria o momento adequado para que John Lennon anunciasse publicamente que iria abandonar os Beatles. Depois desse encontro decisivo, Paul ficou pensando alguns dias sobre seu futuro. Era certo que nunca mais os Beatles voltariam ao estúdio novamente, já que era um grupo musical que naquela altura já tinha chegado ao seu final. Paul então comunicou a decisão de John para George e Ringo, que ficaram muito surpresos com a decisão de Lennon de ir embora de uma vez por todas.
Nesse meio tempo Paul McCartney tomou uma decisão que iria enfurecer John. Antecipando-se a ele foi até a imprensa e declarou que ele, Paul McCartney, não fazia mais parte dos Beatles. Quando a notícia pintou nos jornais no dia seguinte John Lennon ficou possesso com o ato de Paul que ele interpretou como uma verdadeira traição, uma apunhalada nas costas. John tentou entrar em contato com Paul por telefone para lhe passar um sermão mas ficou a ver navios. Paul se mandou para a Escócia e deixou a batata quente nas mãos da EMI e da Apple. John o acusou de ser mentiroso, oportunista e egocêntrico ao extremo. Dois dias depois Paul McCartney tomou outra decisão radical e agiu novamente, abrindo um pesado processo contra Allen Klein, o empresário do grupo, que Paul acusava de estar literalmente roubando os Beatles, principalmente nos direitos autorais e nas vendas de discos e compactos.
O fim dos Beatles foi uma coisa feia! Para processar Klein, Paul teve que também processar John, George e Ringo! Quando a caixa de Pandora foi aberta a coisa ficou muito feia. John imediatamente contra-atacou e abriu processos contra Paul McCartney e em pouco tempo todo mundo estava processando todo mundo, em uma briga infernal nos tribunais. Acusações de roubo, fraude e estelionato estavam nas páginas dos processos. Para quem falava tanto em amor em suas composições os Beatles agora estavam se matando dentro dos tribunais ingleses! Paul queria acima de tudo se livrar da agência de Allen Klein pois não admitia que tivesse que pagar dinheiro a ele por seus discos solos. Ele nunca gostara de Klein, que foi trazido aos Beatles por John Lennon, contra sua vontade. Nesse aspecto Paul tinha razão. A administração de Klein era pouco transparente e havia suspeitas que ele estava vendendo material inédito dos Beatles por debaixo dos panos, tudo para lucrar nas costas do quarteto. Paul tentou despedir Klein mas John e George foram contra. John chegou a dizer para Paul que ele sabia que Klein era um crápula mas que os Beatles precisavam de alguém assim para gerir seus negócios.
De uma forma ou outra Paul queria cair fora da Apple e abrir seu próprio selo que se chamaria MPL Communications! John enviou as sessões de "Let It Be" para Phil Spector em Nova Iorque para que ele transformasse aquele monte de sessões desorganizadas em um disco. Chegou a chamar as gravações de "a pior merda que os Beatles já gravaram". Spector mexeu nas gravações originais e adicionou novos arranjos nas músicas de Paul que o desagradaram completamente. Infelizmente ele não podia fazer mais nada pois como grupo musical os Beatles não mais existiam. O pior era saber que Paul não tinha mais controle sobre as músicas que tinham sido compostas para os discos dos Beatles.
Grande parte das canções dos Beatles pertenciam à Northern Songs, uma editora musical que havia mudado de mãos. Paul viu isso como um desastre financeiro para ele (e era mesmo!). Ele tinha que recomeçar a vida, formar um outro grupo e colocar o pé na estrada pois por incrível que pareça seus anos nos Beatles não foram tão lucrativos como todos pensavam, na verdade tinham sido um enorme desastre em termos de dinheiro - onde quem menos ganhou foi o próprio quarteto. Havia problemas legais e fiscais por todos os lados. A Apple só trazia prejuízo e em pouco tempo estaria falida. O rompimento traumático fez com que Paul e John ficassem muitos meses sem se falar. Além disso, juridicamente falando, os Beatles só deixariam de existir cinco anos depois, quando todas as arestas foram amparadas. Até lá houve muitos atritos e brigas, ofensas e xingamentos entre eles, o que serviu para aumentar ainda mais a tensão entre todos os membros. Mas, como diz o ditado, dias melhores viriam pela frente e Paul estava pronto para recomeçar tudo de novo em sua vida! No final Lennon resumiu tudo com sua famosa frase: "O Sonho Acabou!".
Pablo Aluísio.
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
The Beatles - John Winston Lennon
Pois bem, acompanhando a celebração da data pela internet e pela TV não pude deixar de constatar como a consciência coletiva das pessoas de um modo geral é simplória, para não dizer boba. Muitos sequer conhecem a biografia de Lennon razoavelmente bem mas não hesitam em utilizar velhos paradigmas para definir o cantor e compositor. Para a grande massa John Lennon era um símbolo da paz, um mártir do movimento pacifista, um homem puro e bom que foi morto por um gesto estúpido de um fã enlouquecido. Para outros ele teria sido um dos maiores músicos da história, mas que se casou com uma japonesa esquisita e pôs fim aos Beatles por isso...
O general Romano Marco Antônio costumava dizer que a massa tinha a mentalidade de um garoto de 4 anos. Acompanhando tudo o que foi escrito nessa semana não posso deixar de concordar com o que foi dito por ele. As pessoas geralmente possuem apenas pequenas informações sobre os personagens históricos, raramente alguém se aprofunda sobre as biografias deles e tudo que resta é apenas uma visão caricata, que não passa de um conjunto de informações moldadas pela grande imprensa, sempre pronta a fazer a cabeça do garotinho de 4 anos, digo, da massa.
