terça-feira, 25 de maio de 2010

Elvis Presley - Elvis Today - Parte 1-2

Vamos começar pelo pior. Se eu tivesse que escolher a canção mais fraca desse disco certamente minha escolha seria a balada romântica "Woman Without Love", O que levou Elvis a gravar essa faixa segue sendo um mistério. Não era uma canção conhecida no meio e nem tinha nada a ver com o tipo de sonoridade que Elvis vinha desenvolvendo nessas sessões. Muito piegas, tinha uma mensagem que nos dias de hoje poderia ser qualificada como "embaraçosa".

A letra é bem antiquada, nada condizente com a nova mulher que surgia no mundo, principalmente a partir dos anos 60. Há um trecho na letra que diz que um homem sem amor seria apenas a metade de um homem, porém uma mulher sem amor seria absolutamente nada! Que coisa mais cafona! Elvis poderia passar sem essa. Mensagem totalmente fora de moda. Se fosse nos dias atuais, com esse texto politicamente incorreto, as feministas iriam pedir a cabeça de Elvis em uma lança!

"I Can Help" tem até um bom refrão, porém sua repetição à exaustão cansa um pouco o ouvinte. No meio de tantas letras tristes e melancólicas, que tinham se tornado uma espécie de padrão dentro da discografia de Elvis, essa ia pela contramão, trazendo algo de positivo, com o autor em primeira pessoa dizendo que sim, ele poderia ajudar. Em certos aspectos me lembrou até mesmo de "Bridge Over Troubled Water", porém sem ser dramática em excesso. A mensagem que Elvis passava aqui era bem direta, do tipo "Você tem um problema? Não precisa se preocupar! Seja lá o que for, bom, eu posso ajudar!". Bacana, ponto positivo no disco, afinal uma mensagem para cima, alto astral, sempre seria muito bem-vinda - principalmente para Elvis que parecia ter entrado numa roda viva de depressão e auto piedade destruída.

Do country "Susan When She Tried" eu particularmente gosto bastante. É um som bem Dixieland, próprio para os sulistas (do sul dos Estados Unidos, obviamente). Penso até que a letra, levemente truncada, não faria muito sentido para os nortistas, nova-iorquinos, etc. É uma coisa bem milho, bem campo. Claro há um subtexto compreensível, porém se formos pensar bem essa forma de falar era típica mesmo dos "confederados" do sul. E Elvis como um típico homem do sul, captou muito bem essa mensagem, diríamos, "cifrada". Dizem que Elvis cogitou promover mais a música em concertos pelas cidades sulistas, mas se isso for verdade tudo ficou mesmo apenas na intenção pois ele definitivamente não fez qualquer esforço para cantá-la em suas longas, estafantes e cansativas turnês pelas terras de Dixie.

O álbum "Elvis Today" não foi um sucesso de vendas. Na realidade ele passou meio ignorado pelo mercado. Naquela época a sonoridade que fazia sucesso era a da discoteca e o próprio Rock que ainda sobrevivia nas paradas era muito diferente do tipo de som que Elvis vinha apresentando em seus álbuns. O cantor havia optado por cantar baladas ao estilo country and western de Nashville, além de se concentrar em baladas românticas dolorosas, de dor de cotovelo. Dificilmente um jovem que curtia Pink Floyd ou Led Zepellin nos anos 70 iria se interessar por um material desses.

Assim Elvis entrou numa espécie de mundo próprio, onde ele cultivava suas dores emocionais. O repertório das músicas escolhidas por ele mesmo refletiam esse estado de espírito em que ele vivia. Cada gravação, cada letra, tinha algo em comum com o que ele sentia. Algumas músicas eram claros recados indiretos que Elvis insistia em mandar para sua ex-esposa Priscilla. Com isso Elvis foi se tornando cada vez mais pessoal em seus discos, ao mesmo tempo em que as vendas iam piorando. Apenas um seleto grupo de fãs de sua carreira seguiram fiéis aos seus álbuns. O resto do público tinha a tendência de ignorar o que ele vinha produzindo em estúdio.

