quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Maria nos Evangelhos - Parte 2

Maria era de uma família profundamente religiosa. Ela era filha de Santa Ana e São Joaquim, segundo a tradição oral que atravessou séculos e séculos dentro do catolicismo. Nessa mesma tradição católica encontramos o nome das duas irmãs de Maria, são elas: Maria Salomé e Maria de Cleofas. Indo mais adiante no passado alguns textos muito antigos atribuem a origem de Santa Ana e São Joaquim. Ela pertenceria ao núcleo familiar do sacerdote Abraão e ele seria da Casa de David. O pai de Maria teria sido repreendido pelos sacerdotes por não ter construído uma família pois Santa Ana era estéril e já estava com idade avançada. Joaquim então teria se retirado ao deserto onde em penitência pediu a Deus que seu casamento gerasse filhos, ao qual foi atendido por um anjo que lhe avisou que sua esposa estaria grávida. Desse milagre teria nascido Maria, mãe de Jesus. Todo esse contexto histórico serve para explicar porque, ao receber o aviso de que daria luz a Jesus, Maria aceitara sem contestar a graça que lhe era dada. Por ser de uma tradicional linhagem familiar muito religiosa, de uma fé que se perdia no tempo, não era de se esperar outro comportamento por parte dela. Maria era uma jovem de Deus, consagrada a Ele e muito ciente de seus deveres. Além disso sua própria concepção teria sido divina. Outro fato importante, digno de nota: Joaquim e José seriam ambos da casa de Davi, ou seja, muito provavelmente tinham algum tipo de parentesco, mesmo que distante.

No Evangelho Segundo Mateus também encontramos referência a Maria logo nos primeiros versículos. No capítulo 1, versículo 16 ela é identificada como sendo a esposa de José, da Casa de Davi. Essa parte traz a genealogia de Jesus, desde Abrãao. No capítulo 2 sobre o nascimento de Jesus ela surge também com extrema importância, de acordo com o texto das escrituras que diz: "18 Ora, a origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José e, antes de passarem a conviver, ela encontrou-se grávida pela ação do Espírito Santo. 19 José, seu esposo, sendo justo e não querendo denunciá-la publicamente, pensou em despedi-la secretamente. 20 Mas, no que lhe veio esse pensamento, apareceu-lhe em sonho um anjo do Senhor, que lhe disse: “José, Filho de Davi, não tenhas receio de receber Maria, tua esposa; o que nela foi gerado vem do Espírito Santo. 21 Ela dará à luz um filho, e tu lhe porás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados”. 22 Tudo isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor tinha dito pelo profeta: 23 “Eis que a virgem ficará grávida e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa: Deus conosco”. 24 Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor tinha mandado e acolheu sua esposa. 25 E não teve relações com ela até o dia em que deu à luz o filho, ao qual ele pôs o nome de Jesus."

Esse trecho é por demais interessante pois mostra como os evangelhos se comunicam entre si. No Evangelho Segundo Lucas acompanhamos o ponto de vista de Maria, quando Gabriel, o anjo do senhor, lhe comunica que está grávida e que seu filho seria fruto da ação direta do espírito santo. Nele também acompanhamos como Maria, surpresa, perguntava ao anjo como isso seria possível já que ela ainda não conhecia seu marido José! Aqui no Evangelho de Mateus o ponto de vista mostrado é o de José. Podemos perceber que José descobre que Maria está grávida - e como ele não tinha ainda consumado seu casamento com ela pensa em acabar com seu casamento ao dispensar Maria secretamente, ou seja, sem escândalos ou máculas. Ele não queria denuncia-la publicamente pois o adultério naquela sociedade era considerado um crime grave, apenado com a morte. Se houvesse uma denúncia pública Maria estaria condenada. Antes de colocar seu plano em ação porém novamente temos a intervenção de um anjo que surge a José em sonho, lhe explicando que Maria sim, estava grávida e daria luz a um filho, mas que esse seria fruto direto do espírito santo. Diante da mensagem José atende aos desejos do Senhor.

