terça-feira, 20 de setembro de 2011

The Beatles - Let it Be... Naked

Tenho esse CD há muitos anos, mas nunca havia parado para ouvir com maior atenção. Nesse fim de semana finalmente fiz uma audição mais atenta. O plano principal desse álbum era trazer as músicas do disco "Let It Be" tais como foram gravadas, sem os arranjos e orquestrações posteriores acrescentadas pelo produtor Phil Spector. Havia essa antiga lenda de que as gravações originais eram muito melhores do que as que se ouvia na edição do LP "Let It Be" de 1970. Após ouvir o CD cheguei na conclusão que era tudo lenda urbana mesmo. Nenhuma das faixas ficaram melhores sem os acréscimos sonoros de Spector. Tudo o que sempre se falou era pura balela.

A verdade pura e simples é que os Beatles, prestes a romperem definitivamente, não estavam em seus melhores dias quando gravaram essas faixas. Havia muitas brigas, ressentimentos entre eles. A impressão que sempre tive dessas sessões é que os Beatles não estavam levando nada muito à sério, isso a despeito de ter câmeras gravando eles o tempo todo em estúdio, o que iria resultar no documentário musical "Let it Be", para muitos o filme que melhor documentou o final de uma banda de rock. Os Beatles estavam dispersos, pouco interessados e preguiçosos. Isso se pode constatar no CD 2 desse título que traz uma enfadonha e maçante sessão de ensaios do grupo. John Lennon, em particular, cheio de heroína, não conseguia produzir grande coisa. Ele apenas se arrastava com sua guitarra dentro do estúdio.

As faixas "Dig It" e "Maggie Mae" não estão presentes nesse Naked. Talvez por serem ruins demais ou talvez por serem pedaços de gravações que sabe-se lá o porquê foram colocados no disco oficial de 1970. As piadinhas sem graça de Lennon e as falas sem nexo que ficavam entre as faixas do disco original também foram eliminadas (positivamente, ao meu ver). O que sobrou foi o que os Beatles gravaram a cru dentro do estúdio. Esqueça a história de que "The Long and Winding Road" foi estragada por Phil Spector. Sem o trabalho dele que ouvimos aqui a música ficou muito mais fraca, sem a beleza da orquestra que foi colocada pelo produtor. Paul deveria ficar calado.

Como John Lennon não tinha muito material novo a apresentar nessas sessões (Yoko e as drogas ocupavam todo o seu tempo) ele ressuscitou "Across the Universe", uma linda música que ele havia composto na Índia, antes mesmo das gravações do "White Album". Outras mais fracas foram incorporadas ao disco, estou me referindo a "Dig a Pony" e "Don't Let Me Down". George Harrison surgiu com poucas composições, basicamente apenas "For You Blue" e "I Me Mine". O trabalho de Spector melhorou muito elas. E por fim Paul McCartney trouxe as canções mais marcantes do álbum original, "Let It Be". "Get Back" e a já citada "The Long and Winding Road". Então é isso, esse "Naked" mostra acima de tudo que Phil Spector fez um bom trabalho no disco de 1970. Sem ele as músicas iriam soar bem piores do que já eram.

The Beatles - Let it Be... Naked (2003)
Get Back
Dig a Pony
For You Blue
The Long and Winding Road
Two of Us
I've Got a Feeling
One After 909
Don't Let Me Down
I Me Mine
Across the Universe
Let It Be

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Paul McCartney - McCartney III

Esse foi o último álbum lançado pelo Paul McCartney. É o terceiro dessa linha que começou há muitos anos, em 1970 com o lançamento de "McCartney". Em 1980 tivemos "McCartney II". E qual é a característica em comum de todos esses três discos? Eles são gravados e produzidos apenas pelo Paul que em estúdio toca todos os instrumentos, faz todos os arranjos e.. enfim, são discos em que ele faz tudo sozinho! Coisa para poucos artistas mesmo. E esses 3 álbuns também são, em certa medida, mais ousados, mais vanguardistas. Longe das amarras de uma super produção, Paul se solta mais, fica sem medo de experimentar coisas diferentes.

Como houve a pandemia em 2020 e como Paul precisou ficar em quarentena dentro de casa, ele então teve a ideia de gravar mais um McCartney. Ele tem um estúdio completo dentro de sua mansão em Londres, então era apenas uma questão de decidir colocar a ideia em frente. E como todo mundo sabe que o Paul sempre foi um workaholic, eis aí o resultado de sua produção caseira.

"McCartney III" é um bom disco, mas fica longe dos melhores trabalhos de Paul McCartney. É um álbum sem muitas músicas marcantes, com uma sonoridade que poderíamos dizer ser apenas mediana. É um disco mediano de um artista excepcional. Como eu sempre gostei mais dos álbuns bem produzidos de sua discografia, apreciei muito mais "Egypt Station", seu trabalho anterior. Esse aqui não é aquele tipo de trabalho que me fará ouvir por anos a fio como aconteceu com "Tug of War", por exemplo. Soa mais como uma audição curiosa, de um músico que se recusa mesmo a se aposentar. Claro que ele não perdeu o jeito para escrever belas canções, mas a voz já perdeu o brilho. Claro, fruto de um natural envelhecimento. Esse é um aspecto que nem ao mesmo se pode criticar. De qualquer maneira fica como um ponto de reflexão de um cantor e compositor que não precisa provar mais nada a ninguém.

Paul McCartney - McCartney III (2020)

Long Tailed Winter Bird
Find My Way
Pretty Boys  
Women and Wives  
Lavatory Lil
Deep Deep Feeling
Slidin'
The Kiss of Venus
Seize the Day
Deep Down
Winter Bird / When Winter Comes

Pablo Aluísio.

Paul McCartney - Flowers in the Dirt

Ontem Paul McCartney fez aniversário. Completou 79 anos de idade. Eu pensei em escrever um texto mostrando sua importância no mundo da música, mas isso já foi escrito e reescrito milhares de vezes ao longo de todos esses anos. Ao invés disso preferia escrever algumas palavras sobre esse disco que considero o último grande álbum que Paul produziu e gravou após sua saída dos Beatles. Sim, não tenho medo de dizer que esse "Flowers in the Dirt" é uma obra-prima da discografia de Paul McCartney. Um disco realmente maravilhoso. E ele foi gravado e composto ao lado de outro grande artista, Elvis Costello. Inclusive lamento muito que esse tenha sido o único trabalho coletivo entre Paul e Elvis. Eles poderiam ter trabalhado juntos novamente e tenho certeza que dessa parceria teriam saído outros álbuns excepcionais como esse.