"Elvis Today" por isso não foge do tipo de disco que Elvis vinha apresentando nos últimos anos. Há muito country, bastante baladas românticas e um ou outro momento que podemos chamar de rock, só para lembrar que ele ainda era o aclamado "Rei do Rock", embora na prática fosse venerado à distância pela nova geração de roqueiros. Todos o elogiavam pelo seu passado, pelo que tinha feito no surgimento da popularização do rock, mas não estavam mais interessados nas viagens de ego ferido do cantor. Era tão pessoal que parecia importar apenas a Elvis e seu público sulista country mais próximo.

A boa notícia, pelo menos para os fãs brasileiros, foi que o disco foi lançado em nosso país no mesmo ano de seu lançamento nos Estados Unidos. A filial da RCA no Brasil havia deixado de lançar vários LPs de Elvis nos anos 70. "Elvis Country", "Love Letters", "Good Times" e até mesmo o disco ao vivo em Memphis em 1974 não tiveram edições nacionais. Assim não deixou de ser uma boa surpresa encontrar esse álbum nas lojas brasileiras, onde finalmente o fã tinha acesso a material mais recente gravado pelo cantor.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Elvis Today - Parte 3

"T-R-O-U-B-L-E" abria o álbum em sua edição original. Uma bela faixa, bem movimentada, um rock com sabor dos bons clássicos do gênero. É interessante porque assim como Elvis abria o disco anterior, "Promised land", com a famosa canção escrita por Chuck Berry, no mais puro estilo roqueiro em seus primeiros anos, aqui ele repetia a dose, mandando ver em uma música muito bem gravada, com pique, fazendo jus ao seu título de "Rei do Rock". Seria uma resposta de Elvis a todos aqueles que o criticavam por ter deixado o gênero musical que o consagrou nos anos 50? É bem provável que sim.

Outro aspecto curioso sobre essa faixa é que ela acabava gerando confusão entre os que não conheciam muito bem a carreira e a discografia de Elvis. Muitos pensavam que era uma regravação da antiga "Trouble" do filme "King Creole" (Balada Sangrenta, no Brasil). Um erro absurdo, mas que muita gente cometeu na época. Quando chegavam em casa e colocavam o vinil para rodar tinham uma surpresa e tanto, pois era outra música, completamente diferente, nada tendo a ver com o clássico dos anos 50.

Outra canção que gosto desse disco é "Shake A Hand". Claro, nunca foi unanimidade entre os fãs de Elvis. Alguns acham que apesar do bom começo o uso excessivo do refrão a desgasta. Não penso assim. A música tem obviamente um claro sabor gospel. Afinal em cultos evangélicos americanos, principalmente no sul, a busca por um sentimento de comunhão entre os fiéis fazia com que todos batessem palmas e cantassem em coro. Era uma forma de todos os crentes se sentirem unidos numa só voz, em um sentimento forte de fé coletiva.

O diferencial é que a letra não era religiosa, mas sim romântica. Elvis aqui canta sobre um homem apaixonado que tenta acalmar sua mulher amada, trazendo palavras de apoio, dizendo que tudo ficará bem, que ela não precisa se preocupar, basta apenas dar as mãos. Elvis, o bom samaritano apaixonado, surgia claramente em versos como: "Basta deixar isso comigo / Nunca fique envergonhada / Basta me dar uma chance / Eu vou cuidar de tudo / Seus problemas vou compartilhar / Deixe que eu saiba e eu estarei lá / Eu vou ficar perto de você / Em qualquer lugar e em todo lugar". A cumplicidade apaixonada sugerida entre o casal ficava ainda mais clara em trechos como "Seja sincera comigo / Eu vou ser sincero com você / Eu estou tão apaixonado por você / Até não saber o que fazer". O ritmo é cadenciado, trazendo até um sentimento também do bom e velho blues. Ou seja, uma verdadeira mistura de ritmos e intenções. Nada mais típico em se tratando de Elvis Presley.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Elvis Presley - Elvis Today - Parte 4

Para muitos fãs de Elvis a melhor música desse álbum é a romântica "And I Love You So". Não tiro a razão de quem pensa assim. Certamente a canção é uma das melhores do álbum, uma gravação tecnicamente perfeita, com Elvis colocando toda a emoção em sua performance. O produtor Felton Jarvis também caprichou, colocando instrumentos adicionais, embelezando ainda mais a faixa. Também seguia sendo uma das preferidas de Elvis, a tal ponto que ele a cantou várias vezes no palco durante suas turnês dos anos 70.