O anjo não é identificado pelo texto bíblico. Teria sido novamente Gabriel, o mesmo que anunciou a Maria o nascimento de Jesus? Não sabemos, a bíblia se cala sobre isso. Apenas nos informa que seu aparecimento foi realizado de forma diferente da maneira como foi realizado com Maria. Aqui ele surge em sonhos, expondo os planos de Deus a José. Com Maria ele aparece pessoalmente, em forma humana, na presença dela onde se encontrava naquele momento. É uma aparição mais concreta, pessoal. Em relação a José também surge outro nome para o Messias que está para nascer - "Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa: Deus conosco”. Essa frase vem para confirmar que Jesus era o próprio Deus que se fazia homem. Jesus, o Messias, não seria apenas um enviado de Deus, mas o próprio Deus, pois sua presença significaria isso mesmo: Ele, o Altíssimo, estaria entre os homens através de Jesus, caminharia ao lado dos homens, comeria e beberia com eles, sofreria alegrias e tristezas em sua existência material e terrena. Deus estaria ao nosso lado, fisicamente, conosco. Esse se torna assim o momento mais importante e crucial de toda a história humana. Por fim e não menos importante os Evangelhos de Lucas e Mateus confirmam o dogma da virgindade de Maria, da Imaculada concepção de Jesus Cristo. Os Evangelhos de Marcos e João, por outro lado, não tratam sobre os acontecimentos do nascimento de Jesus e por essa razão não enfocam esse vital acontecimento na história de Jesus.

Pablo Aluísio.

Barba Negra

Drops - Barba Negra
Ele acabou se tornando uma espécie de símbolo da pirataria. Seu visual, sua imagem, tudo é bem icônico, ainda nos dias atuais. Só que por trás do clichê realmente existiu esse pirata que era conhecido como Barba Negra. Ele aterrorizou a costa das 13 colônias dos Estados Unidos no século XVII. Era violento, bárbaro, mas também sabia vender sua própria imagem, colocando chamuscos de fogo entre a barba, para assustar ainda mais suas vítimas. Acabou sendo decapitado a mando da coroa inglesa que não aguentava mais seus saques e roubos e isso após conseguir um indulto de seus crimes passados. E o mais interessante de tudo é que ainda hoje não se sabe ao certo onde foi parar seu tesouro. Provavelmente enterrado em alguma ilha do Caribe. 

Pablo Aluísio.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

São Vicente

São Vicente foi um mártir e santo católico que viveu durante o século IV em um período turbulento para a fé cristã na Europa. Os imperadores romanos continuavam a perseguir todo aquele que se tornasse cristão. As comunidades dessa religião eram perseguidas e seus membros mortos de forma violenta. A tortura era uma prática comum para se chegar aos seus líderes. Qualquer escrito cristão era imediatamente destruído e queimado em grandes fogueiras pelos soldados romanos. Como praticamente todos os mártires dessa época poucas informações precisas chegaram até nós sobre Vicente. O que se sabe com relativa certeza foi que Vicente foi um diácono cristão que viveu entre os anos 270 a 303 na região de Saragoça, território que hoje em dia pertence à Espanha.

Sua memória é reverenciada há muitos séculos o que leva vários historiadores a acreditarem que seu exemplo de vida e morte foi muito significativo para os cristãos da época. Muito do que sabemos de São Vicente vem do poeta Prudêncio que resolveu contar parte de sua heróica vida em seus versos. Claro que ele adicionou um pouco de sua imaginação nos escritos, porém o núcleo da vida de São Vicente foi preservado dentro da história. Através dos textos de Prudêncio podemos chegar em informações importantes, como a certeza em torno de seu nome, o fato dele ter sido um diácono e o local de sua morte e sepultamento.

De acordo com essas informações e demais fontes ele teria sido martirizado por causa de um edital do imperador romano que ordenava a prisão de todos os líderes do movimento cristão na Espanha, como bispos e diáconos. Vicente foi capturado na cidade de Valência e levado para uma masmorra romana naquela mesma noite. Foi acorrentado e começou a ser torturado de forma cruel. Mesmo passando fome e sendo submetido a uma rotina de torturas não aceitou rejeitar o nome de Cristo e nem entregar outros cristãos ao seu carrasco. Depois de sofrer muito em seu cativeiro foi enviado até o governador romano da região, o general Dacian, que enfurecido por causa de suas atitudes resolveu intensificar ainda mais as torturas contra Vicente.