"Flowers in the Dirt" tem uma sonoridade única dentro da discografia de Paul. Aqui se valorizou muito mais as melodias, sem pressa, tudo em seu devido tempo. Entre as faixas destaco algumas que são verdadeiros clássicos do ex-Beatle. As músicas que mais fizeram sucesso nas rádios foram "My Brave Face" e "Figure Of Eight". Essas foram compostas mesmo para se tornarem hits. Canções pop bem saborosas, de refrães pegajosos. Uma especialidade de Paul McCartney. Melhor mesmo é ouvir "This One". Essa poderia ter entrado em qualquer disco dos Beatles, de tão boa que é. Inclusive é a melhor faixa do álbum em minha opinião. Fora essas mais conhecidas o repertório está cheio de excelentes músicas, com melodias agradáveis de se ouvir. É um disco para se saborear aos poucos, como um bom vinho na adega. Ideal para gostos mais refinados.

Outras faixas merecem destaque. "How Many People", foi composta por Paul em homenagem ao brasileiro Chico Mendes. A questão ambiental sempre foi uma das preocupações do ex-Beatle. Aqui ele resolveu homenagear a luta pela preservação da floresta Amazônica. "Put It There" tem uma certa melancolia que bate fundo no ouvinte. Paul iria ao poucos, nos discos seguintes, explorar mais esse tipo de sonoridade. "Motor Of Love" é uma balada despudorada, como poucas vezes se viu em discos de Paul. Nessa faixa Paul não teve vergonha de colocar seu lado mais romântico para fora. Por fim a faixa "Ou Est Le Soleil?" foi um bônus que só saiu no CD. Quem comprou o LP (disco de vinil) como esse que vos escreve, acabou ficando sem ela. Enfim, excelente disco do Sir Paul McCartney. Certamente um dos melhores de sua rica carreira solo.

Paul McCartney - Flowers in the Dirt (1989)
My Brave Face
Rough Ride
You Want Her Too
Distractions
We Got Married
Put It There
Figure Of Eight
This One
Don't Be Careless Love
That Day Is Done
How Many People
Motor Of Love
Ou Est Le Soleil?

Pablo Aluísio.

domingo, 18 de setembro de 2011

The Beatles Live At The BBC - Volume 2

The Beatles Live At The BBC - Volume 2
Eu sempre adorei o volume 1 dessa coleção, porém não tinha comprado ainda o segundo volume, que foi muito menos badalado, muito menos comentado por aí, até mesmo entre fãs dos Beatles. É compreensível, afinal o sabor da novidade já havia passado. Pois bem, como se sabe esses são lançamentos oficiais dos Beatles e recuperam gravações ao vivo que eles fizeram na rádio BBC de Londres. É curioso imaginar um tempo em que os Beatles tocavam ao vivo em um programa de rádio. Era ainda a fase inicial do grupo. Embora famosos, eles ainda não eram esse monstro de quatro cabeças que um dia se tornariam. Eram apenas quatro jovens músicos defendendo um bom cachê. Vamos comentar sobre as faixas mais interessantes, a seguir.

Words of Love - Esse é um clássico romântico escrito por Buddy Holly. Foi escolhida por Paul McCartney para fazer parte do disco "Beatles For Sale". A versão de estúido é linda. Aqui, ao vivo, os Beatles não se saem mal. Aliás a performance deles é boa, a música é inegavelmente bem executada. Parece até mesmo que estamos ouvindo o LP. Pena que os recursos da BBC não eram tão bons assim, afinal era um estúdio de rádio. Por essa razão a qualidade sonora não é das melhores.

Do You Want to Know a Secret? - Essa música fez parte do "Please, Please Me". É uma daquelas músicas que ficam bem melhores em estúdio, pois os vocais são gravados em separado, com todo o capricho e rigor técnico. Aqui nessa gravação os Beatles precisavam reproduzir aquela mesmo vocalização potente, mas não conseguiram chegar lá. Nem era culpa deles, para falar a verdade. A questão é que eles não tinham todos os recursos técnicos dos estúdios Abbey Road. Mesmo assim a versão Live não ficou ruim. Nada disso. Até aprecio.

Lucille - Os Beatles nunca gravaram oficialmente esse rock de Little Richard. Nos palcos entretanto a coisa era diferente. Era figurinha fácil nos repertório dos shows, principalmente quando os jovens Beatles tocavam no Cavern ou em algum  inferninho de Hamburgo. Era aquele tipo de rock em tom alto que eles usavam para balançar e levantar o público. Aqui o George Harrison dá algumas derrapadas na hora do solo, mas não chega a ser propriamente um problema. Dá para curtir a versão sem problemas.

Anna (Go to Him) - Outra do Please, Please Me. É a tal coisa, os Beatles precisavam ocupar o programa da BBC com um repertório variado, mas sem deixar de lado as músicas de seus discos. A propaganda (a publicidade) já era a alma do negócio naqueles tempos, meu caro! Então Anna era carta certa. E aqui eles fizeram uma versão extremamente fiel ao que ouvimos no disco oficial. Só o eco é diferente, mas isso é questão da gravação do estúdio. Os Beatles com aquele eco todo da versão de estúdio provavelmente estavam tentando imitar o Sun Sound dos primeiros singles de Elvis na Sun Records. Na BBC não deu para fazer isso. Tudo bem, a versão é muito boa. O resultado ficou até mesmo inspirado. 

Lend Me Your Comb - Nunca gravada oficialmente pelos Beatles em quaisquer de seus discos, essa faixa tinha pleno potencial para ser um lado B de algum single. Curiosamente passeia por um tipo de ritmo caribenho, como se fosse uma rumba, mas no refrão vira um pop rock dos mais contagiantes. Cantada em coro entre Paul e John, tem também momentos de solo vocal de Paul McCartney. Boa música, bom embalo, injustamente negligenciada pelos Beatles em sua discografia oficial.

Pablo Aluísio.