Essa música romântica só não fez maior sucesso na voz de Elvis porque ela havia sido recentemente gravada por outro cantor da RCA, Perry Como, que inclusive deu seu nome como título para seu LP. Composta pelo cantor e compositor folk Don McLean, a música já havia de certa forma esgotado seu potencial de virar um hit nas rádios. Elvis sabia que ela não iria se tornar um sucesso na sua voz, mas a gravou simplesmente porque a considerava uma bela melodia. Melhor para seus fãs, pois o cantor legou para eles uma de suas melhores interpretações nessa fase final de sua carreira.

"Pieces Of My Life" também tinha um excelente arranjo. Essa música era seguramente uma das mais tristes do disco, por causa de sua harmonia e sua letra. Essa era uma conversa ou melhor dizendo, um momento de confissão, de um homem que olhava para seu passado e seu presente e não se orgulhava dele. O primeiro estrofe deixava bem claro que o autor está em uma espécie de bordel, bebendo e se lamentando da decadência moral de sua vida.

Os versos são de lamento e arrependimento, como no começo da canção onde Elvis canta frases como essas: "Um copo de vidro cheio de whiskey / E mulheres que eu nunca conheci muito bem /  Deus, as coisas que eu tenho visto e feito / A maioria delas eu ficaria envergonhado de dizer / Eu não sei como isto começou / Mas é isto que faz de um homem, "um homem" - eu acredito! / Agora eu estou agarrado ao "nada", tentando esquecer do resto". Provavelmente algum jornalista mais desavisado deve ter ouvido essa música e chegado na "brilhante" conclusão de que Elvis era um alcoólatra, como muitas vezes li em matérias publicadas por ai. Nada mais longe da verdade. Puro fruto de desinformação e ignorância da chamada "grande imprensa".

Pablo Aluísio. 

Elvis Presley - Elvis Today - Parte 5

"Fairytale" é o country do conto de fadas. Eu sempre considerei uma música agradável de se ouvir, onde Elvis incorporava mesmo o caipira do sul dos Estados Unidos. Um fato curioso é que segundo as pessoas mais próximas a ele, inclusive sua turma da máfia de Memphis, Elvis sempre sintonizava nas estações de música country quando estava em seu carro, saindo de um show ou então indo para algum hotel após seu avião pousar no aeroporto. Isso demonstrava que ele estava mais interessado no cenário da música country da época do que em rock.

Aliás Elvis parece ter parado de acompanhar os grupos de rock nos anos 60. Os discos dos Beatles tinham sido a última coisa que havia lhe chamado a atenção. Depois nos anos 70 ele passou a ouvir basicamente música religiosa e música country. Nada mais. Por isso não é de se admirar que seus discos quase sempre fossem nessa direção. Assim uma faixa como "Fairytale" soava muito natural em seu repertório de estúdio, muito embora fizesse os roqueiros torcerem o nariz quando ouviam esse tipo de sonoridade.

Um fato interessante sobre esse disco é que Elvis até demonstrou muita boa vontade em promover as faixas em seus shows, algo que não vinha acontecendo com LPs anteriores. A RCA Victor também decidiu se mover um pouco melhor, já que as vendas de cópias vinham caindo progressivamente nos últimos anos. Afinal Elvis sempre foi um dos grandes vendedores do selo, o seu maior astro comercial e não havia mesmo sentido em tratar com tanto descaso seus últimos lançamentos. Assim a faixa "Bringin' It Back" foi até bem trabalhada pela RCA, reforçando sua promoção nas estações de rádio. Só que todo o esforço foi em vão. Embora seja uma bela música ela nunca chegou a ser um sucesso, um hit.