Com John Lennon não é diferente. Certamente ele promoveu eventos em prol da paz. Não resta nenhuma dúvida de seu talento, mas muitos se esquecem da motivação que gerou muitos de seus atos. É fato que Lennon muitas vezes utilizou sua imagem pública em prol de si mesmo e de sua fama. Suas declarações bombásticas e de efeito estavam em todos os jornais. Poucos artistas souberam tão bem utilizar o poder da mídia como John. Enquanto estava vivo ele não perdeu nenhuma oportunidade de aparecer nas manchetes. Oportunismo? Para Paul McCartney sim, seu ex - companheiro certa vez ironizou e disse que ele certamente não era nenhum Martin Luther Lennon (fazendo um trocadilho em cima do símbolo da luta pelos direitos civis, Martin Luther King).
As simplificações continuam. Hoje, após vários livros publicados, sabemos que os Beatles não se separaram apenas por causa de Yoko Ono. Isso é uma simplificação boba. Os Beatles chegaram ao fim principalmente porque Lennon sentia-se, em seu íntimo, intimidado e ofuscado, pelo grande talento de McCartney em escrever um clássico após o outro. Além disso se sentia pouco seguro sobre seu próprio trabalho. Pois é, Lennon nada mais era do que um ser humano, cheio de virtudes e falhas em seu caráter, como todos nós, como eu e você, coisa que muitos fãs ignoram, preferindo abraçar o clichê criado em torno de sua vida. Yoko tampouco era a "mulher dragão" que o transformou em um mero escravo. Simplificações são tão bobas não é mesmo? Marco Antônio certamente riria de algo assim...
Pablo Aluísio.
The Beatles - Let It Be Sessions
Quando eu o ouvi pela primeira vez ficou patente qual viria a ser a minha canção favorita: One After 909. Belo rock, com tintas dos anos 50 que já até havia sido gravado pelos Beatles em estúdio antes, ainda na primeira fase do grupo, mas que fora arquivada pelo produtor George Martin. Nessa nova versão os Beatles a tornaram bem mais poderosa, com guitarras fortes e marcantes, o que para um garoto como eu, que sempre fui fã do rock classic mais barulhento, caiu como uma luva. Também adorei o lirismo de The Long and Winding Road (Paul McCartney sempre foi meu Beatle preferido, justamente por ter belas melodias e ser um romântico sem culpas).
Essa canção se tornou especialmente importante para mim porque embalou minhas primeiras paixões adolescentes. Havia uma garota que sempre pegava o ônibus escolar comigo e eu costumava imaginar que o caminho até sua casa era uma estrada longa e sinuosa (e era mesmo já que ela morava numa rua meio fora de rota rs). Obviamente não citarei seu nome aqui mas ainda me lembro dela perfeitamente, embora tenha sumido no decorrer dos anos, sendo que nunca mais ouvi falar dela novamente. O que será que aconteceu com essa minha paixão adolescente? Será que se casou, teve filhos? Não importa. Melhor assim pois sempre terei sua lembrança quando tinha 16 anos. Hoje não deixam de ser engraçadas essas recordações dos primeiros amores mas na época marcou.
Voltemos ao álbum então. Estranhei um pouco o uso de trechos de canções inacabadas como Maggie Mae e Dig It. Pareciam mais uma bagunça de estúdio do que canções para valer. O estilo cru das gravações também marcou bastante. Na época nunca tinha ouvido um disco que procurava capturar os efeitos e o clima de um estúdio de gravação, com os músicos conversando e batendo papo entre si. Era uma novidade e tanto. Mal sabia naquele momento que o projeto desse LP resultou em centenas de horas gravadas, num caos inacreditável, que foi organizado às pressas pelo produtor (e maluco de plantão) Phil Spector. Muitos inclusive até hoje escracham o disco, afirmando que nem parece um disco oficial dos Beatles. Bobagem, para mim soa muito bem, até porque eu o comprei e o defendo até hoje. Afinal ele era o único álbum dos Beatles que eu tinha lá em casa. Sim, o tempo passa voando...
Pablo Aluísio.
domingo, 9 de outubro de 2011
The Doors - Bright Midnight
É um material essencial para quem um dia já se interessou pelo som maluco de Morrison. Em pouco mais de dez faixas Jim destila seu lado roqueiro porra louca dos anos 60, alucina em grandes momentos como em Roudhouse Blues e canta suavemente quando possível - nos poucos momentos em que isso seria cabível na alucinada bagagem musical de um dos grupos mais fantásticos da historia musical norte americana. Assim como aconteceu com outros astros do passado, como Elvis e Beatles, a gravadora do The Doors correu atrás de material inédito da banda em seus arquivos e conseguiu resgatar várias faixas gravadas ao vivo em diversos shows do grupo pelos EUA. Saiu em edição limitada e por isso hoje o CD é considerado uma verdadeira preciosidade entres os fãs. Ouça e entenda porque o King Lizard ainda é tão lembrado nos dias de hoje.
The Doors - Bright Midnight: Live in America
1. Light My Fire
2. Been Down So Long
3. Back Door Man
4. Love Hides
5. Five to One
6. Touch Me
7. Crystal Ship
8. Break on Through (To the Other Side)
9. Bellowing
10. Roadhouse Blues
11. Alabama Song (Whisky Bar)
12. Love Me Two Times / Baby Please Don't Go
13. The End / The Celebraton of the Lizard
Pablo Aluísio.
sábado, 8 de outubro de 2011
The Doors - L.A. Woman
O disco final da banda The Doors, "L.A.Woman", foi gravado em oito canais entre dezembro de 1970 a fevereiro de 1971, no Doors Workshop (Hollywood, CA). Esse era um estúdio pequeno, improvisado no escritório do grupo. Logo no começo dos ensaios Jim percebeu que o som ficava ótimo dentro do banheiro e sugeriu que toda a banda fosse para dentro do sanitário! Com a recusa dos demais membros da banda, o Rei Lagarto não se fez de rogado, gravou todas as faixas sentado em um banquinho ao lado da privada... O disco foi lançado oficialmente nos EUA no final de abril de 1971. A produção ficou com Bruce Botnick e os próprios The Doors. Panelinha nativa. Mesmo contendo três das canções mais famosas dos Doors (a faixa título, Love Her Madly e Riders on the Storm) e ter sido um dos discos mais vendidos da banda (fazendo deles o primeiro grupo de rock americano a receber sete discos de ouro consecutivos), "L.A. Woman" é uma obra que pode não ser rapidamente digerida pelos admiradores do grupo.