The Doors - Absolutely Live

Esse foi o único álbum ao vivo lançado pelos Doors em sua carreira. Obviamente que depois do fim do conjunto outros títulos foram lançados mas “Absolutey Live” segue sendo o único lançado pelos próprios Doors. Isso é de se admirar pois uma das maiores forças do grupo vinha justamente de seus concertos. Jim Morrison não se contentava em apenas subir no palco, cantar algumas músicas e ir embora. Quem acompanhou a história dos Doors sabe que um show deles era uma verdadeira roleta russa musical e social. Morrison poderia fazer um show preguiçoso ou então incendiar com tudo ao redor. Em certos aspectos não havia meio termo, basta lembrar que ele foi o primeiro rockstar a ser preso duas vezes em pleno palco, bem no meio de suas apresentações. Por causa de suas performances lisérgicas, Jim Morrison foi chamado de tudo, louco, maníaco, Rasputin! Infelizmente a grande maioria dos shows que o Doors fez no auge de seu sucesso não foi gravada. Nem mesmo os mais polêmicos como o de Miami onde ele foi preso por causar um tumulto épico.

Esse “Absolutely Live” foi gravado na turnê dos Doors em 1970. Por essa época Jim Morrison estava em uma verdadeira maratona jurídica, sendo processado por todos os lados, justamente pelas coisas que fazia ao vivo. Por essa razão são shows em que ele está bem mais contido, tentando provar que poderia fazer uma apresentação sem causar tantos problemas. Com uma barba messiânica, com muitos quilos acima do peso, olhar vidrado, fruto obviamente de seus excessos, Jim em pouco lembrava o jovem alucinado e sem freios dos anos anteriores. Isso porém não significa que o álbum seja ruim, longe disso, mas também não retrata o incendiário Jim Morrison que causou tanta polêmica nos anos 60. Os problemas com álcool e drogas obviamente continuavam mas Jim era pressionado a não dar vexames do tipo baixar as calças para o público como fez nos anos anteriores. Em algumas faixas Morrison mostra estar aparentemente embriagado e em outros lhe falta fôlego. Mesmo assim, por sua importância histórica, não deixa de ser um disco essencial na discografia de todo e bom roqueiro. Uma chance única de conhecer os Doors em seus shows ao vivo.

The Doors – Absolutely Live (1970)
House Announcer
Who Do You Love?
Alabama Song (Whisky Bar)
Back Door Man
Love Hides
Five to One
Build Me a Woman
When the Music's Over
Close to You
Universal Mind
Petition the Lord with Prayer
Dead Cats, Dead Rats
Break On Through (to the Other Side)
Celebration of the Lizard
Lions in the Street
Wake Up
A Little Game
The Hill Dwellers
Not To Touch The Earth
Names of the Kingdom
The Palace of Exile
Soul Kitchen

Pablo Aluísio.

sábado, 17 de setembro de 2011

A-ha - Lifelines

Mais um bom disco do A-ha depois de seu retorno no começo dos anos 2000. Aqui temos uma verdadeira avalanche de novas canções, a maioria delas composta pela dupla Magne Furuholmen e Paul Waaktaar. Como ficaram muito tempo parados o material realmente foi se acumulando. Assim que acertaram com a gravadora e entraram no estúdio descobriram que tinham outro tipo de problema, não de escassez de canções, mas justamente o contrário, pois havia material demais para ser lançado. A solução foi separar o que havia de melhor para gravar, o que não conseguiu deixar o disco ainda enxuto. Parte das músicas foi composta por Paul Waaktaar para o seu grupo próprio, o Savoy. Como se sabe ele mantém uma carreira solo bem produtiva, o que inclui uma banda dele. Nesse outro projeto musical ele elabora composições para trilhas sonoras de filmes e material musical direcionado para o mercado de publicidade. Sempre foi um músico muito produtivo.

No total o álbum sairia com quinze músicas, um recorde em se tratando da banda norueguesa. A boa notícia é que praticamente todas as canções são muito boas, com excelentes e ricos arranjos e melodias que nos fazem crer que o A-ha é de fato uma das melhores bandas pop do mundo e não apenas um conjunto nostálgico da década de 1980. Infelizmente tirando os países europeus onde o A-ha tem seu fã-clube mais fiel (basicamente no norte da Europa, com países que abrangem, entre outros, a Alemanha, Holanda, Bélgica e países escandinavos e algumas ex-repúblicas soviéticas do leste europeu), todo o resto do mundo pareceu ignorar o lançamento. Uma pena. Esse "Lifelines", repito, é um álbum muito bom, com qualidade musical acima da média e excepcionalmente bem gravado. De qualquer maneira deixamos a dica para que os fãs de boa música redescubram esse álbum. O A-ha mostra mais uma vez que eles definitivamente não perderam a mão mesmo após todos esses anos.

A-ha - Lifelines (2002): 1. Lifelines / 2. You Wanted More / 3. Forever Not Yours / 4. There's a Reason for It / 5. Time & Again / 6. Did Anyone Approach You? / 7. Afternoon High / 8. Oranges on Appletrees / 9. A Little Bit / 10. Less Than Pure / 11. Turn the Lights Down / 12. Cannot Hide / 13. White Canvas / 14. Dragonfly / 15. Solace.

Pablo Aluísio.

Pink Floyd - Atom Heart Mother

Para muitos “Atom Heart Mother” foi verdadeiramente o primeiro disco de rock progressivo da história. Uma tentativa do grupo inglês Pink Floyd em levar o rock a patamares sequer imaginados em seu modesto inicio. De uma música simples, com poucos acordes, tocada por apenas quatro ou cinco músicos para uma perfeita junção com a grandiosidade da música clássica. O que mais impressiona o ouvinte aqui é o grau de experimentalismo e ousadia da banda que não teve receio nenhum de inovar, buscar outros caminhos, trilhar uma sonoridade ainda inédita dentro do rock mundial. Nesse aspecto o Pink Floyd foi completamente revolucionário. Os membros do grupo usaram tudo o que tinham em mãos, sua experiência na fase Syd Barrett e as tentativas posteriores de criar um som próprio, único. O álbum é um impacto ao ouvinte. A primeira faixa (que ocupava todo o lado A do vinil) é uma overdose de arranjos, sons e peças instrumentais. São 23 minutos de perfeita união entre conceitos eruditos e rock! Aqui o Pink Floyd usou de tudo, desde instrumentos clássicos a vocais de ópera. Posso afirmar sem receios que nenhum conjunto de rock tinha sido tão inovador, nem mesmo os Beatles. Genialidade em notas musicais.