E de todas as canções do estilo country desse álbum nenhuma era mais nostálgica e saudosista do que a bonita "Green Green Grass Of Home". Aqui Elvis não escondeu todo o seu sentimento de orgulho sulista. É curioso que mesmo após ficar rico e famoso, Elvis não abriu mão de continuar morando em Memphis, sua adorada cidade. Ele poderia ir morar em Nova Iorque, Los Angeles ou qualquer outra grande cidade dos Estados Unidos, mas não quis deixar de lado suas raízes. Sempre preferiu a suburbana e secundária Memphis de seus anos de infância e adolescência. Assim fica plenamente justificada a gravação de uma música como essa. Era o mais puro estilo do sul que Elvis tanto adorava.

Pablo Aluísio.

domingo, 23 de maio de 2010

Elvis Presley - Promised Land - Parte 1

Esse disco "Promised Land" fez parte da última fase da carreira de Elvis. No ano em que esse álbum chegou no mercado Elvis completou 40 anos de idade. Ele se sentia velho! Era algo que dizia abertamente para pessoas próximas, algo que o preocupava muito. Elvis achava que sua carreira não teria mais muitos anos pela frente. Os amigos lhe tranquilizavam dizendo que outros artistas mais velhos, como Frank Sinatra, continuavam na ativa, fazendo shows e gravando discos, mas Elvis não parecia convencido. "Eu não sou mais um garoto!" - costumava repetir.

No dia em que Elvis completou 40 anos ele decidiu se isolar em Graceland. Não queria receber ninguém, não dar entrevistas, apenas ficar em reclusão completa. A imprensa americana não ajudou. Inúmeras reportagens atacavam Elvis. Dizendo que ele estava acima do peso, chegando numa fase da vida em que não fazia mais sentido ser roqueiro. Como aquele cantor, que havia sido o ídolo da juventude, iria se comportar agora que estava com 40 anos? Hoje em dia achar que alguém com essa idade já é um velho soa como algo completamente absurdo. Porém o preconceito naquela época era bem maior.

O disco chegou nas lojas nesse ambiente meio hostil. A imprensa atacando, Elvis com a auto estima em baixa, críticas ruins por todos os lados. Era complicado manter uma postura otimista. Mesmo assim o álbum abria com um rock vibrante de Chuck Berry. A versão original de "Promised Land" era de 1964. Em pleno auge da Beatlemania, Berry mostrava porque era considerado um dos grandes nomes do rock ´n´ roll, um verdadeiro pioneiro do estilo. O curioso é que a faixa chegava no mercado através do disco "St. Louis to Liverpool", uma maneira marota de Chuck Berry em chamar a atenção para sua música em uma época em que todo mundo só falava dos Beatles.

A gravação de Elvis e a TCB Band era mais vibrante do que a própria gravação original de Berry. Mais bem tocada, melhor gravada. Elvis deu total liberdade para seu guitarrista James Burton, que improvisou como nunca. O grupo estava muito entrosado, fruto de anos de trabalho em estrada. Por isso não houve maiores problemas em estúdio. Elvis cantou a música com a letra na mão. Berry era um grande letrista, geralmente impondo uma narrativa quase cinematográfica em suas músicas. O saldo final foi excelente. Muitos fãs inclusive queriam que Elvis gravasse mais rocks nessa fase de sua vida, já que ele parecia muito concentrado em gravar música country e baladas românticas. A versão dele desse clássico de Chuck Berry acabou sendo a resposta que todos esperavam.

Pablo Aluísio. 

Elvis Presley - Promised Land - Parte 2

Eu gosto muito da melodia de "Mr. Songman". Essa é uma música para se cantar em coro, de forma coletiva. Elvis sabia disso e acabou fazendo uma excelente performance vocal. Qualquer fã de Elvis sabe que no final da carreira ele se aproximou muito desse estilo mais gospel, tentando de certa maneira voltar aos tempos de criança, aos cultos evangélicos em Memphis.