Milagrosamente a postura de Vicente acabou perturbando o próprio governador que ficou impressionado pela fibra demonstrada pelos membros daquela religião. Abalado, o general romano lhe propôs um trato. Ele entregaria seus escritos cristãos, lhe diria onde poderiam ser encontrados para serem queimados, negaria a Cristo e aceitaria a divindade do imperador romano e ele, Vicente, seria libertado no mesmo dia. O diácono porém recusou sua proposta. Assim as torturas continuaram. Mesmo preso Vicente continuou a evangelizar e chegou a converter seu próprio carcereiro. Dacian chorou de raiva quando soube disso, mas estranhamente, ordenou que o prisioneiro fosse poupado por enquanto de novas ssesões de torturas infames. Os ferimentos porém eram muitos e Vicente morreu poucos dias depois sem negar a Cristo e nem sua fé. Seu exemplo de amor a Deus acabou servindo como fator de conversão para vários romanos da época que acabaram se convertendo ao presenciarem a história de seu martírio.

Pablo Aluísio.

Maria nos Evangelhos - Parte 3

Jesus Cristo nasceu durante o reinado de Augusto César. Ele era o sobrinho de Júlio César e havia assumido o controle de Roma após uma longa guerra civil que devastou a República Romana. Depois de matar a Rainha Cleópatra e o general Marco Antônio ele assumiu todos os poderes da complexa sociedade romana em torno de si mesmo. Foi o fim do período histórico conhecido como República, dando origem ao Império Romano. Assim Augusto foi o primeiro imperador da história de Roma. Durante seu longo período no poder houve também a chamada Pax Romana, pois o Templo de Marte, Deus da guerra, foi lacrado, o que significava que não havia guerras dentro das fronteiras da dominação de Roma. Jesus nasceu justamente dentro das fronteiras do império romano pois sua terra natal havia sido convertida numa província de Roma. Havia um sistema repressivo brutal para quem se insurgisse contra o Império, mas também havia estabilidade dentro dos domínios do imperador.

Isso proporcionou que pessoas das mais diversas partes do mundo conhecido pudessem viajar sem precisar temer por governos ou exércitos estrangeiros pois no fundo tudo pertencia à Roma. Por isso quando Maria e José decidiram ir para o Egito, para fugir as perseguições de Herodes, eles nada mais estavam do que se movendo dentro do vasto Império Romano. Os romanos criaram um vasto sistema de estradas seguras para que suas tropas e seus cidadãos pudessem viajar por elas sem temer por suas vidas. De milhas em milhas havia postos avançados mantidos pelo exército romano onde os viajantes podiam descansar, se alimentar ou passar a noite. Para José a ida para o Egito significava assim não apenas segurança para sua família, mas também oportunidade de trabalho pois como operário não lhe faltaria trabalho no Egito, agora sob controle de Roma, onde muitas obras públicas estavam sendo feitas.

A ida de Maria, José e Jesus para o Egito está no evangelho segundo Mateus em seu capítulo intitulado "A fuga para o Egito". Lá está escrito todos os acontecimentos: "13 Depois que os magos se retiraram, o anjo do Senhor apareceu em sonho a José e lhe disse: “Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito! Fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo”. 14 José levantou-se, de noite, com o menino e a mãe, e retirou-se para o Egito; 15 e lá ficou até à morte de Herodes. Assim se cumpriu o que o Senhor tinha dito pelo profeta: “Do Egito chamei o meu filho”. 16 Quando Herodes percebeu que os magos o tinham enganado, ficou furioso. Mandou matar todos os meninos de Belém e de todo o território vizinho, de dois anos para baixo, de acordo com o tempo indicado pelos magos. 17 Assim se cumpriu o que foi dito pelo profeta Jeremias: 18 “Ouviu-se um grito em Ramá, choro e grande lamento: é Raquel que chora seus filhos e não quer ser consolada, pois não existem mais”.

Esse período em que Jesus viveu no Egito é pouco explorado pelo evangelho. Apenas se informa depois sobre seu retorno: "19 Quando Herodes morreu, o anjo do Senhor apareceu em sonho a José, no Egito, 20 e lhe disse:  “Levanta-te, toma o menino e sua mãe, e volta para a terra de Israel; pois já morreram aqueles que queriam matar o menino”. 21 Ele levantou-se, com o menino e a mãe, e entrou na terra de Israel. 22 Mas quando soube que Arquelau reinava na Judéia, no lugar de seu pai Herodes, teve medo de ir para lá. Depois de receber em sonho um aviso, retirou-se para a região da Galiléia 23 e foi morar numa cidade chamada Nazaré. Isso aconteceu para se cumprir o que foi dito pelos profetas: “Ele será chamado nazareno”. Alguns historiadores afirmam que Herodes teria morrido quando Jesus contava com 3 ou 4 anos de idade, não se sabe com certeza. O que podemos afirmar com segurança é justamente o que diz o texto biblíco sobre esse momento em que alertado por um anjo, José rumou com a família santa de volta a Israel.
Pablo Aluísio.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Santo André