Como Morrison Hotel já dava sinais, os Doors haviam se transformado mais do que nunca numa banda de blues, e esse último lançamento é basicamente todo dedicado a esse estilo. A diferença pode ter sido acentuada com a saída do produtor Paul Rothchild, que não gostou do que ouviu nos ensaios das novas canções e decidiu se afastar dos Doors. Assim, resolveram produzir a si mesmos com o auxílio de Bruce Botnick, que havia sido o engenheiro de gravação dos outros discos, e prepararam o novo álbum em um estúdio improvisado no escritório da banda. Num ambiente calmo e familiar (os vocais eram feitos no banheiro, que possuía uma melhor acústica), prepararam as faixas no chamado "estúdio ao vivo", onde todos os instrumentos são tocados e gravados ao mesmo tempo, como num show. O resultado foi simples e excelente, uma grandiosa despedida de Jim Morrison. Curiosidade: o nome Mr. Mojo Risin', repetido diversas vezes durante a canção L.A. Woman, é um anagrama de Jim Morrison. Reordenando as letras é possível formar o nome do vocalista. Além disso é o nome de uma entidade de vodu, muito em voga na cidade de New Orleans, no sul dos EUA.
Sempre foi um dos meus álbuns preferidos. Jim Morrison, barbudo e com cara de Messias insano, mandou ver nessas últimas gravações realizadas ao lado de seu grupo. Aqui os Doors resolveram chutar o balde, demitiram seu antigo produtor e resolveram gravar o que bem entendessem, sem o aborrecimento de ter que lidar com engravatados de gravadora. Jim Morrison acabou realizando o velho sonho de gravar um disco de blues. Encharcado de todos os abusos que você possa imaginar ele literalmente levou seu microfone para dentro do banheiro, sentou no vaso sanitário e assim acabou gravando praticamente todas as faixas, entre uma dose e outra de Bourbon barato! O resultado se revelou marcante, acachapante! Vamos tecer alguns comentários sobre cada canção.
1. The Changeling (Morrison / Manzarek / Densmore / Krieger) - Para muitos um blues visceral. Para outros o único funk feito por brancos que valeu a pena ouvir (pelo amor de Deus, estamos falando aqui do funk americano verdadeiro, não daquelas coisas que são chamadas de funk no Rio de Janeiro e demais cidades pelo Brasil afora!). No final das contas não importa a exata classificação da música, o que importa mesmo aqui é a bela performance de Morrison (visivelmente "alto", dando gritos de empolgação) e sua banda. Curiosamente apesar de ser muito bem executada, com ótimo arranjo, a canção não deu muito trabalho aos Doors. Em poucos takes eles chegaram na versão definitiva. E pensar que esses ótimos solos de guitarra de Robby Krieger foram alcançados quase de primeira mão dentro do estúdio. Virtuosismo pouco é bobagem.
2. Love Her Madly (Krieger) - Acabou sendo escolhida para ser uma das músicas de divulgação do álbum. Com ritmo nitidamente alegre e simpático, com a cara de Krieger, realmente parecia ser a ideal para virar um hit das rádios. A canção tem algumas paradinhas em sua melodia típicas para se ouvir nas praias californianas. Tudo muito soft e relax. Por ter essa característica tão comercial, digamos assim, não a colocaria entre as grandes faixas desse álbum. Dançante, com bom arranjo, mas em essência simplória demais para estar à altura das outras mensagens de Morrison e sua mente privilegiada. Jim aliás a achou "engraçadinha" demais da conta, mas como gostava de Krieger a gravou sem causar maiores problemas para seu amigo de banda.
3. Been Down So Long (Morrison / Manzarek / Densmore / Krieger) - Vamos aos fatos: Jim estava interessado mesmo em cantar blues nessas sessões. Embora isso de certa forma aborrecesse o batera Densmore, Morrison queria mesmo se entregar de corpo e alma ao ritmo. Essa "Been Down So Long" é o primeiro grande blues do disco. Morrison visivelmente entregue, se farta com uma canção extremamente bem arranjada, com os demais membros do Doors em momento inspirado. Curiosamente a ordem dos instrumentos foi levemente alterada para essa gravação. Não havia necessidade de órgão e nem piano e por essa razão Ray Manzarek trocou os teclados pela guitarra rítmica. Robby Krieger ficou responsável pelo Slide guitar e um terceiro guitarrista, o músico Marc Benno, ficou na base. Completando a equipe os Doors ainda contaram com Jerry Scheff, o baixista de Elvis Presley. Assim acabaram atendendo às velhas críticas que sempre afirmavam que os Doors precisavam urgentemente de um baixo em suas canções, algo que nunca havia se tornado um problema, mas que agora tinham resolvido suprir contratando o baixista da banda do Rei do Rock.
4. Cars Hiss by My Window (Morrison / Manzarek / Densmore / Krieger) - Foi justamente essa gravação que irritou o baterista Densmore. Anos depois ele declararia numa entrevista: "Tudo bem para um vocalista pois aqueles blues eram ótimos nesse aspecto. Já para um batera como eu, era extremamente chato esse tipo de canção. Não há como inovar ou trazer coisas interessantes. A coisa toda vira um tédio. O ritmo se mantém o mesmo em praticamente todo o tempo". Se para Densmore tudo era tédio puro o mesmo não se pode dizer para o brilhante trabalho de guitarra do mestre Krieger. Ele praticamente sola da primeira a última estrofe, criando um duelo de melodia com a voz de Morrison, que aliás surge perfeita, dando a impressão de estar levemente embriagada - o que convenhamos casa perfeitamente com a proposta da gravação e da letra. Impossível ficar indiferente a esse belo momento dark etílico da carreira do grupo.