A canção havia sido escrito por Donnie Sumner e logo chamou a atenção do cantor que nem demorou muito para gravar sua própria versão. Quem escuta percebe que Elvis estava adorando tudo ali. Era bem o estilo de música que ele queria cantar no período final de sua vida.

Eu costumo afirmar que esse álbum "Promised Land" foi uma bela coleção de faixas românticas que acabou sendo ignorada pelo grande público. Os fãs de Elvis estavam sempre apreciando seus trabalhos em disco, mas como muitas dessas canções não fizeram sucesso acabaram sendo ignoradas pelas pessoas em geral. Uma pena pela qualidade envolvida no material.

"There's a Honky Tonk Angel" é um exemplo de belo momento que passou despercebido por muitos. A melodia é bem melancólica, temos que admitir, provavelmente teria poucas chances de ser um hit, um sucesso nas rádios, mas mesmo assim é um grande momento do álbum. Foi lançada pela primeira vez pelo cantor country Conway Twitty. Era a primeira música de trabalho do disco, chamado oportunamente de "Honky Tonk Angel". Dentro do universo country de Nashville até que acabou chamando um pouco de atenção, o que diminuiu ainda mais as chances de se destacar na voz de Elvis porque afinal não era mais uma novidade quando foi finalmente lançada pela RCA Victor. E é bom frisar que mais uma vez a versão de Elvis ficou bem superior. Basta ouvir as duas gravações para perceber bem isso.

Pablo Aluísio.

sábado, 22 de maio de 2010

Elvis Presley - Promised Land - Parte 3

"Love Song of the Year" foi composta pelo  compositor e produtor musical texano Chris Christian. É uma das canções mais melancólicas desse álbum. A letra tem uma frase muito expressiva que diz: "Então, eu confesso a minha solidão". É justamente esse o tema da canção, a solidão. Em primeira pessoa o autor olha para o passado e faz uma espécie de comparação com o seu presente, admitindo seus erros para a pessoa amada. É uma tristeza de cortar coração, para ser bem sincero. Imagino Elvis no estúdio cantando com a alma sobre esse tema tão triste, cantando sobre a solidão, o amor perdido, a percepção que deixou seus melhores anos para trás.

A canção acabou sendo recebida como uma original por Elvis Presley, pois não havia sido gravada por ninguém antes. O curioso é que nem Elvis e nem a RCA Victor não fizeram nenhum esforço pela faixa nos meses seguintes após sua gravação. Elvis não se interessou em levar a música para os palcos, talvez por ser intimista demais e a RCA, por sua vez, a lançou no disco "Promised Land" como um autêntico Lado B, ou seja, uma faixa para completar o álbum e nada mais. Uma pena, pois pela beleza triste de sua melodia poderia ter alcançado maior repercussão nas rádios, nem que fosse apenas para o público country e fã de Elvis, naqueles estados sulistas onde ele tinha seu fan club mais leal e apaixonado.

"You Asked Me To", escolhida para ser a última música da edição original do disco (em sua versão americana), também não mereceu destaque. Outro Lado B autêntico dentro da discografia de Elvis. Originalmente ela foi lançada como single, na voz de seu autor Waylon Jennings. Ele e Elvis gravaram praticamente na mesma época, mas Elvis teve sua versão arquivada pela RCA Victor por dois longos anos. Quando chegou no mercado o impacto já havia passado. Já Waylon Jennings colheu melhores frutos. A música fez sucesso no circuito de Nashville e ele alcançou um honroso oitavo lugar entre os mais vendidos da parada country. Isso significava não apenas um bom dinheiro vindo das vendas do compacto, como também oportunidade de fazer mais shows em rodeios de gado e festivais pelo sul.