Hoje é o dia em que a Igreja Católica celebra a memória de Santo André. Quem foi ele? André, o Apóstolo, é conhecido como o "primeiro chamado" ou seja, aquele primeiro ao qual Jesus Cristo chamou para seguir ao seu lado em sua missão. Ele era irmão de Pedro (São Pedro), o apóstolo ao qual Jesus fundou sua Igreja. O nome André vem do grego e significa "Bravura" ou "Homem de Valor". Era comum em judeus daqueles tempos a adoção de nomes helênicos por causa da influência da cultura grego-romana em sua região. Seu nome de origem, da língua aramaica, se perdeu nas sombras do tempo, segundo a visão de alguns historiadores. Em outra tradição da religião Ortodoxa, a figura de Santo André se confunde com a de Bartolomeu I, o primeiro patriarca.

Historicamente o que se sabe sobre ele com certeza foi que, além de ser irmão de Simão Pedro, era também pescador no mar da Galiléia, tendo nascido na vila de Bethsaida, em ano desconhecido. Ele era um dos homens presentes quando Cristo se aproximou do barco de Pedro o convidando a ser um "pescador de homens". Não tardou a seguir os passos do Cristo, vivendo ao seu lado até sua morte na cruz. Segundo o evangelho de João, André já tinha se tornado discípulo de João Batista antes da vinda de Cristo. Depois quando reconheceu em Jesus a figura do Messias o seguiu nas pregações pela terra santa. Na Bíblia ele é considerado um dos apóstolos mais próximos a Jesus, tendo estado na Santa Ceia e em momentos decisivos na vida do Messias.

Depois da crucificação de Jesus, André seguiu as palavras de seu mestre que mandou seus apóstolos divulgarem o evangelho pelo mundo afora. Segundo registros milenares presentes na biblioteca do Vaticano, André teria viajado por terras distantes, do Mar Negro ao rio Dnieper, indo parar em Kiev, chegando até Novgorod na atual Rússia. Segundo registros teria ainda pregado na Trácia e em Bizâncio. Talvez por sua presença em terras tão longínquas tenha se tornado posteriormente padroeiro da Ucrânia, Romênia e Rússia. Sua missão evangelizadora daria origem ao Patriarcado de Constantinopla, que futuramente daria origem à Igreja Ortodoxa.

Com a pregação também veio a perseguição das autoridades do Império Romano pois o cristianismo em seus primórdios era considerada uma fé fora da lei, que atacava os alicerces da cultura e da política de Roma. Cristãos eram considerados criminosos e geralmente condenados à pena capital. Capturado, teria sido levado até a cidade de Patras (Patrae) em Acaia, no litoral norte do Peloponeso, na Grécia. Condenado, teria sido apenado com a pena de morte na cruz, tal como ocorrera com Jesus Cristo em Jerusalém. Ao contrário da cruz romana porém, André teria sido martirizado em uma cruz em formato de "x", conhecida pelos romanos como "Crux Decussata" que pelos séculos que viriam passaria a ser denominada de "Cruz de Santo André". Supostamente o próprio André teria pedido para ser crucificado dessa forma pois sentia-se indigno de morrer como seu mestre e messias, Jesus.

Com sua morte e pelo fato de ter sido um dos doze apóstolos de Cristo, logo se tornou um dos primeiros santos canonizados pela Igreja Católica. No século III surgiu um suposto evangelho escrito por Santo André porém as autoridades da Igreja o rejeitaram por não ter a veracidade comprovada. Segundo o Papa Gelásio I o suposto evangelho apócrifo não teria sido escrito por André, mas sim por um autor de nome Leucius Charinus. Diante disso o livro foi incluído no Decretum Gelasianum, que rejeitava evangelhos de origem duvidosa ou não comprovada. Segundo a tradição os restos mortais de Santo André estão preservados na Basílica de St Andrew em Patras, na Grécia. De acordo com uma lenda, St. Regulus foi um monge em Patras que descobriu sua sepultura após receber revelações em um sonho. Séculos depois parte dos ossos encontrados foram levados de Patras para Constantinopla, por ordem do imperador romano Constantino II em torno de 357 e depositados na Igreja que homenageava o apóstolo. Sua data é celebrada no dia 30 de novembro.