Já o Lado B do antigo vinil era um pouco mais familiar e convencional aos ouvidos. “If”, por exemplo, é uma linda balada com melódico dedilhado de violão. Tudo muito suave em ótima vocalização, quase sussurrada. Soa quase como uma proposta de relaxamento após o monumental Lado A do disco. Sendo sincero se não fosse as guitarras ao fundo, “If” poderia ser até mesmo classificada como uma doce cantiga de ninar, tamanha sua suavidade. O tom segue na faixa seguinte, “Summer 69” onde Richard Wright mostra todo o seu talento de compositor, pianista e vocalista. Uma canção evocativa que nos transporta imediatamente para aqueles anos maravilhosos. Considero Wright um subestimado dentro da música do Pink Floyd. Não teve o reconhecimento devido. A última canção mais, digamos, convencional do álbum é “"Fat Old Sun" onde quem dá as cartas é o guitarrista David Gilmour. Encerrando esse grande disco temos a psicodélica e cinematográfica "Alan's Psychedelic Breakfast”, uma canção que só poderia ser lançada pelo Pink Floyd mesmo. A palavra chave aqui é vanguarda. Curiosamente o disco passa por uma revisão atualmente. Gilmour e Waters divergem sobre o resultado do álbum em determinados pontos. Para Gilmour o conceito era de fato fantástico mas faltava maior experiência para o Floyd naquele momento histórico. Em sua forma de pensar poderia ter saído melhor. Para Waters o disco é um marco mas não atendeu as suas expectativas. No fundo isso é um exercício de retórica vazia. O disco é um dos mais fantásticos da história do rock, dando inicio a toda uma nova era no gênero. Todo o resto se torna secundário.

Pink Floyd - Atom Heart Mother (1970)
Atom Heart Mother
If
Summer '68
Fat Old Sun
Alan's Psychedelic Breakfast

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

The Beatles - Edição III

The Beatles - Beatles For Sale - Parte 1 -"No Reply" é uma beleza de melodia. Com John Lennon nos vocais principais (em voz dobrada dentro dos estúdios), é um dos melhores momentos desse disco. Não sei exatamente a razão, mas essa canção sempre me levou a ter um sentimento de estar ouvindo uma antiga trilha sonora da era do cinema mudo, onde as trilhas dos filmes eram executados por pianistas dentro das salas de cinema. Tem uma sonoridade de música antiga, do começo do século XX. Poderia estar em uma velha película estrelada por Douglas Fairbanks.

Agora imagine ser um dos roqueiros mais populares do mundo, ser exaltado em todos os lugares por onde passava, com milhares de fãs lhe idolatrando, ter fama e sucesso financeiro e ainda assim escrever uma música chamada "Eu sou um Perdedor" ("I'm a Loser"). Foi justamente isso que John Lennon fez, bem ali na onda da Beatlemania. Era coisa para poucos. Na letra John afirmava várias vezes que era um perdedor e nada daquilo que as pessoas pensavam. John Lennon, sem favor nenhum, foi um dos maiores letristas da história do rock. E para deixar ainda mais sua marca registrada ele também acrescentou sua característica gaita. Lennon em estado puro.

"Rock and Roll Music" foi composta, gravada e lançada originalmente por um dos pais do rock, Chuck Berry. Esse foi um artista único, com uma história que era puro rock ´n´roll. Negro, sempre envolvido com tretas na justiça, onde vivia entrando e saindo da cadeia, era um tipo marginal em sua vida pessoal. Porém como artista seu talento era inegável. Certa vez John Lennon o encontrou pessoalmente em um programa na TV americana durante os anos 70. Sem nem pensar duas vezes se derreteu de elogios na frente dele, o chamando de "meu herói". Realmente, para aquela geração roqueira ele foi mesmo um símbolo, um herói do movimento.

"I'll Follow the Sun" é linda! Simplesmente isso, uma das mais lindas músicas gravadas pelos Beatles. É impressionante como aqueles jovens conseguiam criar algo tão belo no estúdio. O produtor George Martin também acertou muito ao sugerir aos Beatles que eles fizessem arranjos simples e belos, com solos de violão e o baixo de Paul em segundo plano, quase imperceptível. Esse tipo de sonoridade relaxante e romântica iria ressurgir alguns anos depois no clássico "Here Comes The Sun". Tinha o mesmo sentimento, o mesmo feeling.

The Beatles - Beatles For Sale - Parte 2 - "Eight Days a Week" quase virou canção tema do filme "Help!". Ela foi intitulada originalmente de "Oito braços para lhe abraçar" que era uma tremenda apelação de marketing para fisgar as fãs adolescentes dos Beatles. Depois de algum tempo John Lennon começou a achar tudo aquilo brega demais (e obviamente era algo bem pegajoso e bregoso), por isso o título da música foi finalmente mudado. È interessante também notar que os Beatles estavam bem pressionados para completar um disco para as festas de final de ano, por isso eles encaixaram essa música nesse álgum. Inicialmente ela foi pensada para fazer parte de "Help!", mas os Beatles mudaram de opinião sobre isso. Assim ela foi finalmente escalada para o "For Sale". Fez bem, se encaixando perfeitamente no repertório desse disco.

"Words of Love" é um cover dos Beatles com a imortal balada romântica escrita por Buddy Holly. Paul McCartney sempre foi um fã de carteirinha desse pioneiro do rock americano, a tal ponto que anos depois iria comprar os direitos autorais de toda a obra de Buddy Holly, que morreu muito jovem em um acidente de avião. Nesse mesmo evento trágico morreram também Ritchie Valens (de La Bamba) e Big Bopper, outro roqueiro da época. Como forma de homenagem e referência os Beatles então decidiram gravar essa criação imortal de Holly. Ficou linda a gravação, simplesmente irretocável. Um dos grandes momentos do disco.

"Mr. Moonlight" é outro cover. Foi composta por Roy Lee Johnson. Era uma daquelas canções que ninguém esperava encontrar em um disco dos Beatles na época. A sonoridade lembra o som que era mais comum nas décadas de 1930 e 1940, tendo pouco ou nada a ver com a imagem e a sonoridade dos Beatles naquela época. Pode-se inclusive imaginar como as fãs adolescentes dos Beatles se sentiram a ouvir algo tão fora da rota quando compraram o disco. Na parte interna do álbum havia uma grande foto dos Beatles na frente de ídolos da era do cinema mudo americano. Pois bem, isso sim era algo que combinava com "Mr. Moonlight".

The Beatles - Beatles For Sale - Parte 3 = Há duas músicas de Carl Perkins nesse disco dos Beatles. "Honey Don't" é a primeira. Esse country music foi escolhido a dedo por John Lennon para ser a faixa que Ringo Starr cantaria no álbum. Como se sabe os Beatles sempre deixavam uma música para Ringo cantar nos discos oficiais do grupo. Era uma maneira de valorizar o baterista, fazendo com que ele ganhasse auto confiança em si mesmo. E o timbre de Ringo era muito adequado para esse tipo de sonoridade. Nos primeiros discos dos Beatles sempre que surgia um country no estúdio, todo mundo já sabia, essa faixa seria gravada pelo Ringo.