5. L.A. Woman (Morrison / Manzarek / Densmore / Krieger) - Basicamente é uma declaração de amor de Morrison para a cidade de Los Angeles. Em uma de suas últimas entrevistas Jim Morrison explicou que L.A. o tinha acolhido em um momento particularmente complicado de sua vida, quando finalmente resolveu largar a universidade e viver como um vagabundo errante pelos arredores de Venice Beach, e que por essa razão era eternamente grato a ela. "Se disserem que nunca a amei certamente estarão mentindo" - decretou o cantor. Curiosamente em sua letra Morrison acaba humanizando a cidade, a identificando de forma surrealista com uma mulher, tudo sendo criado em um plano puramente subjetivo e poético, de sua maneira muito peculiar de enxergar a realidade. Os lugares da cidade por onde parece caminhar se misturam com os delicados devaneios do corpo de uma mulher amada, misteriosa e Inatingível. Em termos técnicos considero essa uma das melhores gravações da carreira dos Doors. A música tem uma melodia envolvente, que desfila em uma crescente euforia que também vai contagiando o ouvinte, tudo indo desembocar em um excesso de explosões emocionais. Certamente uma obra prima da carreira do grupo. Genial mesmo.
Singles nas lojas:
Love Her Madly / Don't Go No Farther - Em março de 1971 os Doors lançaram seu penúltimo single. O interessante deste compacto simples foi a escolha de uma das canções do disco como lado principal. "Love Her Madly" não tem a importância de "Riders on the Storm" ou ainda "L.A.Woman", mas foi ela a eleita para figurar como música "carro chefe" do disco. Não a considero uma canção altamente relevante dentro da discografia da banda, mas me parece que ela foi escolhida por ser a mais comercial, a mais fácil de ser digerida pelas rádios americanas. No lado B desse single temos uma música que hoje em dia é considerada uma verdadeira raridade. Se você já ouviu "Don't go no farther" por aí se considere privilegiado pois essa faixa sumiu da discografia da banda após seu lançamento nesse single.
Riders On The Storm / Changeling - Em junho de 1971 o grupo lançou o segundo single extraído deste disco. "Riders on the Storm" é uma canção visceral, excepcionalmente bem produzida e que mostra que em poucos anos o grupo atingiu uma maturidade precoce. A letra é bem emblemática e mostra como o cinema influenciou o trabalho poético de Jim, basta ler a letra e ver como tudo se desenrola como um verdadeiro roteiro de um filme, uma cena rápida, bem ao estilo de alguém que frequentou uma escola de cinema, um verdadeiro outsider cinematográfico. Bem, essa canção dispensa maiores comentários, nem vou relembrar o fato dela ter sido inspirada em um fato real ocorrido com Jim em sua infância, quem assistiu ao filme de Oliver Stone, sabe do que estou falando, por isso não vou me repetir aqui. Em suma, essa música é vital, essencial na história do Rock Mundial. No Lado B do single foi colocada "Changeling", um blues ao velho estilo. Todos concordam em um ponto, "L.A.Woman" é basicamente um trabalho de Blues. Jim poderia até mesmo ter chamado esse disco de "The Doors Blues Album" se quisesse. É uma faixa forte, recomendada para bluesmen inveterados.
Enquanto isso, fora dos estúdios...
Os Doors estavam fartos! Depois de tudo o que rolou com a banda, os processos e tudo mais, os quatro procuravam um modo de recolocar as coisas no lugar, A ideia era gravar um disco simples, um disco de blues, sem superproduções, algo bem cool! A verdade era que a esta altura Jim já não se sentia à vontade nos palcos, e os outros integrantes não se sentiam à vontade com Jim. Por tudo isso, os Doors decidiram levar os planos iniciais em diante e começaram a gravar um novo material em estúdio e dar uma longa pausa nas apresentações ao vivo. Em 29 de agosto tocaram no festival da Ilha de Wight (único grande festival de que participaram) e no dia 12 de dezembro fizeram seu último show com o vocalista, no The Warehouse, em Nova Orleans. Em seu livro, o tecladista Ray Manzarek relata que enquanto tocava de olhos fechados a parte instrumental de Light My Fire, sentiu que Jim havia deixado o palco, como fazia várias vezes durante essa passagem. Quando olhou, ele ainda estava de pé junto ao microfone. Foi ali que notou que Jim realmente havia perdido seu vigor e energia, e os Doors estavam realmente no fim. O disco "L.A. Woman" foi lançado em abril de 1971, produzido pela primeira vez pelos próprios Doors e gravado num estúdio improvisado no escritório do grupo. Dias antes do álbum chegar às lojas, Jim embarcou para a França com sua namorada Pamela, visando ficar em Paris por alguns meses.
No dia 3 de julho foi encontrado morto na banheira do apartamento onde estava hospedado. As únicas pessoas que viram o cadáver foram Pamela e o médico legista, que deu como causa de morte ataque cardíaco. Não se sabe e nunca se saberá ao certo os verdadeiros motivos da morte de Jim Morrison, e por isso mesmo há intermináveis rumores dizendo que ele forjou sua morte para fugir das problemas da fama. De qualquer forma, L.A. Woman estourou depois da morte de Morrison, e há quem diga que foi o mais vendido da carreira da banda. Seu corpo nunca voltou da capital francesa. Está até hoje enterrado no cemitério Père-Lachaise, junto com os de personalidades como Frederich Chopin, Alan Kardec e Balzac.