Pablo Aluísio.

Papa Anacleto

Anacleto foi o terceiro Papa da história. Ele sucedeu a Pedro, apóstolo e primeiro Papa, e Lino (ou Linus), o segundo bispo de Roma. Esse Papa teve um diferencial importante em relação aos demais. Ele era grego de nascimento, porém cidadão romano, o que já demonstrava que o Cristianismo deixava de ser uma religião seguida apenas por estrangeiros, para ser abraçada pelos próprios romanos. A palavra de Cristo havia criado fundações importantes dentro da própria sociedade da cidade eterna. Nessa época o culto ao Cristo era considerado crime em Roma. Não fazia muito tempo que Nero havia realizado uma das maiores perseguições contra os cristãos na história de Roma. Muitos foram sacrificados e mortos, alguns na arena, onde eram jogados aos leões para satisfazer os anseios sádicos de uma população ávida por diversão, mesmo sendo profundamente cruel e sanguinária.

Anacleto ou "Cletus" como também era conhecido, se tornou líder do movimento cristão no mesmo ano em que Vespasiano subiu ao trono de Roma. Imperador enérgico e violento, ele continuou a campanha de Nero contra a nova fé que se alastrava pelos quatro cantos do Império. Assim Cletus, apesar de ser um cidadão romano, seguiu liderando os cristãos na clandestinidade, pois caso fosse descoberto seria condenado à morte. Como era um homem culto e letrado resolveu trazer bases de administração da nascente Igreja Católica. Dividiu o território de Roma em grupos, chamadas de paróquias. Cada paróquia deveria ter um responsável por aqueles fiéis. Os cultos eram realizados muitas vezes em catacumbas para que nenhum cristão fosse capturado por autoridades romanas.
Durante algum tempo historiadores da Igreja debateram a tese de que Anacleto e Cletus, citados em livros antigos, eram pessoas diferentes e não o terceiro Papa da história. Após um minucioso estudo das fontes históricas chegou-se finalmente à conclusão que Anacleto nada mais era do que um nome que Cletus assumiu após se tornar bispo em Roma. Começou assim a tradição de Papas adotarem nomes dinásticos, algo parecido com o que acontecia com os próprios imperadores romanos. O seu nome de origem era Cletus, já Anacleto era seu nome Papal.

Curiosamente muitos soldados romanos que descobriam cristãos escondidos acabavam sendo convertidos pela fé. Como tinha cidadania romana Cletus se empenhou pessoalmente na conversão de seus próprios compatriotas. Com leituras do novo testamento e discussão das escrituras, ele com seu planejamento, colheu excelentes frutos. Essa competência administrativa da Igreja lhe valeu o título de Anacleto, palavra de origem grega que significa "Impecável". Seu papado durou doze anos e durante esse período o Cristianismo entrou definitivamente nas casas das mais influentes famílias de Roma. Inicialmente o Cristianismo foi considerado uma seita formada basicamente por escravos e pessoas marginais, porém a presença de pessoas da própria elite de Roma, como Cletus, mudou essa concepção.

Cletus também adquiriu a propriedade do monte do Vaticano com doações de seus fiéis. No local havia se dado o martírio de Pedro e Cletus sonhava em construir um belo templo no mesmo local onde foi fincada a cruz de Pedro. Seu sonho acabou se materializando, muitos séculos depois, na bela construção da Basílica de São Pedro. Livros seculares na biblioteca do Vaticano também indicam o número de paróquias fundadas por Anacleto em Roma. Foram inicialmente 25 paróquias locais, cada uma com um número próximo de 50 a 60 membros. Esses foram os primeiros cristãos romanos da história. Cletus também firmou a primeira noção de hierarquia dentro da igreja, ao colocar sob seu poder a nomeação dos líderes dessas paróquias - função que séculos depois daria origem ao cargo de Padre na hierarquia católica.