"Everybody's Trying to Be My Baby" foi a outra composição de Carl Perkins que os Beatles escolheram para fazer parte do disco. Carl Perkins era um artista da Sun Records, a mesma gravadora de Memphis que havia descoberto Elvis Presley e Johnny Cash, entre outros tantos pioneiros da primeira fase do rock americano. Os Beatles eram fãs dessa geração de artistas. Na época era bem complicado achar um disco de Perkins na Inglaterra, mas eles conheciam suas músicas, principalmente por causa do rádio. O fato de Liverpool ser um dos portos mais movimentados da Inglaterra também ajudava aos rapazes. Havia sempre algum marinheiro disposto a vender cópias de discos para eles. E assim os Beatles foram conhecendo a nata da música dos Estados Unidos.  

"Kansas City/Hey-Hey-Hey-Hey!" era outro cover do rock americano. Essa foi composta pela exelente dupla Leiber e Stoller, que escreveram alguns dos maiores sucessos da carreira de Elvis Presley. É interessante que a ideia do medley surgiu quando os Beatles estavam em turnê nos Estados Unidos. Eles iriam tocar na cidade de Kansas City e improvisaram esse número para homenagear o público dessa cidade americana. A coisa deu tanto certo, teve tão boa receptividade, que John e Paul decidiram fazer uma versão de estúdio. Ficou, como era de esperar, realmente excelente.

John Lennon e Help! - Na foto ao lado vemos John Lennon na época das filmagens do filme "Help!". Com o tempo John foi ficando incomodado em fazer cinema. Ele costumava dizer que "os Beatles não são atores, mas músicos" e Lennon sabia que eram duas coisas diferentes. Ele também não curtiu muito o roteiro do filme, já que realmente era uma estorinha bem boba com vilões cartunescos tentando pegar um anel que havia sido comprado por Ringo.

Durante as filmagens John não se interessou muito pelo material. Ele estava tendo crises de criatividade e um pouco de depressão. O casamento ia mal, os Beatles já não interessavam a ele como no passado e tudo parecia estar sem sentido. Ele só iria recuperar o gosto por sua arte, segundo suas próprias palavras, anos depois quando iria conhecer a artista plástica Yoko Ono.

Em "Help!" John só se interessou pela parte musical. Ele compôs várias canções inéditas para a trilha sonora e resolveu até mesmo fazer um cover do rock "Dizzy Miss Lizzy". A música título do filme foi composta praticamente apenas por ele, com pequenas e pontuais colaborações do colega de banda Paul McCartney. O filme como cinema não agradou a John Lennon, a ponto inclusive dele ter dito a pessoas próximas que o roteiro era uma porcaria, uma besteira inútil.

The Beatles - Rubber Soul - Parte 1 - A música "In My Life" é certamente um dos maiores clássicos dos Beatles nesse álbum. Uma letra nostálgica em que John Lennon procurava relembrar as amizades e amores do passado. Uma letra autoral que de certa forma antecipava o que os Beatles iriam escrever em músicas como "Strawberry Fields Forever" e "Penny Lane", onde o passado surgia como tema principal. Nessa canção o produtor George Martin também colaborou bastante, ajudando ativamente nos belos arranjos finais que ouvimos na gravação oficial que saiu no disco "Rubber Soul".  

"Girl" foi outra criação de John Lennon. Em entrevistas nos anos 70, Lennon iria dizer que a música representava aquele tipo de garota ideal que todos um dia sonharam ter. E ele completou afirmando que essa garota ideal acabaria sendo a Yoko Ono. Pois é, o John já estava naquela fase obsessiva em relação a Yoko, sempre colocando ela em primeiro plano, mesmo em relação a músicas que tinham sido compostas antes mesmo de tê-la conhecido. Amor ilimitado é isso aí!

Se as duas músicas anteriores foram clássicos de John Lennon, músicas para se orgulhar até o fim de sua vida, a faixa "Run for Your Life" foi rejeitada por ele alguns anos depois. John chegou até mesmo a dizer que "sempre a detestou" e que a havia criado às pressas, para completar o disco. A letra hoje em dia seria considerada abominável, pois basicamente diz para uma mulher correr por sua vida... e isso dito por um homem! O que sugeria? Que iria bater nela ou até mesmo matá-la? E isso composto por John Lennon, que iria virar um símbolo da paz e amor dos anos que viriam? Realmente não é complicado entender porque John a renegou completamente alguns anos depois. Era uma letra embaraçosa para ele, de puro machismo sem noção.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

The Beatles - Edição II

John Lennon - 80 Anos  - Esse ano de 2020 há várias datas redondas envolvendo John Lennon. Nascido em  9 de outubro de 1940, John Lennon teria completado 80 anos de idade se estivesse vivo. No próximo dia 8 de dezembro se completará 40 anos de sua morte. John que viveu 40 anos, completa 40 anos de seu falecimento. Para relembrar John, Yoko Ono está promovendo o lançamento do CD duplo "Gimme Some Truth". Basicamente uma coletânea (Mais uma!), trazendo músicas apenas da carreira solo de Lennon. Em minha opinião seria mais interessante a reedição de todos os álbuns de John Lennon após a saída dos Beatles. Porém, Yoko preferiu mesmo colocar no mercado mais do mesmo.

O mais interessante nesses 80 anos de John Lennon veio de seu filho Sean. Ele entrevistou Elton John e Paul McCartney em um programa de rádio de Nova Iorque. Com Elton John a conversa foi das mais amigáveis. Elton relembrou que foi bastante próximo de John ali por volta de 1973, 1974, durante o chamado "fim de semana proibido". Foi Elton John inclusive que promoveu a reaproximação de John e Yoko, o que levou Sean a agradecer a ele por ter existido - afinal sem essa reconciliação o próprio Sean não teria nascido.

Com Paul McCartney a conversa também foi bem reveladora. Sean perguntou a Paul se ele ainda se lembrava da primeira vez que havia visto John. Paul disse que sua memória mais antiga era a de ver John em uma fila para comprar batatinhas fritas numa lanchonete de Liverpool. Ele ainda não conhecia John pessoalmente e Lennon chamou sua atenção porque ele usava cabelos longos, com costeletas, tal como Elvis. Isso era incomum em jovens de Liverpool na época.