Seu túmulo é o mais visitado de todos, e várias vezes já foi cogitada sua extradição para os EUA, em virtude da baderna que seus fãs fazem no local. Festas regadas a álcool e drogas e casais que usam o lugar para fazer sexo (como no filme Um Lobisomem Americano em Paris) convivem em paz com os rabiscos em sua lápide. Mesmo com a morte de Jim, os outros três integrantes decidiram continuar juntos e manter o nome da banda. O primeiro disco dessa fase se chamou Other Voices (1971), remetendo ao fato de que os cantores seriam outros, mais precisamente Robby e Ray, que revezavam nos vocais. Apesar do disco não ter feito muito sucesso, a banda entrou em turnê e em 72 lançou Full Circle. O título já mostrava que eles não pretendiam mais seguir em frente. O círculo estava fechado, os Doors haviam encerrado carreira.
Pablo Aluísio.
The Doors - Morrison Hotel
O sucessor do extravagante The Soft Parade é o mais básico dos trabalhos dos Doors, utilizando elementos do hard rock e do blues sem enfeites orquestrais ou eletrônicos. O resultado foi excelente, saudado pela crítica como um retorno às raízes. Muitos foram ainda mais longe, dizendo que a presença de uma música chamada Waiting for the Sun (título do terceiro disco) sugeria que o grupo queria esquecer o suposto fracasso artístico do álbum anterior, fazendo uma ligação direta entre Waiting for the Sun e Morrison Hotel. Apesar de não ter tido nenhum single a estourar nas rádios, em meras três semanas à venda atingiu a categoria de disco de ouro. O título desse álbum ainda não havia sido definido, mesmo com as faixas já gravadas.
Foi quando se lembraram de um pequeno hotel de beira de estrada próximo dali, chamado Morrison Hotel. Mesmo não conseguindo permissão para fotografar no local, o grupo aproveitou o descuido do recepcionista e posou para a foto, que se tornou a antológica capa do disco. Uma curiosidade é que cada lado do LP foi batizado de forma diferente: o lado A se chama Hard Rock Cafe e o B Morrison Hotel. Este é o segundo disco dos Doors de que eu mais gosto (o primeiro? Strange Days). Depois dos exageros de "The Soft Parade" os Doors tentaram se encontrar musicalmente de novo. Deixaram para trás as "cornetas" e resolveram fazer um álbum mais simples e o melhor... mais verdadeiro. "Morrison Hotel" é um disco à prova de críticas, ele deixa qualquer roqueiro ou blueseiro de queixo caído. A começar pela capa, o disco é Jim Morrison puro, da primeira a última faixa. A foto foi tirada numa espelunca de quinta categoria que fica na beira de uma estrada esquecida da California. Lá Jim gostava de tomar seus porres. O lugar já se chamava "Morrison Hotel" antes dele chegar por lá, aliás essa foi a razão que o levou até o lugar. Bem, a capa interna já diz tudo, com Jim com uma garrafa de cerveja nas mãos no balcão do bar.
Repare a cara de poucos amigos de Densmore. Nessa época seu relacionamento com Jim já estava bem deteriorado. Na realidade John nunca gostou muito do rei lagarto e depois de todas as confusões aprontadas pelo vocalista a relação, que nunca foi boa, acabou desbancando para a pura e simples aversão. Outro fator de atrito no conjunto era a insistência de Jim em cantar seus blues. Densmore, mais uma vez, desaprovava esse rumo seguido pelo grupo, pois para o baterista: "Os blues poderiam ser uma boa para Jim, mas eram um tédio para mim". Mas, como sempre acontece nas melhores bandas, essa rivalidade interna acabou ajudando o grupo musicalmente. E esse disco é a prova desse fato. Temos aqui algumas das melhores canções do conjunto. Aliás a mais bela melodia escrita pelos Doors está aqui, chama-se "Indian Summer". Esta é sem dúvida umas das melhores e prova como os Doors estavam entrosados, a instrumentalização é simplesmente perfeita, em seus mínimos detalhes. Vale o disco inteiro.
Single nas Lojas:
You Make Me Real / Roadhouse Blues - O único single do disco foi lançado em março de 1970. Não precisa falar muito sobre essas músicas, elas podem ser resumidas em uma única palavra: "maravilhosas". Acho que "Roadhouse Blues" deveria ter sido o lado A do single, pois a considero mais significativa. Blues da melhor estirpe, com um ótimo arranjo, não faria feio em New Orleans ou Memphis... Jim prova mais uma vez que entendia do assunto, que conhecia blues como poucos. A melhor versão dessa canção na minha opinião foi lançada na trilha sonora do filme "The Doors" de Oliver Stone. Sem dúvida a banda ao vivo traz mais energia e carisma a essa música. "You Make Me Real" é muito legal. Ponto final. É sem dúvida uma canção alegre, com Jim detonando em uma de suas melhores interpretações. Ray comparece, mais do que nunca, com seu "teclado de churrascaria" (no bom sentido). No mais, outro belo momento da banda captado durante os intervalos das audiências judiciais de Jim Morrison.
Enquanto isso, fora dos estúdios...
Nota: Essa fase da vida de Jim Morrison se resumiu em uma série de tediosas audiências judiciais em que ele tinha de comparecer para se defender das acusações de atentado violento ao pudor e mais uma série de crimes por causa do famoso show de Miami, aquele mesmo em que ele gritou ao microfone: "Vocês querem meu pinto?" O cantor foi condenado. Não haveria saída para ele, a imprensa estava contra Jim, o presidente Richard Nixon já havia começado uma campanha pelos bons costumes e a decência e havia escolhido Morrison como o "bode expiatório" da jogada. O engraçado de tudo era que Nixon poderia ser tudo, menos considerado um homem moralmente honesto. Corrupto, inepto, ignorante e manipulador o presidente americano iria ser chutado da Casa Branca algum tempo depois por causa do escândalo "Watergate". Aliás Nixon sempre foi considerado o pior presidente da história dos Estados Unidos (bem, ele agora tem um forte candidato de oposição, pois segundo alguns especialistas o posto em breve será ocupado pelo "filhinho de papai" George W. Bush).