Não se sabe ao certo a causa de sua morte, mas ao que tudo indica Cletus morreu de forma natural, com idade avançada, entre 75 a 80 anos, uma expectativa de vida muito superior à média da época. Seus sucessores resolveram construir uma pequena tumba no monte Vaticano, onde acabou sendo enterrado, junto aos restos mortais de Pedro e de Linus, o segundo Papa da história. Seu grande legado foi trazer as primeiras normas administrativas e de hierarquia dentro da Igreja, ideias que seriam desenvolvidas depois, gerando ótimos frutos para a instituição como um todo. Seu nome (como Cletus) acabou incluído no Cânone Romano da Missa. Embora a data exata de sua morte tenha se perdido nas neblinas dos séculos a Igreja Católica resolveu dedicar o dia de 26 de abril em sua memória. Cletos faleceu no ano 92 e ao ser canonizado recebeu o título de Santus Anacletus, ou em nossa língua, Santo Anacleto.

Pablo Aluísio.

domingo, 7 de agosto de 2011

Santa Margaret (1070–1093)

Uma santa que foi exemplo da devoção a Deus. Ela era uma princesa inglesa que foi ao lado de sua mãe para a Escócia. A Inglaterra havia caído em mãos de um soberano tirano e sanguinário. Para escapar de perseguições políticas, mãe e filha foram para o norte, na fria e ainda rústica Escócia. Lá sua gentileza e caridade chamaram a atenção dos nobres escoceses, entre eles o Rei Malcolm que logo se encantou com seu charme e suavidade. A Escócia naqueles tempos medievais ainda não tinha a sofisticação dos hábitos e modos de ser dos ingleses. Era uma terra rural, onde a educação e os bons modos ainda não estavam disseminados entre as pessoas.

Assim o Rei Malcolm teve que aprender as regras de etiqueta da corte da Inglaterra para cortejar adequadamente Margaret. Após um breve romance o monarca escocês ficou tão encantando com sua amada que resolveu lhe pedir em casamento. Foi uma união feliz e duradoura, com filhos bonitos e bons, tal como o exemplo de vida de sua querida mãe. Logo Margaret começou a ser adorada por seu povo. Era uma rainha bondosa e muito prestativa, que distribuía pessoalmente alimentos para os mais necessitados e pobres. Margaret também introduziu civilidade e regras de educação a serem seguidos por todos do reino. Sua pureza de coração era admirada e a fama de sua virtude ultrapassou as fronteiras de seu reino.

Margaret foi uma bênção para todos os povos da Escócia. Como a maioria da população ainda era analfabeta ela incentivou seu marido a criar uma rede nacional de escolas para educação dos camponeses e demais membros pobres do povo. Ela trouxe professores ingleses para a Escócia e foi a criadora pioneira do sistema educacional de seu país, isso em um tempo em que esse tipo de política pública era rara na Europa medieval.

Ao lado da implantação de escolas em toda a Escócia, Margaret escreveu ao Papa Estevão IX em Roma para que ele enviasse religiosos pois iria construir igrejas católica por todo o reino. Nesse momento de sua vida, quando tudo parecia caminhar bem, surgiu uma grave disputa pelo trono e na guerra que se sucedeu seu marido e seu filho foram mortos em batalha. Margaret então subiu ao trono como Rainha da Escócia. Após vencer seus inimigos ela lamentou a morte de parte de sua família ao declarar: "Eu agradeço ao Deus Todo Poderoso a enorme tristeza que senti em minha vida nesse momento, pois entendo que isso foi um presente divino para que eu purificasse meu coração de seus pecados através do sofrimento e da tristeza".

A Rainha Margaret conseguiu em seus últimos anos trazer paz e prosperidade para a Escócia e como benção final viu seu filho David também se tornar um grande homem de Deus. Ele inclusive também seria canonizado pelo Vaticano algumas décadas depois. Hoje, 16 de novembro a Igreja celebra o dia de Santa Margaret, amém!

Pablo Aluísio.

A Profecia de São Malaquias

Não é algo para ser levado muito à sério por católicos, mas vale como curiosidade. Acontece que muitos jornais e programas de TV trouxeram de volta à tona nesse último ano essa velha profecia supostamente escrita por São Malaquias, que teria listado todos os 112 papas que viriam após sua morte em 1094. Segundo os cálculos o Papa Francisco seria o último papa! Depois do surgimento do Último papa haveria o final dos tempos. Malaquias foi um bispo que viveu no século XII, na Irlanda (onde nasceu) e posteriormente na Inglaterra (onde veio a falecer). Segundo alguns São Malaquias teria tido uma visão sobre o fim de Roma, da Igreja Católica e do próprio mundo!