Paul McCartney também contou a Sean que conheceu sua avò, Julia Lennon. Ela foi atropelada por um policial embriagado, fora de serviço. Ela ainda era jovem e essa morte abalou profundamente John. Paul disse a Sean que Julia era uma mulher fora dos padrões da época, que se divertia com os jovens amigos de John, que entendia sua piadas, que era uma pessoa divertida e parecia feliz. Esses dois programas de rádio, com as entrevistas, acabaram sendo o que de melhor tivemos até agora nesses 80 anos de John Lennon.

John Lennon - Gimme Some Truth
Pobre John Lennon. Foi morto com apenas 40 anos de idade, em um crime estúpido promovido por um ser humano desprezível. Morreu por nada, como se costuma dizer no ditado popular. De lá para cá já se passaram outros 40 anos. Lennon segue sendo um artista referencial dentro da cultura popular. E para não deixar passar em branco os 80 anos de nascimento do cantor e compositor, sua viúva Yoko Ono lançou no mercado essa nova coletânea de sua carreira solo.

Há duas formas de ver um novo álbum como esse. Se você é um fã dos Beatles de longa data, se já passou inclusive pelas outras várias coletâneas que já foram lançadas sobre Lennon em todos esses anos, então devo dizer que não há nada para você aqui. No máximo temos um trabalho melhor na qualidade musical das faixas, o que era de se esperar em termos da tecnologia do mundo atual. E isso, é bom frisar, nem sempre é tão bem-vindo assim pelos fãs mais antigos. Afinal eles querem ouvir as músicas de John Lennon com a sonoridade do passado, se possível em vinil mesmo, pois assim chegaram ao mercado. As tais falhas de qualidade sonora dos discos originais fazem parte do pacote. É um charme vintage que nem todos estão dispostos a abrir mão.

Agora, se você é um fã novato do mundo dos Beatles, se você não conhece nenhuma outra música da carreira solo de John Lennon a não ser "Imagine" (que qualquer pessoa no mundo já conhece) então pode ser uma boa opção. É um cartão de visitas ao material que John Lennon produziu quando deixou os Beatles. Pode ser um primeiro contato. Só não deixe de ir em busca de seus discos oficiais depois, para conhecer a fundo o tipo de música que Lennon produziu em sua carreira solo. Passa longe da genialidade dos álbuns dos Beatles, mas inegavelmente há bons momentos nesses discos dos anos 70. Afinal gênio é gênio, seja ao lado de outros gênios, seja produzindo sozinho.

Frases marcantes de John Lennon
De todos os membros dos Beatles, John Lennon sempre foi o que mais se destacou pelo aquilo que dizia. Geralmente John dizia frases polêmicas ou de provocação. Por essa razão ele ainda hoje é considerado um babaca por alguns. Realmente de várias frases que disse ao longo da vida, algumas foram bem desnecessárias, ou algumas vezes mal colocadas. A imprensa da época geralmente pegava também bastante no pé de Lennon por suas opiniões. Algumas vezes ele foi eleito "O Palhaço do Ano" pela imprensa americana justamente por essa razão. Abaixo seguem frases que ficaram bem conhecidas dele.

E aí, John Lennon, o que foi que você disse mesmo?  "Os Beatles são mais populares do que Jesus Cristo" "Deus é um conceito no qual medimos nossa dor" "A vida é aquilo que acontece enquanto você está está fazendo outros planos" "Eu tenho o maior medo desse negócio de ser normal""Antes de Elvis não existia Nada""Elvis morreu no dia em que foi para o exército""Os Rolling Stones sempre copiaram nossas ideias" "A ignorância é uma espécie de bênção. Se você não sabe, não existe dor""Viver é fácil com os olhos fechados""Realize seu sonho. Você mesmo vai ter de fazer isso...eu não posso acordar você; Você é quem pode se acordar.""Eu não acredito em Deus, eu não acredito em Elvis, eu não acredito nos Beatles. Eu só acredito em mim e em Yoko""O Sonho acabou!""A única coisa boa que Paul McCartney fez em sua vida foi Yesterday""Talvez não haja muita diferença entre você e o presidente dos Estados Unidos se ambos ficarem nus""As drogas foram libertadoras. No meu caso deu origem ao disco Sgt Peppers""A monarquia inglesa é uma besteira""Concertos de rock que são feitos para salvar lugares pobres do mundo são pura roubalheira""George Harrison omitiu meu nome em sua autobiografia! Como se minha importância na carreira dele fosse zero!""Paul tem um rostinho bonito e sempre vai dizer que tudo o que disseram dele é uma mentira""Bob Dylan sempre foi muito paranóico. Nunca consegui ouvir um disco inteiro dele""Os primeiros discos dos Beatles são meio toscos. Na época tudo bem, não tínhamos experiência para fazer algo melhor do que aquilo""Os jornalistas sempre puxaram o saco dos Beatles porque nas turnês sempre havia muitas putas e drogas para todos eles""Eu quero morar em Nova Iorque porque todo mundo quer ir para o centro, para onde as coisas acontecem""A coisa boa de ser um artista é que a vida é sempre um desafio. O chapéu de palha sempre voa, nunca fica na sua cabeça""Na Inglaterra os artistas são tratados como animais. Nos Estados Unidos eles viram grandes astros em Hollywood""Ringo seria um astro, com ou sem os Beatles. Ele iria encontrar um caminho para isso""Brian Epstein era um cara maravilhoso. Quando ele morreu os Beatles ficaram perdidos. Paul quis assumir o posto de líder do grupo, mas que líder era esse que não sabia para onde ir?""Esses discos lançados pelo Paul são pura muzak! É música para elevador""Quem precisa de um ex-Beatle? Ninguém..."

John Lennon - 40 Anos Depois - No último dia 8 de dezembro o mundo relembrou os 40 anos da morte de John Lennon. Naquele dia ele saiu do prédio Dakota no centro de Nova Iorque para gravar novas canções para o disco que planejava lançar após a chegada do Double Fantasy nas lojas de discos dos Estados Unidos e Europa. Ele queria ter bastante material para apresentar em uma turnê que estava programando fazer nos próximos meses. Ao sair na rua encontrou um fã chamado Mark Chapman que pediu um autógrafo. Gentilmente John assinou o álbum e foi embora para o estúdio. Chapman ficou esperando ele voltar.