Já a versão de Elvis gravada no Stax Records studios, em Memphis, era bem mais convencional. Como Elvis andava procurando letras com que se identificasse essa também viria bem a calhar, pois trazia o sentimento mais verdadeiro do homem comum, trabalhador, que resolvia, mesmo sendo um sujeito durão, confessar para seu amor tudo o que pensava após anos de relacionamento. Era um desabafo emocional. Alguém apaixonado (até mesmo tolo, como confessa) que ainda estaria disposto a fazer de tudo por esse amor desde que ela lhe pedisse. É a declaração de um homem sem medo de ser piegas no mundo rural em que vivia. Enfim, uma balada country bem enraizada. Ficou muito bom, inclusive com os devidos créditos aos solos de James Burton, aqui relembrando um pouco os tempos em que tocava na banda de Ricky Nelson.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Promised Land - Parte 4

"It's Midnight"  é a mais bela música romântica desse disco. Para alguns a canção pode até soar melancólica e triste em doses excessivas, mas particularmente gosto muito. Além disso é uma letra que tem muito a ver com o próprio Elvis. Não é segredo para ninguém que ele sofria de insônia desde a juventude. Isso o levava a ficar muitas horas acordado durante à noite, enquanto todos estavam dormindo. É uma situação solitária por si mesma. Algo que Elvis poderia se identificar facilmente.

As coisas pioravam ainda mais quando se sabe que Elvis não conseguia esquecer Priscilla. Certo, ele sempre tinha uma mulher por perto, em especial Linda, mas nem isso parecia acalmar seu lado emocional, algo que fica bastante claro em versos como esses: "Eu deveria tentar dormir / Descansar a minha cabeça e tentar esquecer você / Oh mas é meia-noite e eu sinto a sua falta!". Então podemos imaginar Elvis revirando em sua cama, tentando dormir, mas sem conseguir, sempre pensando na ex-esposa, na traição que sofreu, no novo relacionamento dela. Certamente era uma situação aflitiva para Elvis. Isso talvez explique também o constante uso de remédios para dormir em doses cada vez maiores ao longo dos anos. Não deve ter sido fácil.

E então vem de certa forma o pedido de ajuda, o pedido de socorro em "Help Me". É curioso porque essa canção, com seu bom ritmo gospel e boa performance vocal de Elvis, nunca me deixou um sentimento de melancolia. Ao invés disso sempre achei seu ritmo de bom astral, de boa índole. Elvis a usou bastante ao vivo, coisa rara em se tratando de músicas desse álbum. No geral ele gravou as faixas aqui em estúdio e depois não as utilizou em sua agenda de concertos. "Help Me" é uma exceção. Inclusive ela surgiria novamente em sua discografia no disco gravado ao vivo em Memphis, aquele mesmo que trazia a mansão Graceland na capa.

A letra é uma confissão, ou melhor dizendo, um diálogo com Deus. Elvis canta com o coração aberto em versos diretos como esses: "Senhor, ajude-me a caminhar / Outra milha, só mais uma milha / Estou cansado de andar sozinho / Senhor, ajude-me a sorrir / Outro sorriso, só mais um / Eu sei que não posso fazer isso sozinho". E ele continua, admitindo que já não pode mais resolver tudo sozinho, por ele mesmo: "Eu nunca pensei que precisasse de ajuda antes / Eu pensei que eu poderia fazer as coisas sozinho / Agora eu sei que eu não aguento mais / Com um coração humilde, de joelhos / Eu estou implorando, por favor, me ajude!". Eis aqui uma mensagem bem sincera por parte de Elvis. Juntando seu lado mais religioso com a coonfissão de seus anseios, medos e angústias. Ficou tudo muito sincero e bonito.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Promised Land - Parte 5

A primeira vez que ouvi o country "You Love's Been a Long Time Coming" não foi através desse disco, mas sim de outro, intitulado "Our Memories of Elvis" que trazia as músicas em versões mais limpas, cruas, tais como tinham sido gravadas em estúdio por Elvis. Não havia o dito "embelezamento" das gravações através do trabalho posterior do produtor Felton Jarvis.

Dito isso devo dizer que é uma daquelas canções do estilo country que mais aprecio por parte de Elvis. Certo, não há nada de muito especial em termos de letra ou melodia, mas aqui a performance vocal de Elvis faz toda a diferença do mundo. Ele parecia gostar mesmo da canção e se empenhou para dar o melhor de si em seu trabalho no estúdio.