Cada Papa listado por ele teria um nome que o identificaria. João XXIII, por exemplo, seria identificado pelo nome de "Paſtor & Nauta" (pastor marinheiro). João XXIII, que ficou conhecido como o Papa bondoso, teria em seu brasão o símbolo  de Veneza, cidade conhecida por seu porto e seus longos canais. Isso se confirmaria oito séculos depois. O Papa Bento XVI seria o penúltimo papa, segundo a visão de Malaquias, e seria denominado pelo nome de "Gloria Olivae". Seu brasão oficial teria um ramo de oliveira. Depois de ter recebido a profecia o bispo a teria levado ao conhecimento do Papa da época, Inocêncio II, que teria ouvido tudo atentamente para depois mandar arquivar o documento na secular biblioteca secreta do Vaticano.

O documento teria ficado por lá durante séculos, até que alguns pesquisadores tiveram acesso ao texto original. Analisando os nomes dados por Malaquias com os nomes dos respectivos papas eles tiveram algumas surpresas. O Papa Urbano VIII seria identificado como "O Lírio e a Rosa". Como se explicaria esse nome? Urbano VIII era natural de Florença (conhecida também na época como a "Rosa da Itália") e as armas dessa cidade tinham como símbolo um delicado lírio. Karol Wojtyla, o Papa João Paulo II, seria identificado pelo nome de "O Eclipse do Sol". E de fato ele teria nascido durante um eclipse solar, no dia 18 de maio de 1920. "Peregrinus Apostolicus" identificaria o Papa Pio VI, conhecido por suas longas viagens pela Europa. Já Pio XI seria conhecido como "Fides intrepida" ou "fé destemida" uma vez que foi um dos papas mais corajosos da história, criticando abertamente o regime fascista de Mussolini em sua encíclica "Mit brennender Sorge".

Francisco seria então "Petrus Romanus" ou "Pedro, o Romano", o último Papa da lista de Malaquias. O problema desse texto intitulado "Prophetia Sancti Malachiae Archiepiscopi, de Summis Pontificibus" é que a Igreja Católica jamais comprovou sua autenticidade, tampouco lhe deu qualquer valor do ponto de vista teológico. Para os estudiosos da Igreja a profecia sequer pode ser atribuída a Malaquias, mas sim a um monge beneditino chamado Arnold Wion que teria sido o responsável pela publicação original do texto no ano de 1595. Assim a Igreja Católica não dá qualquer aval sobre a tal profecia de São Malaquias. No fundo tudo estaria envolto apenas em boatos e manipulações que teriam sido realizadas ao longo dos séculos. Como eu disse, não pode ser levado à sério, mas serve como mera curiosidade histórica.

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

O Arianismo e a Igreja Católica

Desde os primórdios do cristianismo se debateu bastante sobre a natureza divina de Jesus. Seria o Cristo o próprio Deus ou alguém abaixo da divindade, apenas com poderes de cura e perdão, mas sem se ligar diretamente ao Deus único dos judeus? Os primeiros membros da Igreja Católica em suas comunidades orientais defendiam que Jesus e Deus era uma só entidade. Jesus era o Deus que se fez homem, encarnando na terra para viver entre os homens de seu tempo. O verbo se fez carne, como diria uma conhecida frase dos primórdios do catolicismo.

Essa ideia acabou sendo combatida por um pregador nascido no Egito chamado Ário. Ele viveu por volta do século quarto da nossa era. Culto e enigmático, conseguiu reunir um grande número de adeptos. Ário tinha uma visão diferente de Jesus Cristo. Em sua opinião o messias de fato havia sido o homem mais elevado espiritualmente a caminhar entre a humanidade, mas que em essência era homem e não Deus. Essa forma de encarar Jesus deu origem ao Arianismo, que pregava que o homem poderia ser também extremamente evoluído espiritualmente, tal como Jesus o foi, mas que jamais conseguiria alcançar a glória e a magnitude de Deus, esse ser perfeito e único. Jesus e Deus eram duas individualidades e não apenas uma, como queria fazer crer a Igreja.