Quando retornou John viu novamente o fã. Como já havia assinado o disco não ligou muito. Apenas o ignorou, desceu do carro e foi em direção ao portão de entrada do prédio onde morava. Era o fim de mais um dia de trabalho duro, ele queria descansar em seu apartamento. Ao dar as costas foi alvejado por vários tiros dado pelo insano Chapman. Baleado, John ainda se arrastou para um pequeno local onde o porteiro do Dakota trabalhava. Esse o socorreu, chamou os policiais, mas pela quantidade de sangue a situação de Lennon parecia bem grave.   

Chapman não fugiu. Os policiais o prenderam sem qualquer reação. Parecia que ele esperava por isso mesmo. Queria sua parte na fama dos Beatles. Foi algemado imediatamente. John foi colocado no banco de trás de uma viatura policial e levado às pressas ao hospital. O policial que o socorreu, tentando descobrir se ele ainda tinha consciência, perguntou se ele sabia quem era. John respondeu: "Eu sou John Lennon". Foram suas últimas palavras. Ele foi dado como morto ao chegar (DOA) no hospital. Não havia nada o que fazer. Os tiros foram fatais. Aqueles seriam seus últimos momentos de vida. Hoje, 40 anos após seu assassinato, só podemos lamentar um crime tão bárbaro e insano.

Paul McCartney anuncia o lançamento de McCartney III  - Como já era esperado, Paul McCartney anunciou o lançamento de seu novo álbum, que se chamará McCartney III. Como aconteceu com McCartney e McCartney II, nesse novo disco Paul toca todos os instrumentos e produz todo o material sozinho. A ideia de fazer McCartney III nasceu da situação em que Paul se viu após o começo da pandemia. Como ele mesmo explicou em entrevista, ele teve que ficar isolado em casa pois está no grupo de risco da doença.

Em sua casa em Londres Paul tem um estúdio próprio, de última geração. Então como ele teria que ficar isolado mesmo, por que não gravar novas músicas, onde ele iria fazer praticamente tudo sozinho? Era uma maneira de matar o tédio, usando seu tempo para algo produtivo. O resultado ficou bem melhor do que ele próprio pensaria. Paul resgatou velhas canções que estavam arquivadas, compôs novas músicas e levou em frente seu projeto, sem a ajuda de nenhum outro músico e produtor.

Segue abaixo o primeiro comercial do disco. Ainda não foi tocada nenhuma das novas músicas, mas é esperado que isso seja feita nas próximas semanas. A MPL, a empresa de Paul e selo de seus discos, vai distribuir em breve um single com duas músicas para as rádios de Londres. Agora é esperar para conferir o resultado. Na foto ao lado Paul McCartney aparece ao lado do contrabaixo que pertenceu a Bill Black, da primeira banda de Elvis Presley.

Pablo Aluísio.

The Beatles - Edição I

The Beatles - Love Me Do / P.S. I Love You - O primeiro single da história dos Beatles foi um pequeno compacto gravado na Alemanha com as faixas "My Bonnie" no Lado A e "The Saints" no Lado B. Esse single não era creditado aos Beatles, mas sim aos "Beat Brothers". Foi o nome usado por eles para servir como grupo musical que acompanhou Tony Sheridan, que na época era uma espécie de genérico de Elvis Presley. Foi uma boa performance, mas não era um lançamento de verdade dos Beatles. Estava mais para um trabalho freelancer que eles fizeram na época.

O primeiro single realmente do grupo foi esse "Love Me Do / P.S. I Love You", gravado e lançado em 1962 pela EMI. Na época os Beatles eram apenas quatro jovens desconhecidos que tentavam um lugar ao sol no concorrido mundo da música. Duas pessoas foram bem importantes nesse lançamento pioneiro. Primeiro Brian Epstein que lutou muito para que uma gravadora aceitasse seus jovens músicos. Era o empresário da banda. O outro nome que jamais pode ser deixado de lado foi o do produtor George Martin. Quando ele encontrou os Beatles pela primeira vez o som do grupo ainda estava muito cru e amador. Foi Martin quem sentou com eles para melhorar aquelas canções.

O resultado dessa união de talentos todos sabemos. Reza a lenda que a primeira vez que os Beatles tocaram "Love Me Do" para Martin ele não gostou muito do que ouviu. Era uma composição muito simples, que precisava de muito trabalho para melhorar. E desse trabalho conjunto finalmente chegaram em um bom resultado. Muitos anos depois John Lennon iria explicar que a canção foi inspirada na obra de Roy Orbison. Realmente o sentimento é bem parecido, evocando aquele tipo de sentimento mais juvenil de um amor romântico, embora Paul e John também tenham inserido ali, de forma praticamente camuflada, um pouco de picardia juvenil. No geral é um excelente trabalho, tanto de composição como de performance. É a página 1, do capítulo 1 da história da discografia dos Beatles tal como a conhecemos.

The Beatles - I Want to Hold Your Hand - Em fevereiro de 1964, há exatamente 50 anos, os Beatles, uma banda inglesa que poucos conheciam nos Estados Unidos chegou ao primeiro lugar da principal parada de sucessos americana, a Billboard, com o single "I Want To Hold Your Hand". Desde então o mundo musical jamais seria o mesmo. Nos anos seguintes os Beatles e outros conjuntos britânicos como os Rolling Stones tomariam de assalto todas as listas de mais vendidos, começando uma nova era que seria conhecida anos depois como "A Invasão Britânica"

I Want To Hold Your Hand (Lennon - McCartney) - Oh, yeah, I'll tell you something / I think you'll understand / When I say that something / I wanna hold your hand / I wanna hold your hand / I wanna hold your hand / Oh, please, say to me / You'll let me be your man / And, please, say to me / You'll let me hold your hand / Now let me hold your hand / I wanna hold your hand / And when I touch you I feel happy inside / It's such a feeling that my love / I can't hide, I can't hide, I can't hide / Yeah, you've got that something / I think you'll understand / When I'll say that something / I wanna hold your hand / I wanna hold your hand / I wanna hold your hand / And when I touch you I feel happy inside / It's such a feeling that my love / I can't hide, I can't hide, I can't hide / Yeah, you've got that something / I think you'll understand / When I'll feel that something / I wanna hold your hand / I wanna hold your hand / I wanna hold your hand.

O Beatle George - Relendo algumas antigas entrevistas de John Lennon eu pude constatar como ele, Lennon, via seu colega de banda, George Harrison. Para quem não sabe foi Paul que trouxe George para os Beatles. Eles moravam perto em Liverpool e o fato de que ambos gostavam muito de música os aproximou. Quando Paul entrou para o grupo de John esse lhe perguntou se ele não tinha ninguém para entrar na banda, já que os antigos membros tinham ido embora. Paul então levou George para conhecer John. A questão era que Harrison não passava de um adolescente ou nas palavras de John, "Um fedelho".