Mas voltemos a Jim. Morrison foi condenado a dois anos e meio de prisão, além de pagar uma multa. O advogado do cantor então apelou e conseguiu que Jim entrasse em condicional pagando um fiança de 50 mil dólares. Isso foi dos males o menor. Jim ficou perplexo com o que viu no sistema judicial americano. Depois de ver pessoas sendo condenadas (na maioria negros e pobres), Jim desabafou e deu a seguinte declaração: "Já gastei muito tempo e energia nesse julgamento de Miami. Mais de uma ano e meio. Mas acho que foi uma experiência que valeu para alguma coisa, pois antes disso mantinha uma atitude de garoto de escola perante o sistema judiciário americano (teria eu ouvido americano com "k"?). Meus olhos abriram-se um pouco mais. Encontrei vários jovens negros naquele lugar. Eram julgados durante vinte ou vinte e cinco minutos e pegavam vinte ou vinte e cinco anos de prisão. Se eu não tivesse muito dinheiro e uma conta sem limites, já estaria na cadeia condenado a muitos anos, sem apelação. Geralmente se você tem dinheiro, não vai nem preso. O tribunal de Miami levou ao chão várias coisas para mim. Acho tudo muito triste, não há justiça neste país, há sim negócios" Imagina o que teria pensado Jim Morrison se tivesse a possibilidade de conhecer o sistema judiciário do Brasil, hein???
Pablo Aluísio.
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
The Doors - Waiting for the Sun
Gravado em oito canais entre os meses de fevereiro e maio de 1968, no T.T.G. Studios (Hollywood, CA). Lançado oficialmente nos EUA no dia 12 de julho de 1968. Produzido por Paul A. Rothchild. O terceiro disco dos Doors, Waiting for the Sun, é considerado como sendo o trabalho mais comercial da banda. Talvez injustamente: se por um lado contém canções extremamente radiofônicas, como o grande sucesso Hello, I Love You e a simpática Love Street, por outro possui algumas bem estranhas, como a valsa Wintertime Love, a flamenca Spanish Caravan, a rebelde Five to One e a insana Not to Touch the Earth.
Essa última foi uma das únicas sobreviventes da ideia original que a banda tinha para o álbum, que iria se chamar The Celebration of the Lizard, uma longa composição com diversas melodias diferentes que ocuparia por completo um dos lados do LP. Quando viram que isso seria inviável, tiraram do baú algumas velhas músicas de começo de carreira (várias delas já haviam aparecido na demo de 65 e depois foram esquecidas) e rebatizaram o disco de American Nights. E depois trocaram mais uma vez, para o definitivo Waiting for the Sun. Mesmo ficando de fora do disco, The Celebration of the Lizard teve sua letra publicada no encarte e foi gravada, ao vivo, anos mais tarde, no Absolutely Live.
Vale ressaltar que a música Waiting for the Sun, uma das mais conhecidas da banda, não é desse disco, e sim do Morrison Hotel, de 1970. Jim Morrison começou a ser chamado de Rei Lagarto com o lançamento de Waiting for the Sun, em 68. Isso porque na faixa "Not to Touch the Earth" ele cantava os seguintes versos: "I'm the Lizard King / I can do anything" ("sou o Rei Lagarto/ posso fazer qualquer coisa"). O disco é o mais "paz e amor" da banda, trazendo três músicas com "love" já no título e uma protestando contra a Guerra do Vietnã. Além de ter sido mais um sucesso nos EUA, o álbum e o single Hello, I Love You estouraram na Europa, levando os Doors à sua primeira e única grande turnê, que passou por países como Inglaterra, Alemanha, Holanda, Dinamarca e Suécia.
Essas apresentações viraram um especial para a TV inglesa chamado The Doors Are Open, que mais tarde também foi lançado em vídeo. Talvez por ter sido uma verdadeira "colcha de retalhos", o disco demonstre ao longo de sua duração uma falta de coesão harmônica e contextual. São nítidas as diferenças entre as várias faixas, principalmente no tocante a arranjos e execução. Algumas foram retocadas quase à perfeição enquanto outros trazem um indisfarçável toque de descuido e indiferença por parte do grupo. Enfim, é um trabalho irregular, com altos e baixos visíveis, o que acaba contando contra no balanço geral da avaliação do conjunto da obra. "Waiting For The Sun" pode ser considerado o menos inspirado LP dos Doors, o mais frágil e o menos destacado do conjunto. Além do desnível presente em todas as canções, "Waiting For The Sun" sofre de uma série crise de identidade, não se posicionando definitivamente entre o puro comercial ou a mais nobre arte, no mais estrito significado da palavra. Fica assim em cima do muro, sem ir para qualquer lado, o que o torna um trabalho intrinsecamente contraditório e irregular. Em suma: "Waiting For The Sun" é uma obra menor dentro da discografia da banda.
Single nas lojas:
The Unknown Soldier / We Could Be So Good Together - Sei que todos os bichos grilos de esquerda (acredite, eles ainda existem!) vão querer me matar depois dessa nota, mas... Apesar de todo o seu valor social e político, de ir contra a guerra do Vietnã e etc, a canção The Unknown Soldier é muito fraca musicalmente! Poderia até ser interessante ver a performance do grupo no palco e tal, mas simplesmente a ouvindo você percebe nitidamente toda a sua falta de estrutura harmônica e rítmica. Muito ruim mesmo. Talvez tenha sido de propósito, não sei, mas que a canção é muito abaixo do nível da banda, isso ela é. Sem dúvida. Já no lado B "We Could Be So Good Together" é um pouco melhor, mas também não salva o single do título de "Pior single da história dos Doors". Fico pensando: Porque não lançaram "Five to One", essa sim uma grande música do disco, e resolveram colocar essa dobradinha inconsistente? Pode passar direto, as duas são totalmente descartáveis, indo direto para a lata de lixo da história! Lançado em março de 1968.