Esse tipo de visão ideológica se espalhou e começou a preocupar os doutores e membros do alto clero. O imperador Constantino ainda vivia e estava preocupado com a falta de unidade de pensamento dos membros da Igreja Católica - apesar do arianismo não ser oficialmente adotado pela doutrina cristã muitos bispos da época começavam a adotar sua ideologia, inclusive em seus sermões. Para resolver esse e outros impasses Constantino resolveu reunir os maiores nomes ligados à Igreja Católica para debater o tema. Surgiu assim o encontro em Niceia.

Durante vários dias, bispos e membros da Igreja debateram sobre a verdadeira natureza de Cristo. Havia bons argumentos de ambos os lados mas a visão que prevaleceu foi a da Igreja oriental - já naquela época chamada de ortodoxa - que defendia a tese de que "Cristo e Deus tinham a mesma matéria". Muitos historiadores da teologia cristã afirmam hoje em dia que o debate em Niceia foi muito prejudicado pela falta de mais representantes da Igreja ocidental, que por um motivo ou outro, não fizeram a longa jornada em direção àquela distante cidade.

De uma forma ou outra o arianismo foi deixado de lado pela Igreja Católica de uma vez por todas. A partir daquele momento ficou determinado que "Jesus e Deus formavam uma única pessoa e que Jesus era o próprio Deus que veio ao mundo para salvar a humanidade". Ário morreu provavelmente em 339 mas sua doutrina não! Ela encontrou franco adesão entre os povos bárbaros que vinham do norte da Europa. Ostrogodos e visigodos adotaram a visão ariana de Jesus Cristo. Hoje essa teologia pode inclusive ser encontrada em religiões modernas, como o próprio espiritismo que defende que Jesus era um espírito evoluído mas não o próprio Deus, que seria inalcançável em seu poder e glória.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Os Anjos Caídos

Em todas as religiões antigas existiram deuses do mal. No Zoroastrismo, por exemplo, havia um deus representando o bem e o outro o mal absoluto. O antagonista e o protagonista. Dentro da religião cristã não é o que acontece. Embora muitos pensem que a figura de Satanás ou Lúcifer ocupe esse papel isso não é absolutamente uma verdade. O diabo não é um deus e tampouco está na mesma esfera do que o Deus único do cristianismo e do judaísmo. Na verdade Satanás não é um Deus, um criador, mas sim uma criatura, um anjo que caiu em desgraça.

Tanto no velho testamento como no livro do Apocalipse essa figura do mal é associada a um anjo, um anjo caído. Apenas isso. E o que seria um anjo caído? Afirma a teologia cristã que um grupo de anjos se rebelou contra Deus. Liderados pelo arrogante e vaidoso Lúcifer (o anjo da luz) eles foram banidos do céu para todo o sempre. Caíram nas fossas infernais e lá permanecerão pela eternidade sem fim. Assim Lúcifer e seus demônios não podem competir com o poder e a glória de Deus pois esse é o grande criador do universo enquanto as legiões do inferno são formadas por criaturas imperfeitas, pecadoras e imundas, os anjos que caíram do céu.

O Velho testamento não fala muito sobre Satã. Ele é mencionado poucas vezes e a tradição o associou à serpente que deu a maçã proibida a Eva no Gênesis. Depois disso ele é citado em passagens esporádicas, geralmente assumindo a função de tentador, um ser que tem como objetivo levar o homem a perder a salvação. Como todo anjo esse não tem o poder de dominar a humanidade, mas apenas tentar os humanos. Outro aspecto interessante é que depois do velho testamento há uma verdadeira explosão de menções ao nome de Satã no novo testamento, inclusive envolvidos em possessões demoníacas.

Jesus não perde muito tempo explicando ou dialogando com esses anjos caídos. Em um trecho apenas afirma que o diabo teria sido homicida desde o começo, desde o início dos tempos. Também qualifica esses seres de imundos e outras denominações equivalentes. Quando Jesus nas escrituras encontra um anjo caído possuindo alguma pessoa ele simplesmente a expulsa em nome de Deus. Assim foi com Maria Madalena que se tornaria a partir daí uma das mais fiéis seguidores de Jesus Cristo em sua caminhada no meio da humanidade. Por fim, no Apocalipse, o destino desses anjos é traçado. Eles serão varridos do universo pelo poder de Deus. A justiça divina se firmará entre todos os que forem salvos pela glória de Deus e seu divino amor irá reger todas as coisas para todo o sempre, amém.

Pablo Aluísio.