Harrison tinha pouco mais de quinze anos de idade e isso era demais para John que já havia terminado o ensino médio e estava frequentando uma escola de arte na cidade, onde obviamente todos eram bem mais velhos, fumavam, bebiam e se envolviam em confusões pelos bares da cidade. John de certo modo teria vergonha de ser visto ao lado de um garoto como George, que mal havia saído debaixo das saias da mãe. No primeiro encontro, por essas e outras razões, John recusou George no que viria a se tornar no futuro os Beatles. Paul porém tinha suas próprias ideias sobre Harrison. Achava que ele tocava bem, muito mais aliás do que Stu, o grande amigo de John, que apenas fingia tocar baixo. Assim depois de muita insistência, meio constrangido e quase sem ninguém para tocar em seu grupo musical, John acabou colocando aquele garoto para dentro de seu conjunto.

Essa postura de certa insegurança e subordinação dentro dos Beatles acabou acompanhando George pelo resto da carreira. Só quando os Beatles estavam prestes a se separar é que George finalmente desabrochou como grande compositor e criador de belas músicas como "Something" e "Here Comes The Sun". Na parte do tempo ele apenas se mostrava dentro dos estúdios Abbey Road como um competente guitarrista solo do grupo. Numa das entrevistas John Lennon, chateado com a biografia que George havia escrito, desabafou dizendo: "George vivia me seguindo por aí, como um garotinho que segue seu ídolo. Assim quando ele escreveu seu livro pensei que ele iria reconhecer tudo isso, mas não, ele praticamente não falou da minha influência sobre ele! Eu tinha muito trabalho com as minhas músicas e as de Paul, mas sempre achei espaço para ajudar nas canções de George como Taxman. Nunca pedi reconhecimento, mas ele parece que esqueceu tudo o que eu fiz por ele!"

Excessos de zelo por parte de John Lennon? Certamente. O fato é que George Harrison seguiu seu próprio caminho na carreira solo, sempre com dois gênios à sombra, tentando se firmar como artista completo, longe de Lennon e McCartney. Não foi algo fácil de alcançar. Todos os seus álbuns acabavam sendo comparados com os de John e Paul, algo que o irritava profundamente. Isso também fez com que George mantivesse um relacionamento conturbado com a imprensa de um modo em geral. Sua esquiva de dar entrevistas ou colaborar com os jornalistas lhe trouxe uma fama de tímido e introspectivo, culminando com o título de "O Beatle Quieto", algo que nem sempre lhe agradou.

Os Instrumentos dos Beatles - Essa excelente foto dos Beatles capturou para sempre a época em que eles, ainda jovens, conquistaram o mercado americano com sua música. Nesse tempo cada membro do conjunto tocava um instrumento específico. Paul McCartney era o mais eclético de todos. Além de tocar baixo, seu instrumento básico dentro dos Beatles, Paul ainda tocava piano, violão, guitarra e quando preciso, bateria. Dá para se ter uma ideia de como ele era mesmo  o multi instrumentista do quarteto de Liverpoo.

John Lennon, por outro, lado se concentrava em sua guitarra. Na capa do Please Please Me John era creditado como guitarrista líder, uma denominação de pouca importância. Na verdade ele tocava mesmo guitarra ritimica, ou seja, ele fazia a banda "pulsar" como ele afirmaria anos depois em uma entrevista. Raramente John tocava outros instrumentos, mas em várias ocasiões arriscava algumas notas no piano e órgão, esse último levado aos palcos algumas vezes (como no show do Shea Stadium). 

George Harrison também era guitarrista, mas cabia a ele fazer os solos das canções. Era considerado por John um instrumentista bem talentoso nesse aspecto. Assim se você ouvir um belo solo nos primeiros discos dos Beatles saiba que é George o responsável por eles. Por fim Ringo Starr se responsabilizava não apenas pela bateria, mas também por qualquer outro instrumento de percussão. Se era precisa qualquer tipo de tambor nos discos dos Beatles, lá estava Ringo para providenciar esse tipo de som.

John Lennon 1965
Foto tirada durante as filmagens de "Help" nos alpes. Como relembraria anos depois essa foi uma fase complicada na vida de John. Ele se sentia perdido, sem saber que rumo tomaria. Os Beatles, como grupo e como ideia, já não o atraía mais como antes. John pensava em tomar novos rumos em sua carreira como artista, mas ainda não sabia para onde ir. Ele tinha formação em artes, queria criar algo mais nesse sentido, porém os Beatles absorviam todo o seu tempo e toda a sua criatividade.

Também havia o problema das drogas. Em entrevista a uma revista americana durante os anos 70, John disse que os Beatles estavam usando muita droga nessa fase. "Mal tínhamos acordado e já estávamos fumando maconha. Na verdade o café da manhã dos Beatles era cocaína". Para Lennon todos estavam fora do controle, mas ele era o que mais parecia perdido. Engordando muito, usando muitas drogas, John confessou que a letra de "Help!" era bem coerente com o que ele estava passando na época. John estava literalmente pedindo socorro!

O Baixo de Paul McCartney
O primeiro instrumento musical da vida de Paul McCartney foi um piston dado por seu pai. Paul porém logo chegou na conclusão que até aprender a tocar o instrumento ele iria sofrer um bocado pois teria que passar por um período de endurecimento dos lábios. O pai de Paul tinha uma pequena banda de jazz. Não era algo profissional, mas sempre estavam se apresentando nos finais de semana em parques e pubs de Liverpool. Assim a música era algo tradicional dentro da família McCartney.

O Jazz porém era a música dos mais velhos. A moda entre os jovens era aprender violão e depois a guitarra. O rock americano estava nascendo e por essa razão o legal mesmo era ser guitarrista. Tocar rock! Paul não teve muitas dificuldades em aprender a tocar seu novo instrumento e com uma perseverança fora do normal se tornou um ótimo instrumentista. Nunca foi dos planos de Paul em se tornar o baixista dos Beatles. No começo ele era ao lado de John e George um dos guitarristas da banda. O problema é que Stuart Stutcliff, o baixista, simplesmente não sabia tocar direito. Assim quando ele foi embora sobrou para Paul tocar seu baixo Hoffner. E assim ele se tornou o baixista dos Beatles, muito embora fosse um ótimo guitarrista. 

Pablo Aluísio.