Hello, I Love You / Love Street - Se o single anterior é um desastre, esse por sua vez é ótimo (não disse que 'waiting for the sun' é um trabalho irregular!). Pois bem, "Hello, I love You" é uma bela melodia, feita para tocar nas rádios, assim como "Love Street", essa mais comercial do que nunca. Essa aliás foi uma das primeiras composições de Jim Morrison, feita em homenagem ao amor de sua vida, Pamela. Mas há controvérsias, esse não é um fato incontestável, pois alguns autores afirmam que Jim a fez ainda quando era um simples colegial, muitos anos antes de conhecer Pamela. Pela simplicidade da letra e o ritmo bem anos 60 (pré 64) pode-se até afirmar que isso seja verdade. De qualquer forma, ponto para os Doors e Jim Morrison. O segundo single de "Waiting for the Sun" foi lançado nos Estados Unidos em junho de 1968.
Pablo Aluísio.
The Doors - The Soft Parade
Na segunda metade dos anos 60 os Beatles lançaram um disco que abalou o mundo da música: "Sgt.Pepper's Lonely Hearts Club Band", já ouviu falar? Se sua resposta for não, então você é definitivamente um tapado em termos de Rock'n'Roll. O Rock, antes considerado uma arte menor, ganhou status de arte maior com esse trabalho, levando todos, inclusive os mais conceituados críticos musicais a ouvirem esse marco da história mundial. Criou-se assim, pela primeira vez, o conceito de grande arte ao mais popular gênero musical do planeta. De uma hora para outra todas as bandas de rock do mundo se sentiram desafiadas a aprimorar e tentar, se não a superar, ao menos se igualar ao revolucionário disco do grupo inglês.
Os Doors, principalmente Krieger e Manzarek, chegaram a conclusão que deveriam enriquecer seu próximo disco com orquestrações e arranjos mais bem elaborados. Então o grupo se trancou em estúdio e durante mais de um ano tentou todas as combinações e experimentos possíveis. O estúdio gastou uma fortuna, todo mundo ficou esgotado, principalmente Jim que não gostava de super produções. Gravado em oito canais entre novembro de 1968 e junho de 1969, no Elektra Sound Studios (Hollywood, CA) o disco só foi lançado oficialmente nos EUA no dia 18 de julho de 1969. Novamente o grupo foi produzido por Paul A. Rothchild. The Soft Parade foi o disco dos Doors que teve a mais longa e cara produção. Foi lançado em julho de 1969 (depois de quase um ano de preparo), mas não foi bem acolhido pela crítica, talvez motivado pelo escandaloso show de Miami, ocorrido poucos meses antes.
O público também estranhou o resultado, dizendo que a banda não era mais a mesma, que havia se vendido. Mas a verdade é que esse é realmente um disco bem diferente do que os Doors já haviam lançado anteriormente, com arranjos orquestrados e repletos de instrumentos estranhos à banda, como trombone, conga e violino (que aparecem logo na espalhafatosa introdução de Tell All the People). Além disso, uma outra voz é ouvida, já que o guitarrista Robby Krieger canta o refrão da canção Runnin' Blue. Um outro detalhe intrigou os fãs: a autoria das canções, antes creditadas a todos os integrantes, dessa vez era dividida entre Morrison e Krieger. Estariam os Doors passando por uma crise interna? Não era possível dizer. Mas logo o episódio de Miami foi (parcialmente) esquecido e o single "Touch Me" invadiu as rádios e elevou as vendas dos álbum, que se tornou mais um sucesso. Singles nas Lojas : Touch me / Wild child - Em dezembro de 1968 a banda lançou o primeiro single deste disco, aliás o primeiro de quatro, o que foi um recorde para o grupo.
O lado A trazia "Touch Me". Quem ouviu já sacou: Jim estava levemente embriagado quando gravou essa faixa, mas tudo acabou dando um toque especial a música. Outro dado: esta canção é na verdade, uma mistura de muitos takes diferentes, por isso se nota também uma certa diferenciação no vocal de Jim ao longo da canção. "Wild child" é um boa canção, principalmente pela introdução envenenada da guitarra de Krieger e mais uma vez Jim aparece com seu estilo vocal dúbio, de quem acabou de sair de um bar. Em suma: Blues etílico.
Wishful, Sinful / Who scared you? - Em fevereiro de 69, os Doors lançam um novo single, deixando todo mundo surpreendido. "Wishful, Sinful" é uma balada triste, puxada para blues (mais uma vez!). O grande problema dessa canção e das outras do disco, é que há tantos instrumentos ao mesmo tempo que a voz de Jim acabou ficando ofuscada, sendo afogada numa verdadeira overdose musical. No Lado B do compacto foi colocada uma canção fraquinha que acabou não entrando no disco, "Who scared you?" é tudo o que um lado B é: totalmente descartável. Tell all the people / Easy ride - Tá legal, todo mundo fala mal de "Tell all the people", mas absolutamente não concordo com esse tipo de opinião. Gosto muito da canção, aliás a considero a melhor de todo o disco. De todas é a que apresenta a melhor harmonia entre a orquestra. Além disso Jim está em ótima fase vocal, tudo aliado a bonita melodia. Nota 10! "Easy ride" é uma música rápida que cola na sua mente com força. Facilmente assobiável e tudo o mais, ela também é um ótimo momento do disco, por isso dos quatro singles extraídos do disco, este é disparado o melhor de todos.