"Thinking About You" é outro country do álbum. Essa já sempre achei apenas mediana, na média mesmo. Um autêntico Lado B da carreira de Elvis Presley, muito embora ele a cante com firmeza e concentração.  Ouvindo esse tipo de faixa gravada por Elvis nos anos 1970 fico com a sensação de que ele basicamente escolhia dois tipos de músicas para seus discos. O primeiro tipo era aquele que visava ser usado em shows, tentando transformar essas músicas em hits, sucessos. O segundo tipo - categoria que essa canção se enquadra - era gravado mais para ganhar a simpatia dos críticos de música. Era uma canção mais introspectiva, mais cadenciada. Provavelmente nunca fariam sucesso em cima de um palco e Elvis sabia disso.

Muita gente boa por aí, grandes fãs de Elvis ao redor do mundo, admiram bastante a música "If You Talk in Your Sleep". Para esses é uma das melhores do disco "Promised Land". Com influência até mesmo da black music de Nashville e Memphis, esse seria um dos pontos altos do LP. Penso um pouco diferente. Não nego as qualidades inerentes nesse tipo de canção dentro da discografia de Elvis, porém a considero apenas regular. OK, era um sopro de renovação dentro de seu repertório, porém Felton Jarvis a prejudicou um pouco depois ao acrescentar um arranjo mais exagerado, expressivo em demasia. Penso até que nem Elvis pensaria em colocar tantos instrumentos assim. Algo mais cru ficaria mais autêntico e vibrante.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Elvis Presley - Elvis as Recorded Live on Stage in Memphis - Parte 1

Esse disco de Elvis Presley só chegou no Brasil nos anos 1990. Originalmente ele foi lançado nos Estados Unidos em 1974. É um disco oficial, ao vivo, muito lembrado por trazer na capa a fachada de Graceland e na contracapa os portões musicais. Tudo de muito bom gosto, em minha opinião. Só que nunca foi lançado em nosso país na época (da discoteca), fruto, claro, do atraso que havia no Brasil aliado a uma filial da RCA Victor que não estava muito interessada com a discografia de Elvis no mercado americano. Uma lástima.

Pois bem, confesso que quando encontrei o disco finalmente nas lojas brasileiras (isso deve ter sido lá por volta de 1992), não fiquei muito animado em adquirir o disco. Havia outro fator interessante: a versão em CD (compact-disc) também estava sendo lançada. Assim o colecionador de Elvis ficava na dúvida entre comprar o vinil, um formato que comercialmente estava morrendo naquele momento ou então o tão elogiado CD.

Acabei comprando o vinil. Foi uma decisão que hoje em dia nem me recordo mais como explicar. A cópia em LP tenho até hoje. Provavelmente a capa maior e mais rica em detalhes me levou a tomar essa decisão, mas nada muito claro em minhas lembranças. O conteúdo também se revelou muito bom, acima das expectativas. Elvis estava com o vozeirão mais encorpado, mais poderoso. Isso deu um sabor extra ao disco. Provavelmente Elvis cantou tão bem por estar em Memphis, sua cidade do coração. Havia na plateia muitas pessoas próximas dele e ele queria obviamente mostrar todo o seu talento. Um rei não pode fraquejar diante de sua corte. Além disso ele queria provar que santo de casa também faz milagres!

Também foram inseridos efeitos sonoros, com o aumento da presença do público no disco. O que antes eram palmas mais contidas no final de cada música agora soava mais como um grande e ininterrupto delírio coletivo. O curioso é que muitos ainda afirmam que o disco não passou realmente por esse, digamos, potencializado efeito de áudio da reação dos fãs, mas em minha opinião houve sim por parte dos engenheiros de som da RCA uma mexida, uma balançada para deixar o disco mais vibrante, mais feroz! O resultado me agrada ainda hoje. Sempre que quero ouvir um disco mais forte ao vivo, o Memphis 74 sempre acaba sendo o escolhido. Prova que fizeram mesmo um bom trabalho na mesa de som.

Pablo Aluísio.