Running Blue / Do it - Mas quem diabos é este que canta com Jim durante "Running blue"? Ora é Robbie, que como vocalista é um ótimo guitarrista! Essa foi a única vez que Jim dividiu o microfone com alguém da banda (graças a Deus!). Talvez a existência desse quarto single (um exagero!) tenha sido uma forma de homenagear o guitarrista e compositor da banda. Mas sinceramente, Krieger acabou com sua própria música, sendo muito ruim sua participação. Ponto final. No lado B do single "Do it" com algumas inovações durante a execução, mas que nada mais são do que fruto do complexo de Lennon/McCartney de Krieger. O single foi lançado em agosto de 1969.
Enquanto isso, fora dos estúdios...
Nesta fase de gravação de "The Soft Parade" o single "Hello, I Love You" estourou na Europa, levando os Doors à sua primeira e única grande turnê internacional, que passou por países como Inglaterra, Alemanha, Holanda, Dinamarca (foto) e Suécia. Foi uma das excursões mais alucinadas da história do Rock, com muitos escândalos promovidos por Jim Morrison, com muito excesso de drogas, mulheres e bebedeiras, levando o vocalista a bater seus próprios recordes de extravagâncias. Em Londres eles se apresentaram no Roundhouse, uma tradicional casa de shows da Inglaterra. Os britânicos definitivamente não estavam preparados para Jim, ele entrou no palco totalmente narcotizado e bêbado, mas mandou ver em um dos melhores shows da banda. Depois o grupo foi para a Alemanha, em Frankfurt e Jim se sentiu em casa. Conhecida como uma das cidades mais sofisticadas da Europa, aqui a banda fez um show que entrou para a história da cidade. Jim terminou a noite em um bar de strip tease da cidade e a imprensa alemã não deixou este fato passar em branco.
Em Amsterdam aconteceu o pior: Jim estava totalmente fora de controle, O Jefferson Airplane abriu o show dos Doors naquela noite, mas no meio de sua apresentação, Jim apareceu no palco, para surpresa de todos, com uma garrafa de whisky na mão, totalmente embriagado, tentando acompanhar o Airplane que totalmente atônico, ficou sem saber o que fazer! Jim continuou dançando ao som da música da banda, num espetáculo trágico e engraçado ao mesmo tempo! Na verdade ele deu um vexame daqueles, na frente de todo mundo! No final ele mal conseguiu deixar o local, de tão chapado que estava, sendo carregado para o hospital mais próximo. Mas nem por isso os Doors deixaram de realizar o show, a banda entrou sem Jim mesmo, pediu desculpas e interpretou todas as canções sozinhos. Jim estava sempre bêbado e drogado e depois confidenciou a um amigo que "Não se lembrava dos shows dos Doors na Europa"!
Essas apresentações viraram um especial para a TV inglesa chamado The Doors Are Open, que mais tarde também foi lançado em vídeo. Antes do lançamento do quarto disco da banda, o orquestrado e exagerado The Soft Parade, ocorreu o que é tido como o começo da queda de Jim Morrison. Dia 1 de março de 1969 é a data do famoso show de Miami, onde Jim, completamente bêbado, foi acusado de exibir seu pênis para a plateia, incitar baderna e proferir discursos obscenos. Ninguém sabe ao certo se tudo isso ocorreu ou não, mas o vocalista foi a julgamento e acabou condenado a seis meses de detenção. Além disso, praticamente todos os shows agendados foram cancelados e a banda se tornou "persona non grata" em todo o território americano.
Enquanto os advogados apelavam da decisão judicial, tentando abrandar a pena do vocalista, aos poucos os shows foram se tornando mais frequentes outra vez, e a banda começou a gravar suas apresentações para o lançamento de um álbum ao vivo. Esse material foi lançado em 1970 como um LP duplo chamado Absolutely Live, que misturava canções já conhecidas com algumas inéditas. Em seguida, mais um de estúdio, batizado com o nome Morrison Hotel. Os que achavam que os Doors haviam entrado em decadência com The Soft Parade encontraram muito vigor no novo trabalho, que deixava as orquestras totalmente de lado para fazer um rock cru e mais blues do que nunca. Mas essa é uma outra história que vamos contar no mês que vem... até lá.
Existem pessoas que não gostam desse disco dos Doors. Chegam a dizer que é o disco do grupo que menos se parece com sua sonoridade habitual. Ora, esse tipo de mentalidade é bem equivocada. A verdade é que uma banda de rock sempre deve procurar por inovação e não ficar na mesma tecla, álbum após álbum. Assim se esse disco foi inovador na carreira dos Doors, então palmas para eles. A busca por inovação sempre será muito bem-vinda.
O disco abre com uma faixa que até considero bem convencional. Trata-se de "Tell All the People". O único maior diferencial digno de nota é o abrasivo arranjo de metais logo em seu começo. Certamente não era algo que um fã dos Doors estava esperando encontrar. Porém tirando esse pequeno detalhe tudo o mais parece bem de acordo com o tipo de música da banda em seus álbuns anteriores.
Jim Morrison não gostou muito dessa letra que foi escrita totalmente pelo guitarrista Robbie Krieger. Aliás a música é inteiramente dele, desde sua letra, até sua melodia. Morrison, como já era óbvio naquela fase da carreira, preferia mesmo cantar seu próprio material. A maioria de suas músicas apenas adaptavam sua poesia. Era uma poesia cantada. De qualquer forma como Jim gostava muito de Robbie, ele procurou dar o melhor de si na gravação, em sua performance vocal. E ficou muito bom, temos que reconhecer.
A canção inclusive foi escolhida para ser lançada depois também como single, o terceiro extraído das faixas do disco. Não fez muito sucesso, é verdade, ficando apenas na posição 57, mas de qualquer forma foi um espaço a mais dentro da discografia dos Doors para o trabalho composto por Krieger, que era um músico talentoso, mas também uma pessoa bem tímida, que nunca procurava se impor aos demais membros do grupo.
Pablo Aluísio.